Projeto Memórias do Comércio de Ribeirão Preto 2020 e 2021
Ana Paula Tasinaffo de Mello – Modas Paula
Entrevista História de Vida HV_041
Ribeirão Preto, 07 de abril de 2021
Transcrita por Selma Paiva
P1- Bom, pra começar, eu gostaria que você dissesse o seu nome completo, a data de nascimento e o local que você nasceu.
R1- Meu nome é Ana Paula Tasinaffo de Mello. Nasci em oito de abril de 1969, em Ribeirão Preto.
P1- Legal. E qual é o nome do seu pai e da sua mãe?
R1- É Paulo Sebastião Tasinaffo. E a minha mãe, Nelza Aparecida Ferri Tasinaffo.
P1- Legal. Você conheceu ou conhece ainda os seus avós? Por parte de pai e mãe.
R1- Não. Já não tenho nenhum. Já faleceram, já. Os meus avós.
P1- Você pode falar o nome deles, se lembrar?
R1- Os pais do meu pai - que o meu pai também é falecido, né - vieram da Itália, né? Dos dois lados, eu sou descendente de italianos dos dois lados. Os dois vieram da Itália. A minha avó, por parte do meu pai, nasceu aqui em Batatais, né?
R2- É.
R1- Batatais. E a minha avó, os meus avós também, por parte da minha mãe, vieram da Itália. Só que eles nasceram em Cravinhos, os meus avós. Então, todos somos descendentes cem por cento de italiano. (risos)
P1- De italiano.
R1- É.
P1- Que legal! E você sabe o que eles vieram fazer em Cravinhos, em Batatais? Eles foram trabalhar naquelas fazendas de café? Ou já foram pra cidade?
R1- Isso. Foram trabalhar em fazendas, né, mãe?
R2- É.
R1- Foram em fazendas de café.
P1- Em fazendas.
R1- É. Isso.
P1- E aí a sua mãe já nasceu em Ribeirão? Ou nasceu lá, nas fazendas?
R2- Ribeirão.
R1- Não. Nasceu em Ribeirão, né? O meu pai também. Nasceram em Ribeirão, já. Porque aí eles já tinham a casa aqui em Ribeirão, né? O meu pai sempre... o pai dele era...
R2- Chofer de praça.
R1- Chofer de praça, na época eles falavam, né? Chofer de praça.
P1- É. Chofer de praça.
R1- É. Isso. E eles já moravam aqui. Já tinham as suas casas aqui em Ribeirão. Tanto pro lado, parte da minha mãe, quanto por parte do meu pai.
P1- Legal. E você se lembra de quando você era pequena, de alguma tradição que ficou na família, da Itália, como comida italiana, música italiana?
R1- Tem por parte da minha avó, por parte do meu pai, que ela sempre fez o macarrão em casa. Sempre fez a massa.
P1- Sim. Pra reunião?
R1- É. Sempre fez. E sempre, todos os domingos o almoço era lá, reunia a família. E era sempre o macarrão que ela fazia a massa em casa. É. Sempre. Galinha caipira, ela também criava, a minha outra avó, por parte da minha mae, criava galinha em casa. Então, o nosso almoço também, quando reunia, ela mesmo fazia, sabe, essa galinha. Então, tanto de um lado, como do outro. O que marcou é esse macarrão, né, que a minha avó fazia a massa em casa. Muito bom.
P1- Imagino. E eles vieram, pra Ribeirão pra trabalhar, né? Eles conseguiram sair da fazenda, que era uma coisa difícil, na época, né, trabalhar na fazenda?
R1- O meu vô era chofer, né? E também, depois que os filhos, que eles vieram moram em Ribeirão, que eles nasceram, aí os filhos foram... eram nove filhos, né, mãe?
R2- É.
R1- Minha avó, nove filhos. Aí cada um foi tomando uma profissão, né? Então, já foi cada um, assim, tendo o seu sustento, né? E foi ajudando. A mesma coisa, a minha mãe. A minha avó, eles vendiam ovos, galinha, naquela época, né? Então, eles já tinham um sustento, assim. Foi assim, uma época assim, era muita pobreza, assim, dureza, né? Mas conseguiram, né? Conseguiram.
P1- E aí o seu pai e a sua mãe, vocês sabem como eles se conheceram? Pergunta aí pra ela. Ou se você já sabe.
R2- Ah, eu trabalhava no Magazine Chapelaria Olímpica.
R1- E o pai?
R2- Na Principal.
R1- Ah. A minha mãe trabalhava na Chapelaria Olímpica, que era lá no Centro, né? E o meu pai na Principal, do “seu” Monteiro. Eles eram vendedores. E aí se conheceram.
R2- Ali. (risos)
R1- Ali. Aí foi indo, né? Foi no namoro. E eles ali. Eles eram vendedores. Aí ele escolheu... o pai quis montar a feira, né?
R2- É. Uma barraca.
R1- É. Eles montaram uma barraca em feira. Eles eram feirantes.
P1- Que legal!
R1- Eles eram feirantes.
P1- E aí eles se casaram, né? E você nasceu...
R1- Casaram em 1963. E eu nasci em 1969. Minha precisou fazer tratamento pra engravidar. E engravidou em 1968, né, porque eu nasci em abril de 1969. Aí, que eles tinham... quantas feiras, mãe?
R2- Duas barracas.
R1- Tinham duas barracas. Em duas feiras, né? Então, um ficava, o meu pai ia, deixava a minha mãe, ficava nessa feira, que era tudo na madrugada, né? Depois ele vinha pra outra. Depois ele ia buscar. Aí a minha mãe engravidou. Ele já tinha começado aqui, a loja.
P1- Ah, já começou logo que você nasceu?
R1- É. Ele tinha essas duas bancas de feira. Aí começou a loja em 1971, mais ou menos. Não. Antes, né? Em 1967.
