Memórias do comércio do Rio de Janeiro
Depoimento de Karina da Silva Scheyen
Entrevistado por Paula Ribeira e Luiza
Rio de Janeiro, 02/06/2003
Realização Museu da Pessoa
Entrevista: MCRJ_HV031
Transcrito por André de Carvalho Calvanese
Revisado por Ligia Furlan
P/1 – Bom dia, Karina.
R – Bom dia.
P/1 – Eu gostaria então de começar nossa entrevista pedindo seu nome completo, local e data de nascimento, por favor.
R – Meu nome é Karina da Silva Scheyen, eu nasci no Rio de Janeiro em 28 de janeiro de 1975.
P/1 – Os seus pais, o nome completo, e a origem dos seus pais, por favor.
R – Bom, meu pai é alemão, Klau(?) Scheyen e minha mãe é portuguesa, Maria Augusta da Silva Scheyen.
P/1 – Sabe em que cidade eles nasceram e quando vieram para o Brasil?
R – Meu pai nasceu em (Brum?), porque conforme ele... Era uma cidade da Alemanha ocidental, atualmente é da Tchecoslováquia. A minha mãe é de Viseu, vieram para o Brasil bem novinhos, meu pai foi durante a Segunda Guerra e minha mãe um pouco depois. Se conheceram em Copacabana.
P/1 – Ah é?
R – Se conheceram lá. Meu pai era amigo dos irmãos da minha mãe e se conheceram por muito tempo, depois é que começaram a namorar e se casaram.
P/1 – E seus avós Karina, o nome dos avós e a origem dos avós, por favor.
R – Meu avô paterno é Enerst Scheyen, também alemão, minha avó era Madalena Scheyen, também alemã; minha avó materna é Maria do Céu da Silva Figueiredo, portuguesa também, e meu avô materno era Antônio, não sei o sobrenome porque eu não conheci, e também era português.
P/1 – Você sabe quando seus avós, tanto paternos quanto maternos vieram para o Brasil e por que vieram?
R – Bom, os paternos vieram no meio da Segunda Guerra, vieram fugidos mesmo, da guerra, e só puderam vir porque meu tio, numa viajem que minha avó fez ao Brasil, nasceu aqui, então ele era brasileiro, e eles puderam vir por causa do meu tio, a família do meu pai....
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Depoimento de Karina da Silva Scheyen
Entrevistado por Paula Ribeira e Luiza
Rio de Janeiro, 02/06/2003
Realização Museu da Pessoa
Entrevista: MCRJ_HV031
Transcrito por André de Carvalho Calvanese
Revisado por Ligia Furlan
P/1 – Bom dia, Karina.
R – Bom dia.
P/1 – Eu gostaria então de começar nossa entrevista pedindo seu nome completo, local e data de nascimento, por favor.
R – Meu nome é Karina da Silva Scheyen, eu nasci no Rio de Janeiro em 28 de janeiro de 1975.
P/1 – Os seus pais, o nome completo, e a origem dos seus pais, por favor.
R – Bom, meu pai é alemão, Klau(?) Scheyen e minha mãe é portuguesa, Maria Augusta da Silva Scheyen.
P/1 – Sabe em que cidade eles nasceram e quando vieram para o Brasil?
R – Meu pai nasceu em (Brum?), porque conforme ele... Era uma cidade da Alemanha ocidental, atualmente é da Tchecoslováquia. A minha mãe é de Viseu, vieram para o Brasil bem novinhos, meu pai foi durante a Segunda Guerra e minha mãe um pouco depois. Se conheceram em Copacabana.
P/1 – Ah é?
R – Se conheceram lá. Meu pai era amigo dos irmãos da minha mãe e se conheceram por muito tempo, depois é que começaram a namorar e se casaram.
P/1 – E seus avós Karina, o nome dos avós e a origem dos avós, por favor.
R – Meu avô paterno é Enerst Scheyen, também alemão, minha avó era Madalena Scheyen, também alemã; minha avó materna é Maria do Céu da Silva Figueiredo, portuguesa também, e meu avô materno era Antônio, não sei o sobrenome porque eu não conheci, e também era português.
P/1 – Você sabe quando seus avós, tanto paternos quanto maternos vieram para o Brasil e por que vieram?
R – Bom, os paternos vieram no meio da Segunda Guerra, vieram fugidos mesmo, da guerra, e só puderam vir porque meu tio, numa viajem que minha avó fez ao Brasil, nasceu aqui, então ele era brasileiro, e eles puderam vir por causa do meu tio, a família do meu pai. A minha avó materna veio porque a família do meu avô veio pra cá e eles acabaram vindo também, mas na mesma época, na década de 40, por aí.
P/1 – Agora deixa eu entender. Quer dizer, um tio seu por parte de pai nasceu no Brasil... Qual era o elo anterior, então, deles com o Brasil?
R – Minha avó veio passear. ________
P/1 – Já casada?
R – Já casada, veio a passeio e meu tio acabou nascendo aqui.
P/1 – Mas por que o Brasil, você sabe se sua família já tinha algum parente no Brasil, no Rio?
R – Não, não tinha. Não sei o motivo da viagem, mas vieram, meu tio nasceu aqui por acaso, mesmo.
P/1 – Tá. Então depois a gente vai voltar nos avós. Eu queria te pedir para contar um pouco quais são as suas lembranças de infância. Você nasceu em Copacabana, você é moradora de Copacabana...
R – Nasci, fui criada lá e não pretendo sair.
P/1 – É? Então fala um pouquinho quais são suas lembranças de infância, que rua você foi criada...
R – Bom, eu fui criada no bairro Peixoto, nasci na rua Anita Garibaldi e fui criada ali. A minha vida toda é naquele quarteirão, Figueiredo Magalhães, Santa Clara, Siqueira Campos. Minha infância foi toda foi na Fraciono Barro Peixoto, frequentei muito a Ladeira dos Tabajaras; atualmente dizem que é super perigoso, só que minha avó morou lá, sempre morou, até hoje minhas tias moram lá. Não acho nada tão abominável, tão terrível, perigoso. Não sei se é por ter sido criada lá, ia todo dia, sempre fui. Até dois anos atrás, quando minha avó faleceu, todo domingo eu ia almoçar com ela. Estudei ali na Tonelero, um colégio foi demolido onde construíram um hotel, até do lado da minha casa. Quando demoliram fui para um outro colégio, na rua Tenreiro Aranha, que hoje é a estação do metrô. Demoliram o colégio pra fazer o metrô, meus colégios foram todos demolidos. E fiz curso de inglês ali, na mesma quadra, então a minha vida era aquilo ali. A praia que eu frequentava era a Figueiredo Magalhães ou Santa Clara, às vezes Siqueira Campos.
P/1 – Como era uma ida a praia? Era com a família, como é que era?
R – Com a família, minha mãe não deixava eu ir com as amigas não, achava perigoso. Eu ia ou com a minha mãe ou com a minha prima, que era mais velha que eu, meus irmãos...
P/1 – Fala o nome dos irmãos, por favor, Karina.
R – Meu irmão mais velho é o Klau(?) Scheyen Junior, o meu irmão do meio é o Augusto da Silva Scheyen. E tudo que a gente fazia era por ali mesmo. Comércio era Loja Americana, que até hoje eu vou lá quase todos os dias.
P/1 – Já tinha loja Americana?
R – Há uns 15... Na minha época eu devia ter o que, uns 14, 15 anos, há uns 15 anos já tinha, não lembro... Não, é bem antiga sim, eu lembro de pequenininha que tinha aquelas coisas de bala lá que era... Pesava a bala, toda a criança que ia roubava umazinha para chupar, aí ficava na fila para pesar e já ia chupando a bala, mas já tinha...
P/1 – Mas aonde?
R – No mesmo lugar, tem entrada pela Figueiredo Magalhães e pela Nossa Senhora de Copacabana. Mudou né, teve reforma, ficou acho que uns três meses em reforma, foram terríveis, não tinha loja americana pra eu ir (risos). Tinha também as Lojas Brasileiras, que hoje é a Marisa, ali na Copacabana com a travessa Angrense, que também era o mesmo estilo da Loja Americana, tinha as balinhas para pesar também. Deixa eu ver quais eram as outras lojas. Tinha a loja do Coelhinho Branco, que era de brinquedo, ali na entrada da Menescal, que tinha entrada pela Barata Ribeiro.
P/1 – Quem entrava pra galeria, de que lado da galeria?
R – Pela Barata Ribeiro no lado direito.
P/1 – E na frente tinha o que?
R – Do outro lado é a Doarel, que está lá até hoje.
P/1 – Que é uma joalheria?
R – Joalheria, isso. Então a gente entrava lá, pegava os brinquedos e botava a conta para o papai. A gente adora ir visitar o papai, porque entrava pegava brinquedinho e ia lá: “Bota na conta do papai.” Papai depois pagava.
P/1 – Porque seu pai era proprietário de uma loja na galeria Menescal...
R – Isso.
P/1 – A gente já vai falar da loja.
R – E na galeria também tinha uma floricultura que toda criança adorava, que descia aguinha pelo vidro. Então a gente para e ficava ali alucinado querendo saber como é que saia aquela aguinha, mal sabia que era um cano todo furadinho que descia água.
P/1 – Você lembra o nome dessa loja?
R – Não lembro. Quer dizer, lembro que atualmente lá é Madas, que era Praia Má, agora é Madas, mas é no mesmo lugar. Eu tenho a visão, assim, nítida. Tinha a loja de esportes lá dentro, a (Renichi?), acho que era (Renichi?), do seu Maurício, que é torcedor do Vasco e que toda hora estava aparecendo. Uma vez jogou um radinho de pilha lá no meio do campo. Tinha também uma loja de sapato em frente a nossa, Aline, uma sapataria grande. Tinha a Importex, que está lá até hoje, loja de roupas de senhora... Deixa-me ver o que mais tinha por ali que eu gostava... A sensação mesmo era a loja Americana.
P/1 – Quer dizer, você foi uma criança em Copacabana e tinha essa coisa do comércio, de ir às lojas, é...
R – De passear mesmo, pelo bairro, de olhar, olhar as vitrines. Copacabana, apesar de ser um bairro comercial, era muito família, então a gente tinha contato com todo mundo, a gente andava na rua e conhecia todo mundo, não tinha perigo, porque se acontecesse alguma coisa de verem que uma pessoa estava seguindo uma criança do bairro, os porteiros mesmos já chamavam a criança, de tomar conta mesmo, daquela coisa de família, de carinho, de um pelo outro né.
P/1 – Agora, na sua casa, Karina... Quer dizer, você é de uma família de origem alemã e portuguesa. Como era um pouco o ambiente da casa, como eram as coisas das tradições? Se mantinha língua, qual foi a mantida... Você aprendeu alemão?
R – Não, não aprendi alemão, porque na época que eu ia aprender, minha avó teve um problema de saúde e não pôde me ensinar. Ela começou a sofrer do coração, então não podia ir na minha casa, e como a vida da mamãe era bem corrida, não tinha como estar sempre com ela. A gente tinha mais contato com a família da mamãe mesmo, da minha avó que morava na ladeira dos tabajaras.
P/2 – E os outros avós moravam em que bairro?
