MCHV_045_AGUINALDO RODRIGUES DA SILVA
Projeto Memórias do Comércio
Entrevista de Aguinaldo Rodrigues da Silva
Entrevistado por Luís Paulo, Rosana Miziara e Cláudia Leonor
Ribeirão Preto, 30 de março de 2021
Entrevista História de vida 045
P1- Ô, “seu” Aguinaldo, pra começar eu gostaria que o senhor dissesse o seu nome completo, a data de nascimento e o local que senhor nasceu.
R1- Bem, eu nasci em Ribeirão Preto, em catorze de maio de 1941. Só pra referência, em 1942 fundou-se o Sindicato de Turismo e Hospitalidade em Ribeirão Preto. Eu tinha um ano de idade, já existia, começou o sindicato.
P1- Legal. E o nome do seu pai e da sua mãe?
R1- Meu pai era o professor Mário Rodrigues da Silva. E a minha mãe, Geraldina Aguiar Barbosa da Silva.
P1- Muito bom. “Seu” Aguinaldo, e o senhor conheceu os seus avós? Assim, teve bastante contato com eles?
R1- Sim. Inclusive os meus avós paternos eram portugueses, né? O meu avô, de origem portuguesa. Inclusive, agricultor. O pai dele, agricultor de café, se instalou no Rio de Janeiro. E ele veio pra Ribeirão Preto e evidentemente, explorando essa área. E muita coisa que eu sei da agricultura da época, inclusive do crack de 1929, foi contado por ele ali.
P1- Que legal! E, “seu” Aguinaldo, qual era o nome deles, dos seus avós paternos e maternos?
R1- Os maternos eu não os conheci, entendeu? Eu só conheci os meus paternos. É Jarbas Rodrigues da Silva e Maria Moreira da Silva, os meus avós.
P1- E o senhor sabe como eles vieram pra Ribeirão Preto? Eles estavam no Rio? Ribeirão era uma das cidades mais ricas do Brasil, né, por causa do café? Eles vieram pra plantar? Como foi a história.
R1- Então, inicialmente o meu avô... a minha avó era brasileira. O meu avô, português. Eles vieram pro Brasil, para o Rio de Janeiro, explorar a cultura do café. O meu bisavó explorava o café numa época da escravidão. E como Ribeirão Preto surgiu na época de 1900 como um grande maná, da qualidade da terra, né, as terras já estavam muito bem exploradas no Rio de Janeiro e nas circunstâncias e vieram pra Ribeirão Preto, porque Ribeirão Preto é terra roxa. A produtividade... Porque naquela época, né, ô Luis, não se usava adubo e essas coisas mais. Era o valor da terra. Então, Ribeirão Preto, na época, o grande valor, era a qualidade da terra, que é a terra roxa. E a produtividade em Ribeirão Preto era muito maior do que em qualquer outro local, inclusive Rio de Janeiro. Foi quando a cafeicultura começou a vir pra Ribeirão Preto. E o meu avô veio junto.
P1- E ele chegou a montar propriedade, assim, própria dele, fazenda, sítio? Ou trabalhava na dos outros?
R1- Sim. No início, quando ele veio pra Ribeirão Preto, ele veio como administrador de fazenda, que na época era o top, era o grande emprego, porque nós éramos um país agrícola, não é? E ele veio como administrador de fazenda, que era um dos salários mais bem pagos. Então, os grandes fazendeiros da época, ele era requisitado a peso de ouro. Então, ele frequentou e administrou várias fazendas em Ribeirão Preto, que eram, na época, de café. Depois, ele veio a ter a fazenda dele.
P1- Está certo. E o senhor, quando era criança, quando foi crescendo, o senhor teve a presença das tradições portuguesas na sua casa? Comida, música, dança, festas portuguesas, o senhor teve isso?
R1- Olha, na verdade, não. Aquele pessoal da época, mormente o meu avô, eram pessoas... o meu avô, eles eram em dez irmãos, eram três mulheres e sete homens. E a preocupação deles era o trabalho, era a lavoura. O meu bisavô, segundo me falam, era extremamente exigente, era bravo, exigia o cumprimento das coisas, tal. Então, esse negócio de festa não era bem (risos) da época, não. E a minha avó não era uma portuguesa, era brasileira, não é? Então, não teve, eu não tive essa tradição portuguesa. Eu conheci algumas coisas de Portugal, através daquilo que ele me contou, que ele veio de Coimbra. Pra você ter uma ideia, como eu falei que ele era um administrador, ele aprendeu administração de lavoura, da agropecuária em Coimbra, na Universidade de Coimbra. Então, ele, quando veio pro Brasil, veio com essas credenciais de conhecimento da época, entendeu? Então, ele era muito requisitado, pelos conhecimentos que ele tinha.
P1- E aí o seu pai já nasceu em Ribeirão Preto, né? O seu pai e a sua mãe. Você sabe como eles se conheceram, o seu pai e a sua mãe?
R1- Olha, os filhos dos meus avós nasceram todos em Ribeirão Preto. O meu pai, por exemplo, foi um professor. Evidentemente orientado por uma irmã mais velha, que era professora. Então, ela encaminhou os irmãos, todos os irmãos, pra aquilo que era oferecido, na época, como um conhecimento a mais, que era professor. Então, todos, se não eram professores, trabalhavam em Banco, gerente de Bancos, enfim, iniciaram as atividades dentro das casas bancárias da época. E os meus pais: o meu pai, professor e a minha mãe, na época, prendas domésticas. E a minha mãe vivia em Uberaba, mineira. Veio pra Ribeirão Preto, porque Ribeirão Preto era o centro comercial da época, né, o centro chamativo da época, o centro econômico. Ela veio pra cá com as irmãs, com a irmã mais velha e com as irmãs e se conheceram.
P1- Sim. Muito bom. Bom, isso que o senhor contou sobre os administradores de fazenda, a gente estudou bastante, fizemos bastante trabalho aqui na região de Bauru. Era, realmente, um baita de um emprego. Era como se hoje fosse ser um executivo, né, da época?
R1- Isso. Exatamente.
P1- Então, os seus pais, o seu pai já nasceu com uma condição melhor de vida, né? E você se lembra, na época do seu nascimento, nos anos quarenta, onde vocês moravam? Como era o ambiente da cidade, ali onde vocês moravam? Era num bairro legal? Como era?
R1- Sim. Eu me lembro perfeitamente. Eu me lembro. Como eu falei pra Claudia, eu tenho uma memória fotográfica da época. Então, eu me lembro perfeitamente, com quatro, cinco anos, me lembro de Ribeirão Preto, me lembro dos meus tios, tias que me carregavam no colo. E nós morávamos, eu me lembro da casa que, nessa época, eu devia ter quatro, cinco anos. Eu me lembro dessa casa em que nós morávamos, que era classe média, né? O meu pai era professor. Dava aula. Era um professor primário, né, em grupo escolar. Nós morávamos numa casa, no Centro, médio, classe média. Era um funcionário do Estado. Pra época, tinha uma renda satisfatória, né, como professor. Professor, na época, era muito privilegiado. Era muito respeitado. Então, isso aí, nós vivemos, eu me lembro muito bem que nós vivemos, eu tive um bom período nesse local, perto de hospital, enfim, era um local, não era periferia. Então, era classe média.
P1- Legal. E, “seu” Aguinaldo, como era Ribeirão Preto? Porque a gente esteve muitas vezes aí em Ribeirão, antes de começar a pandemia. Uma baita de uma cidade, cheia de prédios. Eu acredito que na década de quarenta era muito diferente. O senhor lembra da Praça XV, do teatro, do Diederichsen, lá?
R1- Eu lembro perfeitamente. Eu me lembro, inclusive, você estava falando em prédios, não é? Eu lembro do primeiro prédio em Ribeirão Preto. Eu não o conheci construindo, porque ele foi terminado em 1936, que é o prédio Diederichsen. O prédio Diederichsen é um prédio de seis mil metros, pega todo um quarteirão. Foi construído por um comerciante de Ribeirão Preto, o Diederichsen. O Diederichsen era um prussiano. Ele construiu esse prédio. Isso aí, na época, foi uma demonstração da pujança da economia de Ribeirão Preto. E, ao mesmo tempo, ao lado desse prédio, na Praça XV, foi o Quarteirão Paulista, você tem lá o Pedro II, ao lado onde está o Pinguim e tinha um motel do lado. Isso aí foi construído em 1930, pela Companhia Antártica Paulista. A Antártica era a indústria, uma das primeiras indústrias em Ribeirão Preto, que construiu esse Quarteirão Paulista. Hoje, o teatro e os prédios já são da prefeitura, né, é municipal. Mas antes, é isso aí. Então, eu me lembro desse prédio de 1936. E depois eu vi a construção do primeiro grande prédio de andares em Ribeirão Preto, que serviu, que foi o Umuarama Hotel. Ele foi construído como hotel, um prédio de catorze andares. Esse foi o primeiro prédio e eu vi construir.
