P/1 – Primeiramente, muito obrigado por ter aceitado nosso convite. E pra começar eu gostaria que você dissesse pra gente o seu nome completo, local e a data do seu nascimento.
R – Primeiro, eu que agradeço. Meu nome é Edna Maria Zavarezzi Onodera. Nasci em Clementina, uma cidade do interior de São Paulo, em 14 de fevereiro de 1956.
P/1 – E qual é o nome dos seus pais?
R – Santos Zavarezzi e Terezinha Zavarezzi.
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tenho. Dez irmãos.
P/1 – E como é que é a Edna nessa escadinha?
R – A Edna é meio sanduíche, né? Meio do meio. Quarta de cima pra baixo.
P/1 – E você conheceu seus avós?
R – Conheci.
P/1 – Qual o nome deles?
R – Bressan… a gente sempre chama nonna, né? Então eu sempre falo assim: “Gente, eu sempre esqueço o nome da minha nonna”. A minha nonna e Sebastião, meu avô, isso do lado paterno. Mário, da materna e Elvira, da materna.
P/1 – E você sabe a origem da família?
R – A família do meu pai é italiana, e a família da minha mãe é brasileira mesmo, brasileira.
P/1 – E você sabe dessa parte italiana, quando eles vieram mais ou menos, por que vieram?
R – Na verdade, a minha avó veio pequena, e meu avô veio um pouquinho maior, vieram da Itália.
P/1 – E seus pais, qual era a atividade deles, o que eles faziam?
R – Meu pai era aquele que fazia de tudo. Foi alfaiate, foi músico, trabalhou em prefeitura. Ele foi eletricista, foi encanador, teve pequenos negócios próprios. E minha mãe, dona de casa.
P/1 – Conta pra gente como é que era essa casa da sua infância com tantas crianças, como é que era?
R – Na verdade, com toda essa gente, era uma vida assim muito simples, muito simples mesmo, pobre mesmo. Uma dificuldade, porque com dez filhos pra criar, era difícil pra todo mundo estudar, todo mundo ir pra escola, todo mundo se calçar, se vestir. Era difícil. Foi uma infância complicada, foi muito complicada, e uma infância assim, de muitas mudanças. Então morava em Clementina, fui morar em Guararapes, Penápolis, Araçatuba, então nós vivíamos mudando. Meu pai vivia mudando de cidade, então por ele talvez pela… por músico, não sei se existia isso dele, né, essa coisa de gostar de música, então ele vivia mudando de cidade. Ele não parava no lugar, então vivi muito isso na minha infância.
P/1 – E como é que era a Edna criança? Do que ela gostava de brincar? Com quem ela brincava?
R – Na verdade a Edna nunca gostou de coisas assim de menina, eram mais coisas de menino. Assim, gostava de brincar com bolinha de gude, eu era campeã de bolinha de gude, então ganhava dos meninos. Era uma briga, e os meninos não podiam fazer nada contra porque eu era mulher. Então quando eles brigavam, eu, na briga, me saía melhor que eles. Então brinquei muito disso, brinquei de pipa, eu gostei muito disso. Eu nunca gostei de brincar com coisas de menina, nunca fui muito... Fui muito de rua, uma menina muito inquieta. Eu era muito inquieta.
P/1 – E como é que você era na escola? Você lembra da sua primeira memória da escola?
R – Da escola? Eu acho que eu era assim muito... Eu perguntava muito, eu era muito… Eu não conseguia ficar parada, sentada na cadeira, sabe? Então eu era muito espoleta, eu nunca fui uma menina assim centrada, quietinha. Eu tinha muito isso de não parar, e acho que até hoje eu tenho muito isso, de não ficar muito parada. Eu gosto muito de movimento.
P/1 – E como é que você ia pra escola?
R – Então isso era um pouco complicado. Como eu ia pra escola? Sempre morei... Nunca morei muito longe da escola. O mais longe foi numa cidade que eu morei, em Birigui, que meu avô era charreteiro e ele me levava de charrete. Esse foi o lugar que eu morei assim mais longe da escola.
P/1 – E você se lembra do comércio em torno da sua casa? Do bairro? Tinha alguma loja que chamava sua atenção? Dos seus irmãos? Que vocês gostavam de parar pra ver uma vitrine ou alguma coisa assim?
R – Ah, tinha lugar de doceria, né, tinham os lugares de doce. Que por sinal, eu aprendi a fazer doce de banana num bar que vendia uns doces, e eu aprendi com o dono daquela casa, eu aprendi a fazer doce de banana. Com 11 anos de idade eu já fazia isso. Eu aprendi, eu me lembro muito bem desse lugar, porque eu comia aquele doce de banana, gostava muito, que até hoje eu gosto, né, eu até aprendi a fazer o doce de banana.
P/1 – E você tem alguma lembrança dessa coisa de ir com a sua mãe comprar material escolar? Se tinha alguma coisa que ela comprava pra todo mundo, por serem tantos filhos?
R – Na verdade, sempre tinha o mais velho que sempre comprava para os mais novos porque minha mãe não tinha condições de ficar saindo fora, né. Porque ela ajudava quando, na época meu pai era alfaiate também – músico e alfaiate. Então ela ajudava na costura, ficava costurando os casacos, os paletós dos empresários das empresas, e com isso sempre tinha que a irmã mais velha, o irmão mais velho que fazia isso.
P/1 – E que instrumento seu pai tocava?
R – Pistão.
P/1 – E você tem lembranças de em casa ele tocando ou alguma coisa assim?
R – Ele tocou muito, depois ele parou. Quando eu já estava com cinco, seis anos, ele parou de tocar. Talvez parou de tocar porque como ele viajava muito, andava muito, ele era muito danadinho assim, sabe, a minha mãe acho que fez com que ele parasse. Não conseguiu levar em frente. Assim, a lembrança foi muito pouco. Eu lembro mais ele costurando, da máquina, costurando, porque ele costurava roupa pra gente. A última roupa que ele costurou pra mim foi quando eu fui pro jornal, trabalhar no Diários Associados, que ele fez um tailleurzinho pra mim. Foi a última roupa que ele fez pra mim.
P/1 – E vocês ajudavam em casa? Ajudavam ele?
R – Sempre todo mundo fez alguma coisa pra ajudar dentro de casa. Com família muito grande, todo mundo tinha que trabalhar, fazer alguma coisa. Todos nós fazíamos, sempre tinha alguma coisa, sempre alguém tinha que fazer alguma coisa. Como eu disse pra você, com 11 anos essa coisa de fazer o doce da banana, essas coisas, né, que fazia. Além de ajudar minha mãe em casa, eu fazia alguma coisa pra ter um dinheirinho. Minha família era muito pobre mesmo, não tinha condição assim de ter mordomia, então todo mundo tinha que trabalhar, todo mundo tinha que fazer um pouco de cada coisa.
