MCHV_038_MARCOS ZERI FERREIRA
Projeto Memórias do Comércio de Ribeirão Preto 2020 e 2021
Entrevista História de Vida HV_038
Marcos Zeri Ferreira – Ferreira Joias
23 de março de 2021
Transcrita por Selma Paiva
P/1- Bom dia, ‘seu’ Marcos. Pra começar a entrevista, a gente sempre pergunta, pede pra pessoa falar, pra ficar gravado, o seu nome completo, a data de nascimento e o local que o senhor nasceu.
R- Meu nome completo é Marcos Zeri Ferreira. Nascido em Ribeirão Preto, no dia vinte e nove de julho de 1942. Portanto...
P/1- E qual que é... pode falar.
R- Pode falar. Não. Eu te interrompi.
P/1- Não. O senhor pode interromper sempre. A gente deixa o pessoal falar bastante, aqui.
R- Portanto, setenta e oito anos, né?
P/1- Sim. Legal. Qual é o nome do seu pai e da sua mãe?
R- O nome do meu pai é Antenor Ferreira. E a minha mãe é Adelaide Zeri Ferreira.
P/1- O senhor teve contato com os seus avós? Assim, conheceu os avós?
R- Conheci as minhas avós. As minhas avós. Os meus avôs já tinham ido para o outro lado da vida. Então, as minhas avós eu conheci.
P/1- O nome delas, o senhor pode falar?
R- Carolina Pinto Ferreira, minha avó paterna. E Catarina Zeri, minha avó materna.
P/1- E o senhor conhece a origem deles? Vieram morar, tanto o seu pai, a sua mãe e os seus avós já eram de Ribeirão? Ou eles vieram de fora? Porque tem muita gente que vinha da Itália, né, nessa época.
R- Sim. A minha avó veio da Itália. E veio para o Brasil. E ela era costureira. Modista, vamos dizer assim. Porque aquele tempo, as costuras não eram com overloque, as costuras eram feitas todas a mão. Então, ela tinha... um momentinho.
P/1- Tá legal.
R- Ah, sim. Ela era napolitana. E ela veio da Itália e aqui casou, teve os filhos todos aqui. E essa é a história dela, a minha avó materna.
P/1- Certo.
R- Agora, a minha avó paterna é natural de Casa Branca, onde foi mãe de sete filhos: o meu pai, o irmão e cinco filhas. E ela veio de Casa Branca pra Ribeirão Preto. O meu avô, que eu não conheci, morava... era de Lucca, na Itália, que conheceu a minha avó, que era de Nápoles. Isso por parte de mãe. E por parte de pai, o meu avô, que era português. E depois encontrou a minha avó aqui, que era descendente de índios (risos) e casaram e tiveram também vários filhos. Inclusive o meu pai, né? São cinco mulheres e dois homens. E o meu pai era... eram todos aqui. Nós morávamos todos em Ribeirão Preto. Eles moravam em Ribeirão Preto. Eu nasci aqui em Ribeirão Preto. E essa é a história da nossa família.
P/1- Legal. E o senhor lembra de quando era pequeno, de tradições, assim, que vieram da Itália ou de Portugal?
R- Olha, eu lembro, assim, dos almoços na casa da minha avó, aos domingos. Os italianos sempre foram muito unidos, muito carinhosos, muito temperamentais, mas muito sentimento também. E eu me lembro dos almoços, aos domingos, na casa da minha avó. Eu tinha o quê? Sete anos. Inclusive, eu vou contar um fato engraçado: eu, com sete anos, ela era modista e ela alugava, tinha um ateliê de costura com umas vinte, vinte e poucas funcionárias aquela época, né? E a mão de obra era difícil, porque era nos anos 1950, 1952. Então, o pós-guerra trouxe muita dificuldade. Mas ela era uma mulher muito talentosa. E eu fui... e eu vivia lá. A minha mãe me levava lá na casa da minha avó, aqui na Rua Amador Bueno. E um dia eu, muito travesso, entrei no guarda-roupa das costuras. Naquele tempo usava aqueles guarda-roupas grandes, com as costuras das clientes. E eu entrei nesse guarda-roupa e não sei por que cargas d’água, eu acabei pondo fogo. Eu acabei pondo fogo dentro do guarda-roupa. E aí eu vi, eu lembro que elas foram lá: “Nossa, fumaça! Está pegando fogo aqui!”. E me tiraram. Eu não me lembro se eu apanhei, se não apanhei. Devo ter apanhado. E são fatos assim, né, bastante saudosos. Saudosos, porque... eu tenho muitas lembranças de muitas coisas, né?
P/1- Certo.
R- E o meu pai, lutando muito, naquela época. Era uma época muito difícil. E aí nós tivemos uma, nós tivemos... o meu pai começou a mexer com joias. E aquela época, os viajantes, pra vocês terem uma noção, vinham com uma mala de vinte, trinta quilos de ouro, desciam na estação da Mogiana, aqui em Ribeirão Preto e iam com aqueles cavalos, aqueles coches com quatro cavalos. Eles colocavam as malas com vinte, trinta quilos de ouro, iam tranquilamente pra minha casa. E lá o meu pai atendia, o meu pai, no escritório dele. Quer dizer, olha só que coisa fantástica! Você não sabia o que era um roubo, você não sabia o que era um assalto, nada disso. Era muito tranquilo, né?
P/1- Exato.
