Depoente: Saint-Clair Moura
Entrevistado por: Claudia e Itamar
São Paulo, 11 de dezembro de 1993
Entrevista nº 025
P - Eu gostaria que o senhor falasse o seu nome completo e onde o senhor nasceu.
R - Eu nasci em Espírito Santo do Pinhal.
P - E o nome completo do senhor?
R - Saint-Clair Moura.
P - E o senhor sabe o porque desse nome?
R - Ahn?
P - Da onde veio?
R - Vem porque quando eu nasci meu pai admirava muito a França, apesar dele não ser francês. Ele admirava muito a França, sabe essas coisas? Então, o Saint-Clair, Santa Clara, né? Santa Clara, era Saint-Clair, se escreve. E daí eu cresci com esse nome, né? Trabalhei em farmácia, trabalhei em... Em farmácia, depois eu vim pra São Paulo, fui trabalhar na Casa, na velha “Casa Fucks” (?), e... Que, que... Que desapareceu, era um magazine grande e desapareceu. E... Que nem... Dificuldades e... Depois eu fui trabalhar no Esporte Nacional. Eu fui ser gerente no Esporte Nacional... E dali... Esporte Nacional também foi vendido, e eu fui... Eu fundei o Esporte Moura.
P - Certo. Mas deixa eu perguntar uma coisa pro senhor... Como e que era a cidade de Pinhal, Espírito Santo do Pinhal, quando o senhor era pequeno?
R - É, era uma cidadinha pequena, né? Hoje ela já cresceu, sem dúvida nenhuma. Mas era uma cidadinha pequena e... E não tinha grande campo para gente trabalhar lá. Então era a velha questão: a gente emigra.
P - E o pai do senhor fazia o quê?
R - Ele era administrador de fazenda, né?
P - O senhor morava na fazenda?
R - Eu, eu morei na fazenda Jangada, mas eu era garotinho... O meu pai foi, dirigia a fazenda da Jangada e, e... E uma outra fazenda pegado, fazenda Santa Vitória, da Jangada também.
P - E o que que o senhor lembra dessa fazenda?
R - Ah, eu lembro da minha meninice, né? Eu era arteiro.
P - É?
R - É. Sabe como é...
P - Quê q...Continuar leitura
Projeto: História em Multimídia do São Paulo Futebol Clube
Depoente: Saint-Clair Moura
Entrevistado por: Claudia e Itamar
São Paulo, 11 de dezembro de 1993
Entrevista nº 025
P - Eu gostaria que o senhor falasse o seu nome completo e onde o senhor nasceu.
R - Eu nasci em Espírito Santo do Pinhal.
P - E o nome completo do senhor?
R - Saint-Clair Moura.
P - E o senhor sabe o porque desse nome?
R - Ahn?
P - Da onde veio?
R - Vem porque quando eu nasci meu pai admirava muito a França, apesar dele não ser francês.
Ele admirava muito a França, sabe essas coisas? Então, o Saint-Clair, Santa Clara, né? Santa Clara, era Saint-Clair, se escreve.
E daí eu cresci com esse nome, né? Trabalhei em farmácia, trabalhei em.
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Em farmácia, depois eu vim pra São Paulo, fui trabalhar na Casa, na velha “Casa Fucks” (?), e.
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Que, que.
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Que desapareceu, era um magazine grande e desapareceu.
E.
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Que nem.
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Dificuldades e.
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Depois eu fui trabalhar no Esporte Nacional.
Eu fui ser gerente no Esporte Nacional.
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E dali.
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Esporte Nacional também foi vendido, e eu fui.
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.
Eu fundei o Esporte Moura.
P - Certo.
Mas deixa eu perguntar uma coisa pro senhor.
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Como e que era a cidade de Pinhal, Espírito Santo do Pinhal, quando o senhor era pequeno?
R - É, era uma cidadinha pequena, né? Hoje ela já cresceu, sem dúvida nenhuma.
Mas era uma cidadinha pequena e.
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E não tinha grande campo para gente trabalhar lá.
Então era a velha questão: a gente emigra.
P - E o pai do senhor fazia o quê?
R - Ele era administrador de fazenda, né?
P - O senhor morava na fazenda?
R - Eu, eu morei na fazenda Jangada, mas eu era garotinho.
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O meu pai foi, dirigia a fazenda da Jangada e, e.
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E uma outra fazenda pegado, fazenda Santa Vitória, da Jangada também.
P - E o que que o senhor lembra dessa fazenda?
R - Ah, eu lembro da minha meninice, né? Eu era arteiro.
P - É?
R - É.
Sabe como é.
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P - Quê que o senhor aprontava?
R - Montava a cavalo.
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E.
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Tinha uma jabuticabeira que precisava ser guardada, porque senão os colonos da outra fazenda vinham roubar jabuticaba.
Não roubar, estragar, a senhora compreende? E por sinal, nós tivemos um pastor muito grande que se chamava Amigo, mas não era amigo de ninguém!
P - Mas por quê? (Risos)
R - Ele, ele foi amarrado numa jabuticabeira.
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E.
.
.
E.
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Que seja.
Chamava essa, essa qualidade.
E verde era doce, compreende? E o Amigo fez um estrago lá na fa.
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Lá na.
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(Risos) E ninguém chegava.
E.
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Um dos ladrões subiram na jabuticabeira e não podia descer depois, também.
Isso eu me lembro bem!
P - O quê mais que o senhor lembra, assim, de acontecimento da fazenda?
R - Aquelas de puxar café.
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Lavar café, café vai pro terreno, tom.
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P - O senhor fazia isso?
R - Tomar sol.
Eu não, eu não fazia, mas eu acompanhava, né? Tomar sol, etc e coisa.
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Todos os dias.
E meu pai examinava se estava bom para beneficiar.
Ele descascava com o pé um pouco de café, e.
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Aí, então, ia prá tuia, como é que chama? E depois prá beneficiar o café.
P - Como que era a vida? E.
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Você tinha.
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O senhor tinha oito irmãos.
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Como que era essa convivência na família?
R - A família.
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Era unida, compreende? E.
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E aconteceu que.
