P/1 – Dona Ditinha, boa tarde.
R – Boa tarde.
P/1 – Primeiro, eu gostaria de agradecer de a senhora ter aceitado o convite para essa entrevista.
R – Eu agradeço.
P/1 – E agora, pra gente começar, eu gostaria que a senhora falasse o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – Benedita Aparecida Leite Costa, eu nasci na Ilha de Búzios, em sete de julho de 62.
P/1 – Tá certo. E qual que é o nome dos seus pais?
R – Severiano Teixeira Leite e Maria Aparecida Ferreira.
P/1 – E você sabe da origem da sua família? Da história dos seus avós? Da onde que eles vieram, como que eles foram parar em Búzios?
R – Então, o meu vô por parte de pai, ele veio da Ilha da Vitória, que é uma ilha vizinha, e eles assim, o comentário é que eram descendentes um fala que é de índio, outro fala que é de pirata, era o que eu ouvia eles falarem. Mas uma coisa concreta assim, de descendência, a gente não sabe como que a gente se achou lá, né? Sei que o pai do meu pai veio da Ilha da Vitória para Búzios.
P/1 – E os pais da sua mãe, você sabe de alguma coisa?
R – Também. São… Também vieram… O pai da minha mãe já era de Búzios, né, agora o que eles falam é esse comentário, que a descendência, não tem uma coisa concreta, né, nunca eles ficaram sabendo de que ascendência são.
P/1 – E conta. A senhora sabe como seus pais se conheceram? Lá na Ilha de Búzios?
R – Minha mãe fala que se conheceram lá mesmo. Minha mãe morava na ponta leste da Ilha de Búzios e o meu pai no meio, que é o bairro Porto do Meio, bem no meio da ilha, tem um bairro que chama Porto do Meio e o meu pai era morador do Porto do Meio e conheceu ela na ponta leste da ilha, eles foram morar juntos, ela tinha 13 anos.
P/1 – E o que eles faziam, os seus pais?
R – Pescador. Meu pai pescava na época, trabalhava com peixe seco, que a pessoa não sabia o que era vender peixe fresco, gelo, naquela época não tinha. Então, ele pescava e secava o peixe no sol para trazer aqui para a cidade para vender. E a minha mãe, artesanato, fazia cestaria com taquaruçu, bambu.
P/1 – E que tipos de coisas que ela fazia com taquaruçu?
R – Cesto para roupa, luminária, fruteira, cestinho de banheiro, muita coisa a gente faz… eu faço com taquaruçu. Então, a gente aprendeu mil coisas com aquilo ali, sabe, você faz luminárias em vários formatos, fruteira, suporte de prato, porta-guardanapo, muita coisa você faz com aquilo ali, com o bambu, a taquaruçu.
P/1 – E a senhora tem irmãos? Irmãs?
R – Nós éramos em dez irmãos, três faleceram e a gente hoje é em sete.
P/1 – Em que lugar dessa escadinha a senhora tá?
R – Eu sou a mais velha (risos).
P/1 – Conta pra gente, então, como é que é ser a mais velha de uma turma de mais nove irmãos?
R – Difícil. Na época, era tudo escadinha, né, na verdade. E eu era a mais velha, eu tinha que cuidar do segundo, do terceiro … E pescar também, de nove para dez anos, eu estudei até a quarta série, né, e tinha que pescar, sair com o meu pai, vim para a cidade para trazer peixe, depois secava e pegar o bambu, já começar a também a aprender, né, a fazer as peças e a cuidar também dos meus irmãos, trabalhava na roça, sabe? Cedo, eu comecei a trabalhar na roça, plantar e na época, a gente não tinha forno a gás, era lenha, né, e tinha que buscar as lenhas, sabe, então como eu era a mais velha, era tudo isso.
PAUSA
P/1 – Aí, conta pra gente como é que foi para a senhora ver a família crescendo, né, e aumentando também a sua responsabilidade?
R – Foi aumentando assim, escadinha, né, e eu ajudando, colaborando e vendo eles crescer, ficar doente, minha mãe ficou doente, eu tive que cuidar. Minha mãe teve um problema sério vascular, né, teve que ficar internada 25 dias, na época, em São Sebastião (SP) que atendia, né, a comunidade. E ficou dois irmãos pra mim cuidar, sabe, no dia a dia, crescendo, estudando, trabalhando, né, tinha que ajudar… Assim, eu gostava, naquela época, era difícil que a gente não tinha as coisas, era bem difícil as coisas: comida, roupa, tudo isso, era bem mais difícil conseguir através de todo esse sacrifício, mas a gente era feliz, sabe, isso era bom. Eu não tenho o que reclamar, acho que eu tenho é que agradecer, sabe, porque cada fase que a gente passa que tudo na nossa vida é permissão de Deus, né? Então, acho que daquela forma que a gente tinha que passar, mas eu tive, assim, uns momentos, brincar, né, a gente tinha as horas de brincadeira de criança, mas tinha aquela responsabilidade, que a minha mãe deixava, né, e a gente vê que hoje é bem diferente, né?
P/1 – Quais brincadeiras que eram? Essas brincadeiras de criança.
R – De criança, na época, quem tinha uma boneca... Em 1962, quem tinha uma bonequinha ou outra, ou senão, a gente fazia coisa de pano, fazia muito boneca de pano, sabe? E os meninos faziam carrinho de madeira para brincar. Qualquer coisa assim, de madeira, eles faziam, pra fazer roda, pegava uma corda, usava um cipó para fazer tipo um barquinho, todo mundo… Assim, era a brincadeira, nessa forma.
P/1 – E como é que é lá, a Ilha de Búzios, pra gente que não conhece, né? Como é que era a sua casa?
R – A gente tinha uma casa de madeira, na época. E tinha dois cômodos, que eram um da minha mãe e do meu pai e um era pra nós, a gente não tinha cama, né? A gente dormia tudo ali, tinha esteira, [a gente] fazia muita esteira de taboa, uma planta, e a gente tinha uma esteira, todo mundo ali, sabe, tinha uma cozinha, não tinha banheiro. Antigamente, ninguém usava banheiro, tinha um banheiro bem fora, na cobertura, para fora da casa. E a casa era de madeira bem assim, simplesinha, de sapê, ninguém sabia o que era telha, também, era difícil.
P/1 – E conta assim, como é que eram as tarefas, né, você falou um pouco do geral, mas o quê que você fazia na lavoura ou na roca, né? O que vocês plantavam…
R – Plantava mandioca, tinha que limpar, plantar, depois que nasce a mandioca, capinar, tirar os matos, então tinha época, de manhã, à tarde, você ia fazer isso. De manhã, você ia apanhar lenha no mato e, se tava dando peixe, tinha que secar o peixe, meu pai tinha que abrir todos os peixes, tirar pra pôr no sol e lavar, então eu tinha a parte de lavar e colocar no sol, tinha que fazer isso de manhã e colocar o peixe no sol. À tarde, tirar, né? Então, todo dia, tinha que fazer isso todo dia até ele ficar seco. Isso era uma responsabilidade, que o meu pai saía para o mar e deixava comigo essa responsabilidade para fazer que eu era a filha mais velha. Então, tudo tinha que ajudar… cada coisa, um pouco. Mas todo dia tinha as tarefas, até eu fiquei até uns 16 anos, mais ou menos, eu fiquei cuidando, né, dos meus irmãos, pescando, viajava pra cá, pra Ilhabela com o meu pai, tal. Aí, com 17 anos, eu saí de lá, fui trabalhar um pouco pra fora, né?
