Correios 350 Anos
Depoimento de André Gonçalves de Almeida
Entrevistado por Stela Tredice
São Paulo, 18/07/2013
HVC040_André Gonçalves de Almeida
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Mariana Wolff
MW Transcrições
P/1 – Então, André, fala pra mim o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento
R – André Goncalves de Almeida, nasci em 30 de março de 84 em São Paulo.
P/1 – São Paulo, mesmo?
R – São Paulo, capital.
P/1 – São Paulo, capital. E o nome dos seus pais, qual é?
R – Edilson Xavier de Almeida e Zilda Pereira Gonçalves
P/1 –O quê que os seus pais fazem, ou faziam?
R – A minha mãe sempre trabalhou de empregada doméstica, né, ela trabalhou às vezes, diarista, mas sempre em casa de família. Hoje, ela tá em casa, né, faz uns dois anos, mais ou menos que ela tá em casa. Ela não tá aposentada porque ela não tinha… trabalhou pouco tempo com carteira assinada, maior parte do tempo, ela trabalhou sem carteira assinada. E o meu pai já trabalhou em dois lugares, a maior parte do tempo, ele trabalhou de chapa, sabe, descarregar caminhão. Até hoje, ele faz isso ai. Atualmente, ele tá separado da minha mãe, né, tá morando perto do bar que a gente morava na nossa infância e ele continua… é, ele continua trabalhando na mesma coisa.
P/1 – E a sua família… qual que é a origem da sua família? Você sabe da onde que os seus pais vieram? Como que é?
R – Os meus pais vieram da Bahia, mas eles não se conheceram lá, eles se conheceram aqui, né? Eles vieram da Bahia, cada um de uma cidade diferente, meu pai veio de Jacobina, é mais lado de… lado agreste, né, meio do sertão e a minha mãe é de Itabuna. Ai, se conheceram aqui e formaram a família.
P/1 – E você sabe como que eles se conheceram, como foi?
R – Olha, exatamente, eu não sei não, viu! Como assim, viu! Eu imagino que a minha mãe acho que ela conhecia primeiro a irmã dele, ou acho que… não tenho certeza, acho que ela conhecia… por ela eles se conheceram, mas eu não tenho assim… eu não sei muitos detalhes, não.
P/1 – E você conheceu os seus avós?
R – A gente cresceu mais a gente mesmo, a nossa família é bem unida, a gente, os irmãos e os pais. Mas, questão de avós, avós maternos, eu nunca conheci. Nem a minha mãe também ela não conhecia, ela não foi criada com os pais dela, né? De nova, ela morou em várias casas, em várias famílias, que… questão de violência doméstica, a mãe dela sofria, ai, a mãe dela saiu de casa e o pai dela deixou um filho com cada família. Ai, ela conhece uma irmã só dela, as outras não conhece, só conhece um que foi espalhando e os meus avós, nem ela também não conhece e nunca conheci, nem a gente, nenhum de nós. Agora, os avós paternos, a gente chegou a conhecer, eu cheguei a conhecer, mas também não tinha muito contato, né? O meu avô, ele estava meio doente, o meu pai foi buscar ele na Bahia, ai levou ele pera casa um tempo, um pouco antes dele falecer. O contato que a gente teve foi esse ai, poucos dias, semanas, eu acho. E a minha avó, ela foi também algumas vezes lá em casa, mas também era… a gente não tinha muita proximidade, né? A proximidade mesmo nossa era da família, dos pais, dos irmãos. Somos cinco irmãos, eu acho que a gente é bem unido, um ajuda o outro sempre que pode.
P/1 – Como é que chamam os teus irmãos?
R – Tem a Karina e o Edilson Junior, que trabalham no Correios e tem mais dois, a Maysa e o Adriano.
P/1 – E você falou que vocês são unidos, como é que é? Vocês brincavam juntos?
R – Sempre… sempre brincou… as minhas irmãs são mais velhas, então, elas… a gente não brincava junto, porque elas tinham outras brincadeiras, mas sempre foi unido. Mas eu e meus irmãos, a gente sempre jogava bola junto, ia pra rua junto e… sempre brincava junto. Até hoje, o meu irmão Edilson mudou, mas quando ele vai em casa também sempre a mesma coisa. O Adriano… agora, eu tenho mais proximidade com o Adriano, que ele tá morando lá em casa, então, tenho mais proximidade, mas continua todo mundo… aquela convivência boa, ainda.
P/1 – O quê que os seus irmãos fazem?
R – Além dos que trabalham nos Correios, eu vou falar dos outros. O meu irmão, o Adriano, ele é publicitário, exatamente, eu não sei a função dele exata, eu sei que ele é publicitário, ele trabalha na… mas eu não sei exatamente o que ele faz e a Maysa é professora.
P/1 – E a Karina e o…
R – E o Edilson trabalham no Correios.
P/1 – Tá. E falando um pouquinho lá da sua infância, onde que você… você se lembra da sua casa na infância, onde vocês moravam?
R – A primeira casa que eu lembro que a gente morou, não era a primeira, mas a primeira que eu lembro, a gente morava num… era um barraco de madeira, acho que tinha um cômodo e banheiro, ou dois, não lembro. Foi a primeira casa que eu me lembro que a gente morava. Eu já tinha já… eram quatro, o mais novo não tinha nascido ainda, ou tava na barriga. Ai, depois, a gente foi morar numa casa, era uma casa já… tinha… de tijolo, né, mas era bem afastada da cidade, então, tudo o que tinha que fazer era andar bastante para outros bairros, não tinha padaria, não tinha mercado, a única coisa que tinha era um barzinho, mas não tinha mais nada. Tudo o que tinha que fazer, tinha que fazer longe. Ai, a gente mudou para uma casa também na… era na favela, mas era no meio do bairro, então já tinha tudo próximo, mas era na favela, morou um bom tempo. Ai, a gente mudou pro mesmo bairro, pro outro lado, outra favela do bairro, a gente morou, ai lá foi a maior parte que eu lembro, ai eu me lembro mais, que a gente viveu muito tempo lá, até eu entrar no Correios, todos nós, a gente morava lá ainda, quantos anos? Tem uns 20 anos, 20 e poucos anos, eu não lembro, mas a gente morou bastante tempo lá. Ai, a gente conseguiu comprar um terreno, né, pra minha mãe, quando a gente começou a trabalhar, a gente comprou um terreno, começamos a construir no condomínio que a gente mora hoje, não tá totalmente construído, a gente tá construindo ainda, mas fé em Deus, a gente vai terminar. Ai, por enquanto, a gente tá lá, né? Eu, pelo menos, vou ficar ainda, eles eu não… já estão prontos para sair, a minha irmã já saiu, e a minha irmã vai sair
P/1 – E na sua infância, do quê você gostava de brincar, André?
