Minha casa, minha cara, minha vida – Cabine São Bernardo do Campo
Depoimento de Nivaldo dos Santos Rodrigues
Entrevistado por Márcia Trezza e Gisele Rocha
São Bernardo do Campo 09/03/2014
Realização Museu da Pessoa
ASP_CB16_Nivaldo dos Santos Rodrigues
Transcrito por Liliane Custódio
MW Transcrições
P/1 – Primeiro, muito obrigado, Nivaldo, por ter se disposto a vir contar a sua história.
R – Eu que agradeço o convite.
P/1 – E pra começar, a gente gostaria que você falasse o seu nome completo.
R – Meu nome é Nivaldo dos Santos Rodrigues.
P/1 – E data do seu nascimento?
R – Oito do dois de 1981.
P/1 – E cidade e local, estado que nasceu?
R – São Bernardo do Campo, São Paulo.
P/1 – Então pra começar, Nivaldo, a gente vai começar lá do início da sua vida, da sua infância.
R – Tá ok.
P/1 – Então você nasceu aqui em São Bernardo. Conta um pouquinho do bairro, onde era, como era a sua casa.
R – Tá ok. Bom, nasci em São Bernardo, meus pais eram imigrantes nacionais mesmo. Ficaram um tempo em Minas, iam e voltavam, iam e voltavam. Chegou um determinado momento que nós precisávamos estudar, na cidadezinha onde nós morávamos, em Minas Gerais, não tinha mais a série que equiparava o grau de estudos dos meus irmãos. Aí com isso, ele resolveu vir pra São Bernardo, já conhecia a cidade. Quando veio, nós moramos de aluguel um determinado tempo, aí com isso ele conheceu o bairro, hoje Jardim Silvina, comprou um barraquinho na época, e foi ali que nós fomos morar, em sete pessoas.
P/1 – Então você, seu pai...
R – Eu, meu pai, a minha mãe e mais cinco irmãos.
P/1 – Você é o caçula, do meio?
R – Eu sou o caçula. Sou o caçula. Sou o caçula dos irmãos.
P/1 – E quantas meninas e quantos meninos?
R – São cinco homens. Não tenho nenhuma irmã.
P/1 – E você falou de Minas, que cidade seus pais...
R – Jaguaritira.
P/1 – E seu pai e sua mãe faziam o quê? Qual a profissão deles?
R – Meu pai é comerciante, sempre mexeu com comércio. Minha família toda sempre mexeu com comércio.
P/1 – E sua mãe?
R – Minha mãe é mais do lar. Minha mãe era do lar.
P/1 – E nessa época você foi estudar então numa escola aqui da região?
R – Sim. Sim. Sim. Estudei na Vila São José, no Colégio Estadual Brazilia Tondi de Lima.
P/1 – Você lembra um pouquinho como era a escola, a professora?
R – Sim. Sim. Lembro-me da professora Odanir, né, professora da primeira série, até hoje eu a tenho ela marcada na minha mente, ainda encontro com ela às vezes na rua. Ela é minha segunda mãe, foi a pessoa que me ensinou a ler, a escrever direitamente. Minha mãe, quando eu chegava da escola, ela sempre perguntava como é que foi. E sempre nas reuniões de pais e mestres, a minha mãe falava pra professora se eu tivesse fazendo alguma arte, ela podia puxar a minha orelha e até colocar de castigo. O único problema que a professora identificava na época era: eu conversava bastante, não gostava muito de ficar na minha cadeira, mas nunca atrapalhando a aula e sempre, assim, respeitando a professora.
P/1 – E nessa escola você ficou até que série?
R – Eu completei o ensino médio. Completei o ensino médio.
P/1 – E você, apesar de conversador, era estudioso?
R – Era estudioso. Minhas notas eram sempre boas.
P/1 – E enquanto... Como era a sua rotina? Além da escola, você acordava, como era nessa época de estudante?
R – Eu acordava, ficava em casa, meu pai tinha, como eu disse no começo da entrevista, meu pai mexia com comércio e tinha um pequeno barzinho e eu tinha que ficar tomando conta antes de ir pra escola. E quando dava o horário da escola, eu ia pra escola. Ficava em casa assistindo televisão também quando dava tempo, mas a gente sempre teve uma vida, desde pequeno, já envolvida ao trabalho, na área de comércio.
P/1 – Seus irmãos também ajudavam?
R – Sim. Sim. Meus irmãos também ajudavam. Todos trabalhavam. Os que não trabalhavam, também ficavam no barzinho também.