R2- É.
R1- Em 1967, mais ou menos, começou com a loja. Aí ela engravidou em 1968. Aí ele não quis mais que ela fosse em feira.
P1- Sei.
R1- Porque ela ficou grávida. Aí veio pra cá, pra loja. Aí eles foram finalizando a feira, né? Foram finalizando e ficaram só com a loja aqui, que é na Avenida Saudade, aqui, que é no mesmo prédio que eu estou hoje. No mesmo prédio.
P1- Desde o início?
R1- Desde o início. É, aí eles tinham aqui, que era alugado, né? Aqui era alugado, que era tecidos, confecções, armarinhos. E não era Modas Paula, o nome, era Elite.
P1- Elite.
R1- Elite. Era Elite...
R2- Elite...
R1- Elite Presentes Cama Mesa e Banho Tecidos, uma coisa assim. Era Elite. Aí ele abriu na esquina, na Avenida Saudade, 969. Aí, só tecidos. Tecidos, cama, mesa e banho. E aqui ficou só confecção, né? Aí, na época, eu nasci. Depois que eu já tinha nascido, aí apareceu uma loja de Campinas, com esse nome Elite. Aí entraram com uma ação pra tirar o nome, pro meu pai não... só que, assim mesmo, o meu pai ganhou o nome, porque ele já tinha o registro dela, né? Aí, como eu nasci, ele mudou o nome. Aí ele falou: “Vamos mudar”. Mesmo que ele ganhou, ele falou: “Não. Eu vou mudar”. Aí colocou Modas Paula. Era Modas Paula e Paula Tecidos. Era Modas Paula aqui, que era só confecção. E Paula Tecidos na cama, mesa, banho e tecidos, né? E assim surgiu. Aí, aqui, eu era bem criança também, ele comprou esse prédio aqui, que nós somos donos. E depois, o da esquina, ele pagava aluguel. Ele ficou um tempo...
R2- Que era dos Paton.
R1- Que é dos Paton, né? Deles. Aí depois ele fez uma reforma, aumentou aqui. Fez uma reforma aqui do prédio e aí passou num lugar só. E até hoje é tecido, confecções, presentes, que nós trabalhamos.
P1- Legal. E, Ana Paula, quando você nasceu, onde que vocês moravam? Que bairro era, de Ribeirão?
R1- Era no Campos Elíseos. Na Rua São Paulo, ali no... se eu não me engano...
R2- 785.
R1- ... 785, em frente onde era a Escola Círculo Operário, antigamente.
P1- Sim. E assim, essa época, você nasceu em 1969, você pegou o comecinho da década de setenta, quando você era criança, Ribeirão era muito diferente, né? O que você lembra lá do seu bairro, como ele era? Você tem alguma imagem, assim, uma descrição do lugar, pra dar pra gente?
R1- Naquela época lá, eram só casas, né? Assim, tinham algumas casas que eram tipo com grandes quintais, tipo uma chácara pequena, sabe? Você lembra daquele do lado, ali? Agora, hoje, ali, você passa ali na Rua Sampaio, a maioria ali é tudo comércio, né? Quase não tem casa ali, tem algumas coisas só, de casa, algumas casas, só. Mas a maioria era só casas, né? E tinha algumas casas que eram, assim, um quintal bem grande que tinha e que, geralmente, você tinha uma galinha, né? Era assim, mais antigamente, né?
P1- Pomar, né?
R1-. É. Eu fiquei nesse endereço aí, até uns sete, oito anos, se eu não me engano. Na Rua São Paulo.
P1- Aí vocês mudaram pra onde?
R1- Pra Rua Ceará.
P1- No mesmo bairro?
R1- Entre a... que rua que é lá? Dom Alberto e Princesa Isabel, se eu não me engano.
R2- Isso.
R1- Naquele quarteirão ali.
R1- Que era alugado, também, a casa, né? Ali, lá era alugado. Aí fiquei lá. Ficamos lá até, mais ou menos, eu tinhas uns catorze anos. Aí nós fomos...
R2- Pra Hermínio...
R1- ... pra Hermínio Morandini, no Jardim Mosteiro. Aí o meu pai comprou a casa, né? Aí lá é, até hoje, nossa. Só que está alugada, que a minha mãe mora em apartamento. É mais ou menos isso.
P1- E você se lembra de quando você era criança? Assim, das brincadeiras? O que vocês faziam na rua? Era uma infância muito diferente, né?
R1- Era muito diferente. Eu lembro que eu brincava na rua, jogava vôlei. Ali, você podia sentar num portão. Isso eu peguei. Isso eu peguei. Eu brincava de boneca, com treze, catorze anos. Isso eu lembro. (risos)
P1- As ruas do bairro já eram asfaltadas, né? Porque _____ (13:52) da cidade.
R1- Eram. Já eram.
P1- E vocês costumavam ir bastante no Centro, quando você era criança? Jovem. Não precisa ser tão criança, assim. Mas vocês iam passear aonde, em Ribeirão? O que tinha pra fazer, nessa época?
R1- Quando, na época que eu comecei mais ir pro Centro, foi quando eu comecei a namorar o meu esposo, né? A gente ia pra comer pão de queijo, que naquela época não tinha muitos lugares, né, assim. E tomava vitamina. Era esse...
R2- Os passeios.
R1- ... os passeios, né? Durante o dia, assim, que a gente, às vezes, saía pra dar uma volta no Centro. E não tinha taaaanta loja. Eu lembro da Americanas, que a gente gostava de ir comer o misto quente que tinha na Americanas. Isso eu lembro. O que mais, ali? Ia no Centro mais pra dar uma volta.
R2- Gostava muito do parquinho.
R1- A gente ia muito em parquinho, parque de diversão. A gente gostava muito. (risos)
P1- Que legal! E, Ana Paula, e na escola, a sua vida na escola? Você foi estudar aonde, assim, quando criança?
