P/1 – Senhor Alvio, primeiramente muito obrigado por aceitar participar do nosso projeto. Pra começar nossa entrevista, eu gostaria que o senhor dissesse pra gente o seu nome completo, o local e a data do nascimento.
R – Alvio Malandrino. Eu nasci na Rua Clélia, 1903. Nasci em casa, na Lapa, aqui em São Paulo. Em 8 de outubro de 1939.
P/1 – Qual que era o nome de seus pais?
R – Alviro Malandrino e Luisa Alvez Malandrino.
P/1 – E o senhor tem irmãos também?
R – Tenho.
P/1 – Quantos irmãos.
R – Tenho uma irmã mais velha e um irmão que trabalha comigo.
P/1 – O seu sobrenome é bem italiano, né?
R – É.
P/1 – O senhor sabe explicar pra gente da trajetória da sua família? Quem foi que veio pro Brasil primeiro e quando é que foi?
R – O meu pai imigrou pro Brasil logo após a I Guerra: 1917, 18. E ele veio sozinho. Ele veio, deixou a família toda. Os meus avós, os meus tios, ficaram na Itália. Ele veio com 17, 18 anos. E trabalhou muito. Voltou várias vezes pra Itália, visitar os pais dele, meus avós. E assim que começou a vida dele aqui no Brasil.
P/1 – O senhor sabe qual que era o objetivo dele quando ele veio pro Brasil? Era já ficar, ou era voltar?
R – Eu acho que era ficar, porque na Itália, na ocasião, logo após a guerra, não havia emprego. A vida era muito difícil. Havia até fome em algumas regiões. Então, a ideia dele e de centenas, milhares de italianos que vieram pro Brasil naquela época, era o que eles falavam: fazer a América, fare la America. Então eles vinham com o objetivo de não voltar. Tentar alguma coisa nova aqui.
P/1 – E de qual região da Itália ele era?
R – Da Campânia. A Campânia é a região um pouquinho pra baixo de Nápoles. Não chega a ser na Calábria. Entre a Calábria e o Lazio. É a Campânia.
P/1 – E o senhor sabe, quando ele chegou no Brasil, em que cidade ele ficou?
R – São Paulo. Ele veio pra São Paulo e ficou em São Paulo. O primeiro emprego dele foi na indústria Matarazzo. Que o Matarazzo já era uma potência naquela época e ele acolhia os italianos que vinham. Eram muitos italianos na idade do meu pai e ele arrumava pelo menos um emprego pra pessoa ir sobrevivendo. Mas era uma vida muito dura, porque eles trabalhavam 10, 12 horas por dia. Não tinham sábado. Só tinham descanso (corte no áudio). E também não tinham como gastar. Tudo que ganhavam eles iam guardando pra poder ter um negócio próprio. E assim que começaram. Muitos italianos aqui. E muitos outros imigrantes de outras raças, também.
P/1 – Então o seu pai trabalhou como operário nas fábricas do Matarazzo? Você sabe qual era a função dele?
R – Eu não sei dizer. Mas ele trabalhou vários anos lá, depois juntou um pequeno capital e começou a ser vendedor em indústrias que tinham, sempre no ramo metalúrgico, ele - antigamente era muito mais difícil - ele pegava o produto, levava pro cliente, mostrava, depois levava. Não havia logística de entrega. Ele tinha que pegar o material, levar, receber: a responsabilidade dele. E assim foi crescendo. Vendia metais principalmente. Metais pra hidráulica: torneiras, registros. Começou assim.
P/1 – E o senhor sabe dizer em que bairro ele se instalou nesse começo de (corte no áudio)?
R – Logo no comecinho que ele veio, foi no Brás. Depois, uns 15 anos depois, ele veio pra Lapa. Aí, se estabeleceu na Lapa. Primeiro, ele foi sócio de uma metalúrgica: Metalúrgica Mariotti (corte no áudio) trabalhou. Eles faziam metais pra residência, pra construção civil. (corte no áudio) Ele era italiano, então na época de 40, 45, os italianos não... mas ele já era casado, já tinha os filhos brasileiros. Mas os italianos eram inimigos do governo brasileiro naquela época. Então, ele, por exemplo, pra ir encontrar um amigo em Santos ele tinha que ir na polícia pedir um salvo-conduto pra ir até Santos, porque Santos era um porto, uma região estratégica. Então, foi uma vida dura pra eles, pros primeiros imigrantes, né? Não foram os primeiros. Os primeiros foram bem antes deles. Mas esses que vieram nessa época aqui. Mas eles tinham muita criatividade. Por exemplo: o chumbo pra caça era importado da Inglaterra. Aquele chumbinho redondinho pra caça. E, com a guerra, a importação praticamente parou. Os navios não circulavam por causa da guerra. Então, ele e o sócio dele, que era o Mariotti, resolveram fabricar chumbo pra caça. Então, eles compravam lingote de chumbo, derretiam, e com uma colher grande eles iam despejando num saco de areia, ou alguma coisa assim, e caíam diversas bolas, de diversos tamanhos. Aquilo ia gotejando, gotejando, tá, tá tá. Depois, eles pegavam um barril de ferro, adaptaram uma manivela, iam girando aquela barrica, praquela bolinha ficar bem redondinha. Depois eles peneiravam - isso é segredo industrial, hein - eles peneiravam, ia caindo chumbo mais fininho, ou mais grosso, até sobrar o... Aí, eles separavam, embalavam o chumbo – 1, 2, 3, tal – e vendiam pras lojas, pro Brasil todo. Porque os únicos que sabiam fazer isso eram eles. O pessoal, ninguém. Na época, era um segredo deles. Eles faziam aquele chumbo pra caça e ganhavam algum dinheiro, né? Porque ninguém sabia fazer. Era a atividade deles.
P/1 – Ele já chegou a comentar com o senhor como era o bairro da Lapa na época quando ele se instalou?
R – Bom, eu nasci na Lapa há 72 anos. A Lapa era praticamente uma cidade dentro de São Paulo. Haviam só duas ruas que ligavam a Lapa ao centro: a Rua Clélia e a Rua Guaicurus. Mesmo assim, não eram calçadas, eram ruas de terra. Então, a Lapa praticamente cresceu autônoma, um pouquinho... bem isolada da capital. E era a entrada de quem vinha do interior. Todo mundo que vinha do interior, antigamente, vinha pela Anhanguera, quando ela vinha: Estrada Velha de Campinas, antes da Anhanguera, que passava por Pirituba, (corte no áudio) Franco da Rocha. Ainda existe. Hoje é a Raimundo Pereira Guimarães, Estrada Velha de Campinas. Então, o pessoal vinha e saía na Lapa. Eles saíam do outro lado do Rio Tietê. Não existia as pontes. As pontes eram de madeira bem rudimentares. Isso eu cheguei a conhecer. Então, a Lapa recebia o pessoal que vinha. Era passagem obrigatória pra quem vinha do interior, de todo o interior de São Paulo, passavam por ali. E isso também serviu pra desenvolver o bairro, o comércio.
P/1 – O senhor se lembra de haver muitas indústrias na região?
R – Algumas indústrias. O Matarazzo tinha uma indústria grande de louça. Hoje são prédios, lá, na Rua Capitão com a Coriolano. Era uma indústria grande. O meu pai abriu uma indústria de calhas na Lapa. Antes de ter comércio, ele teve uma fábrica de calhas, que existe até hoje. E a Metalúrgica Mariotti, da qual ele foi sócio. Depois eles separaram, mas amigavelmente. Cada um tomou um rumo. Ele partiu pro comércio e o outro continuou. Mas existiam, sim. Na Lapa de Baixo: a Martins Ferreira, a Bordados Lapa. Existiam indústrias grandes. Em função, também, da estrada de ferro. A estrada de ferro Santos-Jundiaí, que ligava o porto de Santos à Jundiaí. E, de Jundiaí, mais pro interior, era outra. Era Companhia Paulista, se não me engano. Então, em função da estrada de ferro, a primeira estação mais importante que entrava em São Paulo era a Lapa. Depois tinha a Barra Funda, até chegar na (corte no áudio) então, a Lapa, também, virou um pólo industrial. Em função da estrada de ferro. A estrada de ferro precisava de material pra manutenção, rodas, metalurgia. Então, isso foi no bairro da Lapa, que isso aconteceu.
P/1 – E nessa sua infância, lá no bairro da Lapa, você lembra dessa grande comunidade italiana que tinha no bairro, que é tão influente até hoje?
R – Lembro, lembro, lembro. Eu acho que 80% dos lapianos eram descendentes de italianos. Muitos. Todos os comerciantes da Rua XII. E judeus. E a gente se dava muito bem, se dá até hoje, tem muitos amigos. Então, vários judeus se estabeleceram na Lapa. Uma grande parte da comunidade dos judeus, também, morou na Lapa. E também teve comércio na Lapa. Mas sempre vivendo em harmonia com a gente, com os italianos. Eram as duas grandes colônias que tinham na Lapa.
P/1 – O senhor se lembra de algum reflexo dessa colônia italiana? Por exemplo: (corte no áudio) religiosa, um jeito de ser lapiano que seja meio típico italiano, o senhor consegue ver alguma coisa assim?
R – Naquela época... tinha a igreja, tinha as festividades normais da igreja, mas eu não lembro, não. De festa, assim. Não lembro. Especificamente de italiano, pode até ter, mas a memória já não ajuda.
P/1 – E na sua casa, você falava italiano, como é que era?
R – O meu pai falava português mas falava italiano. Era costume dos imigrantes - não existia televisão, não existia muito lazer – então, eles se visitavam durante a semana. Um ia na casa do outro, tomavam um cafezinho. Era bem frugal. Era um café e uma bolachinha. E eles, entre eles, conversavam italiano. E eu, meu irmão, éramos pequenos, a gente ia junto. E eu ouvia aquele pessoal falando. Mas, conosco, ele falava em português.