R – Moravam em Copacabana também, na Barata Ribeiro, um pouquinho mais pra cima. Mas era aquela coisa da minha mãe todos os dias tinha que ir na minha avó, então os filhos iam junto. A gente almoçava quase todos os dias na vovó, tinha a tradição de quatro horas, quatro, quatro e meia tomar o café, que era o cafezinho com pão e manteiga. Tinha que molhar o pão no café pra comer. Tinha aquela coisa que até bem pouco tempo atrás eu fazia, minha mãe brigou, falou que na casa dos outros era feio, mas eu adoro. Em casa, quando dá, vai, quando mamãe não esta vendo.
P/1 – Vai, né.
R – E a tradição, assim, alemã, a minha avó falava com o meu pai, só que o meu pai também já esqueceu bastante, devido ao problema dele. Mas o Natal era sempre comemorado com as duas famílias...
P/1 – Hum, que legal.
R – A gente almoçava na minha avó, mãe do meu pai, depois passava na casa da mãe da minha mãe.
P/1 – Tinha alguma tradição alemã mantida no Natal? Você lembra alguma coisa diferente, um bolo, uma torta?
R – Tinha, todo natal tinha pato...
P/1 – Hum...
R – Ai eu não gostava não...
P/1 – Ai é bom...________
R –___________
R – Ah, eu não gosto não (risos). E tinha uns bolinhos que ela fazia de pão, pra mim ela sempre fazia gulas, que eu gostava, ela já sabia que eu não gostava muito do pato, ela fazia. Mas tinha, acho que era pato com laranja, uns bolinhos de pão que acompanhavam o pato e tinha uns biscoitinhos que eu amo, que é de gengibre, acho. Até a gente tem casa em Peneda, quando eu vou pra lá eu tenho que passar numa casa que tem... Tradicional lá também. A Eva que tem esses biscoitos, toda vez eu vou lá comprar.
P/1 – São muito típicos da Alemanha da Europa.
R – Da Europa. Porque ________da colônia finlandesa então ainda tem muito, tem...
P/1 – _______ tinha musica? Se cantava?
R – Não.
P/1 – Então você lembra disso?
R – Não, não tinha. Era bem silencioso até a casa da minha avó, era bem silenciosa. Até no almoço não podia ver televisão, na sala de jantar não tinha nada, só a mesa pra a gente comer. Depois que acabasse de comer podia ver televisão, mas no almoço e no jantar também não se falava, se conversava sobre o dia a dia, mas televisão, nada. Meu pai era muito rigoroso com horário, então...
P/1 – Como todo alemão.
R – Tinha aquele horário, sete horas da noite em ponto era servido o jantar, tinha que estar a família toda, vestida, não podia estar sem camisa, mais a vontade, tinha que estar vestida e conversar sobre o dia, contar como é que tinha sido na escola, o que tinha feito, o que tinha aprendido. E ele falava também do que acontecia na loja, a reunião de família era no jantar.
P/1 – Você, sua mãe, seu pai e seus irmãos?
R – Isso.
P/1 – Havia uma certa diferença, Karina, por exemplo, na educação sua, como menina, e dos seus irmãos? Havia alguma expectativa de, por exemplo, um seguir certa profissão?
R – Não, não, tanto que a escolha foi bem... Meu irmão mais velho fez administração de empresa, saiu da loja e depois voltou; o outro entrou pra faculdade de engenharia, na primeira prova tirou 0,75 e desistiu, disse que não dava pra isso. E eu segui, fiz tecnologia em processamento de dados, depois fiz um ano de programação, cheguei a começar a fazer pós-graduação em análise de sistemas, mas larguei por causa da violência, há uns 10 anos já estava brabo aqui no Rio. Tentaram me assaltar uma vez com a arma na minha cabeça, eu fugi, na segunda vez levaram um carro de trás do meu, só que estava engrenado, e quando tiraram a pessoa de dentro bateu no meu e eles vieram pra cima de mim também, mas eu também consegui fugir. Aí eu larguei, porque eu não arrumava emprego na minha área, porque...
P/1 – Que faculdade você fez?
R – Eu fiz faculdade carioca e nessa época eu estava fazendo pós-graduação na PUC, mas como eu era muito nova, eu me formei com 19 anos, estava fazendo pós-graduação com 20 para 21. E eu não arrumava emprego, porque eles diziam que eu era moleca, que eu era muito jovem e que não servia, então eu preferi largar tudo e trabalhar com o meu pai, já que a loja era nossa.
P/1 – Fala um pouco da sua formação educacional. Como eram os nomes das escolas que você fez?
R – Bom, meu primeiro colégio foi o Instituto São Sebastião, que foi demolido para construírem um hotel, que eu fiquei passada com isso, porque não era uma escola, era uma família. Os diretores tinham a gente como filhos, era aquela coisa mesmo que, se acontecia alguma coisa com alguém, todo mundo ficava sabendo, era todo mundo desesperado um com o outro, fomos criados como irmãos. Até hoje o pessoal se vê, se encontra; vira e meche passa alguém lá na loja pra falar que está bem. Era uma família mesmo, e quando acabou foi um... A gente tentou correr atrás de outras casas, em algum bairro próximo, mas como não conseguiram, acabou mesmo. Aí eu saí do São Sebastião e fui pro Instituto Santo Antônio de Pádua, que era na rua Tenreiro Aranha, onde hoje é a estação do metrô. Fiz lá da sétima até o terceiro ano do segundo grau. Tive uma saída rápida pro Anglo-Americano, era meu sonho estudar no Anglo-Americano, que era um colégio enorme, tinha piscina, tudo. Aí fiz prova para lá, para ganhar bolsa de estudo. Ganhei, entrei numa sala, fiquei duas semanas lá, que eu era tida como CDF _________das escolas. Aí não entendi o que o professor tinha explicado, pedi pra ele repetir e ele disse que não ia repetir porque só eu não tinha entendido. Aí eu falei “está bom”, ele mandou eu estudar em casa. Eu fui até a coordenação e a coordenadora falou para mim que ele tinha nove anos de escola e eu tinha duas semanas. Aí eu comecei a chorar que não queria ir para o colégio. Minha mãe achou estranho, porque eu sempre fui uma excelente aluna, sempre gostei, queria ir doente. Eu com sarampo queria ir pro colégio... Com sarampo não, com catapora queria ir pro colégio, minha mãe me explicava que eu não podia ir, mas eu queria. Aí minha mãe foi até o colégio, ficou sabendo da história e me voltou... Eu retornei pro Santo Antônio de Pádua, onde também era uma família, todo mundo se conhecia, professores, coordenadores, todo mundo era amigo. E terminei lá o segundo grau, fiz vestibular pra tecnólogo, passei pra Carioca e passei pra PUC no segundo semestre. Na minha cabeça eu falei: “Bom, vou fazer Carioca no primeiro pra não ficar a toa, e quando entrar na PUC corto as matérias que já fiz. Mas aí eu me apaixonei pela faculdade e não saí mais.
P/1 – Onde é a faculdade Carioca?
R – Na época que eu fiz era no Catete, na rua do Catete, número 6, onde é Souza Marques, de Medicina. Era Souza Marques durante o dia e Carioca à noite. Me formei também, minha turma foi a última a ser formada lá na rua do Catete, depois que eu me formei ela passou pro Rio Comprido, ali na Paulo de Frontin.
P/1 – Como é que se deu essa escolha por essa profissão?
R – Foi uma coisa bem engraçada, porque estava começando esse negócio de computador, na época que eu fiz era o computador com a tela verdinha, que dava uma dor danada na vista. Eu que pedi para o meu pai pra fazer um curso. Eu falei: “Pai, eu quero fazer um curso de computador.” Falava computador mesmo, não era nem computação, eu quero fazer um curso de computador. Aí várias pessoas indicaram o IBPI, que era o melhor né, em Botafogo. Eu fui, fiz o curso lá, o básico, e me apaixonei. Dali decidi que queria mexer com aquilo.
P/1 – Quando é que você teve o seu primeiro computador?
R – Eu devia ter o que, eu entrei para faculdade com 16 anos...
P/1 – Você entrou com 16 anos, na faculdade?
R – Dezesseis para 17.
P/1 – Mas você já tinha acabado o segundo grau?
R – Já, eu entrei muito novinha, eu pedia pra ir pra escola e meus irmãos tinham aulas particulares em casa, então com cinco anos eu falava corretamente tudo, eu conjugava todos os verbos certinhos. Eu ficava prestando atenção, eu gostava, adorava estudar. Lá em casa era até briga, meus irmãos me batiam à beça, porque eu chegava da escola e ia fazer dever. Minha mãe queria que eles fossem fazer também e eles não queriam, eles queriam brincar.
P/1 – “Que saco, lá vem ela querendo fazer dever...”.
R – Mas era assim mesmo, e era uma briga danada, porque eu sempre gostei muito de estudar, inventava um monte de curso pra fazer, inventava curso de inglês, de datilografia, e se falasse que tinha outro curso, lá eu ia também, não queria nem saber. Eu ia pra faculdade da minha amiga, minha amiga fazia administração, era mais velha que eu, eu ia assistir aula com ela porque eu não tinha o que fazer em casa à noite, eu ia assistir aula. Podia né, podia ir de ouvinte, eu ia também. Não tinha nada para fazer em casa, eu ia estudar, não ocupa espaço.
P/1 – Mais aí é opção, assim... Como isso ia surgindo na sua cabeça, essa opção por essa área de trabalho?
R – Por ouvir as pessoas falarem de computador, eu achava aquilo fascinante. Poxa, como é que um negócio que a gente entra lá com qualquer coisa e ele faz, sai aquilo tudo. Achava aquilo fascinante como a máquina conseguia resolver tantos problemas. Porque na época falavam que o computador era isso, era aquilo. Eu achava muito interessante, achava que se todo mundo falava que aquilo era bom, porque eu também não podia conhecer?
P/1 – Mais aí quando você entrou na faculdade você ganhou um computador do seu pai?
R – Eu já tinha.
P/1 – Você já tinha um?
R – Já, eu tinha por... O meu tio, tio entre aspas, porque não é tio, a gente chama de tio porque ele é... Minha mãe é madrinha da filha dele, que eu considero como minha prima, a gente foi criada juntas, a minha melhor amiga. Ele era engenheiro, ele é de origem sueca, acho que estoniana. Ele é estoniano, e ele era um dos engenheiros da usina de Foz do Iguaçu, então ele tinha computador em casa, e tinha um que ele ia se desfazer, meu pai resolveu comprar pra mim, já que eu queria tanto entrar pra faculdade, ter um. E meu pai compro. Eu entrei na faculdade, e inclusive eu era uma das poucas que tinha computador em casa.
P/1 – Em que ano você entrou, Karina?
R – Em 92, 90... Eu tinha 17 anos, 92, eu acho. Dezesseis para 17 anos, de 91 para 92, foi na época do vestibular, e eu tinha entrado.
P/1 – E hoje, você ainda tem essa paixão por computador?
R – Não, eu abomino computador (risos). Gosto de mexer tudo, mais depois que eu fui trocada por uma namorada virtual, eu abomino computador. Eu fui noiva durante quase seis anos, namorei, fiquei noiva de um rapaz que arrumou outra pela internet, no sul. Ainda mentiu pra mim, foi atrás dela e ainda mentiu pra mim, disse que o avô estava doente, aí acabou o encanto. Eu falei: “Não, acabou.”
