Depoente: Carlos Miguel Castex Aidar
Entrevistado por: José dos Santos e Paula Ribeiro
São Paulo, 02 de março de 1994
Entrevista nº 032
P- Nome completo, local e data de nascimento.
R- Carlos Miguel Castex Aidar. Nasci em São Paulo, cidade de São Paulo, em vinte e cinco de agosto de 1946.
P- Sobre seus pais.
R- Meu pai Henri Couri Aidar, minha mãe Norita Castex Aidar. Meu pai nascido em Olímpia, interior de São Paulo, minha mãe no Rio de Janeiro.
P- Qual é a atividade dos pais?
R- Minha mãe foi professora, há muitos anos deixou de lecionar e hoje já é aposentada, e meu pai é advogado militante e dirigente de empresa.
P- E sobre os seus avós, você tem alguma memória de seus avós? Alguma história contada por seus pais?
R- Eu tenho, eu convivi com meus avós paternos bastante tempo, e convivi com a minha avó materna. O meu avô materno eu não conheci.
P- Você tem alguma história, alguma lembrança?
R- Ah, eu me lembro... Bom, já mais na velhice do meu avô, pai do meu pai, ele gostava de jogar um baralhinho, a gente ia jogar com ele, e aí já tava com idade, bastante idade, e a gente o deixava ganhar. Às vezes, achando que ele não ia ganhar, ele puxava um curinga, uma carta que ele precisava, descartava duas... Era muito divertido! Vovô Miguel. Aliás, o meu nome é a composição do nome dos dois avôs: Carlos e Miguel. Por isso fiquei Carlos Miguel.
P- E sobre irmãos?
R- Eu tenho uma irmã, chama-se Nora, Nora Castex Aidar. São doze anos de diferença, a idade. E quando eu nasci, me contaram depois, minha mãe passou muito mal, etcetera, talvez não pudesse engravidar mais. Ela acabou engravidando da minha irmã e quando minha irmã nasceu, minha mãe ficou um bom tempo de cama em recuperação. Bastante mal, realmente. Somos só nós dois, nos damos muito bem, embora ela hoje more longe de São Paulo, mora em Natal...Continuar leitura
Projeto: História em Multimídia do São Paulo Futebol Clube
Depoente: Carlos Miguel Castex Aidar
Entrevistado por: José dos Santos e Paula Ribeiro
São Paulo, 02 de março de 1994
Entrevista nº 032
P- Nome completo, local e data de nascimento.
R- Carlos Miguel Castex Aidar.
Nasci em São Paulo, cidade de São Paulo, em vinte e cinco de agosto de 1946.
P- Sobre seus pais.
R- Meu pai Henri Couri Aidar, minha mãe Norita Castex Aidar.
Meu pai nascido em Olímpia, interior de São Paulo, minha mãe no Rio de Janeiro.
P- Qual é a atividade dos pais?
R- Minha mãe foi professora, há muitos anos deixou de lecionar e hoje já é aposentada, e meu pai é advogado militante e dirigente de empresa.
P- E sobre os seus avós, você tem alguma memória de seus avós? Alguma história contada por seus pais?
R- Eu tenho, eu convivi com meus avós paternos bastante tempo, e convivi com a minha avó materna.
O meu avô materno eu não conheci.
P- Você tem alguma história, alguma lembrança?
R- Ah, eu me lembro.
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Bom, já mais na velhice do meu avô, pai do meu pai, ele gostava de jogar um baralhinho, a gente ia jogar com ele, e aí já tava com idade, bastante idade, e a gente o deixava ganhar.
Às vezes, achando que ele não ia ganhar, ele puxava um curinga, uma carta que ele precisava, descartava duas.
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Era muito divertido! Vovô Miguel.
Aliás, o meu nome é a composição do nome dos dois avôs: Carlos e Miguel.
Por isso fiquei Carlos Miguel.
P- E sobre irmãos?
R- Eu tenho uma irmã, chama-se Nora, Nora Castex Aidar.
São doze anos de diferença, a idade.
E quando eu nasci, me contaram depois, minha mãe passou muito mal, etcetera, talvez não pudesse engravidar mais.
Ela acabou engravidando da minha irmã e quando minha irmã nasceu, minha mãe ficou um bom tempo de cama em recuperação.
Bastante mal, realmente.
Somos só nós dois, nos damos muito bem, embora ela hoje more longe de São Paulo, mora em Natal, no Rio Grande do Norte.
P- Conte um pouco de sua infância.
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Como é que era São Paulo? Que bairro você foi criado, como era a vizinhança?
R- Até os cinco, seis anos de idade, eu morei no bairro da Liberdade, no centro da cidade, hoje um bairro típico japonês, mas na época não era.
Depois dessa época, em 52, nós mudamos pro que hoje é o Itaim Bibi.
Naquela época era uma aventura, porque era a estrada de Santo Amaro e não tinha asfalto, não tinha nada, eram chácaras, brejo, etcetera.
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Diziam pro meu pai que ele era um louco de ir morar naquele fim de mundo.
O fim de mundo hoje é o fim da Av.
Brigadeiro Luis Antônio, começo da Av.
Santo Amaro (risos).
Quer dizer, nós estamos, estávamos no centro da cidade, e morei ali.
Curiosamente, quando eu casei, em vez de eu sair da casa meus pais saíram e eu continuei na casa com a minha mulher, que se tornou minha mulher.
Isso eu fiquei até 1988, 89.
Aí eu mudei lá pro lado de Pinheiros, onde eu moro até hoje.
P- E por que isso de os teus pais saírem da casa e você ficar?
R- Pelo seguinte: é, foi uma questão, assim, de praticidade.
Meus pais já haviam comprado uma casa, já haviam reformado essa casa devagar, para mudar.
Eles aceleraram esse processo de mudança e doaram a casa pra mim e para a minha irmã.
Então eu fui morar nessa casa que já estava toda montada e pagava o equivalente à metade do aluguel pra minha irmã, até que um dia eu comprei essa metade dela (riso).
Foi uma questão de facilidade, vamos dizer assim, de comodidade.
Ou talvez até um pouco de comodismo, não sei.
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P- Agora como era um pouco o bairro da Liberdade, quando você era criança?
R- Eu lembro pouco, muito pouco.
A minha memória de criança até cinco, seis anos é muito, muito frágil.
Eu me lembro de muito pouco.
Lembro da sacada da casa, da varanda, eu sei que eu não brincava na rua, porque era centro da cidade e ali é centro mesmo, pertinho da praça João Mendes, próximo à Catedral da Sé.
Eu lembro muito pouco ali dessa fase de morar na Liberdade, quase nada.
P- E a outra que você morou?
R- Ah, não, a outra eu me lembro bem.
Passei toda a infância ali, aquela época de bicicleta e sair correndo atrás de balão, enfim, e briga de turma de rua, de futebol de rua.
Tinha o nosso time, da nossa rua, que jogava.
Tinha o campeonato das ruas, jogava contra o time da outra rua, então eu tive um.
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Ali passei, ali me lembro bem tudo o que aconteceu.
Toda a minha infância e adolescência foi ali.
P- Como é que era essa coisa dos times de rua?
R- Era.
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Tinha uma meninada como eu, tudo com oito, nove, dez, onze, doze, treze, quatorze anos, mais ou menos, as idades se equivaliam.
Então a gente montava um time, os melhores iam pra linha, os piores pra defesa.
O “piorzão” ia pro gol (riso).
E a gente brincava entre nós na rua, e de repente pegamos um terreno, limpamos, nós mesmos, a molecada arrumou direitinho e fez um campinho de futebol.