P/1 – E a sua casa, você tem como descrever a sua casa pra gente nessa sua infância?
R – Tenho.
P/1 – Como que era?
R – Em 1938, o meu pai construiu a loja - onde ainda estamos até hoje - e em cima era nossa casa, em cima da loja. Então, tinha uma escada lateral, a gente... Eu nasci em 39. Ele, um ano antes de eu nascer, ele construiu esse prédio aí. Lá na Rua Clélia.
P/1 – Sempre na Rua Clélia?
R – Isso. E eu nasci em casa, não sei o porquê. Naquela época não tinha grandes hospitais na Lapa. Então, acho que, eu nasci...
P/1 – E esse ambiente da Rua Clélia, na época, já era um ambiente bem urbanizado, ou ainda tinha terrenos baldios? Como é que era?
R – Não, era muito pouco urbanizado. Muito pouco. Ali, algumas casinhas. Da Lapa, na cidade, haviam muitos terrenos vazios. Atrás de onde nós estamos, na Rua Clélia, existiam chácaras. O pessoal plantava verdura e a gente tinha tudo lá. Existia, um pouquinho mais longe, tinha criação de bois, de vacas. A gente pegava leite fresco lá, todo dia. Era bem um ambiente quase que rural. Era bem simples o ambiente.
P/1 – E as compras pra casa, era de alimentos, produtos pra casa eram feitas (corte no áudio)?
R – (corte no áudio) unidade, né? Ali não era muita coisa, mas era ali. Pelo menos verdura fresca, leite fresco, isso nós tínhamos. Isso eu lembro, ainda, quando era criança. Isso a gente tinha muito, lá.
P/1 – E as brincadeiras de criança, como é que eram?
R – Era só brincadeira na rua, não tinha (corte no áudio) futebol, era bolinha de gude (risos), nada de especial.
P/1 – E os amigos eram os meninos da vizinhança?
R – Também, eram vizinhos. A gente vivia bem isolado ali na Lapa. Então, todo mundo se conhecia. Aconteceram muitos casamentos entre as famílias que moravam lá. Era muito comum. Todo mundo era meio parente de alguém, porque cresciam juntos, iam casando. Então, as famílias iam se juntando, lá, né? Na Lapa.
P/1 – E o caminho pra sua escola? Quando é que o senhor começou a estudar? Como é que era o caminho pra escola?
R – Eu comecei com seis anos, eu entrei no Grupo Escolar Anhanguera. Mas era pertinho de casa, eu ia a pé. Eram dois quarteirões da minha casa. Naquela época, é interessante, a gente com sete, oito anos, andava sozinho na rua. Não precisava a mãe levar, não precisava o pai levar. Não tinha nenhum perigo. Era bem tranquilo, ia pra escola, voltava.. Na mesma rua que eu morava. Então, desde os sete, oito anos, eu andei sozinho. Eu, não. Todos, sozinho. Porque o pai trabalhava, a mãe trabalhava. Então... o meu pai abriu a loja com a minha mãe, então os dois trabalhavam na loja. Só os dois. Não tinha nem empregados. Então, a gente não podia ficar levando a gente, buscando. Foi isto.
P/1 – E o senhor falou que a sua família comprava ali as verduras, ali pertinho, e o leite, também. Tinha algum outro ponto comercial próximo que fosse importante lá na Lapa?
R – O mercado, mas o mercado veio na década de 50, o Mercado da Lapa. É, mais ou menos (corte no áudio) 50, eu acho. A história do mercado é interessante, porque o último grande vereador da Lapa foi Ermano Marchetti, que até hoje tem uma avenida, lá. Vocês devem conhecer, Avenida Ermano Marchetti. E o Ermano Marchetti morava na Lapa, era amigo dos lapianos. Era gente da gente. E (corte no áudio) existe hoje. A gente não tem nem vereador, lá, que atenda a gente, que more na Lapa. E o Ermano Marchetti todo mundo tinha acesso. Sabia onde ele morava, tocava a campainha, ele atendia, e tal. E onde hoje é o mercado, começou a se formar uma favela, onde é o mercado. E o Ermano Marchetti era vereador. Ele procurou, lá, o pessoal da favela, e tal, e: “Legal, aqui é um terreno da prefeitura.” Ele propôs doar pras famílias um lote no outro lado do rio, que seria hoje onde é o Piqueri, que é um bairro... Bom, e as famílias aceitaram, e a prefeitura fez um acordo. Não foi nem uma expulsão. Foi uma remoção. Tiraram as famílias e deram um terreno. Eu acho que ajudaram, até, na construção. E saíram, e aí, pra não haver uma nova invasão, ele entrou com um projeto de construir o Mercado da Lapa. Que está aí até hoje, aquele mercado. E aí, virou um grande pólo, também. Por quê? O pessoal que morava ao longo da linha da estrada de ferro – Perus, Caieiras, Franco da Rocha, Pirituba - todo aquele pessoal descia na Lapa. Vinham de trem, desciam na Lapa e compravam no mercado. O mercado virou um grande pólo de alimentos. Naquela época, 1950. E ainda é, até hoje. O mercado da Lapa é importante.
P/1 – Na escola... O senhor já tinha pais que eram comerciantes desde a sua infância. Mas quando o senhor estava na escola, quando o senhor estava se formando, o que o senhor pensava fazer no seu futuro? Existia uma pressão pro senhor assumir a loja?
R – Não, não. Nenhuma, nenhuma, pelo contrário. O meu pai sempre ajudou. Eu fiz faculdade. Eu fiz Economia. Naquela época, o que seria hoje Administração, 50 anos atrás, 1960: Economia. Não existia Administração de Empresas (corte no áudio) Fiz, mas não visando ficar na loja. Mas aí, comecei a me envolver com a loja, e eu e meu irmão, nós continuamos. Uma coisa que já estava andando é mais fácil do que começar uma coisa nova aqui em São Paulo. Então, continuamos com a loja, ué.
P/1 – E a loja dos seus pais era no mesmo imóvel onde vocês moravam?
R – Não, não moram mais lá. Mas ainda é o mesmo imóvel.
P/1 – Que seu pai construiu?
R – Isso.
P/1 – E como é que era essa foto, na sua infância? Descrever fisicamente essa loja, como é que ela era? A vitrine, a exposição dos produtos.
R – Não, não tinha vitrine. Tinha a entrada, devia ter uns 20 metros de... uma porta de uns 4 metros de largura, porta de ferro, uns 20 metros. Tinham prateleiras, balcão, uma mesa onde ele ficava. Ele recebia no caixa, fazia nota, fazia tudo (risos) numa mesinha pequena. Que eu lembre, assim, disso aí, né? Com o tempo a gente foi mudando, e tal. Mas, era isso quando a gente começou.
P/1 – Você mencionou que só sua mãe e seu pai trabalhavam na loja.
R – Isso.
P/1 – Então, como é que era pra eles assumir todas essas funções? Eles eram compradores, vendedores...
R – Eles eram todos. Meu pai saía durante o dia, visitar lugares pra comprar e a minha mãe ficava na loja. (corte no áudio) Isso muito antigamente, logo no começo, as entregas eram feitas de carroça. Porque na época da guerra faltava combustível. Então, haviam muitos carroceiros lá na Lapa que tinham ponto. Como hoje tem ponto de táxi, tem o ponto de carroça. Então, uma entrega maior, mais pesada, iam de carroça, naquela época.
P/1 – E o custo do carroceiro era do seu pai ou era do comprador?
R – Eu acho que era do comprador. Eu não sei dizer.
P/1 – Era como se fosse um frete, então?
R – É, como se fosse um frete (corte no áudio) carroceiro.
P/1 – E quais produtos os teus pais comercializavam?
R – Então, inicialmente eles começaram com fabricação de calhas. Aí, logo um ano depois começaram com umas máquinas de dobrar calha. Aí, já arrumaram dois funcionários, e começou vendendo calha e um pouquinho (corte no áudio), que ele sempre foi do ramo. Mas, assim, torneira, registro, e tal. Depois começou a trabalhar com canos de ferro, canos pra hidráulica. Não, naquela época era só de ferro. Quando surgiu o plástico, a primeira loja na Lapa que começou a vender plástico fomos nós. Porque o próprio pessoal tinha medo, nunca tinha visto aquilo, só cano de ferro: “Pegar um material fraquinho, lá, vou botar.” Então, a gente foi pioneiro na região. Não na Lapa, na região. A gente fala Lapa, mas a gente atendia a Freguesia, Parque São Domingos. Eram bairros que estavam nascendo, então, a única referência pra comprar esse tipo de material era nossa loja. Não existiam... Existem nas cidades, lá pra Riachuelo, na Florêncio de Abreu, existiam grandes lojas, mas, na nossa região, éramos nós. Então, a gente participou até do desenvolvimento lá do bairro, vendendo material, lá. (corte no áudio)
P/1 – E o senhor sabe onde os seus pais iam comprar esse material? Quais eram os fornecedores deles?
R – Olha, tinham materiais que eram produzidos no Rio de Janeiro. Tinham materiais aqui de São Paulo, nas metalúrgicas. Na região, mesmo, tinha metalúrgica. Mas era, assim, não tinha um (corte no áudio). Era muito difícil, não existia Internet. (corte no áudio) o telefone. O telefone que às vezes funcionava, às vezes não funcionava. Então, era bem complicado fazer negócio, lá, naquela época. Bancos, aqui na Lapa, existiam muito pouco. Acho que Banco do Brasil, um dos primeiros. Então, os bancos todos eram no centro. Então, eu lembro de uma época da minha vida, quando eu comecei a ajudar na loja, eu ia quase todo dia na cidade pagar duplicata, porque não existia o sistema de compensação. Então, era no Banco de Boston, tinha que pagar no Banco de Boston. Citibank tinha que pagar no Citibank. Então, a gente ía. Era em dinheiro. Era um negócio meio complicado, viu? Às vezes tinha que levar dinheiro. Mas não tinha perigo. Gozado. A gente saía com uma malinha com dinheiro, lá, tal. Levava, pegava o ônibus, ia pro centro. Ia nos bancos, ia pagando as duplicatas. Hoje, não. Hoje, se tem uma compensação, é muito rápido, muito prático.