R- E o meu pai fazia esse comércio de joia, que marcava, inclusive, na certeirinha. As pessoas tinham uma cadernetinha, ele marcava as vendas: “Você vai pagar em dez vezes?” “Vou pagar em dez vezes” “Fulano de tal, como você chama?” Vendia muito pras enfermeiras da Santa Casa. Depois foi pro São Francisco. E depois veio o Hospital das Clínicas. E o meu pai, então, era um mascate, né? Um ambulante, no caso. Só que não ia pra rua. As pessoas iam em casa para ver as peças que ele tinha.
P/1- Certo.
R- Depois, o comércio foi crescendo e precisava de um ponto. Ele precisava de um ponto, pra poder estabelecer. E aí, nós, eu tenho que fazer justiça, apareceu o senhor Delcides Machado, pai do Marcelino Romano Machado, deputado federal, uma pessoa muito querida aqui em Ribeirão Preto e mesmo no meio político nacional. Ele era, foi deputado federal. E ele, o pai dele nos ofereceu um ponto aqui, pra mim e para um outro amigo nosso, da família Santana, o Antonio Carlos Santana. E nós, então, batemos o martelo. Ele nos vendeu esse ponto. Isso em 1951. E ele nos vendeu esse ponto. Nós colocamos um muro aqui, separamos os dois negócios. E, realmente, aí ficou, né? Ficou de um lado uma agência da Real, de aviação e o Ferreira Joias, que nós, então, o meu pai montou aqui o Ferreira Joias. Isso foi em 1951. Quando foi... eu não vim pra loja. Eu estava tendo a minha infância. Eu sou o único filho. Então o meu pai aguentou aqui, ficou um tempo aqui, tal. Depois o meu pai teve um espasmo. E, com esse espasmo, ele perdeu, ele também ficou... ele tinha uma perna desarticulada, endurecida, porque ele tinha feito operações de... naquele tempo, as operações de osteomielites era uma coisa muito difícil. Você fazia raspagem no osso e depois curava com sulfa. E as pessoas ficavam com a perna engessada durante seis meses, quatro meses, cinco meses, até sarar, tal. E nunca ficava perfeito, ficava a perna cheia de buracos. Então, ele tinha uma perna toda esburacada e dura, sem movimentação no joelho. Isso, então, foi o começo da nossa vida aqui de negócio. Estou colocando a posição do meu pai. E, quando foi em 1964, mais ou menos, em 1965, o meu pai teve um sarcoma no joelho. Então, o médico me chamou. Eu estava com dezesseis, dezessete anos. E falou: “Olha, o seu pai tem um câncer no joelho. Eu vou ter que desarticular a perna dele”. Desarticulou a perna aqui em cima, porque ele falou: “A gente corre menos riscos dessas ramificações do joelho, cancerosas, passarem pro corpo”. Então, vocês imaginam o susto que eu levei, porque eu levava uma vida de estudante, uma vida de boêmio, de chegar todo dia em casa às seis da manhã. Então eu acho assim: aí, ele me deu um choque de realidade, né, falou: “Olha, você tem que assumir o negócio do seu pai, porque ele pode falecer no máximo em dois anos, se não acontecer nada”. E como, de fato, não aconteceu. O meu pai faleceu dezessete anos depois, de infarto agudo do miocárdio. Então, você vê que a gente, nós não sabemos nada na vida. Somos...
P/1- Exato.
R- Somos pessoas... mas eu estou muito falante. Desculpa. Você que tem que perguntar e eu vou falando.
P/1- Não. É ótimo.
P/2- A gente gosta, Marcos. A gente gosta. Eu queria perguntar pra você: a sua entrada, então, nos negócios aí do seu pai, foi nessa época, com dezesseis, quando você tinha uns dezesseis, dezessete anos?
R- Dezesseis, dezessete anos.
P/2- E aí, como foi esse começo pra você? Foi difícil? Você já era meio familiarizado?
R- Não. Eu tinha planos de ser psiquiatra. O meu sonho era entrar na USP e fazer o curso de Medicina. E esse curso foi abortado porque, pra gente ficar aqui na loja, o meu pai tinha que ficar períodos em casa, por causa da perna. Até que ele fez uma perna mecânica. Pesada. Enorme e pesada, que naquele tempo não tinha esses recursos que nós temos hoje, né, de cada vez mais com leveza e silicone, nada disso. Então, as pernas eram muito pesadas. E você começava, saía de manhã, de casa, com um peso, sentindo. E quando chegava à tarde, era aquele peso que estava, tinha triplicado de peso, no sentido de você medir essa força dispendida, né? Forçava o corpo de tal forma, então era cansativo. Mas o meu pai era um ser humano muito alegre e muito resignado com as coisas. Então, ele...
P/1- Conseguiu seguir em frente, né?