P/1 – E você lembra como faz esse doce até hoje?
R – Se eu fizer, eu acho que eu lembro sim. Porque o doce de banana na verdade, ele não é muito difícil pra fazer. Vão até dar risada de mim, porque ele não é difícil, é o doce mais fácil pra fazer. Você pega a banana quando ela tá bem madura, e você bota no tacho e você faz até curar ela, até ela ficar... Existe até o sorvete de banana que também é fácil fazer. Era muito fácil fazer, é o doce mais fácil.
P/1 – E voltando pra escola, tinha alguma matéria que você gostava mais? Algum professor que te marcou?
R – Ah, eu tinha... Porque na escola, na verdade, sempre me escolhiam nas brincadeiras e algumas coisas assim sempre. Eu não sei se é porque eu era muito – além de ser muito sapeca, acho que chamava mais atenção dos professores que gostavam. Sapeca que eu digo assim, não era ruim. Eu era uma pessoa que sempre queria ajudar, queria fazer algumas coisas. Sabe aquela coisa da molecada ”Ah, deixa carregar seus materiais?”, “Deixa não sei ou quê?” Eu era uma puxa-saco, sabe? Então eu me lembro de uma professora, que eu não me esqueço nunca mais. Olga, uma professora que eu tive no primário, que ela gostava de cortar o meu cabelo. Isso foi em Araçatuba. Então a Olga, ela me adorava. Ela gostava porque o meu cabelo era loirinho, sabe assim, e ela gostava de cortar o meu cabelo. Ela pedia: “Deixa cortar seu cabelo? Porque eu faço também, gosto de ser cabeleireira, deixa cortar”. Cabeleireira, né... “Deixa eu cortar seu cabelo”. Então ela cortava o meu cabelo. Eu lembro muito isso dela. Lembro sempre da professora Olga.
P/1 – Tá certo. E ficando um pouquinho mais velha, na juventude, o que você fazia pra se divertir? Quem eram os seus amigos? Pra onde você ia?
R – Quando já mais jovem, eu já vim morar aqui, estava aqui em São Paulo. Com 14 anos eu vim pra São Paulo. Primeiro não... Em Araçatuba, antes dos 14 anos, nós tínhamos um lugar que nos íamos muito que era tipo um clube, e onde tinha um lago. Então nós íamos pra esse lago, porque o pobre não tinha aquele clube, né, aquela coisa chique. Então nós íamos, a turma da escola, saía da escola, ia para aquele lago. Ali era gostoso. Chamava Lagoa do Miguelão. Miguelão porque o dono do... Chamava Miguel, Sr. Miguel, que era dono do local. Ele tinha esse lago, e ele deixava o pessoal ir pra lá, brincar, fazer piquenique, que tinha muitas árvores, entendeu, então eu ia muito lá.
P/1 – Você contou que veio pra São Paulo com 14 anos?
R – Catorze anos.
P/1 – Como é que foi isso? Por que você veio?
R – Ah, eu vim por uma mudança, porque meu pai queria um trabalho melhor, uma coisa melhor e tudo. Todo mundo crescendo, mais oportunidade em São Paulo. São Paulo, sendo uma cidade grande; então teria mais campo, né, pra todo mundo trabalhar. Então por esse motivo nós viemos pra São Paulo.
P/1 – E você se lembra da sua primeira impressão de São Paulo?
R – Ai, lembro. Era uma garoa, um frio. Porque eu vim de uma cidade, Araçatuba, uma cidade quente, que eu gosto do calor. Chegando aqui naquela época, frio. Toda madrugada aquele chuvisquinho, sabe, aquela garoa. Ai, eu odiei. Eu falei: “Nossa, mas aqui é muito frio”. Sentia muito frio, tinha vontade de voltar, chorava. “Ah não, São Paulo não. O que que é isso? Não!”. Não gostei, no começo eu não gostei, de São Paulo, eu odiei São Paulo. Hoje eu amo de paixão.
P/1 – E pra que bairro você veio?
R – Eu fui morar em Taboão da Serra.
P/1 – E você lembra como é que era mais ou menos a região naquela época?
R – Ah, a região tinha poucas casas, estavam desbravando o bairro – era Santa Tereza o bairro. Então tinham poucas casas, né, estavam começando a construir. Tanto é que era mais barato morar lá, por isso nós fomos pra lá.
P/1 – Depois os anos foram passando, você foi se encaminhando. Qual foi seu primeiro emprego? Como você...
R – Meu primeiro emprego foi nos Diários Associados, que era Diário de São Paulo, do Assis Chateaubriand. Eu já estava com 16 pra 17 anos, consegui emprego, mas antes disso, quando eu cheguei, eu comecei a fazer alguns bicos, né? Bicos que eu digo, assim, reformar móveis velhos de pessoas que tinham móveis. Um berço... Aí eu comprava baratinho, reformava o berço, vendia. Reformava um armário, vendia. Então eu gostava de fazer isso, antes do jornal. Isso foi dos 14 até os 16.
P/1 – E no jornal, o que você fazia?
R – Eu botava os meus irmãos pra trabalhar também nos móveis (risos). Eu fui ser Secretária Junior, mas no jornal, na verdade, eu aproveitava pra vender assinaturas. Assinatura, nos momentos vagos eu vendia assinatura.
P/1 – Entendi. E depois como é que você se encaminhou pra essa atividade comercial de prestação de serviço?
R – Depois do jornal, eu fui trabalhar numa empresa de reflorestamento, a Agroeste. Depois da Agroeste que eu conheci o meu falecido marido, que era técnico da seleção brasileira de judô, e com isso ele tinha uma academia, um salão de judô. Um salão de, sei lá, de 20 metros, de 20 por 20. Era só um salão mesmo, de tatame. Ele era técnico na época, em 76 ele foi pras Olimpíadas. E aí nós começamos a namorar. Aí eu pedi pra ele que me emprestasse a... Ele trabalhava de segunda, quarta e sexta nesse salão, aí eu pedi emprestado o salão de terças e quintas. Aí comecei com aula de ginástica e na época estava passando uma novela chamada Dancin’ Days e aquilo ficou na minha cabeça. Falei: “Isso é meu sonho, eu gostaria que esse fosse o meu negócio. Eu gostaria de montar uma academia”, porque tinha dança e no núcleo lá existia um espaço que era uma sauna, uma salinha de massagem. Então aquilo, eu assistia a novela e falava: “Ai, isso é meu sonho”. “Ah, é isso que eu quero”. Então isso não saía da minha cabeça. Foi aí que comecei a correr atrás desse sonho. Era um sonho que todo mundo dizia assim: “Ah, mas sem dinheiro, como você vai montar?”. Porque nós não tínhamos dinheiro. Meu marido, meu falecido, ele era uma pessoa idealista, ele adorava o que fazia. Um técnico de judô, um cara maravilhoso, mas nunca foi de negócios, então ele era um idealista. E com isso, eu tinha esse sonho. E esse sonho era um sonho muito grande, muito alto, então, era difícil as pessoas entenderem, que acho assim... “É difícil, não vou conseguir”. Porque era uma coisa muito grande, de onde você vai tirar dinheiro? Então era complicado, porque ninguém confiava. “Como que você, com 20...” - na época tinha 21, 22. “Esse sonho é loucura, é loucura esse sonho, teu. Não dá pra ir pra frente sonhando assim tão alto”, “Ah vai, mas eu vou conseguir essa academia. Quero montar essa academia.” Foi aí que comecei, mesmo no tatame, nesse salão, nesse pequeno salão, eu comecei a fazer, a distribuir, como que fala? Fazia umas placas de cartolina e colocava nas lojas, nas drogarias, até nos bares – até em boteco, até em bar. Espalhava na Aclimação, na Liberdade, Aclimação, espalhava essa propaganda, fazia essas propagandas. Aí começaram a me conhecer, me ligar. Foi aí que começou tudo. Aí a academia enchia, terça e quinta, a sala ficou lotada de alunas fazendo ginástica. Inventei uma... Misturei ginástica com jazz e colocava assim, gym-jazz, venha conhecer, e espalhei pra cidade toda. Aí comecei ali. Ali, na verdade, era Liberdade, porque era na Conselheiro Furtado.