P/1 – E o senhor se lembra de algum concorrente na região, naquela época? Ou (corte no áudio) não existia, ainda, até então?
R – Existia, existia. É interessante porque a concorrência eram amigos que a gente se ajudava. A gente tinha na Rua Turiassú, o Leme, que fabricava calhas, também, Casa Leme, que eu lembro. Já fechou, há muitos anos. Mas não era essa concorrência que tem hoje. Hoje o negócio é... um (corte no áudio) a concorrência é até desleal, sabe? A coisa (corte no áudio).
P/1 – E como é que era essa questão: o senhor tinha que ir muito pro centro da cidade, pra ir no banco.
R – Sim.
P/1 – Como que era essa ligação pro centro, era fácil, na época, ou tinha muito poucas linhas?
R – Não, tinha duas linhas de ônibus e tinha um bonde. Tinha um bonde, naquela época, logo no começo da loja. E o mais prático era o ônibus. O ônibus passava na Rua Clélia, tinha um ponto muito perto da loja, e parava na Praça Ramos de Azevedo. Então, de lá, a gente ia a pé . Não era difícil, não. Não eram lotados, não. Interessante. A gente andava tranquilo nos ônibus. A população era bem menor.
P/1 – E o ponto de bonde, onde é que era?
R – O ponto de bonde era na Guaicurus. Ele ia até a Cincinato (corte no áudio) no lado do mercado. E isso, também, trazia muita gente das Perdizes, Santa Cecília, pro mercado. O bonde. O bonde existia, na Rua Guaicurus e a Rua Guaicurus o bonde corria no meio da rua. Então, era interessante. Eram duas pistas e era uma bem larga, ainda é, mas era bem interessante.
P/1 – A Lapa, ela se configurava, então, como uma referência comercial pra toda aquela região da zona oeste?
R – Com certeza. Essa região que eu falei: Piqueri, Freguesia, Itaberaba eu acho que nem existia. Tinha a Avenida Itaberaba e ali acabava o mundo. Era mata atlântica ainda, Serra da Cantareira. Depois o pessoal foi invadindo e crescendo. E a referência era ali, porque era fácil. De lá era mais fácil ir pra Lapa do que ir pro Centro. Então, Jaguaré, Vila Remédios... Vila Remédios era isolada. Pra ir lá tinha uma balsa, por incrível que pareça, tinha uma balsa que atravessava o Tietê pra ir e pra voltar.
P/1 – Em direção ao oeste da cidade tinha algum outro bairro que fosse referência assim também, ou a Lapa que...?
R – Tinha Pinheiros. Mas pra chegar em Pinheiros existia a Estrada das Boiadas, que hoje é a Diógenes Ribeiro de Lima. Mas era uma estradinha ruim. Quer dizer, não era (corte no áudio). Pinheiros também já era um bairro importante, aqui. Já tinha um mercado, já tinha uma população grande aqui. Mas os bairros viviam isolados. Não havia... Hoje tá tudo integrado, né?
P/1 – E como é que é? Hoje a Lapa ainda continua sendo uma referência comercial da região, ou está muito pulverizado hoje? Como é que o senhor vê isso?
R – Eu acho que perdeu muito. Eu que conheci a Rua Doze de Outubro, por exemplo, há 30 anos atrás, toda ela era... havia até um tipo de campeonato: a vitrine mais bonita. Então, os comerciantes caprichavam. Cada um procurava fazer a vitrine mais bonita pra ganhar um prêmio, e tal. E a Lapa, sempre, naquela época, (corte no áudio) entre os bairros sempre ganhava de Pinheiros. Hoje Pinheiros explodiu, com o metrô, o largo de Pinheiros, tá uma maravilha. E a Lapa ficou estagnada. Eu acho que isso foi em consequência de falta de força política. Você não tem um vereador do bairro, que se interesse, e tal. Então, pois é. A associação comercial, também, não é de brigar muito. Então, fica meio estagnada, a coisa, lá.
P/1 – E lá no bairro, quais são as ruas, ou os pontos, tirando a estação nova do Mercado da Lapa, quais são as ruas que concentram o comércio da região, do bairro, ali?
R – A principal é a Doze de Outubro. Clemente Álvares, Rua Dronsfield, Cincinato Pomponet. E Rua Antonio Raposo, Albion. A Clélia tá um pouquinho fora desse circuito. Onde nós temos a loja. Mas não é longe. Mas tá fora de circuito de comércio de rua. Até quando... Hoje mudou muito. Os comerciantes da Rua Doze mudaram. As pessoas, os donos das lojas. Mas, antigamente, eram todos, todos, sem exceção, todos amigos. Então, o grande medo deles, quando começaram a surgir os shoppings – acho que o primeiro foi o Iguatemi – o medo de quem tinha comércio de rua: “Ah, isso aqui vai desaparecer, porque o pessoal só vai dar preferência pro shopping, porque isso, porque aquilo, porque aquilo”. E a gente viu que a verdade não é essa. Realmente, o comércio de rua é muito importante. E hoje, aqui, por exemplo, em São Paulo: a 25 de Março, o Brás, aquelas ruas, a gente vê que... Mas, naquela época, os comerciantes ficaram ouriçados: “Ih, será que o pessoal não...?” Começou a surgir muito carro, então era fácil ir no shopping, parava com o carro. Mas isso é mais recente. História deve ter 30 anos pra cá, 20 anos de shoppings.
P/1 – Qual que é o perfil desse comércio no bairro hoje? É um perfil mais popular? E bem diversificado?
R – É, virou bem popular. Bem popular. Nós tínhamos lojas de modas. Eu lembro, uma Terana Modas, na Rua Doze de Outubro. O pessoal vinha lá, comprava vestido pra festa. Teve que mudar de lá. Porque virou popular. Quer dizer, comércio de quem anda na rua. O pessoal de carro não consegue parar. Então, virou... É uma pena, mas a Doze de Outubro hoje é um comércio bem popular.
P/1 – E o trânsito, eles se configuram como um local... são ruas amplas, ou são ruas apertadas?
R – Não, é muito difícil o trânsito da Lapa. Quem não conhece, tem muita dificuldade. Mão, contra-mão, tal. É um sistema viário ultrapassado. Teria que fazer, eu acho que, um novo planejamento de acesso. Quem não conhece a Lapa, não consegue nem entrar no centro da Lapa. Pega a Rua Guaicurus, vai parar lá no viaduto da Lapa, vai parar do outro lado do rio. O outro acesso é a Rua Tito. Ele vai, ele vai parar no outro lado da Lapa. Então, é complicado. As ruas que chegam na Lapa não chegam na Lapa. Tem que saber. Você conhece lá, não?
P/1 – Mais ou menos.
R – Mais ou menos. É, porque você chegar em alguma rua, lá, (risos) só com GPS, e olhe lá.
P/1 – (risos) E era como, a presença, assim, dessas lojas de departamento bem grandes, que tinham na cidade toda, como Mappin?
R – Tinham.
P/1 – E era como hoje?
R – Nós tínhamos as Mesbla. Lojas Garbo, que vendia roupa, pra homem principalmente. A Mesbla chegou a ter loja na Lapa. Americanas tem até hoje. Mas essas lojas, muitas foram saindo. Foram deixando o espaço pra... haviam muitas sapatarias boas. Boas sapatarias. Hoje, também, não tem... Tem, algumas. Mas, mais popularzão.
P/1 – E o comércio lá na Rua Clélia foi seguindo esse fluxo de se popularizar? Ou a Rua Clélia sempre ficou a parte?
R – É, não, a Clélia virou mais serviços. Tem muito auto-escola, despachante, venda de automóveis. Tem muitas lojas de venda de automóveis. E a nossa loja é material hidráulico. Até, um produto específico. E eu tenho estacionamento. Se não tivesse estacionamento do lado, não dava pra sobreviver. Porque ali é um corredor de ônibus. Ninguém pode parar. Nem pra carregar, descarregar. Então, a gente sobrevivia porque tem estacionamento e tal, e é um produto que a pessoa vai lá quando tá reformando a casa, vai construir. Então, é uma coisa assim, na Rua Clélia. Mas realmente, comércio na Rua Clélia ficou difícil. Por causa de (corte no áudio) aqui. Como virou um corredor a Rangel Pestana, a Santo Amaro. Eram ruas. A Santo Amaro era uma rua de lojas finas, tal. Aí, virou um corredor, ninguém consegue parar. Então, os aluguéis foram caindo. Na Celso Garcia tem centenas de imóveis vazios, lá. De galpões que não servem pra nada. Desalugados. A Lapa ainda não chegou nesse ponto, a Rua Clélia. Mas esses corredores, tudo bem, facilitam a locomoção coletiva. Mas, prejudica o comerciante.
P/1 – Essa percepção do prejuízo que o corredor de ônibus, quando mexe nas ruas, é uma opção que você tem na cidade toda, não só...
R – Sim, estou dando exemplo. A Avenida Celso Garcia começou antes da Lapa. A Avenida Celso Garcia era uma rua extremamente comercial. Eu lembro disso. Era uma rua... lojas importantes. O dia que botaram o corredor de ônibus lá, e ninguém mais pode parar, e as lojas não se adaptaram, não tinha estacionamento, tiveram que fechar. Tiveram que fechar. Hoje a Celso Garcia tem enormes galpões lá fechados, invadidos. Tá um lixo, aquilo. Nem (risos) os proprietários não conseguem vender, não conseguem fazer nada. Não alugam. É isto.
P/1 – Bom, falando um pouquinho agora da sua entrada na loja dos seus pais. Quando foi que o senhor começou a trabalhar de fato lá na loja do seu pai?