E começamos a desafiar os outros times das outras ruas, tal, e começamos.
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Mas não tinha nenhum campeonato, com tabela, nada disso.
Era, assim, jogos amistosos, vamos dizer.
Via de regra terminava em briga.
P- Em briga, mas super amistoso.
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R- Em briga: “porque foi pênalti”, “não foi pênalti”.
Não tinha árbitro, né? A gente mesmo jogava e apitava, então era muito gozado.
P- Qual era o nome do time?
R- Ah, não tinha nome.
Era o time da Rua Consórcio contra o time da Rua João Brito, contra o time da rua não sei o quê, era só assim.
P- E a sua posição era fixa?
R- Ah, eu sempre fui centroavante.
Sempre gostei de jogar na banheira, lá na frente, fazendo gol.
Sempre joguei de centroavante.
Depois, tempo de colégio também, joguei na seleção do colégio, no time da classe e na seleção do ginásio.
No primeiro ano de ginásio já jogava futebol na seleção do ginásio.
Sempre gostei de jogar bola, e não era ruim não.
Modéstia à parte, meu apelido era Pelé.
(riso)
P- Você torcia para que time nessa época?
R- Ah, pro São Paulo.
Desde cedo fui acostumado nesse ambiente do São Paulo, vivia nesse ambiente do São Paulo, levado pelo meu pai.
Eu me lembro de algumas viagens curiosas, estou falando coisa de 1950 e poucos, em torno de 1955, meu pai me levava, por exemplo, à Araraquara, Presidente Prudente, né, porque tinha a Prudentina na primeira divisão do futebol paulista, pra assistir um jogo de futebol.
Então a gente saía sábado de madrugada, viajava a noite inteira, chegava à cidade no domingo de manhã próximo da hora do almoço, levava os jogadores dentro do carro, naquela época o São Paulo era muito pobre, os dirigentes levavam os jogadores em vários carros, um, dois jogadores por automóvel.
Eu, já mais marmanjo, levei Gerson, Forlán, dentro do carro pra Belo Horizonte porque eles não gostavam de andar de avião.
Quantas vezes eu fui guiando carro pra Belo Horizonte pra levar jogador pra jogar bola.
Mas nessa época papai me levava e eu acostumei com isso, então foi natural essa.
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Esse.
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Essa paixão pelo São Paulo.
Uma coisa assim, absolutamente natural.
Ninguém me disse: “você pode torcer pra qualquer time, desde que seja o São Paulo”.
Naturalmente me puseram dentro do São Paulo, foi isso.
P- Quer dizer, quando pequeno você ia a jogo, assistia aos jogos?
R- Ia, levado pelo meu pai.
Ia a jogos sempre, sempre.
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E não só eu, íamos eu e primos e.
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Primos-irmãos, primos mais afastados, papai juntava a meninada toda e levava pro jogo.
Jogo aqui no Pacaembu, em São Paulo no Pacaembu, então toda hora ele estava levando a gente.
P- Você lembra-se de algum jogo dessa época da tua vida que tenha ficado registrado?
R- Ah, tem um que marcou.
Foi um jogo São Paulo e Corinthians em que o Benê, jogador do Corinthians fez um gol.
O Corinthians já estava fora do campeonato, tanto fazia perder ou ganhar, e o São Paulo, se ganhasse, ia pra final com o Santos Futebol Clube na condição privilegiada.
No último minuto de jogo o Benê fez um gol de canela, a bola bateu na canela dele e entrou.
Lembro-me que chorei muito lá no Pacaembu, eu chorava.
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Chorava mesmo, de tristeza.
O São Paulo ainda podia ser campeão contra o Santos, mas o São Paulo perdeu o campeonato naquele jogo.
Isso foi em 57, eu acho, se não estou enganado.
Cinquenta e sete, perdão, em 57 o São Paulo foi campeão.
Foi em 56, acho que foi 56, não lembro bem, eu tinha dez anos.
P- Você tinha algum ídolo nessa época, você torcia ardentemente por algum jogador?
R- Olha, eu tinha.
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Eu gostava muito do Gino, o Gino Orlando, que era centroavante do São Paulo.
E eu gostava de jogar de centroavante, então eu procurava.
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Tinha o Baltazar do Corinthians, era o "cabecinha de ouro", era um grande centroavante também, mas era o Gino, o Gino era o.
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Gostava muito do Maurinho, o ponta-direita arisco que o São Paulo tinha, era fantástico, uma velocidade incrível.
Mas era mais o Gino, que era centroavante.
O centroavante sempre é a grande figura, não é? O sujeito faz os gols do time.
P- Nessa época você recortava jornal, tinha alguma flâmula.
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R- Álbuns de figurinha.
Ah, eu fazia.
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P- Qual era o álbum daquela época?
R- Ah, tinha de bala, a gente comprava a bala e vinha a figurinha dentro da bala.
Eu não me lembro mais o nome da bala, faz muito tempo isso.
E álbuns de.
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Eu sempre gostei.
De jornais não, curiosamente não.
Revistas especializadas em esportes naquela época não existiam.
P- Mas tinha, por exemplo, álbum de jogador de futebol?
R- Tinha.
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Tinha álbum dos times, dos jogadores que iam participar de campeonato, isso eu procurava fazer sempre.
Eu fazia.
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Preencher o álbum.
E a gente ia pro jogo de “bafinha” da figurinha, aquele jogo de virar a figurinha, né? Jogava bolinha de gude, jogava malha, era tudo.
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A rua era de terra, era uma época boa, a cidade era tranquila, calma, não tinha violência, era muito agradável.
Foi uma infância muito boa.
P- E qual foi a escola que você estudou?
R- Eu estudei.
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Fiz o ginásio no Colégio Santa Cruz, que era um colégio que dava bastante importância ao esporte.
Eu era semi-interno, eu praticava muito esporte.
P- Qual esporte?
R- Era levantador do time de vôlei do ginásio, era reserva do time de basquete, por causa da altura, era da seleção de handball e da seleção de futebol.
Jogava handball, vôlei, reserva do basquete e futebol.
E paralelamente fazia pesca submarina, fui vice-campeão brasileiro de caça submarina, muitos anos atrás, juvenil.
P- Então era esse o esporte que mais te movia?
R- Ah, eu gostava de tudo, esporte era comigo mesmo! Bola? Ah! Eu adorava, adorava essas coisas.
Sempre gostei, sempre fui fascinado pelo esporte.
P- E como é que foi o restante da sua formação acadêmica?
R- Bom, depois que terminei o ginásio Santa Cruz, fiz o que hoje é o colegial, na época era o clássico no Colégio Dante Alighieri.
Depois fiz faculdade de Direito no Mackenzie.
P- O Direito foi influenciado pela formação do seu pai uma vez que ele já tinha escritório?
R- Certamente, porque esse ambiente que eu vivi.
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O ambiente do São Paulo, o ambiente da advocacia, meu avô, pai da minha mãe, foi diretor jurídico do Banespa, então eu sempre vivi esse ambiente de advogados, juízes e promotores, né? Havia um time dos advogados do Fórum chamado Clube do Veneno, que era o time que meu pai jogava junto com Marins de Oliveira, o Waldemar, o Prioli, o Leonardo Mônaco, o Wadih Helu do Corinthians, eles eram muito amigos, todos advogados militantes, então a gente, menino, ia pra lá pra jogar no gol, porque eles queriam ficar na linha.
Eles iam, tomavam cerveja, o chope deles, etcetera, e tinha o futebol pra disfarçar.
