Projeto Plastek
Entrevista de Judite Fernanda Simionato
Entrevistada por Nataniel Torres
Indaiatuba, 02 de setembro de 2023
Entrevista Número PLAS_HV004
P - Preciso que você me diga o seu nome completo, sua data e o seu local de nascimento
R - Meu nome é Judite Fernanda de Simionato, e eu nasci em 03 de março de 1966, nasci na cidade de Santo Antônio do Jardins, no estado de São Paulo.
P - E qual é o nome dos seus pais?
R - Meu pai é Edevino Simionato, e minha mãe Vigília Dolores Tonon Simoinato
P - Seus pais são vivos ainda?
R - A minha mãe.
P - E o que seu pai, sua mãe faziam?
R - O meu pai, ele sempre foi agricultor, e a minha mãe cuidava da gente, cuidava de casa, e criou 5 filhos
P - O seu pai tinha uma roça dele ou ele trabalhava para alguém?
R - Ele tinha um sítio, trabalhou até os 80 anos no sítio.
P - E o que ele plantava?
R - Café, arroz, feijão, bastante, outros, amendoim, então diversas culturas que nós consumimos né, ele plantava, mas a fonte de renda maior sempre foi o café.
P - Então, aí o seu pai plantava, produzia para ele, e vendia?
R - Vendia o café, isso.
P - E aí sua mãe cuidava dos filhos?
R - Isso, cuidava dos filhos, ajudava meu pai também. E ajudavamos, todos os filhos ajudaram na lavoura também, então sempre teve trabalho, nós tinhamos horta para o consumo nosso né, então uma das tarefas, enquanto nós eramos bem crianças era cuidar da horta, então é bem interessante, é um amor bem grande pela terra, né?
P - E quantos irmãos você tem?
R - Eu tenho 4… Duas irmãs e dois irmãos.
P - Como era essa infância de ajudar os pais?
R - Então, nós fazíamos um pouco de tudo, estudávamos, era um sítio há 3 km da cidade, na época nós não tínhamos carro, então nós íamos para escola a pé, e quando eu tinha 9 anos, eu fiz o ano todinho esse percurso sozinha, porque não tinha ninguém que me acompanhava, não coincidiu, ou eles estavam já maiores, e estavam em...
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Entrevista de Judite Fernanda Simionato
Entrevistada por Nataniel Torres
Indaiatuba, 02 de setembro de 2023
Entrevista Número PLAS_HV004
P - Preciso que você me diga o seu nome completo, sua data e o seu local de nascimento
R - Meu nome é Judite Fernanda de Simionato, e eu nasci em 03 de março de 1966, nasci na cidade de Santo Antônio do Jardins, no estado de São Paulo.
P - E qual é o nome dos seus pais?
R - Meu pai é Edevino Simionato, e minha mãe Vigília Dolores Tonon Simoinato
P - Seus pais são vivos ainda?
R - A minha mãe.
P - E o que seu pai, sua mãe faziam?
R - O meu pai, ele sempre foi agricultor, e a minha mãe cuidava da gente, cuidava de casa, e criou 5 filhos
P - O seu pai tinha uma roça dele ou ele trabalhava para alguém?
R - Ele tinha um sítio, trabalhou até os 80 anos no sítio.
P - E o que ele plantava?
R - Café, arroz, feijão, bastante, outros, amendoim, então diversas culturas que nós consumimos né, ele plantava, mas a fonte de renda maior sempre foi o café.
P - Então, aí o seu pai plantava, produzia para ele, e vendia?
R - Vendia o café, isso.
P - E aí sua mãe cuidava dos filhos?
R - Isso, cuidava dos filhos, ajudava meu pai também. E ajudavamos, todos os filhos ajudaram na lavoura também, então sempre teve trabalho, nós tinhamos horta para o consumo nosso né, então uma das tarefas, enquanto nós eramos bem crianças era cuidar da horta, então é bem interessante, é um amor bem grande pela terra, né?
P - E quantos irmãos você tem?
R - Eu tenho 4… Duas irmãs e dois irmãos.
P - Como era essa infância de ajudar os pais?
R - Então, nós fazíamos um pouco de tudo, estudávamos, era um sítio há 3 km da cidade, na época nós não tínhamos carro, então nós íamos para escola a pé, e quando eu tinha 9 anos, eu fiz o ano todinho esse percurso sozinha, porque não tinha ninguém que me acompanhava, não coincidiu, ou eles estavam já maiores, e estavam em outras séries, que não tinha o mesmo horário que eu. Então, foi um período que eu fui o ano todinho com 9 anos, andava 3 km, 6 km por dia, né? Da ida e da volta, e sem assim, nunca tive problema de abordagens de estranhos, e nada disso, sabe? Sempre foi muito tranquilo, e muito seguro, é interessante isso, comparado com o tempo de hoje, acho que é… Foi um tempo feliz, bem feliz mesmo.E nós ajudávamos, nós, os meus irmãos mais velhos ajudavam mais o meu pai no sítio, nós éramos mais jovens, ajudávamos mais a minha mãe, e ajudaremos sempre no cultivo ali de verduras da horta, de regar a horta todo dia, e brincávamos também, sempre brincávamos bastante. Então, foi bem mista assim, a infância, foi bem aproveitada, a noite era fantástico que meu pai e minha mãe eles sentavam do lado de fora e a gente podia ver bem as estrelas, era bem interessante, bem feliz.
P - Como era essa casa que vocês moravam?
R - A casa, era uma casa plana, tinha, bem fresquinha, eu lembro desse…Às vezes no sol era tão quente né, e a gente entrava na casa assim e era, se sentia, era bem, bem frescobol lá dentro, tinha, acho que 4 quartos, uma sala, uma cozinha, uma dispensa, eu acho que por aí.
P - E como era sua vida com os seus irmãos? Porque vocês tinham uma diferença de idade. Como era essa dinâmica dentro de casa?
R - Era, sempre foi muito bem tranquila, a gente se dava, sempre a gente… Estávamos brincando juntos e quando tinha alguma divergência que a gente brigava a mãe já chamava atenção e a gente respeitava, não tinha muito oportunidade de brigar muito, mas sempre foi tranquilo, meu pai e minha mãe sempre conversaram muito com a gente, então sempre foi bem tranquilo, assim, bem unido né, a gente sempre estava junto.
P - Você chegou a conhecer ou sabe a história dos seus avós, por parte de mãe, ou de pai?
R - Sim conheci, conheci minha avó paterna, o avô quando, no ano que eu nasci, ele faleceu, então eu não tive a oportunidade de conhecer, e os meus avós maternos eu conheci os dois, tive uma oportunidade assim de convivência junto fantástico também, então foi muito agradável. São lembranças que eu sempre tenho uma gratidão a Deus muito grande por isso, pela família.
P - Os seus avós eram de lá da cidade também ou vieram de algum outro lugar?
R - Eles eram, eram da cidade, eles eram filhos de imigrantes italianos, eles eram os mais novos da família deles, então eles nasceram no Brasil, mas os pais tanto da mãe, quanto do meu pai, os avós deles vieram todos da Itália.
P - E dos seus pais, eles chegaram a te contar como foi esse momento que eles se encontraram, alguma história, você sabe como que aconteceu isso?