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Que e, enfim.
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Os meus irmãos, mais velhos do que eu, seguiram um caminho.
Um foi ser ajudante de administração, outro foi.
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foi.
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foi.
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Veio pra São Paulo, esse outro.
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E trabalhou aqui uma temporada, depois ele voltou pra fazenda, né? E era, sabe, foi uma vidinha unida, assim.
Naquele tempo, tempo de luta, sabe como que é? Não era brincadeira, não.
Não era como hoje, que o dinheiro corre.
P - E como que eram as brincadeiras?
R - As brincadeiras?
P – É.
Que vocês brincavam.
R - Brincava tipo de garoto?
C -Uhum.
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R - Jogava bolinha de vidro.
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Jogava barra, barra bandeira, enfim.
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Era uma vida não de rico, mas.
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Uma vida satisfeita, alegre, né? Dona Marieta cuidava muito bem da gente, né?
P - Quem que era dona Marieta?
R - Era minha mãe.
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Né? Ah, então, Maria, aí, mas é.
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Marieta, diminutivo de Maria.
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E.
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.
e.
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Enquadrava o negócio.
Ah.
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Aliás, ela dizia que ela era “administradeira” da.
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da fazenda, né? E.
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E fomos levando a vida.
Quando eu vim pra São Paulo.
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Eu vim pra São Paulo, eu fui trabalhar na velha “Casa Fucks”, que desapareceu depois de.
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de encrenca de diretoria, etc e coisa.
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Depois, então, eu fui trabalhar no Esporte Nacional.
P - Mas.
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O senhor já era grande quando o senhor veio pra São Paulo?
R - Ah.
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Tinha uns.
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Acho que uns dezenove, dezoito.
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Quase vinte anos.
P - E por que o senhor resolveu vir pra São Paulo?
R - Eu vim prá São Paulo prá lutar, né? E graças a Deus deu certo.
P - Quê que o pai do senhor achava disso, de o senhor vir pra São Paulo?
R - Não, ele.
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Ele Nem comentava.
P - É?.
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E qual foi a primeira impressão que o senhor teve quando o senhor chegou em São Paulo?
R - Eu falei: "Tô perdido!".
P - Por quê? (Risos)
R - Eu desci na estação da Luz, sabe como, né? Desci na estação da Luz.
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Foi aquela folia.
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"Nossa Senhora, isso aqui é muito grande!", né? (Risos)
R - Eu tinha impressão que.
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Eu tinha impressão que tava todo mundo louco.
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Nin, nin, ninguém.
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né? Enfim, veio.
P - O senhor veio sozinho?
R - Eu vim.
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Vim sozinho.
Mas logo depois a minha família veio.
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E.
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E foi uma luta, né?
P - Como que o senhor fez pra arranjar o primeiro emprego, lá na Casa Fucks, né?
R - É?
P - Como que o senhor fez?
R - O dono da Casa Fucks era.
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Era de Pinhal.
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Seu Manoel.
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Manoel Gonçalves, faleceu já.
E depois a Casa Fucks também foi vendida, né? Pros alemães.
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Porque Fucks, em alemão é raposa, não? E.
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.
Depois a administração levantou a Casa Fucks.
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.
Aí começa a melhorar o negócio, também prá nós, né?
P - Quê que o senhor fazia na Casa Fucks?
R - Eu fui, eu fui.
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Cheguei a atingir chefe da seção de esportes.
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De artigos de esporte, né?
P - Quê que o senhor fazia como chefe da seção de esportes? Que o senhor tinha que fazer?
R - É, eu tinha que comprar e vender.
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Essas coisas, né? Ah, assim.
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Que eu peguei prática logo.
P - E o senhor já tinha contato com o futebol?
R - Não, nunca tive.
Eu tive contato com o futebol depois.
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Mas, vivia naquele meio, né? Vivia naquele meio.
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Aí foi desenvolvendo e coisa.
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P - E.
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Como que o senhor.
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Quando que começou esse contato com o futebol, o senhor começou trabalhando? Quem que o senhor começou conhecer?
R - E.
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Conheci os clube, né? E principalmente esses clubes principais, que era o Paulistano, São Paulo, depois veio o São Paulo Floresta, não é? E.
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Com.
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Nesses contatos que.
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Que foi.
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Que foi.
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Que foi progredindo, contato com.
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Com fábricas, etc.
.
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E.
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Não, não.
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Não levava comissão do fabricante, né? A Casa Fucks pagava muito bem.
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O dinheiro valia mais, naquele tempo, né? E, foi a vida que a gente foi, que foi.
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P - Quê que o senhor lembra do, do.
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Paulistano?
R - Do Clube Atlético Paulistano?
P - É?
R - Eu lembro do Paulistano.
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Porque o Paulistano foi, foi, foi.
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Não sei se você sabe, que o Paulistano foi feito uma fusão com.
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Com o São Paulo de Floresta, né? E os jogadores do Paulistano passaram pro São Paulo de Floresta.
Depois havia aquela encrenca de não querer profissionalismo.
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Então o.
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O.
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O São Paulo.
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O time do Paulistano passou pro São Paulo, não? E.
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Naquele tempo.
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O velho Antônio Prado, que era presidente do Paulistano.
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Ele.
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.
Ele não queria profissionalismo.
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Aí os jogadores foram tratar da vida, né? Foi quando eles fizeram, fun, fun.
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Fundou-se o São Paulo Futebol Clube, né? E isso.
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O campo era na, na.
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Na Floresta, era perto do Tietê, onde era antigamente.
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E.
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E aí, fundou.
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Diversos jogadores do Paulistano foram pro São Paulo, né?
P - Quem que o senhor conhecia que era jogador do Paulistano que foi pro São Paulo?
R - Eu conhecia o Nestor, que era goleiro, famoso.
O.
.
.
o.
.
.
O coqueluche das mulheres, porque era um sujeito bonito prá burro!
P - É?
R - E.
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.
Tinha um.
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.
Um.
.
.
Um.
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.
Uma camisa bonita, que ele, que ele era vaidoso também, né? E.
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Eu conheci.
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.
Eu não tinha grande amizade com o Artur Friedenreich, mas.