Então esse ambiente de advocacia, de futebol, acaba levando a gente, conduzindo para fazer a faculdade de direito.
Depois eu fiz especialização na PUC, inclusive dei aula na PUC de Processo Civil.
P- E você começou a trabalhar com quantos anos?
R- Eu comecei trabalhar no terceiro ano clássico.
Eu estava com.
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Foi em 1964, com dezoito anos.
P- Como?
R- Como auxiliar de escritório, aprendendo a rotina do dia-a-dia.
Desde 64 eu.
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P- Mas nessa época você já tinha uma atividade intensa em relação a algum clube, ou ao São Paulo?
R- Não, apenas torcedor.
Só que nessa faixa etária eu já me locomovia sozinho para o estádio.
Não precisava ser levado pela mão do pai, mas já tinha.
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Já tinha essa paixão pelo São Paulo.
P- Você já assistia a muitos jogos?
R- Ah, aqui em São Paulo, naquela época, não perdia nenhum.
Depois, mais pra frente, comecei a acompanhar fora de São Paulo.
Dentro do Brasil, pelo interior eu viajava também, assistia aos jogos, era.
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Divertimento era pegar o carro domingo e.
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“Onde é que o São Paulo joga? Nós vamos pra lá”.
P- Nós quem?
R- Primos, dentro da família.
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Grupo de amigos, primos, são-paulinos, colegas de ginásio, de colegial, de clássico na época, de faculdade, a gente fazia isso.
P- E a vida familiar?
R- Eu sou casado, casei em 1972, tenho três filhas, minha mulher trabalha.
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P- Como se chama sua mulher?
R- Ela se chama Marília.
Marília Ferri.
Ferri Aidar, depois que casou.
P- Vocês moram onde?
R- Nós estamos morando no Alto de Pinheiros atualmente.
Moramos lá no Itaim Bibi quando casamos, moramos em duas casas só nesses vinte e um anos e meio de casados, quase vinte e dois.
P- E a família torce pelo São Paulo?
R- Torce.
As meninas são apaixonadas! A minha filha do meio até hoje não perde um jogo do São Paulo, aqui em São Paulo, a do meio.
A mais velha, quando eu estava na presidência do São Paulo, exerci a presidência do São Paulo em oitenta e.
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Foi exatamente no Campeonato Brasileiro de 86 que o São Paulo ganhou.
Em 87, então foi.
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Ela de 75 a 87.
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Então ela tinha doze anos, é isso? Quando ela completou doze anos, me pediu de aniversário uma viagem pro Rio porque ela queria conhecer o Maracanã! Geralmente uma menina de doze anos vai pedir uma roupa, talvez ainda uma boneca, não sei, mas certamente não uma viagem pro Rio pra ver o Maracanã.
Então eu paguei pra ela uma viagem para o Rio, ela foi junto.
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Paguei a passagem de avião, ela viajou junto com a delegação, ficou no quarto comigo, foi ao estádio no mesmo ônibus que os jogadores.
Elas adoravam viajar com os jogadores no ônibus, e os jogadores gostavam muito delas, brincavam muito com elas.
Todos eles.
Elas sempre acompanharam muito de perto o São Paulo, minha mulher também, ia a todos os jogos aqui em São Paulo e até pelo interior.
Quando o Muller estreou no São Paulo, primeiro jogo que o Muller fez no time principal, foi no interior de São Paulo, em Taquaritinga.
Elas foram no ônibus assistir esse jogo, foram e voltaram.
É a paixão, aquilo contagia, né? Nunca pedi pra elas torcerem pro São Paulo, mas elas sempre me viram torcendo para o São Paulo então é natural que acompanhe.
P- Como você reagiria se alguma delas não torcesse pro São Paulo?
R- Não quero nem pensar nessa hipótese (risos).
P- Como é que foi essa aproximação mais política, digamos assim, na vida do São Paulo?
R- Essa vivência do São Paulo, essa vontade de viver o São Paulo, é.
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Eu acompanhava não só o time principal.
Eu acompanhava o.
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Na época chamava o juvenil A, juvenil B e infantil.
Porque hoje é o júnior, juvenil e infantil.
Eu acompanhava todos os jogos do São Paulo, de todas as categorias.
E um diretor adjunto do departamento de futebol na época, o Rudolfo Gutter, que até hoje é conselheiro do São Paulo.
O Gutter propôs o meu nome pra adjunto do departamento jurídico.
Eu já era advogado, formado, eu acompanhava todas as categorias, e tinha lá as brigas, as discussões, jogadores expulsos e discussão com árbitro, dirigente com árbitro, aquelas coisas que a gente vê de vez em quando, tinha já naquela época.
E ele propôs meu nome, meu pai era presidente, meu pai não queria, e eles insistiram, insistiram, e eu fiquei adjunto do departamento jurídico.
O diretor jurídico era o Dr.
Caetano Estellita Pernet, depois o Dr.
Pernet faleceu, passou a ser o Dr.
Augusto Pereira e eu fiquei adjunto dos dois.
Eu defendia as categorias amadoras do São Paulo futebol amador e as outras modalidades esportivas: atletas de vôlei, de basquete, natação, etcetera.
E então comecei a militar nos tribunais esportivos aí.
Quando meu pai deixou a presidência do São Paulo e passou a presidência, depois da eleição ao presidente Galvão, Antônio Galvão, ele me convidou para ser o diretor jurídico do São Paulo.
E eu assumi esse cargo em 78.
E nos quatro anos do Galvão eu fui diretor jurídico, abril de 78 a abril de 82.
P- Você conciliava tua vida profissional com esse trabalho?
R- Ah, tranquilamente, tranquilamente.
O exercício da diretoria jurídica do São Paulo não atrapalhava em absolutamente nada a vida profissional de advogado, pelo contrário.
Foi perfeitamente administrável esse tempo.
Aí quando o Galvão deixou a presidência e o Dallora foi eleito, ele me convidou também pra continuar na diretoria jurídica nos dois anos que.
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Ele só cumpriu um mandato, e eu continuei.
Em 84 o Dallora saiu e eu fui candidato à presidência.
Então eu tive uma carreira assim meio.
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Fui uns dois, três anos adjunto do jurídico, seis diretor jurídico, depois fiquei dois mandatos como presidente da diretoria.
Durante quatro anos.
Depois ainda fui mais dois anos presidente do Conselho Deliberativo.
Depois que eu deixei a presidência da diretoria ainda assumi a presidência do conselho.
P- Na sua eleição, você foi candidato único?
R- Não, quando eu disputei em 84, eu tive um opositor, que é o Dr.
Werneck, Luis Cássio Santos Werneck.
Ele fazia parte da tradicional oposição do São Paulo.
O São Paulo sempre teve uma oposição tradicional, mas nunca foi uma briga muito acirrada, era uma disputa que se fazia dois meses antes da eleição, um pouco e tal, e no dia da eleição propriamente dita.
Eu disputei com o Dr.
Werneck, ganhei a eleição dele, assumi a presidência, e na minha reeleição fui candidato único.
Todos os companheiros pediram pra eu continuar, eu aceitei continuar mais um mandato porque o São Paulo permitiria só mais uma reeleição, ou permite ainda hoje só uma reeleição, não foi modificado ainda, então eu fui candidato único à reeleição.
P- Como é que foi essa campanha?
R- Para a reeleição? Não teve campanha.
P- E pra primeira?
R- A primeira foi.
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Eu estava viajando de férias com a família, eu, minha mulher e minhas filhas tínhamos ido numa excursão pra Disneyworld.