R - Então a cidade, é uma cidade bem, bem pequena né, e na época os jovens todos iam para a missa, e depois tem uma praça e eles, como que era? Eu acho que as meninas andavam de um lado, faziam um círculo de um lado, e os rapazes de outro, então é bem legal né, é bem interessante, e aí acabaram se encontrando e… Se casaram e constituíram aí a família…
P - Então você estava me contando sobre a escola, vamos voltar um pouquinho sobre esse período, você contou sobre esse caminho que você fazia para chegar até a escola, teve alguma situação que te marcou nessas caminhadas?
R - A de especial não, às vezes o que acontecia, e que a gente encontrava as meninas né, vizinhas e tudo, que a gente ia pelo mesmo caminho,e em determinado lugar elas já iam para a casa delas, mas era tudo meio longe, né? E eu acho que foi a amizade que a gente foi construindo em tudo isso.
P - Enfim, você está contando dessa época aí do interior, e depois você sai dessa cidade para vir parar em Indaiatuba, como que foi essa trajetória?
R - Não, isso aí já faz, nós moramos, eu morei no sítio até os 12 anos, depois como meu pai queria que a gente estudasse, e a escola, a gente tinha uma maior dificuldade de ir para a escola, como era demorado, e os meus irmãos também trabalhavam o dia inteiro no sítio, para ir para a escola a noite, fazer faculdade, então era todo um processo mais difícil. Então, nós mudamos para cidade, ele comprou uma casa na cidade, a gente mudou para lá, então eu tinha 12 anos, e aí possibilitou meus irmãos também de cursarem faculdade, da gente estudar, ficou mais fácil, então foi um período, e nessa época também eu comecei a trabalhar bem jovem em oficinas de costura. Aí com 14 para 15 anos eu e mais 3 meninas, na época eu não conhecia as meninas, mas nós fomos pioneiras no colégio técnico agrícola, então nós fomos as primeiras mulheres que iniciamos o curso né, que era só masculino e a gente começou a, a gente começou esse curso, terminamos né, foram 3 anos, e fantástico porque hoje a gente tem amizade com todo esse pessoal ainda, 40 anos atrás, está todo mundo velho, meio assim, não lembrando direito quem é quem, mas nós temos amizade, e é fantástico isso.
P - Isso em que cidade?
R - O colégio foi em Espírito Santo do Pinhal, ela dá 10 km de Santo Antônio do Jardim, então eu viajava todo dia de ônibus para cursar o colégio, e depois disso fui trabalhar na área administrativa, aí fiquei um bom tempo em área administrativa, depois me mudei para Campinas também trabalhando na área administrativa. Aí me casei, separei, nessa época de casamento eu comecei a trabalhar com bonecos de pano, foi aí que eu também tive um contato com a ideia de Paulo Freire, e falei “é isso.” E na época, algumas mulheres que trabalhavam em casa, elas já me ajudavam a fazer os bonecos de pano, eu tinha muitos bonecos para fazer, e elas ajudavam, e foi aí que eu comecei a pensar em grupo de mulheres, aí me separei e tive a oportunidade de me dedicar somente ao grupo de mulheres.
P - Então, vamos voltar a essa época do colégio agrícola. Como você entrou nele? Como surgiu essa ideia desse colégio que você falou que era você e mais duas meninas?
R - Mais 3 meninas, eu sempre gostei muito da terra, e queria ter uma profissão que me agradasse, eu acho… Sempre achei importante você ter um prazer no que você faz, e não só trabalhar para você ganhar o dinheiro né, então foi aí que teve a oportunidade. Um professor que dava aula para a gente lá em Santo Antônio do Jardim disse: “Olha, no colégio agrícola vai abrir vaga para as meninas.” Então, eu me interessei, mais uma menina de uma cidade vizinha, e mais duas de uma outra, acho que era Santo Antônio do Jardim, São João da Boa Vista e duas meninas de Aguaí. São cidades próximas, e a gente se conheceu no colégio, foi muito bom porque hoje são irmãs né.
P - Como foi essa época da escola que tinha só essas meninas para um monte de meninos, quando vocês chegaram lá como foi?
R - Então, foi uma receptividade bem carinhosa, a diretora da escola era uma mulher, e uma mulher bem moderna, não é moderna, uma mulher com boas visões, que ela pensava, inclusive nós fomos aceitas né, e um dos motivos foi porque ela estava lá como diretora, e tivemos o apoio de outras professoras, que também davam aula. E a receptividade dos meninos sempre foi com muito respeito para com a gente, então a gente tem, nós temos amizade com eles até hoje, então é uma família, foi fantástico esse primeiro, esses primeiros cuidados né, foi muito bem, a gente não, eu pelo menos, nunca senti nenhum preconceito, sabe? Muito pelo contrário, eles incentivaram, eles estavam juntos, era como se fosse irmãs mesmo e foi sensacional.
P - E teve algum professor ou professora que tenha te marcado nesse período, que você lembre?
R - Olha, foram muitos, muitos professores. Um professor que me marcou, o nome dele era Celso, ele dava aula de veterinária, uma coisa assim, ele era veterinário, eu não lembro da matéria, mas ele, o que marcou é que ele instigava você a ter uma ação, não esperar do professor, então ele sempre também contava histórias de que ele ajudava a mulher dele na casa dele, e ter ações, sabe? Não só de esperar a gente recebendo, recebendo… Mas, sim de agir, de sair do comodismo, isso eu lembro. Mas, os outros professores também sempre muito agradáveis e sempre muito parceiros nossos, e a nota era nota igual dos meninos, né? Então, não tinha diferença, então eles não aliviavam nessa parte, mas eles eram sempre muito gentis, e as professoras também eram bem gentis conosco e com os meninos, elas faziam mais ou menos, nós íamos para nossas casas todos os dias, e os meninos ficavam no alojamento da escola, então eles passavam a semana toda, ou então 15 dias longe dos pais, e eram todos adolescentes, né? Então, eles tinham esse carinho das professoras também, e tinham regras né, severas, então eles descumpriam regras também, então isso daí é piada hoje, é legal. Mas, sempre teve uma convivência bem interessante, assim, bem amiga, bem cordial, uma coisa meio fraterna assim mesmo.
P - E teve alguma situação, alguma história que aconteceu na escola que quando você volta à memória você fala “nossa, lembro disso que aconteceu”?
R - Olha, o que eu sempre lembro que é uma coisa assim de, além dos trabalhos que nós fazíamos com a lavoura ou com os animais e tudo que era bem interessante.Sempre na hora do almoço algum dos meninos tocavam violão, então a gente almoçava, nós almoçavamos no bandejão né, e depois do almoço tinha acho que, não lembro se era uma hora, duas horas, alguma coisa assim, e os meninos tocavam violão, a gente cantava, conversava, era um momento bem agradável.
P - E aí quando você estava contando, um pouquinho antes da gente chegar na escola, eu perguntei se você conseguia brincar também, né? Você ia para escola, ajudava em casa,mas brincava. Quando brincava, brincava do que?
R - Olha, a gente brincava de casinha com boneca, em baixo do pomar, a gente fazia, a gente brincava com boneca.
P - E aí depois você se formou no colégio agrícola que era algo relacionado a terra, e depois você foi fazer bonecos que você contou, o que que aconteceu?