R – Eu gostava de jogar bola, brincar de pega-pega, brincadeira de rua mesmo, né, e gostava de jogar videogame também. Quando a gente… minha mãe pode… o primeiro videogame que a gente teve, a minha mãe ganhou, né, de uma patroa dela, um Atari, a gente começou a jogar lá e depois, comprou o Nintendinho, o Super Nintendo e jogo videogame até hoje. Eu gostava bastante de jogar videogame
P/1 – E você brincava com quem?
R – Com os meus irmãos mesmo, o vizinho também gostava de jogar, brincava…
P/1 – Você tinha assim, costume de passear, de sair?
R – Não tinha muito costume não, sair era só lá pra perto de casa mesmo, não tinha muito costume de sair não, a gente ficava… a gente saía só quando tinha excursão com a escola, pra ir pra longe. Ficava mais por ali mesmo, no bairro.
P/1 – E como é que é assim, tinha algum sonho que você tinha quando crescesse? Queria ser alguma coisa?
R – Queria ser alguma coisa especifica, não, eu queria crescer e ganhar… tipo, ganhar o suficiente para dar uma condição boa de vida para a minha mãe. Mas eu não tinha o sonho: “Eu quero ser isso, quero ser…”, que eu me lembre, nunca tive não. tem aquele sonho de ser jogador de futebol, mas eu era muito ruim, então, isso ai eu já esqueci cedo, então, eu nem cheguei a sonhar muito. Mas de resto, não.
P/1 – E a sua escola, voltando um pouquinho, você lembra da sua primeira escola, como é que era?
R – Lembro. Na primeira escola, eu fiz o primeiro grau todinho na mesma escola. Eu era bom aluno, eu era o melhor aluno da classe que tem lá. A maior parte do tempo eu era o melhor aluno da classe. Mas depois, quando eu cheguei no colegial, comecei a relaxar mais um pouquinho, mas ai até… ai no colegial, eu fiz o magistério, estudava em período integral, entrava às sete horas da manhã e saía às cinco e meia. Como se fosse o nosso… segundo grau junto com o magistério. Eu não tinha… eu nunca tive o sonho de ser professor, né, eu fiz… eu vou ser sincero, eu fiz porque a gente morava na favela e esse magistério que a gente fez, que eu fiz, meus irmão… mais dois irmão fizeram, era do governo, o governo dava um salario mínimo pra gente estudar nessa escola. Dai, esse dinheirinho dava pra dar um… mesmo que seja pouco, mas uma ajuda em casa, um pouquinho, né? E também pras nossas coisas, né, porque a minha mãe não tinha… o meu pai não tinha condições de dar, se você quer comprar uma roupa, ele não tinha muitas condições pra dar pra cinco filhos, né? Ai, que a gente tinha o dinheiro pra gente comprar as nossas coisas, pagava condução pra ir pra escola com o nosso próprio dinheiro e dava uma ajudazinha em casa ainda.
P/1 – E teve algum professor, assim, durante a sua vida como aluno, escolar que tenha sido marcante pra você?
R – Acho que a minha primeira professora, né, professora Valquíria foi marcante, né? Eu era o… na reunião de pais, eu era o xodozinho da professora, ai ela… eu gostava quando tinha reunião, minha mãe… ela só falava bem de mim pra minha mãe, foi a mais marcante. A primeira professora.
P/1 – E você lembra quando você era pequeno? Como você ia pra escola? Era perto, era longe, como que era?
R – Então, essa escola do primeiro grau era perto, eu ia a pé. Primeiro, na primeira série, quando eu morava nessa casa era mais próxima, né, dessa casa, era próximo, andava cinco minutinhos pra escola, era perto da escola. Ai, quando a gente mudou pro outro lado do bairro, mudou por pouco tempo, era dez minutinhos andando, tinha um escadão, você subia o escadão todo dia pra ir pra escola. Teve um tempo que o meu irmão mais novo entrou na creche, né, ai eu tinha que… eu voltava da escola… eu estudava… eu saía três horas, ele entrava… eu saía dez pras três, quase três horas e ele entrava três horas, eu tinha que ir pra casa, pegar o meu irmão, levar na creche e voltar, descer o escadão de novo e ir pra casa, todo dia. Ai na saída, eu tinha que buscar ele lá. mas aconteceu umas duas ou três vezes de eu ficar brincando, jogando bola na rua e esquecer… esqueci ele lá (risos), a professora ficava esperando, quando via o horário assim, eu ia correndo, tava a professora sozinha com o Adriano que é o mais novo. Tava a professora sozinha com ele lá esperando eu chegar pra… as minhas irmã estudava esse horário e a minha mãe trabalhava e o meu pai também e tinha eu e o Edilson, só que eu sou mais velho que ele, então eu que… a responsabilidade era minha de ir buscar o meu irmão, mas às vezes, esquecia.
P/1 – E o seu irmão como é que ficava lá?
R – Uma vez, eu voltei, a professora não conseguiu… não aguentou esperar, ai ele tava ali na metade do caminho, eu encontrei ele, eu tava indo lá (risos), ele tava chorando, voltando sozinho.
P/1 – E André, me conta na sua juventude, como é que é, você namorou? Como é que foi o seu primeiro namoro?
R – Eu nunca fui muito namorador não, eu tive poucas namoradas. Então na escola, eu era basicamente assim, aquele estudioso, então eu tive poucas namoradas. Eu lembro a minha primeira namorada era da escola, né, que… não, primeira… na verdade, eu… posso falar nomes? Não, não precisa falar nome não, né?