P/1 – Antes da gente falar da sua saída de lá, conta como é que é o processo de limpar e salgar o peixe para deixar ele pronto para pôr no sol?
R – Você tem que… lá, o nosso linguajar, é escalar, né, pessoal fala: “Escalar o peixe”, escalar, você abrir, tirar todas as vísceras de dentro, fazer as linhas para por sal e tem que guardar bem guardado. Depois que você faz isso: abre ele, você limpa, você salga, você tem que guardar e é aquele processo, põe no sol, tira, tal, até ele ficar seco.
P/1 – E como fazia para proteger dos bichos? De repente de uma ave vir pegar?
R – Era perto de casa, você tem que por bem pertinho no varal e ficar olhando, quanto à mosca, você tinha que fazer uma cobertura, né, com a rede fina, bem fininha, uma cobertura ali para a mosca não entrar, onde ficava as caixas com os peixes.
P/1 – E conta do que você se lembra dessas viagens aqui para Ilhabela com o seu pai. Como é que era o barco dele?
R – Era canoa, canoa de motor, não tinha barco. E a gente trazia os peixes secos para vender lá na Armação, Praia do Pinto, aqui no norte da Ilhabela, tinha um japonês e esse japonês, ele comprava o peixe, ele tinha um mercadinho, tinha a loja, a mulher dele e tinha o rancho onde ele guardava as redes… As coisas dele bem na praia, chegava com a canoa de manhã, aí fazia todas as compras, todas as coisas que tinha que fazer, que o único lugar que a gente parava era ali na Praia do Pinto, e aí, dormia ali no rancho, deixava a canoa, dormia, pra de manhã cedinho sair e ir embora para lá. Então, eu sempre vinha com o meu pai, quando não tinha ninguém pra vir, eu tinha que vir com ele para trazer os peixes, eu trocava mercadoria. Na verdade, eu vendia, o japonês comprava, a gente comprava as coisas do japonês, de vez em quando, ele vendia roupa, não era nem roupa pronta, era uns tecidos que a gente comprava. Quando eu lembro, tem assim, um gosto… sabe, uma coisa boa. Eu gostava dele. Daquela vida ali.
P/1 – Como é que eram essas viagens, né? Quanto tempo que demorava?
R – Duas horas de canoa, a canoa, o motor é fraquinho, eram duas horas. E se o mar tivesse ruim, você tinha que parar em algum lugar, porque às vezes, não dava para atravessar, tinha que parar na Praia da Fome, tinha outra, Ponta Grossa, várias vezes, a gente ficou parado, esperando melhorar para atravessar para Búzios .
P/1 – E como que sente que tem o peixe? Ou que aquele lugar é um lugar melhor para pesca ou…
R – A gente já… Meu vô, meu pai, até hoje, a gente ficou com o conhecimento dos lugares onde você vai pegar anchova, tem lugar que você vai pegar garoupa, já sabe que o ponto ali é ponto de garoupa. Lá em Parcel é o lugar de pescar anchova, ali é bom colocar uma rede. Então, a gente já tem conhecimento que já vem… você vem aprendendo com eles e já sabe o lugar certo para isso.
P/1 – E conta da escola, a senhora falou que estudou até a quarta série, como é que era essa escola, né?
R – A escola na época que eu estudei, acho que era 1969, comecei a estudar, se eu não me engano, com sete anos, a gente entrava na escola. Eu nasci em 1962. No Porto do Meio não tinha uma escola fixa, né, uma casa que fosse escola, um prédio. Aí, a escola mesmo era na outra comunidade que era Guanxuma, né, era uma hora caminhando. Aí, os professores vinham e ficavam nessa escola e o meu vô tinha uma salinha que ele alugava pra prefeitura para dar aula, para o professor que vinha de uma comunidade, cedo ele vinha para dar aula para nós, né? Tinha bastante, naquela época, criança e ele vinha da outra comunidade, da outra escola para dar aula pra gente nessa escolinha que era alugada, a sala do meu avô, na casa do meu avô. Era muito bom, assim, você lembra no ajuntamento da gente, era totalmente diferente de hoje, que hoje… Nossa! Mas o nosso tempo era um tempo bom, eu tenho uma boa lembrança assim, da escola.
P/1 – E como é que eram os materiais, os cadernos, o lápis, a lousa?
R – Bem simples, né? Hoje eu vejo a mochila para as crianças colocar os caderno hoje, você vê, tem várias opções e, na nossa época lá, a gente brigava para a nossa mãe desocupar um pacote de arroz pra gente guardar as coisas lá dentro, saquinho, né? Lápis, borracha e caderno, uma cartilha que a escola dava, né, só isso. Não tinha mais nada. Bem simples, assim.
P/1 – E o que foi uma coisa que a senhora aprendeu na escola e que sempre se lembra, que não esqueceu mais?
R – Olha, o que eu aprendi na escola que não esqueço é… O que o professor ensinava pra nós, que a educação que a gente traz de casa, né? E eu sempre aprendi, no meio da turbulência de bastante irmão, a coisa do respeito, né? Indo para a escola, a gente sentia um respeito muito grande, né? O professor pra gente era autoridade na época, não tinha como não… O professor, a gente falava que era uma pessoa de fora e era uma autoridade, né? Então, a gente respeitava. Eu acho que isso e sempre tem, né, bastante criança junto ali, mas eu era uma pessoa que sempre fui assim, sabe, calma, sossegada, de respeitar, de não fazer e via as alterações que os outros faziam e eu sempre, uma coisa que eu respeito, acho que é um pouco de casa, né? Os meus pais que ensinaram, mas na escola, a respeitar o professor, eu trouxe aquilo ali, estava falando agora com o doutor advogado, de você saber chegar até as pessoas para você ser recebida e o troco você ter, né? Que nem receber um “não”. O “não” hoje, alguém pode falar um não para você, mas tem que saber como, né? Tem pessoas que falam “não” para você de uma forma que te magoa, não é um negócio de falar “não”, o “não” tá aí. Sempre na vida da gente vai ter um “não”, mas é a maneira de falar esse não para a pessoa, como: “Isso não”, “Não tem como”, mas e aí? Talvez a pessoa fale de uma maneira… e eu aprendi de um jeito que mesmo que eu não consiga fazer uma coisa, mas eu tento falar para a pessoa que “não”, mas no respeito, pensando em chegar, assim, descobri bastante. Tem coisa que eu guardo, né?
P/1 – E conta pra gente qual era um costume da família, assim, vocês costumavam jantar juntos ou sentar? Como é que fazia de noite?
R – Sim, jantar juntos. Uma rodinha, jantar junto, assim, todo mundo junto, café da manhã, né? Almoço tinha hora certa, 11 horas, todo mundo tava ali pra almoçar, quem tivesse pra comer tudo ali, sentado no chão, né? Era muito bom, era um tempo que eu lembro de bastante coisa e essas coisas marcam, né, que a gente fica assim, diferente, um ajuntamento assim, que naquela hora era hora da janta, era um silêncio, e a gente tinha um respeito, né? Assim, todo mundo ali, uma coisa assim, bem da cultura da gente, mesmo.
P/1 – E como é que fazia quando escurecia?