P1- Muito bom. “Seu” Aguinaldo.
R1- Fala.
P1- Desculpa, cortei o senhor.
R1- Não. Não.
P1- E o que o senhor fazia, quando o senhor era criança? O senhor fazia as brincadeiras, andava na rua? Como era o seu dia-a-dia quando criança, morando na casa do seu pai?
R1- Bem, a atividade... bom, primeiro que ele, como professor, exigia que estudasse. Eu estudei inicialmente no Grupo Escolar Guimarães Junior. E eu estava até lendo a respeito, que foi a primeira escola em Ribeirão Preto, a Guimarães Junior. Inclusive, construída por exigência ou trabalho, projeto de um vereador que chamava-se Guimarães Junior. Então, depois de construída, foi dado o nome, ele faleceu, foi dado o nome dessa escola, a primeira escola primária em Ribeirão Preto, foi dado o nome dele. Agora, como todo moleque da época, né, o meu esporte era jogar futebol, né? Então, estudava e depois do almoço, eu juntava com a turminha lá, ia jogar futebol, andar de bicicleta. Naquela época você não tinha as preocupações que você tem hoje. Então, era invadir os sitiozinhos ali (risos), pra pegar maçã, pra roubar goiaba, manga, essas coisas, essas frutas da época. Agora, uma coisa que eu me lembro perfeitamente, é que nós tivemos um teatro em Ribeirão Preto, que foi o Teatro Carlos Gomes. Foi o primeiro teatro, antes do Pedro II. E era um teatro que foi construído pela iniciativa privada da época. O cafeicultor, na época, que ganhava muito dinheiro, uma demonstração de prestígio era construir algo que pudesse perpetuar o seu nome. Então, os Junqueiras construíram esse Teatro Carlos Gomes que, como o nosso povo é horrível pra preservar a memória, né, ele foi derrubado, foi demolido em 1939. Eu me lembro, na praça, que hoje é uma praça, a Carlos Gomes, era um teatro chamado Carlos Gomes. Nessa Praça Carlos Gomes, eu cheguei a ver parte da demolição desse teatro. Imagina você, ficava em frente ao Teatro Pedro II.
P1- Sim.
R1- O Teatro Pedro II está na Praça XV. É uma praça em frente à outra, não é? Então, o Pedro II foi construído com mil e quinhentos e vinte lugares, então acharam que era desnecessário o Teatro Carlos Gomes, que cabiam quatrocentos e cinquenta pessoas, e demoliram.
P1- Sim. Eu tenho fotos. Era muito bonito o Teatro Carlos Gomes, assim como o Pedro II também é lindo, né?
R1- Sim. Não há dúvida.
P1- O senhor sabe se teve uma rixa ali? Porque o Carlos Gomes foi construído pelos cafeicultores.
R1- Sim.
P1- E o Dom Pedro II, pelos industriais. Não teve isso? Pela indústria, né?
R1- Sim, exatamente, pela indústria. Na verdade, tudo o que acontecia em Ribeirão Preto, em termos de arte, de apresentações artísticas, eram feitas no Carlos Gomes. Agora, é que, na época, até com essa rixa que você está dizendo, acharam que o Carlos Gomes estava obsoleto, não é? Pela grandiosidade das festas que eram realizadas, apresentações artísticas, acharam que não já servia mais. Então, realmente, foi passado isso pra prefeitura, cedido pra prefeitura, inclusive, o Carlos Gomes. E o prefeito da época, na verdade, achou que não era mais interessante manter, que era um custo a manutenção do teatro, tinham algumas críticas sobre o som, a preservação. Então, acharam que o melhor era derrubar, demolir.
P1- Está certo. E o senhor, na sua infância, frequentou... assim, até hoje, em Ribeirão tem palacetes da época do café, muito bonitos. O senhor chegou a entrar nessas casas, na época de ouro delas, assim? Ainda era a época de ouro, né, do café.
R1- Sim. Nós tivemos. Algumas casas foram preservadas, estão preservadas, como museu, né? Agora, teve outras, como aí em São Paulo, na Paulista, derrubado na madrugada, aqui em Ribeirão Preto também aconteceu muito disso. Quando os institutos aí de preservação foram em cima, pra segurar isso como patrimônio, então na madrugada ia lá com os pedreiros e demoliram algumas relíquias. Relíquias. Mas eu cheguei a conhecer algumas delas. Tem uma, que é uma grande, uma residência que era uma maravilha, que era dos Innecchi, Paschoal Innecchi. Família italiana, né? Ele construiu um palacete, que isso aí era demonstração de força, da época, de poder. E esse palacete Innecchi chegou até a servir como uma faculdade de Enfermagem, um certo período. E como a Enfermagem passou junto com a faculdade de Medicina, então o palacete ficou em abandono. E a família, demoliu. Hoje é um Banco. (riso)
P1- É. Eu vi foto. Era muito bonito. De três andares. Bonito pra burro. Eu vi.
R1- Sim. Era uma coisa maravilhosa.
P1- “Seu” Aguinaldo, o senhor pegou bastante ainda a época da ferrovia, né? A ferrovia era logo ali embaixo, onde é a estação rodoviária hoje...
R1- Sim. A Estação Mogiana. Exatamente. Aliás, a Estação Mogiana, quando veio pra Ribeirão Preto, veio em função do café. Olha a importância da cafeicultura! Porque a produção era muito grande, de café. E as estradas eram estradas de terra. Você imagina o tipo de estrada, como a nossa, com um tipo de terra, derrapando pra baixo e pra cima, época de chuva, aquele negócio todo. Então, a produção, era a dificuldade de sair de Ribeirão Preto. Você vê, hoje, a dificuldade de sair do Pantanal, lá do Mato Grosso. Você imagina Ribeirão Preto, na época, que não era nem caminhão, era carroça. Eu conheci algumas carroças da época, puxada por cavalo... não, burro... gente, o boi! Puxada por boi. Tinha lá dez, doze bois puxando a carroça de café e coisa mais. Depois que, em 1950, que aí começou os caminhões, aqueles caminhõezinhos e tal. Eu me lembro de uma passagem do meu avô, que ele me dizia o seguinte, quando os caminhões começaram a transportar gado. Ele falou assim: “Eu nunca imaginei na minha vida que eu ia ver caminhão transportando, boi andando de caminhão”. (risos) Está vendo? Porque o transporte começou a ser feito, não mais tocado pelos cavaleiros e tal e passou a ser transportado através de caminhão. Ele falou: “Poxa, eu nunca vi, nunca eu poderia pensar isso”. Mas aconteceu.
P1- Muito bom. Ô, “seu” Aguinaldo, o senhor andou muito de trem?