Eu estava.
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Voltei de viagem, meu pai viajou comigo, minha mãe, minha irmã, meu cunhado, eles voltaram antes, meu cunhado e minha irmã.
Meu pai seguiu dos EUA pra Europa com minha mãe, e eu voltei com a minha mulher e minhas filhas no comecinho de janeiro, lá pelo dia dez de janeiro, não me lembro bem.
E encontro dentro da alfândega o ex-presidente do Conselho Deliberativo, Waldemar Marins de Oliveira Jr.
e o ex-presidente da diretoria, José Douglas Dallora.
Encontro os dois dentro da alfândega.
Tomei um susto, pensei que tivesse acontecido alguma coisa, um problema mais sério e tal, e eles rapidamente disseram: você é o candidato.
E eu, antes de viajar, já tinha hipotecado por escrito o meu apoio ao Dallora, pro Dallora continuar.
Depois o Dallora não quis, seria naturalmente reeleito mas não quis, aí eu pedi um tempo pra dar uma pensada.
Eu estava.
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Em 84, eu estava começando a crescer profissionalmente e sabia que isso ia significar certo sacrifício.
Eu acabei consultando a família, consultando os colegas de escritório, liguei pro meu pai lá na Europa, fiquei lá umas quatro, cinco horas com ele no telefone, ele tentando me demover da idéia pra não aceitar, e eu.
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P- Por que ele não queria que aceitasse?
R- Porque é um sacrifício, não deixa de ser um sacrifício.
Se você quer fazer a coisa bem feita, você põe dinheiro do bolso.
Não que o São Paulo precise hoje que se ponha dinheiro do bolso, mas você não cobra do São Paulo, você se sente mal cobrando do São Paulo uma despesa sua.
Mesmo que seja um simples estacionamento a serviço do São Paulo, você não vai cobrar do São Paulo.
P- Por que não cobrar do São Paulo?
R- Porque a gente ama o São Paulo.
Quando você ama alguém, você não cobra de alguém que você ama.
Você se entrega, você não cobra.
É mais ou menos assim.
O São Paulo é uma pessoa pra gente, não é um clube, uma entidade, uma associação.
É como se fosse uma pessoa.
A gente tem um amor, um carinho, desde pequeno crescendo dentro disso, é muito bonito isso.
É um sentimento difícil de achar hoje em dia.
P- Mas então o que realmente te motivou a aceitar? O teu pai era contra.
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R- O desafio.
Sem dúvida nenhuma o desafio.
O centroavante.
Eu queria fazer um gol.
Eu estava muito cansado, eu acompanhava o futebol de perto e eu estava vendo uma estrutura muito amorfa lá, muito parada, precisava ser mais profissionalizada a administração: os jogadores profissionais, os treinadores profissionais, os técnicos, os árbitros já sindicalizados, organizados sob a forma de sindicato, e o dirigente amador.
E fazendo muita besteira em nome desse amadorismo.
Porque administra o clube para dar uma satisfação para a torcida, que por sua vez é conduzida pela imprensa.
Isto me incomodava sobremaneira.
Precisava fazer alguma.
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Fazer uma revolução: precisava mexer um pouco nesse organismo.
Então esse desafio de um lado.
De outro lado, achava eu que conhecia bem o São Paulo pra poder dirigir.
Depois que senta na cadeira é um pouco diferente, aí que a gente vai conhecer.
Então foi o desafio.
O que me motivou a aceitar aquele desafio foi o próprio desafio.
P- E o que você tinha como meta de realização durante a tua gestão? Você entrou lá com um projeto já pronto?
R- Eu, quando fiquei candidato, vamos dizer assim, à presidência do São Paulo, apoiado por figuras magníficas, o Dallora, o Marins, meu pai, Laudo, Manoel Raymundo, Piragibe Nogueira, Galvão, e.
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Coisa incrível, toda a cúpula administrativa, as grandes figuras do São Paulo me apoiando, quer dizer, eu tinha uma tremenda responsabilidade.
E, naquela época eu dizia pra eles enquanto candidato à presidência, eu dizia: “meu sonho é popularizar o São Paulo”.
O São Paulo tinha uma fama de clube, de time de elite.
Eu dizia: não é possível, um clube com um patrimônio desses, construído sob a batuta de Laudo Natel e de Manoel Raymundo, com aquele patrimônio que é o Morumbi ser um clube meio elitista, precisava popularizar.
E de outro lado, eu queria era elitizar, é que essa palavra é um pouco chatinha de falar, a parte social do São Paulo, porque fisicamente, geograficamente, o Morumbi está num bairro nobre de São Paulo, que é o próprio Morumbi.
Então esse era o meu sonho, em duas linhas: popularizar o futebol e elitizar a parte social.
Isso era um desafio.
E eu comecei a fazer isso.
P- Mas o que era elitizar a parte social?
R- Era tornar um clube social do nível dos clubes sociais que não praticam futebol.
Exemplos: Pinheiros, Paulistano, e outros que tais.
São clubes que não têm futebol profissional, só o futebol de sócio, e que estão situados em bairros nobres da cidade de São Paulo, como o Morumbi está.
Qualquer casa ao lado do estádio tem uma piscina, tem uma sauna, tem uma quadra de tênis, já tem o seu clube lá dentro.
Pra tirar o vizinho do estádio pra dentro do clube, eu preciso oferecer mais do que ele tem na casa dele.
Então essa era a imagem que eu.
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Foi o que eu quis fazer durante os quatro anos.
P- Como é que você avalia?
R- Eu acho que no futebol eu consegui o sucesso.
Na parte social, tive algumas resistências que eu não consegui vencer todas.
Via de regra, é o problema do custo da manutenção.
Porque na medida em que você oferece mais, tem que cobrar mais.
E aí vem as pressões, que você acaba sucumbindo a algumas delas pra manter certo número de associados, não perder o número de associados, são pessoas que não têm outro lugar pra ir também.
Então aí na parte social não consegui executar o plano total, mas no futebol tenho certeza que eu consegui.
A popularidade que o São Paulo obteve na minha gestão.
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Claro, eu peguei a casa pronta, peguei o estádio pronto feito pelo Laudo, eu consegui fazer o centro de treinamento do São Paulo, esse centro de treinamento foi executado na minha gestão.
O centro médico-fisioterápico, aplicado à fisiologia do esforço, foi a primeira vez que uma equipe fez isso.
Trouxemos dois professores da Escola Paulista de Medicina, tinha até biópsia muscular para saber se o jogador tinha mais propensão a ser velocista ou resistente, pra ver a posição que ele devia jogar, a formação do jogador, isso deu, está dando fruto e vai dar ainda muito tempo.
Todo mundo está caminhando pro centro de treinamento.
Isso fez o São Paulo diferente, na medida em que evolui a preparação física, e o São Paulo começou a fazer um preparo físico diferente, entrou com nutricionismo, essas pequenas coisas somadas fazem a diferença do melhor.
P- Vamos falar um pouquinho do futebol.
Primeiro dentro de campo, as conquistas do São Paulo no seu período.
A gente tem, por exemplo, o Brasileiro de 86.
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R- O Brasileiro de 86, o Paulista de 85 e o Paulista de 87, os títulos maiores.
Teve conquistas nas categorias amadoras também, mas não tiveram tanta repercussão quanto essas três.
P- Em 86 a gente tem também essa política da valorização da prata da casa, né? Da nova geração de jogadores.
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R- Quando nós assumimos em 84, nós nos deparamos com um dilema.