R – Escurecia, era luz de querosene, né? A gente tinha as latinhas para fazer a lamparina, querosene, tinha uma no quarto, tinha uma na sala, tinha duas na cozinha para clarear, normal, era…
P/1 – E contava-se histórias na hora que reunia todo mundo?
R – Meu vô vinha, às vezes, contar histórias, não me lembro muito que ele contava assim… não guardava muito as coisas, mas sempre meu avô vinha, contava algumas coisas pra gente, sempre tinha as pessoas. Meu vô, minha vó, tio mais velho contava.
P/1 – Aí, tinha alguma festa assim, lá?
R – Na época, tinha São Pedro que era a tradição, era na Guanxuma de Búzios, que a ilha chama Búzios, tem Guanxuma que é um bairro e eu morava no Porto do Meio. Então, tinha na Guanxuma, tinha festa de São Pedro, Folia de Rei, tinha tudo isso, nossa. E a gente foi seguindo a tradição, tem sempre aqueles que gostam mais, eu já venho lá de trás que… Meu pai não gostava muito, ele era católico, mas nas festas, às vezes, ele levava a gente, às vezes, não, então a gente foi um pouco assim de não participar muito, que era longe, né, então a gente nunca… Depois, na minha comunidade, tinha a festa que era também bem tradicional, que era da Nossa Senhora Aparecida, mas depois foi até um tempo, pouco tempo, eu tinha o quê? Uns 16 anos, depois foi acabando, ficou só São Pedro que era na Guanxuma de Búzios, que era tradição, mas era bem mais forte lá, o pessoal, quando chegava naquele dia 29 [de junho], fazia a festa, era São Pedro e Nossa Senhora Aparecida no dia 12 [de outubro]. Então, era essa festa tradicional que tinha lá, né?
P/1 – E o que levou a senhora para fora? Para trabalhar fora? O quê que a senhora foi fazer?
R – Dezesseis, 17 anos, daí apareceu um casal, eles eram os pais do senhor, era da Ilha de Búzios, né, só que depois eles saíram, aí eles moravam no Saco do Sombrio e esse senhor foi embora, se criaram tudo fora, depois voltaram, compraram uma casa e voltaram para Búzios, né? Era o senhor com a esposa, a esposa dele era portuguesa, daí como ela tinha problema de saúde, aí me chamaram pra trabalhar ali, junto com eles, compraram a casa lá, e eu ia lavar, limpar, cozinhar, fazer todo esse serviço doméstico, né? Aí fiquei até 16, 17 anos, daí eles saíram, que ele ficou doente e eles foram embora para Santos (SP). Daí, eu fui também junto com eles, fiquei mais dois anos lá, trabalhei, na época, acho que era mais ou menos em… Nem me lembro o ano, acho que anos 80, por aí. Aí, fiquei dois anos é, em 80. Fiquei lá dois anos só, depois voltei, minha mãe não tava muito bem, mandou me chamar, né? Daí, voltei para Búzios de novo e fui lá continuar com a mesma vida com eles, né? Aí, lá, eu fiquei, lá eu casei.
P/1 – Conta pra gente como é que foi o período em Santos, de deixar Búzios aqui pertinho de Ilhabela…
R – Diferente, né? Assim, lá, na época, Santa Rosa no Guarujá (SP), nossa, não era como é hoje, né, tudo assim. O bairro assim, bem mais… Como é que fala? Não tinha tanto as coisas que tem hoje, era bem afastado, bem assim, as coisas diferentes, mercadinho, uma estradinha de terra, uma coisa assim. Bem, nos dois anos que eu fiquei, era só para trabalhar, não saía pra lado nenhum, que não conhecia, não fiz amizade que não era de fazer amizade para sair. O longe que eu saía era de onde eu morava para ir no hospital que era no Guarujá, onde a senhora que eu trabalhava ficou internada, assim pra casa. Não tive muito conhecimento de sair, assim, para a cidade sozinha, sabe? Eu não ia, fui mais para trabalhar, mesmo, não era nem para estar saindo, então, não tinha muito conhecimento, lá. Para ficar em casa, mesmo.
P/1 – E como foi para você voltar para a Ilha?
R – Minha mãe ficou doente, mandou me chamar, daí eu vim. Não tava bem, né, tinham os meus irmãos, aí eu vim embora, rapidinho, eu já tava mesmo querendo voltar mesmo. Foi rápido para voltar.
P/1 – E aí, você continuou com as atividades, tanto na terra como…
R – Sim, o artesanato, plantar… A mesma coisa, né? Isso eu tinha já 17. Aí, com 19 anos, eu casei, aí mudei para morar na casa da minha sogra com o meu marido e em 1981, eu tive o meu primeiro filho, né, que nasceu e faleceu, comecinho de 81. Depois, em 1982, eu tive a minha filha mais velha. Nasceram aqui em São Sebastião. Eu nasci de parteira, lá, né, aí nessa época, já tinham as parteiras, já tinha que vim pra cá, já foi mais complicada, a minha foi muito complicada, nossa, umas gravidezes bem difícil. Hoje tudo tá mudado, diferente.
P/1 – E foi difícil, como? O quê que aconteceu, assim?
R – O primeiro eu perdi porque eu não tinha normal, não tinha passado na médica, o menino pesava três quilos e alguma coisa e aí, eles tentaram fazer uma cessaria rápida, a criança morreu, daí falou que não tinha mais condições, tudo, de ter normal. A menina foi cessaria, daí a menina tinha cinco anos, daí, eu engravidei, tive um menino, também foi cessaria, em 87 eu tive o menino. Daí, já não tive mais… então só tenho dois filhos só.
P/1 – Mas antes de você falar deles, conta pra gente como que você conheceu o seu esposo.
R – Meu esposo eu conheci lá mesmo, pescador, né? Ele morava na mesma comunidade, né? E a gente já se conhecia da escola, já… Daí, eu sai, tudo, né, acho que toda a coisa do destino, mesmo, né? Mas na escola, a gente já se conhecia, a gente já se gostava, né, mas depois, eu sai pra fora e ele também saiu, foi embora trabalhar para São Sebastião, barco para vender camarão… mas eu voltei, daí a gente novamente continuou a namorar, a gente casou.
P/1 – Qual que é o nome dele?
R – Aristides.
P/1 – Aristides, certo. E aí, conta como é que foi quando daí, sua filha nasceu? Como é que foi para a senhora ter uma bebê?
R – Minha filha... Eu tive que vim para Ilhabela, né, para ficar na casa de uma tia minha, para marcar a cessaria, né, porque não podia ficar atrás da Ilha, daí o meu marido veio, arrumou um serviço aqui para trabalhar num barco de camarão e eu fiquei na casa dessa minha tia. Na época, tinha que ir para São Sebastião, que em 1982 aqui na Ilha não fazia cessaria. Aí, eu tive que ir de madrugada, eu ainda tive dor para atravessar a balsa, tudo, para São Sebastião e foi cessaria. Aí, a do menino já não precisou, eu tive que marcar, aí já foi aqui na Ilhabela, aqui já tinha. Em 87, já tinha aqui, então já foi assim, marcado pra fazer cessaria aqui, a Santa Casa era aqui na vila. Mas é isso.
P/1 – E o que significou para a senhora ser mãe?