R- É. O meu pai me amava com o olhar. Ele tinha um olhar doce. E isso aí marcou a minha vida. Isso eu acho que foi um exemplo, um presente que o meu pai me deu, que eu nunca mais esqueci: o seu amor, pelo olhar. Hoje é estranho até, falar isso, porque a gente está numa sociedade normótica, né? E uma matrix terrível em que, realmente, a tecnologia, hoje, eles dão muito valor pra tecnologia, pra razão, mas se esquecem do coração, se esquecem do amor. Então, é uma coisa que me marcou muito aqui no meu comércio. Mas foram difíceis as coisas no começo, porque eu tinha que aprender as coisas, eu tinha que... mas eu logo comecei a engrenar, comecei a engrenar. E mais uns dois anos, três anos, eu estava, praticamente, até dando folga pro meu pai, porque eu estava tocando bem aqui. E a gente não tinha esse problema de... a clientela era uma clientela assim, um ia falando assim, era boca a boca. Então, você tinha indicações. Então, você não tinha uma malandragem, não tinha esse negócio de... hoje você toma todas as cautelas e ainda, às vezes, apanha. Então, foi isso. Então, esse sonho frustrado de querer ser um psiquiatra e que depois eu saquei também que devia ser por causa dos meus problemas, né? No fundo, eu queria fazer psiquiatra, pra resolver os meus problemas. E tive uma mãe também muito problemática, que ficava meses com depressão. Então, eu fui criado com um amor de pai maravilhoso. Assim, sem expressão. Meu pai me amava pelos olhos. E uma mãe, que hoje eu analiso, tinha problemas de depressão e ficava seis meses, às vezes, numa cama. E aquele tempo era tudo difícil. Então, você não tinha psiquiatra. Eles tratavam de neurastenia. E a minha mãe teve problemas graves. Chegou até, uma vez, até a fazer um tratamento, chegou a tomar choque elétrico. Quer dizer: era um tratamento horroroso, que a gente veio depois ficar sabendo. Lendo Jung, Sonhos, Memórias e Reflexões, a gente viu o que o Jung, no Burghölzli, lá na Suíça, tratou. Trabalhou durante dez anos naquele sanatório, ouvindo os pacientes que se supunham ter esquizofrenia, eles já taxavam, eles carimbavam uma pessoa. E o Jung não concordava com isso, porque cada pessoa é um universo. E ele, então, foi ficando, tomando conta, pra fazer aquela teoria da psicologia do inconsciente, ele foi tomando conta, ouvindo aqueles pacientes. Então, foi uma experiência riquíssima que ele teve na Suíça, que o preparou depois pra vida adulta, pra amizade com o Freud, pra psiquiatria, pra terapia do inconsciente, que ele, ouvindo aqueles pacientes e estudando a alquimia, estudando a simbologia, a mitologia, podia começar a interpretar aqueles sonhos, aquelas fantasias todas dos pacientes deles, baseado nos problemas. E isso aí foi a minha vida. Eu fui indo. Estudei. Aí não podia fazer Medicina. Acabei fazendo Direito, porque precisava estudar à noite. Porque Medicina você precisava ir de manhã. E não tinha... então, eu acabei ficando aqui na loja e fui fazer Direito, porque eu precisava ter um diploma. Aquele tempo, as famílias, você, pra ser alguém, não podia ser você, você tinha que ter um título, você tinha que fazer uma faculdade, você tinha que casar com uma mulher rica. Tinha uma série de (riso) de vícios, né, de manuais de instrução daquela época, né?
P/1- ‘Seu’ Marcos, e quando o senhor nasceu, o escritório do seu pai era em casa mesmo, né?
R- Sim.
P/1- E onde o senhor nasceu? E como era a rua, na sua infância? O que o senhor lembra da sua infância, aí em Ribeirão?
R- Ah, eu me lembro da minha infância, que eu ia muito brincar na casa da minha tia, onde tinha três filhas, três primas. Eu brincava com elas. Tinha uns amigos, uns meninos lá da Igreja Presbiteriana, que eu brincava com eles também, em casa. Eu tinha um quintal e a gente brincava muito. E a minha mãe, pelo fato de ficar sempre na cama, precisava tomar conta, né? E não dava conta. Então, tinha, naquele tempo era muito fácil de achar pessoas cuidadoras da gente. Eu não gosto de chamar de empregadas, eu gosto de chamar de cuidadoras. E devo muito a elas, parte da minha infância, porque elas me banhavam, elas cuidavam da gente. E foi uma infância, assim, difícil, porque a minha mãe ausente, por causa da depressão. Ela também tomava conta de mim, mas em poucos momentos. No mais, ela ficava mesmo sempre cheia de dores, aquelas coisas. E o meu pai trabalhando aqui na loja. E aí era aquela rotina. Todo dia vinha pra cá, atravessava o jardim. Nós temos um jardim, aqui no Centro e ele atravessava o jardim e vinha pra loja. E era essa rotina. E assim foi.
P/1- _______ (20:44) casa em casa?
R- E éramos presbiterianos. É, de casa em casa. A gente em casa. E eu, à noite, ia pra boemia, porque precisava, eu tinha os meus amigos. A gente ia fazer as coisas que o hormônio pedia e a farra boa pedia. E a gente ________ (21:05) momentos, né? Embora sempre tinha o freio religioso, né? O protestantismo, aquela inclusão da culpa na cabeça das pessoas, que você, depois, precisava fazer terapia o resto da vida, pra poder tirar aquela culpa e tal. Então, essa época dos anos 1950 foi difícil, porque você tinha um lado muito bom, lúdico. Mas por causa da idade também, lúdico por causa da idade. Porque o meu pai já tinha um branco e preto na cabeça já definido, com sofrimento, com problema de saúde e tudo. E eu não, eu tinha... eles me poupavam muito disso aí, né? Filho único. Talvez até mimaram, de uma certa forma e tal. Então, é isso aí. E a minha vida foi assim. Aí eu vim pra cá, acabei ficando aqui. Acabei gostando do comércio. Porque, de repente, eu comecei ver um viés assim, de comerciante e tal. E fui tocando o barco. E fui ficando e fui ficando e fui ficando, amigo. E casei. E tive dois filhos. E continuei no comércio. E estou aqui na até hoje, nessa mesma portinha. Faz sessenta e oito, vai fazer setenta anos agora.
P/1- Que legal!