P/1 – Deixa só eu te perguntar, voltando um pouquinho. Como é que você conheceu seu marido?
R – Aí então, interessante. Eu conheci, na verdade, foi num restaurante japonês, na Liberdade. Eu estava acompanhada com a minha irmã, mais velha, e que na época ela era casada com um japonês, mas um nissei, um japonês. Ela falou: “Vamos num restaurante aqui perto, aqui na Liberdade?” Aí nós fomos. Eu não sabia nem comer comida japonesa E nem imaginava. “Comer comida japonesa”? “Ah não! Peixe cru não é comigo não”. E nesse momento ele estava sentado ali, sozinho esperando um amigo e ele estava com uma pasta, que ele tinha voltado das Olimpíadas de 76, ele estava com uma pasta, né, Olimpíadas. E ali ele ficou batendo papo com esse meu cunhado japonês e aí ficaram trocando papo, conversa, e naquele momento surgiu a conversa, né, amizade. Dali foi indo.
P/2 – A senhora que morou em várias cidades do interior, durante a infância, a senhora chegou a morar em alguma cidade que tinha uma comunidade japonesa? Já tinha interesse desde essa época ou não, foi uma coisa totalmente por acaso?
R – Não,
P/2 – Como é que foi?
R – Na verdade em Birigui tinha, até minha avó Elvira, ela dava aula pra japoneses. Dava aula assim, o basiquinho, aprender o bê-á-bá. Mas não, eu não imaginava não. Eu achava que nem me cabia. Imagina, japonês, de jeito nenhum.
P/2 – Uma surpresa.
R – Uma surpresa. Hoje eu amo, nossa, esse povo maravilhoso de japonês, adoro os japoneses, a cultura japonesa. Um povo de raça, um povo... Nossa! Eu sou apaixonada pelos japoneses.
P/1 – E quando você começou essa parceria da academia, vocês já estavam namorando?
R – Então, foi assim, na verdade eu trabalhava e a academia era um pouco abandonada, porque como ele vivia com a seleção e não se importava muito com a academia, eu falava: “Poxa, a academia não tá rendendo nada. Tem um desperdício aí. Vamos agitar essa academia, esse salão, que dá pra fazer dinheiro aqui.” Aí pegava, fins de semana eu ia lá, levantava as fichas, e os alunos. Observava que quase ninguém pagava, ele não tinha controle nenhum. Foi assim, comecei ajudando. Eu acho que aí ele ficou interessado e falou assim: “Acho que eu vou ter alguém pra trabalhar prá mim!” (risos). Eu brincava com ele. Eu falei: “Olha, eu acho que você queria que alguém fizesse isso, depois fizesse uma comidinha, cuidasse dos seus negócios”, era uma brincadeira com ele.
P/1 – E você comentou que começou com essas aulas de ginástica. Quem dava as aulas?
R – Era uma moça chamada Vanessa, que por sinal, eu quero reencontrá-la. Ela fazia aula no Municipal. Na verdade, ela fazia balé, por isso falava gym-jazz, porque tinha o jazz e a ginástica, tinha mistura. E ela topou. Ela era novinha também, né, ela topou a loucura minha, foi daí. Muito simpática. Então isso ajudava muito, né, a simpatia dela, ela me ajudava muito.
P/1 – E como é que foi essa expansão do negócio, da academia, como é que foi?
R – Aí desse tatame, quando, eu lotei os horários... Os horários cheios de ginástica. O judô também foi ajudado nisso, porque trazia também mais alunos pra academia. Eu dizia assim pro meu marido: “Meu sonho, meu sonho”. Ele falava assim: ”Ah, mas é muito dinheiro, a gente não tem condição”. Então eu dizia pra ele: “Mas nós temos o apartamento, que nós já pagamos metade do valor do apartamento. Vamos fazer o seguinte: vamos vender essa parte que nós já pagamos e com isso a gente começa uma academia nova em outro lugar.” Foi aí que ele aceitou: “Aí tudo bem”. Aí vendemos o apartamento e fomos pra essa casa, que essa casa, na verdade, tem uma história essa casa na Aclimação. Ela estava fechada porque foi apedrejada, porque existia uma seita do Reverendo Moon na época, e ela foi toda arrebentada, estava toda destruída a casa. Ela não estava nem... Nem era pra alugar. Eu entrei em contato com... Consegui entrar em contato com o advogado que estava cuidando do caso e aí ele falou assim: “Mas a casa tá toda arrebentada, tá toda…”, “Mas eu sonhei com essa casa”. Porque na verdade eu sonhei mesmo com a casa, eu tive um sonho, não sei o que foi, presságio, não sei. Eu sonhei e falei: “Mas essa casa...”. Em frente ao Parque da Aclimação, um lugar gostoso. Foi aí que eles tiraram – porque até estava na justiça, estava tendo algum problema lá com a casa, eu não me lembro a história direito, que estava acontecendo entre eles. Aí eu pedi, falei: “Deixa fazer o seguinte, posso colocar uma faixa dizendo assim: ‘Futuramente Academia’, e o meu telefone, pra ver se alguém liga pra se interessar por alguma coisa, querer saber?” Eles deixaram, eu coloquei uma faixa com o telefone da minha casa. Aí começaram a perguntar: “Aí vai ser mesmo academia?”, eu falei: “Puxa, o negócio vai dar certo, só pode dar certo”.
P/1 – E como que era o bairro da Aclimação nessa época?