Nós tínhamos um time bom, de jogadores de muito nome, um time realmente bom que já vinha da gestão do presidente Dallora que nos antecedeu, mas um time um pouco desmotivado, porque o prêmio da vitória já não era tão importante por força da faixa salarial que eles estavam recebendo, não mexia no orçamento do jogador ganhar ou perder a partida.
Porque o salário estava muito alto.
E alguns já acomodados porque tinham muitos anos de casa.
Então acho que essa renovação é sempre salutar, em qualquer atividade.
Coitado daquele que se perpetua num lugar, acho que perde ele e perde o tomador do serviço dele.
Mas o São Paulo como um todo estava, no meu modo de ver, com esse problema.
Então nós começamos uma reformulação, praticamente desfizemos o time inteiro que encontramos, mantivemos apenas três jogadores lá.
E começamos a buscar novos valores e promover os jogadores que estavam começando a se formar de baixo, e começamos a contratar jogadores não profissionais, jogadores que eram amadores em outras equipes, trazer para dentro do São Paulo.
Começamos a formar uma nova.
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Tanto que em 84 e começo de 85 não tivemos resultado nenhum.
Mas já em 85 fomos campeões paulistas.
P- Quem foram as revelações do time?
R- Ah, o Müller, Silas.
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Mas ao mesmo tempo contratando a experiência de um Pita.
Para contratar o Pita eu me desfiz de dois titulares do São Paulo, pra tocar por ele, na época, era o Zé Sérgio e o Humberto.
Troquei Zé Sérgio e Humberto por Pita.
Tinha a experiência do Pita, tinha o Oscar que foi mantido, tinha o Dario que foi mantido, Silas e Müller foram lançados, tinha o Sidnei, o ponta-esquerda, formou-se um time realmente bonito de assistir.
O pessoal começou a ir a estádio pra ver o São Paulo jogar, não só são-paulino, os outros.
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Quantas vezes a gente era abordado no estádio e eles diziam: "olha, presidente, eu torço pro Corinthians, torço pro Santos, torço pro Palmeiras, mas eu gosto de ver o São Paulo jogar.
Quem gosta de futebol.
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Tá muito bonito, muito veloz”.
O Cilinho, que foi o treinador da época, conseguiu fazer essa coisa funcionar direitinho.
Isso foi em 85.
Aí em 86, 87, continuou isso, mudando uma ou outra peça e continuou esse trabalho.
P- Quer dizer, em 86, Campeonato Brasileiro.
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R- Que terminou em 87.
Que a final foi em Campinas.
P- A final foi em Campinas.
O senhor viu todos os gols da partida?
R- Não, não vi.
Teve um gol que eu não vi.
Eu fui ao estádio, como sempre viajava com os jogadores no ônibus com eles, não viajava diferente, ficava no mesmo hotel, comia no mesmo horário.
Sempre tive esse, essa.
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Esse jeito de ser.
E fomos pro estádio, etcetera, aquele assédio tremendo, você tem que movimentar muita coisa fora do jogo, até a tranquilidade do jogador sair do hotel, da concentração pra chegar ao estádio.
Conseguimos que o policiamento de Campinas naquele dia, na área do estádio, fosse feito por Ribeirão e por São Paulo, policiais lotados em Ribeirão e São Paulo, pra evitar pressão do próprio policial local que é torcedor do Guarani, ou pelo menos da Ponte Preta.
Então tem um trabalho fora de campo que isso não se passa.
A imprensa pouco, ou nada, divulga nesse sentido.
P- Já houve algum incidente desse tipo, de polícia de outro time pressionando jogador?
R- Nossa! Quantas vezes! Um policial de uma cidade “X”, não vamos dar nomes, é só pra exemplificar, ele torce pro time local, então qualquer conflito ele vai favorecer o time local em detrimento do visitante.
É natural, é do torcedor.
O policial também é um torcedor.
Então nesse jogo assisti o jogo, desci no intervalo, depois teve o intervalo da prorrogação.
Voltei, e quando estava terminando a prorrogação, que o São Paulo perdia de 3 a 2, o Silas foi substituído pelo Cilinho, estava exausto, foi substituído e ele já saiu chorando de campo e desceu o túnel chorando.
Eu já vi que a coisa ali tava feia, faltavam dois, três minutos pra terminar o jogo, peguei, saí correndo dali de onde eu estava e fui pro vestiário.
Cheguei ao vestiário com o intuito de ir até a boca do túnel pra ver o fim do jogo, o Silas tava em prantos no vestiário.
Então fiquei consolando o Silas, e ele chorando no meu ombro feito uma criança, um bebê desmamado.
Chorando, chorando, chorando.
Daí a pouco uma explosão em cima da gente, o vestiário do São Paulo ficava embaixo da arquibancada do gol dos fundos onde estava a torcida do São Paulo.
Uma explosão em cima, nós corremos, São Paulo tinha empatado, eu não vi o gol do Careca.
O gol do Careca que deu o empate, que proporcionou os pênaltis.
Esse gol eu não vi no campo.
Fui ver depois, tenho gravado até hoje, de vez em quando mato a saudade, boto o vídeo lá pra tocar pra assistir.
P- O São Paulo é um grande ganhador de disputa de pênaltis, já ganhou muitos campeonatos.
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R- Ah, é a especialidade do São Paulo.
O São Paulo ganhou o primeiro campeonato brasileiro nos pênaltis, mas o São Paulo já perdeu a Libertadores nos pênaltis também.
Na época que meu pai foi presidente do São Paulo, ele perdeu uma Libertadores nos pênaltis.
Não me lembro o ano, nós fomos pro.
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Nós ganhamos o jogo aqui do Independiente de Buenos Aires, perdemos para o próprio Independiente lá em Avellaneda, na Argentina, nessa época eu já viajava com o São Paulo.
Não era dirigente, não era nada, mas já ia por minha conta ver jogo.
Buenos Aires, aqui por perto (riso).
E depois fomos para uma terceira partida no Chile, partida de desempate, e o Zé Carlos Serrão, que era titular do time, hoje é treinador, perdeu um penalti lá que foi fatal pro São Paulo.
O São Paulo foi vice-campeão da Libertadores, não me lembro o ano.
P- Diz uma coisa: os jogadores choravam muito no seu ombro?
R- Não, não, não.
O jogador é muito profissional.
O atleta de futebol profissional é profissional.
O Silas era um menino que estava começando, como o Müller tava começando naquela época.
O Silas chorava pela tristeza do resultado, e eu que já tinha chorado com dez anos, quando o São Paulo perdeu aquele jogo pro Corinthians e praticamente perdeu o campeonato, que na partida seguinte veio se confirmar perdendo pro Santos, naquele momento eu consolava o Silas, eu não chorava, eu era o presidente do clube.
Eu estava triste, evidentemente eu tava triste, muito mais pelo resultado do que pelo choro do Silas, é claro.
Estava triste por estar perdendo de três a dois, todo o trabalho de uma temporada inteira e chegar naquela situação.
Mas o único que chorou foi o Silas, ocasionalmente por causa disso.
Mais ninguém.
P- Numa outra disputa de penalti famosa você teve uma participação, que foi no Brasileiro de 77.
R- É, o Campeonato Brasileiro de 77.
O meu pai era o presidente do São Paulo, o presidente da Federação Paulista era o José Ermírio de Morais e o presidente da então CBD era o almirante Heleno Nunes.
E o José Ermírio quis fazer uma gentileza pro papai levando-o pra Belo Horizonte no avião dele, mas antes passava no Rio pra pegar o almirante Heleno Nunes, que era o presidente da CBD, para irem todos à Belo Horizonte assistir o jogo.