R1- Círculo Operário. É. Eu estudei no Círculo Operário. Depois, quando eu fui pro primeiro colegial, no Thomaz Alberto. Aí eu fui fazer Magistério. Na época tinha Magistério, né? Aí eu fiz no Santa Úrsula, o Magistério. Aí, depois eu já me formei, já fui trabalhar no Vita et Pax, eu dava aula pra criança. Trabalhei no Vita et Pax da Lagoinha. Meus pais ficaram aqui na loja, né, eles tinham a loja, mas eu fui trabalhar, fui dar aula. Depois eu fiz a Pedagogia eu me formei em Pedagogia.
P1- Certo.
R1- Continuei dando aula. Aí os meus pais continuaram aqui na loja. Mas eu sempre vinha trabalhar. Eu, sempre, nas minhas férias, trabalhava aqui na loja: em dezembro, eu os ajudava, julho eu os ajudava. Ficava sempre aqui, né, que eu podia, eu vinha. Aí, em 2004, eu fui embora, fui morar fora do país, né, com o meu esposo e meus filhos. Nesse intervalo, eu já tinha os meus filhos. Quando eu fui trabalhar no Vita et Pax, nasceu a minha filha e depois nasceu o meu filho. Aí nós fomos embora pra Coréia do Sul em 2004, 2005 e 2006. Aí voltamos. Aí, nesse intervalo, o meu pai tinha falecido, em 2005. Aí, quando eu voltei, eu não voltei mais pra dar aula. Aí eu vim pra loja com a minha mãe, né? Porque a minha mãe continuou, assim mesmo, com a loja.
P1- Trabalhando aí.
R1- Trabalhando aqui.
P1- Mas, antes disso, quando você era bem jovem ainda, você ia pra escola de manhã, todo dia, a pé, né? Aí...
R1- A pé. É porque...
P1- Ahn?
R1- ... a escola era em frente à minha casa.
P1- Ah, sim. Era só atravessar a rua. Certo.
R1- A rua. É.
P1- E você convivia muito aí na loja, quando era criança? Ia aí todo dia, quase, assim?
R1- É quase todos os dias. Às vezes, sim. É, vinha. Vinha com eles.
P1- Certo. E você, quando estava estudando, não pensou em ser comerciante, fazer um curso de contabilidade ou de administração, pra herdar a loja? Pra ficar?
R1- Às vezes eu pensava. Mas aí, depois, não sei o porquê também, hoje eu paro pra pensar, né, mas deu um clique pra fazer o Magistério e depois fazer Pedagogia, né? E eu dava aula. Aí eu acabei gostando, né? E ficou por isso. Mas hoje eu sinto falta dessa área aí, sabe, de ter estudado alguma dessas áreas.
P1- Sim. E você gostava de qual matéria? E, quando se tornou professora, na Pedagogia, dava aula do quê?
R1- Alfabetização.
P1- Ah, sim.
R1- É. Alfabetização. Eu dava aula pra criança de três a sete anos.
P1- Sim. E aí, quando você entrou na faculdade, você foi pra onde? Qual faculdade que você foi fazer? O Magistério foi no Santa Úrsula, né?
R1- É. Eu fui pra Barão de Mauá.
P1- Barão de Mauá.
R1- De Mauá. Isso.
P1- E aí, quando você estava na faculdade, você teve a certeza de que era isso que você queria? Ou você sempre pensou na loja, um pouco?
R1- Não. Eu gostava, porque eu gostava de dar aula. E também os meus filhos estudavam lá. Então, nós estávamos todos juntos. Então, eu achava isso, pra mim foi importante, eu estar junto com eles. Porque a minha mãe, quando a gente era criança, também sempre trabalhou o dia todo. E muitas vezes, quando a gente era bem pequeno, nós ficávamos com a minha avó, né, na casa da minha avó. Então, às vezes a gente queria ficar com mãe, né? E os meus filhos, como podiam me acompanhar, desde bebê, desde que nasceram, então eu dei prioridade a isso.
P1- Ah, sim. Legal. E aí, mais crescida, como você conheceu o seu marido?
R1- O meu esposo, foi através do Clube de Regatas. Ele conhecia primeiro o meu pai também. Porque o meu pai sempre foi festeiro, sempre foi muito alegre, né? E foi através disso. E no Clube de Regatas o meu pai tinha um time de futebol, lá no Regatas, que era... como que chamava o time?
R2- Patrocinador.
R1- Ele patrocinava. O Modas Paula e Paula Tecidos patrocinavam o time, né?
P1- Certo.
R1- Aí, fui conhecendo. Eu conheci o meu esposo, eu tinha quinze... eu fiz quinze, anos, né?
R2- É.
R1- Aí eu o conheci. E eu tinha vinte e um anos, nós casamos.
P1- Sim. Aí você já era professora?
R1- Já era. Eu comecei com... eu casei em 1990. Em 1988, 1989... em 1989 eu já tinha arrumado, eu era assistente, na verdade, o primeiro ano, né? Depois que eu vim ser professora, no Vita et Pax.
P1- Que legal! Certo. E aí vocês se casaram, né? E como foi essa aventura aí, na Coréia do Sul? E, primeiro, qual é o nome do seu esposo e...
R1- O meu esposo é Leandro.
P1- Leandro...
R1- O meu esposo é Leandro Maciel de Mello. A minha filha chama Lívia. E meu filho chama Leandro, que é o nome do pai. (risos)
P1- E por que vocês escolheram a Coréia do Sul?
R1- Porque o meu esposo era goleiro, né? E sempre ele foi goleiro. Depois, ele se tornou treinador de goleiro. E, como treinador de goleiro, ele teve o convite, né? Aí nós fomos embora. Ele foi primeiro. Depois eu fui com os meus filhos. Aí ele ficou 2004. Ficamos 2005 e 2006, lá. Aí retornamos, que eu te falei, pra cá. Aí eu vim pra loja. Aí ficamos cinco anos aqui na loja. Eu fiquei cinco anos com a minha mãe. Depois retornamos pra Coréia de novo, novamente, em 2012.