R - Então, eu me formei no colégio e nunca exerci a profissão de fato né, e depois eu fui trabalhar na área administrativa, trabalhei em uma confecção em uma época, aprendi bastante nessa confecção o processo da produção, foi interessante isso para mim, para até hoje. Depois disso eu fui para a área administrativa, trabalhei alguns bons anos na área administrativa, depois que eu me casei em um momento eu comecei a querer fazer os bonecos novamente, porque eu fazia lá na adolescência, quando criança, eu fui uma possibilidade de rendimento e de fazer alguma coisa que eu gostava, então foi aí que eu comecei a fazer em casa, com uma maquininha de costura que era da minha avó. Enfim, fiz muitos papais noéis, e bonequinhas, e passou a ser uma fonte de renda, e foi aí que eu percebi, entendi, que as outras mulheres também poderiam, em casa, trabalhar e ter uma fonte de renda, isso foi, faz tempo — .
P - Como era essa dinâmica dentro da sua casa com o seu marido, você trabalhava, ele trabalhava? Me conta como era isso, até para você poder chegar nessa questão de entender que as mulheres precisam de renda, como que aconteceu isso na sua vida?
R - Então, isso também foi uma coisa meio tranquila, o meu marido trabalhava com armários embutidos, móveis e eu ajudava na elaboração dos desenhos. Eu comecei a aprender o autocad no computador, foi o começo do autocad, e aí eu ajudava, e as vendedoras das lojas, na época elas não tinham autocad ainda né, então a gente dava uma acessória nesse sentido. Só que depois nesse processo não era muito o que eu queria, não satisfazia, e foi aí que eu comecei a trabalhar com os bonecos.
P - E como era essa questão de renda dentro da sua casa? Como é que vocês resolviam isso? Que até então você falou que seu marido trabalhava e aí você ajudava, mas e você ter sua renda, como que foi isso?
R - Não, era tipo juntos assim, não era, ele recebia e eu gastava, não, era junto assim, era acordo, isso não era, nunca problema.
P - E como é que startou isso na sua cabeça de você falar “eu preciso ter minha renda”, como é que isso… O que que aconteceu para você dar um…
R - Não, não foi nem pensar em renda, foi mais em pensar em realizar alguma coisa, em fazer alguma coisa que me satisfazia, foi pensando nisso, a renda veio depois né, Que daí a gente começou a fazer os bonecos, e aí começamos a vender e a participar de feiras e ter clientes, então aí que começou a ter a renda, mas o início foi pensando em fazer alguma coisa para auto satisfação mesmo.
P - E nessa época, esses bonecos você fazia com quais materiais?
R - Com tecidos comuns, tecidos novos, eram…
P - Todas as partes dos bonecos eram feitas de tecido?
R - Isso, isso, era com tecido.
P - Então, para a gente voltar nessa questão da renda que eu quero falar sobre as outras mulheres também, no meio do caminho você falou sobre Paulo Freire, qual foi seu contato com ele? Onde é que você conheceu e como foi isso?
R - Não, eu não conheci Paulo Freire, eu conheci a idéia dele através de um entrevista na TV cultura, e ele falava, todas as falas dele eram interessantes né, mas uma das coisas que marca muito e que marcou, é da autonomia para as mulheres, não só para as mulheres, para o ser humano, o ser humano ter autonomia e responsabilidade sobre o que ele faz. E uma das coisas que para mim é importante também do Paulo Freire é a prática e a ação, então você aproximar, quanto mais você aproxima o seu pensamento da sua prática né, da sua ação, para você imaginar alguma coisa e não fazer, falar e não fazer, ou falar uma coisa e fazer outra. Aí entra também a criticidade, a importância da criticidade e não da crítica né, para você conhecer o que você está criticando, você conhecer, e não só criticando, mas é você conhecer o que está te incomodando para você gerar uma mudança, e sempre a responsabilidade para a gente. Eu sei que hoje Paulo Freire fica meio povo maluco, mas na minha concepção ninguém entendeu ainda direito Paulo Freire, porque se tivesse entendido não estaria nessa dualidade, mas é processo, então não dá para um dia, um dia quem sabe o pessoal começa a entender e de fato, porque ele realmente chama para ação e não simplesmente numa teoria, em uma fantasia, uma coisa. Ele chama a gente para ser igual ao seu irmão, para ser igual, e valorizar também o trabalho do outro.
P - Você estava fazendo os bonecos com seu esposo na época, e aí você falou que depois queria trazer isso para outras mulheres também, como é que veio essa ideia na sua cabeça?
R - Então isso, na verdade foi uma necessidade, eu recebi um pedido grande, eram algumas lojas, e era final de ano, de papai noel e tudo. E nós moravamos em um condomínio com chácaras, e nessas chácaras tinham algumas mulheres que eram caseiras, e precisavam de alguma renda, e elas tinham máquina em casa. Então, eu fiz a capacitação com elas, e elas começaram a produzir e a ganhar o dinheiro né, era assim, bem pouca produção, porque para eu fazer sozinha era bastante, mas para dividir não era tanto. E a partir disso eu comecei a assumir mais pedidos, para dar trabalho para elas, e eu vi a importância do trabalho, como isso fazia a diferença na vida delas. E elas trabalhando em casa e cuidando de, uma cuidava de filhos, e tinham duas que cuidavam de netos, e mesmo com todo esse trabalho do cuidado com a família elas podiam produzir, faziam perfeito, e recebiam, então elas ficavam muito felizes com essa possibilidade.
P - E como você viu que isso reverbera na vida dela? Que você falou que você foi pegando mais trabalho para ver se entrava mais dinheiro, mas o que você viu que você falou: “Estou vendo que alguma coisa está acontecendo?”
R - Nossa, é, elas ficavam assim, o resultado disso, que elas ficavam bem felizes quando elas recebiam, e elas diziam “poxa, eu posso comprar alguma coisa e que não estou dependendo do marido, né?” Elas tinham marido, elas tinham uma vida mais estável, não era sozinhas, mas, e era resultado de trabalho delas. Então assim, o que a gente vê é só o final, você não consegue ver o que tem lá dentro da pessoa, essa transformação, né? A importância de uma pessoa realizar um trabalho do nada, né? De um pedaço de tecido ela conseguir produzir, ver o resultado, e depois ver o produto na loja, é fantástico isso.
P - E aí você estava contando na vida das mulheres, e na sua vida, como é que isso começou a mudar a sua vida naquele momento?
R - No processo com os bonecos, eu passei a desenvolver um pouco mais a criatividade, que na área administrativa a gente tem maior dificuldade, e isso possibilitava, sem dúvidas, uma felicidade maior, e essa mesma felicidade que eu gostaria que outras pessoas estivessem sentindo, e podendo exercer essa criatividade, esse potencial.
P - E aí como foi esse período depois que você trouxe para as meninas, elas começaram a ter um pouco de renda, e o que aconteceu na sua vida logo depois disso?