R – Ai, tão diferente! Era só residencial, não existiam muitos prédios. Muitos não, não existia, era só residência. Era só residência. Hoje, nossa... Só tem prédios ali, né, os moradores.
P/1 – E existiam muitas academias na cidade? Você lembra disso?
R – Não, por ali não existia. Eram assim... Porque ali eu montei academia, entrou judô, natação, então acho que foi a primeira no bairro. Naquela região eu fui a primeira. Fui pioneira ali.
P/1 – Qual a época, mais ou menos?
R – Oitenta e um.
P/1 – E aí como é que foi arrumar essa casa, preparar ela pra ser uma nova academia?
R – Nossa, foi um trabalhão. Essas pessoas... Porque na verdade eles tinham que entregar a casa - estava na justiça, eles teriam que entregar a casa reformada. Aí entramos num acordo, eles tirando da Justiça, passando a casa pra mim e eles me ajudavam a – esse pessoal desse Reverendo Moon aí, dessa seita, me entregasse a casa arrumadinha. Entre eu e eles, então nós entramos num acordo eu e eles, e com o dono eu consegui um ano de, como é que fala? Um ano de sem aluguel...
P/1 – Carência.
R – Carência. Um ano de carência, consegui um ano de carência. Nessa época encontrei pessoas boas, eu sempre tenho pessoas boas perto de mim, sabe, é tão bom. Sempre na hora assim, que eu preciso, eu encontro pessoas boas.
P/1 – E você lembra do dia da inauguração?
R – Porque na verdade, inauguração, inauguração, não tinha, porque nem dinheiro tem pra inaugurar, né? Então o que você faz? Chama os amigos e faz um churrasco ali, e faz alguma coisa nesse sentido. Não existia inauguração porque não tinha condição pra isso. Abrimos a casa, eu mesmo lavei, eu mesmo limpei, porque não tinha condição de pagar pessoas, né, pagar pessoas pra... Era uma coisa assim, era muito caseiro, né era coisa muito... Na verdade, a academia foi crescendo sozinha, assim, primeiro uma área, depois a outra. Eu fui morar lá porque não podia pagar aluguel. Eu saí do meu apartamento. Eu não podia pagar dois aluguéis, então eu saí do meu apartamento, entreguei meu apartamento, uma parte do valor eu investi na piscina e aí começaram as dificuldades. Aí que o negócio ficou feio porque tinha que correr atrás porque não tinha dinheiro. Chegou uma hora, “Puxa, e agora, heim? O que nós vamos fazer agora, sem dinheiro?”. Aí tinha que dar um jeito e ir pra rua. E naquela época, eu enfaixava todo o bairro, faixas na rua, coisas que eu não tinha condição de pagar, de ter dinheiro pra publicidade. E era caro, né, então tinha que fazer, tinha que rebolar. Fazia panfleto, panfletava na rua. Fim de semana, domingo então, ficava na rua naquele bairro todo panfletando pra todo mundo. Na verdade, eu dormia quatro horas por noite. Terminava o horário da academia, eu tinha que fazer limpeza, no outro dia tinha que aspirar a piscina, de madrugada aspirava a piscina depois sentava na frente da casa lá, pra ser recepcionista, na frente da academia, porque não podia ter funcionários. Complicado.
P/1 – E como é que era a rotina de morar no mesmo lugar onde você trabalha? Como é que você conseguia lidar com isso?
R – É complicado porque as crianças estavam pequenas, né, tinha as duas, a Lucy e a Karen pequenas. Então facilitava, de uma certa forma, facilitava porque eu tinha que trabalhar, morando ali era mais fácil porque podia cuidar das crianças e estar trabalhando ali. Ao mesmo tempo, privacidade nenhuma, porque eu morava no porão, embaixo da academia, na parte do fundo, então ali tinha barulho, tudo, era tudo ali, entendeu?
P/1 – E você lembra quais eram, mais ou menos, as modalidades que você tinha na academia nesse período?
R – Nesse período tinha judô, natação e uma sala, que esse era meu sonho, que era sala da massagem e da limpeza de pele. Então a sala, tinha uma sala pequena, que tinha uma maca pra massagem, outra maca pra limpeza de pele. O judô e a natação. E foi assim que nós começamos. E uma salinha de ginástica com dança. Que tanto a Vanessa continuou com a gente. Uma sala de dança.
P/1 – E qual era o perfil do público? Eram mais, homens, mais mulheres, como que era?
R – Aí tinha mistura. Era bastante mistura porque desde criança... As crianças pra natação, as crianças pro judô, mulheres pra estética e a ginástica. Então existia homens, mulheres, homens pro judô. Era mistura, eu tinha... Sempre na propaganda eu dizia assim: “De seis meses”, eu me lembro dessa propaganda, “De seis meses a...” – naquela época a gente falava sessenta. Imagina, hoje eu faria a oitenta, né? “Ah, de seis meses a sessenta anos”, naquela época a gente não achava que ia viver tantos anos.
P/1 – E qual era o nome da academia?
R – Era Onodera. Sempre foi Onodera.
P/1 – E você fazia promoções, pacotes?
R – Sim. Pacotes! Pacotes família inteira. E outra coisa que fazia muito, que eu me lembro muito: Como não podia pagar manutenção, não podia ter pessoas pra pagar manutenção, então fazia assim: “Você é eletricista? Então você troca? Seu filho vem fazer natação, vem fazer judô, sua mulher faz ginástica, então a gente troca pela... você vai ser meu eletricista”, “Ah, você é encanador? Você vai trocar”, então eu fazia umas trocas, sabe, trocas? Panfletos, então “Panfletos, você faz pra mim?”, na gráfica. Na rua da minha academia tinha uma gráfica. Aí trocava com a gráfica trocava os panfletos. Trocava de tudo. Acho que eu trocava tudo. Restaurante, se quisesse comer alguma coisa, trocava. Tudo, tudo eu fazia troca. Eu adorava trocar, permutar, porque não tinha dinheiro pra pagar.
P/1 – E quando é que a parte de estética começou a tomar conta?
R – Ela foi crescendo devagar assim, ela foi tomando um rumo, que eu fui aumentando a estética e fui diminuindo algumas outras atividades. Então começou em... 81 que eu entrei, em 85 ela começou a tomar uma proporção assim bem maior que a academia, começou a crescer. Aí peguei uma área só pra estética. Aí começou a aparecer aparelhos novos, coisas novas que não existiam na época.
P/1 – E como é que foi essa expansão? Quando é que você sentiu que aquele espaço não dava mais, precisava ir pra outro lugar?