R1- Olha, eu andei de trem. Pra São Paulo. De Ribeirão Preto pra São Paulo, não é? Nós tínhamos não só a Mogiana, em Ribeirão Preto, mas nós tínhamos também a Paulista, que você ia à Barrinha, a sessenta, cinquenta quilômetros de Ribeirão Preto. A Paulista já era uma ferrovia de transporte de pessoas, mais luxuoso, aquele negócio todo. Era aquela briga, né? O estado tinha várias ferrovias. Tinha a Sorocabana, tinha a Paulista, tinha a Mogiana. E elas competiam entre si. Era uma delícia. Uma não entrava no território da outra, mas competiam em termos de preço, qualidade, aquele negócio todo. Agora, a ferrovia Mogiana, era mais uma ferrovia de transporte, pra transportar a grande produção que tinha em torno de Ribeirão Preto. Antes era a cafeicultura, que teve o problema lá em 1930, mas depois veio a cana de açúcar e depois veio o álcool. Então, é interessante que, com todos os problemas que aconteceram no país, que o país sofreu, na época, economicamente, Ribeirão Preto, evidentemente, perdeu alguma coisa, mas não sofreu com tanta intensidade, como teve em muitas partes do país, não é? Então, quando terminou o ciclo do café, entrou o ciclo do açúcar, depois entrou o álcool. O Proálcool, que você sabe, foi feito em Ribeirão Preto, assinado pelo presidente Ernesto Geisel, que veio organizar o Proálcool e lançar o Proálcool em Ribeirão Preto, foi em 1975. Então, foi o outro grande boom, em Ribeirão Preto. Nós tivemos o boom cafeeiro. Depois nós tivemos uma grande produção, que foi o açúcar, que Ribeirão Preto tinha usinas de açúcar por tudo quanto é lado. E depois veio o café. Ah, desculpa! Aí veio o álcool, que explodiu no mercado também, nós fomos a maior produção. Nós, tanto o açúcar, quanto o álcool, a produção da região de Ribeirão Preto representava noventa por cento da produção nacional. Então, você imagina a riqueza que se constituiu em Ribeirão Preto, não é? Agora, a grande vantagem que houve em Ribeirão Preto é que, tanto os cafeicultores, quanto o pessoal do açúcar e álcool, os usineiros, deixaram muitas marcas em Ribeirão Preto, certo? Eles construíram em Ribeirão Preto. Muitos de usinas entraram na indústria, no comércio, entendeu? Então, na época, nós tivemos a vinda, até em função do açúcar e do álcool, a Coca-Cola, que veio pra Ribeirão Preto. Isso com o capital de usineiros. Teve usineiro que entrou no segmento da construção civil. Quando houve aquele grande boom, também, de construção de prédios em Ribeirão Preto, isso na década de setenta. Tanto que chegou num ponto que precisou fazer um zoneamento em Ribeirão Preto, porque as construções estavam se edificando no Centro da cidade e nós não tínhamos condições de rede de esgoto, de água, pra sustentar toda essa avalanche de prédios que foram construídos. Então, foi feito um novo zoneamento e os prédios foram deixados de ser construídos no Centro da cidade e saíram pra fora. Era um zoneamento que foi estabelecido na época.
P1- Certo. Ô, “seu” Aguinaldo, então depois desse boom, primeiro do açúcar, depois do álcool, a gente poderia dizer que Ribeirão teve um boom da construção civil que dura até hoje? Ou não? Dura, né?
R1- Não. Dura. Dura. Então, e essa construção civil, é interessante, é um relato aí. Nós tivemos um grande boom com capital de Ribeirão Preto, com capital de investidores de Ribeirão Preto, né? De cafeicultores, de usineiros, enfim, o pessoal de Ribeirão. Então, o que aconteceu? Isso foi até 2000, com investimentos nossos, aqui de Ribeirão Preto mesmo. De 2000, nós tivemos o investimento no setor imobiliário de empresas de São Paulo. Então, as grandes empresas de São Paulo já vieram em bloco: construtoras, investidores, as imobiliárias, os corretores. Vieram como uma avalanche. Então, da mesma forma que isso aconteceu no comércio de Ribeirão Preto, na década de setenta, também aconteceu em 2000 com o segmento imobiliário. Essas empresas com capital até estrangeiro, vieram pra Ribeirão Preto, também com grandes projetos. E com isso aí eles inflacionaram o mercado imobiliário. Pra você terá uma ideia, na época, as grandes construções de qualidade, se baseavam numa média de dois mil reais o metro quadrado. Quando eles vieram pra Ribeirão Preto, que ficaram aqui durante dez anos, a construção civil passou pra cinco mil o metro quadrado. Quase que triplicou, não é?
P1- Sim.
R1- Porque eles entraram. E outra: com um trabalho de marketing que pegou todo mundo surpresa aqui em Ribeirão Preto. É a mesma coisa, viu, Luis, com o segmento do comércio. O comércio em Ribeirão Preto até 1960, 1970, era aquele comércio tradicional, né, de investimentos de capital de Ribeirão Preto, oriundo da cafeicultura. Enfim, aquele comércio bom, de grande força regional. E aí, é aquele chamariz, né? Quer dizer: o pessoal está vendo que o negócio está crescendo. Então, as grandes redes começaram a vir pra Ribeirão Preto, de São Paulo. São Paulo era uma potência já, na época, comercial. Então, veio a Mesbla, Mappin, enfim. Eu dou como uma referência, uma outra empresa, que você deve conhecer, aí de São Paulo: a Eletroradiobras. A Eletroradiobras veio pra Ribeirão Preto e ela fez um negócio em Ribeirão Preto: ela arrendou uma área que era dos padres, fora do centro comercial. Foi a primeira empresa que veio pra Ribeirão Preto e saiu do Centro. Ela arrendou uma área de dez mil metros quadrados, que era dos padres franciscanos (sibatinos? 32:29). E ela construiu uma loja enorme de eletrodomésticos, roupas, enfim. E arrendou aquilo lá por vinte anos. Na época, para o empresário tradicional de Ribeirão Preto, foi uma loucura: “Onde já se viu, alugar por vinte anos?”. Bom, isso aí, pra você ter uma ideia, foi em 1970. Hoje, a Eletroradiobras já nem está lá mais, não é? Já passou pra uma outra loja e agora, hoje é um supermercado e continua sendo alugado, pelos padres, pra outra empresa. Então, a Eletroradiobras, quando ela veio com essa mentalidade, com essa estrutura de marketing, ela começou a tirar o consumidor do Centro da cidade, porque ela tinha estacionamento, tinha tudo fácil pra ele chegar à loja. E, com isso aí, começou a levar o segmento comercial pra fora do Centro da cidade. Aí veio o primeiro shopping, não é? Também se instalou pra aqueles lados lá, com cento e setenta e cinco lojas, que foi aquele boom enorme. E o mercado de Ribeirão Preto foi um balanço geral. As grandes lojas que nós tínhamos aqui ficaram surpresas com toda essa qualidade de ensino que eles trouxeram. As rádios, aí veio a televisão também. A forma de fazer a propaganda, a publicidade. Então, modificou completamente, o que era um negócio, eu não diria amador porque era uma liderança do segmento aqui da região, mas se profissionalizou barbaridade. Porque aí começaram ver técnicas diferentes de vendas de produtos. Então, o comércio de Ribeirão Preto teve um avanço muito grande. Algumas quebraram. Isso aí faz parte. Não souberam... uma das grandes empresas de Ribeirão Preto foi a Modelar. Eram empresas familiares - isso é importante - foram surpreendidas pelos investidores da época, que eram profissionais. Perderam a competitividade. E muitas fecharam. Ou, vamos dizer, a Modelar, que eu estou citando como exemplo, de uma família tradicional de Ribeirão Preto, foi vendida pras Casas Bahia, que hoje está aí, tomando conta do mercado e coisa e mais. Mas então, pra você ver, essa evolução, inclusive até uma revolução no mercado, no comércio de Ribeirão Preto, aconteceu também no mercado imobiliário. E pegando o pessoal, empurrando o empresário ribeirão-pretano pra frente, ele se viu obrigado a se mexer, entendeu? Agora, a grande vantagem desse pessoal, que alguns passaram dificuldade, mas outros tiveram investidor. Porque Ribeirão Preto sempre foi uma cidade rica. É interessante isso. Nunca teve fases da cidade de Ribeirão Preto pobre, perdida no espaço. Nunca teve isso. Você entendeu? Sempre indo pra frente. Quebrando alguma coisa, porque não souberam competir, não é? Mas indo pra frente, ou aparecendo outras. E a invasão de capital de fora de Ribeirão Preto, entrando em Ribeirão Preto, capital de fora, de São Paulo e tal, tal.
P1- Ô, “seu” Aguinaldo, essa fase que o senhor está contando já é a fase do boom imobiliário, comercial, né? Mas quando o senhor era criança e jovem ainda, o comércio de Ribeirão ainda era localizado ali em volta da Praça XV, né?
R1- Sim. General Osório. Porque Ribeirão Preto começou na Francisco... na Francisco Junqueira? Na Jerônimo Gonçalves, que é uma avenida, que é a ferrovia ficava nessa Jerônimo Gonçalves. A ferrovia foi o Centro de Ribeirão Preto, porque ali aconteciam o comércio, aquele negócio todo. O Centro de Ribeirão Preto começou ali e aí ele foi subindo. Foi subindo. Foi crescendo e foi subindo. A Praça XV, que você se refere, está a uns cinco quarteirões dessa Jerônimo Gonçalves. Então, conforme havia o crescimento econômico e coisa e mais, os comerciantes iam montando as suas lojas pra cima. Porque aquele Centro começou a ficar deteriorado. Porque era um centro ferroviário. Depois ficou junto ali, ficou um centro rodoviário também, a estação de ônibus, aquele negócio todo. Então, as empresas de qualidade foram começando a subir, entendeu? Tanto que...