P/1 – E era do lado do...
R – Do lado de casa, do lado de casa.
P/1 – E num barracão também?
R – Isso. Era num barraco também. Era num barraco também.
P/1 – O barraco que vocês moravam, descreve ele pra gente: quantos cômodos, o que tinha lá dentro.
R – Bom, uma parte era de alvenaria e a outra parte era de madeira, que era a parte da cozinha. Eram três quartos, sala, cozinha e banheiro. E tinha um forno à lenha do lado do fundo da casa, minha mãe assava pão, vendia pão caseiro também.
P/1 – Vendia lá no bar ou para os vizinhos?
R – Vendia no bar e vendia também para os vizinhos. Vendia no bar.
P/1 – Era uma favela, era a Naval ou era... A gente ouviu várias histórias.
R – Não, era o Oleoduto mesmo.
P/1 – Era o Oleoduto?
R – Era o Oleoduto.
P/1 – Você tem alguma história dessa época que você lembra? A gente ouviu muitas enchentes, ou algum incêndio, ou alguma história engraçada, triste.
R – Tem várias histórias, mas, assim, a que eu mais me lembrava, que eu lembro assim, que ficou bem marcada, foi a época das chuvas, que morreram muitas pessoas. Muitas pessoas morreram. E também a dificuldade que nós encontrávamos pra nos locomover quando chovia. Que agora nós já temos... A rua não tá praticamente toda asfaltada ainda, só a parte de baixo, mas antigamente nós tínhamos que colocar duas ou três sacolas no pé pra poder ir pra escola. Chegava ao meio do caminho... Ou tinha que levar outro sapato ou outra roupa pra acabar fazendo a troca antes de chegar à escola, porque estávamos todos enlameados.
P/1 – E quando a chuva vinha, chegava a inundar a sua casa?
R – Não, não. A minha casa, onde nós morávamos, era uma parte um pouco mais alta já e não chegava. Chegava mais na parte de baixo. E o perigo quando era o barranco em si, que tinha um barranco.
P/2 – Vocês moravam no barranco?
R – Não. Não. Nós morávamos na área mais plana.
P/1 – Foram os seus pais que construíram o barraco, ou ele comprou?
R – Foi. Meu pai, ele comprou, aí a outra parte, que eram só dois cômodos quando ele comprou, a outra parte foi ele que construiu.
P/1 – A gente vai tentando fazê-lo lembrar de todas...
R – Tá ok.
P/1 – Se a Márcia também quiser... Então você foi estudando, completou o ensino médio, ainda morava...
R – Isso. Morava no barraco ainda. Morava no barraco.
P/1 – Aí você nessa época acabou a escola. O que você decidiu fazer? Como foi sua vida pós-escola?
R – Depois que terminou o Ensino Médio, eu demorei certo tempo pra me nortear, não tinha tanto um foco de chegar a algum lugar. Demorei mais nove anos pra encontrar o caminho, que foi a faculdade. Depois de nove anos que eu terminei o ensino que eu voltei a estudar novamente.
P/1 – Nesses nove anos, você ficou...
R – Eu só trabalhei. Só trabalhei.
P/1 – Conta pra gente o que você fez durante esses nove anos.
R – Bom, antes dos nove anos, eu já trabalhei como chapeiro, depois eu trabalhei como auxiliar de manutenção, depois eu trabalhei como ajudante de cozinha e depois eu trabalhei... Não, aí eu tou na empresa atualmente onde eu tou agora.
P/1 – E como você aprendia essas funções diferentes?
R – Ah, era um pouco mais a vontade de aprender algo novo. E, assim, a necessidade de se trabalhar e de ter a minha própria renda, não ficar dependendo tanto dos meus pais, ter a minha própria condição financeira. Sempre, desde jovem, desde pequeno eu já trabalhava no bairro, entregava balas com um japonês que passava vendendo balas toda sexta-feira. Ele me pagava oito reais por dia, e com esse dinheiro, eu ia conseguindo juntar pra comprar minhas próprias coisas. Ficava dois, três meses, pra poder juntar determinado valor pra comprar ou material escolar no começo do ano, ou uma roupa, ou um tênis que eu queria.
P/1 – Teve alguma coisa que você comprou que precisou juntar um dinheiro mais tempo e foi uma grande conquista?
R – Olha, uma coisa assim, eu não tenho muita... Eu sempre consegui conquistar, mas uma coisa que me marcou muito foi uma época que nós vivíamos uma situação meio difícil, foi um presente que meu pai me deu no final do ano, que eu o tenho comigo até hoje. Já tem 20 anos que eu tenho esse presente que meu pai me deu, que foi um carrinho de controle remoto.