R - Aí, logo depois eu me separei, eu me mudei para Campinas, e nessa época eu conheci um grupo de mulheres que estavam começando uma cooperativa, isso foi em 2005. Era um grupo de artesãs e artesãos também, que estavam dividindo o espaço para a comercialização da venda dos produtos que cada um fazia, o processo de produção era individual, mas a venda coletiva. E eu tive a oportunidade de participar com esse grupo, de fazer parte da fundação da cooperativa, isso possibilitou que nesse período de cooperativa eu conseguisse mais clientes, tinha a venda direta para o consumidor final, e consequência de outros clientes que compravam uma quantidade maior. Além de ter essa convivência dentro do cooperativismo, né? Da divisão de tarefas, divisão de responsabilidades, e tudo isso. E junto com isso eu comecei a trabalhar com grupos de mulheres, era um trabalho voluntário, mas na cidade tinham alguns grupos de mulheres na periferia que precisavam de capacitação, então a gente fazia essas oficinas junto dessas mulheres. Depois, na cooperativa eu conheci a Glória Kampfer, que ela estava com um projeto aqui em Indaiatuba, que nasceu em 2006, que era um projeto de geração de trabalho e renda, foi aí que ela me indicou, e estava em processo de transformação o projeto aqui em Indaiatuba, e foi nesse espaço, eles davam uma capacitação. Só que o projeto estava terminando e precisavam transformá-lo, então aí eu já estava preparada, preparada não né, pronta, preparada a gente nunca está, mas eu estava pronta para assumir mais esses desafios. Fazia também em outros grupos em outras cidades, trabalhos com outros grupos, mas o meu foco foi, por decisão, cuidar do projeto aqui em Indaiatuba, da cooperativa, e isso estamos direto aqui desde 2010, desenvolvendo, capacitando e procurando clientes, e tudo isso.
P - Deixa eu te perguntar, as capacitações, sempre nessa área de costura?
R - Sempre na área de costura, ou de bordado, mas com o objetivo do trabalho, e do desenvolvimento da pessoa, porque eu acredito que a pessoa tem um potencial que fica acomodado e que não é desenvolvido, por falta de oportunidade muitas vezes, então sempre pensei em cuidar dessa oportunidade, para que as pessoas que quiserem, elas desenvolvam. Dentro dessa área também, porque não é todo mundo que tem vontade de aprender a costurar, tem outras áreas, óbvio, né? Mas, a oportunidade eu acho que tem que ser oferecida, a oportunidade é a obrigação de quem está vendo isso, quem vai aproveitar é outras história, mas eu acho que a oportunidade tem que ser oferecida.
P - Nessa época que você estava na cooperativa de artesãos que você contou, vamos entrar nas questões de reciclagem, utilização, sustentabilidade. Que tipo de produtos, de artes que o pessoal criava lá?
R - Olha, eram todas, eram diversas, diversas… Crochê, costura, cerâmica, vidros, eu não sei como que chama, tinha umas meninas que trabalhavam, elas reutilizavam as garrafas de vidro e transformavam em outros produtos, é quase que tipo uma cerâmica, mas é produzido com vidro, fantástico esse trabalho. Trabalhos com madeira, tanto com madeiras em MDF, que é aquelas caixinhas bonitinhas, quanto com reutilização de madeiras, de sobra de madeiras, ou de galhos de árvore que eles transformavam em arte, era bem interessante isso. Então, tínhamos mais de 30 artesãos , cada um de uma área. Crochê, muito crochê —.
P - Para a gente falar sobre essas questões da sustentabilidade, vamos voltar um pouquinho, vamos fazer um caminho assim, lá na época da sua infância se falava sobre questão de meio ambiente, de sustentabilidade, falava ou não falava, como é que era?
R - Olha, falava muito pouco, na minha casa, o meu pai chamava a atenção da gente por isso, podemos dizer que ele se incomodava, era da gente usar o detergente na cozinha, e outra coisa que ele uma vez chamou a minha atenção, ficou super bravo também, é porque a gente tinha mexido em um ninho de passarinho. Então, a gente tinha uma consciência, então assim, não era… Porque, lá na infância, a água do riacho que entrava lá e do rio eram limpas, então você não tinha tanto esse, o lixo que era gerado em casa, era casaca de fruta essas coisas, e que era feito compostagem né, já era colocado na terra. Então não tinha esse processo de “a do lixo, o que é que eu vou fazer com o lixo?” Então, não tinha tanto isso, era bem menor essa questão. Hoje que tem muita embalagem de tudo, o que eles compravam era em, ou era a granel, ou era em latas grandes. Eu lembro que tinha as latas enormes, grandes, de óleo, então, era, não tinha todo esse lixo que tem hoje.
P - A gente estava falando das latas, e nessa época da sua infância, que a gente está voltando no tempo, como que era a utilização do plástico? O que você lembra disso?
R - Olha, eu não lembro do plástico, não lembro, não tinha, a primeira embalagem que eu lembro que eu vi que era diferente foi de sorvete, porque até o sorvete na época eram pessoas que fabricavam o sorvete, e a gente tomava o sorvete na casquinha, né? Mas, quando surgiu, eu acho que deve ter sido a kibon, ela tinha uma embalagem, que foi a primeira embalagem que eu… Tinham alguns sacos de plástico, mas era muito pouco, porque a maioria de produtos que a gente comprava já era a granel, ou a farinha já tinha um saco próprio que não era plástico também. Muitas pessoas, às vezes, comentam que usam o saco plástico do arroz para levar material de escola, né? Mas a gente também não tinha isso, porque o meu pai plantava arroz, e a gente não usava esse, então era muito pouco. O açúcar também era em outros sacos, o macarrão era em um pacote azul, tem até hoje esse pacote azul, e era papel, então do plástico eu vou ficar devendo, porque eu não tive contato.
P - Não, então vamos falar justamente sobre isso, aí você viu lá no sorvete, e depois quando você viu o plástico ir aparecendo na sua vida? Como é que ele foi aparecendo? O que que foi? Materiais foram aparecendo, como é que foi isso?
R - Então, aí foram as embalagens, né? Embalagem de shampoo, eu acho que foram os primeiros contatos, e depois que começou a ter uma variedade maior, trocando as latas, que eram as latas de óleo, pelas embalagens de plástico de óleo de soja ou de outros produtos, foi isso.
P - E nessa época que você viu as trocas, as pessoas pensavam sobre esse material, se falava sobre isso na época?
R - Não, o pessoal adorava, né? A novidade, era uma novidade que não tinha, o pensamento, a gente não sabia como era produzido, a gente sabia que era bonito, e que era diferente, que não ia enferrujar, então era interessante, foi bem interessante a chegada do plástico.
P - E quando que começou a se falar sobre a questão do que acontece com esse material depois?
R - Aí foi quando começou a ter um consumo maior dos refrigerantes, né? Foi aí que começou a juntar muito as embalagens, e o pessoal começou a ver que não se destruía na natureza, mas foram décadas, né?
P - Nessa época que você estava estudando na escola agrícola se falava sobre essa questão, não só sobre o plástico, mas sobre reutilização, reciclagem, você aprendeu isso na escola agrícola, ou não?
R - Nessa época não, a gente cuidava, tinha o carinho pela natureza, isso sim, sobre o respeito pelos animais, em não agredir, em tudo isso, mas eu não me lembro em falar abertamente sobre a responsabilidade de reciclagem. A reutilização era meio que automático devido a necessidade, né? Como reutilizar uma embalagem, a lata, para você fazer um outro recipiente, mas era uma necessidade, e não uma responsabilidade ambiental.
P - E lá na época da escola agrícola o que que se falava sobre o meio ambiente? Que você falou sobre os animais, mas e sobre a água… Se falava sobre as questões do meio ambiente?