P/1 – Se você quiser, pode! Fica super à vontade. Não tem problema nenhum, você não vai sair na TV, é uma coisa interna, mas você fica à vontade, se você quiser falar… se não quiser…
R – Não, então essa menina, né, na verdade, a minha primeira namorada, eu gostava de uma amiga dela, né, elas eram amigas, ai eu comecei a me enturmar com elas pra ver se eu conseguia ficar com essa menina que eu gostava. Só que ai eu percebi que a outra que tava gostando de mim, ai eu falei: ‘ah, eu vou pra onde o barco tá me guiando’, né, (risos), ai eu fui… menina, adolescente assim, você não se apega muito, ai eu me liguei: ‘essa aqui tá mais na minha, vou dar… tem mais chance aqui’ (risos), ai eu fui nela e foi a minha primeira namoradinha, mas nunca fui de ter muitas namoradas, não.
P/1 – E você tinha amigos, quem eram os seus amigos? O quê que vocês gostavam de fazer na adolescência, juventude?
R – No primeiro grau, a brincadeira mais que a gente tinha, eu brincava mais com o pessoal da minha rua, né, que a gente jogava bola, bagunça na rua, andava com o cachorro na rua. Mas, na escola mesmo, a gente jogava bola e brincava com as brincadeiras da Educação Física, né? Quando eu comecei a fazer mais amizade assim foi no colegial. Ai no colegial, tinham uns colegas meus que a gente inventou de fazer uma bandinha lá, né? Não sabia nem tocar, mas a gente inventou de fazer uma bandinha. Ai, a gente pegava uns finais de semana, ficava na garagem ensaiando e de vez em quando, fazia… quando tinha uma apresentação, a gente fazia, um festival, a gente fazia. Ai, tinha um colega meu que ele… pra ele era diferente, pra ele, era um sonho, ele queria ser musico mesmo, mas pra gente era brincadeira, então, acabou que não fomos pra frente, porque a gente tinha um objetivo, ele tinha outro. Ele querias… até hoje, ele tem esse sonho de ser musico famoso, né? E eu já não tinha, eu estava só brincando, né? Lembro assim, quando era no primário, eu não era muito enturmado, ai eu comecei a me enturmar no colegial e falei: ‘vou me divertir agora’ e ai ele me ensinou um pouquinho, que ele tocava um pouco, me ensinou um pouquinho a tocar bateria, ai tocava assim, ai fazia apresentação, festival e… mas ai foi cortando, foi parando, a gente foi se afastando, cada um foi…
P/1 – E o quê que vocês tocavam?
R – Tocava pop rock
P/1 – Que tipo de… dá um exemplo assim…
R – Ó, se fosse hoje, não tinha… é tipo… tipo Restart, mas as musicas nossas, né, mas as musicas que a gente tocava de outros era: tocava Capital Inicial, Titãs, Jota Quest, essas bandas, esse estilo. Internacional, a gente tocava Red Hot Chilli Peppers, The Cure, mas só de brincadeira, nunca… eu tocava e até hoje, eu não sei tocar (risos)
P/1 – Bacana! E me conta um pouquinho assim, André, você teve um trabalho anterior aos Correios? O quê que você fazia? Qual foi o seu primeiro trabalho?
R – Não, o meu primeiro emprego foi nos Correios mesmo, porque esse magistério, a gente fazia período integral, então quando eu saí, eu entrei no Correios. Então, foi o primeiro emprego. O que eu fazia antes, eu… o meu pai… como eu falei pra você, o meu pai já fez várias coisas, tinha um tempo que ele tinha barraca na feira, não era um serviço, mas eu ia lá ajudar ele lá na barraca, na feira, mas emprego mesmo, primeiro emprego foi nos Correios.
P/1 – Você se lembra o quê que você fez com o seu primeiro salario?
R – Deixa eu ver… ah, não lembro. Mas eu acho que provavelmente deve ter ficado boa parte pra casa, né, mas eu não me lembro exatamente o que… pra mim, assim, o que eu comprei, não lembro não! Na bandinha da escola, tinha uma musica que esse meu colega que eu falei pra você que gostava de musica, ele fez e todo mundo… ele cantava, todo mundo conhecia. Ai ele cantava… posso cantar um pedacinho? Era assim: “Chamo, chamo atenção, tu olha pra mim, finge que não me vê, mas no fundo ainda tá a fim. Tá, tá a fim. Tá a fim”, eu não era o cantor não (risos) quem cantava era ele
P/1 – E você diz que não sabe tocar?
R – Eu não sei tocar, eu tenho uma noção de ritmo, mas eu não sei tocar
P/1 – Mas como? Cantou, tocou aqui pra gente!
R – Não! Isso aqui, não. eu tenho noção de ritmo, você consegue, mas tocar é difícil!
P/1 – E não tem vontade de continuar?
R – Eu tenho vontade, mas eu… como eu falei, daquele tempo era pra me enturmar, porque o meu gosto, mesmo, eu gosto mais de samba. Eu tenho vontade de… todo final de semana, eu vou na rodinha de samba, eu gosto. Todo final de semana eu gosto de uma rodinha de samba. Eu gosto de samba. Se eu fosse tentar, eu iria pra esse lado…
P/1 – Então, eu acho que você…
R – Mas não… mas não… eu não tenho esse sonho também não (risos)
P/1 – Ah, nossa, muito legal André! Ainda deu uma canja aqui pra gente
FINAL DA ENTREVISTA
Correios 350 Anos
Depoimentos de Karina Pereira Gonçalves
André Gonçalves de Almeida
Edilson Xavier de Almeida Junior.
Entrevistados por Stela Tredice
São Paulo, 18/07/2013
Realização Museu da Pessoa.
HV039_ Karina Pereira Gonçalves - R/2
HV040_ Andre Gonçalves de Almeida - R/3
HV041_Edilson Xavier de Almeida Junior - R/1
Transcrito por Iara Gobbo.
MW Transcrições
P/1 – Bom, então queria que cada um contasse um pouquinho que faculdade resolveu fazer, e por que você escolheu essa faculdade? Quer começar, Edilson?
