Depoimento de Mario Santoni
Entrevistado por Valéria Barbosa e Roney Cytrynowicz
Estúdio da Oficina Cultural Oswald de Andrade
São Paulo, 24 de outubro de 1994
Transcrita por Carlos Alberto Torres Mattos
P - Seu Mario, inicialmente, a gente gostaria que o senhor dissesse o seu nome, local e data de nascimento; nome de seus pais e seus avós e o que eles faziam?
R - Meu nome é Mario Santoni, nasci em 25 de outubro de 1932. Meus pais Giovanni Santoni, minha mãe Paci Pierina era agricultores e que mais?
P - Em que local da Itália?
R - Eu nasci em Ascoli Piceno, é Província (de Le Marchi?), uma região central da Itália.
P - O que é que eles cultivavam?
R - Cultivava trigo, azeitonas, frutas em geral, verduras em geral, produziam leite e que mais? (Canapa?) é uma planta que produz fibra pra tecidos.
P - E o senhor trabalhava pra eles?
R - Bom, eu trabalhei pouquíssimo tempo porque até 15 anos estudei, teve guerra no meio dessa época e fiquei uns três, quatro anos, trabalhei com eles. Entreguei, por exemplo, entregava leite na cidade, algumas verduras... E depois vim para o Brasil.
P - Como o senhor entregava o leite, o senhor lembra?
R - Eu entregava de bicicleta, com uma espécie de mochila, como se poderia chamar, um latão como uma mochila, então eu entregava mais ou menos 15 a 20 litros. Às vezes fazia duas viagens, era pertíssimo da cidade, tinha uma freguesia já certa que comprava por mês, no fim do mês pagava e...
P - Quer dizer, cada um tinha a sua garrafa?
R - Sim, cada um deixava o seu recipiente fora da porta e eu tinha, além desta mochila, eu tinha um medidor, como por exemplo, um litro, meio litro e um quarto, não? Então, dependendo do cliente, quer dizer, deixava um papelzinho: "Me deixa meio litro." "Deixa um litro." Então eu entregava essas quantidades e no fim do mês era apresentado as contas e eles faziam o pagamento.
P - E as verduras, o senhor entregava assim também?
R - As verduras se entregava sob...
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Entrevistado por Valéria Barbosa e Roney Cytrynowicz
Estúdio da Oficina Cultural Oswald de Andrade
São Paulo, 24 de outubro de 1994
Transcrita por Carlos Alberto Torres Mattos
P - Seu Mario, inicialmente, a gente gostaria que o senhor dissesse o seu nome, local e data de nascimento; nome de seus pais e seus avós e o que eles faziam?
R - Meu nome é Mario Santoni, nasci em 25 de outubro de 1932. Meus pais Giovanni Santoni, minha mãe Paci Pierina era agricultores e que mais?
P - Em que local da Itália?
R - Eu nasci em Ascoli Piceno, é Província (de Le Marchi?), uma região central da Itália.
P - O que é que eles cultivavam?
R - Cultivava trigo, azeitonas, frutas em geral, verduras em geral, produziam leite e que mais? (Canapa?) é uma planta que produz fibra pra tecidos.
P - E o senhor trabalhava pra eles?
R - Bom, eu trabalhei pouquíssimo tempo porque até 15 anos estudei, teve guerra no meio dessa época e fiquei uns três, quatro anos, trabalhei com eles. Entreguei, por exemplo, entregava leite na cidade, algumas verduras... E depois vim para o Brasil.
P - Como o senhor entregava o leite, o senhor lembra?
R - Eu entregava de bicicleta, com uma espécie de mochila, como se poderia chamar, um latão como uma mochila, então eu entregava mais ou menos 15 a 20 litros. Às vezes fazia duas viagens, era pertíssimo da cidade, tinha uma freguesia já certa que comprava por mês, no fim do mês pagava e...
P - Quer dizer, cada um tinha a sua garrafa?
R - Sim, cada um deixava o seu recipiente fora da porta e eu tinha, além desta mochila, eu tinha um medidor, como por exemplo, um litro, meio litro e um quarto, não? Então, dependendo do cliente, quer dizer, deixava um papelzinho: "Me deixa meio litro." "Deixa um litro." Então eu entregava essas quantidades e no fim do mês era apresentado as contas e eles faziam o pagamento.