P/1 – (risos).
R – Na época, era o auge todo mundo ter um carrinho de controle remoto, e eu não tinha. E eu ia brincar na casa dos meus amigos que “tinha”. Eu lembro o dia que meu pai me deu, foi no final do ano, presente de Natal, depois de ter passado na escola, e ele chegou com aquele carrinho de controle remoto e me deu nas mãos, eu pude pegar e com aquilo eu comecei a tremer e a me emocionar. Foi algo que marcou a minha infância, foi esse carrinho de controle remoto.
P/1 – Durante esses nove anos, antes da faculdade, você continuou morando com os seus pais?
R – Sim, sim, sim. Continuei morando. Fiquei um tempo fora, eu fui casado determinado tempo, não deu certo, e depois eu acabei voltando pra casa dos meus pais.
P/1 – Quando você casou, você foi morar onde? Como foi chegar a sua casa?
R – Foi no bairro mesmo. Foi no bairro mesmo. Eu conheci a pessoa no bairro mesmo, nós acabamos ficando juntos durante cinco anos, depois não deu mais certo e cada um tomou o seu destino.
P/1 – Vocês alugaram um...
R – Não, não. Era casa própria mesmo. Na época, eu tinha um cadastro em cima e ela tinha um cadastro embaixo. Eu fui morar na casa dela.
P/2 – Esse cadastro, vocês moravam... Por que o cadastro?
R – O cadastro foi que a prefeitura, ela começou com uma... Como é que eu posso dizer? Uma melhoria, um projeto de habitação na área de risco, e acabou essa área de risco atingindo a minha casa. Porque quando a prefeitura ia trabalhar, ia fazer essa obra, as máquinas iam danificar a estrutura da minha residência. Com isso, passou o cadastro, aí a prefeitura cadastrou; saiu um cadastro no meu nome, um cadastro no nome do meu pai, aí nós tiramos, ficamos um tempo no alojamento, no aluguel. Primeiro, quem não achava o aluguel, ia para o alojamento, e depois, se achasse uma casa, poderia sair do alojamento pra ir para o aluguel.
P/1 – E o aluguel ia ser bancado...
R – Pela prefeitura, pela prefeitura. Uma renda auxílio no valor de 315 reais.
P/2 – E você continuou no alojamento ou foi pra casa de aluguel?
R – Na época, nós fomos pra casa. Nós ficamos determinado tempo no alojamento, depois nós fomos pro aluguel.
P/1 – Como era o alojamento?
R – Ah, o alojamento era mais ou menos umas 600 famílias reunidas, um banheiro não privativo, não tinha uma individualidade. E com isso, nós achamos a importância de ter pelo menos um momento individual na hora do banho, e procuramos uma residência pra morarmos.
P/1 – Nivaldo, você contou que um dia você decidiu cursar, entrar na faculdade.
R – Isso, isso.
P/1 – Como foi esse momento?
R – Bom, eu passei por algumas... Uns momentos difíceis na minha vida, e vários amigos me ajudaram a conseguir esse objetivo, várias pessoas. Comecei a frequentar a igreja onde eu frequento hoje, que é a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, que me deu um subsídio de poder estudar, me abriu essa porta. E eu comecei a identificar o que eu queria da minha vida, foi quando eu comecei a ir para a igreja e senti que eu poderia ser melhor do que eu já era. Que eu poderia transformar a pessoa que eu sou e as pessoas que estão a minha volta.
P/1 – Isso foi ouvindo as pessoas da igreja, foi lendo, como aconteceu?
R – Sim, sim. Foi vendo os testemunhos das pessoas, as pessoas falando de Cristo e falando de como elas mudaram as suas vidas através do estudo melhor, de uma profissão melhor, de ter uma renda melhor, de conhecer outros lugares. E aquilo foi me fomentando por dentro, foi me dando uma autoestima muito grande. Foi nisso quando eu resolvi cursar faculdade de Administração de Empresas.
P/1 – E como foi pra escolher o curso, a faculdade, fazer a inscrição, a prova? Conta um pouquinho.
R – Bom, o curso foi interessante, porque como nós sempre gostamos da área de comércio, e a área de administração é uma área bem abrangente. E como eu tenho muita vontade de ter a minha própria empresa, eu resolvi fazer Administração de Empresas pra poder saber o que eu tenho que melhorar no meu negócio para que as pessoas possam comprar e atender as necessidades e desejos das pessoas.