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Eu o conhecia, né? Foi um grande campeão nosso.
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Enfim, e.
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Desenvolvimento, etc e coisa.
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E foi, foi.
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O que eu acho uma coisa fantástica foi a.
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O progresso do São Paulo Futebol Clube, né? Que o São Paulo também chamava Clube da Fé, de repente ele ficou esse negócio que ta aí hoje, não?
P - Por que ele era chamado de Clube da Fé?
R - Quando ele foi fundado, ele era pequeno, né? Tanto que o grande herói da fundação dele foi o Porfírio da Paz.
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P - O senhor conheceu o Porfírio da Paz?
R - Conheci.
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.
Ele faleceu, né? Mas era um sujeito formidável.
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E Dalí, o São Paulo começou.
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Naquele.
.
.
Naquele.
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Naquele aperto, né? Depois ele deslanchou.
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Com a direção de.
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Mais rígida, mais firme, certo? Né? E.
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.
O São Paulo cresceu muito, foi campeão em 31, não?
P - O senhor lembra desse campeonato?
R - Lembro.
P - Quê que o senhor se lembra desse campeonato?
R - Nós ganhamos do Palmeiras o.
.
.
Nós ganhamos do Palmeiras o último jogo.
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.
Foi quatro a zero.
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.
Que era Palestra naquele tempo, né? Isso eu me lembro bem.
Assisti ao jogo, me lembro bem.
.
.
E.
.
.
E foi aquela festa que fizeram! Etc e coisa.
.
.
E.
.
.
Tanto que a.
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.
A moeda caiu de pé, você sabe, né?
P - Como que é essa história, da moeda que caiu de pé?
R - Porque geralmente era Corinthians e Palmeiras, que eram campeões.
.
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Né? E.
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E esse ano de 31, foi né?
P-2 - Trinta e um.
R - O.
.
.
O São Paulo foi campeão.
P-2 - O.
.
.
O da moeda foi em 43.
R - Em 43, né?
P-2 – Em 43.
R - Em 43, é.
P-2 – Em 31 e o primeiro título.
R - É.
.
.
Já, já com Décio Pedroso , né? E assim e.
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.
Começou o crescimento, né? Do São Paulo.
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P-2 - Mas termina essa história da moeda, é interessante, seu Saint-Clair.
Com o Corinthians era cara, ganhar do Palmeiras era coroa.
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.
De repente, ganha o São Paulo.
R - É.
.
.
A moeda caiu de pé, em vez de cair deitado.
E.
.
.
Teve uma festa lá, né?
P-2 - O senhor lembra do time de 31, mais ou menos, assim, alguns.
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?
R – De 31?
P-2 – É.
Os primeiros dos campeões do São Paulo, os grandes jogadores.
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Alguns que o senhor lembra.
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R - Lembro sim, eu vou ver.
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.
P-2 - Não há problema.
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Luizinho, o senhor falou agora a pouco, né?
R - É, Luizinho.
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.
P-2 - Bartolo.
.
.
R - Bartolo, Clodoaldo, que veio do Paulistano.
.
.
O.
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.
Um jogador que, que jogou no.
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.
No São Paulo da Floresta, que foi campeão, foi o.
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.
O uruguaio Arminana, não sei se, se cê lembra.
.
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E.
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.
Jogava o Almir, (?), Arminana.
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na linha média.
Esse você não lembra, né?
P-2 - Não senhor, nem.
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Não conhecia.
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Era.
.
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Um bom jogador também?
R - Como?
P-2 - Era bom jogador também?
R - Ah, era!
P-2 - O quê o senhor atribui a essa tradição do time do São Paulo sempre ter dado sorte com jogadores estrangeiros, né? Mesmo esse que eu não conhecia, depois com o Sastre.
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Poy.
.
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Pedro Rocha, Forlan, Dario Pereyra, né?
R - E o negócio que o São Paulo tinha um.
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Um homem que chamava, chamava Décio Pedroso, você sabe? Que era um caboclo de freio, né? Ele.
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Ele administrava o clube com, com carinho e era de freio.
Jogador não tinha esse negócio que, me dói, me dói a perna, não.
Vai jogar, vai jogar, né? Jogador não dói a perna.
P-2 - Forlan fazia muita manha, muita máscara?
R - Quem?
P-2 - Dos jogadores antigos?
R – Eu.
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.
Eu não me lembro bem porque eu não, não era daquele tempo.
O.
.
.
Dizem que o Friedenreich era.
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.
Era um encrenqueiro, o bugre, né?
P-2 - É?
R - Ele queria dinheiro e o Paulistano não queria dá e.
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Então aí, ele fazia aquelas fofoca, sujeito sem-vergonha.
Que ele era o grande Friedenreich, né?
P-2 - O senhor não o viu jogar, né?
R - Não.
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Eu, eu vi o Freindereich jogar no finalzinho.
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Engraçado que o São Paulo nunca havia perdido pro Santos, o São Paulo da Floresta.
E num jogo o São Paulo foi jogar na Vila Belmiro.
.
.
O.
.
.
Tava perdendo de um a zero o São Paulo.
.
.
Aí, o.
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.
O Clodoaldo, que era o técnico, fez uma modificação; fez o Friedenreich entrar.
.
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E ele.
.
.
Ele fez, e ele não queria entrar, porque tava no fogo, né? E.
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Mas ele fez.
Ele pegou uma bola e driblou todo mundo do Santos e fez um gol.
Ele saiu que nem um, um.
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.
Uma lingüiça assim, empatar um a um.
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.
Que diz não perdeu.
E isso foi uma grande coisa.
P-2 - O senhor sabe por que ele era chamado de "el tigre"?
R - Porque isso foi apelido na Argentina, né?
P-2 - Jogou lá, né?
R - Foi apelido que lhe puseram, "el tigre".
P-2 - Por que ele era rápido ou por outra razão?
R - Ah, era rápido! Matava no peito, passava no chão e.
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Era um “cracaço” de bom, era um professor muito bom.
P-2 - O senhor tava falando desse começo da história do São Paulo.
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Começo de luta, de dificuldade.