R - Sobre o agrotóxico sim,sobre o manejo tanto de cuidados com as plantas, não utilização de muitos agrotóxicos nos produtos que isso geraria um problema, então era lá bem no começo do agrotóxico, era o começo de você usar das vendas dos herbicidas, então tinham alguns professores que sempre alertavam com esse pensamento que isso não ia dar certo. Só que para os negócios grandes né, isso já não, se não tiver esse processo você não tem grande produção, mas muitos professores falavam, falavam “O isso não vai, isso vai da ruim, isso não vai funcionar, vai da problema para nós.”
P - Aí depois quando você começou a trabalhar com os bonecos, que você estava contanto, tinha alguma preocupação com os resíduos? Não tinha? Como é que vocês tratavam essas questões?
R - Então, com os bonecos eu sempre procurei usar todo o material, sem ter muito descarte, então algum retalho bem pequeno, alguma coisa, e às vezes a gente usava para encher os bonecos, então a gente sempre cuidou dessa questão de não ter tanto esse descarte, esse no meio ambiente, sempre reutilizando todo o material.
P - E nessa época dos artesãos que você estava contando, como tinham vários artesanatos e já tinha até a reutilização, como eram os artesãos, porque isso também é mais recente né, nessa questão de sustentabilidade?
R - Aí sim, a maioria tinha uma grande responsabilidade, isso aí eu acho que já é meio intrínseco, já está meio que dentro do artesão, sabe? Acho que o artesão ele não é só um artesão, ele já tem uma consciência maior para ele conseguir produzir alguma coisa, então isso aí, a maioria tinha consciência da reutilização, do reaproveitamento e dos cuidados, de uma vida mais saudável e tudo isso.
P - Por que o artesão tem isso?
R - Não tem modéstia no que eu vou falar, não tem nada de humildade no que eu vou falar, mas eu acho que o artesão, para ele conseguir expressar alguma, materializar algum pensamento, ele tem uma ligação maior com a natureza, ela tem uma ligação maior com Deus, não sei se todos acreditam, sabem disso, mas ele tem uma ligação maior com a natureza,para ele conseguir colocar em, materializar o pensamento dele. Isso não é só o artesão, né? Mas todo o, a maioria dos artistas tem um pensamento já meio que diferente e conseguem se expressar, ou empreendedores. Eu vejo hoje também muitos empreendedores que tem tantos desafios, ele não está sozinho, ele tem ligações maiores para ele conseguir realizar o que ele realiza. Não tem humildade
P - Como começa a aparecer isso na sua vida? Essa questão da reutilização dos materiais, como é que isso se materializou na sua vida?
R - Essa foi uma grande oportunidade, nós estávamos trabalhando aqui na cooperativa, com o artesanato, pesando no artesanato, mas só com matéria prima nova, a gente não tinha esse foco da reutilização. E foi aí que a gente pensando por um lado, mas a Toyota chegou com uma demanda da gente reutilizar os uniformes deles, com a Toyota nós tivemos um grande aprendizado e conseguimos entender a importância dessa possibilidade da reutilização, como um trabalho, desenvolvimento de pessoas dentro da cooperativa, e também uma solução para as empresas, porque você reutilizando os uniformes que as empresas, ou outros materiais, né? Que as empresas estariam descartando da forma convencional, elas são transformadas, e não são só transformadas para serem jogadas no lixo ali na frente, a gente constrói produtos para que a pessoa use por bastante tempo. É aliás um problemas, porque nossos produtos, eles acabam durando mais tempo, e a gente tem que ficar criando produtos novos para ter diversidade e continuar o nosso trabalho, né? Mas são processos inteligentes de soluções para as indústrias, esse apoio, essa visão a gente teve com o pessoal da Toyota, e toda a estrutura para desenvolvimento, incentivo, foi através deles.
P - Você contou das meninas, que elas gostam do material novo, como é que foi para conscientizar as meninas de fazer utilização do material que já foi usado?
R - Então, esse foi um processo e ainda é um processo delicado, mas o que que acontece? Quando um produto chega, nós desenvolvemos o produto, e quando você vê o produto final, esse é o incentivo, então, porque o produto final sempre fica muito bonito, então esse é o incentivo para você usar aquele produto que já, que parece que já, que você já estaria descartando, né? E ele é reutilizado, nós tivemos casos aqui de uniformes que estavam bem ruins e foram transformados em necessaires que ficaram bem bonitas. Então, esse é o um desafio inclusive para a costureira que fala “poxa vida, mas aquela calça que se fosse do meu marido eu jogaria fora, ela se transformou nessa necessaire”, então isso é motivador. Então, é sempre um trabalho de algum tempo, de alguns anos, para gente ir ganhando essa, o resultado, né? O resultado final, e ir incentivando nessa coragem e na criatividade e tudo isso.
P - E como é que vocês começaram a desenvolver as peças? O designer, a técnica, como é que foi isso?
R - Então, foram as meninas da Toyota que trouxeram alguns uniformes, e falaram “vejam o que vocês podem fazer com isso”, e nós desenvolvemos alguns estojos, uma bolsa, já de produtos que nós tínhamos. E depois com o passar do tempo surgiram outras demandas né, “olha, nós precisamos de uma pasta, precisamos de uma mochila.” E aí a gente foi desenvolvendo de acordo com o que as empresas precisam, e aí foi criando o processo de desenvolvimento de produtos, nós tivemos uma época que nós tivemos um consultoria com a Toyota também, que daí a gente teve um avanço nos produtos, que foi para um outra linha, e outros materiais. Tivemos a adesão de outras indústrias, que nos fornecem materiais, fornecem airbags, e fornecem os tecidos automotivos que eles destinariam para outros caminhos, e eles doam parte desse material para gente, e a gente reutiliza, então são grandes parceiros que nos apoiam nisso também.
P - E como é que foi esse processo com a Toyota? Da entrada dela nessa mediação, você contou com os clientes, mas também com os materiais, como é que isso aconteceu?
R - A partir dos uniformes a Toyota começou a desenvolver internamente, a mostrar o projeto, foi aí que começaram a surgir outras empresas interessadas em participar disso, e eles fizeram toda essa intermediação, e fazem até hoje, né? Essa intermediação. Ontem nós recebemos um pessoal de uma indústria que é parceira da Toyota também, e que eles vão nos ajudar em um programa com excel quer dizer, completamente fora do processo, da produção, mas que é importante no contexto administrativo, então, e para eles é uma coisa fácil, entende? Só que para a gente,até, eu fiz processamento de dados, faculdade de processamento de dados, lá quando a gente usava disquete, e não tinha, eu estava saindo do curso e o computador de 32 beats estava chegando, então assim, é coisa de história isso, né? E hoje é tanta habilidade, tanta, sabe? Super fácil para uma indústria, claro que não é a indústria, são pessoas, é o empenho das pessoas específicas dentro das indústrias que compram a causa, do processo voluntário, esse é um processo voluntário que dá trabalho, dá bastante trabalho, mas são as pessoas que compram a causa e falam “eu quero ajudar.” E claro que eles tem o apoio da indústria porque eles estão dentro da indústria, tem todo conhecimento, e isso é super importante, né? Todo esse processo.
P - O que é o Projeto Retornar dentro desse processo?