R – Eu, nossa, às vezes eu falo, né, que eu sou uma mãe muito… Não sei se todo mundo é… Muito em cima, sabe assim, nossa, porque a minha filha ficou em Búzios, o estudo lá é até quarta série, então ela ficou até a idade de 13 anos, só, lá. E a gente, nossa, é um cuidado… E ela teve que sair, vir para Ilhabela, pra mim foi muito difícil, sabe, ela vir para cá para estudar, porque eu tinha que ficar lá e ela vir para cá, na casa de parente, depois a gente conseguiu alugar uns quartinhos para ela ficar, mas a minha preocupação, porque acho que pra gente que é mãe, o filho não cresce, né, a gente quer ficar paparicando o tempo todo, uma coisa muito boa, ser mãe… Não tem palavra, sabe?
P/1 – Fala pra gente o nome dos seus filhos
R – A menina é Gisele Aparecida Leite Costa e o menino é Isaias Leito Costa.
P/1 –E o quê que eles fazem, hoje?
R – Então, minha menina saiu pra estudar, né, em 1996, começou quinta série e tal, e foi uma luta muito grande, porque a gente vivia da pesca, ela teve que aqui estudar de manhã, achar alguma coisa pra fazer e ela veio com o objetivo para cá de estudar… Foi uma luta grande, muito grande, mesmo que só Deus sabe, pra gente foi difícil, mas ela conseguiu terminar todos os estudos e foi fazer o curso. Ela fez, estudar para professora, chegou até a fazer magistério, tudo, sabe, queria ser professora e depois que ela foi fazer o estágio, né, daí ela desistiu, que não tava dando muito certo, acho que não era aquilo, na verdade, que ela queria. Viu que não tava dando certo, daí ela foi fazer curso de auxiliar de enfermagem, aí fez curso de auxiliar de enfermagem, aí ela fez o curso técnico de enfermagem, aí começou a trabalhar nessa área, né, aí foi para a faculdade que é em Caraguatatuba (SP). Aí, fez os quatro anos de faculdade de enfermeira e se formou já enfermeira. E o menino é pescador, o menino estudou pouco e ficou lá, não quis, é da pesca.
P/1 – Agora, eu quero fazer umas perguntas para a senhora sobre a pesca, né? Como se define esse ofício do pescador? O trabalho do pescador? Como que é? Tem que levantar cedo? Pegar o barco?
R – Sim. Você fala… A vida de pescador é uma vida difícil, né? A gente, cedo, põe a rede agora, no final da tarde você vai amarrar as redes, né, se tem peixe que pega à noite, você tem que ir atrás, fica até tarde da noite, senão, você deixa a rede, vem para casa, amanhã às cinco horas, você vai buscar essas redes, se tinha o peixe… Antes, o peixe tinha que estar salgando, né, era demorado. Aí, você vai lá pelas dez horas, uma hora da tarde pra pesca da garoupa… Se o mar tá ruim, você não sai, né, não consegue. Mas se o mar tá bom a semana inteira, o mês inteiro, o mês inteiro a trajetória é essa, todos os dias. Hoje, mudou por quê? Hoje, tem gelo, né, embarcação com gelo, daí pesca uma semana, você pega peixe, você vem trazer pra cá para o continente e antes, não. Pescava, ficava, só vinha quando o peixe tava seco pra trazer para vender. E hoje, uma semana que você já gastou, o gelo tá no final, você tem que vim trazer pra vender fresco, né?
P/1 – E onde que vai buscar esse peixe fora? Assim no oceano, quer dizer, vai longe ou não?
R – Lá atrás, no tempo ainda de adolescente, assim, criança, adolescente, lá mesmo tinha muito peixe, ali pertinho, né, ali nos parcéis, ao redor da Ilha de Búzios, na frente, ali, você pegava peixe descendo ali, a costeira, perto de casa, você pegava peixe. Hoje, não tem mais, tem que ir buscar fora, hoje tem que ir lá para Ilha Vitoria, Ponta do Boi, vários lugares longe para poder pegar, na semana, você conseguir um pouco de peixe, que já tá acabando, né? Hoje, já tem peixe que tá muito escasso, que não existe nem mais.
P/1 – E com quem que a senhora diria que aprendeu esse oficio, pescadora?
R – Meu pai, meu vô, com eles que a gente aprendeu.
P/1 – E como é que é ser mulher na pesca? Quer dizer, no mundo que tem muito mais homem?
R – Antes era eu, mais umas primas minhas, que a gente foi para essa atividade, né, gostava e algumas ficaram só no artesanato em casa, sabe, só no serviço de casa e na cestaria, né? Nós três, eu e mais três, a gente gostou de ir para a pesca, né? A gente ficava o tempo todo na beira da costeira e aí, começou já a sair para o mar, né, eu acho que não tem diferença, sabe? Antes era meio difícil, o povo criticava um pouco, né, minha mãe mesmo falava assim: “Lugar de mulher é em casa…”, tal, hoje já mudou, hoje a mulher tá em tudo, né, hoje já não tem mais isso, mas antes tinha crítica. Pessoal criticava muito.
P/1 – E como é que você vê o mar, o tempo, as condições quando você chega na praia ou na beira?
R – É uma coisa que a gente aprendeu também com os mais antigos, né, que nem o meu vô… A gente via assim, antigamente, o tempo, né, a gente olhava, ele falava: “O tempo vai mudar”, e o tempo mudava, então eu ouvia isso, vai mudar mesmo, sabe? Era falar e o tempo mudar e a gente veio aprendendo, né, a gente crescendo e aprendendo no meio daquilo. Então, você já tem conhecimento, com dez, 12 anos, a gente falava… O professor perguntava que ele tinha que vim para a cidade, vim embora, ele pergunta pra gente que era aluno: “E aí, vai mudar…?”, a gente: “Vai sim, amanhã vai mudar o tempo, tá assim, era assado…”. A gente via a mudança das nuvens, né, vários tipos de mudança e acontecia. Hoje, já não se conta muito, que nem a tecnologia fala: “Vai chover” e daqui a pouco não chove, né? Hoje tem isso, antigamente não, se falava que era isso, era isso, mesmo, ia chover, ia chover. O tempo ia virar, ia virar mesmo.
P/1 – Mas amanhã ainda não vira?
R – Ah vira, o que a gente tá vendo aí, vai virar o tempo aí, de sexta pra sábado, vira. Eu não vi na meteorologia da televisão, mas pelo jeito que tá, a gente sabe que vira, entra a chuva, né, porque tá muito quente, não é para estar quente assim, abafado, né? Tudo isso, a gente conhece lá pelos antigos.