P/1 – Os dois encantos, um por ele...
R – E o pior de tudo é que até hoje ele me liga pra voltar, mas não há chances.
P/1 – Mas não deixa isso te desmotivar _________
R – De computador eu gosto, só não quero mais trabalhar com ele. Mas também foi muita decepção na área de emprego mesmo, por procurar, batalhar e receber muito não. Até mesmo concurso público eu não podia fazer porque tinha que ter 21 e eu ainda não tinha. Então foram muitas portas fechadas, acaba desmotivando. Até isso mesmo, por isso que a gente desmotiva, a gente fala: “Poxa, lutei tanto, trabalhei tanto, me esforcei, estudei para ser uma das melhores, sempre tive entre os melhores da faculdade, me esforcei tanto para dizerem que eu não tenho capacidade pela minha idade, pelo meu sexo?”, aí desmotiva.
P/1 – Mas você tem um exemplo de um caso assim, de negação de emprego, por exemplo, pelo fato de – que você acha – você ser mulher, menina? Você tem uma experiência que você possa contar?
R – De estágio eu tive duas, uma que eu fiquei revoltada com o cara porque eu tinha acabado de entrar na faculdade. Apareceu lá no mural: “Estágio para tradução de Software”, eu tinha inglês completo, já estava na faculdade, estava no segundo ou terceiro período. Liguei para marcar entrevista, era ali na Glória, perto da Faculdade, só que era uma rua que eu não conhecia, e eu perguntei: “Onde é que fica?” Aí o rapaz: “Ah, essa rua fica atrás do Motel Elbani.” Aí eu falei: “Moço, não conheço.” Aí o cara virou pra mim e disse: “Quantos anos você tem?” Eu falei: “17” “17 anos e não conhece o Motel Elbani?”
P/1 – Hum... Que coisa, hein.
R – Aí eu falei: “Não, não conheço.” Ele me explicou mais ou menos, eu fui na entrevista... Mas fui na entrevista.
P/1 – Mas foi, que louca!
R – Cheguei lá, sentei, e ele começou: “Você sabe isso?” “Sei.” “Sabe isso?” “Sei.” Tudo o que realmente ele perguntava eu respondia, não porque eu queria o emprego não, mais porque eu sabia. Chegou no final, ele virou para mim e falou assim: “Você sabe abrir um computador?” Pra tradução de software você não tem que ter obrigação de saber abrir computador. Aí eu fui debochada com ele, eu disse: “Sei, o senhor me dá uma chave de fenda que eu tiro os parafusos e abro agora. Fechar é que eu não sei se eu vou saber. Abrir é fácil, é só tirar os parafusos.” Ai ele resolveu não me dar o emprego, o estágio.
P/1 – Fez muito bem, _______respondeu à altura.
R – Eu sabia abrir. Abrir não é fácil? Pegar uma chave de fenda, tirar os parafusos e abre. Não sei mexer. Ele perguntou se eu sabia abrir, abrir eu sei.
P/1 – Que coisa, não.
R – Ele me fez a pergunta. Eu respondi a pergunta que ele me fez.
P/1 – Karina, você falou do namorado e tal. Conta um pouco da sua juventude em Copacabana. Tinha festas, depois ia a clubes... Você tinha turma?
R – Não, na época...
P/1 – Turma de praia.
R – Tinha as minhas amigas de praia, que a gente frequentava a mesma barraca, é também uma barraca tradicional, a Santa Clara, a barraca do Vitor, a gente sempre ficava em frente a ela...
P/1 – O que é a barraca do Vitor?
R – Era uma barraca onde vendia refrigerante, então a gente ficava sempre no mesmo pessoal, no mesmo lugar, e conhecia todo mundo, era mais ou menos a mesma turma de escola. Tinha turma que ia na Santa Clara, outra turma que ia na Figueiredo, mas a tradicional mesmo era na Santa Clara, barraca do Vitor. Tinha na época a boate Help, eu frequentei muito pouco, era muito nova, meus irmãos é que curtiram mais. Mas tinha muita festa em casa de amiga, as amigas faziam festa. Vira e mexe tinha festinha na casa de uma ou de outra, porque clube mesmo, assim, não... Eu frequentava o clube mais pelo time. Eu ia pra São Januário, porque eu sou vascaína, então nas férias a gente ia sempre para lá. Passava, mas não era Copacabana, era no bairro de São Cristóvão, que atualmente é Vasco da Gama.
P/1 – É vascaína de frequentar Maracanã e tudo?
R – Adoro, adoro.
P/1 – Então fala um pouco dessa paixão pelo futebol, como foi surgindo.
R – Começou com a minha mãe, minha mãe é vascaína, minha avó é vascaína, família toda vascaína. Dizem que o meu pai só casou com a minha mãe porque virou vascaíno. Mas a família toda vascaína, eu com cinco anos de idade ia pra Maracanã, ia pra São Januário com a minha mãe. Quando não tinha mais ninguém era eu, minha mãe e meus irmãos. Não era essa violência que é hoje, minha mãe podia ir com criança, e por meu pai ser deficiente, não ia, então minha mãe achava que elas é que tinham que fazer isso. A gente ia pra jogo, ia assistir treino do Vasco em São Januário, fazia a maior festa lá. Passava o dia na piscina, aí quando via, estavam os jogadores em campo, a gente ia pro campo, também. A gente tirou foto com jogadores, na época, Roberto Dinamite. Roberto Dinamite era o ídolo né.
P/1 – Era o seu ídolo também?
R – Ah, eu ficava louca com ele, ia, gritava. Mas eu gostava de todos os jogadores, não era só ele não, gostava do Pedrinho, do goleiro, que era o Acácio, Rosemiro, Marquinhos, a gente conhecia o time inteiro, fazia festa mesmo, ia pra São Januário e fazia bagunça. Teve uma vez até que o Calçada, que era o presidente, mandou a gente sair de campo porque a gente estava fazendo muita zorra, estava atrapalhando o treino. E nos 500 gols que o Roberto fez no São Januário, eu entrei no campo, peguei bola, fiz uma zorra danada. E xingava, eu era muito desbocada, desde novinha, por frequentar... Só ouvia os outros falando, respondia tudo. Era a mais mal educada da família. Era a pior, a mais novinha, menina, meus irmãos eram mais educados do que eu. Eu tinha resposta pra tudo, xingava os outros. Minha mãe ficava morrendo de vergonha, coitada, ela falava: “Não foi essa a educação que eu te dei!” Falei: “Mas a _______só aprendi aqui.”
P/1 – Aqui dentro de São Januário né?
R – É, São Januário, Maracanã.
P/1 – Algum jogo que tenha te marcado mais, Karina? Você se lembra, que tenha memória?
R – Esse dos 500 gols do Roberto não é... Porque a gente entrou em campo, fez a bagunça danada, foi em São Januário. Eu lembro que abriram uma portinha, eu pulei pra dentro do campo, eu pequenininha, gordinha, quase rolei, quase saí rolando lá, mas foi a festa. E tinha um amigo da gente que ia também, o Cosme, que cada gol do Vasco ele me jogava pro alto. Só que ele não percebeu que eu cresci, teve uma vez que ele me jogou e quase não conseguiu me pegar de volta. Ele não ia percebendo que eu estava crescendo, ele me jogou, e na hora que me segurou, quase rolou a arquibancada lá do Maracanã.
P/1 – Mas essa coisa de ser vascaína tem a ver com a origem portuguesa da sua família...
R – Portuguesa, isso.
P/1 – Quer dizer, a família, por parte de mãe, como portugueses, frequentava algum meio só de portugueses? O que você sabe sobre isso?
R – Não, porque conforme a minha mãe diz, ela veio pro Brasil com o meu avô, foi morar lá na ladeira dos Tabajaras, e quando o meu avô morreu, parece que até os vizinhos viraram a cara pra ela, porque ela tinha sete filhos, e ficaram com medo de ela pedir alguma coisa. Então ela criou meus tios, minha mãe e meu tios lavando roupa, ela era lavadeira. E todos eles foram criados trabalhando desde novos. Minha mãe desde novinha trabalhava, mais não frequentava nada, até não tinha... A origem dela é bem humilde, não tinha nada disso. Ela criou eles mesmo com muito trabalho.
P/1 – Qual era a profissão do seu avô materno?
R – Não sei.
P/1 – Não sabe?
R – Não, eu tenho muito pouco...
P/1 – Lembrança...
R – E falava muito pouco dele, pelo que a minha mãe falava ele era muito bravo, batia neles, era assim, bem... Até na minha avó, diz que ele batia muito na minha avó, mas minha avó amava muito ele. Não podia falar mal dele, só ela que podia falar mal dele, mas a de quem abrisse a boca para falar mal dele.
P/1 – Mas você tem lembranças da sua avó ainda lavando roupa?
R – Tenho, tenho. A minha tia até que... A irmã da minha mãe, mais velha, também seguiu a mesma profissão, até hoje ajuda a minha mãe, de vez em quando lava as roupas lá de casa, tudo. Porque ela... A minha avó lavava, botava minha tia para entregar, ajudava também, a minha mãe. Meus tios, todo mundo entregava, fazia o rolzinho aí, mandava para os fregueses.
P/1 – Fazia o quê?
R – O rol.
P/1 – O rol?
R – É, o rol é a conta.
P/1 – A é, está bom, não sabia.
R – A conta era o rol. Aí mandava meus tios, até minha mãe, mesmo, ia entregar.
P/1 – E eles moravam em apartamento ou em casa?
R – Em casa.
P/1 – Lavava na mão, a roupa?
R – Na mão, no tanque.
P/1 – Lençol...
R – Tudo, tudo na mão. E minha avó se orgulhava muito disso. Ela faleceu faz dois anos, mas até falecer ela falava que as mãozinhas dela eram todas calejadas de torcer roupas, de esfregar, e minha tia, que também era lavadeira, largou até o marido pra ficar com a minha avó. O marido foi pra Austrália e ela ficou, disse que não largava minha avó não, ficou aqui.
P/1 – Ainda existe essa casa da sua avó?
R – Da minha avó, existe. Da minha avó mesmo é em frente da que ela morava, porque a dela tinha escada e ela começou a ficar velhinha, alugou uma na frente, que não tinha escada. Então ela tinha a dela, que era dela mesmo, e essa que minha tia mora até hoje, que é alugada.
P/1 – Na Ladeira dos Tabajaras?
R – Isso. A que a minha avó morava é 241, e em frente acho que é o 274, que é a dela.
P/1 – Numa época que Copacabana tinha casas a beça, né.
R – Isso. Minha mãe fala muito da pracinha do bairro Peixoto, que tinha árvores de fruta, de cajá, de manga, de tudo, que ela nem precisava almoçar, que ela ia pra praça, comia fruta pra caramba, não precisava nem almoçar. Faziam piscina na ladeira, porque era de barro, aí quando chovia eles cavavam um buraco e faziam uma piscina lá, se divertiam na piscina.
P/1 – Fala um pouquinho da sua mãe. Você falou que sua mãe trabalhou desde cedo, qual foi o ramo que sua mãe trabalhou?