R – Olha, foi meio, assim, improvisado. Alguma vez o meu pai tinha que sair: “Fica aí, ajuda.” Eu era moleque. Tinha 12, 13 anos, eu acho. Ia lá, ficava um pouquinho, ajudava. Ajudava minha mãe, que cuidava da loja. E comecei a pegar gosto pela coisa, porque a gente vai... Mas nunca parei de estudar. Quer dizer, eu trabalhava meio dia lá. Meio dia estudava. Então, foi assim, meio... não foi uma coisa pensada: “Eu vou ficar.” Não, vai acontecendo. Depois, o meu pai faleceu, aí, a gente assumiu, né? Não tinha outra opção. Era um empresa familiar. Ou continua, ou fecha. Não tinha pra quem deixar aquilo. Aí, estamos eu e o meu irmão, que é um pouco mais novo do que eu. Estamos lá na loja.
(corte no áudio)
P/1 – Então, o senhor começou a trabalhar mais ou menos na loja com 12, 13 anos.
R – 12, 13 anos, é.
P/1 – E quais eram suas principais...?
R – Porque eu morava em cima. Era só descer uma escada, e eu estava na loja. E aí, ajudava a vender, no balcão. Ficava atendendo, aprendendo a conhecer as peças. E, isso também trouxe muitas amizades, porque os clientes eram amigos. Eram encanadores, eram pequenos empreiteiros que precisavam de material. E a gente dava crédito. Eles, normalmente, naquela época, ninguém tinha muito dinheiro. Então, o empreiteiro fazia um serviço, ele ia lá: “Olha, eu vou levar a mercadoria, faço, e depois eu venho pagar.” E vinha, e vinha. Isso era normal. Fazia o serviço, recebia. Não existia Serasa, não existia nada. O crédito era mais (corte no áudio) intuição, assim. A gente via o jeito da pessoa. Isso funciona, e tá nessa. Eu aprendi muito com isso. Aprendi a conhecer bem... Assim, a gente, de vez em quando chega alguém lá tentando dar um golpe, assim, a gente.... Parece que é meio intuitivo: “Olha, isso aí, não é...” (risos)
P/1 – E pro senhor, quando parou de ser “tapou um buraco ali” pro seu pai. Quando é que começou a ficar uma coisa séria pra você?
R – Eu acho que com uns 18, 20 anos, assim. Eu tinha uns 20 anos, mais ou menos. Isso já faz 50 anos. Aí, eu comecei a trabalhar sério, assim. Todo dia, com compromisso. Precisava de um dinheirinho, também, pra um cinema, pra algum lazer, né? Não tinha muita coisa de se fazer. Mas a gente precisava de um dinheiro. Então, eu comecei a trabalhar. Era quase que um ordenado. Comecei assim. Tinha 16, 17 anos, acho.
P/1 – O senhor se lembra quanto que era o valor desse ordenado na época?
R – Eu não me lembro, mas era pouco. (risos) Não sei. Em dinheiro de hoje, talvez quinhentos, seiscentos reais. Mas eu morava com os meus pais. Então, eu tinha casa, comida, onde dormir, não pagava aluguel, não pagava nada. O dinheiro era pro meu gasto e não tinha muito que gastar naquela época. Não tinha. Era um cinema no fim de semana. E, às vezes, uma viagem à Santos, que também não era nenhum absurdo de caro. Então, a gente não precisava de muito dinheiro. A gente precisa hoje por causa do progresso.
P/1 – O senhor se lembra o que o senhor fez com o seu primeiro salário? Com o que o senhor gastou?
R – (risos) Eu não lembro mais. Isso eu já não lembro. Não sei, devo ter ido no cinema, gasto no cinema.
P/1 – E, nesse começo de trabalhar seriamente na loja, o senhor começou a assumir as funções dos seus pais ou o senhor passou a exercer algum outro tipo de função e foi evoluindo?
R – Não, enquanto meu pai foi vivo, ele realmente dirigia a coisa. E a gente, família italiana, é o pai (corte no áudio) a última palavra era dele. A gente trabalhava junto, mas sempre a última palavra era a dele. E, assumimos, mesmo, quando ele faleceu. Ai, a gente teve que... Mas já estava bem treinado, já estava... (corte no áudio) Mas sempre, sempre foi...
P/1 – Em que época foi isso?
R – Fazem quase 40 anos que ele faleceu. Aí, nós assumimos a loja. Eu e meu irmão.
P/1 – E quando o senhor diz “assume a loja”, isso implica em quê? Em contato com os vendedores?
R – Não, em administrar, né? Administrar o fluxo de caixa, administrar compras, administrar vendas. Administrar a loja.
P/1 – Reposição de estoque.
R – Na verdade, a gente trabalhava e ele fazia tudo, a gente não queria também tirar esse gosto dele. Ele gostava do que fazia. Então, comprava e depois ia todo mundo, todos os vendedores, chegavam e iam falar com ele. Nem olhavam pra minha cara, os vendedores. Quando o comércio começou a mudar um pouquinho, vinham os vendedores, até hoje vem vendedores dos fornecedores, e procuravam ele. E a gente ficava meio ali, tal... trabalhava mais na parte de vendas. Eu ficava atendendo clientes. Isso ele foi largando pra nós. Clientes, deixou.
P/1 – E essa observação do trabalho do seu pai que foi o seu aprendizado, foi o seu treinamento pra assumir a loja no futuro?
R – Foi, foi, foi.
P/1 – O que o senhor achou mais importante ter observado nessa época pra poder conduzir a loja depois?
R – Olha, o meu pai era extremamente ético e honesto. Isso ele passou pra nós. Vocês tem que trabalhar com honestidade e com ética. A coisa vem sozinha depois. Isso, realmente, acho que até era característica de todo mundo, todos os comerciantes que eu conheci na época, eram assim, sabe? Ninguém dava um passo maior que a perna, como se diz. Eram pessoas bem equilibradas. Ninguém fazia loucuras. Então, ele transmitiu isso pra nós. E com isso, a loja, é o que eu falei no começo. Hoje, já não existe mais. No comércio, a gente vê muita falta de ética. O sujeito, hoje, é muito comum: alguém abre um comércio, ele fica dois anos, faz um estrago lá no mercado porque ele arrebenta tudo, dali dois anos ele some. Não pagou imposto nenhum. Não pagou Fundo de Garantia de funcionário. Some! Ele evapora. E ninguém vai atrás dele. Mas são milhares de casos que eu vi isso. Você diz: “Pô, mas o fulano tinha uma loja, ali, não sei o que. E aí?” “Não sei. Ninguém sabe.”A loja não estava em nome dele, estava em nome de laranja. É muito comum, essa (corte no áudio) dizer até de profissionalismo. O pessoal quer ganhar o dinheiro imediato. Ganhou, pegou, sumiu. Aí, vai lá no outro lado da cidade, na Penha, monta uma outra loja, lá, faz a mesma coisa. Vai depois pra Itaquera. Sabe? Existe isso, existe. E o governo, também, fecha os olhos, deixa lá. Fiscalização não... Porque uma loja como a nossa, que tem 70 anos, a Secretaria da Fazenda, a Receita Federal, todo mundo sabe que ela existe. Então, a gente tem que andar direitinho, e tal. E hoje é tudo informatizado. As informações pro fisco são todas informatizadas. Eu tiro uma nota aqui, já cai. É nota eletrônica, já entra lá no sistema da Secretaria da Fazenda. Tirou uma nota na loja, já na mesma tarde eles sabem o que eu vendi. Não tem, não tem... mas tem gente que não tá nem aí: sonega, faz. E isso é ruim pro comércio. A não ser quem faça, né? Pra quem faz é bom (risos), mas pra quem não age assim, é ruim.
P/1 – O senhor mencionou, um tempo atrás, da passagem dos canos de metal pros canos de PVC.
R – Isso.
P/1 – Que é uma evolução tecnológica no seu ramo.
R – Foi, foi.
P/1 – Teve algumas outras? É um ramo que tem muita inovação? Como é que é?
R – Não. Basicamente é o cano galvanizado, o ferro galvanizado, o cobre, que também já é antigo, (corte no áudio) e foi introduzido aqui pelos ingleses. Era Yorkshire, era um fabricante da Inglaterra. Era produzido lá, e exportado aqui pro... O Brasil importava esses canos de cobre, conexões. Isso sei que a gente acompanhou. O Pignatari montou uma indústria aqui, tipo de uma joint venture com a Yorkshire. Com o nome Yorkshire ele montou uma indústria de cobre. Fazia várias. Fazia chapa de cobre, tubo de cobre. Ele foi um pioneiro, sob a supervisão... Hoje, essa indústria foi absorvida pela Paranapanema, que é um (corte no áudio) A Eluma é uma divisão da Paranapanema que fabrica a parte hidráulica, vamos dizer. Pignatari. E, o grande inovador no plástico é a Tigre. Existe até hoje. E na Lapa, nós somos o primeiro cliente da Tigre. Muita gente demorou anos. Encanadores que só sabiam trabalhar com cano de ferro, eles não acreditavam no plástico: “Não, isso aqui eu vou colocar numa casa, daqui dois anos vai vazar.” E muitos relutaram, aqueles mais antigos. E a gente insistindo. A gente foi, durante muito tempo, um formador de opinião. Cada produto novo que surgia na hidráulica, e a gente via e aceitava, a gente conseguia introduzir. Coisa simples. Antigamente, se usava chumbo na ligação de esgoto de, por exemplo, uma pia. Ia um tubo de chumbo pro chão. Hoje, não. Hoje é tudo plástico. Mas foi difícil mudar a cabeça do pessoal, sabe? Pessoal que estava acostumado.
P/1 – E o senhor sabe dizer em que década que foi essa mudança de ferro pro plástico?