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Hoje o São Paulo, um time.
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Bem, né? Enorme, e considerado um time rico, né?
R - Agora.
P-2 - Mas no começo, conta um pouquinho mais dessa história, lá do senhor Porfírio da Paz.
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Dos primeiros são-paulinos, da primeira.
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Do São Paulo vinga.
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R - Ah, o.
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O Porfírio, o Porfírio foi um.
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Um trabalhador.
Ele arranjava tudo pro São Paulo, né? E daí foi.
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O São Paulo começou afirmar, né? O São Paulo nasceu do nada.
Nasceu do nada o São Paulo.
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E depois com.
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.
Com uma diretoria mais.
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Mais trabalhadora, né? Que dava sangue.
.
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Que o clube foi, foi.
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Foi adquirindo.
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Negócio do Morumbi e.
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Era motivo de risada.
"Ah, que vai fazer nada.
Vai fazer nada.
Sai".
Que.
.
.
Geralmente me.
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.
O próprio Palmeiras pra fazer esse estádio que tai foi.
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.
Foi uma luta desgraçada, né? Ninguém acreditava porque estava acostumado naquela pobreza, etc e coisa, né? E depois, deslanchou o Palmeiras.
O patrimônio deles é muito menor que o do São Paulo, indiscutivelmente.
Mas.
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.
Eles também cresceram um pouco, né?
P-2 - O senhor tava lá quando foi lançada a pedra fundamental do Morumbi?
R - Tava.
P-2 - Estava lá? Como que foi a emoção desse.
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Como que era o, a região, o local, o bairro? Onde esta o estádio hoje?
R - Hoje Pompeu Toledo.
P-2 - Exato.
R - Negócio é o seguinte, esse.
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Esse terreno foi.
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Foi ganho uma parte.
.
.
E outra parte foi comprado, né?
P-2 - De quem foi ganho? O senhor se lembra?
R - Se não me engano, da Companhia City.
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.
Foi na Companhia City, que era o bairro dos “granfino”, etc e coisa, e daí nasceu.
.
.
O negócio de fazer o estádio.
"Ah, (Risos) fazer estádio.
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.
Como que vai fazer estádio?"
P-2 - Não era aquele bairro “granfino” que hoje é o Morumbi? Como que era o bairro? Era muito longe, isolado da cidade? Como que era?
R - Não, não era muito longe.
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Era muito longe porque.
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Tem uma.
.
.
Uma fotografia pequena aí que.
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Que quando o São Paulo foi tomar posse do terreno.
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No, no, nós fomos lá, todo mundo.
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.
Companhia, etc e coisa.
.
.
Foi quando tomou a posse do terreno.
.
.
O financiamento, uma porção de coisa.
.
.
O clube, o Cícero Pompeu de Toledo que carregava nas costas, as contas do São Paulo.
O Pompeu de Toledo era.
.
.
O.
.
.
P-2 - Que entendia.
R - E.
.
.
P-2 - Voltando um pouquinho antes.
.
.
Como que o senhor virou são-paulino? O quê foi que levou o senhor, assim, a ter essa paixão pelo São Paulo?
R - O coração de.
.
.
O coração de pinhalense.
P-2 – Pinhalense é são-paulino, é?
R - É.
P-2 - Tem muito são-paulino lá?
R - Tem.
.
.
Tem bastante.
P-2 - O senhor chegou a jogar futebol, seu Saint-Clair?
R - Não.
.
.
Não cheguei.
P-2 - Não.
R - Era corneta! (Risos)
P-2 - Lá em Pinhal ou aqui em São Paulo, o senhor jogou?
R - Aqui em São Paulo.
P-2 - Em São Paulo, né.
.
.
Em Pinhal o senhor não jogou, né?
P-2 - Mas como que o senhor foi se aproximando assim, da direção do time, da participação dentro do próprio clube?
R - Ah.
.
.
Pelo, pelo, pelo.
.
.
Pelo.
.
.
Os outros clubes.
.
.
Os outros.
.
.
Os outros.
.
.
Os outros clubes, por exemplo.
.
.
Quando nós começamos a crescer foi na Rua da Moóca, né? Que nós fizemos, ganhamos do Palmeiras de seis a zero, etc e coisa.
.
.
Já foi uma grande coisa, né? E dali foi.
.
.
O clube foi deslanchando.
.
.
Depois veio o Doutor Décio Pedroso, chamado presidente modelo.
E.
.
.
Só que.
.
.
Começou deslanchar.
Dinheiro emprestado daqui, dinheiro emprestado de lá.
.
.
Foi assim que o São Paulo começou a crescer.
.
.
"Ah! Precisamos fazer o estádio.
.
.
Como é que vamos fazer o estádio?"
P-2 - Todo mundo deu risada com o estádio?
R - Ahn?
P-2 - E as campanhas, os títulos, venda de.
.
.
de.
.
.
R - Ah, isso veio muito depois, né?
P-2 - Pra arrecadar dinheiro?
R - É.
P-2 - O senhor participou também disso?
R - Ahn?
P-2 - O senhor participou da, da venda também.
.
.
Da venda disso?
R - Foi.
P - Quê que o senhor fazia para a venda dos títulos?
R - Eu?
P - O senhor ajudava? O senhor ajudava a vender títulos?
R - Ajudava.
P - Quê que o senhor fazia?
R - Eu.
.
.
Eu trabalhava esse tempo na Casa Fucks, se não me engano.
.
.
É.
.
.
Eu fazia muita propaganda, etc e coisa, né? E.
.
.
Não são propagandista como você, mas.
.
.
E.
.
.
Dava minha opinião lá.
Depois teve.
.
.
Mais, mais, mais.
.
.
Mais pra dentro teve gente com.
.
.
Com um monte de dinheiro, inclusive mandaram um que deu uma bandeira, né? E daí foi.
.
.
Foi deslanchando, né? E deu o quê deu, aí.
P - E o senhor ficou na Casa Fucks quanto tempo mais ou menos? O senhor sabe?
R - Ah, fiquei.
.
.
Eu tinha dezessete.
.
.
Acho que oito anos.