P1- E o que você achou da Coréia? O que você gostou de lá? Como foi a sua experiência lá?
R1- Eu não posso falar nada. Magnífico. Um país magnífico. Então, até hoje, eu sinto muito, muito, por ter vindo. Por mim, eu volto, moro lá. Até hoje.
P1- Qual era o time?
R1- Era o da capital, Seoul. O da capital.
P1- Seoul?
R1- Seoul. É. O FC Seoul. Aí a minha filha formou lá. Em Administração de Empresas.
P1- Nossa! Lá na Coréia?
R1- Na Coréia do Sul. O meu filho está estudando lá. Ele faz Engenharia Mecânica lá, porque ele acabou ficando, né? E eles falam inglês e coreano, né, os meus filhos. Eu estudei um pouco, eu sei assim, o coreano, eu me comunicava, né? Não é fluente, nada, mas eu me comunicava. Eu me virava. O meu esposo e eles são os que sabiam mais, porque o meu esposo convivia no time de futebol, né e os meus filhos na escola.
P1- E quando tinha jogo, você ia no estádio ver?
R1- Todos. Todos. Todos. E torcia muito. (risos)
P1- Imagino.
R1- Muito bom _______ (23:29).
P1- Ele nunca chegou a trabalhar no Botafogo ou no Comercial?
R1- Já. Quando ele era goleiro, ele jogou no Comercial. E jogou uma época, um período curto, que eu não sei te falar, até ele poderia te falar o período, no Botafogo, quando tinha aspirante. Ele era do profissional, mas aí ele treinava aquele jogo de aspirantes, que tinha antes do jogo. Eu não sei se eu estou falando certo pra você, isso.
P1- Jogo anterior. É. É verdade.
R1- Como goleiro, ele passou pela Inter de Limeira. Ele subiu com a Inter de Limeira, em 1996. Ele passou pelo Paraguaçuense. Ele passou pelo Comercial, pelo Botafogo. Agora, como treinador de goleiro, ele já foi, ficou cinco anos no Santo André, ele era treinador de goleiro, lá. Aí, de lá que nós voltamos pra Coréia, em 2012. Foi de lá. É. E também, deixa eu ver... Araras ele também trabalhou no União São João, de Araras.
P1- Mas a experiência mais legal foi lá na Coréia, né? Era um time bom, primeira divisão, né?
R1- É. Magnífico. Um país magnífico. Isso, eu falo. (risos)
P1- Aí vocês voltaram por quê? Por que acabou o contrato? Ou vocês tiveram saudade?
R1- Aí acabou o contrato. E o treinador que ele trabalhava junto foi embora pra China, na época. Aí, depois aí nos retornamos. Mas, de vez em quando, eles entram em contato, perguntando algumas coisas. Então, alguma chance. Às vezes, tem até alguma chance, né? Mas meu esposo, agora ele fala que ele quer ficar aqui na loja, né?
P1- Sei. Trabalhando com você?
R1- É. É o que a gente quer, né? Quer que abra a loja, pra gente poder trabalhar, né? Porque ______ (25:35). (risos)
P1- Está no lockdown, é verdade.
R1- É. É.
P1- Ana Paula, e aí na loja? Depois de viver toda essa aventura que você me contou, porque ir morar na Coréia, num lugar tão diferente assim é bem legal, né, mas aí você voltou pra aí e assumiu a loja. Como é que você viu essa fase aí? Você conseguiu se inteirar...
R1- Foi complicado, um pouco, assim, né? Porque eu estava acostumada lá, ficar lá com os meus filhos. Foi a primeira vez que eu separei dos meus filhos, né? Porque aí eles ficaram, pra terminar estudos, né? Então, tudo isso foi complicado. Aí você chega aqui, as coisas mudaram muito, da época que era do meu pai, da minha mãe. Até hoje, né? A gente está mudando aos poucos, as coisas aqui, assim, na loja. Então, é uma modernização em algumas áreas. Então, você sente. É um pouco trabalhoso isso, né? Porque aí você vai fazendo aos poucos, de acordo com o que dá. Porque tudo envolve, também, gastos. Então, nós estamos fazendo, tentando fazer o melhor, modificar, né?
P1- E, Ana Paula, no comércio existem várias atividades, né? O comerciante tem que atender o cliente, tem que fazer contabilidade, tem que saber comprar o produto, saber pôr preço, saber vender, saber contratar funcionário. O que você acha mais difícil?
R1- Contratar funcionário.
P1- Contratar funcionário?
R1- Funcionário.
P1- Sim, sim.
R1- Hoje a gente tem uma muito boa, né? Graças a Deus. Mas é mais complicado, eu acho. Pra você, assim... a pessoa, assim... porque eu acho que um funcionário, quando você contrata, o funcionário também tem que se sentir bem trabalhando no lugar, né, pra corresponder, porque senão... ou seja: vestir a camisa, como diz o português claro, né? E hoje eu acho muito complicado, né? Tanto é que nós estamos mais em família aqui, que é eu, o meu esposo, a minha mãe, que eu tenho uma tia e uma funcionária. A gente tinha pensado, a gente estava com intenção de contratar mais funcionário. Mas, agora, sem cogitação, porque tem que abrir as lojas, né? E tem que ver como é que vai ficar, né?
P1- É verdade.
R1- Então, uma das coisas que eu acho mais complicada é essa.
P1- Está certo. E o que é o forte da loja? O que vende mais, assim?
R1- Tecido. E confecções de senhoras, que a gente trabalha. Porque eu tenho confecção de masculino também. Masculina, feminina e infantil. Mas a que nós mais vendemos, é a pra senhoras.