P1- E o senhor...
R1- Fala.
P1- Desculpa. Eu cortei o senhor.
R1- E essas coisas, evidentemente, eu lembro de Ribeirão Preto da década de quarenta: 1945, 1948, 1950. Já Ribeirão Preto estava do lado da Praça XV, estava por ali, já. Então, essas construções que tiveram aí, que foram, o comércio foi crescendo, aquele negócio todo, nós tivemos muitas construções copiando as construções francesas. Ribeirão Preto, isso, a história que contam, que Ribeirão Preto tinha muita coisa da França, Petit France, uma coisa assim.
P1- Petit Paris, né?
R1- É. Então, quando o Teatro Carlos Gomes foi feito, ele era conduzido por um tal de Cassoulet. Eu me lembro desse Cassoulet, que o meu avô chegou a falar-me dele, como o meu pai também. Eu, evidentemente, não o conheci. Mas foi o cara que, no Teatro Carlos Gomes, trouxe as grandes artistas que, geralmente, vinham da França. E que se apresentavam no Teatro Carlos Gomes, entendeu? Então, é isso aí.
P/1- Muito bom. Ô, “seu” Aguinaldo, e quando o senhor era criança, e estava na escola, assim, como foi a época da escola? O senhor se destacou, gostou mais de alguma disciplina que já apontou um pouco a profissão que o senhor ia seguir? Como é que foi essa escolha, assim? Como foi a época da escola?
R1- Olha. Bom, Ribeirão Preto, na época... eu fiz o ginásio, o grupo escolar, não é, como exigências da época, né? E os professores da época eram exigentes. Você tinha que respeitar o professor. Hoje, você não respeita professor. Naquela época, você tinha que respeitar o professor. Você levantava quando ele entrava em classe. Enfim, imagina você. Meu pai já era diretor de grupo escolar, bravo que dói. Então, você, a exigência das coisas, te obrigava a estudar. Depois o ginásio, que era público. Tinha alguma coisa particular, mas a escola era toda pública. O ginásio Otoniel Mota em Ribeirão Preto, os professores que davam aula eram professores consagrados, eram professores de nome, que até hoje são referenciados. Professores de Português, professora de Inglês, Francês. Você tinha Francês, Inglês, um monte de coisa. Então, era um estudo que, por mais que você... eu nunca fui assim um grande aluno, né, estudioso, coisa e mais. Porque eu, com treze, catorze anos, achei de trabalhar. A razão, desculpa, eu vou contar uma historinha só pra... porquê eu fui trabalhar. Naquela época, você, o seu pai, comprava na padaria - que era bar, padaria, aquele negócio todo - as coisas: o pão, o leite, aquele negócio todo e marcava numa caderneta. E a caderneta, eu achei de, um dia, com os meus catorze anos, comprar um maço de cigarros na conta da caderneta. E meu pai, quando foi pagar, no final do mês, foi conferir e viu lá dois maços de cigarro. Ele foi perguntar pro dono: “Foi o seu filho que pegou dois maços de cigarro”. Evidentemente, ele veio falar comigo e me cobrou esse cigarro, eu falei: “É. Realmente, fui eu que comprei, coisa e mais”. Aquela lição de moral, na época: “Olha, você quer manter um vício? Vai trabalhar”. (risos) Eram os ensinamentos da época. Então, eu fui trabalhar. Fui trabalhar. Eu trabalhava durante o dia. Aí fui estudar à noite.
P1- Qual era o ramo? O senhor entrou em qual tipo de serviço?
R1- Olha, eu fui entregador. Eu fui fazer entregas numa padaria. Fazia entregas. Depois eu fui pra uma livraria. E depois eu passei pra um escritório. Fui melhorando a minha _______ (44:27). E depois, eu tive um pequeno comércio com o meu pai. E, aos dezenove anos, eu estava trabalhando numa rádio, a PRA-7, uma das mais antigas do Brasil. PRA-7, eu acho que foi a terceira ou quarta emissora de rádio, que na época era do senhor Bueno. E comecei a trabalhar em rádio, como repórter político. E, junto a isso, logo em seguida, eu fui também trabalhar no jornal, passei a escrever em jornal. Então, foi nessa idade. Pra você ter uma ideia, dezenove anos, de 1941, eu estava em 1960. O Sesc foi inaugurado em Ribeirão Preto, o prédio do Sesc, em 1962.
P1- Sim.
R1- Está certo? E eu me lembro da inauguração do Sesc. E mais ou menos da festa, eu tenho alguma noção da época, né, do Sesc, em 1962. Então, eu fiquei em rádio e jornal, um período. Depois, aí eu fui pra comércio. Daí eu entrei no comércio.
P1- Eu achei interessante que o senhor direcionou, assim, os seus trabalhos, tirando o entregador, pra uma área bem intelectualizada, né? Livraria, rádio e jornal.
R1- Sim.
P1- O senhor tinha interesse de seguir essa carreira? Pensou em seguir a carreira no jornalismo, escrever?
R1- Pensei. Olha, eu, na época, com treze anos, viu, Luis, não é querendo ser... eu com treze anos, li A Revolução Francesa, entendeu? E metido a participar de associação estudantil, brigando já com meio mundo. Na época, não tinha esse negócio de esquerda e direita. Mas eu estava sempre brigando com alguma coisa. Então, quando eu entrei, estava em jornal, eu fui convidado, como eu escrevia, pela Folha pra escrever e ir pra São Paulo, né? Teria que ir pra São Paulo. Eu tinha um amigo que já trabalhava na Folha, que era de Ribeirão Preto, que era o Roberto Muller. Ele já trabalhava na Folha e através dele, ele me chamou pra ir pra São Paulo. E, nessa oportunidade, também um parente próximo me chama pra trabalhar no comércio. Aí foi quando eu fui me consultar com a grande liderança comercial em Ribeirão Preto, chamado Amin Antonio Calil. Eu venero esse homem como uma grande liderança, porque, através dele, Ribeirão Preto se desenvolveu muito grande, através da vinda do Sesc e do Senac, foi um trabalho dele como presidente da Associação Comercial e Sindicato do Comércio Varejista, que ele ajudou. Ajudou, não, que ele criou. Então, esse Amin Antonio Calil, quando eu fui entrevistá-lo pro jornal e pra rádio, eu me aconselhei com ele, eu falei: “Senhor Amin, eu fui convidado pra ir pra São Paulo, trabalhar no jornal, a Folha. E, ao mesmo tempo, um parente está me chamando pra trabalhar no comércio. O que o senhor acha?”. Ele falou assim: “Se você quer ganhar dinheiro, você vai pro comércio. Se você quer viver de ilusão, você vai trabalhar no jornal”. Então, eu fui pro comércio. (risos) Então, eu fui trabalhar no comércio. Na época, eu fui trabalhar numa empresa, num comércio de joalheria, que era um parente...
P1- Joalheria?
R1- É. E fiquei um bom tempo trabalhando com esse parentesco. E depois eu montei a minha loja. Também de joalheria. Eu fiquei um bom tempo com ela e depois eu saí do ramo e entrei no ramo de agricultura. Nós tínhamos uma pequena propriedade rural, fora de Ribeirão Preto. E depois eu voltei pra prestação de serviço. Eu tinha uma empresa de terceirização de serviço. Fiquei um bom tempo com ela, até me aposentar.
P1- E, “seu” Aguinaldo, quando o senhor ainda estava nos estudos, até o... não sei como chamava, não era o terceiro colegial, né? Como é que falava? Eram três anos...
R1- É. Eram três anos. Era o científico.
P2- Clássico. Científico. É.
P1- Isso. Isso.
R1- É. Só que eu fiz, depois do ginásio, eu fiz Química. Eu sou químico industrial.
P1- Ah. Eu ia perguntar isso. O senhor não se direcionou pra uma faculdade? Naquela época não era todo mundo que ia pra faculdade, né? Se você ia pro comércio, você não ia pra faculdade, né?