P - E o senhor saiu por quê?
R - Saí porque a Casa Fucks fechou.
.
.
Não? Deu uma encrenca desgraçada lá, antigamente para, para.
.
.
Para liquidar uma firma era.
.
.
P - Uma guerra.
R – É.
Sem dúvida.
P-2 - O fato do senhor trabalhar assim numa loja de, de esportes, aproximou o senhor do futebol também ou não?
R - Aproximou.
P-2 - É?
R - Aproximou sim.
P-2 - Que time que comprava? O senhor se lembra do time que comprava mais camisas, mais.
.
.
Nessa época?
R - Comprava mais?
P-2 - É.
R - O.
.
.
O próprio São Paulo começou a comprar, né? O.
.
.
O Palmeiras era bom freguês, o.
.
.
Aquele clube lá de baixo.
.
.
P-2 - Aquele clube lá de baixo? (Risos)
P-2 - Por que o senhor não quer falar o nome daquele clube lá de baixo?
R - Não tenho.
.
.
Não tenho nada contra ele.
.
.
‘Cê sabe que eu sou sócio do Corinthians, né?
P-2 - Sério!?
P-2 - Por quê?
R - Porque é.
.
.
Não sei.
.
.
Me puseram lá, eu fui.
.
.
P-2 - Mosqueteiro, né?
R – Ahn?
P-2 - Mas eu acho que eu sei por que o senhor é sócio do Corinthians.
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.
Porque eles são preto e branco, mas tem um vermelhinho na.
.
.
Na âncora!
R - Também pode ser.
.
.
Que ajudou muito.
P-2 - (Risos) O senhor frequenta o clube do Corinthians? Frequentou?
R - Não.
P-2 - Não?
R - Não frequentei, não.
A minha, a minha mulher nadou no Corinthians.
.
.
Mas e.
.
.
Eu.
.
.
Sempre fui meio anti-corintiano, compreende?
P-2 - Falar em nadar, o senhor chegou a nadar no rio Tietê no Pinheiros? Nos grandes rios de São Paulo ou não?
R - Ahn?
P-2 - O senhor chegou nadar no rio Tietê, por exemplo?
R - Não.
Não nadei, não.
P-2 - Não.
.
.
Já era poluído nessa época?
R - Não, não era poluído, mas.
.
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O.
.
.
O.
.
.
Tietê tinha.
.
.
Tinha uma competição que chamava: "Travessia de São Paulo a Nado".
E.
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.
Eu me lembro bem das, das.
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.
Das meninas; Magali, que é a irmã dela, linda, que foi.
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Que tinha.
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.
Peito, né? Mas.
.
.
Eu.
.
.
Não.
.
.
Não fiz travessia, essas coisa, nada.
P-2 – Essa Magali foi Campeã olímpica, não foi? Ganhou medalha olímpica?
R - Não, não foi.
Ela não foi.
Não chegou a ser campeã olímpica, mas ela tirou, ela chegou aí, né? O primeiro campeão olímpico nosso foi um.
.
.
Foi um.
.
.
Um tenente do exército.
Sabia?
P-2 – Teve um outro são-paulino, foi campe.
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.
Vice-campeão olímpico.
O senhor lembra o nome dele?
R - Quem?
P-2 - O.
.
.
Um outro são-paulino foi campeão olímpico.
.
.
R - O.
.
.
O.
.
.
O Adhemar.
P-2 - O senhor se lembra dessa Olimpíada direitinho?
R – O São Paulo tem duas estrelas, tirar a bandeira que.
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que.
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Foi dois, dois, dois campeonato dele.
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Um foi, parece que em Helsínquia, na Finlândia e o outro, foi em Roma.
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De, de.
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Salto triplo, né?
P-2 - Que outros são-paulinos que o senhor conheceu, que foram destaque, que foram campeões, em outros esportes? O senhor conheceu algum outro?
R - (Pausa) Campeão olímpico?
P-2 - Sem ser campeão olímpico, que foi, foi destaque em outro esporte que o São Paulo chegou a se destacar assim.
.
.
O senhor se lembra de algum? Boxe, por exemplo, tênis.
.
.
R - Que mais coisa.
.
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Foi o.
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O Éder Jofre.
No tênis foi a Maria Esther.
Indiscutivelmente foi a Maria Esther, né? Hoje, se eu não me engano, ela mora, ela mora na.
.
.
Mora na.
.
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Em Londres.
Eu vi uma conversa, né? Depois, não tomei nota e.
.
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Ela dava aula.
Ela foi.
.
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Ela foi bicampeã, né?
P-2 – Em Wimbledon, né?
R - É.
P-2 - O.
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.
Parece que o São Paulo fez uma homenagem a ela, o senhor.
.
.
Eu vi uma foto aí, aquela foto do senhor com a Maria Esther aí?
R - É minha.
P-2 - Quando foi?
R - Isso foi quando a Maria Esther chegou a São Paulo.
Ela tinha sido campeã e coisa, e.
.
.
E ela foi assisti boxe, né? Tanto que eu tenho uma foto lá, que estou.
.
.
Que eu estou entregando para ela.
.
.
Da, da.
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Da Federação Paulista de Pugilismo, e ela subiu com a bolsinha dela assim.
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Subiu no ringue, né? Era muito simples, era muito simples.
Agora era um.
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.
Meio machona, né?
P - (Risos) E o senhor era.
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.
O senhor fazia parte da Federação Paulista de Pugilismo?
R - Fiz, cheguei a fazer.
P - Quê que o senhor fazia?
R - Eu era, eu era vice-presidente.
No tempo do Mário, não sei se você lembra.
P-2 - Só de nome não.
Não.
.
.
O senhor conheceu o Kid Jofre?
R - Muito.
P-2 - É? Como ele era? Era uma figura que era muito bonita.
R - Ahn?
P-2 - Kid Jofre, diz que não era uma figura humana que era muito bonita.
Como que era ele? Conta um pouco prá.
.
.
R - Ele era um.
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.
R - O Kid Jofre era argentino, se ‘cê sabe? E.
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.
E eles vieram prá São Paulo, e ele casou com uma Zumbano.
.