P/1 – E como foi pra chegar à universidade? É a mais perto da casa? Como você fez pra escolher?
R – Sim. Eu escolhi pela localidade mais próxima e também pelo nome da faculdade também.
P/1 – Qual você estudou?
R – Eu estudei na Faculdade Anchieta, que hoje, atualmente, o Grupo Anhanguera comprou.
P/1 – E a mensalidade era cara? Você conseguia pagar com seu trabalho? Como foi?
R – Como eu disse, a igreja me subsidiava. De três em três meses, a igreja pagava a faculdade, a mensalidade; e de três em três meses, eu pagava. E quando eu terminei a faculdade, eu tenho que devolver o dinheiro que ela pagou pra mim dos valores das parcelas, mas isso em parcelas divididas, algo que cabe na minha renda atual hoje.
P/1 – E o que você mais se surpreendeu quando começou a fazer as aulas?
R – Bom, o que eu mais me surpreendi é saber que tem um mundo de possibilidades lá fora. Que muitas vezes nós ficamos acomodados nos nossos sofás e deixamos de conhecer e de transformar a vida das pessoas.
P/1 – Nessa época você estudava e trabalhava?
R – Estudava e trabalhava. Estudava e trabalhava.
P/1 – Era qual o trabalho nessa época?
R – Na época, eu trabalhava como marceneiro mesmo, onde eu trabalho atualmente, hoje, também.
P/1 – Trabalhava o dia todo e estudava à noite?
R – Sim. Sim. Eu entrava as sete, saía as quatro e 48; entrava as 19, e saía as 22 e 50.
P/1 – E nos fins de semana?
R – Final de semana, eu ia para o curso, fazia curso de inglês, fiz um ano e meio de inglês. Depois, à tarde tinha algumas outras atividades, fazia Teologia. E saía com os amigos à noite, né?
P/2 – Como você virou marceneiro?
R – Bom, marceneiro foi algo meio que inusitado, porque eu tinha acabado de sair da empresa onde eu trabalho e acabei arrumando outra vaga de trabalho através de outra pessoa, que me indicou nessa empresa onde eu to hoje, que é minha cunhada. Chegando lá, o pessoal viu meu currículo, gostou, e o dono da empresa onde eu trabalho conhecia o dono da empresa anterior. Aí ele foi e ligou na empresa onde eu trabalhava e perguntou sobre mim. Aí deram boas indicações e ele acabou me contratando. E era pra uma vaga de ajudante de caminhão, só que aí tinha um rapaz que tava no caminhão que queria sair de dentro da empresa. E com isso, ele me perguntou: “Olha, aquele rapaz tá querendo sair, você não quer ficar no lugar dele?”. Eu falei: “Nunca trabalhei com isso, mas se você me der uma oportunidade, eu vou fazer da melhor forma possível”. E já estou há seis anos e dois meses na empresa.
P/2 – Trabalhando com caminhão?
R – Não, não. Trabalhando como marcenaria mesmo.
P/2 – Marcenaria?
R – Marcenaria de estofados.
P/2 – Ah, de estofados.
P/1 – Nivaldo, quando você se formou, foi quando?
R – Eu me formei em dezembro de 2012.
P/1 – Tem um ano e meio, né?
R – Um ano e meio.
P/1 – E você atualmente mora...
R – Eu moro nos apartamentos dos conjuntos habitacionais da prefeitura.
P/1 – Com a sua família ou sozinho?
R – Eu moro com a minha esposa e com meu filho.
P/1 – Ah, então conta essa parte pra gente aqui.
R – Então tá. Voltando ao curso de Teologia, em uma aula eu conheci a minha esposa e no final da aula eu saí atrás dela, fui tentar conversar com ela, ela não deu muita bola. Aí tudo bem. Chamei-a pra tomar um sorvete, ela não quis, ela tinha um curso no dia. Eu acabei deixando-a ir, fui almoçar com os amigos no sábado. Depois de um tempo, nós ficamos em um retiro no Carnaval, de quatro dias. Aí no primeiro ano também ela não quis me dar muita atenção, me deu um fora novamente, aí no segundo ano, ela já me deu mais um pouco de atenção, aí foi quando aconteceu. E amanhã, no dia dez de março de 2014, vou fazer três anos de casado com a minha esposa.
P/1 – Então vocês se casaram, teve uma cerimônia? Como foi?