R1- É verdade. Mas como eu comecei muito cedo, assim, a trabalhar e no comércio, eu acabei casando... então, essas coisas te tiram um pouco o foco, não é? Eu cheguei a fazer Direito, eu entrei numa faculdade de Direito, mas eu não terminei. As exigências da época eram mais econômicas. Até pelos aprendizados que eu vi na época, né? O poder era quem tinha condição econômica, não é? Esse era o foco de Ribeirão Preto. As pessoas se apresentavam pelo poder econômico, não é?
P1- Sim. E aonde o senhor gostou mais, assim, teve mais sucesso? O jornal chamava como, que eu esqueci de perguntar? O jornal que o senhor trabalhou?
R1- Eu trabalhei no jornal O Diário.
P1- O Diário.
R1- O Diário. E trabalhei também no jornal A Cidade. Eu escrevia sobre política. Eu convivi com muitos políticos da época, até através disso aí, né? O Costábile Romano. A Família Rossi, o Baleia Rossi, conheci o pai dele, evidentemente. O Nogueira, o Duarte Nogueira, o velho. Hoje está aí o menino, o filho dele, como prefeito. Então, esse pessoal todo eu conheci dessa época. Eu conheci o Duarte Nogueira estudante.
P1- E era difícil cobrir a política nessa época aí? Era mais difícil que hoje? Mais fácil? Como era?
R1- Ah, é evidente que tinha muitas tendências, né? Tinha, evidentemente, a esquerda, o centro e a direita, isso aí sempre existiu, não é?
P1- Sim.
R1- Agora, uma passagem interessante da política é da época do prefeito Welson Gasparini. O Welson Gasparini foi o prefeito mais novo a ser eleito no Brasil, ele foi eleito com vinte e seis anos. E foi justamente numa época da revolução, a revolução de 1964. E, logo no início da revolução, principalmente no interior, quem mandava era o coronel, você tinha que conversar com ele. E o Welson Gasparini, como uma liderança jovem na época, foi contra a política da época, que era a política do Ademar de Barros. Ele ganhou do candidato do Ademar de Barros e assim, de uma forma contundente, brigando, falando coisas, esse negócio todo. Quando veio, teve a revolução e era o prefeito, ele teve que conversar lá com o coronel, que era o Coronel Abner, ou ele não governava. Porque as pessoas, no comércio, na indústria, pra querer fazer alguma coisa, eles tinham que falar com o coronel, não iam falar com o prefeito. Então, foi quando o prefeito, esse Welson Gasparini, se armou aí de toda a sua força política e foi conversar com o coronel: “Quem é que manda?”, Eu tenho essa liberdade de falar com você, porque, na época, eu era o assessor de imprensa dele, do Welson Gasparini. Eu trabalhava no jornal e era assessor de imprensa dele. Então, talvez não tenha sido bem assim, porque essa conversa foi em particular, não é? Mas precisou ele enfrentar isso aí, pra ele poder começar a governar Ribeirão Preto. E teve lá a benção do coronel, tipo: “Vai. Vai administrar, que eu estou aqui pra ajudar”, aquele negócio. Foi quando ele começou a administrar Ribeirão Preto.
P1- E depois, “seu” Aguinaldo, aí o senhor entrou no ramo de joias.
R1- Sim.
P1- Primeiro, trabalhando numa loja, depois tendo a sua própria loja. Como foi essa época? O senhor prosperou? Porque depois, o senhor mudou...
R1- Foi. Essa foi uma época dos militares, né? Eu estava com loja até 1980. Eu digo pra você, Luis, que foi para o comércio, uma das épocas de maior crescimento. Ribeirão Preto cresceu, mais ainda, em termos do comércio. Pra você ter uma ideia, nós tivemos uma época, a época de setenta, a época do governo Médici, com todas as problemáticas da época, mas nós chegamos a crescer onze por cento, entendeu? Então, foi um crescimento muito grande, o comércio de Ribeirão Preto cresceu muito. Eu lembro que, com todas as mazelas da época, inclusive da época do Sarney, as dificuldades do Brasil inteiro, você lembra disso? Ribeirão Preto não sofreu da maneira que o Brasil sofreu. Nós fomos um pouco diferenciados disso aí. Não teve quebradeira no comércio, como teve no Brasil por inteiro.
P1- Ô, “seu” Aguinaldo, o Brasil, durante todo esse tempo que o senhor está falando, passou por várias crises, né?
R1- Sim.
P1- Crises econômicas. A gente teve a hiperinflação na época do Sarney. Depois, a gente teve o Plano Cruzado, lá. A gente teve também o Plano do Collor, que também foi difícil pra muita gente. Como o senhor passou por essas experiências? O senhor era comerciante nessa época, né?
R1- Sim. Olha, o brasileiro tem uma grande vantagem, Luís: ele se adapta a tudo. Ele sabe tirar de letra as dificuldades que aparecem, entendeu? Então, você vê, pra você ter uma ideia, a inflação nossa era tão grande que, por pressão de sindicatos laborais, você pagava o salário duas vezes ao mês. Porque depreciava tanto o valor, que chegava no final do mês, o salário já estava desvalorizado. Então, por reivindicação, você pagava a cada quinze dias, pra ele poder não perder tanto. Agora, foi uma época, quando eu falo em adaptação, que você, quando punha preço na mercadoria, você já punha a inflação a posteriori, entendeu? Você sabia que ia ter uma inflação de quinze, vinte por cento ao mês, você já punha vinte por cento. O grande interesse da época é que você perdia a noção de valor.
P1- Sim. Chegou a oitenta por cento, né, a inflação?
R1- Então, você perdia a noção de valor. Quando aconteceu o plano que estabilizou a moeda, que foi o Plano Real, foi quando você começou a ter uma noção de quanto valia uma caixa de fósforos, entendeu? Você fala: “Poxa. É tão caro? É tão barato?”, entendeu? Você começou a ter noção de valor de salário. Foi aí primeiro, que você tinha comparativos. Porque você punha, você levava as coisas no seu comércio, um pouco no conhecimento. Porque nós tínhamos já instituições em Ribeirão Preto, de valor. Você tinha o Senac trazendo tecnologias, você tinha o Sesc, você tinha o Sebrae, você entende? O Sesi.
P1- É verdade.
R1- Enfim, você já tinha um conhecimento aí que já estava vindo. Mas muita coisa que você colocava na frente, era no olhômetro, entendeu? Você falava: “Bom, vou colocar esse preço aqui. Acho que vai dar pra vender”, aí você punha esse preço, entendeu? Depois, até pra você chegar à conclusão de resultado, já era difícil. Porque você chegava no final do mês, pra você saber, na verdade, o quanto você ganhou percentualmente, era difícil você ver isso aí. Então, você precisava estar muito atento de não ficar com o dinheiro na mão. Você tinha que aplicar esse dinheiro na compra de mercadorias. Então, você trabalhava com estoques altos. Justamente pra não ter a dificuldade, amanhã, de ter que comprar uma mercadoria, vendendo por dez e comprando por vinte.
P1- Pois é. Ô, “seu” Aguinaldo, depois dessa fase das joalherias, o senhor foi tomar conta do sítio lá na agricultura né? E como chegou ao Sindtur? Se o senhor quiser contar um pouco da fase da agricultura...
R1- Olha, na agricultura eu fiquei pouco tempo. Na verdade, era uma agricultura de manutenção, de sustento, não era de grande, extensiva, vamos dizer assim. Acho que eu fui mais porque eu estava meio perdido aí com o comércio, meio chateado com as coisas do comércio. Eu tive muita presença no comércio, essa época, porque eu presidi a Associação Comercial. Então, eu estive muito no meio do meio comercial, com as lideranças da época. Então, eu conheci muitos empresários e muitos líderes sindicais. Então, quando eu voltei pra Ribeirão Preto, eu montei uma empresa de terceirização de serviços, que era um segmento que já estava começando a crescer, de prestar serviços em empresas. Não só a terceirização em limpeza, conservação, portaria, entendeu? Enfim, passei pra esse ramo de terceirização, que estava crescendo muito. E, na época, a terceirização de serviços estava agregado ao Sindicato de Turismo e Hospitalidade. Na época, o Sindicato de Turismo e Hospitalidade agregava sete categorias econômicas: mercado imobiliário, lavanderias, cabeleireiros e o asseio e conservação e terceirização. E o presidente era o empresário Milton Barbosa. Milton Barbosa que foi, inclusive, o diretor da Fecomércio, da Sincomércio, foi conselheiro do Sesc Ribeirão Preto, foi uma liderança muito conhecida. Ele, então, através dele... porque quando eu assumi a Associação Comercial, em 1979, o presidente anterior era ele. Eu sucedi, depois dele. Então, quando eu fui pra terceirização, ele era o presidente do sindicato, do Sindtur, né? E ele falou: “Não. Então, eu vou sair e você vai assumir”. E eu assumi. Isso foi em 2002. Então, de lá pra cá, eu fiquei... eu sou que nem o Orlando Rodrigues, que vocês conheceram. Ele assumiu o Sindicato dos Varejistas e ficou vinte e oito anos. E eu falava pro Orlando: “Mas Orlando, puxa. Mas vinte e oito anos!”. Olha, mais um pouquinho, eu estou chegando nele. (risos)
P1- “Seu” Aguinaldo, e quais são os desafios aí do Sindicato do Turismo? O senhor toma conta do planejamento turístico aí de Ribeirão? Como é o seu trabalho?