P1- Sim. Legal. E os tecidos ainda vendem bastante? Porque o pessoal compra o tecido pra fazer roupa, né?
R1- Vende. Os tecidos, a gente mantinha, porque tinha sempre, assim, a clientela que pegava, comprava, né? Só que, depois da pandemia, quando começou, o ano passado, vendeu muito, de lá pra cá aumentou muito a venda de tecido. Muito. Vendeu bastante. Porque o pessoal, eu acho, eu acredito que foi pra artesanato, né?
P1- Ficam mais em casa, né?
R1- É. Pra confecção de máscaras, né? Então, envolve tudo isso daí. Mas isso aí aumentou, de um ano pra cá, muito. Aumentou muito a venda.
P1- Legal. E vocês compram como? Assim, vocês vão pra São Paulo? É muito comum, né? O pessoal sai ______ (29:59).
R1- Tem fornecedores de tecidos que nos fornecem. Tem fornecedores também de algumas... porque nós vendemos também peças miúdas, né, meia, que isso, geralmente, você consegue fazer o pedido, você tem os fornecedores. Agora, quando é moda, eu vou, porque eu gosto de ver, entendeu? Eu quero saber o que eu vou trazer. Isso, eu vou. Eu gosto de ir.
P1- Legal. E propaganda? Vocês fazem propaganda? Antigamente era comum, toda loja fazia propaganda no rádio, no jornal. Vocês fazem?
R1- Sim. Não! Assim, em rádio e televisão, não. Ultimamente, nós temos, tem uma pessoa que faz pra mim no Instagram. Nós temos Instagram, o Facebook, né? Por enquanto é nas redes sociais, tá? É assim.
P1- E dá certo, né? Porque você anuncia o produto, né, específico _____ (31:01).
R1- Sim. É. Aí eles entram em contato por whatsapp, né? Entram em contato no whatsapp. Então, hoje nós estamos _______ (31:11). É.
P1- Legal. E aí, Ana, pergunta pra sua mãe, eu acho que até a sua mãe vai saber responder mais que você essa pergunta. A loja é muito antiga, já. No Brasil, a gente teve um monte de crise econômica, né?
R1- Aham.
P1- E sempre é muito difícil pro comerciante passar por essas crises. Teve aquela hiperinflação. Teve quando congelou os preços, lembra? Você não podia subir o preço. Depois o Collor tirou o dinheiro da poupança de todo mundo. Aí veio o Plano Real. Aí veio a pandemia. Pergunta como vocês enfrentaram esses desafios aí. Como vocês passaram por isso? Como foi?
R2- Sim. Foi a época que estava construindo.
R1- Ah, foi. A minha mãe, assim, sempre passou, né? Foi difícil, né? Por exemplo: na época do Collor, que ele tirou o dinheiro, o dinheiro que eles tinham lá era pra construir aqui. E tinha já começado a construção. Aí ele tirou. Aí foi assim, aí eu lembro que parou, uma época, a construção, né?
R2- É.
R1- Depois que continuou. Foi assim.
R2- Foi aos poucos.
R1- Mas sempre tentando fazer pra que não fechasse, né, a loja?
R2- É, mas...
R1- Aí na época também, a minha mãe - o que ajudou, né, mãe? - vendia uniformes. Pra, na época, a Santa Úrsula, a Auxiliadora. Muitas escolinhas, essas, às vezes pequenas, né, a gente vendia. A gente tinha essa tradição, né? Então, foi o que deu pra superar, assim, quando vinham essas crises, né? Principalmente quando era a da inflação, né, eu lembro, eu era criança.
R2- Nossa!
R1- Toda semana, suba a mercadoria.
P1- Toda semana?
R1- Toda semana. Isso aí eu lembro. Eu era criança, mas eu lembro disso daí. Eles reclamando, eu lembro.
P1- E deve ser muito difícil pro comerciante, também, colocar o preço na mercadoria. Você já pegou isso aí? A sua mãe deve ser fera em fazer isso. Mas você já pegou isso? Porque você compra a mercadoria e tem que saber quanto que você pode pôr pra vender, aquilo lá.
R1- É. E você tem que medir muitas coisas. Porque tem a concorrência, né? Aí vem o seu lucro.
R2- ______ (33:54) muito.
R1- E é que nem ela dizendo, hoje, o lucro, não está podendo pôr muito, hoje, né? Então, cada fase é uma fase, é uma coisa assim, né? É impressionante.
P1- Sei.
R1- É. Então, esse negócio varia muito, da época. Tem mercadoria que, às vezes, dá pra você colocar um pouco mais o seu lucro, né, dependendo. Mas quando tem a concorrência, aí você tem que equilibrar esse preço, você tem que dar uma equilibrada.
P1- Entendi. Legal. Ô, Ana Paula, pergunta pra sua mãe também, uma coisa que não é da sua época, eu acho que é da época dela: a vitrine das lojas era a coisa mais importante que existia antes, né? Antigamente, né?
R1- É.
P1- Você pegou essa...
R1- Peguei. Tanto é que na nossa loja, como ela era mais estreita, porque ao lado, depois que o meu pai construiu, que aumentou, alargou, né? Ela tinha as duas vitrines compridas e afinando. Ela afinava aqui na ponta. E era de fora a fora. E demorava muito pra fazer essas vitrines. Porque de um lado era só masculino e do outro lado era a feminina, né? E eles participavam de todas... quando tinha Sete de Setembro, eles enfeitavam a vitrine com cores da bandeira, né? Eles participavam de concursos, de vitrine _____ (35:31).
P1- Tinha, né?
R1- Sempre ganhavam. É. Sempre ganhavam.
P1- Sempre ganhavam?
R1- É. Hoje você não vê isso mais, né? Hoje você não vê esse tipo de competição, assim, né, de vitrine, essas coisas, né?