R/1 – Então, a minha faculdade foi o seguinte. Eu fiz a inscrição no ProUni, como eu havia dito, e na faculdade mais próxima de casa eu quis me inscrever pra matemática. Aí eu mês inscrevi em outras em matemática e na faculdade mais próxima de casa não tinha. Eu fiz, relacionado ao que eu gosto, eu me inscrevi pra administração. Aí eu fui selecionado nessa bolsa pra administração na faculdade mais próxima da minha casa. Aí eu comecei, gostei né, e pretendo seguir carreira.
P/1 – Legal. E você Karina?
R/2 – Eu sempre gostei de esportes, desde criança e também me inscrevi pro ProUni, ganhei a bolsa de educação física, terminei, tô contente com ela, não quero parar por aí. Só que vou fazer uma segunda faculdade, totalmente diferente da educação física. Eu quero agora assistente social.
P/1 – Você pretende trabalhar com isso?
R/2 – É, eu gosto de trabalhar com pessoas, né? Eu quero assim trabalhar mais próximo, bater um papo, conversar, poder ajudar, ajudar mesmo os problemas de outras pessoas na base da conversa.
P/1 – Legal. E você, André?
R/3 – Então, eu como falei pra você não eu não tinha um sonho específico de alguma coisa quando eu era criança. Então foi difícil pra eu decidir. Eu entrei na faculdade, aí eu desisti. Eu entrei em outra, aí eu como já estava nos Correios decidi fazer logística que é o foco da empresa pra eu poder continuar na empresa. Primeiro tive que fazer na área de edificações, depois área de mecânica, aí depois eu optei pela logística.
P/1 – E você se formou?
R/3 – Hum hum (Sim)
P/1 – E quem foi o primeiro que acabou entrando nos Correios?
R/2 – Eu fui a primeira. Primeira depois eu trouxe os dois. Então como eu tinha dito, eu sempre admirei assim os Correios, os carteiros principalmente que… o contato, né, foi com os carteiros. Sempre admirei e tinha amizade também por correspondência e a rapidez com que as cartas chegavam, que via o carimbo no selo. Postava um dia anterior, chegava no dia seguinte. Falei: “Nossa, mas é muito rápido”. Aí conversando com um carteiro aqui, outro carteiro ali, falei: “Ah, vou prestar o concurso. Prestei o concurso, entrei na Empresa, os meninos também gostaram. Eu falava muito bem da empresa, aí os dois vieram junto.
P/1 – Quer dizer, você foi se informar do concurso com os carteiros?
R/2 – Com os carteiros. Perguntei, o carteiro na rua, na época na onde eu trabalhava, perguntei pra ele quando que era o concurso. Ele falou: “Em Abril”. Falei: “Você lembra o dia?”, falou: “Não lembro, acho que é 27 de Abril, mas eu não tenho certeza”. Mas depois falei: ”Isso aí já é de menos, né?”. E onde eu morava também, que eu perguntava para o carteiro que atualmente é meu namorado, ele falou: “Vai abrir, eu sei que vai abrir, mas acho que no mês que vem”. Aí já fiquei atenta, procurei em revista de concursos, para ver a data certinha, fiz e passei.
P/1 – E como é que a irmã convenceu vocês?
R/3 – Muito fácil. Não, não é que convenceu. Ela ficava falando e a gente resolveu também entrar, né A gente estudou na mesma unidade que a gente entrou também.
R/2 – Ah é.
R/3 – O CDD era pequeno. Na mesma unidade.
P/1 – Vocês três?
R/3 – Não, eu e ele. O dela era próximo, mas a gente estava na mesma unidade quando a gente entrou no Correios.
P/1 – Vocês começaram juntos?
R/1 – Juntos.
R/3 – Começamos juntos.
P/1 – E hoje?
R/3 – Ah, hoje... Depois eu fui pro CDD de Alphaville. Aí quando eu passei pra essa função… Agora eu tô no CEE Jardins.
P/1 – E vocês se lembram assim o que vocês aprenderam, a primeira coisa que vocês aprenderam? Como que foi?
R/1 – Assim, apesar da Karina já ter trabalhado nos Correios, eu ainda não tinha noção que tinha que fazer a separação das correspondências antes de ir pra distribuição. Aí foi primeiro…
R/3 – A maior parte do tempo era separando correspondências. A entrega é só à tarde. A maior parte do tempo a gente ficava separando as correspondências.
R/1 – Aí depois é diferente. Quem tá de fora, a maioria nem imagina isso, acha que você chega e vai pra distribuição.
R/2 – É, não imagina que a gente faz parte de todo o processo, né? Desde o começo que é separar por bairros. Depois cada carteiro vai, arruma seu distrito, pra poder fazer a distribuição. E quando a gente entra acha que vem tudo prontinho. Pegar a bolsa e ir pra rua.
R/1 – Decorar rua, decorar numeração.
R/3 – Decorar nome. Decorava... O distrito que eu fazia geralmente eu várias vezes me mandaram fazer favela. Aí na favela tem muita numeração repetida, então você tem que decorar nome. Eu decorei tanto nome
R/2 – Verdade.
R/3 – Decoro, eu sei o nome de todo mundo por nome assim. Às vezes você não sabe nem quem é a pessoa, mas você sabe o nome de todo mundo da rua, do bairro.
P/1 – E teve alguma dificuldade assim que vocês se depararam nessa função?
R/2 – Eu muito com cachorro. Cachorro assim, nossa, é o que todo mundo fala mesmo. Na hora que o carteiro chega na porta, já vem a cachorrada. A gente chega porque a região deles, eles tomam conta, acho que vêm a gente como inimigo, né? Fui mordida várias vezes. Você também né, Dé?
R/3 – Eu já fui mordido, não várias vezes, umas três vezes, mas eu nunca fico cismado não. Mas é coisa leve. Uma vez mordeu o braço aqui.
R/2 – Mordeu seu braço, Dé?
R/3 – Mordeu. Outra vez pegou aqui o cachorro e outra vez mordeu o calcanhar. Eu nunca fui cismado não, os pequenininhos gosta de ficar. Agora o que pegou meu braço aqui era um grandão. A caixinha do Correios da pessoa era dentro assim do portão, eu não percebi que tinha um cachorro deitado ali. Aí enfiei o braço assim, o cachorro puxou. Mas eu estava de blusa nesse dia, estava frio. Sorte que estava frio. Ele pegou mais a blusa, rasgou a blusa e só pegou a pontinha dos dentes no braço.