R- Quer dizer, vai fazer setenta anos, esse ano. Então, é bastante tempo. E eu, já faz mais de... eu vim pra cá com dezessete, dezoito anos, eu estou com setenta e oito. Quer dizer, faz sessenta anos que eu estou aqui. E não me queixo. Sou inquilino da Santa Casa. Nós somos inquilinos da Santa Casa, durante todo esse tempo. E agradeço muito à Santa Casa. Agradeço muito ao senhorio, que nos alugou uma casa por quarenta anos, o senhor Pedro Biaggi, da família Biaggi, aqui em Ribeirão Preto, só tenho que agradecê-los também. Então, a gente tem que aprender a arte da gratidão. Se você não tem a arte da gratidão, fica tudo inóspita a vida, viu? A vida fica cheia de problemas. E você acaba lidando com tudo, com política, com tudo, de uma forma muito árida, muito seca e muito contraditória, né? Porque as pessoas esperam sempre, na política, um salvador da pátria e não tem isso. Então é difícil, né? E é isso aí, a minha vida. Aí eu fiz Direito, fui estudar à noite, porque não podia... aí me formei pra Direito. Depois entrei na Escola da Mauá, fazendo Estudos Sociais. Fui fazer também Estudos Sociais, depois de Direito. E acabei ficando no comércio. No fundo, eu tive que ser, praticamente, um autodidata em matéria de leitura, em matéria de aprendizado, de muitas coisas que eu aprendi. E a gente acaba chegando à conclusão que você precisa, primeiro, se autoconhecer, pra depois você participar de certas coisas no mundo. E sempre fui um autodidata, praticamente, porque eu não exerci a advocacia e não exerci o papel de sociólogo, de Ciências Sociais, acabei não exercendo. Depois veio a ________ (24:59).
P/1- Senhor Marcos.
R- Pode falar.
P/1- Senhor Marcos, e onde era a sua casa? Quando o senhor era criança e adolescente?
R- Então, aqui perto da loja. Você atravessava o jardim. Vocês conhecem Ribeirão Preto, né?
P/1- Eu conheço.
R- Então, teve o jardim, tem aquela rua que vai pro Sesc.
P/1- Sei.
R- Minha casa era um quarteirão do Sesc. E, naquela época, o Sesc era um clube de classe média alta, que era um clube de tênis, era uma piscina e tal. Chamava-se Inforluz. Naquela época, era ali. E a minha casa ficava na Mariana Junqueira com a Visconde de Inhaúma, que era a casa cujo proprietário era o senhor Pedro Biaggi. Nós ficamos ali naquele quarteirão, naquele lugar, durante quarenta anos. Até que eu comprei um apartamento. E depois, eu pedi pros Biaggi deixar o meu pai ficar lá mais um ano porque, você sabe, que se você mudar velho, depois de muitos anos, eles acabam falecendo. Então, eles me deram mais um ano pra ficar na casa. E aí eu fui preparando o meu pai pra fazer uma mudança de apartamento. E aí foi assim. Aí, mudamos pra Rua Mariana Junqueira, ali perto também. E essa foi a minha vida, uma parte da minha vida, né?
P/1- E os Biaggi só tinham casa bonita. Era uma casa boa, né? Grande, né? Daquelas...
R- Não. Era uma casa boa, pra época. Mas era já... ficou uma casa bem velha, né? E as casas, antigamente... como era uma casa de aluguel, a gente não podia estar mexendo na casa muito, porque nós não tínhamos uma renda boa. E como inquilino a gente tem esse hábito que o inquilino tem, que ele não conserva. Quando ele vai pra casa de uma terceira pessoa, ele acha que todo problema dos reparos, das coisas que têm que ser feitas, não é por conta dele, é por conta do proprietário. Então... mas eu, com tudo isso, o senhor Pedro Biaggi, eu tenho que agradecer muito essa família e sou muito grato a eles. E sou muito grato ao Delcides Machado, que nos deu esse pontinho. Porque o meu pai lutava, com dificuldade, com essa perna dele. Então, a minha mãe sempre na cama e eu o único filho. Então, foi uma infância que eu tenho muitas lembranças boas, mas também tinha as minhas contradições. Fugi de casa duas vezes. Pulei o portão alto, pra poder... eles foram me achar aqui perto da Sociedade Recreativa. Então, você vê, era uma insatisfação que você já transformava em traquinagem, né? (risos) Você não sabia o que é que era que se passava, né? Mas foi uma lembrança boa. Tinha uma Igreja Presbiteriana ali no quarteirão da minha casa e frequentei ali... (sem áudio) ... da minha vida. Tá bom? Vocês querem saber mais alguma coisa?
P/1- Sim. Esse ponto que conseguiram pro seu pai, na época, era o prédio mais chique de Ribeirão, não era, o Edifício Diederichsen?