E eles foram.
E eu peguei um avião de carreira.
Dentro do avião eu ouço uns comentários da imprensa que o Reinaldo iria jogar.
O Reinaldo era o centroavante do Atlético Mineiro, era o artilheiro daquele Campeonato Brasileiro.
E ele e o Serginho estavam suspensos.
O Reinaldo, não me lembro que infração tinha cometido, estava suspenso por três, quatro jogos, e o Serginho estava suspenso por quatorze meses, por ter agredido um bandeirinha, um auxiliar de arbitragem.
Foi meu primeiro caso como diretor jurídico do São Paulo, revogar essa pena dele, imagine! E eu chego a Belo Horizonte com essa situação toda, esse clima criado de que o Reinaldo ia jogar, ouço aquela coisa toda, então falei: preciso fazer alguma coisa.
Fui à concentração do São Paulo, onde estavam o Rubens Minelli, que era o treinador do São Paulo, e o Dallora, que era o diretor de futebol do São Paulo, e contei pra eles o que tava havendo.
“Não sei que”, e falei: “olha, eu vou trazer o Serginho, na pior das hipóteses”.
“Como é que você vai trazer? Você está aqui.
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” Falei: “Ah, eu dou um jeito”.
Liguei pra minha casa, falei com a minha mulher, que estava em São Paulo, eu em Belo Horizonte, falei pra ela pegar um talão de cheque na gaveta, botar lá minha assinatura, passar no Morumbi, pegar a chuteira do Serginho, ir à casa do Murici onde o Serginho deveria estar, pegar o Serginho, levar pro aeroporto, fretar um avião, que eu esperaria lá.
P- Que era pela.
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R- Pela TAM, que na época chamava Táxi Aéreo Marília.
Hoje, que nós estamos gravando isso, é o patrocinador do São Paulo (risos).
E minha mulher fez tudo isso fantasticamente, do jeito que eu tinha pedido, eu fiquei lá no aeroporto e o Serginho chegou: “mas doutor, o que está acontecendo?”.
“Não, você fica frio”.
Contei rapidamente pra ele, o levei pra concentração e fiquei no aeroporto esperando meu pai chegar.
Meu pai não tinha chegado, problema de teto, tentou duas, três vezes descer não conseguiu.
Voltou pro Rio pra deixar o almirante, voltou pra São Paulo pra deixar o Zé Ermírio, deixou, mas falou: “agora eu quero esse avião pra mim porque eu que não vou perder a final do campeonato”.
Ele chegou ao aeroporto, eu contei a história toda pra ele, o circo que nós tínhamos armado, e daí pra frente ele tomou conta do show.
Ameaçava mostrar o papel, o efeito suspensivo, criou um clima lá, eu sei que o Atlético Mineiro ia entrar com o Caio, tiraram a camisa do Caio, deram pro Reinaldo, e o São Paulo, o Minelli também é muito esperto, deixava uma fresta na porta entreaberta, e deixava o Serginho aquecendo como se fosse jogar.
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São as histórias gozadas do futebol, que a gente não faz de novo, né? (risos) É impossível, é impossível!
P- E o campeonato de 87?
R- Oitenta e sete.
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O Paulista de 87.
Foi uma final contra o Corinthians.
Eu tenho uns primos corintianos, infelizmente a família não é lá toda perfeita, não é? E o São Paulo ganhou o Campeonato Paulista de 85 jogando contra a Portuguesa, 86 o Brasileiro contra o Guarani, 87 contra o Corinthians.
Foi uma final emocionante, mas o São Paulo era infinitamente superior ao time do Corinthians.
Agora, seria um absurdo se o São Paulo não fosse campeão paulista de 87, ninguém esperava outro resultado.
Aquela máquina de jogar bola, estava fantástico, o time estava afiadíssimo.
Já sem o Careca.
O Careca já tinha sido vendido pra Itália, para o Nápoli.
Logo depois do Campeonato Brasileiro de 86, terminou em 87, o Careca foi vendido.
Não participou do título paulista de 87.
P- E a Libertadores?
R- A Libertadores no meu tempo o São Paulo não se deu bem.
Nós tivemos uma briga danada com a CBF, foi aí que nasceu a idéia do Clube dos 13 em 87, porque.
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Era uma desgraça.
Quer dizer, o futebol, infelizmente, prima pela desorganização, e com tudo isso ele consegue sobreviver.
Em que pese os homens que dirigem o futebol paulista e brasileiro, “tô” falando em 1994, desde aquela época que eu dirigia o São Paulo, em que pese esses homens, o futebol ainda consegue sobreviver a eles.
Na época em que eu presidia o São Paulo tive oito jogadores convocados pra seleção brasileira e um pra seleção uruguaia, em plena disputa de campeonato.
Não dá pra disputar campeonato desse jeito sem nove titulares, não existe isso.
Você pega um time, tira nove e deixa dois titulares, coloca nove reservas e vai disputar o título, não tem condição.
E o jogador fica com a cabeça na seleção etcetera.
P- Quer dizer, na sua gestão é que esse sonho do campeonato mundial começou?
R- É, ele começou a ser implantado com várias.
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O Centro de Treinamento foi muito importante para isso, para esse desenvolvimento, você ter o próprio campo para treinar.
Você não pode treinar no campo do Morumbi, no estádio porque você estraga o gramado, o gramado não resiste.
Então são três gramados no CT para se treinar.
O departamento médico deixou de ser um mero departamento médico e de fisioterapia e passou a ser um departamento integrado médico e fisioterápico aplicado à fisiologia de esforço.
Os jogadores começaram a ter treinamentos físicos diferenciados em vez de treinar tudo em bloco, como se fosse um batalhão.
Cada um treinava de acordo com a sua característica fisiológica.
Isso foi um trabalho científico fantástico, com apoio de programas de computação etcetera, um negócio sensacional que o São Paulo introduziu.
Isso começou a fazer o São Paulo diferente.
Diferente aqui na contemporaneidade, fora o próprio estádio, que dá ao São Paulo uma tranquilidade muito grande.
E o profissionalismo que a gente começou a implantar na direção do São Paulo.
Ou seja, abaixo de cada diretor, que são cargos não remunerados, você tinha um gerente remunerado como um executivo de grande empresa.
O São Paulo praticamente caminhava sozinho, dirigentes tomavam decisões políticas.
A execução das tarefas você podia delegar a executivos muito bem remunerados, como em uma empresa grande, em que você contrata um diretor de fora etcetera.
Foi mais ou menos a organização que eu procurei dar ao São Paulo naquela época, isso fez o São Paulo diferente também.
P- Como foi para você o ganho do título no São Paulo, no passado? O que significou pra você?
R- É curioso.
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Os momentos de alegria são muito poucos.
Quando você está acabando de conquistar um título, que é a satisfação, a realização, é o fim, a consagração do trabalho todo, no minuto seguinte você já tem o jogador querendo renovar contrato, querendo aumento, e você tem o praticante da ginástica reclamando que o tatame está ruim, alguém que frequenta a sauna reclamando que a sauna naquele dia não esquentou, alguém da piscina que cortou o pé porque um azulejo quebrou.
Então você não tem tempo para saborear a vitória, os problemas te absorvem vinte e quatro horas por dia, é terrível.