R/1 – Eu nunca fui mordido. O que eu achei mais complexo foi na caminhada. Apesar que eu jogava futebol, sempre joguei, não senti muito cansaço. O que eu achei estranho era o seguinte: no Correios, o carteiro ele carrega a bolsa dele e em locais estratégicos ficam correspondências, porque ele terminou o que tá na bolsa, ele carrega a bolsa de novo. Então quando ele terminava a bolsa, falou: “Acabou agora?”, ele falou: “Não, calma que tem mais aí”. Ele pegava outra.
R/2 – Enchia a bolsa de novo.
R/1 – ”Toma aqui tem mais”, falou: “Aí acabou?“, “Acabou não”. E o carteiro que me ensinou, inclusive tenho uma consideração por ele, ele era um pouco estressado e ele fala engraçado, ele: “Ô primo, não é não, é na mercadoria, volta lá…” (risos) Nossa, mas eu gosto, gosto dele.
R/2 – Eu também.
R/3 - Eu dei sorte. O carteiro que me ensinou, o primeiro, totalmente calmo, sossegado, era paciente, explicava direitinho, o Altenberg ele explicava direitinho, era calmo pra caramba. Ele já me deu essa sorte.
R/2 – Ah, nem eu. Eu também não. Ele fez um mapa pra mim, arrumou a bolsa, o distrito, falou: “Vai pra rua. Qualquer dúvida você liga” (risos) Eu aprendi rapidinho.
P/1 – E assim, como é a relação - vocês já falaram como é a relação com os cachorros. E a relação com os moradores? Com o público, né, não sei como vocês chamam. Ou com os porteiros de prédio? Como que é?
R/1 – A gente estreita a relação com o , a gente chama de cliente. Um cliente tinha residências lá na região onde eu fazia distribuição e tinha uma senhora que todo dia ela vinha com suco de goiaba pra mim, natural, porque lá no quintal – ela era empregada lá na residência, e no quintal tinha um pé de goiaba. Todos os dias ela vinha com um copo de suco de goiaba pra mim, bolo. A gente não podia parar em todos os locais assim, não conseguia fazer a distribuição, mas a relação é muito estreita com o cliente.
R/3 – É, área residencial a gente tem muito contato direto com a pessoa. Eu tenho experiência em aérea residencial, mas eu já entreguei conta lá no Alphaville, entreguei bastante área comercial. É um pouco diferente que sua relação é só com aquela pessoa que tá te atendendo ali e ele tá trabalhando também então não tem, não é tão estreito. Você conversa um pouquinho, tem uma certa intimidade, mas não é como uma área residencial, né, que é outra historia. Teve um distrito que eu fazia, que tinha uma senhora, ela morava sozinha. Isso aí é chato, mas quando eu passava na frente da porta dela, ela vinha assim, aí conversar com você. Você tá com vontade de ir embora, terminar pra ir embora, ela falava uns 20 minutos, mais que a Karina – , ela falava. Ela era gente fina, mas tinha hora que você estava com um pouco de pressa, aí quando ela fazia assim, eu fazia de conta que eu não ouvia às vezes e ia embora. Quando eu estava com tempo eu parava, mas quando eu estava com pressa assim, com alguma coisa pra fazer, aí eu fazia de conta que não estava vendo e ia embora, mas ela era legal.
R/2 – É, tem que selecionar um cliente por dia, porque senão a gente cumprimentar bom dia, boa tarde, mas não dá pra parar que se deixar mesmo, fica meia hora, 40 minutos, uma hora batendo papo. E não dá, não dá tempo, mas o carinho é muito grande. Que nem os meninos falaram, os pedaços de bolo separado, o suco já separado, a fruta. Tinha uma que era sempre. Ah, nunca esqueço, Dona Midores. Sempre
P/1 – E aí vocês param e comem?
R/2 – Era maçã, todo dia. Só que era correria. Ela me via, a maçã já estava lá dentro da caixinha de cartas. Eu abria a caixinha por trás, pegava a maçã, colocava na bolsa e ia. Todo dia estava lá, a maçã separada.
R/1 – Deve ser por isso que a imagem do carteiro é magrinho, né? Tem muito carteiro barrigudinho.
R/3 – Quando eu entrei nos Correios não era assim não. Eu não fiquei assim depois que eu parei de trabalhar na rua, mas trabalhando na rua mesmo fui engordando quando eu estava trabalhando andando. Aí quando eu parei de andar eu até estabilizei mais ou menos no peso. Diferença pouca, mas a época que eu engordei mais quando eu andava todo dia.
P/1 – E quantos quilômetros que vocês andam por dia?
R/3 – É bem variado. Relativo, depende da região.
R/1 – Dez, 15 quilômetros.
R/2 – É, depende do distrito, da região.
R/3 – É, quando eu trabalhava no Rio Pequeno eu andava bem mais, que eu trabalhava, mais ou menos uns cinco ou dez mais ou menos.
R/1 – Uns cinco ou dez.
R/3 – Quando eu fui pro Alphaville, como tem bastante prédio, eu ia em condomínio, aí eu andava bem menos. Tinha distrito que eu fazia três ruas, quatro ruas. Era bem menos. Mas era mais cartas, mas andava bem menos.
R/2 – Em Vargem Grande mesmo são o que? Quinze quilômetros, 13 quilômetros. Por quê? Porque a área é mais rural, né? Que é próximo já do interior. É a última cidade já antes do interior. Então tem muitas chácaras, as casas são muito distantes, os terrenos são grandes. Então você entrega um ponto e anda metros e metros. Entrega outro ponto, então uns 15, 13, 14 quilômetros.
P/1 – E vocês se sentem respeitados como profissionais?
R/2 – Ah, muito.
R/1 – Sim.
R/3 – Sim. Respeitados e admirados.
R/1 – Muito admirados. Tá de uniforme, é tratado de outra forma
R/2 – Confiança, abrem a porta, convidam a gente pra entrar. “Não, entra, entra. Senta na sala. Vou pegar alguma coisa.” Então é assim, é confiança mesmo. O respeito é muito grande.