R – Só no civil. Porque as condições financeiras na época não estavam muito boas, aí nós não resolvemos casar, porque não daria pra convidar todas as pessoas que nós queríamos. Então pra não se convidar todo mundo, nós acabamos fazendo só a cerimônia no civil mesmo.
P/1 – E ela morava perto de você?
R – Não, não. Ela morava no Parque Imigrantes, em São Bernardo do Campo.
P/1 – E como foi a partir do casamento, pra casa nova?
R – Bom, pra casa nova, na época, nós não tínhamos tanto dinheiro pra reforma do apartamento. Eu acabei fazendo um empréstimo da Construcard na Caixa Econômica, peguei um dinheiro emprestado, depois que saiu o apartamento, eu comecei a reforma do apartamento. Por isso que demorou três meses. Depois de três meses da reforma, nós marcamos a data do casamento e entramos pra dentro.
P/1 – O que você reformou?
R – Nós fizemos toda a parte de alvenaria por dentro. Colocamos piso, rebocamos, pintamos, colocamos todos os móveis que nós queríamos e os presentes dos amigos também, que ajudaram bastante também.
P/1 – E você teve um filho?
R – Um filho, um filho. Tenho um filho de um ano e sete meses. Um ano e sete meses.
P/1 – E como ele chama?
R – Thomas.
P/1 – Thomas.
R – Thomas.
P/1 – E ele tem o quarto dele?
R – Ele tem o quarto dele, ele tem o quarto dele. O apartamento, ele é composto por dois cômodos, sala, cozinha, banheiro e lavanderia. Quarenta e oito metros de áreas comuns, que dá pra gente usar. Utilizando bem o espaço, dá pra se fazer algo bem aconchegante.
P/1 – E como foi o primeiro dia da mudança? O que você sentiu?
R – Foi muito bom. Quando eu pude terminar a reforma e saber que nós colocamos ali do jeito que nós queríamos, colocamos os móveis do jeito que nós queríamos, a pintura na cor que nós queríamos, foi muito gratificante poder entrar e sentir aquele cheirinho de novo e saber que ali é nosso. Ali é nosso!
P/2 – Você falou que é de vocês o... Tem alguma parcela que vocês pagam? Como é?
R – Bom, ainda não saiu o carnê para o pagamento. Nós estamos num processo de... Deixe-me ver se eu lembro. Nossa, agora fugiu.
P/2 – Mas vai ter um parcelamento?
R – Sim, sim. Agora nós estamos na última etapa, que a próxima etapa vai ser a compra e venda do apartamento. Nós vamos sair do regime de concessão da prefeitura pra adquirirmos a certidão de compra e venda, que isso vai ser sobre a renda de cada proprietário, que vai ser composto a venda do apartamento. Provavelmente em junho nós já estaremos com a certidão de compra e venda na mão.
P/2 – Aí cada... Já não vai ser mais inquilino, vai ser proprietário.
R – Isso.
P/2 – Cada proprietário vai pagar o valor do apartamento de acordo com a sua renda?
R – Isso mesmo, determinado com a sua renda.
P/2 – Pelo menos as parcelas.
R – Pelo menos as parcelas. Fora as taxas condominiais.
P/2 – Você é síndico?
R – Sou. Sou representante de bloco.
P/1 – Quais são suas funções como síndico?
R – Bom, a função primordial do síndico é trazer aconchego para as pessoas e colocar na mente das pessoas que aquilo ali é nosso, que o apartamento dele não é só da porta dele pra dentro, o vão das escadas faz parte do apartamento dele. Colocar na mente que a pessoa tem que manter aquilo limpo diariamente, todos os dias. Que quando nós recebemos uma visita, a visita vai passar... Se a pessoa morar no quarto andar, ela vai passar por todo o apartamento. Se embaixo estiver feio, lá em cima estiver bonito, a pessoa vai falar: “Nossa, mas que estranho, aqui em cima é tão organizado, lá embaixo tão feio”.
P/1 – E no seu bloco as pessoas respeitam? Como tá a limpeza, a manutenção?
R – Bom, o meu bloco é considerado uns dos blocos mais difíceis. Eu assumi como representante de bloco faz mais ou menos uns três meses. Eu tou tentando criar uma percepção na mente das pessoas que nós que temos que fazer a melhoria, porque os outros não vão fazer a melhoria para nós. E com isso, eu preciso que as pessoas me ajudem a pagar as taxas condominiais, pagar o condomínio, ajudar na limpeza e a conservar.
P/1 – Então é uma batalha diária?