R – Primeiro de tudo tinha que sair de lá. Fui morar num prédio ao lado, um predinho. Era predinho baixinho de três andares, que nem elevador existia, tinha que subir escada. Até todo mundo brincava, dizia assim: “Nós moramos na casa do zelador”, porque era pra ser pra zelador. Então aluguei ali, que pagava barato, o aluguel era barato, então fui morar lá. Aí, depois disso começou a academia mesmo. Boom. Boom mesmo, que deu aquela, que eu cheguei pra… Quando eu fui pra um outro ambiente, eu fui pra Moema, né, foi em 95. Mas eu estava bem pé no chão, sabe, tudo muito bem assim, “Agora dá, agora eu estou bem. Tá tudo certo, deu certo, já passei os perrengues todos, já passei por muita coisa, agora da pra montar a segunda.”
P/1 – E como é que era a procura por esse tipo de serviço? É a mesma coisa que é hoje? Como se deu essa...?
R – As pessoas nem entendiam quando você falava estética. “Mas o que é estética?” Não chegavam a entender. Na época, meus filhos diziam assim na escola, quando eles falavam assim: “O que sua mãe faz?” “Ah minha mãe tem clinica, tem estética.” “O que é estética?” Que ninguém entendia o que era. Aí tinha que explicar: “É um ambiente onde você faz limpeza de pele, faz massagem, né, tratamento pra celulite, pra gordura localizada, flacidez.” Aí que as pessoas iam entendendo. Porque na verdade não falava clínica, né, na época falava centro de estética, não se falava clínica. Hoje sim, clinica, porque hoje nós temos médicos. Mesmo na época já fazia avaliação médica.
P/1 – E como você se encaminhou pra essa área? Como você fazia pra se informar do que tinha de novo, do que estava surgindo? Como é que era?
R – Eu participava de feiras, meu marido por ser japonês, eu unia o útil ao agradável. Quando ele ia fazer visita pra família, eu já procurava algumas coisas de lá, então já trazia algumas coisas, alguns aparelhinhos, algumas coisas de lá do Japão. Então estava sempre inteirada. E nas feiras também, feiras também eu sempre eu participava das feiras.
P/2 – Eu queria saber como era essa decisão de focar na clínica de estética, no centro de estética, como é que foi fazer acordo com seu marido, porque afinal de contas, isso vincula a parte da ginástica, do judô, né? Como é que foi pra outras pessoas que estavam envolvidas? Como é que foi a conversa?
R – Assim, meu marido... Porque ele não era muito a favor da estética. Ele achava assim: “Não, estética não. Vai malhar, melhor, porque estética não”. Porque ele achava assim, que era uma coisa que não podia ser assim, vai dar tanto resultado. Por mais que explicasse, por mais que, sabe, que trouxesse a fisioterapeuta, e que mostrasse pra ele que era bom, ele não conseguia entender. As esteticistas explicavam, ele não conseguia entender. Ele achava que não, tinha que malhar, não, não. Saber comer direito e malhar. Então ele não conseguia entender aonde ia chegar a estética. Naquela época eu já achava assim, no futuro não vai existir tantos cortes, acho que isso aí vai evoluir. Eu tenho certeza que vai chegar numa época que vai evoluir. Então já acreditava nisso, já acreditava que a estética ia chegar aonde chegou, aonde tá chegando e vai longe ainda. Tá só começando.
P/2 – Você conseguiu convencer ele a separar as coisas?
R – Difícil, foi muito complicado. É japonês, né, é muito difícil pra entender é um pouco difícil.
P/2– E ele manteve a academia de judô?
R – Eles são mais tradicionais, né, por ser tradicionais.
P/2 – Você manteve a academia de judô dele também, ou não?
R – Não, continua até hoje na Aclimação, no mesmo lugar ainda continua. Judô, musculação – porque depois veio musculação porque não existia na época. Até hoje tá lá. Academia tá lá, aquilo lá é nossa… Aquilo lá, nunca vai sair de lá.
P/1 – E houve dificuldades nessa adaptação do tipo de cliente? Por exemplo, um cliente que fecha um plano semestral, daí passa a ser alguém que vai pra um serviço específico, fez e vai embora, como é que foi?
R – Assim, na verdade eu sempre aproveitei as alunas e os alunos para a estética. Depois o que eu disse pra você, depois começou mais a evoluir, aumentou mais a parte estética. Mas os planos, assim, sempre foram dez massagens, dez drenagens, sempre dez. Pacotinhos assim nós fechávamos os tratamentos e a pessoa fazia o tratamento, sentia a diferença, né, no tratamento e aí uma trazia outra, e outra, e foi… Lá era mais boca a boca, né, tinha propaganda das faixas na rua, mas o boca a boca foi muito importante.
P/1 – E como que era a busca pelos profissionais que iam oferecer esse serviço?
R – Na verdade eu pegava muito do SENAC, porque o SENAC é muito antigo e eu buscava no SENAC, os profissionais no SENAC, porque na época no SENAC existia, né, esses profissionais que faziam assim, faziam por conta própria. Assim: “Eu faço limpeza de pele”. Fazia em casa, fazia na sua salinha, na sala da sua casa, no cabeleireiro. E aí eu fui buscar no SENAC.
P/1 – E a estética, ela é uma área que muda muito com o tempo, de um ano pro outro ou os aparelhos são praticamente os mesmos?
R – Não, não, muda muito. Agora tá muito assim, é muito rápido. Os lasers da vida aí tá assim, todo ano tá mudando, sabe, nós temos um médico que sai fora pra buscar coisas novas, né, Doutor Abdo sai fora a procura. A Lucy também, minha filha também viaja sempre pra ver coisas novas, novidade, em algumas feiras. Porque você tem que saber se o aparelho realmente funciona. Ele passa por teste primeiro, dentro da nossa clínica, no nosso laboratório ele passa por um teste pra ver se realmente ele funciona. Aí, nesse teste, nós fazemos o teste com várias pessoas, né, aí se funciona entra na rede, senão ele é descartado.
P/1 – E como é que foi essa escolha de Moema como um bairro para mudança? Por que de Moema?
R – Porque na época Moema estava em crescimento. Moema era um bairro assim, crescendo muito e o poder aquisitivo de Moema era alto. Então eu escolhi Moema por esse motivo na época, em 95.
P/1 – E continuou funcionando também Onodera na Aclimação com os tratamentos de estética?
R – Continua não só na academia. Ela saiu e foi pra uma avenida. Que nem tinha condição, porque ela cresceu muito, né?
P/1 – Então esses clientes de Moema eram outros clientes?
R – Outros clientes.
P/1 – E fala pra gente um pouquinho quais foram as principais mudanças que você sente daquela época pra hoje, na sua clínica de estética, com relação ao tratamento com o cliente, a forma de atrair o cliente. Houve grandes mudanças ou continua sendo a publicidade?
R – Completamente. Publicidade mudou muito, hoje você não fica panfletando. Hoje mudou muito, demais. Hoje o meio de comunicação mudou, tudo mudou. Hoje existe um sistema dentro da nossa empresa, né, nós usamos um sistema. Hoje você faz um e-mail marketing, nós temos hoje empresas de marketing, nós temos a… Como é que fala? Ah, muitas coisas mudaram. Me perdi um pouco agora.