R- Sim. Esse edifício Diederichsen é um dos amores da minha vida, porque nós passamos aqui... eu gosto muito desse prédio. Ah, e outra: sou muito grato também à Santa Casa. Porque, na realidade, a Santa Casa, eu sou inquilino da Santa Casa vai fazer setenta anos. Você imagina, eu sou o inquilino mais antigo da Santa Casa. Vivo, né? Que os outros já, também, foram cumprir em outras paragens. De forma que eu também sempre achei, sempre... eles estão, agora, esperando uma verba do Condephaat - e depois com essa pandemia, as coisas ficaram difíceis, né? - pra poder restaurar o prédio por fora. Porque é do patrimônio histórico nosso. Então, sabe, eu acho que isso tem que ser... eu gostaria muito da gente... nós fizemos um movimento aqui, chamava-se AMEC, Amigos Moradores do Centro e a gente queria... e eu sempre... eu fui o diretor desse grupo, era um grupo de umas dez pessoas, de comerciantes aqui do Centro e nós sempre quisemos e lutamos por uma revitalização do Centro. E o Sesc nos ajuda muito, porque depois veio a Feira do Livro. E o Sesc, agora, participa ativamente da Feira do Livro. Tem projetos brilhantes do Sesc. Eles fazem um trabalho muito bonito em prol da cultura do Brasil, né? E isso é muito gratificante. Mas Ribeirão tem uns entraves. Porque aqui, sempre mandou o usineiro, o fazendeiro e depois o grande construtor. Então, a oligarquia brasileira não sai disso. O Brasil está sempre ensaiando um projeto de crescimento e não consegue passar de um ponto X. Quer dizer: quando nós começamos a crescer... outro dia, até assistindo uma palestra do Delfim Neto, ele falou: “Nós crescíamos a uma taxa de seis por cento ao ano”. Isso, tirando os militares, com todas as suas barbaridades, que fizeram. Mas os militares também fizeram muitas coisas boas. Eles fizeram a parte energética do Brasil, fizeram a Embraer, fizeram as usinas hidrelétricas. E, nessa matéria, a Eletrobrás... então, nós construímos algumas coisas, tanto no sentido material e aí, quando o Brasil começa a crescer a uma taxa de seis por cento ao ano, dizem eles, os economistas e o pessoal mais lúcido, que começa a incomodar o Primeiro Mundo. Então, precisa entrar, precisa começar aquela política de deixar o Brasil pra baixo. Isso aconteceu nos anos 1950 com o trust lá em São Paulo. Quer dizer, quebraram os Matarazzo, quebraram aquelas grandes indústrias que tinha lá em São Paulo: Bardella, tinha um monte de indústria boa. E aí o trust europeu começou a minar o crescimento do Brasil, naquela época. Depois veio a revolução... o golpe de estado de 1964, né? E aí nós tivemos que ensaiar outra vez, começar de novo. Isso aí você vê muito bem no livro do Celso Furtado, do professor Celso Furtado, O mito do desenvolvimento econômico. Quer dizer: nós não saímos de país de periferia. Então, o projeto nacional, o projeto do Brasil como nação, ainda está por fazer. Então, essa oligarquia não deixa passar de um limite. Então, tem uma classe dominante. Eles, o grande capital controla essa classe dominante. E coloca essa classe dominante no poder e atravanca o crescimento nosso. Um país riquíssimo, que está aí esmolando dentro de uma situação difícil, atual. Um país com cinco Serra Pelada, que tem. Um país com uma floresta como a que tem! Estão desmanchando a floresta! Novecentos quilômetros quadrados de predação! Então, isso não tem cabimento, né, o que fazem com esse país. Contaminam o lençol freático, garimpos ilegais. Quer dizer, outro dia eu até sugeri: “Bolsonaro, emite dinheiro (risos), emite dinheiro e depois compra todo o ouro que sai daqui”. Nós temos um satélite, agora. Não é mais o projeto Sivam, não é mais o satélite que fala primeiro, que dá a notícia do que vê para as Forças Aéreas americanas. Nós temos um satélite agora, cem por cento brasileiro, que foi lançado lá na Índia.
P/1- Eu vi.
R- Quer dizer: pega o garimpo ilegal, coloca as Forças Armadas, acaba. Vocês localizam o garimpo, fala: “Vocês vão vender todo o ouro pro Brasil”. É uma forma de se lastrear. Sai ouro aqui em aviãozinho, toda semana. Toda semana são cem, duzentos, quinhentos quilos de ouro. Quer dizer, é um país riquíssimo. Isso sem falar nos outros minérios. Sem falar no manganês do Antunes lá no Amapá, que era o testa de ferro do grande capital internacional. Acabaram com o manganês do Amapá. Quer dizer: eu acho que nós, o nosso povo, sabe e as universidades também são maravilhosas. Nós não podemos negar o trabalho da USP, da Unicamp, o pessoal todo é maravilhoso. Mas eles também, embora na área de ciência, de tecnologia, de pesquisa, são craques, eles também não... o capital sabido não deixa a universidade se aproximar muito da sociedade, eu acho. Acho que eles também são muito combatidos, né? Então, nós temos que quebrar essas amarras e verba pra pesquisa. Você vê, um país que corta verba! Sabe? É uma coisa absurda. E uma meninada talentosa que você vê formar aí na Unicamp, no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte, um pessoal maravilhoso, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, quer dizer, Paraná. Então, era um país que era pra ter, com duzentos milhões, com um continente rico que é o Brasil, isso aqui era pra ser... isso é uma piada, dizerem que o Brasil está quebrado. O Brasil não está quebrado coisa nenhuma. O Brasil tem que se reestruturar. Infelizmente, o Lula não teve tanta sorte, porque um discurso de estadista brilhante como o retirante de Garanhuns, mas não conseguiu evitar a sedução do capital, né? E aí as construtoras foram cooptando, foram cooptando. E aí, meu bem, aí o dinheiro acaba fazendo cosquinha em qualquer pessoa, quase, com exceções, né? Tivemos grandes exceções. Mas essas exceções, eles não deixam chegar perto do poder. Eu acho isso. Nós estamos sempre capengando. Quando começa crescer: “Epa. Não pode deixar o Brasil crescer”. Se deixa crescer, é o maior país do mundo. Era pra ser Primeiro Mundo isso aqui.
P/1- Sim. ‘Seu’ Marcio...