R – Eu acho que de 60 pra 70, mais ou menos. Uns 40 anos atrás. Começou essa grande mudança tecnológica, vamos dizer. Hoje, o plástico domina. O cobre. Hoje já tem plástico, no meu ramo, por exemplo, plástico pra água quente. O cobre era usado pra água quente. Hoje já tem plástico. PVC, o pessoal usa. É muito mais fácil de trabalhar. Então, a gente vai acompanhando. Vai surgindo produto novo, a gente vai introduzindo na loja, e vai vendendo.
P/1 – E essa evolução das mercadorias implicou numa alteração também da loja? Por exemplo: teve que adaptar a loja pra apresentar material?
R – Pra estoque, nós fomos crescendo. Aí teve o galpão do lado, onde nós começamos, o meu pai começou, era uma lojinha pequena. Hoje, já tem de um lado, tem do outro lado, praticamente triplicou o tamanho. Um lado a gente usa como estacionamento, praticamente, só pra estacionamento. Se não, não tem como trabalhar, né? Mas triplicou o tamanho da loja. Fisicamente, né?
P/1 – E a Álviro Malandrino, por ser uma loja bem antiga, passou por diversos planos econômicos...
R – Todos. (risos)
P/1 – Crises econômicas.
R – Todas. (risos)
P/1 – O senhor tem como dizer quais foram os períodos de maior dificuldade da loja?
R – Começou acho que com o plano Collor. Ou, antes, eu não sei se teve. Teve um plano, aí, que é uma desvalorização pro dólar, aí, de coisa de 80%, qualquer coisa assim. Então, de um dia pra noite, a mercadoria triplicou de preço. Coisa, assim, espantosa. A gente não sabia nem como... E passamos por inflação de 20, 30% ao mês. Eu não sei como. Não dava pra você quantificar nada. Pra vender, era melhor não vender. Era melhor deixar a mercadoria lá. (risos) Na prateleira ela aumentava mais do que vender. Mas passamos. Passamos assim: conseguimos sobreviver. Mas foi uma época difícil. Todos os planos. O plano do Sarney, também, o cruzado. Foi terrível. Tabelamento. Negócio e coisa. Era um... Não tinha... No plano Collor, não tinha dinheiro pra pagar funcionário, porque o dinheiro ficou bloqueado no banco, ninguém tinha dinheiro, todo mundo ficou com, acho que, 50 cruzados ou cruzeiros na mão. E daí? Ninguém comprava, ninguém vendia. Você não era dessa época, não?
P/1 – Era criança. (risos)
(corte no áudio)
R – ... meia dúzia, comia um pedaço cada um, porque não dava.
P/1 – O senhor chegou a temer pelo...?
R – Às vezes comia a metade. (risos)
P/1 – O senhor chegou a temer pelo fechamento da loja? O senhor acompanhou na loja que muitas lojas fecharam?
R – Não, a gente tinha uma situação confortável. Assim, não tinha... Se tivesse que fechar, o imóvel estava lá, parava, sei lá. Não tinha grande... mas, realmente, a gente sabia que tinha que ter uma saída. Não podia ficar daquele jeito. Dali a pouco foi afrouxando, afrouxando. Mas, nós passamos todos os planos: Plano Verão, plano não sei o que, Bresser, plano... E é difícil. Mas conseguimos, estamos aí.
P/1 – Falando da loja atualmente, como é que ela é hoje? O senhor falou que ampliou pra um lado, pro outro lado também, né?
R – É, hoje, com a Internet, vamos dizer, existe até pouco contato com o comprador. Então, a coisa, pra nós, funciona assim: eu recebo dezenas de pedidos de orçamento pela Internet. Eu respondo pela Internet. O sujeito analisa, manda o pedido pela Internet. (risos) Eu só tenho o trabalho de separar a mercadoria, entregar, e mandar o boleto pro banco. Lógico, cadastro, tal. Aquele serviço de todo dia. Mas não existe mais aquele... Isso é até bom, porque se tivesse que vir o cliente na loja... Então, até facilitou, pro meu tipo de comércio. Não é um comércio de modas, que a mulher tem que ir lá, ver o sapato, o vestido, olhar. Não. É padrão. Cotovelo é cotovelo, há 50 anos atrás, até hoje. O sujeito manda a relação. E hoje tá assim, funciona assim. Eu tenho o balcão, que é muito importante, a venda de balcão, mas hoje já não é mais a prioridade. Tem que ter, não posso também dizer: “Não, só atendo por Internet.” Não é assim, também. Tem muito empreiterinho, encanador, que não... Semi-analfabeto, dizer pra ele: “Oh, você...” Ele não sabe manusear. O comércio tá assim hoje.
P/1 – O acréscimo da Internet, pro seu comércio, foi uma coisa muito positiva?
R – Foi, foi.
P/1 – Chegou a aumentar o número de clientes?
R – Também. Às vezes, a gente tem consulta de gente que a gente nem ouviu falar. A gente tem um site, então o pessoal acho que acessa, vê o que a gente trabalha, tal. E ok. Mas o que eles fazem hoje, só que (corte no áudio) venda, quem compra, ele manda pra 30 lugares. Ele manda pra minha loja e outras 29. Aí, ele compara. É facinho dele comparar. (corte no áudio) compensa, é boa. Desde que o sujeito trabalhe como a gente: pague os impostos, faça a coisa, recolha os impostos, o Fundo de Garantia dos funcionários. Tem empresa que faz um rolo desgraçado, não paga nada de... Deixa lá... Registra o funcionário com o mínimo e paga por fora. Então, é um negócio. Eu procuro trabalhar certo. Procuro, não. Trabalho certo.
P/1 – Quando é que o senhor começou a ter essa opção de venda pela Internet?
R – Também é uma coisa natural, né? (corte no áudio) lance da Internet, os primeiros aparelhos de fax que vieram já foi uma novidade. Então, vinha lá um fax, a gente respondia pelo fax, não existia. Você é dessa época, mais ou menos, ou não?
P/1 – Não. Eu sou da época da Internet.
R – Então, antes da Internet vieram os fax. Aí, chegava, todo dia chegava uma centena de fax. Respondia por fax. A compra era feita por fax. E aí, quando... É uma coisa natural, se a gente também não se adaptasse, não ia, não sei... já estava fechado, porque... E a Internet veio, e a gente teve que seguir o progresso, né? Então, começamos, e aí, vai divulgando, vai divulgando os clientes que tem. Começa natural. E amanhã pode ser que a Internet esteja até ultrapassada, eu não sei. Eu falei de Internet como um todo. Hoje já tem outras.
P/1 – Além desse contato com o cliente, a sua loja com os seus fornecedores também, atualmente, é feito pela Internet esse contato, ou é diferente?
R – A maioria deles, os maiores, ainda mandam os vendedores. Não é tanto pra ele vender. É mais pra ele acompanhar a loja, se tá indo bem, ver se tem alguma dificuldade, conversa com os meus vendedores. A dificuldade da venda, do material deles. Se tem, ou qual é o problema que tem. Então, não chama nem de vendedor; é um contato do fornecedor conosco. Mas, se eu tiver pressa, eu mando um pedido por e-mail e ele me atende. Não vou ligar pro vendedor passar na minha loja pra escrever meia dúzia de linhas. Eu mando pro vendedor, mando pra empresa, aí funciona assim, né? Mas ainda tem, ainda tem, todos tem.
P/1 – E o transporte dessa mercadoria, tanto quando o senhor recebe a mercadoria quanto quando o senhor vende, é feito por quem? É frete, caminhão?
R – Eu tenho entrega minha mesmo. Hoje, com essa restrição de caminhões, tenho tipo Sprinter, carro médio né? Vulk que eles dizem. Se não, não dá pra entregar em São Paulo. Agora, na Marginal, vão proibir caminhões. Eu já tive caminhões. Uma época, tive caminhões, tal. Então, isso também dificulta, porque um pedido maior você às vezes tem que fazer duas entregas. Não tem como. Não dá pra... porque o caminhão você teria que entregar de madrugada, mas não é todo mundo que recebe de madrugada. Ninguém gosta. Vou entregar num prédio, lá, duas horas da manhã, tem que chamar o... O condomínio, eu vendo pra condomínio, às vezes. Tenho que entregar durante o dia, né? E industrias, também, não tem... Complicado. Essas leis, aí, do Kassab, pode até ser boa pro fluxo e tal. Mas pro comerciante, realmente atrapalha.
P/1 – Pro senhor receber mercadoria também, a empresa vem entregar na sua loja?
R – É, normalmente eles vem. Algumas que ainda entregam com caminhão eu programo pra receber à noite. Aí, eu deixo uma pessoa paga, nada é de graça. Quer dizer, o custo aumenta, né? Eu deixo uma pessoa num depósito que nós temos. O caminhão chega nove, dez horas da noite. Ele recebe, confere. E tem muitos produtos que não dá pra vir com van, com carro pequeno. Tem que ser de caminhão, mesmo. Quer dizer, eu recebo o grosso e depois vendo no varejo, não é? Aí, é fácil. Aí, é fácil. Mas, tem que ter isso.
P/1 – E a Álviro Malandrino, ela faz entrega em domicílio, em casas de clientes, não importa se é um cliente grande ou se é um cliente particular?
R – Não. A gente faz. Particular, grande, de porte, fora de São Paulo. Hoje não dá pra dizer “não”. O sujeito tem lá uma chácara lá não sei onde, Jaguariúna, não sei onde: “Entrega?” “Entrego.” “Ubatuba?” “Entrego.” Então, hoje tem que ter isso. Se a gente começar a perder esse mercado, aí não sei. Isso é bom. É um mercado bom.
P/1 – E qual é o grosso dos seus clientes hoje em dia? É o particular, a pessoa que está querendo fazer uma reforminha na casa?