P - E as verduras, o senhor entregava assim também?
R - As verduras se entregava sob encomenda. Por exemplo, o mesmo freguês que me comprava leite, às vezes dizia: Olha, amanhã me traz determinada verdura, determinada frutas e eu entregava e funcionava a mesma coisa, pagamento no fim do mês. E era o meu serviço.
P - Tudo de bicicleta?
R - Tudo de bicicleta.
P - O senhor lembra quantos quilômetros o senhor chegava a percorrer?
R - Era quatro quilômetros.
P - Ah, quatro quilômetros?
R - Da minha casa, de onde que eu morava à cidade era quatro quilômetros. Então eu, praticamente, até ao meio dia, à uma hora me dedicava a isso, depois almoçava em casa e descansava e à tarde fazia um curso, como eu fiz uns cursos de agricultura e sucessivamente de mecânica. E depois esse de agricultura me serviu para alguma coisa, para a minha chácara aqui, aqui no Brasil.
P - E, senhor Mario, essa plantação já era dos seus avós?
R - Isto já vinha dos avós... Quer dizer, dos avós passou pros pais, pros meus pais e depois parte ficaram... Quando eu vim para o Brasil, uma parte dessa ficou para os meus irmãos, que atualmente eles abandonaram essa atividade porque já os filhos se dedicaram à escola e também a idade chegou, e eles não se dedicam mais a isso, né?
P - Quantos irmãos o senhor tem?
R - Eu tenho mais dois irmãos.
P - E irmãs?
R - Irmãs, três, duas faleceram e uma ainda está viva.
P - Mas todos ficaram na...
R - Todos não. Quer dizer as irmãs casaram, naturalmente elas saíram do campo, né? E os irmãos continuaram, como eu já falei, e a idade veio... parou agora. (riso)
P - Não tem nenhum...
R - Não, agora eles, os meus dois irmãos, quer dizer, aposentaram, naturalmente, porém fim de semana vai nessa propriedade, ainda faz alguma coisinha pra uso, né, pra ter alguma verdura assim genuína e nada mais.
P - E, seu Mario, essa propriedade era afastada da cidade, então, quatro quilômetros?
R - Quatro quilômetros.
P - Mas era isolada ou tinha outras, outras propriedades? O senhor, o senhor poderia só contar um pouco como era?
R - E... Não, este... por exemplo. Existe a cidade e, logo em seguida à cidade, têm propriedades agrícolas. São terrenos de 20, 30, 50 mil metros que têm uma família fixada ali, e produzindo todo esse tipo de coisa. Porque lá, o campo é explorado em outra maneira. Maneira de quê? O agricultor lá, ele tem uma tradição, digamos que vem já de bisavó, de tataravó, então eles são técnicos, técnicos práticos. Então o camponês de lá, é interessante porque ele se dedica, não só ao plantio, mas ele se dedica, por exemplo, ao enxerto de planta. Ele sabe essa planta quando tem de ser podada, ele, por exemplo, entende, digamos, um pouco de veterinária porque existe, por exemplo, o gado, porcos, enfim esses animais domésticos. O sujeito está a par de tudo da reprodução, do tempo de se abater, quer dizer, é um técnico prático disso daí. Então tem muito disso em volta da cidade, tanto que hoje, por exemplo, um sujeito que mora na cidade ele não tem dificuldades de encontrar coisas genuínas. Não precisa ir no estabelecimento, ele sai simplesmente, pega o carro, sai, vai numa propriedade e ele compra vinho, compra azeite, compra verdura, tudo assim, genuíno. Então isso, desde aquela época, era assim e hoje não mudou muito isso, entende? Sim, surgiu indústrias em volta dessas cidades que absorveu uma parte desse pessoal. Por exemplo os jovens, hoje ele não é muito chegado à agricultura, porque é um serviço mais pesado, um serviço mais duro. Então foram pra cidade. Mas tendo raízes como o caso dos meus sobrinhos que eles hoje trabalham em indústria, trabalham em comércio, trabalham em bancos, porém, no fim de semana ele tem um pedacinho de terra, ou do sogro ou da sogra, ele vai lá e ajuda e traz verduras, traz tudo isso, é interessantíssimo.
