Minha história inicia-se nos anos sessenta em um patrimônio chamado Aricanduva que pertence ao município de Arapongas que se localiza no norte no Estado do Paraná.
Cresci livre correndo entre as matas e cafezais, nadando nos límpidos riachos e se alimentando com carne fresca de porco e galinha e de frutas e legumes fresquinhos colhidos na horta e nos pomares que havia em todas as propriedades rurais, a minha infância foi de intensa felicidade, pois não conhecia o mal nem a malícia e a perversidade que assediam as crianças de hoje.
Cresci ouvindo a voz do Brasil e ouvindo falar na tal ditadura que papai nos explicou que era proibido falar mal do governo e só havia dois partidos o MDB que era dos pobres e a Arena que era do governo e dos patrões.
Papai era o MDB, mas a gente não podia dizer isso na escola, nos dias de eleições no Ginásio Júlio Junqueira em Aricanduva a gente via o medo estampado no rosto das pessoas e os eleitores não ousavam nem cochichar pois eram vigiados o tempo todo e ao final das eleições que foram regulamentadas pelo AI 15 - este ato institucional impôs a data das eleições nos municípios para 15 de novembro de 1970 - quem vencia era sempre o candidato do governo.
Ditadura à parte, a vida continuava ótima na roça, os porcenteiros e sitiantes festejavam um ano de safra recorde de café até que chegou o fatídico ano de 1975.
Talvez a melhor maneira de descrever este fato seja narrando-o do ponto de vista pessoal.
Para os que viveram no Norte do Paraná naquela época, aquele inverno significou uma tragédia ao mesmo tempo coletiva e particular, algo que o Brasil praticamente não percebeu o verde dos campos foi substituído por um cinza funesto e os incêndios se alastraram pelo estado que teve a cafeicultura e hortaliças dizimadas pelo gelo.
Foi essa geada de 1975 que quebrou a hegemonia do Estado do Paraná na produção brasileira de café,...
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Minha história inicia-se nos anos sessenta em um patrimônio chamado Aricanduva que pertence ao município de Arapongas que se localiza no norte no Estado do Paraná.
Cresci livre correndo entre as matas e cafezais, nadando nos límpidos riachos e se alimentando com carne fresca de porco e galinha e de frutas e legumes fresquinhos colhidos na horta e nos pomares que havia em todas as propriedades rurais, a minha infância foi de intensa felicidade, pois não conhecia o mal nem a malícia e a perversidade que assediam as crianças de hoje.
Cresci ouvindo a voz do Brasil e ouvindo falar na tal ditadura que papai nos explicou que era proibido falar mal do governo e só havia dois partidos o MDB que era dos pobres e a Arena que era do governo e dos patrões.
Papai era o MDB, mas a gente não podia dizer isso na escola, nos dias de eleições no Ginásio Júlio Junqueira em Aricanduva a gente via o medo estampado no rosto das pessoas e os eleitores não ousavam nem cochichar pois eram vigiados o tempo todo e ao final das eleições que foram regulamentadas pelo AI 15 - este ato institucional impôs a data das eleições nos municípios para 15 de novembro de 1970 - quem vencia era sempre o candidato do governo.
Ditadura à parte, a vida continuava ótima na roça, os porcenteiros e sitiantes festejavam um ano de safra recorde de café até que chegou o fatídico ano de 1975.
Talvez a melhor maneira de descrever este fato seja narrando-o do ponto de vista pessoal.
Para os que viveram no Norte do Paraná naquela época, aquele inverno significou uma tragédia ao mesmo tempo coletiva e particular, algo que o Brasil praticamente não percebeu o verde dos campos foi substituído por um cinza funesto e os incêndios se alastraram pelo estado que teve a cafeicultura e hortaliças dizimadas pelo gelo.
Foi essa geada de 1975 que quebrou a hegemonia do Estado do Paraná na produção brasileira de café, cedendo essa posição para Minas Gerais.
A exemplo de muitos, esperanças congeladas, lavradores frustrados, papai resolveu que viríamos para São Paulo, o Eldorado dos aventureiros, terra onde se ganha dinheiro e sucesso, aqui compramos casa em Vila Curuçá, encontramos emprego e com muita garra e luta nos estabilizamos.
Fui Office boy, entregador, carteiro, metalúrgico e hoje sou um educador, profissão que amo de paixão, funcionário público com muito orgulho.
Se perguntarem se fui feliz na infância e adolescência digo que sim, pois tive o prazer de lutar pelas Diretas Já, fui ao Anhangabaú onde havia mais de dois milhões de pessoas reivindicando por um país democrático e eleições .
Sou hoje paulistano por adoção e amo São Paulo que tanto contribuiu para minha emancipação financeira e deu a minha amada querida esposa - também Educadora -, filhos e neto, enfim São Paulo é de todos, de negros, de brancos, de crentes, de católicos, de sulistas, nordestinos, estrangeiros.
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Se eu fosse ficar falando bem de São Paulo essa história quase não teria fim.
Ah São Paulo tão amada, cultuada e cantada em versos e prosa, símbolo da América do Sul, locomotiva que puxa o país, como eu te amo.
Chão abençoado que como imã atrai os povos de todos os lugares.
Quando meu corpo tombar serei parte desse teu chão e meu corpo em teu corpo se tornará um só corpo e seremos sempre felizes.
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