R – Minha mãe trabalhou também no comércio como vendedora da loja Barboza Freitas e da Sloper.
P/1 – Você conheceu essas duas lojas?
R – A Sloper eu cheguei a conhecer porque fechou tem pouco tempo.
P/1 – Fala um pouquinho da Sloper. Quais são suas memórias de criança da Sloper?
R – A Sloper era uma loja chique.
P/1 – Onde é que era, Karina?
R – Na avenida Copacabana com a Raimundo Corrêa. Uma loja grande, tinha de tudo, tinha vestuário, bolsas, sapato, meias, lingerie, maquiagem, e até no finalzinho tinha papelaria também, então era uma loja que eu achava muito legal, gostava também de passear, mas era uma loja menos popular que a loja Americana, então já era uma loja mais chique, mas também era enorme.
P/1 – Você lembra se sua mãe trabalhava assim... Se tinha uniforme, essas coisas?
R – Tinha, minha mãe fala que era obrigatório usar salto alto, que ela usava um saltão, tinha que ir maquiada, super penteada... Ela falava pra mim que hoje eu me visto igual a um trapo, saía que nem um trapo, que elas tinham que andar super na linha. Ela andava de joias, porque antigamente podia, todo mundo tinha cordões bem grossos de ouro, pulseiras, e na época não tinha tanta violência, ela ia trabalhar muito alinhada. Ela reclama a beça do pessoal como se veste hoje, “Vai trabalhar de tênis, calça jeans. Na minha época não podia, tinha que ir de meia fina, de saia, usava aqueles lenços...”.
P/1 – Era.
R – Bastante coisa assim.
P/1 – E a Barbosa Freitas, onde era e qual era o ramo?
R – Barbosa Freitas eu não lembro onde era, mas era o mesmo ramo da Sloper, eram concorrentes, até. Agora eu não lembro se minha mãe saiu de uma... De qual ela saiu pra ir pra outra. Eu lembro que ela saiu porque a outra ofereceu o dobro do salário pra ela, e uma vez ela foi pedir lá pro dono pra comprar aquela esponjinha pra passar a etiqueta – que era com cola né, pra colar nos produtos –, ele mandou ela passar na língua. Ela falou que ganhava muito pouco pra comer cola. Aí ofereceram o dobro do salário e ela foi pra outra, mas agora eu não sei se foi a Barbosa Freitas ou foi a Sloper. Mas uma das duas... Nas duas ela trabalhou.
P/1 – Antigamente era com cola, os precinhos.
R – É, ela disse que ganhava muito pouco pra comer cola e saiu.
P/1 – Essa família, heim (risos). Mas a Barbosa Freitas também era em Copacabana?
R – Era, era tudo ali, era pertinho também, se eu não me engano era na esquina com Santa Clara, mas eu não tenho certeza. Onde é o banco Bradesco hoje, se eu não me engano era ali, mas não tenho certeza.
P/1 – Você tem alguma lembrança sua, assim, de Copacabana, de cinema?
R – Cinema tem o Roxy, o Condor...
P/1 – Que você frequentava.
R – Então, o Condor, que era o mais próximo, que é onde é a Casa e Vídeo hoje, na galeria ali na Figueiredo Magalhães.
P/1 – Qual é o nome daquela galeria, você sabe?
R – Eu chamava de galeria do Condor, mas nome mesmo...
P/1 – Pois é, a gente sempre chamava de galeria do Condor, mas...
R – Que é onde era o cinema, atualmente a gente chama de galeria da Casa e Vídeo, mas o nome da galeria mesmo não...
P/1 – É Figueiredo Magalhães com...
R – Com Barata Ribeiro, Figueiredo Magalhães, 286. E tinha... Esse era o mais próximo, porque a gente ia sempre, e na época era tão barato que todos os dias a gente ia ao cinema.
P/1 – Ah é?
R – É, era baratinho, então em vez de fazer bagunça na casa dos outros, a gente ia pro cinema. Via três, quatro vezes o mesmo filme, juntava a turma toda que a gente queria fazer festas da turma toda, então juntava a turma toda e ia ou pro Condor... Tinha o Copacabana, tinha o cine Joia, que hoje é ali na Copacabana, 680, mas não era um que a gente frequentava muito não, porque diziam que era... Que tinha rato, que tinha bicho, e a gente tinha medo.
P/1 – O Joia era um cinema pequenininho, embaixo da galeria.
R – Embaixo, é. Aí todo mundo dizia que tinha rato, a gente tinha medo. Mas tinha o Bruni também, na galeria onde é a Modern Sound, porque a Modern Sound até pegou uma parte dele agora, onde era o cinema, cinema Bruni.
P/1 – Bruni, em Copacabana?
R – Isso.
P/1 – Na Barata Ribeiro?
R – Na Barata Ribeiro. E tinha também o Roxy, que era o luxo, que era enorme o cinema, agora são três salas, mas antigamente era uma sala só, era enorme, a gente fazia uma bagunça danada. Vira e meche vinha um lanterninha, a gente ficava quietinha quando o lanterninha vinha. Mas vinha turma grande, fazia muita bagunça. Tinha um restaurante, porque geralmente quando a gente saía do cinema, quando a gente ia no Roxy, a gente parava no (Boninos?), que também é ali na Nossa Senhora de Copacabana, perto da Boliva(?), então a gente passava sempre por ali.
P/1 – Pra comer o quê?
R – Ah, eu só comia bife com batata frita, porque eu sou chata pra caramba pra comer, era só bife com batata frita, mas o pessoal lá comia, tinha bastante comida, mas não lembro do que o pessoal gostava. Meu pai frequentava muito, até porque tinha um garçom que era bastante amigo dele, então a gente sempre ia lá. De cinema tinham esses, e tinha um outro também, onde... Eu não lembro o nome, que era antes do Copacabana, que era ali, logo depois da Santa Clara, logo depois da C&A. Tinha a C&A e tinha um cinema, Arte Palácio, era o Arte Palácio também. Mas o que a gente frequentava mais, era o Bruni ou o Condor, porque eram mais perto, e para os nossos pais não ficarem preocupados, estava sempre por ali, pela redondeza, que tinha muito disso, de ficar de olho, de saber as companhias, de tomar conta, e ali todo mundo conhecia a gente, então não tinha perigo, eles ficavam bem mais tranquilos. E a minha educação foi sempre assim, sempre com liberdade, mas sempre avisando onde estava, onde ia, com quem ia. Se acontecesse alguma coisa, ligar pra avisar, nunca fui assim um adolescente rebelde de: “Ah, não vou ligar, não vou avisar.”, e que até certo ponto era muito bom, porque uma vez falei para minha mãe que eu ia pra uma boate, aí cheguei na boate e estava cheia, era até a Mykonos, que tinha no Leblon e São Conrado, aí cheguei na do Leblon e estava cheia. Liguei para ela e avisei: “Olha, aqui no Leblon está muito cheia, a gente está indo pra São Conrado”. Chegou na de São Conrado e também estava cheia,eu liguei pra ela que estava indo pra outro lugar, porque a gente não ia mais pra boate, ia comer alguma coisa, e nesse dia a boate pegou fogo. A sorte que eu tinha avisado a ela que não ia ficar lá, senão ela ia ficar em desespero, porque saiu plantão na Globo, que estava pegando fogo. Quando eu cheguei em casa, “Ah, ainda bem que você me avisou, porque senão eu iria estar aqui desesperada”.
P/1 – Agora, você estava falando de lugares como o (Bonino?). Quais são os outros lugares que você se lembra do bairro de Copacabana, assim, que ou se comia, ou se lanchava? Você tem memória da Colombo?
R – Colombo, tem.
P/1 – Colombo fazia parte um pouco da história, ou da sua... Sua família frequentava, às vezes?
R – Não.
P/1 – Não?
R – Eu passava muito por lá, às vezes eu entrava com as minhas amigas, mas com a minha família geralmente não. Até pelo problema do meu pai, de ele ser deficiente, a gente ia mais nuns lugares que conhecia, que tinha mais acesso, pra ele se sentir mais a vontade. Então a Colomba às vezes eu ia com as minhas amigas, mas não com a família não, com a família a gente ia mais no (Bonino?), a gente comia muito na casa da minha avó, almoçava muito, era tradição todo domingo a família ir pra casa da avó. Dia das mães, Natal, réveillon, essas coisas era sempre casa da avó, sempre família. A gente foi sempre assim, de família mesmo, não era muito de rua não.
P/1 – Tá, então a gente podia agora direcionar para coisa da história da loja. Você... Uma coisa assim, muito legal, que você recuperou um pouco galerias de Copacabana, você falou da galeria onde tem o cinema Jia, que é o...
R – É o 680.
P/1 – 680, que a gente chama de 680, mas eu sei que tem nome.
R – Galeria dos peixinhos, porque antigamente tinha aqueles peixinhos lá em baixo, toda criança gostava, agora tem umas tartaruguinhas. A gente brincava que eram dois peixinhos.
P/1 – Tem a galeria onde tem a Modern Sound, onde tem tinha o Bruni, em Copacabana.
R – Isso.
P/1 – Porque eu também não sei se tem nome, a galeria.
R – Eu também não sei, mas era conhecida antigamente como galeria do cinema Bruni, e agora como galeria da Modern Sound.
P/1 – Modern Sound. Você tem lembrança de outras galerias de Copacabana?
R – Tem outras galerias, mas que a gente não costumava frequentar. Tem mais pra Bolívar, tem a galeria onde tinha a Toulon, mas como já sai um pouco do nosso meio ali...
P/1 – __________
R – É aquele meio ali que eu acho o máximo, adoro aquele meio ali.
P/1 – Você adora Copacabana?
R – Adoro. Tenho até briga com o meu namorado, porque ele mora na Barra, adora a Barra, e eu adoro Copacabana, e ele fala: “Se a gente casar um dia, como é que vai ser?” Eu falei: “A gente vai morar no Leblon, que tem Ipanema no meio de Copacabana e tem São Conrado no meio da Barra, mais pelo meio.”
P/1 – O que você curte tanto assim em Copacabana? O que ela significa pra você?
R – Porque tem tudo, tem tudo. Onde eu moro, descendo o elevador tem padaria, tem botequim, você quer comprar um refrigerante ao lado tem, tem farmácia, atravessando a rua tem a mercearia, tem loja de doce, tem tudo, tudo o que você precisa tem ali perto. O que você precisar é só descer.
P/1 – Você ainda tem um privilégio, você ainda trabalha em Copacabana, ainda tem emprego pra você, né.
R – É, tem emprego. ________
P/1 – ______
R – Só gasto sola de sapato.
P/1 – Você vai a pé para o trabalho. Isso é uma qualidade sensacional, isso é uma coisa ótima.
R – Acordo mais tarde, porque eu odeio acordar cedo, então eu posso acordar um pouquinho mais tarde. E é tudo perto, tudo ali. E também o conhecimento de todo mundo, a gente conhece todo mundo, aí fala, para, às vezes está precisando de alguma coisa, para numa esquina pra conversar com alguém, eles já te indicam aonde é que tem, e é meio um bairro familiar.
P/1 – Ainda é Karina, um bairro familiar, do seu ponto de vista?