R/1 – Até por que quem faz a distribuição nos Correios é quem leva a imagem nos Correios pros clientes, né? Principalmente a área residencial. Então essas pesquisas de como que se diz? Confiabilidade, nos Correios estão ali praticamente equivalente aos bombeiros.
R/3 – Não só residencial. Você vê empresa. Tem empresa que é aquele esquema de segurança todo. Aí você chega com essa camiseta assim, eles já vão abrindo a porta pra você.
R/2 – Banco.
R/3 – Banco, sem olhar e já chega e já desliga o negocinho, você já entra direto. Não precisa ter aquela burocracia. Você tem aquela confiança, o Correios tem aquela confiança. Pros outros tem outro tipo de recepção, pra gente é diferente.
P/1 – E assim, tem alguma história marcante pra vocês que vocês tenham vivido nesse período, engraçada, curiosa, que vocês gostem de contar? Não sei se pode também, mas enfim... Tem, assim?
R/3 – Engraçada tem.
R/2 – Tem várias.
R/3 – Já aconteceu de rasgar minha calça na rua. Às vezes dependendo da calça, tá mais apertada, se dá um passo maiorzinho... Já aconteceu, rasgou minha calça, ter que amarrar a blusa ou colocar a blusa por dentro. Você tem que terminar o serviço.
R/1 – Teve uma senhora, eu lembro até o bairro, no Jardim Brasil, São Paulo. Eu descia do ônibus e em frente o ponto de ônibus tinha um bar. Nesse bar eu deixava algumas correspondências pra não carregar o peso. Aí entrei, inclusive eles nem sabe disso, né, vai descobrir agora. Entrei no bar, estava tirando as correspondências, uma senhorinha chegou por trás de mim e pegou na minha bunda. Aí ela falou assim: “Nossa e tá durinha ainda, porque o nosso carteiro tá ficando velho, já não tá essas coisas”. Falei: “Caramba”. Levei um susto, né? Ah, mas eu já conversava com eles, o pessoal da região mesmo, mas foi engraçado. Eu era um meninão, acho que uns 21 anos.
P/1 – E, eu sempre fico curiosa. Vocês têm dificuldade muitas dezes de ler o endereço pela caligrafia das pessoas. Existe isso? Já teve alguma história?
R/3 – Isso é mais carta, né? Agora tem pouca carta. A maioria é fatura, já vem impressa. As cartas...
R/2 – É, foi substituída pelas redes sociais, né, mas já aconteceu comigo do endereço tá bem... Pelo endereço não consegui identificar, mas pelo nome sim. Às vezes o que eu pego, começo a desenhar em cima da letra do cliente, a gente vê o nome e o sobrenome. E já consegue identificar qual é o endereço, mas aconteceu bastante.
R/3 – Mas mesmo carta impressa vem com vários erros. A gente já vai porque a gente sabe. Tem bastante coisa errada, mesmo impressa, não só escrita à mão.
P/1 – Pra você já teve alguma situação?
R/1 – Tem porque aquela cartinha social tá ficando em desuso, né? Ainda utiliza as regiões mais precárias, mas tá ficando em desuso. E essa questão, pelo nome, você vai pelo nome, sobrenome, e às vezes a pessoa na rua vai tá saindo e indica a casa pra passear, você já sabe quem era e entregava a correspondência na mão.
R/3 – Eu gostava quando encontrava a pessoa na rua quando era carta de viela. Eu já via: ”Ah, você tá aqui?”, não precisava nem entrar, já ia direto, aí já ganhava um tempinho. Aí era bom.
R/2 – E quando vem com endereço, né? Que nem cartas sociais, muitas vezes vem sem endereço, você levava pelo nome.
P/1 – E encomendas, telegramas é usual vocês entregarem também?
R/3 – A gente já trabalhou em CDD, a gente entregava carta registrada assim, entregamos não muito, mais era carta mesmo. Encomenda é uma caixinha pequena, porque o setor de entrega de encomenda é o CEE. Agora eu trabalho em CEE. Lá só vem caixa, né? Você trabalha na entrega só tem caixa assim. Aí é outro tipo de serviço. O cara trabalha no carro, vai com motorista particular, entrega.
R/2 – Na minha unidade tem, tem bastante encomenda. Encomenda e telegrama lá na região de Vargem Grande, até por ser um município distante, então é muita coisa pela internet. Compra muita coisa pela internet. É muita encomenda. Que nem o Dé disse, vai pelo carro, não tem como a gente colocar uma caixa dentro da bolsa, vai pelo carro. Mas com a internet, até a gente achou que a internet ia diminuir até o nosso serviço. Pelo contrário, com a internet aumentou muito porque compra, a gente vai entregar.
R/1 – E nós quando carteiro pedestre, dificilmente leva telegrama ou encomenda. O Andre e a Karina aqui foram carteiro pedestre, dificilmente. Eu fui motociclista também. Eu fui carteiro pedestre, fiz um concurso interno pra motociclista, então entreguei muito telegrama e telegrama é complicado. Pra qualquer região, então. Tinha um plantão telegráfico no domingo, domingo não tem entrega de correspondência, tem só de telegrama. Então ia o motociclista, mesmo sem conhecer a região. Então a gente ia com o Guia na mão lá entregar. Igual motoboy, a mesma coisa.
R/2 – Ah, é verdade. Que o telegrama não foca só naquele bairro. Às vezes tem um telegrama aqui nesse bairro e tem outro telegrama em outro bairro, que ele faz toda a região.
R/1 – Porque telegrama é urgente, né? Geralmente é prazo de quatro horas, então você tem que ser moto. Moto que é mais flexibilidade de transporte.
P/1 – E chegava?
R/2 – Chega!
P/1 – E como é que é na casa assim de vocês, quando vocês chegam todos uniformizados. E a mãe de vocês?
R/2 – Ah, a mãe... (riso) Fala aí da mãe.
R/1 – Agora que eu passei pra gerente, né, fiz o processo seletivo pra gerente. Nossa! Minha mãe praticamente quase chorou no telefone.
R/2 – Foi que ele ligou primeiro pra mãe pra falar.