P/1 – E para quem trabalha com peixe, no mar, como é que faz agora para essas épocas de defeso, né, que precisa cuidar do meio ambiente, precisa ir para o mar com essa consciência, mas por outro lado…
R – Eu vou falar pra você que antes, não tinha nada disso. Lá, a gente não sabia, não aparecia, não tinha meio ambiente, não se falava em parque, não se falava em nada disso, né? E tinha muito peixe, tinha muito a parte marinha que era tartaruga, leão marinho, em cada pedra, você via dois, três lá subindo, golfinho, baleia, tudo lá próximo, tinha muito. E hoje, se criou tantas leis, muita proibição e muita coisa e tudo tá acabando. Eles estão protegendo, mas tá acabando, que nem essa proibição agora recente que a gente acabou de receber, porque eles falam que tudo é o pescador que provoca, tudo o que acontece, quem é o acusado é o pescador, pescador já faz isso, faz aquilo e acha que tudo é a gente, mas acho que a gente é quem mais tem… Sabe, o pescador artesanal, ele de linha só vaia pegar peixe grande, não vai pegar peixe para estragar, você pega uns peixes que é para ser aproveitado, vender, salgar na época… Não se falava desses barcos grandes, de indústria que passa lá uns barcos arrastando duas redes, quando eles levanta, eles tiram lá um pouco… aproveita os filhotes que já tá morto, devolve para o mar, mas e aí? Tira, mas não coloca, né? Então, o artesanal hoje tá sofrendo as consequências disso daí, né, que é muito tipo de pesca… Quanto mais eles proibirem, mais criarem, mais vai ficar difícil, né? Que nem para a gente, pescador mesmo, essa última proibição dessas espécie aí é a única espécie que o pescador artesanal pesca e tá proibido, então vai parar, a gente vai ficar aí sem saber o que fazer, né?
P/1 – Quais são esses?
R – A gente ainda não tem uma relação completa, porque falando com o pessoal da Marinha, são 450 espécies, mas eles estão em nome científico, que eles estão ainda passando, sabe, vendo qual que é da nossa região aqui e estão passando a limpo, tudo para ver, mas inclui garoupa, badejo, todo tipo de cação, vermelho, que são os peixes que pra gente, é o peixe que tem mais valor, é o peixe melhor de pegar, você pega um pouquinho, você ganha alguma coisa que é o peixe melhor de vender. Então, são esses que estão aí, pargo, estão aí nessa listagem. Ainda estão tirando pra ver, porque saiu o nome científico, eles estão lá passando a limpo pra mandar pra gente, pra gente saber de verdade. O que já tá aí é garoupa, que é um peixe que restaurante compra, é um peixe mais caro, mas eu falo assim, que cada tempo que passa, vai acabar, viu?
P/1 – E como que se define a pesca artesanal, né, qual que é a diferença dessa pesca pra…?
R – Na pesca artesanal, a gente pesca mais a ninhada com as redes que são malha pra pegar uns peixe maior, né, e então são barco de pequeno porte, que tem os motor, motor pequeno. A gente não pode sair muito fora, a gente pesca mais aqui pra dentro, mesmo, tipo, Búzios, tem que pescar por ali, Ilha da Vitoria, não pesca muito pra fora e nem no arrasto, em grandes quantidades. Então, são os artesanais. De dez metros para cima, 15 você fala já que são os industriais, são o barco maior. Aí, já são pecador industrial, nós somos pequenos, nós somos artesanais.
P/1 – E você falou agora do tipo de embarcação, como que você define o tipo de embarcação? Que tipo de barcos que vocês usam para pesca? Assim, na pesca artesanal?
R – O nosso é até oito a dez metros, o motor é de 18 até 45 [Hp]. Povo que tem maior rede lá deve ter uns 600 metros de rede, né, e o arrasto também, pessoas que arrastam, tem uns barco lá que tem permissão para pescar camarão, são os artesanais também e pescam aqui dentro mesmo, não saem para fora, no litoral aqui, próximo de Búzios, Caraguatatuba, ali para fora da área que aqui, hoje tudo tem área de APA [Área de Proteção Ambiental], né, que é as proibição, então, fora que eles pescam, mas assim, não sai para alto mar, longe, né, é por aqui mesmo, então são os artesanais.
P/1 – E são barcos de madeira?
R – De madeira, a maioria é madeira, todos são madeira. De fibra, não tem quase, se tiver, é um dou dois, muito pouco, mais madeira, mesmo.
P/1 – E a senhora já foi bastante para o mar pescar?
R – Já, nossa. Já ficamos no mar cinco, seis dias pescando, garoupa, né, que a gente gosta de sair, Búzios, pescar na Pirabura, aí você tem que ficar, cinco, seis dias, enquanto tem gelo, você tá ali no mar, Ilha da Vitoria. Aí, em Búzios, a gente vai de manhã e volta à tarde, você sai de manhã de casa, sete horas e volta cinco, seis horas da tarde, dependendo se tá bom, fica mais um pouco. Agora, se tá dando peixe à noite, né, que é a anchova, aí você vai sete horas da noite, vem lá de madrugada, no meio da noite…
P/1 – Conta alguma história assim, no barco, de pegar ou um peixão, ou de sei lá, de algum problema, ou uma virada de tempo…
R – Virada de tempo, já pegamos várias, já. Peixe, tá acostumado, pega, né, peixe grande assim, cação, já pegamos cação de 90 quilos, numa ninhada que foi difícil, no espinhel pra por pra dentro do barco também, que é difícil. E tempo a gente pegou bastante, na travessia, nossa, muita tempestade, você sai sabendo que vai virar, mas você acha que não vai ser tão rápido, já peguei vento, nossa, do barco já chegar um lado assim, dentro do mar, né, para virar, de todo mundo ficar desesperado… Meu pai mesmo, ferrou um peixe lá em Búzios, na canoinha pequena, ele tava sozinho, o peixe arrancou ele da canoa, era um olho de boi, um peixe que também é bom de vender, é caro. E a linha tava passada no pé, linha grossa, tirou ele, sabe? Foi difícil para ele de volta, sozinho, conseguir voltar, se soltar. Ele hoje tem problema de saúde, né, que ele fraturou a costela desse jeito e ele ficou com a coluna torta devido o peixe arrastar ele muito tempo. Ele não morreu também porque segundo ele, ele fala que… sozinho, né, que não era a hora, quando não é a hora, você passa o momento difícil e não acontece nada. E foi bem difícil a situação, o peixe era grande, pesou 35 quilos…
P/1 – Então, ele veio com o peixe também?
R – Veio com o peixe, pegou depois a linha que ficou boiada, a boia, né, pegou o peixe.
P/1 – Então, ele conseguiu subir de volta na canoa…
R – Na canoa e depois, pegar a linha que tava com a boiada, que fica um pedaço de isopor e conseguiu tirar o peixe.
P/1 – E aí, esse ficou para ele ou ele vendeu?
R – Na época, venderam, corta, né, que nem eles cortavam para secar, aí tira um pouco pra comer e outro, faz pedaço pra secar no sol.
P/1 – E quais comidas vocês costumam fazer? Come bastante peixe?
R – Lá , come bastante peixe, gosto de peixe, mais o azul-marinho, né, que é um prato típico nosso, lá, tradicional mesmo, que o azul-marinho é o peixe com a banana verde, a farinha e hoje, a molecada come frito, que antigamente, frito era difícil, mas hoje, é mais o frito. Geração de hoje, tudo tem que estar frito.
P/1 – Certo. E conta pra gente um pouco desse lugar que a gente tá, a Colônia de Pescadores, então, o que significa esse lugar pro grupo de pescadores?