R – Olha, pequenas construtoras. As grandes construtoras, eles compram quase tudo direto (corte no áudio) ele compra mais, por exemplo, de uma Tigre, do que eu compro o ano todo. Não vou dizer nomes. Essas grandes que estão por aí Even e etc. Então, eles compram praticamente direto dos fornecedores. Meu grande fornecedor, a Deca, metais, a Tigre, a Eluma, cobre, eles vendem direto. E eles justificam. Falam: “Bom, tudo bem.” Então, esse mercado da grandes construtoras, praticamente, eu não, quase todos os comerciantes do meu ramo, estão fora. Mas tem as pequenas construtoras. Pequena que faz um predinho no bairro ou na região. Faz uma reforma grande. Uma casa nova. Isso tem muito. Isso pra mim ainda tem particular, também, que vai construir ele mesmo. Isso daí ainda tem muito. O sujeito faz a sua casinha, então, vai e compra lá.
P/1 – A gente ouviu comentar muito que o Brasil está passando por um momento de boom imobiliário, de boom da construção civil.
R – É, mas é o que eu te falei. Esse boom não pega o pequeno. Porque eu me considero médio. Não sou pequeno, nem grande, comerciante. O grande comerciante não é beneficiado com isso. Não é. Porque...
P/1 – Por causa desse contato direto entre o fabricante e a construtora?
R – Direto. É, direto. Direto. Eles dizem: “Bom, mas o sujeito vai me comprar tanto, eu vou dizer não?” Aí, eles procuram dizer que só vendem pra... No fim, acabam vendendo pros pequenos também. É meio, meio, anti (corte no áudio) a gente sobrevive.
P/1 – E a concorrência com essas grandes empresas? Tem lojas muito grandes de material de construção.
R – Sim, Home Center.
P/1 – Como é essa concorrência?
R – Essa é a que menos preocupa, porque é assim... A gente acompanha, né? A grande vantagem deles é comprar a oferta. Então, eles põe um jornal lá. Eles devem ter dois, três mil produtos. Eles põe 20 em oferta. Aí, o sujeito vê: “Puxa, torneira aqui custa tanto.” “Quanto custa, e tal?” Aí, ele vai nesse Home Center e ele compra. Só que no resto... Porque eles tem despesa muito maior do que eu. Eles tem funcionário, segurança. Eles tem, assim... Eles não podem fazer milagre. E mesmo que eles tenham uma pequena diferença no preço da compra, o fornecedor faça um preço, mesmo assim eles não conseguem. Então, é uma ilusão, o sujeito que ele vai e compra tudo, se comprar o que está em promoção, eu acho que até fez bom negócio. Mas eu não sei, hoje a compra é por impulso, ele entra na loja, compra, compra, compra, nem compara mais preço. Ele acha que aquilo tá com preço bom. Então, realmente, se o sujeito... E outro (corte no áudio) os meus vendedores conhecem muito, muito de hidráulica. Se você for chegar lá e for construir, ele te dá uma planta hidráulica prontinha pra você. E lá, não tem. Lá você pega as coisas, e se pegou errado, o problema é seu. Você é que tem que se servir. Não tem alguém pra te ajudar. Ao contrário da minha loja, lá, eu tenho vendedores. Todos são bem treinados, sabe? Então, é esse o diferencial. Realmente, eles não preocupam, sabe? Se você pegar um orçamento com 50 itens e fizer numa dessas e levar na minha loja, eu ganho. Posso perder em dois, três itens, mas no grosso eu ganho.
P/1 – Falando nessa parte dos vendedores, como é que é o treinamento? Quantos funcionários o senhor tem hoje e como é o treinamento deles?
R – Eu tenho vinte. Normalmente, são todos... Alguns já eram de outras lojas, já com algum conhecimento. Mas eu costumo valorizar muito o funcionário. Então, eu pego alguém que a gente vê que tem jeito, então, começa, por exemplo, na expedição. A expedição é um lugar que você aprende a conhecer todas as peças. Você tem que pegar uma nota e ver toda a mercadoria. E se a gente percebe que tem jeito... Vários eu tenho lá que são vendedores que começaram... A gente faz um treinamento pra vendas. Saber manusear computador. Porque tem. Hoje é tudo informatizado. Você vê lá, clica, sai o preço e tal. E eu vou usando. E pra eles, é ótimo, porque começa com... Lógico, tem que ter pelo menos um nível de instrução mínima, né? Tem que ter pelo menos um ginásio. Mas, são ótimos, viu? Porque eles se sentem valorizados. Dentro da loja vão crescendo. E o máximo que eu tenho lá é vendas, né? Então, eles chegam, eles ganham... No meu caso eles são comissionados. Então, realmente, o salário é bom. Dependendo do desempenho, né?
P/1 – E a Alviro Malandrino costuma trabalhar com promoções, brindes, pra atrair clientes, ou não?
R – Ah, brindes, eu faço algum brinde, no fim do ano, folhinha, uma garrafa de... Mas promoções de épocas, assim, não. Já é costume. (corte no áudio) A folhinha de parede. Eu tenho uma folhinha com números grandes. Esse, que eu me lembro, o meu pai já fazia. E hoje eu tenho uma clientela só de folhinha. O pessoal vai lá no fim do ano: “Já chegou a folhinha?” Principalmente aqueles velhos, aqueles antigos: “Chegou a folhinha?” “Chegou.” Vai lá, eu dou a folhinha. Ele vai embora: “Obrigado.” E só volta o ano que vem (risos). Aí, por quê? Porque na minha folhinha o número é bem grande, sabe aquela? E a pessoa de idade diz: “Não, é porque eu vejo de longe.” (risos) Alguns, né? Falam. Sei lá. Mas é interessante, acho interessante, porque forma um vínculo. Aí, lógico, ele vai no boca a boca, vai dizer pro outro: “Olha, fui lá, bem atendido“ e tal. Eu acho que uma das... que eu sinto orgulho é o bom atendimento pro cliente. Não existe cliente que a gente não... Todos são... Você vai lá comprar uma pecinha de um real, ele é bem atendido. Isso todos fazem, lá. Paciência.
P/1 – E com publicidade, o senhor já trabalhou? Anunciando sua loja em algum veículo, no jornal do bairro?
R – É, jornal de bairro, a gente faz algum anúncio. Não sei nem te dizer se dá retorno, mas a gente faz mais pro pessoal lembrar que a loja existe, né? Porque com o tempo, vai ficando... Mas, basicamente isso. Fora disso, não.
P/1 – Quais são os dias de maior movimento lá na sua loja, e os horários?
R – Olha, (risos) gozado. Antigamente - a gente abre a loja sete e meia, sempre abriu sete e meia – antigamente, eu digo há 20, 30 anos atrás, sete e meia já estava lotado. Porque o pessoal ia buscar material pra ir trabalhar. Era comum: o pessoal ia fazer algum serviço, ele ia lá logo cedinho, logo cedinho que abria a loja. Hoje já mudou esse perfil. A loja abre sete e meia. O movimento, assim, que a gente diz, começa nove e meia, dez horas. O pessoal já tá mais acomodado. Ou é difícil o trânsito. Ou é uma série de coisas. Então, tá mudando esse perfil aí. E o fim da tarde, também, bem fraquinho. Não tem muito movimento. Mas os dias, acho que todos os dias, não tem um dia. De repente a gente achou que vai ser bom e o dia é uma porcaria. De repente é o contrário, o dia... Gozado, o comércio. Não existe um padrão, diz: “Não, tal dia, tal”. Não, não tem.
P/1 – O comércio de material de construção é marcado pela sazonalidade, também? Então, por exemplo, no final do ano é que o pessoal compra mais? Ou não existe isso?
R – Como o meu não é bem construção em geral, é só hidráulica... Eu sou especialista em hidráulica. Aliás, hoje é uma tendência de novo. Porque existem lojas que, por exemplo, trabalham com elétrica. Só elétrica. Mas, também, se encontra o que você quiser de elétrica. Lojas de tintas. Eles trabalham só com tintas. E existe esse pessoal de material de construção que tem só o feijão-com-arroz. Ele tem um pouquinho de elétrica, um pouquinho de tinta, um pouquinho de hidráulica. Mas é o feijão-com-arroz. Não tem uma hidráulica como eu tenho. Por exemplo: tubos enormes, grossos, tal. E nem podem ter. Eles tem que ter... Então, o nosso perfil é, assim, é hidráulica. Eu tenho uma boa clientela de hidráulica porque sabe que encontra quase tudo de hidráulica. E assim tem lojas de elétrica, grandes lojas de elétrica que tem em São Paulo, que tem todos: são quadros de força, um coisa...
P/1 – E é uma tendência essa especialização?
R – Eu acho que sim, eu acho que sim, porque o pessoal começa a ver que não adianta ir num lugar, você encontra uma peça, não encontra outra, e... sabe? Eu acho que está crescendo esse tipo de.... Antigamente, já era assim. Depois começaram esses depósitos de material de construção. Mas ele tem o básico: cimento, areia, tijolo. Tudo bem. E aí, ele tem um pouquinho de cada coisa. Não dá pra ter tudo. E pega esses Home Centers e eles tem também... eles não tem tudo em hidráulica. Eles tem o que vende, o que roda. Pra eles o que interessa é a mercadoria que tem giro. Eu tenho mercadoria lá que fica às vezes no estoque, e demora, né, então, o giro é menor, né?
P/1 – E no comércio de materiais hidráulicos tem essa sazonalidade que eu falei, ou não?
R – Tem. Agora, por exemplo, nesse dia 15 de Dezembro pra frente, cai muito. O pessoal vai mais pra presentes. Então, a coisa diminui bastante, viu?
P/1 – Qual que é o produto que é mais vendido na sua loja? Tem algum que sai mais que os outros?
R – A Tigre, de maneira geral, os produtos da Tigre: tubos, conexões. Deca, vendo muito metais da Deca. Carro-chefe né?
P/1 – São as marcas que mais chamam a atenção?
R – Marcas. Eu tenho metal um pouco mais barato. Mas ainda, por incrível que pareça o pessoal prefere pagar mais caro e levar o melhor. Não é que ele é mais caro por ser mais... Ele é mais caro porque é melhor: assistência técnica, qualidade da peça. Então, eu vendo. Deca é uma fábrica que eu vendo, lá, dentro de metais, de hidráulica.