R/1 – Quando acontece alguma coisa assim, primeiro eu ligo pra minha mãe. Ela tá muito contente. Karina agora também passou pra supervisora.
R/2 – Foi
P/1 – Supervisora do que?
R/2 – Supervisora operacional. De CDD, de distribuição. Passe também no RE pra supervisora. Já era pra ter começado a fazer o curso, já pra assumir uma unidade, mas devido a necessidade da unidade, então jogou meu curso pro dia 29 já pra mim começar a assumir e ficar no lugar do meu irmão, quem sabe a gente trabalha junto e eu viro gerente.
R/1 – Quem sabe?
R/2 – É, já pensou que legal, né? (risos) Então. A minha mãe ficou muito contente, nossa, quando a gente entrou no Correios minha mãe que alegria. Que alegria quando a gente chegava com a roupa, né Júnior? Agora mais ainda. Cada vez que passa, dá mais orgulho pra mãe, né Dé?
R/3 – Outra curiosidade que eu encontrei uma vez, eu estava prestando serviço no setor internacional. Então lá vem diversas coisas, a gente vê de tudo. Eu estava passando uma caixa lá no raio X, aí apareceu aquele formato assim diferente, a gente ficou olhando o que que é, aí aquela cabeça aqui embaixo… (risos)
R/2 – Credo André, que vergonha.
R/3 – Não, primeira vez que eu vi eu estranhei, mas depois eu vi passando mais um monte. Vinha bastante dessa coisa aí. O pessoal tá comprando bastante.
P/1 – E compra pela internet.
R/3 – É, e tá comprando bastante, Tem que vim de outros países, que lá no internacional compra vem é de outros países, vem importado.
R/2 – Mas sabe do que ele tá falando, né?
R/3 – Aí você vê o formato direitinho do objeto.
R/1 – Quer dizer que o Correios entrega de tudo, sem exceções.
R/3 – Entrega de tudo.
P/1 – Quer dizer então, quando chega esse tipo de encomenda, passa por um raio X?
R/2 – Essa é a função dele, que ele era pedestre, ele prestou esse recrutamento interno pra essa função, né, Dé?
R/3 – Mas o que tá aqui no país não é passado. Tem aquela porcentagem que é passado, não é tudo. O que é internacional, aí tem que passar tudo. Aí como eu trabalhei um mês no setor internacional, eu passei de tudo. Aí você vê bastante. Agora na minha unidade mesmo, você tem aquela porcentagem que passa. Aí não sai muita coisa diferente não, mas lá... Nesse um mês que eu trabalhei lá, eu vi muito mais coisa que de dois anos que eu trabalho na minha unidade, lá vi bastante coisa.
P/1 – E teve alguma carta assim, social que vocês chamam, alguma carta em especial que tenha emocionado vocês, sei lá, pelo envelope, alguma coisa assim?
R/2 – Já, já teve, vou até mudar um pouquinho. O Papai Noel dos Correios, não sei se a senhora já ouviu falar? Aí tinha uma cartinha, ai cartinha linda, nossa! Teve assim duas, de todas as cartas que é assim, a gente lê, né, tem aquela equipe que, assim, colaboradores, quem quiser ler as cartinhas, a gente identifica, numera as cartinhas, né. Depois vem as pessoas e adota a carta. E tinha uma que tinha a menina pedindo, ai... - essa eu adotei, menina não, menino pedindo: “Papai Noel, onde eu moro a gente não tem dinheiro, a gente não tem condições”, que ele mandou como social. Então eu gostaria muito que o senhor desse pra gente um panetone, porque a gente adora panetone, só que minha mãe não pode comprar. Também ela não pode comprar nas Casas Bahia porque ela tem o nome sujo” (risos). Essa carta aí eu me emocionei muito, nossa. Eu peguei e adotei, até a gente comprou uma cesta, né, pra dar pra essa criança. E teve outro também, o menino falando da avó: “Papai Noel, essa aí é a receita da minha avó. Ela fez exame de vista só que ela não pode comprar o óculos. Será que o senhor pode comprar um óculos pra dar pra ela?” Aí na época a gente também adotou essa cartinha porque ele mandou a cópia da receita. Então assim, tem cartas que emocionam. Tem cartas também que os clientes... é sempre com cliente, que não chegava carta dela, do filho dela. Ela pedia pra ler, não pode, é antiético, mas ela não sabia ler, né, era ignorante mesmo, não tinha estudo nenhum, morava sozinha. Aí toda vez que chegava carta eu abria. Ela abria e eu lia e contestava, ela falava do filho dela que estava na Bahia, que nunca esteve lá. Ela chorava, eu chorava junto.
P/1 – Vocês têm alguma?
R/1 – De Papai Noel também eu adotei uma. A família ficou tão contente porque era uma cartinha e estava pedindo pra três crianças, né, na época eu não podia, não tinha condição de dar pros três, né? Aí eu comprei um jogo pra brincar a família toda. Aí cheguei lá pra entregar, nossa, ficaram tão contente. Inclusive eu fazia entrega na região, nossa, pegaram um respeito por mim ali, em consideração, né? Parecia que eu era da família, depois dessa.
P/1 – Quer dizer, você adotou a cartinha, você entregou o brinquedo pra família?
R/1 – Isso, eu mesmo entreguei pra família.
R/3 – . Eu também já fui entregar um brinquedo na comunidade, né? Aí você vê, tem aquelas cartas que são escolhidas, você já tem o endereço pra entregar, mas quando você chega na rua que a criançada vê aquele monte de brinquedo. Aí você tem aquele endereço certo da carta, aí você fica até meio sem graça porque você já tem aquelas pessoas pra você vai entregar, então não dá pra dar presente pra todo mundo. Aí você vê a criança: Tio, não tem pra mim?”. Aí não tem como. Aí a gente levava uns docinho e dava um docinho pras crianças que não tinha, mas dava dó. Você vê que não tinha condições, que era criança bem pobre, né?
R/2 – É, e pelo que escreve é muito humilde. Pediam meia, roupa, que falam que as meias tão furadas. Pra ir pra escola na aula de educação física, que na hora que tira o sapato as outras crianças tão rindo deles. Pede calcinha. Já li carta também pedindo calcinha, que a dela estava tudo furada. Essa também a gente adotou. A gente não pode adotar todas, né, na verdade tem muita gente que participa, né, que adota.