P1- Antigamente era imprescindível. Era isso que chamava o público.
R1- Era isso.
P1- O pessoal ia passear e ver vitrine, né?
R1- E eu lembro que a loja aqui era porta de vidro. Nossa, aquela porta de vidro, hoje, aqui, você não pode ter. Hoje. Porque a primeira coisa que eu acho que eles fariam era estourar a porta.
P1- Perigoso.
R1- Eu lembro que o meu pai deixava só a porta de vidro e quando era, tipo, meia noite, que ele vinha fechar, trancar, abaixar a porta de ferro, sabe?
P1- Não tinha perigo, né, nessa época.
R1- Não. Não tinha.
P1- E você acha, Ana Paula, que o Centro aí de Ribeirão, onde vocês estão...
R1- Aqui é Campo Elíseos, né? Você sabe, né?
P1- É. Mas é perto, né, um pouco?
R1- É perto do Centro. É. É perto.
P1- Porque em todas as cidades do tamanho de Ribeirão Preto, o pessoal está montando comércio lá na zona sul, perto de condomínio, perto de shopping. Mas em Ribeirão ainda tem bastante gente andando por essa área mais central: Avenida Ipiranga, Campos Elíseos, Centro. Ainda...
R1- Sim. Ainda tem. Aqui tem. Por exemplo: aqui mudou muito também, o Campos Elíseos, que antigamente era muita moradia, né? E o que aconteceu? O pessoal saiu muito dos Campos Elíseos. Estão indo morar... mas tem muitos clientes que vem pra cá. Inclusive, você vê, é impressionante, assim. Igual agora, o que está acontecendo, você ter que atender whatsapp, delivery, eles não gostam muito.
P1- Não?
R1- Não. São clientes que, geralmente, querem vir olhar, pôr a mão. É impressionante. Sempre foi assim, né? E continua sendo, a maioria. A maioria.
R2- Porque nossos clientes são antigos, né?
R1- E tem muitos clientes antigos. Muitos já faleceram, né? E tem os clientes novos, que estão vindo. Esses ainda você consegue, eles aceitam a venda, pra você mandar a foto. Tecidos, principalmente as senhoras, elas gostam de vir olhar, ver o tecido, entendeu? Então, mudou muito, assim. Nessa parte, assim, não mudou tanto: eles gostam de vir, de vir andar, de vir olhar. Então, agora, o que mudou, assim, é o tipo do movimento, sim. Antigamente, como tinham mais moradias aqui, o Campos Elíseos deu uma boa devastada de moradia, né? Muitas casas viraram salão comercial, né? Bastante.
R2- Bastante comércio.
R1- Bastante, né? Então, isso já diminuiu um pouco também, da movimentação.
P1- O perfil do cliente da sua loja, você falou que tem bastante gente de mais idade, né?
R1- Sim.
P1- Mas quem mais? O pessoal que mora em volta? Um pessoal mais jovem também?
R1- Não. A nossa clientela não é só daqui do bairro. Mas tem... como é uma loja muito antiga, então tem assim: Vila Tibério, Ribeirânia, Jardim Paulista. Isso tem. É bem amplo. Eles vêm pra cá, pra comprar porque, por exemplo: eles sabem que aqui eles vão encontrar um vestido de senhora, aqueles vestidos de vó, aberto, de golinha, que você não acha em qualquer lugar. Praticamente, você não vai achar. Nós mantemos um estoque pra atender a demanda dos nossos clientes, que nós sabemos que vai vir procurar. Então, é esse tipo de cliente. Mas tem os clientes novos, que estão chegando, né? Porque nós procuramos não só mercadoria pra senhoras, mas também pros jovens, jovem senhora, né?
P1- Além disso, o que vocês vendem? Vocês vendem roupa pronta, tecido e o que mais?
R1- Nós tínhamos cama, mesa e banho, que agora estamos sem, mas estamos pensando em voltar cama, mesa e banho. Presentes, assim: chinelos de quarto, pijamas nós vendemos. As roupas infantis, tanto pra criança maiorzinha, pra bebê, vendemos. Carteiras, bolsa, algumas coisas ______ (40:58).
P1- É bem variado.
R1- É bem variado.
P1- O uniforme dá bastante dinheiro também, né? Porque a escola manda todo mundo aí, né?
R1- É. Só que agora a gente não tem mais, né? Porque agora, faz muitos anos, né, que isso aí foi bem antigo, quando eu era criança. Hoje, as escolas mesmo vendem, dentro das escolas.
P1- Ah, é? É mesmo, mudou. É verdade.
R1- É. Mudou.
P1- E, Ana Paula, e quando começou a pandemia? A pandemia foi um grande desafio, né, pra todo comerciante. O que mais sofreu foi o comércio.
R1- Foi.
P1- O que você sentiu, assim? Pensou que ia acabar logo?
R1- Ah, o começo, que fecharam aqueles primeiros meses, aquela data de março do ano passado que, se você for analisar, nem era preciso aquilo, né, porque depois que ficou tudo ruim, né, tudo pior, pensamos: “Quinze dias? Quinze dias”. Mas aí depois foi ficando mais agravante, né? Porque, naquele choque que nós tivemos, nós ficamos sem reação, sem saber: “Vamos abrir? Não vamos?” Aí depois começou, a associação, a ACI nos orientava. Porque aí podia vender tecido, não sei se vocês se lembram disso. No começo, liberaram tecido como essencial, né, no começo. Aí nós colocamos só tecidos na porta e tampamos a confecção, pra poder trabalhar um pouco, né? Aí foi, foi, ficamos nisso, deu pra ir relevando, né? Aí, depois, barraram os tecidos. Não sei se vocês lembram disso. Eu não lembro quando foi que proibiram de vender tecido. Aí ficava nesse negócio de whatsapp, o drive thru, né, de entregar nos carros, mas não é a mesma do que você estar com as portas abertas. Não tem nem como, não tem.