R – É uma batalha diária, porque lidar com pessoas não é fácil. Lidar com ser humano é muito difícil. Você tem que saber como chegar, saber com qual palavra você pode falar pra uma pessoa, que o que você falou pra um já não pode servir pra outro, e ir se adaptando até você chegar à mensagem que você quer deixar com aquela pessoa naquele momento.
P/1 – Veio-me uma curiosidade agora. Tem garagem no condomínio?
R – A garagem, ela é coletiva. Ela é coletiva. O condomínio, ele é composto de 120 vagas, mas o morador não tem a vaga. Se ele chegar e colocar o carro dele, ele pode colocar o carro dele em qualquer lugar, mas ele não tem a vaga garantida.
P/1 – Caso já esteja cheio, como faz?
R – Aí você tem que procurar outro lugar, em volta do condomínio, pra você deixar o seu veículo.
P/1 – São nas ruas dentro do condomínio mesmo?
R – Não, não. São as ruas laterais.
P/2 – Como o síndico é escolhido?
R – O síndico é escolhido por assembleia. Mas no meu caso foi um pouco meio diferente, porque o apartamento tava um pouco meio que jogado. A síndica anterior, ela tava fazendo um trabalho bom, só que as pessoas não querendo pagar as taxas condominiais acabaram deixando-a meio que desanimada. Aí ela desanimou, coitada. Nossa, ela fez o que ela podia fazer. Aí eu vi que eu poderia melhorar, conversei com a minha esposa, falei: “Olha, se não for pra gente ficar só reclamando, vamos colocar a mão na massa e vamos tentar fazer alguma coisa. Já que tá jogado, vamos tentar melhorar”. E to tentando melhorar e espero conseguir melhorar.
P/2 – Desde quando você tá como síndico?
R – Desde janeiro de 2014.
P/2 – Já melhorou um tiquinho?
R – Já melhorou um tiquinho. Já conseguimos automatizar o portão. E as pessoas estão entendendo que tem se pagar o condomínio, que se não pagar as taxas condominiais, não dá pra fazer nenhuma melhora.
P/2 – E eles gostaram quando pôs o portão?
R – Sim, sim. Gostaram, gostaram.
P/1 –Quais são seus sonhos ainda, Nivaldo?
R – Olha, meu sonho é poder ter a minha própria empresa. Eu fiz a faculdade de Administração justamente pra isso. Algumas pessoas perguntam: “Você fez a faculdade, mas ainda você não trabalha na área”. E realmente. Eu falei: “Realmente, eu ainda não trabalho na área”. Mas quando eu adentrei a faculdade, eu já sabia o que eu queria, eu quero ter a minha própria empresa. Tanto que eu procuro observar no bairro onde eu posso encontrar a necessidade das pessoas, o que as pessoas estão precisando. Atualmente, de final de semana, de sábado, eu vendo frutas e verduras em volta do condomínio, no bairro onde eu moro. Sou conhecido como “o rapaz do cheiro-verde”.
P/1 – E onde você compra as frutas?
R – Eu vou ao Craisa, em Santo André, buscar.
P/1 – E todo fim de semana você vende?
R – Todo sábado a partir das oito e meia da manhã eu começo a vender. Essa compra acontece às duas e meia da manhã, aí eu venho pra casa, deixo na casa do meu pai, ele me ajuda muito. Também se não fosse por ele, eu não conseguiria algumas coisas. Ele vai preparando pra mim, eu vou a casa, descanso mais um pouquinho. E por volta das oito e meia da manhã, eu saio com o carrinho na rua gritando: “Alface, batata, tomate e o CHEIRO-VERDE!” (risos).
P/1 – (risos) Tem mais, Márcia?
P/2 – Não, eu acho que contou bastante coisa (risos). Bastante coisa bacana.
P/1 – Você acha que tem alguma coisa ainda que você quer... Lembrou... Veio à mente, que você não falou?
R – Não, tranquilo. Pra mim, tranquilo. Eu acho que já falei tudo que poderia falar. Só se vocês quiserem perguntar mais alguma coisa. Eu falei da minha família, falei dos meus sonhos, falei da melhora do apartamento, a transição de ter saído da... Fiz um resumo bem grande de coisas boas e de coisas ruins que aconteceram. Mas as coisas ruins acontecem nas nossas vidas para que nós possamos melhorar, nos transformar em pessoas melhores.
P/2 – Muito bem. Muito obrigada.
P/1 – Então eu acho que... Muito obrigada.
R – Eu que agradeço.
P/1 – Muito bom ouvir sua história.
FINAL DA ENTREVISTA
Recolher