.
E ele se casou com uma Zumbano, né?
P-2 - Que era família de boxeadores também, né?
R - É, pois.
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.
O Waldemar, por exemplo, foi um baluarte do boxe do São Paulo, não? O.
.
.
Depois apareceu o Éder Jofre a.
.
.
Apareceu o Éder Jofre, depois, né?
P-2 - O São Paulo, sempre teve uma tradição de boxe, né?
R - É, foi.
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.
Foi campeão amador, meu.
.
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E esse.
P-2 - Continua com um boxe forte hoje também?
R - Porque o São Paulo tinha fechada a.
.
.
A.
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.
A academia.
A morte do, do.
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.
Do Kid Jofre, fecharam a academia, né? Não sei que encrenca que deu, não.
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.
E depois, agora que fizeram aqui embaixo, não?
P-2 - Voltando um pouquinho mais atrás, seu Saint-Clair.
O senhor se lembra, do dia que o Leônidas chegou ao São Paulo? Que ele foi contratado, ou não?
R - Me lembro.
P-2 - Conta prá nós como que foi essa época.
R - Ah, ele foi.
.
.
Ele, ele, ele tava no Flamengo meio.
.
.
Meio brigado, né? E.
.
.
Eu não me lembro bem quanto o Flamengo pediu pro passe dele.
E.
.
.
E ele também não tava jogando.
Quando ele veio pro São Paulo, foi que ele.
.
.
Que ele entrou em forma, né? Ai foi lá, foi no tempo do Doutor Décio Pedroso.
Houve aquela manifestação na Estação do Norte, lá, não sei se ‘cê lembra.
P-2 - Conta pra nós, já me contaram.
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.
R - O Porfírio o carregou nas costas, né?
P-2 - Tinha muita gente na estação?
R - Puxa vida! Encheu de gente no cabo da Concórdia.
Para.
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.
Prá espera o Diamante Negro.
P-2 - O senhor lembra porque ele foi chamado de Diamante Negro?
R - Porque ele era preto e.
.
.
E esse apelido foi, foi, foi, foi.
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.
Foi dado parece que na Argentina, não? E era preto, era o diamante negro.
P-2 - E como jogador, como que era?
R - Ah, foi um grande jogador!
P-2 - O senhor viu ele dar alguma bicicleta ou não?
R - Eu vi.
Vi essa que mostrei fotografia pra você.
P-2 - Esse jogo foi no.
.
.
No Pacaembu contra o Juventus?
R – É.
P-2 - Conta um pouquinho desse jogo.
R - Ahn?
P-2 - Conta um pouquinho.
Quanto que foi o resultado desse jogo?
R - Foi oi.
.
.
Oito.
.
.
Oito a zero, né?
P-2 - Ele deu a bicicleta, machucou o goleiro.
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.
Conta essa história prá gente.
R - Esse negócio do goleiro que.
.
.
Foi o.
.
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O Muniz, que jogou no gol; um argentino.
E ele levantou, quando, parece que raspou no goleiro, né? E o goleiro precisou sair até.
P-2 - E naquela época não podia trocar, né?
R - Não podia.
E.
.
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E entrou.
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.
O ponta-direita parece.
.
.
Não?
P-2 - O ponta-direita.
R - E tomou só dois gols, né?
P-2 - E o goleiro deles tomou seis.
R - É.
P-2 - E além do Leônidas, o senhor lembra de alguns grandes jogadores do time, dessa época aí?
R - Do São Paulo?
P-2 - É, além do Leônidas.
R - Lembro do Leônidas.
Olha, o Luizinho, que depois veio, né? O Sastre, que eu lembro, "el maestro", não? O.
.
.
o.
.
.
Sabe.
.
.
Trocando um por outro, em vez de.
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.
O São Paulo teve outros jogadores do estrangeiro, né? Que eram bons também, mas não, não eram como esses.
.
.
Como esses aí, né?
P-2 - O outro era o Sastre, né?
R - Sastre era.
.
.
"El maestro".
O chamavam de "el maestro".
P-2 - Lembra daquela história que contou uma vez.
.
.
Do lagarto?
R - Ah, na fazenda?
P-2 - Isso!
R - Que meu pai atirava muito bem, compreende? E o lagarto.
.
.
Descia.
.
.
Descia na fazenda, descia.
.
.
E.
.
.
E.
.
.
E embaixo do paiol de milho, tinha uns ninhos de galinha; ele vinha papa os.
.
.
Os ovos.
E eu.
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.
Eu tava na porta e disse pro meu pai: "Olha o lagarto descendo".
Quando o lagarto fez assim, ele tirou o revólver: “Pam!” Matou o lagarto de uma, de uma vez.
Ele plantou o pé-de-bananeira no chão e.
.
.
E balançou o rabo assim.
Que ele ia se defender, né? Tava ferido.
E.
.
.
E ele, quando.
.
.
Para ele, ele.
.
.
P-2 - Teve uma outra também, que você contou.
.
.
Que você fugiu de um pessoal da cidade com contato com leproso.
R - Ah, isso também e.
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.
P - Quê que foi isso?
R - Isso eu era.
.
.
Eu era garotão.
E.
.
.
E eu morava na fazenda e.
.
.
E.
.
.
E fazia o primário em Pinhal.
Então, eu.
.
.
Eu montava a cavalo e.
.
.
E deixava o cavalo na, na.
.
.
No postinho da estação.
Chegava em Pinhal, assistia a aula e voltava no, no trem.
O governo dava passe de graça prá nós naquele tempo no trem.
E.
.
.
Ouve um negócio aí.
.
.
Uma lenda lá que.
.
.
O morfético que mor, que mordesse seis pessoas.
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.
Ele sarava, compreende? E.
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.
E eu então entrei pelo cafezal, eu tava fora, vinha vindo um.
.
.
Um.
.
.
Do.
.
.
Cinco ou seis morféticos pela, pela estrada de rodagem.
Eu entrei com o cavalo po.
.
.
Pelo meio do cafezal, né? O galhinho de café me passava por aqui, coisa e eu.
.
.
Só que eu ouvi falar, eu, eu, eu.