R – A colônia… Eu sempre lá em Búzios, minha filha tinha uns quatro, cinco anos, antes disso, o pessoal chegava lá, que nem a gente, pessoal falava: “Pessoal de fora”, e ia alguém daqui pra lá, pra reunir, pra conversar alguma coisa, o povo já mandava eu, eu que tinha que falar, eu que tinha que receber, eu tava à frente de tudo. Daí, a gente antigamente não… ninguém… A gente pescava lá, não tinha nada de documentação, não tinha nada que fosse lá para nada, então a gente vivia tranquilamente, não sabia o que era um documento de pesca, assim, alguns tinham, alguns não se preocupavam, porque não era tão intencionado, não tinha tanta coisa… Quando eu comecei a participar de reunião, essas coisas, vim para cá, tal e sempre eu fui para reunião, vários lugares, São Paulo (SP), eu já fui para Brasília (DF), Goiânia (GO), Conferência de Pesca, agora. A Colônia, a gente começou em 1994, tiramos a carteira que era do IBAMA [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis], em 94, daí depois mudou, foi mudando, daí o meu marido tinha do SUDEPE [Superintendência de Desenvolvimento da Pesca] antes do IBAMA, daí eu sempre participava de reunião, pessoal me chamando para participar também da diretoria da Colônia, então coisa que eu sempre fiz assim, e gosto, sabe, pra ajudar, para ver se consegue alguma coisa pro pescador, para trabalhar melhor, não ser tão pressionado, que você tem que ter documentação. E aqui a gente tem a Colônia. Nossa, a colônia pra nós é o lugar hoje, pra você poder trabalhar, você precisa dela, né? O pescador que tá atrás da Ilha, ele não consegue ir até São Paulo pra tirar um documento, né, não tem conhecimento, não tem como ir. Então, é por aqui que eles fazem tudo. Aqui tem as quatro colônias, São Sebastião, Ilhabela, Caraguá e Ubatuba (SP). Cada município tá com a sua e [quem está] atrás da Ilha vem para cá, a gente vai ver a documentação, então eles têm e isso daqui para eles. Hoje, o foco na pesca é o maior, por causa da documentação, que tem que estar renovando. Os que estão começando, estão tirando, né? Então, é um lugar que o povo, hoje, tem, um lugar que eles precisam para estar fazendo toda esse trâmite aí da documentação.
P/1 – E como a senhora se sente fazendo parte ou estando à frente desse grupo?
R – Eu gosto, eu falo assim, eu gosto do que eu faço, né? A gente não tem remuneração, né, trabalho voluntário. E é um trabalho, assim, que eu tenho prazer em ajudar, não sei. Cada um tem um dom, né, a gente não sabe, mas eu acho que o meu é esse daí, de sempre fiz essa parte, sempre fui de estar correndo atrás das coisas pras pessoas e aqui, nossa, eu gosto do que eu faço, tô contente, feliz pelo o que eu faço.
P/1 – Como foi andar de avião?
R – No começo, deu medo. No começo, deu medo, viu? No começo, foi meio difícil, assim, na primeira vez, eu já fui pela terceira vez. Primeira vez foi meio difícil, nossa, eu falo assim: “É melhor estar no mar – lá, o barco para, você sai remando – do que estar lá em cima, né?” … Brasília é pertinho, né, acho que uma hora mais ou menos, e depois, eu fui pra Maceió (AL) de avião também, foi mais longe. Mas tudo acostuma, né? No começo, tudo é difícil, mas depois foi tranquilo.
P/1 – E como é estar junto com outros grupos de pescadores, apesar de ir em lugares diferentes?
R – A gente aprende bastante. A gente aprende. Ultimamente, eu estive em Peruíbe (SP), comunidade de pescador também lá, pessoal também tem a parte de área preservação, mas se a gente for ver a situação, é a mesma, sabe? Eles têm alguma coisa diferente, né, a pesca é diferente o modo, alguma coisa eles fazem diferente da gente, né, daqui. Mas a situação de viver em parque, de pescar com todo problema que tá tendo de documentação são os mesmos. Então, a gente aprende muito com eles, né, conhece. E é bom, muito bom, você aprende, você vê a situação deles como é que é, se junta, é muito bom isso.
P/1 – E existe preconceito em relação ao pescador, por causa da profissão ou…?
R – Não, eu acho que ser pescador hoje é bonito, eu acho que é uma coisa… mas nunca ouvi, não, falar de preconceito.
P/1 – Como que você se sente indo para o mar com o seu filho, vendo que o seu filho escolheu seguir os passos dos pais?
R – Eu falo pra ele: hoje, a profissão de ser pescador, que nem a dele, tá sendo difícil, porque tá acabando os peixes, difícil de você vender.
P/1 – Da relação com o seu filho, como é que você se sente do seu filho ter escolhido esse mesmo caminho, apesar das dificuldades hoje, mas…
R – Na verdade, a gente que é mãe não quer, né, porque é difícil. Antes, uns 15 anos, dez anos atrás, mais ou menos, a pesca influenciava ainda porque você conseguia tirar uma renda, né? Mas hoje, no momento, não é opção para pesca artesanal de linha, de rede, que nem, a rede tá proibida, né? Proibiu a rede de espera, que era o que nós mais usava lá atrás da Ilha e agora, veio a proibição de peixe que inclui a garoupa, que é a que nós mais pesca. Então, hoje, não consegue, hoje não tem mais… Se chegar alguém lá e falar assim: “Vou ser pescador”, eu já falo assim: “Olha, não é uma boa coisa, não tem mais como você…”, porque você vai fazer o quê, os peixes estão proibidos? O que você vai fazer na pesca? E tá difícil, o meu filho, mesmo, no momento, ele tá parado, porque a rede é proibida e esses peixes proibidos, são os peixes que eles pescam, então estão aí aguardando para ver o quê que vai acontecer. O camarão começou agora, teve um defeso, mas já fracassou. É aquilo que eu te falei, tira mas ninguém põe. Quantas pessoas estão tirando do mar, né? E tá acabando. Aí, eu não sei, a proibição agora, a gente não sabe se é proibido mesmo, se é tipo por um tempo, né? Que seria bom que tivesse agora, no momento, por um tempo, pra juntar, a gente é até de acordo com isso, mas aí, teria que ter um subsídio de algum lado… Não tem como sobreviver, meu filho tem um filhinho já, uma criança, né? Mas tem uns que têm quatro, cinco, três e aí fica difícil. E a leitura deles na cidade não consegue quase nada, porque é quarta série, a maioria. Então, pra conseguir na cidade vai ser difícil. No começo, até meu filho ser pescador era uma coisa boa, mas hoje, eu já fico triste, né? Se pudesse voltar para estudar, seria bom, porque eu acho que mais quanto tempo passar, vai ficar pior, a gente não espera que a pesca vai melhorar, não, porque o jeito que tá, não vai melhorar, não.
P/1 – Conta pra gente como é que, apesar de agora proibido, como a senhora falou, né, mas como é que faz aquela rede?
R – Antigamente, fazia a rede, né? Hoje, é mais comprada pronta, já. Antes, eles compravam as linhas e eles mesmos faziam, lá, meu pai, eles mesmos que faziam a sua rede de pesca. Arrumavam, compravam as cordas, pra fazer tudo, mas hoje, no momento, tudo já vem, já compram tudo pronto. Meu filho sabe fazer. Bastante gente lá, a maioria faz, mas eles, hoje, não estão fazendo, compra pronto que é mais rápido, né? Eu também sei fazer as redes, mas hoje já não faço mais também.