P - E, senhor Mario, o senhor sabe a origem da família, o Santoni?
R - Santoni. Bom, a origem desse nome conforme a gente procurou descobrir, Santoni quer dizer tempo. Falava-se de Santoni era a pessoa, como posso lhe dizer, assim um, como se diz aqui... um... esse milagreiro (risos) Esse milagreiro, era assim, determinado assim, é o curandeiro. Vem dessa origem Santoni.
P - Mas tem alguma história da família de alguém que tenha sido?
R - Não.
P - Não? (riso)
R - Não. E outra, lá tem o seguinte, tem outra coisa que, por exemplo, quase ninguém chama, isso é um tema interessante isso aí, as famílias, quase ninguém chamava assim, pelo sobrenome. Chega ali, por exemplo: "Vamos lá na família Santoni." Então se dá um apelido, tá? Cada uma família tem um apelido, por exemplo, a minha família tem o apelido, chamava Sabatini. Todo mundo conhece a gente por Sabatini. E por que Sabatini? Porque o bisavô chamava-se Sabatini. (riso) Então nós, é como os outros vizinhos, também é assim, o nome de uma pessoa ou um apelido de uma arte que o sujeito fez, ele se dá (risos) aquele nome, né? Passa a se chamar isso, assim...
P - Senhor Mario, o senhor poderia contar como é que o senhor chegou ao Brasil, por que o senhor decidiu vir pra cá?
R - Bom, eu, com a idade de 18 anos, naturalmente, entrei de leva, devia servir o exército, que uma coisa que eu não quis. Não quis por quê? Porque como eu com 12 anos, 11, 12 anos eu já tinha visto o que é que era uma guerra, então tinha horror disso. Naturalmente, quando cheguei de leva, surgiu um probleminha entre a Itália e a Iugoslávia, por motivo de, como chama, de divisa, de Trieste. Então eu pensei, agora eu estou de leva e se servir, e vai estourar uma guerra, é uma coisa que não vou querer. Então fiz de tudo para sair do país, contra a vontade, naturalmente, dos pais e dos familiares. Mas então fiz um curso de castelhano, que a minha idéia era para ir na Argentina, mas isso não deu certo, não lembro bem o motivo qual foi, mas decidido pra sair mesmo. Então tinha, naquela época abriu uma imigração para a Austrália. E já estava com o passaporte e tudo, surgiu também um problema de guerra não sei em que lugar, onde a gente deveria passar com o navio, sei lá. Então cancelei. E um amigo meu me sugeriu para vir para o Brasil. E eu, praticamente (risos), falei: "Mas, para o Brasil?" Não se falava quase nada do Brasil. "Mas, como é que eu faço?" "Você vai, paga a passagem você vai e enfrenta" E assim eu fiz. Então eu cheguei em Santos, peguei o ônibus e vim para São Paulo. São Paulo, quer dizer, no ônibus encontrei uns três amigos, que ele tinha amigos na Mooca, me convidaram a ir junto com eles numa pensão. E fomos numa pensão, ali na Tobias Barreto onde que sete, oito dias que eu estava ali, naturalmente, conheci pessoas que me orientou para fazer documentação, né? Os documentos necessário que era para trabalhar. Em oito dias trabalhava. Arranjei um serviço na Lapa, numa empresa chamada Irmãos Bei. Eu pensava, no momento que tinha feito o curso de mecânica, eu pensava que ia ser um mecânico, naturalmente, eu pensei. Mas o que aconteceu? Que se tratava de fazer reparos em caminhões, máquinas pesadas. Naturalmente eu tinha estudado isso no papel, mas na prática não. Não era nada daquilo, então eu fiquei uma semana e abandonei, não deu. Dali eu fui trabalhar em Rudge Ramos, numa fábrica de seda artificial, isto é, fios para seda. Nessa fábrica, então, os donos eram dois italianos, Irmãos Faccioli, que tinha montado essa fábrica e me deu orientações sobre análise dos produtos para se fazer os fios, ou seja, viscose. Esta viscose é composta de ácido, soda e (árcari?). (Árcari?) seria um papel, um papel de... como se diz, um papel grosso, tipo de papelão que era dissolvido na soda, depois era moído, ficava em fusão com um ácido e soda, e saía uma viscose, um líquido bem denso. Então, eu era encarregado de analisar o ponto desse (árcari?) e depois das viscoses e verificar a textura do fio quando saía das máquinas. E, além disso, eu tomava conta das equipes que entrava. Era três equipes, que era oito horas de trabalho cada uma. Então, estas, estas máquina, aonde que saía a viscose para ser feito os fios, era fieiras, chamava fieiras, um pequeno apetrecho ali que era de platina. Então, toda vez que uma equipe entrava, a que saía desmontava todas essas fieiras, me entregava e eu verificava se estava tudo em ordem, se estava apta para funcionar e entregava para a outra equipe. Naturalmente, era um serviço, para mim por exemplo, para eles era 8 horas, mas eu fazia às vezes 16 horas de trabalho. Mas gostava do trabalho, gostava. Por exemplo, o pessoal era muito bem tratado, mas era impossível trabalhar devido à soda, o ácido, que comia roupa e sobretudo pra saúde não era legal. Então eu procurei o Patronato Italiano para obter um serviço.