R- Falei demais. Você me desculpa.
P/1- Não. O que é isso? É ótimo. É uma aula sobre a situação atual.
P/2- A gente se diverte aqui. Opa.
P/1- “Seu’ Marcos, e quanto ao negócio de joalheria? O que tem mudado ao longo do tempo? Como são os seus clientes? A gente gostaria de saber também sobre o seu negócio.
R- O meu negócio foi mudando com o tempo: os perfis do consumidor, o problema dos roubos, o problema da... então, foi entrando... o ouro foi caindo de preço. Foi subindo muito o preço. E aí começou, as pessoas diminuem as suas rendas. Então, você começa a fazer peças mais leves. Depois, foi anexado o folhado. Porque também a criminalidade subiu, por causa da má distribuição de renda. Então, as favelas subiram. E agora, estamos partindo pra outra, porque com essa situação que está o Brasil, com uma má distribuição de renda, um aumento de favelas sem precedentes e outra gravíssima que teve também no Brasil, foi o acordo MEC-Usaid. Depois do acordo MEC-Usaid, com os americanos, o cidadão, pra ser bem-sucedido, tinha que aprender a fazer parafuso. Então, formou-se muito técnico, aqui na área técnica. E uma vez, conversando com um comprador de material pra usinas de açúcar, ele me falou: “Olha, eu acho que nós precisamos, primeiro, fazer superávit primário, pra depois educar”. Quer dizer: não é possível um país que tenha uma visão dessa, você vai educar depois que você fizer o superávit primário. Quer dizer: isso é uma mentira, né? É uma mentira.
P/1- Crescer o bolo pra depois dividir, lembra dessa história?
R- É. Cresce o bolo pra depois dividir. E depois vai educar. Não tem cabimento. E, na realidade, você me falou do ouro, né, pra gente não desfocar. E aí começou a vir o folheado. E hoje, nós estamos trabalhando, assim, com muita prestação de serviço. Nós temos uma seção de prestação de serviço e temos o folheado e muito pouco ouro, né? Então, a gente está dançando conforme a música. E é isso aí.
P/1- Antigamente era só gente rica que comprava joias?
R- É. Era gente que estava bem, né? Era uma classe média boa. E era uma classe alta, também, rica. Porque Ribeirão Preto é um dos sextos, sétimos PIBs do Brasil. Então, é uma cidade muito rica, tem gente muito rica aqui. E eles compravam joias. Mas depois, com a criminalidade aumentando, vai mudando, né? Vai mudando a mentalidade do seu cliente, né? As pessoas vão pedindo... o folheado também cresceu muito e se desenvolveu em beleza, em recursos de estética. E hoje, você pega um folheado e uma joia, põe do lado uma da outra e você não sabe quem é quem. Então, pra que você vai usar, que eu vou usar uma joia, que eu posso ser assaltado e até morrer? Então, se eu posso usar um folheado, se me assaltam, você tira um cordão, tira um anel e dá pro assaltante, né? Quer dizer, é um problema social, certo? É um problema social, um problema prisional, um problema educacional, um problema de saúde. Olha a saúde, como nós estamos. Só amador! O cara que entra, o profissional, é concorrente do Bolsonaro. Quer dizer: na realidade, nós estamos vivendo, nós estamos à beira... a gente gosta de usar uma palavra cassandrista, né? Mas na realidade, ______ (43:05) caos maior, o país. Porque o mundo, agora, não pode estar apoiando. O mundo, se vier aqui, agora, é pra levar o máximo que puder. E aí...
P/1- E não _______ (43:20).
R- E me perdoem, mas esse Ministro da Fazenda, esse Paulo Guedes, essa política neoliberal não está certa. É boa pra eles. Eles compram... você vê o que fizeram na Petrobrás. Estão vendendo poços da Petrobrás a preço de banana. Uma empresa daquele porte! E começou na má administração. E que foi do governo Lula. A gente não pode falar. Agora, teve também o Fernando Henrique, teve o Collor, teve outros. O único presidente que eu acho que endureceu, que foi maravilhoso no meu entender e que ficou pouco, foi o Itamar Franco. Porque eles queriam vender também as usinas, tudo. Quer dizer: o negócio deles é vender barato. Vender barato, pra poder achar que o dinheiro que entra de fora vai resolver o problema do Brasil, mas não resolve. Porque essa política é sempre uma política de oligarquia, uma política feita no sentido de beneficiar uma elite. E a distribuição de renda ficou sempre um sonho do brasileiro, né? Quer dizer: tanto que eles tiveram que exilar o Celso Furtado, o Josué de Melo, com A Geografia da Fome.
P/1- _______ (44:49), né?
R- Toda mente brilhante que nós tivemos teve que ser exilada, pra não ser presa. Quer dizer: isso aí atrapalhou o país cinquenta, cem anos. E agora eu não sei como é que nós vamos resolver. Eu estou achando... eu torço por uma terceira pessoa, uma terceira fonte, que não seja Lula, nem Bolsonaro, mas que possa ser uma terceira pessoa com bastante competência, tal, pra formar uma frente ampla, pra sentar com todas as camadas da sociedade e formular um... mas isso aí é muito difícil.
P/1- Sim.
R- Porque os próprios banqueiros não...
P/1- ... não querem.
R- Que enriqueceram cobrando juros do governo e taxa, com uma das taxas mais altas do mundo. Você vê, eles controlam isso aqui com o bezerro de ouro. Falei demais. Desculpem, hein?