P/1 – E quando fazia com aquele trabalho, fazia alguma outra coisa, cantava ou reunia e ficava contando história enquanto fazia? Como é que era? Porque é um trabalho bem artesanal…
R – É uma terapia, né? Tanto faz a rede, como o artesanato que eu faço, é uma terapia, né? Alguns, tá tranquilo ali, ficam quietos, alguns cantam, assim, os mais velhos, que nem o meu tio fazendo rede, artesanato, ele ficava cantando, né? Já faleceu ele, mas na nossa geração era mais sossegado, a gente fazia tranquilo, o artesanato bem quietinho ali. Uma terapia boa, né, mas ninguém cantava, não.
P/1 – E qual é dos artesanatos que a senhora faz que a senhora gosta mais? Acha mais bonito?
R – São cestinhas, que hoje, no momento, que nem, eu tô bastante problema de saúde, tendinite, das várias coisas que eu faço desde os 12 anos, então, ele mexe muito com você, as peças grandes, cesto pra roupa, várias peças, essa já não consigo mais fazer. Hoje, eu tô focada nos cestinhos pequenininhos que é para casamento. Eu fui uns cinco anos atrás, eu acho, quatro, eu fui em São Paulo com uma pessoa aqui da prefeitura, da Secretaria de Turismo, a moça que me levou na época era a secretária de turismo na Daslu para expor umas peças e de lá para cá, eu peguei muita encomenda, sabe, para casamento. Então, eu tô focada nos pequenininhos que é só para pôr bem-casado, no momento, eu tô terminando, tô com 200 peças para entregar agora em agosto e nesse corre-corre todo, eu só consigo fazer à noite. E à noite, eu vou para casa, material e vou fazer. É o que eu mais gosto de fazer hoje, mas todos são bonitos, as luminárias, as cestas, tudo. Os pequenininhos são…
P/1 – A senhora mora em Búzios. Como é que tá agora a viagem até lá e se já chegou a luz, você consegue trabalhar à noite?
R – Hoje, lá, dois anos alguma coisa, há dois anos e pouco, eu tenho a energia solar, mas a gente já tinha gerador, né? Já tinha um gerador a diesel, que funciona tranquilo, funciona normal e hoje tá com a energia solar, então, à noite, dá pra gente fazer as coisas, também, né? E o trajeto de duas horas e meia de barco de pesca. Eu consegui pelo projeto do governo federal, PRONAF [Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar], um empréstimo, comprei uma lancha pequena, 22 pés, para fazer esse trajeto mais rápido, porque preciso estar aqui, preciso estar lá, então, é mais rápido, faz em uma hora. Na lancha, faço em uma hora, no barco de pesca, duas horas e meia. Mas então, eu fico aqui, às vezes, fico a semana toda, às vezes, fico, venho duas vezes na semana, fico dez dias lá, dez aqui. Dependendo da necessidade, tem reunião, coisa, eu fico mais, aí v aqui tá mais tranquilo, fico mais lá, que lá eu consigo fazer mais as peças, né, aqui já não consigo ficar. Hoje, eu não parei um minuto. Então, lá para mim é mais sossegado, ninguém me acha, então tô lá tranquila, tô fazendo as peças. Mas eu gosto de fazer, é uma coisa que gosto muito de fazer é o artesanato. A pesca também tô saindo, né, mas pouco. Hoje eu tô saindo muito menos para a pesca, né? Mas de vez em quando, eu saio, mas hoje eu tô mais no artesanato, que eu tô mais nisso daqui também, então fica mais difícil de sair para o mar, ficar mais dias, né? Então, tô mais focada no artesanato, mesmo.
P/1 – E qual que é a relação de Búzios com a cidade de Ilhabela?
R – Búzios pertence a Ilhabela, né? Relação, você fala com o povo, pescador?
P/1 – É. Com o povo, pescador, com as coisas da cidade…
R – Eles têm boa relação, com o pescador, todo mundo conhece, tem uns pescadores mais antigo aqui da Ilhabela, que a gente conhece, né, são as pessoas hoje que mudou, né? A molecada que, às vezes, são mais, assim, petulante, né? Mas os mais antigos, a gente tem uma boa conversa, ainda, sabe? Assim, tranquilo.
P/1 – Se sente parte da cidade? Mesmo estando longe?
R – Sim. Acho que como pertence tudo a aqui, a gente… A gente tá junto com todos, aí, com tudo.
P/1 – E conta pra mim quais são os seus sonhos?
R – Hoje, ficar em casa quieta fazendo o meu artesanato (risos). Eu acho que pra mim, já assim, eu já tenho 54 anos, né, e meu sonho é que os meus filhos consigam ter uma vida melhor, que todos estão bem hoje, graças a Deus, o importante é a saúde, né, não importa… mas minha filha, graças a Deus, já tem uma profissão, né, e o meu filho que tá na pesca, tenho o meu netinho que tem quatro anos e pra mim, hoje, eu quero mais fazer o que eu tô fazendo e parar um pouco, assim, ficar em casa, mais, sabe, e voltar a ter a vida mais tranquila, né, que é uma vida corrida que eu tenho. Mas meu sonho é continuar com o meu artesanato até a hora que Deus me der fôlego de vida, ainda aqui, que a gente aqui, a gente sabe, e tô aí, sou evangélica, então, acho que tudo tem a permissão de Deus na nossa vida, a gente não faz as coisas por acaso, tudo acontece, então até onde Deus permitir, eu tô aí fazendo essa parte pra fazer o bem, né, para as pessoas. Espero que eu esteja fazendo aqui, por aqui, eu espero, eu não sei, tento fazer as coisas pra ajudar, pra agradar todo mundo, mas é um pouco difícil, mas é o que eu luto, sabe, acho que eu penso que nem aqui, aqui é para todo mundo, eu penso em conseguir, sabe, que as pessoas consigam na pesca trabalhar melhor, consiga seus benefícios, as coisas que seja melhor, mas é isso.
P/1 – E qual que é a importância da pesca para a cidade de Ilhabela, assim, qual que a senhora diria, desde os tempos dos seus avós, assim, dos seus pais, seu?
R – Acho que, como Ilhabela é uma cidade turística, né, a pesca acho que influi muito, porque tem os comércio, as peixaria, né? A pesca é uma coisa na Ilha que não tem como ficar sem, porque os peixe fresco é tirado daqui, camarão, tudo vem, tudo daqui próximo, atrás da Ilha, na frente. Então, acho que a pesca aqui não poderia acabar, ela tinha que continuar porque como é um lugar turístico e tem os restaurantes, as pessoas… Acho que no nosso pescado, tinha que ser mais valorizado, né, dar mais valor, ter mais condições de trabalhar, que a gente não tem muitas condições de trabalhar aqui na Ilha. Hoje, tudo cresceu, muita coisa vem de fora, muitos peixes e acaba atrapalhando… Uma parte que atrapalha bastante isso aí. E o que eu vou falar para você é que deveria ter mais condições melhor da pesca, condições assim, tipo, documentação nossa de pesca, que tá aí, travada em São Paulo, que foi passando por vários ministérios, agora, secretaria e o pescador tá aí pescando de qualquer jeito, não porque ele quer, a gente também não quer que aconteça, mas devido lá em cima… Não depende da gente, né, a gente faz o impossível para conseguir, mas acho que tem que melhorar muita coisa ainda, sabe, a parte da pesca, ainda agora, hoje, se for para continuar, teria que melhorar bastante coisa.
P/1 – Sabe o que eu pensei? Como que vocês fazem para arrumar gelo? Onde que pega?