R – Eu não sei se é porque eu fui criada lá e conheço muita gente... Para mim é, porque onde eu passo tem gente conhecida, nunca passei aperto ali, sempre... Uma vez eu estava até sendo seguida voltando da faculdade, o porteiro mesmo chamou: “O, vem cá.” Opa, graças a deus alguém me salvou. Tem sempre muito disso.
P/1 – E ainda de Copacabana, antes de a gente entrar na loja, a coisa da festa do Réveillon na praia, vocês, como moradores do bairro, vocês vivem... Vocês não assistir as festas?
R – Eu, até começar a namorar esse rapaz que mora na Barra, sempre fui. Quando não ia pra Penedo, né.
P/1 – Sempre?
R – Fui umas três, quatro vezes passar o réveillon em Penedo, todo ano era pra ir pra praia.
P/1 – Você sabe quando começou isso, por exemplo, dos fogos de artifício?
R – Não lembro, eu lembro que eu era bem pequena. Eu lembro de pequena já ir, com oito, nove anos já...
P/1 – Sua mãe e seu pai iam?
R – Iam. Depois de um tempo, quando o meu pai ficou pior para ele se locomover, que ele passou a não ir. A gente ia com os meu tios, porque a gente passava o réveillon na casa deles, aí − eles moravam na Barata Ribeiro –, 15 para a meia noite, mais ou menos, a gente descia e sempre ficava no mesmo lugar.
P/1 – O que você se lembra dessa festa? Por exemplo, você ainda lembra quando havia os festeiros assim de umbanda, candomblé, você lembra mais disso?
R – Lembro, o pessoal dizia que não podia ir pra praia dia primeiro porque tinha muito pedido pra Iemanjá, o mar ficava carregado, então a gente pegava os maus fluidos todos. Tinha muito dessa lenda, que dia primeiro não se podia ir à praia, ou, se fosse à praia, não podia entrar no mar, porque ia pegar as energias negativas, tinha muito dessa lenda. Aí aquele pessoal fazendo lá os trabalhos, que chamam... Com velas, com uns barcos enormes botando no mar.
P/1 – Antigamente tinha mais disso até, do que hoje, né?
R – Tinha. Hoje o pessoal começa a fazer mais cedo, pra não... Porque ficou muito cheio, muita divulgação da festa, então o pessoal começa antes.
P/1 – Quer dizer, o morador de Copacabana costuma ir a esta festa, seus colegas, tua família, que são moradores?
R – A maioria sim, um ou outro que não gosta de tumulto, aí procura festas fechadas, mas geralmente o pessoal de Copacabana gosta. O pessoal de Copacabana é bastante (festeiro?), gosta de uma bagunça, de uma festa.
P/1 – A gente estava falando em religião. A sua família tem uma religião? Vocês seguem, são pessoas religiosas?
R – Minha mãe é muito, católica de ir à missa todo domingo. Batizou a gente, a gente fez comunhão, fez crisma, os três. Mas eu e meus irmãos não frequentamos, só quem frequenta mesmo é a minha mãe.
P/1 – E por parte de pai, qual é a origem religiosa?
R – Meu pai é católico também, mais é meio ateu, é como meu irmão mais velho, não acredita em nada.
P/1 – Teus avós eram de origem...
R – Minha avó era muito católica.
P/1 – A sua avó alemã?
R – Isso, a minha avó portuguesa também, as duas, mas o meu pai não seguiu muito pela minha avó não, apesar de ser católico, nunca frequentou, nunca gostou. Ainda... Até debochava da minha mãe que tinha que ir pra missa todo domingo.
P/1 – Então agora a gente vai fazer o seu ramo de comércio. Bom, Karina, eu gostaria que você falasse um pouco da sua loja, quando foi fundada, quem fundou, qual é o ramo de comércio.
R – Bom, a loja foi fundada pelo meu avô.
P/1 – Como é o nome dele?
R – Enerst Scheyen, e com a minha avó, Madalena Scheyen. Os dois trabalhavam lá e...
P/1 – Dá o nome.
R – Filme, Caneta e Copacabana. Foi fundada em... Na década de 50, acredito que em 52, meu pai não se recorda bem se foi 51 ou 52, mas acho que foi 52. Em 57 ela mudou, na galeria mesmo, ela já era da galeria, mudou para a loja 29, onde está até hoje. Meus avós vieram da Alemanha, primeiro trabalharam como feirantes, depois tiveram uma loja de conserto de guarda-chuva.
P/1 – Aonde?
R – Em Copacabana também, não sei ao certo o lugar, acho que na Barata Ribeiro, mas não chegou a ser na galeria não. Na época que eles abriram a loja na galeria, a minha mãe comenta que o pessoal tinha medo de passar lá porque era muito escuro. Foi uma das primeiras lojas, a galeria era bem escura.
P/1 – Você sabe quando foi fundada a galeria, mesmo?
R – Não sei, acredito que foi ou no final da década de 40, comecinho da de 50... Porque a loja foi uma das primeiras, foi fundada em 51, 52.
P/1 – Uma das primeiras. Assim, você sabe, na época em que o seu avô abriu a loja, quais outras lojas tinham na galeria?
R – Tinha uma loja de frios, também de um alemão. Era a única loja, a nossa foi a segunda e logo depois veio o Baabek, que também está lá até hoje.
P/1 – O que é o Baalbek?
R – É um restaurante de comida árabe, bem tradicional, também, todo mundo das antigas vai lá comer o quibe, a esfirra, que continua com a mesma qualidade, com a mesma coisa.
P/1 – É a mesma família, você sabe?
R – Mesma família, era também... Quem esta tomando conta lá são os filhos dos fundadores, a Miriam, a Denise.
P/1 – Você sabe o nome do fundador?
R – Não.
P/1 – E você saberia me dizer quando o seu avô opta por abrir uma loja desse ramo, por que ele escolheu esse ramo, ou se ele tinha conhecimento da Alemanha e por que foi abrir na galeria Menescal, se isso na época era assim, um empreendimento mais caro no bairro, era uma novidade uma galeria como essa...
R – Eu acho que era pela novidade, porque empreendimento eu não sei se ele tinha tanta noção assim. Quando ele veio da Alemanha para cá, eles resolveram... Talvez para se virar, porque eles não sabiam falar o português, não sabiam nada, então eles foram começando como feirante.
P/1 – Feirante de que ramo?
R – Não sei.
P/1 – Não sabe?
P/2 – Eles vieram na mesma época que seus pais?
R – O meu pai veio junto com eles, a minha mãe é que...
P/2 – Eu confundi os pais com os avós_________
R – É, a minha avó veio mesmo fugindo da guerra, da segunda, com o meu pai. Aí o único meio de vida que eles começaram a se virar, primeiro com feirante, depois consertando guarda-chuva. O porquê da escolha da fotografia eu não sei.
P/1 – E o nome, é filme...
R – Filme, Caneta e Copacabana. Não sabiam falar muito o português, eles iam vender filme e iam vender caneta, e era em Copacabana, e ficou o nome, era o que eles sabiam, não tinham muito conhecimento. A minha avó até... Até antes de morrer tinha muito sotaque alemão, muito, era até difícil entender, às vezes, o que ela estava falando. Ela não falava “loja”, falava “luja”; “fedor” era “fedência”, então ela confundia muito, e eu achava aquilo super engraçado. Eu era pequena, falava: “Ih, a vó fala tudo errado.” “Tá um fedor aqui.”, não era fedor, “Tá uma fedência nessa luja...”.
P/1 – Então conta um pouquinho assim, você lembra de ir à loja ainda com a presença dos avós?
R – Da minha avó, meu avó eu não conheci, nem eu nem meus irmãos, ele faleceu antes da gente nascer, a gente não chegou nem a conhecer.
P/1 – Mas você sabe me dizer, por exemplo, se os produtos eram importados, de onde eram, o que efetivamente vendia na loja quando ele começa, em 52?
R – Eram máquinas fotográficas. Tínhamos, acredito que, tudo importado, porque até hoje não tem nada da indústria nacional, apesar de algumas firmas dizerem que eles são embalados na zona franca de Manaus, são só embalados, feitos mesmo não tem, é tudo importado. Mas a maioria dos produtos eu acho que é alemão, porque as câmeras, (Mamiya?), Leica, era todas de origem alemão, os filmes da (Aikfa?) também. (Aikfa?) é uma firma muito grande na Alemanha, concorrente da Fuji. Fuji japonesa e Kodak americana, tudo importada.
P/1 – E as canetas que eles vendiam, você sabe?
R – Aí eu já não sei, caneta eu já não peguei muita informação porque quando eu comecei a trabalhar na loja, não tinha mais essa parte de caneta, e também é uma coisa que não se falava muito, o forte da loja sempre foi material fotográfico, a gente sempre teve como material fotográfico como... A conversa toda em casa era em torno de material fotográfico, caneta já não era mais o forte.
P/1 – Quer dizer, a loja vendia os produtos, mas também fazia consertos, reparos?
R – Fazia, meu avô consertava canetas, consertava máquinas.
P/1 – Consertava caneta?
R – Caneta, aquelas canetas Parker antigas, de pena, que às vezes entupia tudo aí ele fazia as pecinhas, refazia, era um trabalho bem delicado, porque as peças eram bem pequenas. Ele consertava.
P/1 – Consertava máquina fotográfica também?
R – Também, trabalhava também com conserto.
P/1 – Eles tinham empregados, Karina?
R – Tinham. Na época do meu avô eu já não sei quais eram os funcionários, mas na época do meu pai eu já conheci bastante. Tinha muitos funcionários que eram amigos do meu pai, era aquela coisa bem família mesmo, eram os amigos do meu pai que trabalhavam com ele, como até hoje os filhos trabalham ainda, não tem muito aquela... A gente é tido como uma loja bem família mesmo, porque os funcionários... A gente acaba se apegando, fica tudo amigo, não tem aquela... Eu não sei se é bom ou se é ruim, porque não tem aquela diferença de funcionário pra patrão, é tudo amigo, entendeu? Às vezes um está com problema, aí conversa com o outro, tem muito disso.
P/1 – Agora, você lembra da figura da sua avó? Quer dizer, ela estava todos os dias na loja, ela que sempre tocava a loja?
R – Ela abria a loja todos os dias, porque meu pai chegava um pouco mais tarde, ficava em casa, um pouco, com a gente.
P/1 – Seu pai sempre trabalhou com os seus avós?
R – Sempre, o meu... E ele tinha um irmão também que trabalhava na parte de fotografia, só que em outra loja, no Centro Comercial. Então já era de família, o meu tio tinha loja no Centro Comercial e meu pai acabou ficando com a loja na galeria, que era dos meus avós.
P/1 – Qual Centro Comercial, Karina?
R – No Centro Comercial de Copacabana, é o CCC, o nome da galeria é Centro Comercial, mesmo.
P/1 – Que fica em que rua?
R – Na Copacabana, esquina com a Siqueira Campos. Tem escada rolante, a tradicional. Descendo tem duas lojas de fotografia, uma de frente pra outra, uma era do meu tio e a outra era de uma amigo do meu pai que a gente considerava também como tio. A gente sempre chamou de tio, porque quando o meu avô faleceu, ele ajudou muito o meu pai, então era como se fosse um pai para o meu pai. Mas como a gente não ia chamar de avô, a gente chamava de tio.