R1- O turismo, eu sempre falo... além do Sindicato do Turismo, eu presido o Comtur, a Comissão Municipal do Turismo. E eu insisto em dizer pro pessoal que quem faz turismo não é a prefeitura, é a iniciativa privada. A prefeitura, o estado, dão a estrutura pra você fazer. Mas quem faz, quem deve fazer é a iniciativa privada. Só que os nossos dirigentes públicos ainda não entenderam isso. Você vê que o comércio se aproveita do turismo pra venda. O turismo é business. E você não consegue colocar isso na cabeça de um dirigente público, de que ele tem que incentivar o turismo. Não precisa pôr dinheiro, não precisa dar dinheiro pra ninguém. Ele precisa dar é estrutura de local, saneamento pra, realmente, você ter a presença do público usufruindo disso. E alguém fazendo, dando qualidade pra isso aí. Então, hoje, por exemplo, nós estamos numa dificuldade imensa. O turismo... bom, o turismo está incipiente, né? Você não tem como fazer turismo, se você não pode nem sair de casa, não é?
P1- Sim.
R1- O grande problema da hotelaria, por exemplo, quando nós voltarmos à atividade normal, eu tenho a impressão, por uma pesquisa feita, quarenta por cento da hotelaria está quebrada. Sessenta por cento de bares e restaurantes estão em dificuldades, pra fechar. Então, eu não sei, eu sou contra essa forma: “Ó, fica em casa”, entendeu? Eu represento os cabeleireiros. Não são os grandes institutos, não. Aqui em Ribeirão Preto nós temos cinco mil cabeleireiros, só na cidade de Ribeirão Preto. Institutos, nós devemos ter aí uns trezentos. Mas a grande quantidade são cabeleireiros individuais, são microempresa, são MEI. Então, eles me telefonam: “’Seu’ Aguinaldo, nós precisamos trabalhar”. Então, o que está acontecendo? Eles estão... como se fala?... indo contra as normas públicas, eles estão indo trabalhar, marcando horário, meia porta, porta fechada. E trabalhando. Porque eles ganham no almoço, pra pagar o jantar, entendeu? Então, Luis: “Não. Mas você tem que ficar em casa”, mas como é eu posso? Eu dei uma entrevista logo no início dessa pandemia, colocando essa questão da dificuldade do pequeno comerciante. Porque o grande comerciante, de certa forma, ele também passa apertado, mas ele dá lá um jeito. O pequeno não tem jeito. O pequeno comerciante passa dificuldade, não tem dinheiro pra comprar as coisas, ele se vira do jeito que ele achar melhor, não é? Então, nós, a nossa dificuldade tem sido manter esse pessoal dentro de casa e não indo trabalhar.
P1- Sim. Ô, “seu” Aguinaldo, mas assim, tirando a parte da pandemia, como o senhor definiria o turismo em Ribeirão Preto? Mas, assim, antes da pandemia? Porque tem o turismo de negócios, tem muito hotel cheio de gente, porque vai pra trabalhar e acaba usufruindo da cidade.
R1- Sim.
P1- E outras atrações turísticas, assim? Pra uma pessoa que quer passar o final de semana em Ribeirão, o que nós temos?
R1- Olha, o turismo aqui de Ribeirão Preto, aqui em Ribeirão Preto é um turismo de negócios, né? E é um turismo também voltado pra saúde. Nós temos instituições médicas em Ribeirão Preto, de grande valor. Conferências a toda hora, nós temos muitas salas pra isso aí. E de negócios também, porque nós temos a Agrishow em Ribeirão Preto, uma das grandes produções aí pro mercado agropecuário, uma das maiores do país. Você tem, na região, a gente explora o turismo de eventos. Nós temos os museus aqui em torno de Ribeirão Preto, o do Portinari e coisa mais. Nós temos grandes eventos em Ribeirão Preto. Nós temos uma grande feira de livros, que é nacional. Nós temos o Tanabata, que é feito pelo segmento dos japoneses, né? Nós temos... como se fala? Bom, enfim, nós temos muitos shows em Ribeirão Preto, que vinham acontecendo, não é? Feiras de negócios, nós temos várias feiras que aconteciam em Ribeirão Preto. Porque, por ser uma cidade regional, você tem a participação muito grande de gente de fora. Pra você ter uma ideia, nós temos em Barretos, o...
P/1- O rodeio.
R1- ... rodeio de Barretos, não é? Mas quem se serve grandemente disso aí, de Ribeirão Preto, do rodeio, são bares, restaurantes e hotelaria de Ribeirão Preto. O pessoal fica em Ribeirão Preto e depois vai lá no rodeio, entendeu? Então, as cidades em torno usufruem dessa capacidade de Ribeirão Preto, de ter uma grande hotelaria, ter vários, muitos restaurantes de nível internacional. Então, eles se servem. Em Ribeirão Preto também tem um aeroporto, né? O pessoal desce em Ribeirão Preto pra se servir das cidades em volta. Então, é isso aí.
P/3- Ô, “seu” Aguinaldo, o distrito do Bonfim representa um pólo turístico em Ribeirão Perto? Com seus restaurantes charmosos, assim? Ou é mais internamente?
R1- O Bonfim?
P/3- É.
R1-O Bonfim Paulista?
P/3- Isso.
R1- O Bonfim Paulista é mais velho que Ribeirão. (riso) Mais velho que Ribeirão Preto. E, na época, pertencíamos a São Simão, como Ribeirão Preto. Então, Bonfim Paulista... o meu pai nasceu em Bonfim Paulista, ele nasceu em Bonfim Paulista. E como Ribeirão Preto... Bonfim Paulista era uma... como se fala? Não era nem uma cidadezinha, era uma...
P/3- Vila.
R1- ... vila.
P/3 - Vilarejo.
P/3- Isso. Era um vilarejo. Ligado a São Simão. Quando Ribeirão Preto, teve uma grande explosão em Ribeirão Preto, com a sua criação e coisa e mais, abafou Bonfim Paulista. E Bonfim Paulista passou a ser distrito de Ribeirão Preto. Como foi em Guatapará, Dumont. E Dumont era um distrito de Ribeirão Preto, de onde vem a família... por que Dumont? A família Dumont, do nosso criador do avião, inventor do avião, Santos Dumont. É uma cria, nascido em Dumont, que era um distrito de Ribeirão Preto. O pai dele era um cafeicultor. E como era um cafeicultor rico, mandou o filho pra França, né, pra Paris. Ele e mais nove filhos, eram em nove irmãos. Mas ele foi pra lá e conheceu o motor a combustão, aquele negócio todo e inventou o avião. Isso é uma cria de Ribeirão Preto. (risos)
P1- Ô, “seu” Aguinaldo, a Claudia perguntou de Bonfim, porque a gente foi lá fazer algumas entrevistas, antes da pandemia, porque vai entrar o comércio de Bonfim também, porque pertence a Ribeirão. E a gente percebeu ali que, em Bonfim, existe já uma exploração turística local. As pessoas que moram nos condomínios em volta ali, no final de semana vão ali comer, tomar cerveja. Tem até uma cervejaria lá.
R1- Tem. Luis, olha, mas hoje Bonfim Paulista já está ligada a Ribeirão, está certo? Hoje, acabou aquela distância. E, realmente, o progresso foi tanto lá pra Bonfim Paulista, com grandes condomínios, condomínios de alto nível, condomínios ricos, não é, que tirou o sossego do pessoal de Vila Bonfim. Antes era Vila Bonfim, hoje é Bonfim Paulista. Melhorou. Então, tirou o sossego do pessoal. Então, você está falando da cervejaria...