R – Então, gelo aqui na Ilhabela sempre foi muito difícil, né? Uma dificuldade muito grande. Que nem, quando eu viajava com o meu pai na canoa, tinha a fábrica ali no Barreiro, né? E ali, tinha uma fábrica grande, que nunca faltava gelo, sabe, a gente pegava bastante. Daí, quando parou no Barreiro essa fábrica, que fechou, aí sempre veio de fora, caminhão, eles trazem gelo aqui, de caminhão… Agora, recentemente, ali no píer ali, né, que foi uma compensação da Petrobras, para o pessoal aqui do Saco do Indaiá, para atender pessoal ali, do Jabaquara e também, vender para os pescadores artesanais das comunidades, né? Tem vezes que nem consegue, porque tem que ter uma demanda grande e também às vezes, ali, a máquina não é muito grande, acontece os problemas, fica parado, tem que vir de fora. Gelo sempre foi uma dificuldade, né? Seria bom que tivesse uma fábrica maior, uma coisa maior, porque foi feita uma coisa que não dá para todo mundo, tem as embarcações que eles têm que suprir, que são a prioridade, que foi a compensação para eles e, se sobrar, para os de fora. E tem vez que não acontece, que faz pouco, né? Que nem, esses dias, estava quebrado, também. Então, gelo sempre foi difícil, parte difícil, aqui.
P/1 – E a minha última pergunta, eu queria que você comentasse, assim, rapidinho quais foram as transformações que a senhora acompanhou lá na Ilha de Búzios, né, se aconteceu alguma mudança na cidade, na comunidade…
R – O que aconteceu uma transformação assim, que a gente vinha lutando, que a gente achava que era muito difícil é a luz, né, que entrou a energia solar. A única coisa que aconteceu lá, a mudança, ela é pouca, é fraca, mas deu uma melhorada, né? Ela não é uma luz suficiente assim, porque quando chove, fica muito frio, ela desliga, porque são placas solares, sem sol, elas não funcionam muito bem, né? Então, mas essa foi a mudança que eu vi nesses anos todos aí…
P/1 – Porque continuou uma vila pacata…
R – É. E as casas do pessoal melhorou, assim, as condições de pesca. Mas o resto, continua a mesma coisa, mesma… Não mudou nada.
P/1 – Aí, agora a minha última pergunta é como é que foi para a senhora contar um pouco da sua história pra gente, agora, essa tarde?
R – Nossa, uma grande surpresa, viu, porque eu não esperava por isso. Não tava muito preparada, né, pra isso, então cedo, a gente acorda e hoje, amanheci assim, tenho pressão alta, amanheci meio assim, não tava bem, então foi meio surpresa, não sei se eu agradei vocês, se tá bom, se eu consegui fazer aquilo, espero que tenha feito a coisa certa. Acho que eu falei de tudo um pouco e é isso, sabe? Eu espero que tenha ajudado vocês nessa parte aí.
P/1 – Ajudou sim, eu vou pedir, na verdade, mais uma coisa antes da gente desligar, se a senhora pudesse deixar um recado, assim, imaginando uma cena, a assenhora tá na ponta do cais e tem uma embarcação de pescador indo para o mar assim, quais são as recomendações que você daria assim, para ele, de cuidados ou...
R – Olha, hoje eu não falaria de cuidado do tempo, mais, né? Não, cuidado hoje para o pescador ir para o mar é devido as leis, que criou-se muitas leis, muitas proibição, eu te falei, e o cuidado hoje é com a documentação, porque às vezes, eles estão aí, é um sacrifício para pegar um pouco de peixe, e tipo a carteirinha profissional deles, ela tem que ser renovada todo ano e passa rápido, acaba deixando para trás e acha que tá tudo bem, quando sai, às vezes, pega um peixe, fica contente que pegou um pouco de peixe, vai ver, tá com o documento lá faltando, porque não depende nem deles e nem da Colônia, e acaba acontecendo alguma coisa, então eu falo assim, para o pescador, hoje, eles têm que prestar muita atenção na documentação antes de sair para o mar, se tá tudo ok, porque é proibido isso, proibido aquilo, então você fica sem saber.
P/1 – E o que mobiliza a sua luta? Estar desse lado e vim fazer esse trabalho voluntário em prol do coletivo, dos outros? Será que de repente, tem alguma ligação com você desde pequena, também, cuidar dos seus irmãos, quer dizer, como é que você encara isso de vir para cá…
R – É um dom, sabe? Eu acho que talvez seja isso, porque sempre fiz, né? Que nem transporte dos professores, antigamente, eu e o meu marido, a gente sempre fez isso de graça, nunca cobrava nada.
P/1 – Ah, vocês levavam e traziam no barco de vocês?
R – De graça. Agora, há uns dez anos, que a gente começou com a prefeitura, tem um contratozinho. A escola era estadual, agora municipalizou, a gente sempre fez isso e você tem aquela boa vontade, que você já tem um dom, né, acho que tudo é por Deus, que eu falo pra você, só Deus para dar isso, de você fazer as coisas assim e não ter nada em troca, né? Então, a recompensa, eu acho que é Deus dar saúde e força e vontade porque sabe, eu não me canso. Se eu precisar sair para reunião, acabei de chegar, eu vou para outra, eu vou e eu não reclamo, eu faço aquilo, sabe, com uma boa vontade, eu falo, é um dom de Deus, né? Só Deus mesmo, agradecer a Deus por tudo, que é ele que é maior na nossa vida … Eu como evangélica, falo pra você, que tudo que eu vou fazer e as coisas acontecem, porque primeiramente, é Deus, né? Aí, o homem chegou e tá aí, com a tecnologia, avançando, fazendo e hoje, tudo é pelo dinheiro, né, mas eu acho que o pouco que a gente tem, Deus prepara e é uma coisa que não vai faltar, Ele não vai deixar faltar, não é que eu tenho que ganhar, que eu vou precisar… É uma coisa que eu só tenho que agradecer, Deus é bom na nossa vida e Ele tá aí pra nos encaminhar em tudo e dar força. Eu faço de coração, sabe, sem reclamar, se a pessoa acha que eu não tô fazendo bem, que eu tô fazendo alguma coisa que não tá agradando, eu peço que me perdoe, mas eu faço de coração, não é da boca, sabe? Vem de dentro, já é um dom de Deus, mesmo.
P/1 – Então, quer dizer, que os professores é que vão para Búzios todo dia?
R – Não, ficam o mês inteiro lá, sempre foi assim. Professor vai, ele mora na escola, ele só vem uma vez por mês para reunião aqui. Que nem, hoje é…
P/1 – Quatorze.
R – Professor vem no dia 30 e no dia cinco, ele já tá voltando. Trinta do mês passado, um exemplo, e cinco desse mês, seis, já tá voltando. Ai, só vem no final do mês, de novo. Mora na escola.
P/1 – E aí, vocês que levavam?
R – Sim, hoje a gente leva e cobra, né? Mas tem um contrato, a gente cobra alguma coisa pra levar eles, a merenda. E antes, nunca passou pela cabeça, sempre fizemos, tem professor, ainda, que vai na comunidade visitar e sabe como é que era a dificuldade, tudo… mas a gente sempre fez isso.
P/1 – Tá certo, dona Ditinha, a gente, em nome do Museu da Pessoa e também, da prefeitura de Ilhabela, agradece a sua entrevista. Muito obrigada.
R – Obrigada eu, que Deus abençoe.
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