P/1 – Como é o nome, tanto desse tio, quanto desse senhor que tem lojas no ramo de fotografia?
R – O meu tio era Kurt Scheyen, que já faleceu tem uns oito anos, e este outro senhor é o Valmir Teofio (Raus?), ele trabalhava também com fotografia, e faleceu agora, em fevereiro.
P/1 – As lojas ainda existem?
R – Existem. É o Centro Foto, Caneta, que era do meu tio Kurt, e a (Lomp Som?), que era do tio Valmir, e ainda estão lá as duas, firme e fortes. A loja que era do meu tio ficou com o sócio, que ele tinha um sócio, e a outra agora o marido da minha prima e a minha prima estão tocando, conforme vai dando.
P/1 – Quais outras lojas do ramo de fotografia que você se lembra e de fotógrafos, em Copacabana?
R – Olha, uma bem tradicional é a casa (Ravali?), que é ali perto do Roxy, é muito antiga, muito...
P/1 – Uma galeria.
R – Isso e também é uma loja tradicional. Fotógrafo tem o estúdio do seu (Dinam?).
P/1 – (Dinam?)?
R – É, (Dinam?) Foto Arte.
P/1 – Que é onde?
R – Na Copacabana, perto da Dias da Rocha. Ele também se aposentou e quem esta tomando conta de lá também é a filha dele. Fotografia, em geral, é uma coisa que passa de pai para filho. Interessante isso, porque são poucas as áreas que os filhos se interessam, e fotografia o pessoal vem ficando... Vem seguindo a tradição dos pais. Tinha um fotógrafo também muito bom, que era o seu Michel, que já faleceu tem uns dois anos. Era ali na Menescal também, no terceiro andar. Era maravilhoso, ele fazia capa de CD para as maiores empresas de música.
P/1 – Mas é três por quatro?
R – O senhor Michel já não trabalhava com três por quatro não, ele fazia mais foto mesmo pra divulgação, era maravilhoso. Fazia revelação preto e branco, slide, trabalhava mais com essa parte profissional, e era um fotógrafo maravilhoso, foi uma grande perda na área de fotografia, porque todo mundo que conhece fotografia conhecia o seu...era (Michel Dordia?), eu acho, alguma coisa assim. Eu acho que ele era polonês, era muito bom. Até a filha dele tentou continuar com o estúdio, mas não... Ela já não tinha o conhecimento, então já se perdeu um pouco.
P/1 – E assim, na sua loja, essa coisa da sua avó tomar conta da loja, como é que ela era como uma gerente de loja? Enfim...
R – Os funcionários reclamavam bastante dela, diziam que ela era muito severa, muito dura, não gostava que sentasse, não gostava que encostasse, botasse os pés nas gavetas, porque lá a gente trabalha com o sistema de gaveta pra guardar as revelações...
P/1 – Descreve um pouco a loja, Karina.
R – A loja não mudou muito de estilo não, continua no mesmo estilo. Até a gente está pensando em fazer uma reforma, mas a gente fica com medo exatamente de perder essa coisa do antigo, da tradição. As vitrines são armários, são armários embutidos que viraram vitrine, foi até uma modificação que a gente fez, e o mesmo esquema, os caninhos para botar os filmes, tipo uma colméia né, onde________
P/1 – Mas de madeira?
R – De madeira, o estilo é todo de madeira, ainda. A parte da ótica a gente forrou com fórmica branca pra ficar mais clean, e a parte de fotografia continua com madeira, as vitrines são bem antigas mesmo.
P/1 – Mas a sua avó, por exemplo, expunha as máquinas fotográficas?
R – Expunha bastante, a vitrine da frente era só de máquina. Agora até mudou um pouco, tem muita máquina, tem relógio também, ótica, mas na época da minha avó tinha bastante máquina, ela só trabalhava com isso, então tinha aquelas máquinas antigas Leica, que eram enormes. Hoje as máquinas são todas pequenininhas, mas antigamente eram bem grandes.
P/1 – Quem era o cliente da sua avó no começo da loja, você saberia dizer? Quem é que comprava máquina fotográfica, artigos, assim...
R – É uma boa pergunta, porque esses clientes continuam indo lá até hoje, são... Tem uma cliente nossa que trabalha com restauração de azulejo, a Dona Dora Alcântara, que é um doce, era cliente de vovó. Tem até hoje os slides com o nome da Filme e Caneta impressa ainda no papelzinho. A clientela é bem antiga, que viram a gente pequena, eu e os meus irmãos, viram pequenos. Continua praticamente a mesma... Os avós frequentavam, os filhos, e agora os netos estão indo, alguns já têm bisnetos, e a gente vai vendo as fotos de antigamente. Tem muito cliente antigo nosso, muita... Que vai lá até hoje. E vira e meche passa as pessoas perguntando se ainda continuam os mesmo donos, perguntam pelo meu pai.
P/1 – Quer dizer, a loja de uma coisa da figura de vocês... A presença desse comerciante era importante pra que ele ________.
R – Isso, o pessoal sempre... Porque era uma das poucas lojas que o dono realmente ficava na loja, que criava um vínculo com o cliente. A gente brinca que a gente não tem cliente, a gente só tem amigo, então tem clientes que... Tem uma cliente que vai lá na loja todo dia bater papo, todo dia. A Ângela, todo dia ela vai lá. Ela chega assim, duas e meia da tarde, vai ao mercado e deixa o carrinho de compras dela lá na loja pra fazer outras coisas, então tem muito isso na nossa loja, a gente... O pessoal brinca que não é um comércio, é uma casa aberta para todos.
P/1 – Mas com a sua avó era assim?
R – Não tanto, a minha avó era uma figura mais fechada, começou mais quando o meu pai assumiu, que meu pai tinha uns amigos, aí os clientes... Até os clientes mesmo iam sempre, conversavam, acabavam se tornando amigos, acabavam viajando pra nossa casa em Penedos, ia muita gente. Até os próprios vendedores, que eram grandes vendedores da Fuji, Kodak, Colorarte, Curt, desses laboratórios, eram todos amigos, eram... Era um ramo muito assim, muito unido. Era um ramo muito bom, porque tinha muita gente boa trabalhando, então se tem grande amizade no meio. Inclusive até hoje a gente vê os concorrentes, a nossa loja com as outras, são todos concorrentes, mas é tudo amigos. Às vezes o nosso laboratório quebra e a gente revela na loja do vizinho. Quando o dele quebra a gente revela na nossa, indica cliente um para o outro, não tem aquela guerra: “Ah, se eu indicar para lá, depois o cliente não volta pra cá.”, porque tem aquilo do cliente ser amigo nosso. Então quando a gente não pode suprir de alguma forma o cliente, a gente indica outra loja, mas sabe quando de novo vai vir na nossa. Não vai trocar, não é a troca, porque tem um vínculo do cliente com a gente.
P/1 – Assim, você falou da propaganda da loja no... Como é que a sua avó anunciava, se fazia propaganda em jornal, em revista, como era a época...
R – Não, na época não tinha muito disso não, porque tinham muito poucas lojas de fotografia. Hoje que a fotografia é uma coisa que em cada esquina tem um, mas antigamente não, eram lojas tradicionais, era uma ou outra... Não tinha tanto, era uma coisa mais difícil, não tinha esse minilab, então era feito o sistema de coleta. A gente pegava os envelopes, mandava pra Fuji, pra Kodak ou pra Curt, então vinha o coletor, pegava, levava, no dia seguinte trazia. Então era por sistema de coleta, não existiam esses minilabs de hoje, não tinha revelação em uma hora.
P/1 – Quanto tempo demorava uma revelação na época da sua avó e do seu avô?
R – Olha, ao certo eu não sei não, mas na década de 60 já tinha 24 horas, que era a sensação. Mas no começo, realmente, eu não... Devia demorar dias, porque era uma coisa muito complicada.
P/1 – E era só preto e branco, era colorido...
R – Era só preto e branco, depois é que veio a colorida, que por sinal a preta e branca tinha muito mais qualidade.
P/2 – E você se lembra de quando começou, na sua época, a revelação em uma hora?
R – Olha, a gente começou a revelar em uma hora no final da década de 80, começo da de 90. A gente não tinha laboratório próprio, mas tinha assim, uma loja central em Copacabana. Por exemplo, a gente revelava na... Onde tem o shopping Aparte Hotel, que era a “vapt vupt”, que era uma loja Kodak, ali na Siqueira Campos com Barata Ribeiro, que tem outra galeria. Então a gente revelava lá. A gente pegava, saía alguém correndo da loja, ia lá, levava, e depois ia lá correndo buscar, porque em uma hora tinha que estar de volta. Às vezes atrasava um pouquinho, o cliente reclamava, mas era assim que era feito. Não era tanto... Não era tão fácil ter um laboratório. Agora tem um laboratório em cada esquina lá em Copacabana. No nosso quarteirão tem o nosso, o da ótica Suissa, tem o da Esquina da Foto, Mrs Suprise(?), Marina Foto, De Pla(?)... Tem duas e agora tem mais duas com laboratório digital na Siqueira Campos, uma na esquina com a Nossa Senhora e outra um pouquinho depois da esquina, na Barata Ribeiro. Então é muito... Ficou uma coisa assim, que tem uma em cada esquina. Ficou muito fácil revelar o filme.
P/1 – Mas por exemplo, o seu avô e sua avó, eles sabiam revelar?
R – Não, sempre foi revelado fora, sempre foi terceirizado. A gente começou a revelar na loja tem uns oito anos. Mais ou menos, foi quando a gente adquiriu o minilab, foi quando a gente mudou pra bandeira Fuji, que até hoje mantemos, mas...
P/1 – Antes era bandeira qual?
R – Ih, já foi tudo, já foi de tudo. Antes de Fuji agora a gente era AGFA, porque quando fecharam as importações, a AGFA saiu do mercado, ficou muito complicado, então a AGFA saiu. Com o Collor que foi aberta de novo as importações, a AGFA voltou. A primeira loja a ter AGFA na zona sul foi a nossa, inclusive queriam que nós fossemos distribuidor, tudo, mas a gente não ficou como distribuidor exclusivo, só ficou como revendedor. Tínhamos os letreiros AGFA, era uma das poucas... Uma das poucas não, era a única que tinha letreiro AGFA.
P/1 – Como é que era um letreiro AGFA?
R – O nosso letreiro era até bem simples, era só o nome da firma, “Filme, Caneta e Copacabana”, nas cores branca e laranja, que era da AGFA, e do lado o símbolo da AGFA, escrito AGFA. Era só.
P/1 – Pois é, eu perguntei a coisa de propaganda... Quer dizer, a sua avó não fazia propaganda, mas assim... Vinha impresso o nome da loja em que produtos, por exemplo?
R – Em tudo, nos envelopes aonde vinham as fotos, os negativos, tudo isso era personalizado, já era personalizado. O slide vinha, porque o slide... Na moldura vinha o nome da loja. Inclusive os clientes... Outro dia apareceu um cliente, até essa Dora Alcântara que eu comentei, ela chegou lá com um envelopezinho, com slides dentro, com o nome da firma. É bem interessante, porque eles também, os clientes acabam guardando também com carinho.