R - Então, o Projeto Retornar que nasceu lá em 2012 com a reutilização dos uniformes, fomos aprendendo juntos, todo os desenvolvimento de produtos, o projeto retornar da oportunidade não só para nós da uniarte, mas para outras instituições também, da transformações de produtos, da geração de renda, do desenvolvimento de pessoas, os produtos do retornar é só um produto, é o finalzinho ali materializado, mas até chegar nesse produto já teve muito desenvolvimento antes, parcerias e, assim, é não sei, é bem vasto esse processo e são muitos anos, né? Então, a Toyota já teve e tem até hoje agências de publicidade que cuidam só desse processo, para dar visibilidade para os produtos, para o projeto, e isso ajuda a que outros empresários, que outras pessoas vejam o projeto e queiram, e queiram participar dele, ou através de compras de produtos, desenvolvendo dentro da própria indústria, é incentivador, porque é um projeto que dá certo.
P - Vamos falar um pouco sobre os materiais. Nesse primeiro momento veio a questão da reutilização dos tecidos, né? Aí depois os automotivos, e no primeiro momento você me contou que o desenvolvimento do produto foram vocês que propuseram para eles, porque depois veio uma consultoria, mas e antes da consultoria, vocês é que propunham?
R - Sim, sim, o projeto sempre foi, sempre a gente que fazia os produtos, né? De acordo com as necessidades que eles estavam precisando e tudo, e nós cansamos de ficar fazendo só aqueles produtinhos, aí a gente pediu uma consultoria, a gente recebeu essa consultoria, e hoje também já tem outras pessoas pesando, já vamos por outros caminhos também e para ampliar essa criatividade, e novas cabeças pesando em produtos, né? Novas soluções, e a gente sempre trabalha também com a necessidade do cliente, às vezes precisam de alguma, um cliente precisava de uma bolsa para colocar vinhos, então a gente desenvolveu essa bolsa para eles, então depende muito da necessidade que o cliente tem. Com azul a gente desenvolveu bolsa de transporte de animais, de acordo com a necessidade que eles precisavam, então a gente está sempre nesse processo de desenvolvimento.
P - E os materiais, como é que eles chegam para vocês? Qual é o processo que você faz quando ele bate na sua mesa? O que você tem que fazer com ele?
R - Bom, os materiais, primeiro a gente retira nas industrias, industria de Jundiaí, outra de Votorantim, que são as que a gente mais trabalha, a gente retira esse material, separa… Isso eu estou falando do material automotivo né, a gente separa, organiza, e depois vai para o processo de corte e produção. Quando são uniformes, alguns a gente precisa fazer higienização dos uniformes, até chegar no processo, aí a gente desmancha, desmancha as calças, as camisas, e vai para o processo de corte, molde e costura.
P - E os excedentes desses materiais né então, às vezes tem um botão, tem um ilhós, o que vocês fazem com isso?
R - Então, quando a gente não consegue reutilizar, muitas vezes a gente doa para as costureiras, para outras costureiras que sempre precisam de zíper, precisam de botão, e tudo isso. Os tecidos pequenos pedaços de camisas, alguma coisa, que ainda estejam, possam ser reaproveitados, mas a gente não consegue reaproveitar para um produto, nós doamos para oficina mecânica que eles limpam as mãos antes de serem descartados, e tem um processo também que as indústrias retiram para produzir o feltro dos carros, né? Feltro de carro, sei lá do quê, mas eles desmancham e reaproveitam para feltro. Nós já tivemos também um período, que depois esse período se encerrou, que nós entregaremos os retalhos dos uniformes para uma empresa em Americana, e eles transformaram esse tecido em linha novamente, eles transformaram em linha e faziam os tecidos, e ia para tecido de novo, né? Que é o tecido reutilizado, que vai para tecido de decoração, é super interessante.
P - E sobre os materiais automobilísticos, quais materiais vocês usam? Vamos nomear eles.
R - Nós reutilizamos os tecidos de bancos, os tecidos que foram né, que cobrem os bancos, tanto o courino quanto os tecidos mesmo, os cintos de segurança, e os airbags. Os airbags nós reutilizamos na grande maioria, os airbags que são descartados no controle de qualidade da indústria, que eles são muito rigorosos, então qualquer mínimo defeito eles precisam descartar e a gente consegue reutilizar esse material.
P - E aí o que vocês fazem com esse material?
R - Com esse material nós produzimos ecobags, mochilas, cases para notebook. E o que mais que nós fazemos, Cleide? Maletas e tudo que…Estojo
P - E nesse processo tem as artesãs, as meninas, as costureiras, como é que foi para chamar elas, capacitar e desenvolver o projeto com elas?
R - Então, o projeto aqui já nasceu, era um projeto de geração de trabalho e renda, contando a origem da cooperativa aqui em Indaiatuba, era um projeto de geração de trabalho e renda com a prefeitura e uma GM, é uma indústria automobilística que foram por 4 anos, foi feito um projeto de capacitação. Encerrando esse projeto houve a necessidade de formalização do grupo de mulheres, as mulheres já tinham uma capacitação, aí foi aí que surgiu a cooperativa, que de Campinas a gente veio como filial aqui. Desse grupo de mulheres hoje duas estão ainda na cooperativa, e as demais são mulheres da comunidade, que começaram, que não podiam trabalhar, né? Não podem trabalhar no mercado formal , e que tem grande potencial de produção, de criatividade, e nós, então elas assim, tem essa adesão, é uma livre adesão, e de interesse mesmo, de disponibilidade e amor pela costura. Nós produzimos, todas as meninas que estão na cooperativa, elas produzem as peças inteiras, produzem a peça inteira, a gente não trabalha com etapas, somente uma etapa da produção, como é uma indústria de confecção. Uma indústria normalmente você entra na confecção e você só faz um tipo de trabalho, aqui na cooperativa o incentivo sempre é para que ela desenvolva uma etapa hoje, amanhã ela faz outra etapa, cada projeto, cada produto que está colocado para ser desenvolvido ela vai fazer uma etapa dele, para ela conhecer o processo todo. E muitas mulheres que trabalham em casa, elas costuram o produto todo então elas são de fato artesãs e costureiras, elas não, elas assim, resolvem os desafios com aquela costura, com aquele produto, então não é só uma etapa “a eu só sei pregar o bolso da camisa.” Muitas pessoas, muitas mulheres se aposentam, trabalham a vida toda e só sabem pregar o bolso da camisa, e isso além de gerar problemas de saúde, mas problemas de saúde todo mundo acaba tendo, né? Só coloca a culpa em um processo, mas ajuda você só ficar em uma posição somente o dia todo, e quando você a cada período você faz uma etapa do produto, você se movimenta de forma diferente, você pensa de forma diferente, tem um desafio novo, você tem que usar uma linha nova. Então tudo isso é um desenvolvimento que parace incômodo, mas aqui na cooperativa as meninas acostumaram e quando a gente tem um trabalho maior de um produto só começa a ficar cansativo no final, porque aí elas sentem a necessidade de mudar logo, porque você fica focado só naquilo “mas nossa, eu vou pregar esse zíper de novo?” Então é um processo sempre pensando no desenvolvimento. E eu não sei da área médica como isso poderia ser chamado, mas eu acredito que tenha um desenvolvimento bem maior a pessoa fazendo o trabalho dela e se envolvendo no projeto todo do que fazendo uma etapa só, entendeu? Inclusive com responsabilidade de qualidade, de melhoria, e de tudo isso.
P - E aí você falou que o projeto surgiu por uma questão de renda para as mulheres, e aí como é que isso transformou a vida delas e da comunidade ao redor delas?