É muito gostoso, é a consagração de um trabalho, mas o tempo de aproveitamento, no sentido de se ter o prazer de saborear a conquista, é muito pequeno na festa da conquista do campeonato, jogadores, famílias, torcedores, dirigentes, conselheiros, o jogador já vem no seu ouvido e fala: "ô presidente, vamos acertar meu contrato".
Então não dá tempo de você saborear muito.
Eu até, curiosamente, procurei evitar viajar com o São Paulo pro exterior em jogos amistosos pra aproveitar o tempo e me dedicar à parte social.
Deixei de fazer muitas viagens com o São Paulo, viagens que realmente poderiam me proporcionar certo descanso, que são jogos amistosos, para ficar me dedicando ao São Paulo.
Não dá tempo, absorve, é muito grande o São Paulo.
P-Eu vi na revista Placar, na época da Libertadores, uma caricatura.
Você estava rumo ao Japão, você estava de quimono.
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Projeto Tóquio.
R- É o projeto Tóquio já começou naquela época.
Não deu pra executar no nosso tempo, mas foi conquistado brilhantemente agora na gestão do presidente Pimenta.
P- Mas, por exemplo, o senhor viu o jogo no Japão? Viu em casa?
R- Não fui ao Japão, vi em casa.
P- Como foi a sensação da.
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R- A família estava reunida.
Eu, minhas filhas, amigos, os namorados delas, minha mulher, convidados assistindo ao jogo e depois saímos para a rua para fazer a farra como todo mundo saiu.
P- O senhor foi para a Paulista também?
R- Fui, fui para a Paulista de bandeira, depois fomos para a praia no dia seguinte, esticamos a bandeira no meio da estrada, descemos a Anchieta com a bandeira do São Paulo, fizemos procissão no dia primeiro de janeiro em Angra dos Reis, a procissão de barcos com todos fantasiados com bandeiras do São Paulo, e nós todos vestindo a camisa.
Curtimos bastante! Aí eu já não era o presidente, dava pra curtir.
P- Você hoje frequenta o clube socialmente?
R- Não, não.
O clube socialmente não.
P- Como é o seu elo com o São Paulo?
R- É o elo do conselheiro, conselheiro vitalício.
Eu sou membro, por ter sido presidente, membro nato do Conselho Consultivo, e torcedor do São Paulo.
Mas hoje eu não frequento estádio com a mesma intensidade, com a mesma frequência, não vou ao estádio com a mesma frequência que eu fui no passado, claro! Hoje eu já não acompanho o time fora de São Paulo, não viajo mais com a equipe.
Eu assisto mais os jogos aqui no Morumbi.
Estou um pouco mais acomodado.
P- Eu queria abordar outra coisa que foi uma marca sua do futebol fora de campo, ou seja, uma nova geração de dirigentes de clubes brasileiros que estavam insatisfeitos com a organização dos campeonatos, com a estrutura das federações, que culminou no Clube dos Treze.
Eu queria que você falasse um pouco dessa experiência.
R- O São Paulo estava tão diferenciado nessa época, e a estrutura do futebol continuava ruim, a nível de Federação, de Confederação, e a gente precisava fazer alguma coisa.
Nada mais razoável que o São Paulo comandasse isso! Se o São Paulo era o time da moda, se o São Paulo era eleito a melhor equipe, o seu treinador era o melhor técnico, se os seus jogadores eram os melhores, e o São Paulo conquistava tudo, é natural que o São Paulo capitaneasse isso, o São Paulo precisava ser um representante para isso.
E em uma dessas reuniões de presidentes de clubes que existiam nós lançamos a idéia de formar um grupo mais fechado, com um grupo menor.
Nós sairíamos daquela entidade que tinha presidentes de clubes e criaríamos uma entidade menor, de clubes de massa, de clubes de expressão.
E por forças de institutos de pesquisas, que haviam feito trabalhos por encomendas de jornais, nós vimos ali que reunindo aqueles treze clubes nós teríamos 95% da torcida do futebol brasileiro.
Noventa e cinco por cento dos torcedores de futebol torcem por um daqueles treze clubes.
De posse desses elementos, conversando com os companheiros dos grandes clubes do Brasil, do Rio, São Paulo, Belo Horizonte/Minas, e mais, o então presidente do Conselho Nacional de Esporte, professor Manoel Tubino, nasceu em Brasília em uma reunião à noite, num encontro informal, véspera de uma reunião à noite no hotel em que estávamos hospedados, nasceu a idéia de formar o grupo dos treze.
A idéia brotou talvez de mim, talvez de outro, o importante é que a concepção nasceu do São Paulo fazer isso e comandar isso.
Tanto que eu voltei para cá, como advogado isso pra mim foi fácil, fiz um estatuto preliminar, levei para todos os clubes, eles analisarem e marquei uma reunião no São Paulo Futebol Clube num sábado de manhã.
Sigilosamente, não divulgamos nada, começamos a nos reunir às nove horas da manhã no sábado, às cinco horas da tarde estava fundado o Clube dos Treze, com os treze clubes, seu estatuto aprovado.
Aí começou a nossa luta pra melhorar a condição da disputa do futebol.
Brigando na CBF, brigando nas federações e brigando por um esporte mais profissional, começamos a negociar tudo em conjunto, criamos um departamento profissional de marketing, onde os nossos dirigentes do nosso departamento de marketing do Clube dos Treze eram remunerados, recebiam a comissão que recebe qualquer agência, só que cada um deles era vinculado a um clube, eles devolviam 1/13 do que recebiam para o seu clube para amanhã não serem acusados de estar ganhando dinheiro à custa do clube.
Tem certo misticismo em torno disso, eu não vejo nenhum mal, eu acho que tem que ser administrado profissionalmente.
A pessoa traz recurso pro clube, é natural que queira ganhar, inclusive por serem profissionais de marketing.
E assim nasceu o Clube dos Treze, enfrentou o poder constituído, mudou o horário de jogo, escalou o árbitro que quis, fez o campeonato que quis, e a maior média de público até hoje em Campeonato Brasileiro foi a chamada Copa União em 1987.
Uma média de público maior, média de público no estádio e maior receita fora do estádio.
Nós tivemos uma média de 40 mil torcedores, considerando bilheteria e receita extra-bilheteria.
Nós tivemos 22 mil torcedores de média, 22 mil por partida e 18 mil de média com as receitas adicionais de venda dos direitos daquele novo produto que chamava Copa União.
Envolvemos empresas multinacionais de refrigerantes, cigarros, etcetera, foi fantástico.
P- O Clube dos Treze criou seu campeonato próprio?
R- Criou contra a vontade da CBF, tanto que a CBF queria um cruzamento do.
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Ela acabou chamando os treze de Módulo Verde e a outra de Módulo Amarelo, e queria um cruzamento, e nós decidimos na segunda rodada que: “Ó, quem ganha aqui não vai cruzar lá”, porque para a história passa o campeão daqui.
Hoje ninguém fala que o Sport de Recife foi o campeão brasileiro, fala que foi o Flamengo o campeão brasileiro.
Foi o que passou para a história.
Realmente é isso que aconteceu.
O Sport é campeão brasileiro? É.
Está registrado nos anais da CBF? Está.
Agora, você pergunta pro torcedor foi o Flamengo, não foi o Sport.
P- E depois como é que foi o prosseguimento?
R- Eu continuei presidindo esse Clube dos Treze.
Começamos a abrir muitas frentes de negociações, de contrato de marketing, etcetera, o importante é que sempre o São Paulo, quer dizer, quando eu falava presidindo era o presidente do São Paulo presidindo isso, então era o São Paulo capitaneando isso.