P/1 – Não tem problema. E você comentou sobre essa relação com profissionais da saúde, médico que sempre atuaram. Como é essa relação? Eles são contratados ou eles oferecem o serviço? Eles estão lá uns dias da semana? Como funciona?
R – Não, é assim: existe uma equipe, né, existe, acho que são agora 70… Não tenho o número exato, por volta de uns 70 médicos da rede. Então, por exemplo, hoje um médico pode estar na minha clínica, amanhã ele pode estar na casa de um franqueado. Então fazemos um contrato e ele trabalha duas vezes por semana na minha casa, duas vezes na outra. Dentro de uma casa trabalham dois, três médicos, um que faz laser, outro que faz aplicação, outro que faz botox, entendeu? Então são vários médicos pra rede toda.
P/1 – E qual a relação de serviços oferecidos? É muito grande?
R – É grande. Agora pra você me falar todos os serviços, são muitos, muitos.
P/1 – E como é que foi pra você de trabalhar, e atender, e fazer propaganda, a começar a ter seus funcionários? Como foi a sua relação com os seus funcionários? Essa relação patrão-empregado.
R – No começo eu era a recepcionista, depois de recepcionista aí eu saí de recepcionista, contratei uma moça pra ficar na frente, à frente da academia. Aí depois contratei consultoras de estética. Já existia a esteticista facial, a massagista, aí eu contratei consultoras de estética. Consultora é aquela que você chega pra ela, ela vai te analisar, saber o que você precisa, o que você tem, o grau de celulite que você tem, o que você precisa, o tratamento. Aí que nós passamos orçamento. Se a pessoa tem condição faz um completo, o tanto que ela acha que ela pode arcar, em financeiro.
P/1 – Bom Edna, você estava falando pra gente sobre a relação com os seus funcionários. Eu queria saber se existe alguma forma de treinamento desses funcionários. Não aqueles que já trabalhavam nos serviços de estética, mas o que ia receber o cliente, se existe alguma preocupação em treinar essas pessoas.
R – Isso, você tá falando no começo? Bem no início, né?
P/1 – Início.
R – Início, porque existe uma equipe toda que treina. No início eu buscava pessoas que já vinham com certo grau já de conhecimento. Como eu falei pra você, o SENAC, que fazia essa parte técnica. As consultoras aí eu que treinava como fazer, juntamente com a esteticista. A esteticista me dizia como o grau de celulite, como o que precisa pra pele. Elas eram formadas então elas faziam isso. Então eu não fazia.
P/1 – E hoje em dia, pelo tamanho que a coisa tá?
R – Ah, hoje em dia é equipe pra tudo. Equipe de marketing, tem equipe técnica, tem os médicos, tem… Ai, financeiro, tem muita gente trabalhando, agora tem uma equipe grande.
P/1 – E quanto à forma de pagamento desses serviços? Como era antes e como é hoje? Mudou muita coisa?
R – Mudou. Antigamente é aquela coisinha do chequinho pré-datado, né, apesar que ainda existe ainda. Cheque pré-datado, tratamento você parcela até dez vezes, oito, dez vezes. Hoje existe o que? O cartão de crédito. Hoje existe mais cartão de crédito do que cheque pré-datado. Hoje a as pessoas não andam mais com os talões, né? Antes deixavam um talão inteiro.
P/1 – E fala um pouquinho pra gente, Edna, como foi essa expansão de uma loja pra tantas no Brasil inteiro. Como é que foi essa coisa?
R – Assim, eu queria até voltar um pouco atrás, assim, que quando a minha estética deu certo, porque eu acho que deu certo, porque eu sempre fui muito atirada. Por exemplo, eu acabei de pagar um carro, mas eu fui numa feira e vi um aparelho assim, revolucionário – e aconteceu mesmo isso, de pegar a chave do carro e entregar pro dono do aparelho e falar: “Eu quero esse aparelho”. Não chegou ainda no Brasil, ele tá na feira, entendeu? “Eu quero esse aparelho!” Isso eu fiz muito. Às vezes vendia um carro pra comprar um aparelho. Meu falecido marido, quando ele vinha da seleção que às vezes ele ia pra fora, viajava com a seleção, ia pra fora, quando ele voltava ele falava: “Cadê o carro?”, “O carro já era! O carro tá ali naquele aparelho”, “Mas como?” (risos). Falei: “Não, calma, porque esse aparelho, ele vai virar dez carros logo, logo. Pode ficar tranquilo”. Então existia muito isso, eu fazia muito essas loucuras. Então eu acho que isso, eu não tinha medo de fazer. Eu fazia, depois eu via o que ia dar. “Depois eu resolvo, depois eu faço dar”. Então, eu não fui uma pessoa medrosa, por isso que deu certo. E aí você me perguntou…
P/1 – Como se tornaram várias lojas em vários lugares do Brasil?
R – Depois de Moema, isso em 95, no ano 2000, entra pra terceira casa, na Anália Franco. Aí eu falei: “Ah, eu queria ter pelo menos mais uma casa”. Aí abri lá no Anália Franco. Abrindo em Anália Franco, eu fazia Shop Tur. Existia um canal de televisão de vendas, né, e aquilo tava bombando. E muita gente, chegando muita gente, e alguém comentou: “Por que você não monta uma franquia?” Aí a gente pensava: “Poxa, uma franquia? Franquia é perigoso, né, porque quando você cuida do seu negócio você tá lá de olho no seu negócio e pra franquia é perigoso, né? O negócio pode desandar. Aí entramos em contato com um pessoal que formatava rede de franquia e sentou com a gente e falou: “Olha, vou formatar, ver se isso é viável e vamos fazer um trabalho. Vamos dar uma olhada no número de vocês pra saber se isso aí é viável.” Aí quando ele fez, ele falou: “Nossa, esse negócio é maravilhoso”. Foi aí que… A minha filha, Lucy, já estava se formando, estava acho que no penúltimo ano de faculdade. Ela fazia Administração, foi daí foi que rolou o negócio da franquia. Aí o que aconteceu? Como começou a franquia? A franquia, ela começou com pessoas conhecidas. Por exemplo, uma médica que trabalhava com a gente, uma médica abriu a primeira casa. A consultora que trabalhava, a consultora de estética que trabalhava comigo abriu a segunda. A irmã da consultora, que também era consultora, que era a segunda consultora, abriu a terceira. Então no começo, no início foram pessoas que eu conhecia, que conhecia do meu negócio. Foi assim que tudo iniciou. “Eu tenho que ter pessoas que conheçam do negócio, que já trabalharam comigo e que entende do meu negócio. Então assim que nós começamos, depois começamos abrir pra, abrindo pra outras pessoas.
P/1 – E como que é essa estrutura? Por exemplo, a clínica precisava ter uma certa medida ou oferecer um mínimo de serviços, ou eram todos iguais em todas? Como é que funcionava?