P/1 – E pensando nesses materiais que saem muito, como funciona feito o estoque? Ele tem que ser reposto toda semana, todo dia, como é que é?
R – Hoje a gente controla, temos um programa lá que praticamente acompanha toda a venda, toda a entrada de material, e tem um estoque mínimo, vamos dizer. Então, isso é fácil de acompanhar. E toda semana, todo dia, a gente tá pedindo alguma coisa, sempre. Sempre tem. E tem que ter. Antigamente, era tudo no olhômetro: “Ali tá acabando, aqui tá acabando, e tal.” Hoje, não. Hoje é fácil Tudo que entra, entra no sistema. Tudo que sai, sai. Então, hoje tá fácil saber. Se eu quiser saber tudo que tem na loja hoje, dá um clique lá, tenho tudo.
P/1 – (corte no áudio) especificamente pra cuidar desse estoque ou todo mundo faz um pouco de tudo?
R – Não, todo mundo faz um pouco. Eu prefiro, pra não... Se faltar um, tem outro que cuida. Todo mundo faz.
P/1 – Você chega a trabalhar com material importado também?
R – Não direto. Eu trabalho com alguma coisa da Itália, metais. Principalmente registro, torneiras. Mas é um importador que vende pra nós.
P/1 – É uma demanda muito grande pra esse tipo de material?
R – É, é, porque é um produto - principalmente o italiano é - muito bom. Válvulas, registros, é muito bom. Válvula industrial, válvula...
P/1 – Seu Alvio, eu gostaria que o senhor falasse agora quem são os seus clientes da loja. A maior parte, do pessoal que mora no entorno, no bairro, ou isso já não acontece mais? Pessoal da cidade toda.
R – É, eu acho que não do bairro, mas da região. Aí, vamos dizer, da região, que eu digo, aqui de Pinheiros, Freguesia, Alto da Lapa, Parque São Domingos. A região oeste, vai. Um grande número. Mas eu tenho clientes em São Paulo toda. Eu atendo a zona leste, zona norte, muito lá pro lado de Santana. Porque é na região, lá. Porque, às vezes, o cliente, é aquilo que eu te falei: o cliente, hoje, não se identifica mais com o bairro. Ele vai construir lá em Santana, e ele pede um orçamento, e eu tenho um preço melhor, ele compra. E eu vou entregar lá. Eu não conheço o cliente pessoalmente. Fica só... Não, lógico, a grande maioria eu conheço. Mas, alguns, independe de onde eu estou. Ele, simplesmente, eu sou um nome lá. Ele manda um pedido de orçamento: “Olha, você entrega aí na Vila Formosa?” Entrego na Vila Formosa.” “Tá, tudo bem.” Combinamos, ficha cadastral, tá tá tá, tá tá tá. Ou paga à vista. E eu entrego. Então, não fica concentrado. Antigamente, sim, porque era problema de locomoção. Hoje, não. Hoje tá generalizado, aí, o negócio. Eu não tenho. É diferente, por exemplo, do Zé do churrasquinho, lá, que ele atende a região, acho, não sei. (corte no áudio) Tem no mercado, ali.
P/1 – O senhor notou alguma mudança na exigência dos clientes nesse tempo todo de comércio? Os clientes, agora, eles exigem coisas diferentes, um atendimento diferente?
R – Atendimento. Eu acho que o cliente está cada vez mais exigente. Atendimento, qualidade do material que ele compra. Hoje eles querem marca. Eles pedem marca, grife: Tigre, Deca. Antigamente, não tinha tanta. Hoje, não. Esse pessoal...
P/1 – E tem alguma história que tenha ocorrido lá na sua loja - que pode ter sido curiosa, engraçada, alguma coisa estranha que aconteceu - que o senhor lembra e gostaria de contar?
R – De momento, assim...
P/1 – Algum cliente muito excêntrico, algum funcionário muito excêntrico, qualquer coisa assim?
R – Não, não tem, assim que eu lembre, agora. De repente eu vou lembrar, mas agora, assim, eu não estou lembrado, não.
P/1 – Falando sobre sistemas de pagamento, agora. Como é que é? O senhor tem uma loja muito antiga, tem clientes antigos também.
R – Sim.
P/1 – Existe ainda aquela coisa da caderneta? Ou isso já não é mais usado?
R – Não, não, não. Não existe mais. Existe, hoje, especificamente agora, nessa época, a venda com um cartão de crédito aumentou muito. A venda à vista com cartão de crédito. Antigamente, era cheque. Então, o que a gente nota é: diminui o número de cheques, aumenta o cartão de crédito. A pessoa paga, lá, trinta dias. É melhor do que dar um cheque pré-datado. Pra mim, é melhor. Entendeu? O cartão eletron, que no dia seguinte já tá na minha conta. Então, esse produto, cartão de crédito, tem aumentado muito. Eu trabalho com todos, todos os cartões de crédito, e isso é importante pro meu tipo de comércio. E existe o cliente que eu cobro através de boleto bancário. Indústrias. Eu não posso o sujeito me mandar o dinheiro. Indústrias, condomínios. É muito comum, aqueles condomínios antigos, ter que trocar coluna, tem que trocar não sei o que, trocar não sei o que. Aí, lógico, eles mandam uma ficha, a gente analisa, e parcelo se precisar. Principalmente condomínio tem que parcelar, porque eles tem os condôminos e todo mundo não quer despesa muito alta. Então, se é uma compra maior: “Parcela?” “Parcelo”, tal. O que a gente notou é isso. Roda muito menos dinheiro vivo. Antigamente, era. Hoje, dinheiro, realmente não é muito o que roda na loja. É só cartão, algum cheque e cobrança por banco.
P/1 – E, no seu trabalho, na sua forma de ver o seu trabalho, você notou muita diferença de quando o senhor começou pra cá? Teve que assumir muito mais funções?
(corte no áudio)
R – Vamos dizer, que até facilitou. Antigamente, quando comecei muitos anos atrás, a nota era feita manual. Então, eu tinha uma nota de 30 itens, tinha que ir: quantidade, produto, o valor unitário. Fazia conta item por item, somava. Era um trabalhão! Era um trabalhão. Então, essa mudança tecnológica, realmente, hoje é tudo digitado, lá, sai, e a gente não tem... Então, isso facilitou muito. Facilitou muito Você não é dessa época, mas na época que se fazia nota à mão, nossa! Todo começo de comércio era assim. Então, hoje, isso realmente melhorou muito: a tecnologia.
P/1 – Como foi a sua adaptação pra essa tecnologia nova? O senhor cuida dos pedidos pela Internet?
R – A gente tem que ir aprendendo, né? Então, a gente vem de uma época que não tinha computador. Bom, quando eu nasci, nem televisão existia. A gente vai ter que: ou aprende ou te engole, né? Então, tem que se adaptar. Tem que...
P/1 – O senhor já mencionou bastante que na época do seu pai o senhor acha que o pessoal era um pouco mais ético, né? Os comerciantes. Como é que o senhor vê o comércio hoje em dia, assim, de um modo geral?
R – Olha, sei lá. Tem muitos comerciantes honestos, bons, que eu conheço, que trabalham. Mas hoje, acho que como tudo no Brasil, o pessoal só se preocupa no fim. O meio não interessa. Se tem que fazer, sonegar, comprar mercadoria roubada, eles fazem qualquer negócio pra, por exemplo: você vê todo dia que roubam carga aqui, roubam carga ali, roubam carga ali. O sujeito rouba um caminhão de tubos de cobre, que é uma fortuna. Um caminhão de tubo deve ter 80, cem mil reais de tubo dentro do caminhão. Ele não vai vender uma barra por barra. O sujeito vai em alguma loja, que eu não sei qual é, e se soubesse também não falaria, e vende o lote. Agora, eu compro da empresa com nota, vendo com nota, eu tenho que ter um preço. O sujeito (corte no áudio), ele. Tô falando isso pra você e não é só no meu ramo. É televisão roubada, é computador roubado. Isso tudo vai pro comércio. Isso não é... O sujeito que levou um caminhão, uma carga, de alguma coisa, ele não vai vender no varejo. Ele não vai chegar lá e: ”Olha, eu roubei isso.” Ele já tem um...
P/1 – Um comprador.
R – … alguém que tem uma “loja”, também, entre aspas, que vai vender isso. Isso eu acho desonesto. Porque eu tenho um custo de uma mercadoria. O sujeito tem um custo quase zero. O sujeito que vende mercadoria roubada, ele vende por 5% do valor. Ele quer fazer dinheiro. Então, isso atrapalha, não o meu ramo, qualquer comerciante. E isso daí, eu não sei se você sabe ou não sabe, tá cheio aqui em São Paulo. Mais do que você imagina. Está cheio.
P/1 – Como você acha que a sociedade vê o comerciante hoje? A atividade comercial.
R – Eu, no bairro sou, graças a Deus, bem conceituado. Faço parte de várias entidades. E a gente não tem problema nenhum. Não me escondo. Estou sempre aberto, lá, pra tudo. Acho que o comerciante é benquisto, assim, desde que trabalhe com ética, honestidade, né? Aquilo que eu te falei.
P/1 – Entre essas associações que o senhor participa, tem alguma que seja uma associação sindical, comercial, quais são elas?
R – Nós temos uma fábrica de calhas, antigamente começou na Rua Clélia. E agora está na Freguesia. Nós temos um galpão lá, está na Freguesia do Ó. Então, eu faço parte da FIESP pela indústria de calhas. Tem uma indústria de funilaria, imóveis, não sei o que. Eu faço parte. Já fiz mais parte, mais ativamente. Agora, já estou mais afastado. A Associação Comercial Distrital da Lapa, também, sempre participei, junto com o Silvio. Isso ligado à indústria-comércio. E diversas outras entidades: Rotary, ACM da Lapa. A gente sempre participou. Sempre participei ativamente disso aí.