P - Seu Mario, inicialmente, a gente gostaria que o senhor dissesse o seu nome, local e data de nascimento; nome de seus pais e seus avós e o que eles faziam?
R - Meu nome é Mario Santoni, nasci em 25 de outubro de 1932. Meus pais Giovanni Santoni, minha mãe Paci Pierina era agricultores e que mais?
P - Em que local da Itália?
R - Eu nasci em Ascoli Piceno, é Província (de Le Marchi?), uma região central da Itália.
P - O que é que eles cultivavam?
R - Cultivava trigo, azeitonas, frutas em geral, verduras em geral, produziam leite e que mais? (Canapa?) é uma planta que produz fibra pra tecidos.
P - E o senhor trabalhava pra eles?
R - Bom, eu trabalhei pouquíssimo tempo porque até 15 anos estudei, teve guerra no meio dessa época e fiquei uns três, quatro anos, trabalhei com eles. Entreguei, por exemplo, entregava leite na cidade, algumas verduras... E depois vim para o Brasil.
P - Como o senhor entregava o leite, o senhor lembra?
R - Eu entregava de bicicleta, com uma espécie de mochila, como se poderia chamar, um latão como uma mochila, então eu entregava mais ou menos 15 a 20 litros. Às vezes fazia duas viagens, era pertíssimo da cidade, tinha uma freguesia já certa que comprava por mês, no fim do mês pagava e...
P - Quer dizer, cada um tinha a sua garrafa?
R - Sim, cada um deixava o seu recipiente fora da porta e eu tinha, além desta mochila, eu tinha um medidor, como por exemplo, um litro, meio litro e um quarto, não? Então, dependendo do cliente, quer dizer, deixava um papelzinho: "Me deixa meio litro." "Deixa um litro." Então eu entregava essas quantidades e no fim do mês era apresentado as contas e eles faziam o pagamento.
P - E as verduras, o senhor entregava assim também?
R - As verduras se entregava sob encomenda. Por exemplo, o mesmo freguês que me comprava leite, às vezes dizia: Olha, amanhã me traz determinada verdura, determinada frutas e eu entregava e funcionava a mesma coisa, pagamento no fim do mês. E era o meu serviço.
P - Tudo de bicicleta?
R - Tudo de bicicleta.
P - O senhor lembra quantos quilômetros o senhor chegava a percorrer?
R - Era quatro quilômetros.
P - Ah, quatro quilômetros?
R - Da minha casa, de onde que eu morava à cidade era quatro quilômetros. Então eu, praticamente, até ao meio dia, à uma hora me dedicava a isso, depois almoçava em casa e descansava e à tarde fazia um curso, como eu fiz uns cursos de agricultura e sucessivamente de mecânica. E depois esse de agricultura me serviu para alguma coisa, para a minha chácara aqui, aqui no Brasil.
P - E, senhor Mario, essa plantação já era dos seus avós?