Depois eu deixei a presidência do São Paulo, mas o presidente que me sucedeu, o Juvenal, ele pediu que eu continuasse à testa do Clube dos Treze, e eu continuei tocando isso, até que passei a presidência do Clube dos Treze.
Quando eu deixei a presidência do Conselho Deliberativo do São Paulo, eu também não tinha mais razão pra continuar presidindo essa entidade.
E essa entidade conseguiu coisas importantes.
Pegou a revisão constitucional de 1988, a Constituição de 88, inseriu um dispositivo sobre esporte dando autonomia de organização e funcionamento, coisa que não existia antes.
Conseguimos criar o conselho arbitral pros clubes decidirem regulamento, fórmula de campeonato e tabela.
Tudo isso foram conquistas da época do Clube dos Treze.
Negociamos direitos de transmissão, em conjunto você fica muito mais forte do que negociar jogo a jogo, né? Você negocia coletivamente tem um poder de barganha muito mais forte, e várias coisas foram feitas nesse sentido, para profissionalizar a administração do futebol.
P- Em termos de estrutura, o Campeonato Brasileiro voltou a ter os vícios do passado, né?
R- Ele voltou.
Lamentavelmente, há um retrocesso nítido no Campeonato Brasileiro, no Campeonato Paulista, no Campeonato Carioca.
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A culpa não é do campeonato, mas dos dirigentes, nós temos péssimos dirigentes de futebol ainda, neste ano de 1994 continuam sendo muito ruins para o esporte.
Ninguém está preocupado com o esporte, está todo mundo preocupado consigo próprio.
E a hora que o individual fala mais alto que o coletivo, o resultado nunca pode ser muito bom.
A gente espera que com o novo processo eleitoral que se avizinha aí, dos clubes poderem votar, a coisa mude, é uma esperança que.
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Eu como um dos semeadores daquela semente inicial de reconstituição de um estado moderno dentro do futebol, não viciado, autoritário, fruto de uma ditadura, que era toda aquela legislação antiga.
Eu, como sinto muita satisfação por ser parcialmente responsável por isso, e levando o São Paulo a capitanear tudo isso, que acho muito importante, eu tenho esperança muito grande que isso se torne realidade um dia.
Porque aí nós vamos caminhar pra reconquistar uma Copa do Mundo.
Antes disso não vamos conseguir.
P- Futebolisticamente falando, como é que o senhor vê a era Telê?
R- O Telê é uma pessoa diferenciada, é um abençoado por Deus, sem dúvida nenhuma.
Telê é uma figura fantástica, é um sujeito sério, fala o que sente, não mede palavra pra falar o que sente, não tem rabo preso com ninguém, não deve nada pra ninguém, é competente, é hábil, sabe lidar com jogador, não fosse isso não teria sido a minha primeira tentativa de trazer como treinador.
Meu primeiro treinador quando assumi a presidência do São Paulo, eu tive algumas reuniões escondidas no Aeroporto de Confins, em Belo Horizonte, com o Telê, pra tentar trazê-lo, mas não consegui.
Porque a proposta do futebol árabe na época foi muito maior e com os petrodólares não dava pra concorrer, mas depois que ele voltou da Arábia, mais tranquilo, graças a Deus, ele veio pro São Paulo.
Essa era Telê é importante, o Telê hoje é um homem maduro.
Eu acho que ele errou na última Copa, infelizmente ele hoje não comanda a seleção.
Se ele comandasse hoje, eu acredito que o Brasil teria muita chance de ganhar essa Copa do Mundo aí nos Estados Unidos em 1994.
Tenho dúvidas, com a atual organização do futebol, mas quem sabe o brasileiro, Deus é brasileiro, nós somos brasileiros, nós acreditamos em Deus, nós gostamos de futebol, vamos torcer pro Brasil.
P- Antes de a Paula fazer suas considerações finais, nós estamos pedindo para todo mundo escalar aí o seu São Paulo de todos os tempos, que imagina ou que viu jogar.
R- Bom, que eu vi jogar, que eu vi jogar.
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Comecei a acompanhar o São Paulo em 53, quando o São Paulo foi campeão paulista.
Em 57 eu já acompanhava bem de perto, né? Eu diria que dos goleiros que eu vi o São Paulo ter acho que o Poy deve ser uma unanimidade.
Zagueiro central fica difícil.
Fica aí com Bellini, fica com Oscar, fica difícil, mas.
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Vamos fazer o seguinte: vamos pôr aí o Poy no gol, que coisa, o Darío Pereyra de quarto zagueiro, o Bellini de zagueiro central, o lateral esquerdo, que coisa, o São Paulo tem o Cafú, a gente não pode deixar esse Cafú de fora, esse é um fenômeno nacional, esse menino é um fenômeno.
Do meu tempo também, vamos deixar ele de lateral direito pra não tirar ele do time, vai, vamos deixar o Cafú na lateral direita.
O ponta-esquerda é o Canhoteiro, pra mim foi o maior ponta esquerda que eu vi jogar na minha vida.
Fantástico.
Centroavante, dos três grandes centroavantes do São Paulo, os três grandes que eu vi jogar, porque teve o Leônidas que eu não vi jogar, mas entre Serginho, Gino e Careca, fico com o Careca.
Ponta-direita, acho que não podemos tirar o Müller desse time que hoje joga na esquerda, acho que o Müller tem que ficar.
O Pita, é difícil escalar.
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P- Falta o lateral esquerdo.
R- Falta o lateral esquerdo,está faltando o volante, é difícil.
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Não é fácil.
Bauer.
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Bauer foi um grande jogador, eu vi o Bauer jogar.
A gente pode pôr o Bauer de volante, o lateral esquerdo.
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E o lateral esquerdo? Me ajuda, de repente falha a memória.
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P- Ainda faltam os reservas.
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R- Eu vi o Hiberto jogar, vi o Nelsinho jogar, essa meninada que está hoje, mas está muito novinha ainda pra ser de todos os tempos.
Ainda tem muita coisa pra provar pela frente.
Não sei, não consigo lembrar assim de destaque forte na lateral esquerda.
P- O meio de campo então.
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R- O meio de campo fica com Bauer, Silas e Pita.
Não está ruim, não é?
P- Tá bom, tá bom.
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R- Müller, Careca e Canhoteiro; Poy, Cafú, Bellini e Darío.
É.
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Vamos ver, quem sabe dá certo esse time.
P- Uma última pergunta: No seu depoimento, você fala muito do seu pai, cita muito seu pai.
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R- É meu ídolo.
P- Pois é, eu queria saber o que significa seu pai, o que significa ser filho do Aidar, do Dr.
Henri Aidar.
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E se isso foi fácil ou difícil pra você.
R- Olha, foi muito difícil ser filho dele.
No começo foi muito difícil, hoje não, hoje graças a Deus eu consigo administrar isso bem.
Mas foi muito difícil no começo, porque se depositou muita confiança, muita expectativa e muito temor, de repente eu não passava do filho do Henri.
E eu acho que eu consegui deixar minha marca.
Aliás, meu pai foi meu grande estimulador nisso tudo.
Ele dizia: “Você é louco, eu jamais faria essas loucuras que você faz, de enfrentar, e fazer esse movimento todo.
Precisava ter realmente gente jovem como vocês pra fazer isso”.
Ele sempre me parabenizou, sempre me estimulou.
Então foi difícil o começo: eu assumi a presidência e de certa maneira eu era o filho do Henri, mas quando eu saí, saí o Carlos Miguel, isso foi bom pra mim.
P- Tá bom, obrigada, então.
R- Eu é que agradeço vocês.