P/1 – Bom, e hoje, tem alguma pergunta que vocês acham interessante? Alguma coisa que eu não tenha perguntado sobre essa experiência profissional de vocês no Correios, que vocês gostariam de...
R/1 – Eu queria só complementar. Que a minha esposa também eu conheci ela também no Correios, na unidade que trabalhava, era motociclista e a gente foi na festa de um colega, aí eu fiquei admirado, né, gostei dela. Falei: “Eu vou investir”. Investi e casei, agora tô com uma filhinha. Então o Correios também me proporcionou uma família.
P/1 – E o que que a sua esposa faz lá?
R/1 – Carteira feminina.
R/2 – Eu também, né?
R/3 – Você já falou isso.
R/2 – Já, mas vou falar de novo. O Lindomar também, a gente se conheceu. Ele era carteiro da onde eu morava, região do Embu. A gente teve o maior contato nas corridas dos Correios, na Corrida do Carteiro. Aí a gente se aproximou, começou a ficar, começou a namorar. Tá noivo, vamos casar em Janeiro e compramos nosso apartamento juntos. Ai... (risos)
R/3 – Quem sabe também eu caso com alguém dos Correios e nós fica tudo em família?
R/2 – Olha só, hein Dé.
R/3 – Quando eu tiver com uns quarentinha.
R/2 – Ô louco.
R/3 – De preferência. Não pode ainda, né?
P/1 – Tem Corrida dos Carteiros? Vocês participaram?
R/2 – Tem, Corrida e Caminhada do Carteiro. O meu namorado ele é corredor, ele é atleta também. Mas tem, foi lá que a gente teve um maior entrosamento.
P/1 – Você correu junto com ele?
R/2 – Não, eu caminhei. Ele correu, mas tem todo ano. Todo ano tem Corrida dos Carteiros.
P/1 – E você também já, Edilson?
R/1 – Não, eu nunca participei da Corrida ainda não. É mais fácil campeonato de futebol. Também e proporcional, funciona, né? Que nem hoje eu falei, né, eu tô um pouco sedentário. Eu preciso voltar a praticar esporte.
R/3 – Nosso esporte agora é truco, a gente participa do campeonato de truco que é mais fácil.
P/1 – Gente, bom, e hoje em dia, quais são as coisas mais importantes pra vocês, na vida?
R/1 – Bom, pra mim é família. Minha família de um modo geral é minha esposa, meu filho, meus irmãos, meus pais e trabalhar, crescer dentro da empresa e me dedicar também pela empresa.
R/2 – Eu também, minha família em primeiro lugar. Em geral também os meninos, os irmãos, minha mãe, meu namorado, a nova família que eu vou construir, a empresa também, procurar sempre me dar, sempre um pouco mais pela empresa, crescer, assim, porque depois que eu entrei as coisas começaram a fluir mais, tirei habilitação, a primeira, é impossível. Eu terminei a faculdade. A gente comprou o apartamento.
R/1 – Pagar condomínio.
R/2 – É, ficar aguentando agora, né? Eu vou casar com o rapaz dos Correios, então é assim. O importante é a família, continuar na empresa, continuar crescendo na empresa, né Dé?
R/3 – Eu também, minha família, e também viso adquirir mais conhecimentos que a gente tem que tá aprendendo. Meu objetivo é esse. É crescer pessoalmente, profissionalmente, adquirir conhecimento e conviver bem com a família e com os colegas de trabalho e amigos.
R/1 – Casar, né?
R/3 – Não, casar não tenho tanta pressa, mas eu quero também.
R/2 – Que pressa!
P/1 – E o que vocês gostam de fazer sem ser trabalho, na hora de lazer, o que que vocês gostam de fazer?
R/1 – Eu gosto de ficar com a minha família. Churrasco, com meus pais, com a minha mãe. Eles estão separados, na casa da mãe, churrasco na casa do meu pai. Futebol, assistir o Corinthians, foi campeão de novo. É o que eu gosto, né, meu lazer é esse.
R/3 – Eu também, eu gosto de churrasquinho, gosto de ir num samba todo fim de semana, pelo menos uma roda de samba…
R/2 – Tá vendo?
R/3 – Eu gosto do videogame ainda, de ver o Coringão ganhar também e essas coisas. Jogar um baralho.
R/2 – Eu também, com a família, sempre os meninos, a mãe, um churrasquinho, que sempre tem churrasco lá em casa. Gosto de passear, gosto das corridas, de acompanhar o Lindo nas corridas e eu faço a caminhada. Gosto assim de estar numa área verde, onde a gente mora tem muito verde. Eu gosto de tá indo sempre em parque ecológico, gosto bastante. Enfim, gosto também de tá lendo, gosto bastante.
P/1 – E o que que foi pra vocês aqui nessa experiência de gravar a história de vocês, de dar aqui esse depoimento.
R/1 – Acho muito bom, interessante e me sinto valorizado. Tô me sentido valorizado e é um reconhecimento, com certeza. Em fazer parte de um livro, de um, né, um site de um Museu, fazer parte da história do Museu me sinto valorizado com certeza.
R/2 – Eu também.
R/3 – É, porque são poucos, né? A gente foi escolhido no meio de tantos funcionários que tem na empresa, então a gente sente orgulhoso, né?
R/2 – Ah, eu também.
R/3 – Sou meio tímido por causa da câmara, mas me senti orgulhoso.
R/2 – Ah, eu a mesma coisa. Me sinto assim, depois de dez anos que eu tô na empresa. A gente fez parte dessa história. Nós sermos escolhidos assim, sinto uma homenagem, lisonjeada. Tô tão feliz.
P/1 – São méritos, né?
R/1 – Com certeza, não é toa, né?
P/1 – Todo esforço de vocês, né. Então olha gente, foi um grande prazer conversar com vocês. Realmente foi muito legal pra mim também. Se vocês quiserem colocar mais alguma coisa, fiquem à vontade, senão é isso por hoje.
FINAL DA ENTREVISTA
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