.
.
Eu não tinha certeza se.
.
.
Mas se falaram, né?
P - O senhor foi embora?
R - Ah, fui embora.
P - E deixa-me perguntar.
Como que era a.
.
.
A escola lá, e.
.
.
Em Pinhal?
R - Bom, tinha o grupo escolar.
.
.
E tinha o ginásio Pinhalense, que tem, que tem até hoje, não? E.
.
.
Escola boa, indiscutivelmente.
.
.
Desde, desde o primário, era um negócio de disciplina rígida.
.
.
Foi, foi passando meio arranhando, mas passava, né?
P - Por que o senhor passava arranhando?
R - Ah, porque o negócio era meio apertado.
P - Apertado?
R - É.
(Pausa) Tinha um.
.
.
Uns certos protegidos que, né? Que se a gente não, não arranjasse uma proteçãozinha.
.
.
Era difícil.
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.
P - Quem que arranjava proteção?
R - Ahn?
P - Quem que arranjava essa proteção?
R - Tinha um professor lá, o professor Zé Floriano, que ele.
.
.
Depois de certo tempo ele endireitou o negócio, não? Então não tinha.
.
.
Todo mundo era igual.
.
.
E.
.
.
Foi onde a gente conseguiu mais, mais.
.
.
Ser mais, se mais bem tratado, não?
P - Quê que melhorou?
R - Ah, melhor o estudo.
Melhorou tudo.
P - E o senhor lembra de outras histórias assim engraçadas, que nem essa que o senhor contou agora do.
.
.
R - Do lagarto?
P - Do lagarto?
R - Ahn.
.
.
E tem.
.
.
Tem uma história também, viu? Da jabuticabeira.
Tinha uma jabuticabeira que.
.
.
Tem uma jabuticabeira que.
.
.
Como que chama aquela jabuticaba? Ah.
.
.
Até maior que essa aí, e.
.
.
E ela era, era, era.
.
.
No meio do cafezal.
E as.
.
.
As outras fazendas do vizinho vinham roubava jabuticaba; roubava, não! Estragava jabuticaba.
Então, nós tínhamos um cachorro grande, chamava Amigo, até.
E ele.
.
.
Foi amarrado numa corrente que dava espaço prá ele.
.
.
Segura, né? E.
.
.
E aquele “barulhão” do cachorro, coisa.
O meu irmão, que era mais velho do que eu, e.
.
.
"Vamo, vamo lá ver o que é.
.
.
", chamou outro companheiro de, dele lá, que vigiava a jabuticabeira.
.
.
Era o Amigo que tava lá, né? O outro subiu na jabuticabeira e não podia descer, que o Amigo tava lá, né? E o Amigo "Rou, rou.
.
.
", aquele.
.
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Latindo forte, o.
.
.
o.
.
.
Então, o.
.
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O outro saiu, correndo.
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.
P - Foi embora!
R - E.
.
.
E o outro prá descer, precisou segura o Amigo prá ele, prá ele descer.
.
.
né?
P - Deixa eu perguntar uma coisa pro senhor: depois que o senhor saiu da Casa Fucks que, que o senhor foi fazer?
R - Ah, eu fui pro Esporte Nacional, né?
P - Ahnn.
.
.
Que que o senhor fazia no Esporte Nacional?
R - Eu era.
.
.
Era.
.
.
O “gerentinho”.
P - O gerentinho? (Risos)
R - E, gerente, né.
.
.
Depois do Esporte Nacional.
.
.
Foi vendido.
.
.
E.
.
.
E eu.
.
.
P-2 - Casa Esportista.
Abriu a Casa Esportista.
R - Casa Esportista, né?
P - Era do senhor?
R - Não, eu.
.
.
Eu era sócio.
.
.
Depois.
.
.
Eu fundei uma, uma, uma.
.
.
Uma casa.
.
.
Esporte Moura.
P - Onde ficava essa loja?
R - Na Rua Líbero Badaró.
R- Fica até hoje lá.
P - E.
.
.
Como que era a Rua Líbero Badaró daquela época?
R - Era mais.
.
.
Mais calma do que hoje, né? Mas.
.
.
Era um ponto bom.
P - E como que surgiu a idéia do senhor montar essa loja?
R - Uhm?
P - Como que surgiu a ideia do senhor ter sua loja?
R - Sur.
.
.
Surgiu que.
.
.
A loja era uma Casa de Calçado, e o.
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.
O sujeito passava o ponto com um preço acessível, né? Nesse tempo que nós fizemos a Casa do Esportista.
P - Era do senhor só?
R – É.
.
.
Eu.
.
.
Meu, meu, e da, da.
.
.
Da Esmeralda.
Nós éramos sócios.
P - E.
.
.
E conta essa história da camisa do São Paulo.
R - Qual delas?
P - Diz que o senhor que desenhou a camisa do São Paulo.
.
.
P-2 - Não tinha.
.
.
Você lembra que numa época, cê comentou que.
.
.
Que você ajudava o fornecimento da camisa do São Paulo, que o São Paulo comprava camisa a mais nas lojas, não era no Esporte Moura?
R - É.
P - Quem que ia comprar essas camisas?
P-2 - Na verdade, era numa época que o São Paulo não tinha dinheiro, né?
R - Uhm?
P-2 - O Serroni.
.
.
Jogavam uma partida.
.
.
O São Paulo jogava pegava a camisa e lavava para o próximo jogo ficar pronto.
R - Quem lavava era o.
.
.
Era, era, era, era o.
.
.
O zelador, né? O Serroni.
P - O Serroni que lavava as camisas?
R - A mulher dele, né?
P - O São Paulo não tinha dinheiro nessa época?
R - Não.
.
.
Estava começando a se organizar, etc e coisa.
P - Ahn.
.
.
E o senhor conheceu o Serroni?
R - Conheci.
P - O quê o senhor pode contar dele para a gente?
R - Ah, o Serroni era um, como se diz? Um camarada espirituoso, você compreende? Tanto que numa ocasião, nós, nós entramos no, já no Morumbi, pelo portão traseiro.
Eu e.
.
.
E um outro, um outro rapaz.