P1- Ainda mais pra sua clientela, né? A sua clientela ainda é tradicional, que ir aí, ver, escolher. Mas vocês se adaptaram, assim, vocês resolveram cair em cima do whatsapp, entrega de...
R1- É estamos tentando. Vendas on line, né? Agora eu estou fazendo uma parceria com a Magalu, que eu fui convidada. Então, estamos indo por outros meios. Aí é outro tipo de clientela, né? É uma clientela que compra tudo on line. Então, aí nesse caso, eu acho, eu acredito que funcione bem. Estamos adaptando isso também. (risos)
P1- Ah, a parceria... ahn?
R1- Estamos adaptando a isso também. Porque é bem corrido. Assim, você tem que estar colocando estoque, dando baixa no estoque. Mas vamos tentar, né?
P1- Uma hora, nós sairemos dessa situação aí. Eu acho que já está chegando isso aí. Espero.
R1- Deus vai pôr a mão, né, pra gente poder sair rapidinho.
P1- Se Deus quiser. E, Ana Paula, essa pareceria com o Magazine Luiza, vocês vendem pela loja deles? Como é essa parceria?
R1- É. Só que é assim: eu vendo pelo site deles. Eu coloco a minha mercadoria. Aí tem uma taxa que é deles.
P1- E vende pro Brasil inteiro, né?
R1- É, vende pro Brasil inteiro. O interessante é isso, né? O interessante é isso.
P1- Isso é muito bom, né? Olha que eu fiz mais de sessenta entrevistas com comerciantes e eu não tinha visto isso ainda. Eu sabia que existia, mas ninguém falou. Isso é interessante.
R1- Parceria?
P1- Essa parceria.
R1- Eu nem sabia. Eu nem imaginava. Eu fui convidada. Porque eles me ligaram, pra ver se eu queria participar. Aí, na época, no dia também, eu falei: “Ah, eu nem sei se eu vou mexer com isso”. Eu fiquei, né: “Ah, eu vou ver. Vamos ver como é”. Aí ele foi insistindo, foi insistindo. Aí o meu menino foi me ajudando também, fizemos o cadastro. Vamos ver, vamos experimentar como vai ser.
P1- Que bom! E aqui no nosso roteiro, sempre a gente pergunta sobre formas de pagamento. Porque a gente entrevista gente que tem loja há muito tempo, como a sua mãe, né? Então, hoje em dia, a forma de pagamento é dinheiro e o que mais?
R1- E cartão.
P1- Cartão, principalmente, né?
R1- É. Dinheiro e cartão. Mas a maioria é cartão.
P1- Cheque ninguém mais dá?
R1- Não. Não. Não. Não. Ninguém mais trabalha também, né? Quase. Ninguém mais pergunta. Acabou mesmo, sabe? (riso)
P1- _______ (46:20) usar cheque.
R1- É.
P1- E a sua mãe deve ter pego uma época que é muito interessante, que era na caderneta. Ela teve isso aí, na caderneta?
R1- Teve. Teve. Até pouco tempo, tinha um pouco. A minha mãe tinha muito isso. Muito.
P1- É cliente fiel, né?
R1- Era muito fiel. Era muito, muito, muito. Eram corretíssimos. Eram, assim, não tinham... era muito, mesmo. Ela teve muito tempo assim, da caderneta. Aí, depois, cheques também, que ela pegava muito. Na época era muito, tinha muito cheque. Eu lembro que pagava os fornecedores com cheque. Você recebia e você pagava os fornecedores. Os fornecedores também pegavam, porque os conheciam, eram antigos também.
P1- Na época daquela hiperinflação, que era oitenta por cento ao mês, era muito comum um comerciante te dar um cheque pra quarenta dias, porque ele ganhava, né? Porque quarenta dias depois, ia estar muito mais alto. Você lembra disso?
R1- Era. Ixe. Era. Trabalhou. Pegou de tudo, já. (risos)
P1- Ana Paula, e quanto ao futuro? Estamos chegando já ao final das perguntas. Quanto ao futuro, o que você espera da loja, pro futuro? Ou da sua vida. Não sei se você pensa... tem gente que gostaria de ampliar a loja, ou senão abrir uma franquia, abrir outra coisa. O que você espera do futuro?
R1- Tem vários (risos) pensamentos sobre isso, né? Depois dessa pandemia, disso tudo assim que governadores, ________ (48:09) e prefeitos estão fazendo, eu, sinceramente, cheguei até a falar com minha mãe, que eu queria alugar o prédio, porque o nosso prédio é grande. E eu falei: “Mãe, a gente vai ficar nessa insegurança?” Porque é uma insegurança. Você quer ir comprar, não dá. Não dá, porque você tem que esperar abrir, ver como vai ser. Nós vamos ficar nessa insegurança? Aí o meu esposo é contra. O meu esposo fala que eu vou jogar a galinha dos ovos de ouro fora. Então, ele quer, nós também gostaríamos muito de ampliar, fazer melhorias. Isso tudo são coisas que vai dinheiro. Por exemplo: uma das coisas aqui, precisaria reformar por dentro o prédio, né? Então, só que agora são coisas que vão estar fora, porque precisamos, primeiro, reabrir, pra continuar com esses projetos, né? A nossa intenção é essa: crescer, aumentar produtos, que nós vamos retomar, nós tínhamos pensado em retomar com cama, mesa e banho, ampliar os tecidos, né, que sai bem. A nossa intenção é esta. Eu que desanimei um pouco, né, com tudo isso que aconteceu, que eu falei com a minha mãe que eu queria alugar pra alguma coisa certa, né, que não dependa de pandemia, né? Porque eu sei que, se você alugar pra alguma coisa que depende de pandemia, não vai virar nada também, então... mas essa questão de aluguel, o meu esposo é contra, os meus filhos são contra. É eu e a minha mãe só, que desejamos isso. (risos) Né, mãe? Então...