P/1 – E os negativos eram em que suporte?
R – Eram em envelopinhos de papel também, com...
P/1 – Não era plástico?
R – Não, era tudo papel. Agora é que é sleeve de plástico. Não é nem aconselhável, para danificar é mais fácil. O melhor é papel manteiga mesmo, como era antigamente.
P/1 – Karina, e quando deu essa mudança de nome da loja, que ao mesmo tempo ________.
R – De bandeira?
P/1 – Não, do nome da loja, que hoje o nome fantasia...
R – Não, continua como Filme e Caneta, só que como foi implantada a ótica, o Filme e Caneta não associava nada à ótica, aí, como eu era a caçulinha, meu pai resolveu colocar ótica Karina pra associar que tem ótica também. Continua no letreiro Filme e Caneta e ótica Karina, mas é mais conhecida como Filme, Caneta e Copacabana, por ser mais tradicional.
P/2 – Por que vocês resolveram trabalhar com ótica?
R – Exatamente por cada esquina ter uma loja de material fotográfico, entendeu? A gente sempre teve o diferencial de não só trabalhar por trabalhar, a gente trabalhava por entender. Tanto que, qualquer dúvida que o cliente tinha, as vezes comprava a máquina em algum lugar e falava: “Poxa, eu cheguei lá e não sabiam me explicar como funcionava, pra que isso funcionava, e a gente sempre teve esse diferencial de... Conhecendo o produto, sempre foi um princípio que o meu pai ensinou a gente: “Chega material, você não sabe, lê manual, pega o manual, leva pra casa e lê. Chegou máquina, você não sabe, pega ela, bota um filme, faz um teste, vê todas, o que pode. Lê o manual e faz o teste para ensinar o cliente certo.”. E a gente sempre teve muito desse diferencial, e também da pessoa lidar com o dono, porque é diferente você lidar com um vendedor e lidar com o dono. O dono com certeza vai ter carinho em te ensinar, mais atenção até para lidar do que um vendedor, vendedor está ali, como já diz o nome, pra vender. Ele não vai chegar e falar: “Olha, não leva esse porque esse tem essa desvantagem.” Coisa que a gente faz e que os clientes falam muito é isso, quando o cliente procura uma coisa: “Ah, eu quero uma coisa que seja pra isso.” Aí a gente já fala: “Olha, tem esse mas tem esse, mas esse é mais direcionado para o que você quer.” Então a gente entende melhor pra poder orientar o cliente na melhor escolha.
P/1 – O seu pai entra no ramo em que ano?
R – O meu pai sempre teve, desde novo ele sempre esteve na loja, mas em 83, 84, minha avó começou a ter problema de coração, ela ia só de manhã, aí ele começou a assumir mais, mas ele sempre esteve presente na loja.
P/1 – Quer dizer, sempre teve ou o seu avô, depois sua avó, seu pai, e agora vocês. É uma geração dos filhos ali na loja.
R – Nós estamos lá eu e o meu irmão, só nós mesmo, tem uns sete anos, foi quando... Não, tem menos, tem uns cinco seis anos, foi quando meu pai teve duas isquemias seguidas, aí não conseguiu mais ir. Então no começo a gente ficou meio atolado, porque era aquela coisa, nós já estávamos lá, mas nós estávamos como funcionários, a gente não resolvia nada. Ele falava: “Compra isso, mas você liga pra tal pessoa...”, entendeu? Ele mandava, a gente fazia, não era aquela coisa “vai se virar”. Quando ele não pode mais ir é que a gente começou a tomar na cabeça, porque teve que se virar mesmo, teve que começar a aprender a comprar, de quem comprar, como pesquisar. Mas ele sempre esteve lá como cabeça, quando ele não pôde mais ir a gente se enrolou bastante.
P/1 – Quer dizer, você tinha uma coisa de frequentar a loja como loja dos avós, mas assim, havia certo elo com esse ramo, ou alguma paixão, ou algum interesse pelo ramo de fotografia seu e do seu irmão? Ou foi o que acabou...
R – O meu irmão do meio sempre gostou muito, eu e meu irmão mais velho nós não nos interessávamos muito não. Foi mais depois pelo que a gente ia pra se divertir, no começo não era trabalho, era diversão, porque a gente ia... Por exemplo, eu comecei a ir com 16 anos, porque tinha entrado pra faculdade, fazia faculdade à noite e meu pai falava que “cabeça vazia era oficina do diabo”, então eu tinha que fazer alguma coisa de útil. Estudava à noite... “De manhã você vai estudar mais do que você aprendeu à noite, você vai repassar a matéria, e à tarde, que você não está fazendo nada, você vai pra a loja”. Aí eu comecei como diversão, ia para o banco, ia fazer entrega, e ficava na loja atendendo o balcão e tudo, mas era mais uma diversão do que um trabalho, e com o tempo que a gente começou a pegar mesmo como trabalho. Meus irmãos iam para a loja com 12, 13 anos, eles já iam para a loja, porque eles não gostavam muito de estudar, e o meu pai não queria que eles ficassem à toa. Até mesmo pelo perigo das drogas, dos vícios, das más companhias, então ele sempre botou... Sempre deu uma ocupação pra eles, eles com 12, 13 anos iam para a loja todo dia, das quatro e meia até as sete.
P/1 – Como era o horário de funcionamento das lojas?
R – Nossa loja funcionava de oito e meia até às sete, todo dia. Nós éramos a primeira loja a abrir e geralmente a última a fechar, porque sempre tinha uma amigo que ficava até mais tarde. Era às sete que fechava, mas a gente sempre ficava até sete e meia, oito horas.
P/1 – Você sabe me dizer se isso era também no começo, na época dos seus avós?
R – Era, era, e minha avó era muito rigorosa com horário, o funcionário tinha que estar lá sempre antes dela, porque se chegasse depois tomava uma escovada dela.
P/1 – Mas a Galeria Menescal, qual era o horário de funcionamento e qual é hoje?
R – Antigamente eu não sei, hoje abre às oito e fica das oito da manhã às oito da noite, de segunda à sexta, sábado das oito às quatro e domingo não abre, só em datas especiais como Natal, véspera de Natal... Quando os lojistas quiserem ficar, abrir no domingo, eles abrem, mas normalmente não abre não, por ter residência também, fica mais seguro o acesso restrito.
P/1 – Você poderia dizer assim, qual é a época do ano que você acha que é melhor pro seu negócio? Existe isso no seu ramo de fotografia?
R – Atualmente não, o comércio está ruim, em geral. Todo mundo, em todos os ramos estão reclamando. Mas antigamente, sempre essas festividades, dia das mães, dia dos namorados, sempre teve, porque as pessoas costumavam fotografar Natal, réveillon, férias. O que o pessoal, todo mundo reclamava é que mês de janeiro e fevereiro era fraco; pra gente era sempre bom, porque tinha aquela coisa das férias. Julho tinha muito turista, coisa que não está tendo muito em Copacabana, agora caiu muito a frequência de turista, mas sempre essas épocas festivas tinha.
P/1 – Mas por exemplo, a máquina fotográfica como um meio de consumo era comprada mais do que há dez anos atrás? Hoje se compra mais, se compra máquina pra presentear, por exemplo?
R – Não, atualmente ninguém dá câmera fotográfica de presente pelo valor, mas uns oito anos atrás, mais ou menos, a gente vendia mais, muita máquina.
P/1 – É?
R – O Comércio era muito bom, de material fotográfico. Eu lembro que teve um Natal que a Regina Casé fez a propaganda da Polaroid, que a gente encomendava assim, 30 máquinas, e as 30 já chegavam e já estavam vendidas. Quando chegava a gente já estava encomendando de novo, porque arrebentava de vender com a propaganda da Regina Casé, que acabava... Não dava nem tempo de chegar, quando chegava já estava tudo vendido. E também as firmas davam muita máquina até para os funcionários, eu lembro que tinha encomenda assim, de firmas grandes, de 40, 50 máquinas na época de Natal.
P/1 – Elas eram clientes de vocês, as firmas?
R – Eram, eram sim. Inclusive a Fundação Roberto Marinho um tempo ficou como nossa cliente, bastante tempo, até, ali no Rio Cumprido. A gente ia pegar, levar. Tinha assim... Quem mais? Tinham os cirurgiões plásticos, que também eram clientes nossos.
P/1 – Hum, que interessante, levava o antes e o depois?
R – _________...Exatamente, inclusive a encarregada de levar e buscar era eu, eu que ia buscar os filmes, porque como a clínica dele era ali no Maetá, não tinha muito ônibus, o acesso era mais difícil, de Copacabana não tinha condução direto, tinha que pegar duas conduções. E eu já estava com 18 anos, já ia, pegava o carro e...
P/2 – Quem era ele?
R – Doutor Marcos Szpilman. Então eu que ia levar, buscar... Aí, vira e mexe, como ele era amigo do meu pai a muitos anos, eu entrava para ver as fotos, e ele me mostrava o antes e o depois.
P/1 – Você olha as fotografias?
R – Às vezes, porque geralmente... Tem um rapaz que trabalha no laboratório, mas vira e mexe, quando ele falta, quando ele se atrasa, quem revela sou eu, então a gente tem que ver, a gente está ali, a gente tem...
P/1 – Você gosta de ver fotografia dos outros?
R – Depende, depende, de gringo eu não gosto de ver não. Dos gringos eu já não sinto muita vontade de ver, porque as fotografias...
P/1 – É mais barra pesada as fotos que fazem.
R – É.
P/1 – E eles revelam em loja assim, qualquer?
R – Qualquer uma.
P/1 – Qualquer foto?
R – É, e teve uma história interessante, eu não sei nem se eu poderia contar, mas é verdade. Aquele Cônsul de Israel que saiu do Brasil acusado de pedofilia, ele era nosso cliente, e nós não sabíamos, porque o rapaz do laboratório que revelava. Aí quando saiu aquela coisa, aquela foto no jornal, o garoto olhou e falou: “Eu fiz essa foto.” E quando a gente viu ele era realmente nosso cliente. As fotos eram todas reveladas lá.
P/1 – Do Consulado?
R – Era do lado, então o rapaz via, mas não... É sigiloso, o que botam lá pra revelar, podem botar o que for, a gente não pode... Ele via porque ele tem que ter o controle de qualidade, ver se saiu com alguma sujeira, alguma coisa assim, mas...
P/1 – Fotografia é muito interessante. Quer dizer, você tem uma loja, a maior parte, provavelmente, eu não sei, dos seus clientes, são fotografias mais afetivas, ou... É assim?
R – É.
P/1 – É assim. Família, reunião, passeio, viagem. Quer dizer, a fotografia representa história de famílias. Como é para você lidar com isso? Se bem que é ver fotografia, por exemplo, de casamento de um, ver viajem de outro...
R – A gente conhece a família inteira, a gente conhece o mundo inteiro pelas fotos, porque a gente tem muito disso, dos amigos, dos clientes amigos, então eles fazem questão. Às vezes eles viajam, fazem questão de abrir para mostrar pra gente, ou leva pra casa e trazer o álbum de volta pra gente ver, tem muito disso, a gente conhece o mundo inteiro. Aí teve um caso interessante, que a gente revelou as fotos do parto do neto de um cliente, que era cliente da minha avó, já era o bisneto dele nascendo. Então a gente vê isso tudo, é bem interessante.