P1- Tem uma lá.
R1- Com a saída da cervejaria de Ribeirão Preto, da Antártica, que saiu de Ribeirão Preto, só deixou aqui o Pinguim, ainda bem, que é da Antártica. E o Pinguim... as grandes cervejarias foram embora. Então, o que aconteceu em Ribeirão Preto? Por que as cervejarias estavam em Ribeirão Preto? É um centro regional e a qualidade da água, que dá uma boa cerveja. Como a cervejaria foi embora, foram se criando as cervejarias artesanais, em Ribeirão. Hoje Ribeirão Preto tem aproximadamente doze, treze cervejarias artesanais e criaram esse pólo cervejeiro. E uma das cervejarias, é a que você deve ter conhecido em Bonfim Paulista, a Walfänger, que é uma das grandes.
P1- Isso.
R- É mesmo? Lá tem um joelho de porco, que é uma delícia. (risos) Além da cerveja, evidente. Então, hoje, Bonfim Paulista já é um bairro de Ribeirão Preto, praticamente.
P1- Certo. E está sendo explorado turisticamente, porque a gente vê que tem comércio tradicional de Bonfim, ainda, com aquelas lojinhas, açougues, tudo bem. Mas ali do outro lado, a gente já vê uma boutique de carne, já não é mais um açougue, é uma boutique de carne, que é feita pro pessoal que mora em volta, ali, né?
R1- Exato. Ô, Luis, como Bonfim Paulista é um bairro de Ribeirão Preto, mas um bairro em que mora a classe alta, evidentemente que as lojas que foram pra Bonfim Paulista, foram empreendimentos de alto nível. Que até surpreendeu lá, o pessoal lá, que não foi nem pro pessoal de Bonfim Paulista, é dos que estão morando em volta de Bonfim Paulista, entendeu?
P1- Sim.
R1- Olha, essa transformação em Bonfim Paulista, que as grandes empresas de qualidade foram pra lá, é a mesma coisa quando São Paulo, as grandes lojas invadiram Ribeirão Preto e assustou o comerciante de Ribeirão Preto, tradicional, entendeu? É a mesma coisa. Então, o bonfinense deve estar falando: “Nossa mãe de Deus, o que eu vou fazer?”, né? Porque ao lado de uma grande empresa que está indo lá, você tem uma lojinha pequena, que é a loja do comerciante lá de Bonfim, de muitos anos, aquele negócio todo.
P1- “Seu” Aguinaldo.
R1- E aquele sossego que tinha Bonfim Paulista, acabou, né? Porque lá foi o marginal, também foi pra lá, roubo, aquele negócio todo. Tirou o sossego deles.
P1- E, “seu” Aguinaldo, quanto à preservação histórica da cidade, né, que a gente vê que tem vários palacetes ainda, da época do café, bonitos. Alguns estão meio deteriorados. A gente viu um que virou um restaurante, ficou muito bonito, o Palacete 1922. A gente tem a biblioteca pública, a Biblioteca Sinhá Junqueira, que ficou linda e era um palacete dos cafeicultores. E a gente tem aquele centrinho ali embaixo, perto da estação rodoviária, que está tudo bem velho. Aquilo lá não poderia ser aproveitado pro turismo? Assim como Bonfim tem bastante antiga e está conservado ainda?
R1- Luis, tudo aquilo que dependeu da iniciativa privada, está sendo conservado, né? Você falou do Sinhá Junqueira, tem outros mais em Ribeirão Preto, esse restaurante que você está falando. Quem está mantendo isso aí é a iniciativa privada. Aonde tem a mão do poder público, está deteriorado. Você vê, um museu da cidade, não é? Nós tínhamos uma, só pra _____ (1:22:02), no Museu do Café em Ribeirão Preto, nós tínhamos uma...
P1- Sei. Lá na USP.
R1- Isso. Lá é o próprio municipal. Lá nós tínhamos uma múmia que nos foi presenteada pelo governo do Egito. Esqueceram a múmia debaixo de uma goteira. Então, isso é o poder público, né? Aquilo que depende... nós temos um hotel em Ribeirão Preto, tombado pelos órgãos públicos. Esse hotel é da época do café, foi aonde os grandes cafeicultores vinham lá da fazenda e ficavam lá. Hoje foi tombado pelo poder público e esta lá com tapume, está lá fechado. Então, o poder público não assume a responsabilidade. E outros prédios que estão por aí, que foram tombados também pelo poder público, mas sem manutenção, estão caindo, entendeu?
P1- Esse hotel que o senhor falou era o Hotel Brasil, ali, né? Eu vi.
R1- Exatamente. Isso. Hotel Brasil.
P/1- É do século XIX ainda. É lindo. Está lá parado, né?
R1- Está lá parado. Deve estar pra cair, não é?
P1- Sim.
R1- Então. Eu acho, o poder público não serve pra pegar essas coisas, pra conservar essas coisas. Isso aí tem que ser da iniciativa privada. Então, você pega esses institutos aí que ficam fazendo tombamentos, muitos à revelia, vão tombando, vão tombando, não é? E não dão condições para que, realmente, o proprietário do prédio tenha condições de fazer um investimento e ter um aproveitamento comercial ou coisa parecida, né? Não. Eles não permitem. Bloqueiam iniciativas. E não saem do lugar. É isso aí. Se perdem no tempo.
P1- Está certo. E, “seu” Aguinaldo, e quanto ao futuro, após a pandemia? Porque vai acabar. Agora, depois da vacina vai acabar essa pandemia. Como o senhor vê o futuro do turismo em Ribeirão Preto, que eu sei que é um turismo mais voltado pros negócios, mas isso movimenta muito a cidade, né? Os hotéis estão sempre cheios.
R1- Sim. Sim. Olha, eu acredito que está tudo represado, Luis. Porque Ribeirão Preto, a região, é de investidores. Porque quando eu falo pra você que aqui tem muito investidor, que tem dinheiro, eles só não investem, porque não tem onde investir. A hora que parar com esse negócio de ficar represando as coisas, que parar com esse negócio: “Ó, fica em casa”, não é? E o pessoal... porque está todo mundo se organizando. A hora que liberar a atividade, vai ser um boom. Eu acredito que vai ser, aqui na região de Ribeirão Preto, outra explosão. Porque, em algumas coisas, por exemplo, o mercado imobiliário não está parado. Ele só não é maior, porque eles ficam proibindo o empregado de ir trabalhar na construção, entendeu? O turismo não acontece, porque você não pode sair na rua, não é? Mas a hora que essa pandemia parar com isso, que nós tivermos a liberdade de o investidor pôr pra frente aquilo que está projetado, vai ser como esses outros booms que nós tivemos, esse vai ser outro, né? E outra coisa: nós temos aqui em Ribeirão Preto, com o prefeito Nogueira, ele está fazendo... a mobilidade de Ribeirão Preto está crescendo muito, está se organizando muito. Não é propaganda política, não. É que você, quando vier pra Ribeirão Preto, você vai ver que o trânsito de Ribeirão Preto está fluindo mais. Ele soube, como ex-deputado federal, buscar aquelas verbas do PAT, da época da Dilma Roussef, que o prefeito da época não soube buscar o dinheiro, porque não tinha projeto. Ele sabendo disso, fez o projeto e buscou o dinheiro. Só pra você ter uma ideia ele está aplicando, desse dinheiro, quinhentos milhões em mobilidade, em Ribeirão Preto.
P1- Muito bom. Porque também, aí, Ribeirão, é um lugar, o Centro de Ribeirão é difícil de se deslocar. É muito carro, né, na hora do rush, né? Então, ele...
R1- É. O Centro de Ribeirão Preto ficou um centro muito popular, né, Luis? Hoje, as grandes empresas já não estão mais no Centro. E depois nós temos já quatro shoppings que são fora do Centro. Então, o Centro ficou muito popular. Então, realmente, pra você andar de carro lá, é problemático.
P1- É verdade.
P/3- Ô, “seu” Aguinaldo.
R1- Sim.
P3- Eu gostaria que o senhor falasse um pouco, assim, do seu papel, da sua atuação, como conselheiro do Sesc.
P1- Ah, isso.