P1- Tem que decidir em conjunto, né? Com todo mundo.
R1- Em conjunto. É.
P1- E, Ana Paula, o que você gosta de fazer - e aí pergunta pra sua mãe também – o que vocês gostam de fazer, quando você não está trabalhando? Gosta do quê? Ouvir música, passear?
R1- Ah, a gente gosta de reunir, né?
R2- Passear. (risos)
R1- Passear. Nós gostamos de...
R2- ... música.
R1- ... fazer almoço em família, né? Que não dá, por enquanto, não está acontecendo. Eu gosto, assim, de assistir algum filme. A minha mãe gosta muito de ir no meu tio, que é onde a mãe dela morava, que até hoje tem a casa, né? Que não está podendo ir também, né? Então, tem, assim, bastante coisas, né?
P1- Aí em Ribeirão, pra passear, onde tem pra ir? É que eu estou fora de Ribeirão.
R1- Ah, você está fora?
P1- Mas eu conheço.
R1- Você conhece?
P1- Eu fui fazer a pesquisa.
R1- Aqui em Ribeirão tem os shoppings, que você vai passear. Não tem muita coisa.
R2- Teatro.
R1- Teatro.
R2- Mas também nem está tendo.
R1- Não tem. Teatro ______ (51:24).
P1- Teatro Dom Pedro está fechado.
R1- É. _______ (51:26). Os clubes, né? Tem mais o Regatas, que depois que eu mudei onde eu moro, num condomínio, eu não sou mais sócia do Regatas.
P1- Porque já tem lá na sua casa.
R1- Já tem. É. E que, por enquanto, também não pode usar. Então, ficamos, agora, por enquanto, em casa. (risos)
P1- Está certo. Ana Paula, tem mais alguma coisa que eu não perguntei, que você gostaria de falar? Ou a sua mãe, se ela quiser falar alguma coisa.
R1- Coisa da loja?
R2- Não. Está tudo bem. Você falou tudo certinho.
R1- Eu falei, né?
R2- Falou.
R1- Ela falou que eu falei tudo certinho. Então, eu acho...
P1- Ana Paula...
R1- Oi?
P1- Não. Pode falar. Desculpa.
R1- Quanto a isso, como é? Vai ter um livro?
P1- Então, todo o Memórias do Comércio dá origem a um livro desse tipo aqui, do Sesc, ó. Bonito, tudo. Só que, por causa da pandemia, eles não querem lançar agora o livro. Todas essas entrevistas estão sendo digitalizadas, tal. E a gente fez uma pesquisa muito grande sobre a história de Ribeirão, pra pôr no livro, tudo. Por enquanto, a entrevista vai ficar no portal do Museu da Pessoa.
R1- Museu da Pessoa.
P1- Vai ser tratada, tudo, né? Esses pedaços que a gente ficou falando outra coisa, arrumando, vai editar. E aí vai pro portal do Museu. Vai pro site do Sesc. Vai ter uma exposição virtual, porque sempre a exposição é lá no Sesc. A gente convida todo mundo, manda convite aí pra você. Mas não pode, por enquanto, na pandemia. Então, vai ter uma exposição virtual. E, pro final do ano ou no comecinho do ano que vem, a gente vai editar o livro. Aí a gente te manda convite pra você ir. Aí já vai ter acabado a pandemia, né? Graças a Deus.
R2- Se Deus quiser.
R1- Ah, sim. Tem que acabar, né? (risos)
P1- E também, Ana Paula, a gente, além da entrevista, vai pedir pro nosso fotógrafo aí de Ribeirão, ele vai te ligar. Um dia que você puder, que estiver sossegado - porque também não tem pressa, porque o livro só vai sair mais pra frente – pra tirar umas fotos aí, de você e da sua mãe, na loja.
R1- Ah, tá bom.
P1- Entendeu? E, se você tiver, sua mãe tiver, fotos antigas, de quando loja abriu, de quando você era criança, o nosso fotógrafo copia na hora e te devolve, tá bom? Pra poder ficar no acervo. Se sair o livro agora pro final do ano ou no ano que vem, vai ter que ter fotos de vocês, né? Então, a gente pega.
R1- Aí, essas fotos, aí vocês vão me avisar, pra combinar?
P1- É. Ele te liga com antecedência, antes, porque ele tem uma lista de mais de cem pra ligar. Aí ele vai ligar pra você também. Você marca um dia que for melhor pra você. Você entrega as fotos pra ele, ele copia. E ele vai pedir pra tirar umas fotos aí na loja, com você e com a sua mãe. Tá bom?
R2- Tá bom.
R1- Tá bom. Está certo. Combinado.
P1- Eu gostaria de agradecer muito. Esse projeto é um projeto muito legal. Quando ficar pronto a gente vai te convidar, você vai ver o resultado.
R1- É a primeira vez, né que, assim, convida... eu nem sabia que tinha esse...
P1- Em Ribeirão é a primeira vez, né?
R1- Ah, tá.
P1- Mas o Sesc existe em várias cidades, né? Então, já tem três Memórias do Comércio, em São Paulo. Teve Santos, Campinas, São José dos Campos, Araraquara, São Carlos, Matão, Bauru, São José do Rio Preto e Ribeirão Preto, agora. Tá legal.
R1- Tá. Tá bom.
P1- Então, tá. Eu agradeço muito.
R1- Imagina!
P1- Desculpa, de vez em quando corta o que você fala.
R1- É. Corta. Eu acho que é a internet, né, que dá uma...
P1- Então, tá bom. Muito obrigado, viu? Dá um abraço na sua mãe e agradeço em nome do Sesc. Até logo.
R1 – Muito obrigada!
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