R - Então, eu tenho o meu lado da visão das mulheres, pode ser bem diferente, entende? Mas, da minha visão o que que eu vejo, a mulher ter uma atividade, ela acorda de manhã sabe que ela tem um trabalho para ir fora da casa dela, mesmo ela cuidando da casa, cuidando de marido, cuidando de neto, cuidando de todo mundo, ela ainda tem um outro trabalho que ela vai desenvolver, é um trabalho, é dela com ela mesma, sabe? É um momento dela, que ela produz, que ela fala “poxa vida, como é que eu fiz isso? Olha que bonito que fica.” E as pessoas que elogiam, então eu elogio para um —, embora esse trabalho, de fato é um trabalho que tem desgaste, que tem cobrança, que tenha exigências, mas é uma produção dela, e além de tudo isso tem o dinheiro que ela pode depois usar para o que ela quiser, entende? E tem o compromisso, e eu acho que é um fazer, é um fazer dela que isso ninguém tira, sabe? Da pessoa aquela auto satisfação, e quando ela volta para casa ela tem coisas, novidades para contar, ela tem outros pensamentos, e eu acho que isso dentro de casa também acaba influenciando na qualidade de vida com as outras pessoas dentro de casa, então ela tem um conhecimento a mais do que só ficar lavando, passando e brigando com as crianças, né? E brigando com o marido, então é um pouco chato isso, então você poder exercer a sua função de ser né, o seu ser fazendo alguma coisa, e alguma coisa de bom para a sociedade, que isso acaba inspirando outras mulheres.
P - E me conta, na sua vida mesmo, Judite, como é que você lembra que era essa questão no passado? Por exemplo: com a sua mãe, com a sua avó, ou as pessoas que vieram até antes delas, como você via essa questão para as mulheres, e o que você vê que mudou hoje? Até aproveitando sua própria experiência, no trabalho, no fazer as coisas.
R - No trabalho? Olha, tanto a minha avó quanto a minha mãe eu sempre as vi trabalhando bastante dentro de casa, assim, não tinha, eu acho que por falta da consciência de poder fazer alguma coisa fora, né? Eu nunca vi a minha mãe reclamando “a tem que fazer isso de novo.” Ela mandava a gente fazer, mandava a gente fazer, mas não tinha, e nem da minha avó, não tinha essa reclamação, eu via que elas faziam, internamente eu não sei como era, mas elas assumiram isso como uma responsabilidade, fizeram sempre muito bem feito, e amorosamente. E tanto na minha casa, quanto da minha avó que foi o contato maior, a gente via muito respeito também, tanto do meu avô, quanto do meu pai, com todo esse trabalho. Meu pai nunca tomou uma decisão sozinho, ele sempre conversava com a minha mãe, então incluía, sabe? Essa exclusão que muitas mulheres sofrem, sofriam né, de marido que só sustentava financeiramente com o que ele queria que fosse sustentado, eu não tive isso, eu não presenciei isso, então a gente também já cresce com uma outra mentalidade, não aceitando isso em outras casas, né?
P - E na época do seu casamento, como era essa dinâmica? Você conseguiu trazer isso para a sua relação ou não?
R - Ah sim, sim, isso era bem tranquilo também. As dificuldades eram junto e as facilidades também, isso era bem tranquilo.
P - Você chegou a ter filhos, Judite?
R - Não, não tive.
P - Você viu mudanças nesse sentido na vida das mulheres que trabalham na cooperativa? De história, se você tiver alguma história que você lembra, de alguma das meninas, que você vai ela de um jeito e depois da vida na cooperativa e do trabalho você via…
R - Olha, dentro da cooperativa sim, com autonomia, com uma autonomia maior. Algumas meninas que às vezes tinham muito medo né, ou de tomar decisão, ou de conversar até com outras pessoas e isso daí em pouco tempo tem um crescimento muito grande nisso, de socialização e de tudo isso,sempre tem o incentivo das outras também. A gente tem a Silvania, ela começou aqui ela não sabia nada, assim, ela só tinha trabalhado na casa dela, e hoje ela é responsável pela parte de qualidade, que eu nem olho, e quando eu fala para ela “Silvania, isso pode?” Ela briga comigo e fala “não vai”, então é muito sério isso, do que ela nem.. Às vezes vinha, no começo e nem conversava, morria de medo, hoje ela manda na gente, manda em todo mundo, então isso é uma autonomia que certamente se reflete na casa dela, na vida, ela tem atividades na igreja que ela participa, então esse é assim, uma das meninas que… Mas as outras certamente também tem essa, essa atividade de ação que é o Paulo Freire, entendeu? Você fazer e você saber o que você está fazendo, você se comprometer com o que você faz. Hoje aqui a gente não tem, aliás, não é que nós não temos, nós temos liberdade de trabalho, e temos responsabilidade com as entregas dos clientes, porque nós dependemos totalmente do cliente, a gente depende das vendas, né? E esse cliente tem que gostar do produto e voltar a comprar, então esse comprimento das datas de entrega, a gente até negocia, não tem jeito, às vezes a gente tem que negociar entrega, mas se precisa trabalhar sábado, domingo nós trabalhamos, quando a gente vê que a gente realmente não vai dar conta às meninas vão atrás de outras mulheres para ajudarem, então sempre tem um compromisso, e esse compromisso da ação, de falar “eu estou fazendo, eu estou participando, eu estou produzindo e realizando o que eu me comprometi”, entende? Cumprindo com o que eu me comprometi, esse é um processo de todo mundo.
R - Nessa questão da sustentabilidade, da reciclagem, da reutilização, do meio ambiente,eu vi que vocês tem vários processos de reutilizar, de doar e tal, como é que você sente que você está contribuindo para um futuro melhor nesse sentido?
R - Olha, nesses 12 anos que nós estamos trabalhando, nós já produzimos mais de 100.0000 brindes, mais de 100.0000 produtos, então acho que já estamos chegando, esse ano a gente passa de 30 toneladas de matéria prima que não foi descartada no meio ambiente, e que tudo isso foi transformado, não só o produto transformado como nós nos transformamos, então acho que a gente colabora um pouco, né? E todo esse produto que, uma mochila que você compra, como é o reaproveitamento, ela não foi, não foi gasto energia, não foi produzido poluentes para produzir a matéria prima, porque ela já está pronta, ela já foi feita, então é um produto que realmente agrega, um sempre falo que não é um produto é uma ação, quando você compra isso você também está dizendo “eu participo, eu cuido.”
P - Vamos falar o nome do projeto que a gente não falou para ficar registrado.
R - É então, o Projeto Retornar.
P - E aqui chama?
R - Cooperativa de Produção das Costureiras e Artesãs Uniarte Costura. Esse nome foi criado aqui também, a gente desenvolveu, foi feito, todas as meninas, todas nós, criamos, fomos conversando diversas vezes, diversas etapas aí para criar o uniarte costura, e é um resultado de trabalho de todas nós.
P - E por que Uniarte?
R - Foi um processo, bom, resumindo, de união, e de únicas. Só que nós… O únicas a gente gosta mais de, gostamos de espalhar esse únicas para outras únicas, né? Porque é importante que outras mulheres, outros grupos de mulheres vejam na uniarte a possibilidade de realização também, quando tem o comprometimento, a responsabilidade, a honestidade você consegue desenvolver esse trabalho.
P - E você tinha me contado sobre o projeto com a prefeitura, vamos falar um pouco sobre ele, aquele dos personagens.