R – Não, tinha que ter um espaço suficiente pra ter o que já existia nas minhas casas, nas minhas três casas. Então tinha, tinha que ter o padrão, tudo. Hoje tá bem mais padronizado. No começo teve um pouco de dificuldade pra padronizar, no início, né? No início nem todo mundo tinha muito dinheiro, então foi uma coisa muito... Quando começou, na verdade, uma coisa muito caseira, era muito caseira. Quem cuidava de tudo era eu e a Lucy, tanto pra dar treinamento, pra tudo só eu e ela. Depois nós começamos contratando, começamos a contratar pessoas pra trabalho.
P/1 – E hoje em dia, com tantas franquias, como acontece o controle da qualidade do serviço, você ter a certeza que em um outro Estado o serviço tá sendo exatamente igual ao que você toma conta.
R – Porque nós temos equipe, né, nós temos as GRs, né, chama Gerente de Relacionamento que elas visitam as casas, acompanham. Nós temos clientes fantasmas, nós falamos clientes fantasmas, que não é essa palavra. Hoje fala cliente oculto, né, então começamos a dizer que era fantasma. Cliente oculto, ela frequenta as casas, e ali ela traz todo o resultado que tá acontecendo. Por sinal nós chegamos a descredenciar algumas casas no começo. Aconteceu isso porque não estava trabalhando da forma correta, nós tivemos esse trabalho. Foi um pouco complicado no começo. Hoje tá tudo bem no padrão, as pessoas são muito bem… Nós temos na administração sempre fazendo treinamentos desde recepcionista, massagista, médicos, consultoras. Então sempre treinando. Isso é primordial. Treinar, sempre treinando.
P/1 – E como você se sente em ver um negócio que você começou com tanto esforço, ali trabalhando sozinha, praticamente, hoje em vários lugares do Brasil?
R – Hoje eu não digo sozinha porque minha filha entrou, quando começou a franquia, foi junto com a Lucy, né, então hoje eu não fico mais muito presente. Eu fico mais com as minhas casas próprias, que eu tenho oito casas minhas mesmo. Então eu fico mais cuidando das próprias. Na administração mais a Lucy, a Lucy com a equipe toda. Hoje é mais fácil porque pra se comunicar é tudo, né? Você viaja, de repende você faz uma reunião do outro lado do mundo, né? Você tá do ouro lado do mundo, você tá se reunindo com a sua equipe, né, você tem essa facilidade hoje. Então hoje é mais fácil. E você me perguntou…
P/1 – Como você se sente…
R – Eu não imaginava, de verdade eu não imaginava que ia chegar a esse ponto não. Eu imaginava sim ter seis lá, umas cinco, seis casas próprias. Isso eu sonhava, mas franquia não. Isso vem acontecendo e eu me sinto orgulhosa, né, porque o Brasil inteiro e tem gente lá fora procurando por nós. Por enquanto não vamos sair daqui, mas procuram por nós. Portugal procura muito.
P/1 – E hoje em dia existe uma diferença do que era antes com relação ao oferecimento desse serviço? São planos ou a pessoa pode um dia agendar? Como é que funciona esse agendamento?
R – São planos porque a pessoa tem… Pra ter resultado, senão não dá resultado. Não dá assim, faz hoje e volta daqui a um mês. Não, porque os tratamentos eles precisam de tempo pra você poder ter o resultado. As sessões, né, às vezes dez, 15 sessões pra dar o resultado.
P/1 – E por ser uma rede, o cliente pode de repente fazer um tratamento em uma das casas e outro em outra ou não?
R – Não, tem que acompanhar sempre naquela mesma casa. Ela pode transferir sim, assim, de repente se ela muda pro interior, por exemplo, tá aqui em São Paulo, aí fazemos a transferência. Isso sim. Porque cada casa é um dono, né, cada casa é um franqueado, então é complicado fazer numa casa e em outra.
P/1 – E que queria que você falasse pra gente como é pra você, por exemplo, o cliente. O perfil do cliente que existia no começo e o cliente que você atende hoje. Mudou muito? Como é essa mulher que vinha antes e como é essa mulher que vem hoje?
R – Muito! Hoje elas estão antenadas, elas sabem de tudo! Elas sabem assim… De repente ela chega falando alguma coisa que eu acabei de saber agora ou... Entendeu? Você tá assim procurando e, sabe, o aluno que já pesquisou e fala pro professor: “Professor, tal coisa…”. E o professor: “Ai, espera um minutinho que eu vou dar uma olhada nisso”, entendeu? Hoje elas estão mais antenadas, graças a Deus. São mulheres independentes, então hoje tá muito mudado, o que elas não conheciam antes, hoje sabem até demais.
P/1 – E da academia que você brincou, que tinha aquele de tantos meses a tantos anos, o tratamento hoje ele tem uma idade mínima? Uma idade máxima? Depende do serviço? Depende do tratamento?
R – Depende, porque passa pelo médico, né, e o médico que vai avaliar se você pode ou não. Tem muitos tratamentos que você precisa passar por um exame porque aparelhos hoje são aparelhos mais potentes. Hoje tem mais, que tomar muito cuidado, é muito laser, né?
P/1 – Eu queria saber, você já falou, obvio, mas de publicidade, como é que é hoje? Vocês anunciam aonde? Como é que funciona?
R – Revista, TV, vários lugares. Uma época é um meio de comunicação, outra época é outro, e tem que tá sempre.
P/1 – Internet também?
R – Internet também. Nossa, internet é o principal.
P/1 – Em internet é possível agendar ou fazer algum plano?
R – Sim. Não, fazer o plano não, porque você tem que avaliar a pessoa, mas você marca pela internet, entrando no site.
P/1 – Entendi. Agora Edna, partindo pra uma parte mais pessoal, eu queria saber como é que é o seu dia a dia. A que horas você acorda? Pra onde você vai? Você fica o dia inteiro na clínica? Como é que funciona?
R – Não, assim: eu tenho uma pousada agora. Já é um outro sonho também, porque fazendo um outro negócio. Porque eu tenho uma equipe toda formada. Essa equipe, maravilhosa, uma equipe bem formada, participo das reuniões. Sou presidente da empresa, mas também estou no ramo… To entrando no ramo de pousadas, hotelaria e to gostando também. Então eu fico lá e aqui. De lá também eu vejo aqui, daqui eu vejo lá também, entendeu? Eu to sempre me comunicando e agora mesmo eu fiquei uma semana lá, em Ubatuba. Tenho a pousada em Ubatuba. Meu dia a dia é esse, ou to lá ou to aqui.
P/1 – E antes de entrar nessa parte dos hotéis, só queria que você falasse pra gente, a gente falou de publicidade, existe um logo, uma marca da Onodera? Como é?