P/1 – O senhor continua tendo alguma atribuição lá, algum cargo, uma função, nessas associações?
R – Não, não. FIESP tem conselheiro, mas eu não vou nas reuniões, então... A Associação Comercial também. A gente fica um pouco desiludido com o não-trabalho, a falta de projeção. Então, eu te dei um exemplo: a associação comercial aqui de Pinheiros (corte no áudio) a atividade deles. Isso que aconteceu aqui, Largo de Pinheiros, isso não foi uma escolha do governo, isso foi pressão de entidades do bairro. Eu tenho que tirar o chapéu pra eles. Não é: “O Largo de Pinheiros mudou. Porque o Largo da Batata, lá não sei o que.” Mudou por pressão de entidades do bairro. Isso daí, infelizmente, a Lapa perdeu. A Lapa não tem referência. Não sei se o Silvio falou isso também, mas eu sinto isso.
P/1 – O senhor já até mencionou, e é uma coisa que a gente constata, é que a Alviro Malandrino é um empreendimento familiar ainda hoje.
R – Ah, sim, isso.
P/1 – Como é que é ser um empreendimento familiar? Tem vontade de mudar isso?
R – Tenho um filho que já está lá, e um sobrinho, filho do meu irmão. São jovens - 30, 40 anos - e já, praticamente, já estão tomando... Eu vou na loja, eu ainda brinco, eu sou a rainha da Inglaterra. Eu vou lá, só faço relações públicas, converso com um, com outro. Praticamente não tenho uma função hoje. Cuido do financeiro, mas assim, tudo bem, só pra dizer que tem alguma coisa, né? E pra não ficar em casa. Mas, é assim. Empresa familiar é isso. Ou alguém continua, ou fecha. Não é uma empresa tão grande que você pode pegar uma diretoria paga. Não daria pra sustentar isso.
P/1 – Então que pontos o senhor destaca em positivos e negativos de se ter uma empresa familiar?
R – O negativo é a sucessão. Você tem que esperar que os filhos, os sobrinhos, alguém, continue. O positivo é a satisfação de ter um negócio seu, seu, você. Não é? Você não é um executivo de uma grande multinacional que amanhã pode perder o emprego. Ninguém, cargo nenhum... Eu pelo menos sei que tenho essa garantia.
P/1 – E a satisfação de continuar o que o seu pai começou, também?
R – Não, também, isso, lógico, a gente tem mesmo. Mas foi um bom negócio que ele deixou. Um bom negócio É um material que não é perecível. Não é como o Silvio. Por exemplo, se ele não vender o peixe... Eu, lógico, tem que vender, mas não tem esse perigo, é diferente. É o tipo de comércio bom, eu acho.
P/1 – E qual é a importância que o senhor vê, de estar sempre no mesmo ponto, desde a fundação? Se mudasse o ponto da loja, o senhor acha que perderia muito? Como é que o senhor vê isso?
R – Eu acho que hoje, até não, por causa de comunicação eletrônica, vamos dizer, vai. Se o terminal tá ali na minha mesa, ou se tiver no outro bairro, a comunicação... Mas eu acho importante a referência, ali, a Clélia. Pro bairro, pra região. Eu tenho amigos que brincam, né? Às vezes a gente encontra com uma pessoa. Praticamente todo mundo na Lapa já comprou na minha loja. De algum jeito, ou de outro, já gastou alguma coisa lá. Isso é gostoso, é um orgulho pra mim: “Você conhece o Malandrino?” “Ah, já gastei lá.” (risos) É normal, isso.
P/1 – E de uma certa forma ajuda até no marketing da loja, a tradição no bairro.
R – Ah, sim, a tradição. É, eu não sei onde vai me levar, isso. Mas por enquanto tá lá, tá sólida, tá bem.
P/1 – E, pensando nisso, o senhor já pensou em abrir filiais, ou algum sobrinho? Conforme a família vai crescendo, o pessoal quer?
R – O pessoal fala pra abrir, mas sabe, é complicado. O difícil não é crescer, o difícil é segurar a coisa assim. Não que eu não cresça, a gente cresce. A loja automaticamente vai ter produtos novos e vai informatizando, vai, vai. Isso eu acho um crescimento. E isso aumenta o volume e tal. Mas esse crescer pra abrir filiais, nunca me tentou, não. Eu tenho amigos que tinham loja, abriam filiais e tal. E no fim fecharam. Porque é complicado administrar. A não ser um conglomerado, uma multinacional, aí é diferente. Mas uma loja média, aí, é difícil.
P/1 – Essa é uma aventura que o senhor vai deixar pro seu filho, pro seu sobrinho, pensar?
R – Ah, bom. Se eles, lá, realmente. Se pegar o nome, e abrir em outro lugar, até daria. Mas eu já não penso mais nisso.
P/1 – O senhor já mencionou que costuma ir na loja todo dia, né? Cuida da parte financeira, ali. Mas como é que é o seu dia a dia hoje?
R – Eu vou logo que a loja abre. Que eu acordo cedo. A pessoa, depois dos 60, 70, acorda cedo. Pode dormir a hora que for, acorda. Acorda, né? A natureza, a gente - eu, na minha idade, assim, e não só eu, qualquer um - dormindo cinco, seis horas por noite, tá bem demais. Tá ótimo, sabe? Então, acordo cedo. Aí, vou ficar em casa? Vou pra loja, vou pra casa, almoço em casa, fico um pouco, vejo uma televisão. A tarde volto pra loja, fecho, vai. E volto pra casa.
P/1 – E nos momentos de lazer, o que o senhor gosta de fazer?
R – Ah, clube. Lá tem o Jaraguá Clube, que eu sou quase fundador. Vou lá no clube. ACM, teatro, alguma coisa assim, a gente vai.
P/1 – E compras, o senhor gosta de fazer compras?
R – Pra mim, você diz?
P/1 – É, é uma atividade de lazer, você sair pra comprar?
R – Não sou muito fanático, não, comprar. Viajar, viajar. Viajar eu adoro. Viajar... Então, também, esse tempo que me sobra, eu viajo, duas vezes por ano. Uma viagem um pouquinho menor, um pouquinho maior. Como eu tenho muitos parentes na Itália - eu te falei que meu avô ficou, meu tio, ficaram todos, já faleceram - mas o resto da família está todo lá. O meu pai, a família do meu pai está toda lá. Então, eu viajo, vou lá pra Itália, visito parente. É um pretexto pra ir pra lá. Mas sempre a gente vai lá. Quase todo ano eu vou lá, e eles vem pra cá, também. É o meu lazer.
P/1 – E a relação ali com o seu irmão, que também cuida da loja, continua a mesma?
R – Continua, não, continua. Ele também tem viagem, a gente combina de viajar em épocas diferentes. Então, nos damos muito bem.
P/1 – Vocês continuam participando das tomadas de decisão da loja?
R – Ah, sim. Não, isso sim. A gente conversa, faz uma reuniãozinha, lá, tal. Isso, sim.
P/1 – O senhor mencionou que tem um filho que é dono da loja, não é?
R – Eu tenho um filho e tenho um sobrinho, que é filho do meu irmão.
P/1 – E o senhor tem mais algum filho, que não está na loja?
R – Tenho, tenho. Tenho mais uma filha, mas ela tem outra atividade.
P/1 – E o senhor desejava pra eles que eles entrassem na loja? Foi uma realização, pro senhor, o seu filho continuar o seu negócio?
R – Olha, eu deixei pra eles resolverem. Meu filho é formado em Arquitetura e começou a trabalhar, tal, tal. Aí, começou a se interessar pela loja. O meu sobrinho já tem uma outra atividade. Ele trabalha um meio dia na loja, e meio dia ele tem uma firma dele, de outra atividade. Então, a gente deixa bem à vontade. Se um dia também não quiserem continuar, tudo bem. Aí, eu não tenho problema de encerrar a firma. Eu encerro, não devo nada. (risos)
P/1 – Mas o senhor vê um futuro aí pros netos, de repente, na loja?
R – Não sei. Aí, já não digo. Aí, não sei.
P/1 – Quais são as lições que o senhor tirou dessa sua vida no comércio, pra sua vida pessoal? O que o senhor aprendeu?
R – Olha, primeiro: conhecer bem as pessoas. Porque o comércio é o convívio diário com pessoas. Quer dizer, conheço, conheço, conheço bem a pessoa. Às vezes essa é a primeira lição, né? Participo de atividades no bairro, também em função de ter a loja, a gente acaba sendo chamado: “Quer fazer isso, fazer aquilo?” Não sei. Basicamente, é isso.
P/1 – Qual é o seu grande objetivo hoje, qual é o seu sonho hoje?
R – Não tenho grandes... Os filhos estarem bem, lógico. Hoje, a preocupação são os filhos. A minha filha é professora universitária, tá fazendo mestrado, tá encaminhada, já tá muito bem. Meu filho tá lá comigo, faz algum trabalho de arquitetura, algum projetinho, alguma coisa. Minha preocupação é essa. Pra mim, mesmo, grande, não tenho mais.
P/1 – Tem alguma coisa que a gente não abordou aqui mas que gostaria de registrar, que o senhor acha importante falar?
R – Não, acho que você esmiuçou tudo, aí. (risos)
P/1 – E pra terminar, o que o senhor acha de ter participado desse projeto, de ter dado essa entrevista e ter falado um pouquinho da sua vida, da sua família?
R – Não, eu achei interessante, acho ótimo, isso que vocês estão fazendo. Acho que um resumo de tudo, aí, vão ter uma idéia boa do comércio, do que foi o comércio, da importância do comércio em São Paulo, né? Eu acho que isso é bom que valoriza o comerciante, valoriza o comércio. De uma maneira geral, né?
P/1 – Então, Sr. Alvio, em nome do Museu da Pessoa e do SESC São Paulo agradeço muito a sua participação. Muito obrigado.
R – Eu é que agradeço pelo convite.
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