R - Ah não, não é projeto com a prefeitura, aquele é um projeto com uma empesa que chama “De criança para criança”, o “De criança para criança” é que tem a parceria com a prefeitura, nós somos parceiros do “De criança para criança”, que é um projeto fantástico de metodologia que eles usam dentro das escolas, que abordam muito a criatividade, o processo lúdico de desenvolvimento de histórias, do desenho, isso tudo se transforma em desenho animado, e nós produzimos os bonecos que as crianças desenham.
P - E você tinha contato também sobre biblioteca, vamos falar sobre ele, como é que vocês estão desenvolvendo isso aqui dentro?
R - Então, a dona Patrícia Penido sempre trabalhou aqui na cooperativa quando era grupo de geração de trabalho e renda, ela sempre incentivou a leitura, e há uns 2 anos ela trouxe mais um pouco de livros, e nós começamos a incentivar as mulheres, e as mulheres incentivam os filhos na leitura. Então, nós estamos ampliando isso, agora com uma estante nova, então, para de fato colocar um pouco mais de leitura, um pouco mais de conhecimento, e também de desenvolvimento, você se permitir sonhar, ver outras possibilidades, né? Não só da leitura para um aprendizado específico, mais de uma leitura para um processo criativo, que a gente usa muito a criatividade no dia a dia, em todos os problemas,em todas as dificuldades, em todos os desafios, né? Ou alegria ou frustração, mas você precisa da criatividade para resolver tudo isso, e às vezes uma leitura que você pensa que não tem nada a ver com a sua vida, com a sua história, mas ela vai agregar de alguma forma, ela agrega conteúdo e inspiração, eu acho que é sempre isso.Eu gostaria muito que todas elas lessem muito.
P - Esse processo na sua vida que você veio, desde a época que você trabalhava na roça, depois foi estudar, um conhecimento agrícola, foi para a área administrativa, fez os bonecos, como você vê esse processo na sua vida, o que mudou em você?
R - Olha todos os dias a noite eu faço uma avaliação, e é sempre muito feliz, e eu gostaria que todas as pessoas sentissem o que eu sinto quando eu termino o dia, que é a missão cumprida, até ali, até hoje eu estou resolvida, e é feliz isso. A gente tem muitos desafios durante o dia e em todo o processo e em toda a vida, muitos desafios, e eu sempre tive muitas pessoas que me ajudaram, e me ajudam, nunca estive sozinho. Tudo isso vai agregando uma energia bem positiva, e você para e fala “como é que eu estou? Estou feliz.” Eu não tenho nada de bens materiais, não tenho nada, então você se sente leve por isso, você se sente livre , porque você pode voar para onde você precisar, onde você for útil, e é sempre muito feliz, eu não tenho, domingo de tarde eu não tenho preocupação com ser segunda-feira porque eu estou bem, entende? Segunda-feira eu acho que eu não teria infarto de manhã na segunda, posso ter outros dias, mas eu acho que não é por causa da frustração, da ansiedade da segunda-feira, que eu acho que muitas pessoas tem, então é você fazer uma coisa que de fato você está feliz. E nisso o que é interessante, você não tem concorrente, você não se preocupa, você só tem a colaborar, você não fica preocupado se alguém vai tomar o seu lugar no mundo, porque você está nele , entende? Você faz o que você gosta, certo ou errado, com erros ou com acertos, mas é o seu jeito, a sua forma de fazer, é isso que eu gostaria que todas as pessoas fizessem.
P - E me diz Judite, quais são as suas predições para o futuro, o que você ainda quer realizar?
R - Eu quero agregar mais pessoas e dar oportunidade para mais pessoas, isso a gente já está trabalhando, para as pessoas, o que a gente faz aqui na cooperativa é um modelo, a gente se colocou no caminho, tivemos muitas dificuldades, muitas pessoas que acreditaram no potencial da cooperativa, que nos ajudaram, então isso é, é fantástico. Essa questão das parcerias, e isso pode ser colocado para muitas outras pessoas, nós já estamos trabalhando na cidade com outros grupos, sonhando em organizar, mas já estamos no processo de organizar outros grupos, para dar oportunidade para outras pessoas se envolverem.
P - E Judite, me conta, qual você sente que é o seu legado?
R - Eu não penso em legado, em coisas grandes, eu me coloco à disposição do que precisa ser feito no dia da tarefa. A noite eu ajudo um grupo de alfabetização de adultos, é um projeto também fantástico, de pessoas que não sabem ler, não sabem escrever, sou eu e mais outros voluntários, a gente vai diariamente, de segunda a quinta-feira. A gente ensina a ler e a escrever, então isso é gratificante, é um trabalho voluntário de todos nós que estamos nesse projeto, então é fantástico também. É uma, é muito feliz.
P - O que você acha que vai ficar quando você for embora?
R - Eu acho que eles vão dar graças a Deus, eles vão falar “ai, graças a Deus ela foi”, não é Cleide? “Nossa, não vai ter ninguém para aporrinhar não, nossa não vai ter estresse, não tem estresse, está tudo calmo, ela não está mais aqui, não tem cobrança, não tem ninguém para brigar comigo.” Porque a gente briga, acabo brigando muito, tenho sangue, diz que o sangue tem muito a ver, né? E o meu é O+, então bateu levou, eu me esforço muito para isso não acontecer, mas não tem jeito, quando vê já foi, não dá tempo, muitas vezes, mas é sempre, às vezes meio estupido, mas é sempre pensando no que a pessoa não, na ação da pessoa, entende? E não ficar parada esperando, outro dia fiquei p da vida porque não tinha papel toalha no banheiro, como é que uma pessoa sai, quer dizer, a pessoa que saiu “poxa, usei o último, esqueci.” Mas e o outro que for usar? Então você… “A deixei pro outro, a sabe? Deixei pro outro.” Enquanto nós estivermos deixando pro outro fazer, estão fazendo, tem muita gente cuidando da nossa vida, então, porque eu não estou fazendo a minha parte. Então, parece babaca “aporrinhando a nossa vida por causa de um papel”, não, não é por causa do papel, papel a gente coloca, mas é a sua ação que você não teve, então é sempre isso a minha indignação, a minha, um pouco de estupidez. E outra coisa, que eu vejo muito nas pessoas, é a capacidade que ela tem, entende? Não é só o ser humano, mas é o que está além do ser humano, do corpo.
P - Como foi contar a sua história para um museu? Você saber agora que essa história que a gente está conversando vai ficar lá para a posteridade, depois que a gente for embora, as próximas gerações vão continuar vendo.
R - As próximas gerações…Espero que muitas pessoas ajam, que tenham esse incentivo, e que se coloquem no caminho, e que as coisas, os parceiros chegam para te ajudar a realizar, que a gente não realiza nada sozinho, de jeito nenhum. Então, você tem uma vontade, essa vontade é uma inspiração, e que você aproveite as oportunidades. E as pessoas chegam, tanto é que eu nunca estive sozinha, sempre alguém chegou, e eu sempre valorizei, e valorizo as pessoas que estão junto, né? Isso também te dá um conforto, de você saber que tem pessoas com você, e que pensam, e que se esforçam para serem melhores todos os dias.
P - Muito bem, obrigado então por ter aceito o nosso convite, e obrigado por ter contado a sua história de vida.
R - Magina, obrigada vocês, tomara que a gente receba clientes.
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