R – Existe, que é a borboleta, é a transformação da mulher. Isso foi há sete anos, oito anos atrás, foi mudado o logo. Por quê? Perguntam por que a borboleta. A borboleta é uma transformação. Então sempre se transformando. Então esse é nosso logo, borboleta.
P/1 – Entendi. Agora, por que hotéis? Como te deu essa coisa de querer participar desse ramo? Como é que foi?
R – Não é bem hotéis, né, na verdade eu falei hotéis, mas na verdade é pousada. Tá lá, mas ainda tá um pouquinho caseira. Tá começando como a academia, mas eu to me dando bem , eu to gostando, acho que eu gosto de público, eu gosto de gente, entendeu? Eu gosto de conversar no café da manhã, eu bato papo com os hóspedes. Aí, troco figurinha, troco experiência, eu gosto disso, então eu troco muito. É gostoso, fica sabendo da vida de todo mundo, o que faz, entendeu? Cada pessoa que chega lá trabalha com um tipo de negócio. Eu gosto disso, eu acho que eu gosto é de movimento. Eu sempre gostei de movimento. Então é por isso.
P/1 – Então você tá na clínica em dias específicos ou você não…
R – Não, não tenho dia certo. Eu tenho assim, as minhas oito casas são assim: eu entro em contato tanto por email, por telefone, por rádio. Entro em contato com todas as minhas gerentes e caso aconteça alguma coisa, tenha alguma reunião, alguma coisa que marquem, eu venho, de Ubatuba eu venho pra São Paulo. Eu fico São Paulo e Ubatuba, Ubatuba e São Paulo. Então tenho apartamento aqui e tenho casa lá. Então eu trabalho assim e é gostoso porque, como eu já disse pra você, eu gosto de movimentar, eu não fico parada. Eu já to muito tempo parada aqui, sentada. (risos)
P/1 – E nesse seu dia a dia na clínica, você consegue perceber algum serviço que ele é assim o top, é o campeão de vendas, o que mais as mulheres procuram?
R – Ah hoje acho o laser, né? O laser é a procura maior, os nossos tratamentos de laser. E tá evoluindo muito, muito.
P/2 – Qual que é o seu favorito?
R – Ah os meus todos, principalmente pele, né, rosto, face. Eu gosto. Gosto também das drenagens, as massagens relaxam bastante. Gostoso.
P/1 – E a Onodera ela atende só o público feminino?
R – Só o feminino. Não, existe o masculino assim pra pelos, né, com laser. Pelos, trabalhamos com limpeza de pele, tratamento facial, pra homens.
P/1 – Pro futuro você vê assim como algo assim, possível expandir esse negócio pro público masculino? Com mais serviços?
R – Ah sim, com certeza. E os homens estão ficando bem vaidosos. E eles são mais, como que eu falo? Eles são mais obedientes no tratamento. Como é que eu posso falar? Eles fazem direitinho, sabe? Mais que mulher, sabia? Homem é danado, viu? Quando ele começa a fazer um tratamento, ele faz direitinho.
P/1 – O que você gosta de fazer nos momentos que você não está trabalhando? Você tem algum hobby?
R – Eu gosto, quando eu to lá em Ubatuba, eu gosto de correr lá na praia. Aí eu gosto, principalmente de manhã, assim, cinco horas da manhã quando vai o sol vai despontando, aí esse é o horário que eu gosto mais de fazer, de tá correndo na praia. Esse é um… Me sinto bem, me sinto livre assim.
P/1 – E você gosta de fazer compras?
R – Agora compras, eu faço muitas compras porque eu preciso pra usar na pousada, sabe? (risos). Eu nunca, na verdade eu nunca gostei de fazer compras assim, de casa. Hoje eu faço isso. Hoje eu conheço tudo de supermercado, tudo que vai pra um café da manhã. Acho lindo, maravilhoso (risos). Aprendi bastante. To aprendendo, to aprendendo.
P/1 – Com relação à sua família, você comentou que tem duas filhas. Fala um pouquinho delas pra gente.
R – Não, eu tenho quatro filhos. Primeiro, são lindos e inteligentes. A Lucy que trabalha comigo, né, fez Administração, a Karen que é psicóloga, o Felipe fez Administração também e o Henrique que fez Administração e Relações Públicas, que é o caçula.
P/1 – E só uma delas trabalha com você?
R – Diretamente sim.
P/1 – E você indicaria pros seus filhos a atividade comercial, a atividade de prestação de serviços?
R – Olha, cada um tem que fazer aquilo que gosta. Pior coisa da vida é você fazer uma coisa que você não gosta. Agora, ter o seu próprio negócio eu acho bacana porque você pode criar muito, você pode fazer da forma que você quer. Se não deu certo uma coisa, você pode partir pra outra. Por esse motivo, mas eles devem fazer aquilo que eles quiserem. Eu nunca palpitei assim: “Ah, eu acho que você deve seguir isso”, ou “Deve seguir aquilo”. Não. Todos procuraram, sabe, foram à procura do que queriam. Então não forço a nada não. Porque a pior coisa na vida é você fazer uma coisa que você não gosta. Se eu fiz tudo o que eu gostei, tudo o que eu fiz na minha vida foi por gosto mesmo, sabe, paixão mesmo, muita paixão. Então aí por isso que deu certo. Porque pra dar certo, pra você dar certo no seu negócio, primeira coisa você tem gostar, assim, apaixonar por aqui. É como se apaixonar por um homem, se apaixona pelo seu negócio. Aí vai dar certo, com certeza dá certo.
P/1 – E qual foi a maior lição que você tirou da atividade comercial de prestação de serviços, em todos esses anos que você trabalha?
R – Maior lição? É tomar muito cuidado por causa dessa coisa de eu ser afoita, foi essa lição de baixar a bola um pouco, tomar cuidado porque sofre muito. Isso foi uma lição de que eu tenho que tomar muito cuidado, me organizar mais, entendeu? Então essa lição, que eu bati muito a cabeça. Então o que eu errei lá atrás eu não posso errar mais. Então essa foi a lição que bati muito a cabeça.
P/1 – E você tem algum sonho que você quer realizar ainda?
R – Ah eu tenho. Eu gostaria de que meus filhos me dessem netos. Agora o meu sonho é esse. Eu quero netos e tá difícil. Ninguém tá querendo ter filhos (risos), mas acredito que sim, agora em diante acho que eles vão, depois disso eles vão querer.
P/2 – Depois do recado…
R – Eu dei o recado bem, não dei? Então, esse é o meu recado.
P/1 – Bom, Edna, tem alguma coisa que a gente não perguntou que você gostaria de falar?
R – Acho que vocês perguntaram, foi tudo bem, foi muito bom, foi prazeroso falar com vocês. Foi muito bom, gostei muito de falar assim da minha vida desde o início, desde pequena. Foi muito bom.
FINAL DA ENTREVISTA
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