Estava na casa de praia, no quarto, arrumando o berço portátil, logo minha filha caçula iria dormir. Mexendo nuns lençóis e roupas, percebo, ao enviesar o olhar, que há teias de aranha sobre o berço. Instintivamente, jogo um copo dágua, que encontro próximo, em cima da teia, tentando desmachá-la. Não funciona, a maior parte da teia segue ali. Jogo mais água, e mais água. Quanto mais tento, mas percebo que há muitas outras teias encobrindo esse berço, apenas visíveis se eu ir mudando o ângulo de visão. É inútil o que faço, jogar água. A água entra pelas brechas das teias. Me dou conta de que estou molhando o berço, lençóis. Entra minha filha no quarto, pergunta o que está acontecendo. O sonho se interrompe.
Que associações você faz entre seu sonho e o momento de pandemia?
Sonhado na madrugada de 13/03/21 para 14/03/21, momento mais crítico da pandemia, há exato 1 ano de quando nos fechamos isolados em casa, toda família, em 13/03/2020. Teia me lembra rede, proteção. Canto dona aranha para a filha, privada de escola e convívio social e familiar, privada de sua rede social, de sua teia de relações, atenta ao coronavírus perigoso. Privamos estamos todos da rede de apoio que deixa a vida mais leve. Ela não usa mais berço há bastante tempo, usava esse portátil quando menor, na casa de praia onde o sonho se passa, que tem sido um refúgio seguro durante a pandemia. Berço é espaço protegido. Desejo imenso de protegê-la, do vírus e de outros venenos do mundo. Na noite anterior, li uma reportagem com orientações sobre como agir, pai e mãe, se suspeita de contaminação, na convivência com os filhos. Dentre as orientações, muita hidratação, água como arma fundamental no combate à doença. Sentimento de impotência na luta coletiva contra o vírus. Governo transformando o símbolo da vacinação, Zé Gotinha, em símbolo de armamento.