P/1- Não. O que é isso, ‘seu’ Marcos, eu fiquei curioso quando o senhor falou da sua época de boemia. Onde eram os lugares legais de Ribeirão Preto, na sua época? Quais eram os lugares, onde eram?
R- Naquele tempo você não tinha motel. Então, as farras eram nos bancos de trás dos automóveis. Ou então nos chamados rendez-vous. Eram umas casas de umas mulheres que tinham o talento de cafetinas e alugavam quartos, né? Então, a gente aproveitava pra ir nesses lugares. E eram as boemias... e os bailes todos da região né?
P/1- ______ (46:55)
R- É. Aí veio o Baile Branco, veio o Baile da Odontologia, o Baile do Torto, o Baile do Direito. E aí a gente levava as namoradas naqueles bailes e fazíamos os nossos programas. E vou dizer uma coisa pra vocês: quanto mais dificuldade tem, mais gostosa fica a vida. Você não pode ter muita facilidade, porque você acaba não dando valor às coisas. Então, eu acho que foi uma época muito boa. E muito infantil, né? Naquela época a gente sonhava muito, tal. E não tinha esse mundo de drogas pesadas que tem hoje. Quando muito, era uma maconha. E é isso aí.
P/1- E a cerveja, né?
R- É. Não tínhamos essas...
P/1- A cerveja.
R- Não tínhamos essas... essas... essas...
P/1- ... essas drogas.
R- Essas drogas pesadas, né? Que, no fundo, um grande amigo meu, um senhor já de idade, que já faleceu, falava: “Olha, você vê”. Ele citava uma classe, que eles culpavam um determinado povo, que jogava essas drogas pesadas no Brasil, pra quebrar a moral de um povo. Isso era a visão dele. Um senhor bem posicionado aqui na sociedade. Mas ele dizia que o tal fulano, dessa raça, cria um... quebra a moral do brasileiro, da nossa juventude. A gente ouvia essas teorias todas, né? Depois veio a revolução de 1964. Aí veio aquela coisa toda de ______ (49:08), que é outro capítulo ________ (49:10).
P/1- Cortou o som, de novo, do ‘seu’ Marcos, ó.
R- É isso aí, falei demais. Vocês me fizeram uma terapia. (risos)
P/1- Tá legal.
P/2- Marcos, eu queria te perguntar sobre essa questão que você falou da criminalidade. Por você ter, trabalhar numa joalheria, né, você sofreu muito com isso, ao longo do tempo? Já passou por situação meio tensa, assim?
R- Nós tivemos dois assaltos pequenos, aqui. E hoje, como a gente reduziu tudo, então já não sou, praticamente, muito mais alvo. E a gente também já não tem mais, mais é folheado, prestação de serviços. Então, o olho dos meliantes procura essas joalherias mais fortes, né? Mas é assim. O sistema prisional do Brasil é outra tragédia. Quer dizer: é outra tragédia. Quer dizer, sabe?
P/1- Sim.
R- Depois eles falam da criminalidade, mas a criminalidade, em parte, é provocada por essa elite gananciosa, que acaba, às vezes, desviando verbas e não organiza esse sistema prisional. Eu tenho um grande amigo que fez um projeto na Funap, na época do governo Covas e ele, realmente, fez um projeto para os presos trabalharem. Então, ele fez um contrato com o Rotary Club de São Caetano, de Santo André. E os presos trabalhavam, os presos começaram a reformar as carteiras do estado de São Paulo, das escolas. Eu acho assim: foi um... fizeram um museu em Araraquara e um museu em São Paulo, da Funap. Eu acho que vocês se lembram, ouviram desse museu. Museu? Museu, não. Uma loja. Uma loja da Funap, feitas com artigos de couro, várias... um artesanato de primeira, feita com presos, feita por presos. Quer dizer, isso aí, fazia uma psicoterapia de grupo neles, o trabalho, além do que eles ganhavam, o sustento, criavam uma... podiam até sustentar as famílias. Então, você vê que projetos humanitários a gente tem vários. Mas a nossa pequena classe dominante só pensa no umbigo. E aí o país está desse jeito. E vai pegando-as também, né? Porque você acaba sempre falando: “”Ah, tem que morar nos Estados Unidos, tem que morar na Europa. Aqui não dá mais”. Não dá mais por quê? Você ganhou dinheiro aqui, fez a sua fortuna aqui. E agora, a hora de você colaborar com o país, aí vocês falam em ir embora pra outro país? Quer dizer: está tudo errado, né? Mas isso vai passar. Eu acho que... a gente tem esperança nessa juventude nova aí. Vamos ver se eles, se esses trigos no meio do joio vão florescer. Esperamos que sim. E o Sesc é um desses trigos no meio do joio, né? Você estão fazendo um trabalho bonito, cultural, bonito o que vocês estão fazendo, preparando uma meninada com carinho.
P/1- Sim.
R- Isso tudo é ouro no meio de um país praticamente espoliado, assaltado por uma gangue de bandidos que muitas vezes são pessoas de bem, pessoas que saem na coluna social todo dia, toda semana, mas que, no fundo, são pessoas altamente perigosas e nefastas pra o desenvolvimento desse país maravilhoso e glorioso. É isso aí.
P/1- Legal. ‘Seu’ Marcos, o fotógrafo nosso vai ligar pro senhor, pra combinar um dia que o senhor quiser, fazer uma sessão de fotos aí com o senhor. E se você tiver fotos antigas, do seu pai, de quando o senhor era criança, pra gente poder copiar, porque todo o Memórias do Comércio dá origem a um livro. O Sesc só faz livro bonito. O senhor deve saber. Ó, esse tipo de livro aqui.