R1- (riso) Bom, o Sesc. Primeiro, que a equipe do Sesc aqui de Ribeirão Preto é fantástica: o Mauro, o Lucas, aquele pessoal todo. São muito atuantes né? E eu gosto de, nas reuniões do Sesc, contar das coisas que eles fazem. Porque eu digo pro Mauro que muitas coisas que ele fazem não é noticiado. É porque é o jeito deles trabalharem. O Sesc não é pra ficar fazendo propaganda do que fazem. Mas eu digo pra Mauro: “Mauro, muitos aí precisam saber, inclusive, o lado sindical, né? os sindicatos precisam saber que os trabalhadores têm o direito a usufruir daquela maravilha que é o Sesc, não é? E não o fazem por falta de orientação, até. Até de conhecimento”, não é? Então, eu insisto com o Mauro pra essas coisas. Mas a atividade deles é enorme. A Feira do Livro, quando é realizada em Ribeirão Preto, a participação do Sesc é grandiosa, né? A última, um terço da área de atuação lá, era utilizada pelo Sesc.
P1- Legal. Ô, “seu” Aguinaldo, a gente está chegando mais ao final, assim, da entrevista. Eu gostaria de saber se tem algo que a gente não falou sobre a sua área de atuação, sobre a sua vida no comércio, mas que o senhor gostaria de falar.
R1- Sabe o que eu acho, Luís? Eu sou uma pessoa que eu gosto de valorizar e prestigiar aqueles homens que fizeram as coisas. Fizeram o comércio, fizeram o Sesc, fizeram o Senac. A história dessas pessoas, desses sindicalistas, que foram diretores da Fecomercio e que misturaram a sua vida comercial, pessoal, familiar e pública, ao mesmo tempo. Então, e que não foram prestigiados, não foram lembrados. Eu, quando eu falo do Amin Calil como o primeiro a trazer o Sesc. O Sesc de Ribeirão Preto foi o primeiro do estado. O primeiro do interior, desculpe. Do interior. Então, eu falei, conversando com Mauro, o pessoal: “Vocês conheceram o Amin Calil?” “Não. Não...” “Como vocês não conheceram? Vocês têm que conhecer. A história do Sesc começou com ele”, entendeu? Então, eu acho que nós temos que preservar essas figuras no tempo, está certo? Eles foram homens fantásticos. O Orlando Rodrigues, por exemplo. Porque o comércio de Ribeirão Preto viveu muito em função, um bom período, da Associação Comercial. Era o único órgão que representava os empresários da época. Isso foi até 1958, uma coisa assim, 1968. Foi quando... você vê, quem dominava o comércio, a indústria, era a Associação Comercial. Um dos diretores da Associação Comercial chamava-se Orlando Rodrigues. Orlando Rodrigues é um caso interessante. Ele foi presidente do sindicato dos empregados, ele era empregado. Aí ele virou patrão, ele ficou sócio de onde ele trabalhava e virou sócio do patrão. Ele virou patrão. E, como ele tinha muita afinidade com aquele pessoal do Amin Calil, inclusive, que era um líder na época, Geraldo Silva, que era outra liderança empresarial, patronal, fizeram dele presidente do sindicato varejista. Então, ele passou a ser presidente do sindicato, o Sincovarp. Ele foi a diferença do negócio. Porque ele, como liderança sindical, deixou de acompanhar a importância da Associação Comercial. Ele dividiu o negócio. Tanto que o Sincovarp utilizava um andar da Associação Comercial, ele saiu, construiu o Sincovarp, o prédio do Sincovarp e saiu da Associação Comercial. Ele criou uma nova liderança empresarial. E, pra você ter uma ideia, a Associação Comercial teve o grande crescimento patrimonial dela, a partir do momento que o Amin Calil foi presidente da Associação Comercial e criou o varejista, o Sindicato dos Varejistas. E o Sindicato dos Varejista eram pagamentos compulsórios. Ele utilizou o dinheiro compulsório pra fortalecer economicamente a Associação Comercial. Não, não teve nada de errado no negócio. Só que ele se fortificou como liderança empresarial, economicamente, construiu o prédio da Associação Comercial com o dinheiro do Sincovarp, está certo? Porque ele era presidente dos dois: da Associação Comercial e do Varejista. Então, o Orlando Rodrigues foi o diferencial. Ele saiu, ele como presidente, não precisou nem brigar, não teve briga, não. Ele foi, assumiu como presidente, viu como era feito o negócio, não é? E, evidentemente, passou a aplicar nos interesses do comércio varejista, criando uma nova liderança, está certo? E hoje Sincovarp é uma das forças econômicas de Ribeirão Preto. Teve lá vários presidentes que seguiram. O Orlando Rodrigues ficou vinte e oito anos como presidente. E depois dele, que ele faleceu... foi um grande presidente aí da Fecomércio. Foi conselheiro do Sesc por um bom tempo, não é? Foi um homem atuante. Aliás, depois que ele foi presidente no Sincovarp, ele assumiu, na verdade, o Sincovarp, é que teve uma grande aproximação com o Sesc, com o Senac, com a Fecomércio e Sincomércio e com a CNC, coisa que a Associação Comercial não tinha.
P1- Legal. Muito obrigado, “seu” Aguinaldo. Claudia, você tem mais alguma... a Rosana, né, também.
P2- Ah, não. Pode perguntar. Depois eu pergunto. Você está numa sequência.
P3- Não. Tranqüilo. Eu já estou super, mega satisfeita. Eu passo a palavra pra Rosana.
P2- “Seu” Aguinaldo, o que você achou de contar a sua história pra esse projeto, com essa metodologia do Museu da Pessoa, de história de vida, contar toda a sua história? O que o senhor achou?
R1- Bom, eu me sinto honrado em ser chamado pra contar a história que é da minha vida. Eu vivi em Ribeirão Preto. Eu conheço, sou nascido e criado em Ribeirão Preto. Então, eu conheço essa história de cabo a rabo. Eu conheço as pessoas. Então, de certa forma, eu sou... eu vou fazer, Rosana, agora em maio, oitenta anos. Graças a Deus, com saúde e com boas lembranças, não é? Eu tenho lembranças desses homens que eu cito pra vocês. Alguns agros, alguns pecuaristas, alguns cafeicultores que a gente cita, eu os conheci. Muitos deles, eu os conheci, no final de vida deles. Que hoje eles são nomes de cidades, são nomes de ruas, avenidas. E eu os conheci. E sei da importância que eles foram pra Ribeirão Preto. Eu lembro que eu brincava com um funcionário nosso da Fecomércio, que vocês conheceram, que era o Pascoal. O Pascoal fazia um trabalho junto à Câmara Federal, pra Federação do Comércio. E o Pascoal era de família nobre em Ribeirão Preto. Ele era ligado ao Paschoal Innecchi. Ele era neto do famoso... esse casarão que você falou aí, aquilo lá era da família dele. Então, eu, às vezes... e eu conversava com ele a respeito, sobre essa força da família em Ribeirão Preto. Até discutia com ele, porque ele não estava em Ribeirão, né? Mas ele falava que ia cobrar pedágio lá na avenida, que tem uma avenida que é Paschoal Innecchi, que é do avó dele, que ele ia passar a cobrar pedágio na avenida, com direitos adquiridos, aquele negócio todo. (risos) Então, eu me acho honrado. E digo até emocionado, de vocês lembrarem do meu nome pra falar de uma cidade que, pra mim, é um orgulho. E me sinto feliz de morar nela e ser aí um simples habitante e estar aí falando pra vocês dessa glória que é Ribeirão Preto. Obrigado.
P1- Eu que agradeço, “seu” Aguinaldo. Obrigado pela entrevista. Depois o nosso fotógrafo vai entrar em contato com o senhor, pra marcar um dia certo, que for bom pro senhor, pra tirar as fotografias.
R1- Com muito prazer. (risos) Obrigado, viu, Claudia. Você, que é uma historiadora, né?
P/3- Nossa, foi maravilhoso. Em nome do Sesc, do Museu da Pessoa, né, Rô?
P/2- Nossa, muito bom. Nossa e agora essa história vai fazer parte do acervo do Museu da Pessoa. Então, quando as pessoas forem procurar história do comércio de Ribeirão”, com certeza elas vão conhecer uma parte dessa história, através do seu depoimento.
R1- Obrigado. Ótimo. Eu agradeço muito.
P/3- Maravilha! Tiago, você quer encerrar a gravação, por favor?
P/2 – Tchau, Cláudia! Tchau, Luís!
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