R - Isto já vinha dos avós... Quer dizer, dos avós passou pros pais, pros meus pais e depois parte ficaram... Quando eu vim para o Brasil, uma parte dessa ficou para os meus irmãos, que atualmente eles abandonaram essa atividade porque já os filhos se dedicaram à escola e também a idade chegou, e eles não se dedicam mais a isso, né?
P - Quantos irmãos o senhor tem?
R - Eu tenho mais dois irmãos.
P - E irmãs?
R - Irmãs, três, duas faleceram e uma ainda está viva.
P - Mas todos ficaram na...
R - Todos não. Quer dizer as irmãs casaram, naturalmente elas saíram do campo, né? E os irmãos continuaram, como eu já falei, e a idade veio... parou agora. (riso)
P - Não tem nenhum...
R - Não, agora eles, os meus dois irmãos, quer dizer, aposentaram, naturalmente, porém fim de semana vai nessa propriedade, ainda faz alguma coisinha pra uso, né, pra ter alguma verdura assim genuína e nada mais.
P - E, seu Mario, essa propriedade era afastada da cidade, então, quatro quilômetros?
R - Quatro quilômetros.
P - Mas era isolada ou tinha outras, outras propriedades? O senhor, o senhor poderia só contar um pouco como era?
R - E... Não, este... por exemplo. Existe a cidade e, logo em seguida à cidade, têm propriedades agrícolas. São terrenos de 20, 30, 50 mil metros que têm uma família fixada ali, e produzindo todo esse tipo de coisa. Porque lá, o campo é explorado em outra maneira. Maneira de quê? O agricultor lá, ele tem uma tradição, digamos que vem já de bisavó, de tataravó, então eles são técnicos, técnicos práticos. Então o camponês de lá, é interessante porque ele se dedica, não só ao plantio, mas ele se dedica, por exemplo, ao enxerto de planta. Ele sabe essa planta quando tem de ser podada, ele, por exemplo, entende, digamos, um pouco de veterinária porque existe, por exemplo, o gado, porcos, enfim esses animais domésticos. O sujeito está a par de tudo da reprodução, do tempo de se abater, quer dizer, é um técnico prático disso daí. Então tem muito disso em volta da cidade, tanto que hoje, por exemplo, um sujeito que mora na cidade ele não tem dificuldades de encontrar coisas genuínas. Não precisa ir no estabelecimento, ele sai simplesmente, pega o carro, sai, vai numa propriedade e ele compra vinho, compra azeite, compra verdura, tudo assim, genuíno. Então isso, desde aquela época, era assim e hoje não mudou muito isso, entende? Sim, surgiu indústrias em volta dessas cidades que absorveu uma parte desse pessoal. Por exemplo os jovens, hoje ele não é muito chegado à agricultura, porque é um serviço mais pesado, um serviço mais duro. Então foram pra cidade. Mas tendo raízes como o caso dos meus sobrinhos que eles hoje trabalham em indústria, trabalham em comércio, trabalham em bancos, porém, no fim de semana ele tem um pedacinho de terra, ou do sogro ou da sogra, ele vai lá e ajuda e traz verduras, traz tudo isso, é interessantíssimo.
P - E, senhor Mario, o senhor sabe a origem da família, o Santoni?
R - Santoni. Bom, a origem desse nome conforme a gente procurou descobrir, Santoni quer dizer tempo. Falava-se de Santoni era a pessoa, como posso lhe dizer, assim um, como se diz aqui... um... esse milagreiro (risos) Esse milagreiro, era assim, determinado assim, é o curandeiro. Vem dessa origem Santoni.
P - Mas tem alguma história da família de alguém que tenha sido?
R - Não.
P - Não? (riso)
R - Não. E outra, lá tem o seguinte, tem outra coisa que, por exemplo, quase ninguém chama, isso é um tema interessante isso aí, as famílias, quase ninguém chamava assim, pelo sobrenome. Chega ali, por exemplo: "Vamos lá na família Santoni." Então se dá um apelido, tá? Cada uma família tem um apelido, por exemplo, a minha família tem o apelido, chamava Sabatini. Todo mundo conhece a gente por Sabatini. E por que Sabatini? Porque o bisavô chamava-se Sabatini. (riso) Então nós, é como os outros vizinhos, também é assim, o nome de uma pessoa ou um apelido de uma arte que o sujeito fez, ele se dá (risos) aquele nome, né? Passa a se chamar isso, assim...