R- Eu sei. Eu tenho um de vocês, muito bom: Tertúlias.
P1- Ah, sim. Da editora do Sesc, né?
R- Foi. Maravilhoso. Comprei na Feira do Livro. Beleza. Beleza. Vocês fazem um trabalho sério. E isso é muito bom. E outra: vamos ver se esse ano a gente consegue fazer uma Feira do Livro lá por julho, agosto. Vamos ver, né? Se der. Se der, né? Ao vivo, né?
P/1- Antes da pandemia, na frente do Teatro Dom Pedro, ainda está lá o lugar pra pegar livro. E aí teve o lançamento daquilo foi lá, né?
R- Eu sei. Eu comprei livro de vocês lá. Eu acho que é um trabalho muito bom. E a Adriana faz um trabalho maravilhoso, né? Começou com o Galeno, depois veio a Adriana. Então, nós fazemos, Ribeirão tem essa Feira do Livro. E é um orgulho pra gente, né?
P/1- Legal.
R- É um orgulho pra gente.
P/1- Sim. ‘Seu’ Marcos, eu gostaria de agradecer muito o senhor, pela entrevista. Gui, você quer fazer mais alguma pergunta?
P/2- Não. Eu acredito que foi um papo bem legal. Tem alguma coisa que você gostaria de falar, Marcos, no final, aí, sobre esses momentos novos aí, que o mundo entrou desde o ano passado, com essa pandemia, essa relação com a loja do senhor. Você falou que mudou um pouquinho aí. Se quiser falar um pouquinho disso.
R- Mudou bastante, né? Porque você não pode aglomerar, você tem que usar a máscara, tem que usar o álcool gel. Então, eu acho que é uma pandemia que o mundo ainda não sabe como lidar com ela. A voz da ciência tem as suas, tem um lado maravilhoso e tem também um lado que favorece, no fundo, os grandes laboratórios, né? Quer dizer: uma briga por causa de vacina. Você politiza esse vírus, né? E aí tem um nicho aí ganhando fortunas. Mas tem uma parte, a maior parte, dois terços ou mais, três quartos dos seres humanos estão passando uma fase muito difícil, perdendo seres queridos. E aquela abriga política. Você vê: no Brasil não temos um Secretário da Saúde, um Ministro da Saúde, porque ele é um concorrente do chefe maior. Então, é uma coisa muito difícil, a gente... nós estamos passando uma fase muito difícil, um desafio muito grande.
P/1- Terrível.
R- E espero que a gente cresça mais com esse desafio todo, que nós possamos sair dessa. E com certeza, acredito muito nesse país, viu? Eu tenho um filho fotógrafo. É um dos melhores fotógrafos do Brasil. E vou falar pra vocês, posso falar de boca cheia: do mundo. Ele chama-se André Dib. Eu não sei se vocês já ouviram falar no André Dib. O meu filho tem dois livros: Chapada dos Veadeiros e SerTão Kalunga. Ele fez um trabalho com os kalungas lá de Cavalcante. Ele mora em Alto Paraíso, Goiás. André Dib. Se vocês pesquisarem, vocês vão ter uma coisa, um menino de cabeça muito boa, que tem feito trabalhos nesse país todo, matérias de meio ambiente, de bichos, trabalho com biólogos. Trabalha com a ww... aquela firma, aquela ONG influenciada pelo... é ww...
P/2- ...f.
R- É isso, né?
P/2- WWF.
R- É. Eles têm feito um trabalho muito bonito. E o André fotografa muito pra eles. E é isso aí.
P/1- Sim. Ele é amigo do Calil Neto, que é um fotógrafo de natureza também. Só que o Calil morava, até a pouco tempo, na Chapada Diamantina e ele na Veadeiros. Ele já me contou do André Dib.
R- É isso aí. Eu tenho orgulho de falar que é meu filho. E tenho uma filha também, que é professora de pilates aí em São Paulo. E ela dá aula aí. Tem a academia dela. Também está brigando com a vida, né?
P/2- Como é o nome dela, Marcos?
R- Mariana Dib. Ela faz muita live também, está fazendo. Ela tem a academia mesmo dela, já faz quinze anos, aí em São Paulo. Tem o nome dela também, tal. Mas é isso. Eu tenho os meus dois, são os meus dois tesouros.
P/1- Que bom! O senhor mora com a sua esposa ainda? O senhor mora com a sua esposa?
R- Eu sou casado segunda vez. E estou aqui com ela, com a segunda mulher, a segunda esposa. E estou feliz, estou bem. Graças a Deus. A gente vai, como diz o Nelson Rodrigues: “Você tem que aceitar a vida como ela é”, né? Não tem jeito.
P/1- Exato. Tá legal. ‘Seu’ Marcos, muito obrigado pela entrevista. Foi um prazer conhecer o senhor.
R- Às ordens. Um prazer. O prazer foi meu, viu?
P/1- E espero ______ (1:00:23), a próxima vez que eu estiver aí em Ribeirão. Um abraço.
R- Venha tomar um café com a gente, aqui na Única, que é um cafezinho, também, de sessenta, setenta anos.
P/1- Eu sei. Eu já fui aí na Única.
R- E faço questão de pagar o café, viu? (risos)
P/1- Tá bom. Muito obrigado.
R- Obrigado ao Sesc. Agradeça ao Sesc aí a oportunidade da gente participar desse programa cultural de vocês aí, tá? Muito obrigado.
P/2- Um abraço.
P/1- Um abraço a todos. Até logo.
R- Até logo.
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