.
.
E ele.
.
.
E ele estava lá em cima, e disse pra mim: "Vocês entram lá fácil, por que entra na faixa no estádio?"
P - (Risos) Era dia de jogo?
R - Era dia jogo, mas eu tinha cadeira cativa.
P - Que mais que o Serroni fazia? A Catarina fazia lá no Morumbi?
R - A Catarina era.
.
.
Era.
.
.
Era.
.
.
Era a cozinheira, né? O Serroni era "bom vivant".
P - Um "bom vivant"?
R - É.
.
.
Ele fazia aquele negócio dele de arrumar roupa e.
.
.
Essas coisas assim.
Era muito querido, o filho da mãe era simpático e coisa.
Ele mordia uns e outros lá.
Sabe como é, né? O Serroni.
P - O São Paulo não tinha muito dinheiro para comprar camisa, mas quando comprava era do senhor?
R - Era.
Era.
.
.
P-2 - Lembra uma história, que você foi com a delegação para Goiás, do Getúlio, lateral-direito te deu uma camisa, lembra? Suada.
R - Getúlio? Qual era o Getúlio?
P-2 - Getúlio, aquele Getúlio camisa dois.
.
.
Lateral-direito.
.
.
Que tinha um chutão forte.
.
.
Aquela história, que cê falou pra mim.
O senhor lembra?
R - Foi, foi.
.
.
Foi.
.
.
Nós ganhamos até esse jogo.
.
.
P-2 - Contra o Goiás, né?
R - É.
.
.
Molhou a camisa do Getúlio.
.
.
No corpo.
E.
.
.
Então ele veio oferece a camisa prá mim, né? "Eu faço questão, leva aí meu suor.
.
.
"
P - O senhor tem essa camisa?
R - Não tenho mais essa aí.
D – Tem!
R - Ahn?
D - Tá guardada.
.
.
R - Tá?
D - Tá lá em casa.
R - Ahm?
P-2 - Que mais que o senhor lembra desse jogo? Lá em Goiás?
R - Foi.
.
.
Foi.
.
.
Foi um jogo equilibrado.
Mas.
.
.
O São Paulo tinha melhor time, sem dúvida nenhuma.
Agora não sei se o Poy jogava no gol, não lembro.
.
.
P-2 - Era Waldir Peres, o Getúlio.
.
.
R - Getúlio.
P-2 - Oscar.
.
.
R - Uhm?
P-2 - Dario Pereyra.
.
.
R - Darío Pereyra.
.
.
P-2 - Almir, lembra do Almir?
R - Lembro.
P-2 - Já era Nelsinho, o camisa seis, já era o Nelsinho.
Essa foi uma outra delegação, que o Ricardo Rocha não jogava, lembra? Não faz muito tempo, lembra?
P - Ahn.
.
.
Deixa eu perguntar uma coisa pro senhor, seguindo mais para.
.
.
Para hoje, assim.
.
.
O senhor acompanha jogo do São Paulo? O que que o senhor acha desse time?
R - O time.
.
.
Eu não sei.
O time caiu um pouco, né? Nós últimos anos.
É verdade que.
.
.
Que o Raí saiu, saiu o Pintado, né? Houve modificação, mas.
.
.
O Telê ta lutando, né? O Raí foi pra França e o.
.
.
O Pintado foi não sei pra onde.
P-2 - México.
R - México, né? Sofreu um.
.
.
Estrago.
.
.
A turma diz que não, mas.
.
.
Raí, Raí, né?
P - Aham.
.
.
E.
.
Deixe-me perguntar uma coisa.
.
.
Terminando a entrevista que já.
.
.
Já tá, já tá fazendo uma hora quase.
O que mais marcou na vida do senhor? Qual a lembrança mais marcante que o senhor tem? A emoção mais forte.
.
.
R - Do São Paulo?
P - Do São Paulo.
.
.
Ou na vida do senhor.
.
.
Da vida pessoal.
.
.
R - O que eu tive?
P-2 – Uou, tanta coisa.
.
.
R - Tanta coisa.
.
.
P-2 - O que mais marcou?
P-2 - Tantas alegrias assim.
.
.
R - Ahn?
P-2 – Foram tantas alegrias, né? A que mais marcou.
.
.
R - A que mais marcou.
.
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Fute.
.
.
Futebolisticamente falando, foi o.
.
.
O Campeonato de.
.
.
De setenta! De, de.
.
.
De.
.
.
Oitenta, de.
.
.
Foi falado agora de.
.
.
Da moeda que.
.
.
P - De 43?
R - É.
P - Por quê?
R - Porque era.
.
.
Foi duro para gente tirar aquele Campeonato, né? E.
.
.
Veio assim e.
.
.
Na hora que a gente.
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Ainda nem esperava, né? Foi.
.
.
Uma partida difícil, equilibrada.
.
.
P - Certo.
Deixe-me perguntar uma coisa pro.
.
.
Mais pessoal agora.
O senhor tem algum sonho? O quê o senhor gostaria de realizar ainda?
R - E agora?
P - (Risos)
P - (Risos) Agora é o senhor!
P - O São Paulo bicampeão do mundo?
R - Ah, esse gostaria!
P-2 – Hoje já, né? Vai ser hoje!
P - O senhor gostaria?
R - Gostaria.
P - Por quê?
R - Porque eu.
.
.
Eu.
.
.
Eu.
.
.
Acho que, é o mais querido, sabe como é? Eu só torço pro São Paulo.
.
.
Não?
P - Teria mais alguma coisa que o senhor gostaria de falar pra gente ou.
.
.
Deixar registrado?
R - Que eu.
.
.
O.
.
.
O São Paulo.
.
.
Um clube que.
.
.
Que deu grande satisfação pra gente, já.
E.
.
.
Eu tenho.
.
.
No Morumbi que não me deixa mentir, não? E etc e coisa.
Uma história de luta.
P - É isso?
R - Isso.
P - Ok! Eu agradeço a colaboração do senhor.
.
.
R - Obrigado.
P - Foi muito importante o depoimento.
.
.
R – Tá! Obrigado.
P - Certo.
.
.
Recolher