P - Senhor Mario, o senhor poderia contar como é que o senhor chegou ao Brasil, por que o senhor decidiu vir pra cá?
R - Bom, eu, com a idade de 18 anos, naturalmente, entrei de leva, devia servir o exército, que uma coisa que eu não quis. Não quis por quê? Porque como eu com 12 anos, 11, 12 anos eu já tinha visto o que é que era uma guerra, então tinha horror disso. Naturalmente, quando cheguei de leva, surgiu um probleminha entre a Itália e a Iugoslávia, por motivo de, como chama, de divisa, de Trieste. Então eu pensei, agora eu estou de leva e se servir, e vai estourar uma guerra, é uma coisa que não vou querer. Então fiz de tudo para sair do país, contra a vontade, naturalmente, dos pais e dos familiares. Mas então fiz um curso de castelhano, que a minha idéia era para ir na Argentina, mas isso não deu certo, não lembro bem o motivo qual foi, mas decidido pra sair mesmo. Então tinha, naquela época abriu uma imigração para a Austrália. E já estava com o passaporte e tudo, surgiu também um problema de guerra não sei em que lugar, onde a gente deveria passar com o navio, sei lá. Então cancelei. E um amigo meu me sugeriu para vir para o Brasil. E eu, praticamente (risos), falei: "Mas, para o Brasil?" Não se falava quase nada do Brasil. "Mas, como é que eu faço?" "Você vai, paga a passagem você vai e enfrenta" E assim eu fiz. Então eu cheguei em Santos, peguei o ônibus e vim para São Paulo. São Paulo, quer dizer, no ônibus encontrei uns três amigos, que ele tinha amigos na Mooca, me convidaram a ir junto com eles numa pensão. E fomos numa pensão, ali na Tobias Barreto onde que sete, oito dias que eu estava ali, naturalmente, conheci pessoas que me orientou para fazer documentação, né? Os documentos necessário que era para trabalhar. Em oito dias trabalhava. Arranjei um serviço na Lapa, numa empresa chamada Irmãos Bei. Eu pensava, no momento que tinha feito o curso de mecânica, eu pensava que ia ser um mecânico, naturalmente, eu pensei. Mas o que aconteceu? Que se tratava de fazer reparos em caminhões, máquinas pesadas. Naturalmente eu tinha estudado isso no papel, mas na prática não. Não era nada daquilo, então eu fiquei uma semana e abandonei, não deu. Dali eu fui trabalhar em Rudge Ramos, numa fábrica de seda artificial, isto é, fios para seda. Nessa fábrica, então, os donos eram dois italianos, Irmãos Faccioli, que tinha montado essa fábrica e me deu orientações sobre análise dos produtos para se fazer os fios, ou seja, viscose. Esta viscose é composta de ácido, soda e (árcari?). (Árcari?) seria um papel, um papel de... como se diz, um papel grosso, tipo de papelão que era dissolvido na soda, depois era moído, ficava em fusão com um ácido e soda, e saía uma viscose, um líquido bem denso. Então, eu era encarregado de analisar o ponto desse (árcari?) e depois das viscoses e verificar a textura do fio quando saía das máquinas. E, além disso, eu tomava conta das equipes que entrava. Era três equipes, que era oito horas de trabalho cada uma. Então, estas, estas máquina, aonde que saía a viscose para ser feito os fios, era fieiras, chamava fieiras, um pequeno apetrecho ali que era de platina. Então, toda vez que uma equipe entrava, a que saía desmontava todas essas fieiras, me entregava e eu verificava se estava tudo em ordem, se estava apta para funcionar e entregava para a outra equipe. Naturalmente, era um serviço, para mim por exemplo, para eles era 8 horas, mas eu fazia às vezes 16 horas de trabalho. Mas gostava do trabalho, gostava. Por exemplo, o pessoal era muito bem tratado, mas era impossível trabalhar devido à soda, o ácido, que comia roupa e sobretudo pra saúde não era legal. Então eu procurei o Patronato Italiano para obter um serviço.
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