P/1 – A maior parte dos seus clientes são homens ou mulheres, você saberia dizer?
R – Meio a meio, não tem mais um do que outro. São muitos os casais antigos, né. Coisas que a gente vê, essa semana foi uma senhora levar as fotos de Bodas de ouro para a gente ver, então tem muito... Antigamente eram muitos casais, então tem filhos, filhas, não tem mais homem ou mulher.
P/1 – E faixa etária, você tem...
R – Ah, tem todas. Tem agora minhas clientezinhas, que são os bebês dos que vão lá. O interessante é que as crianças... A loja tem doces, porque as crianças falam pra mãe: “Pode ir, porque a gente vai ficar aqui com o tio Cláudio...”, que é o meu irmão, que é difícil o nome pras crianças, eles o chamam de “Claudios e tia Karina”, então...
P/1 – Você tem doce? Como assim?
R – A loja né, porque as crianças ficam e querem ficar lá.
P/1 – Aí que você oferece?
R – Não, a gente não oferece nada. A gente diz que tem doce porque elas querem ficar lá.
P/1 – Ah, tá..
R – Elas querem ficar lá de qualquer jeito, falam pra mãe: “Não, pode resolver o que você tem que resolver que a gente vai ficar aqui com eles.”, e ficam, brincam.
P/1 – Assim, agora falando em termos de produto, quer dizer, o que a sua loja vende, hoje?
R – Material fotográfico, câmeras, filmes, pilhas, baterias, relógios, despertadores, canetas, porta-retratos, álbuns, essa parte toda de material fotográfico e também de ótica; armações, óculos de sol, lentes com grau, não lentes de contato, pra óculos mesmo. É isso que a gente trabalha, porta-retratos, máquinas.
P/1 – Mas o seu cliente maior é pra ótica ou pra material fotográfico_______?
R – Depende da época do ano.
P/1 – Você pode falar sobre isso?
R – Nas férias é mais fotografia, na volta às aulas começa mais os óculos, as crianças precisando de óculos para ir para a escola, sente uma dificuldadezinha e assim... No resto da época do ano é mais ótica mesmo, o pessoal trocando, mas...
P/1 – Hoje se usa ainda muito óculos, se usa mais lente de contato...
R – Não, bastante óculos. Eu não sei, eu sou uma que não sou adepta à lentes de contato, prefiro armação. Ainda mais agora, que as armações... Tem de tudo quanto é tipo, de tudo quanto é gosto. Tem aquelas quase transparentes, que quase não aparece, tem aquelas de zilo vermelho, tem as coloridas. Agora a super moda são as armações de zilo, de acetato, que são tipo plástico; as pessoas falam de plástico, coloridas. E tem bastante novidade, muita cor; vermelho, azul, lilás com rosa, chapa de três cores, que na frente ela é de uma cor e por dentro ela é de outra, então está bem diversificado, o mercado. Tem as armações de metal também, então o pessoal continua optando pelos óculos exatamente por isso, pela variedade.
P/1 – Como é que é uma cliente quando vai comprar um óculos, quanto tempo ela fica dentro de uma loja?
R – Depende, tem umas que chega já com aquela ideia: “eu quero assim, assim, assim”, que em meia hora resolve. Mas tem outras que ficam duas horas, aí voltam no outro dia com alguém pra ajudar...
P/1 – Ah, para dar opinião.
R – E que ainda não consegue se decidir, volta outro dia... Vai muito do cliente.
P/2 – Como funcionam as lentes que vocês, esse processo de a pessoa chegar com uma receita para comprar os óculos?
R – Isso. A gente não trabalha com médico porque a gente acha até errado. Apesar de ser contra a lei médico ter ótica, o que mais tem é médico com ótica, médico que indica ótica, ótica que indica o médico. Porque nisso tudo que o médico indica a ótica, eles querem comissão, ou seja, você fica obrigado a dar de 30 a 40 por cento da sua venda para um médico que não fez nada, ele só fez o exame e falou para o cliente ir naquela ótica. Tem alguns médicos que levam os clientes até a ótica, que é um absurdo, mas a gente vê muito disso. E lá na loja a gente não tem isso, o cliente vai porque já é conhecido nosso, o nosso preço costuma ser mais barato por a gente não precisar pagar nada pra ninguém. E trabalha eu e o meu irmão, um funcionário que tem não trabalha na parte de ótica, então a gente consegue reduzir os custos, mas o cliente vai por afinidade mesmo, não é por indicação nem nada.
P/2 – Mas vocês fazem isso com as lentes?
R – Não, as lentes já são prontas no laboratório. A gente compra de um laboratório, vem as lentes... As lentes, quando vêm, vêm redondas, inteiras, e a gente manda num lugar pra cortar, num montador que a gente chama, onde ele corta no modelo da armação e encaixa. As lentes já vêm prontas, não é a gente que faz não.
P/1 – Quem usa mais óculos, mulher ou homem?
R – O homem prefere os óculos, a mulher já tem mais o negócio da vaidade, algumas preferem lente, até para eventos, assim: “Ah, eu vou levar esses óculos para o dia a dia, mas eu queria comprar lentes de contato para uma festa ou para um casamento.”, já tem mais o negócio da vaidade. E não são todos que querem admitir, ainda mais meia taça, aquele óculoszinho que bota aqui na ponta do nariz, tem umas que abominam, “ah, eu vou botar o grande, porque ninguém pode ver que é pra leitura, só”. Porque entrega a idade, que a pessoa começa a usar o óculos pra leitura a partir dos 40, então a mulherada... A gente morre de rir com as clientes de lá.
P/2 – E óculos de sol, assim?
R – Óculos de sol tem bastante, até, saída.
P/1 – Se vende mais óculos de sol hoje do que se vendia?
R – Não.
P/1 – Não?
R – Não, porque...
P/1 – Agora, tem alguma coisa mais de moda ou de proteção? Diz que tem que usar...
R – Mas o pessoal não se liga nisso, o pessoal se liga no preço, aí vai e compra no camelô. O camelô vende a cinco reais, ele vai lá e compra, só não sabe que está prejudicando a vista dele, porque as lentes não têm curva corrigida, então acaba tendo até certo grau. Ou, quando não tem grau, tem problema de eixo, essas coisas todas que acaba entrando mais luz do que o necessário na retina, acaba dando problema de retina, entendeu? Porque as pessoas não sabem, as pessoas querem pagar barato, não querem saber da qualidade.
P/1 – Você tem um fornecedor, a indústria de óculos é brasileira, é importada...
R – Não, a maioria, as de melhor qualidade são importados. A maior empresa que a gente trabalha é a Luxottica, que tem a grife da Ray Ban, da Killer Loop, tinha do Giorgio Armani, mas perdeu há pouco tempo. Tem a (Esperoflex?), também é da... É do mesmo grupo, é uma empresa que detém...
P/1 – ________
R – É a Luxottica, italiana.
P/1 – Italiana?
R – É, a maior empresa ótica do mundo.
P/1 – Mas vocês são importadores diretos?
R – Não, não, a gente compra da própria Luxottica, tem uma representação aqui no Brasil que é em São Paulo. Então ela detém a maioria das marcas, dessas grandes grifes. E tem também os óculos Chanel, Gucci, já são marcas que a gente não trabalha, mais também bem conhecidas, que são mais pela grife.
P/1 – Qual é a primeira coisa que você diz para um cliente que queira comprar um óculos?
R – Qualidade, que é o essencial. Inclusive uma vez o meu irmão brigou comigo porque eu falei pra cliente que... Ela chegou, perguntou o preço de um Ray Ban, aí eu falei: “Custa 280 reais.” “Nossa, mas esse óculos é muito caro.”, só que eu não me seguro, eu vou por impulso. Eu olhei pra ela, ela estava com uma calça da Forum, uma calça jeans da Forum que deve ter custado mais do que isso, aí na mesma hora eu falei: “A senhora me desculpa, mas pra mim caro é essa sua calça, porque deve ter custado mais do que esse óculos e não lhe traz benefício nenhum. O óculos protege a sua vista dos raios UV-A, UV-B, tem toda a proteção.”. Meu irmão quase me matou, mas eu não consigo, eu solto, sabe. O pessoal brinca muito comigo lá na loja porque eu sou a mal humorada, porque eu solto.
P/1 – Gente...
R – Tem as pérolas que eu não aguento segurar.
P/1 – E o que a moça falou?
R – Ela falou: “você tem toda razão”, e acabou comprando os óculos.
P/1 – A sua autenticidade, então...
R – Mas é, porque as pessoas às vezes gastam uma fortuna numa roupa e vê que não traz benefício nenhum, é só um pedaço de pano que elas estão vestindo, e o óculos não...
P/1 – É a marca do pedaço de pano.
R – Mas o Ray Ban também tem uma marca e traz a proteção, traz a qualidade, então...
P/1 – Essa é a primeira dica quando você quer comprar um óculos?
R – É. E teve uma vez também que eu tive um problema sério com a cliente que falou que eu não tinha que me meter na vida da filha dela, porque veio uma menininha que devia ter uns dois anos de idade, com biquinizinho, uma garotinha linda, com óculos vermelho em formato de coração, aí eu falei: “A senhora vai pra praia?”, ela falou: “Eu vou.”, eu falei: “Poxa, não leva a sua filha com esse óculos, porque é lente vermelha, ela deixa entrar mais luz do que o necessário na retina da sua filha, pode até queimar, dar um problema sério.”. Ela falou que aquele óculos vinha com uma sandália e não era possível que o vendedor da sandália fosse fazer um negócio que fosse prejudicar. Ou seja, ela preferiu acreditar numa pessoa que vende sandália, que não tem nada a ver com a área, do que ouvir o conselho de uma pessoa especializada naquilo. Como o ano passado foi febre o pessoal usar óculos amarelo, laranja, e a nossa ótica era a única que não tinha, chamou até atenção do jornal do comércio exatamente por isso... Não, não foi jornal do comércio não, foi outra... Foi uma reportagem pra televisão, não lembro qual, até que o meu irmão foi entrevistado, porque acharam interessante uma ótica que não tinha um óculos com a lente amarela ou laranja na vitrine. E a gente não trabalhava, porque as pessoas estavam usando errado. Então a gente não queria levar a culpa de vender um óculos, da pessoa ir com um óculos amarelo pra praia, ter um problema de vista e botar a culpa na gente, que não avisou. Porque a maioria não avisa, quer vender, e não pensa nas consequências que pode ter.
P/1 – O que você acha, como comerciante, assim, uma atitude sensacional, ética da parte de vocês, mas como comerciante... É isso, muitas outras óticas vendem óculos vermelhinho, laranja...
R – É.
P/1 – Qual é a posição, então, como comerciante, deixar de vender um produto...
R – A gente deixa de vender, mas não prejudica outra pessoa. Pra gente o importante é chegar em casa, poder dormir tranquilo, sabendo que a gente estava fazendo o trabalho certo. Como... A mesma coisa com os oftalmologistas, que às vezes vão lá na loja e falam: “Ah, eu indico clientes”. A gente não quer exatamente por isso, a gente quer... A gente sempre foi ensinado a ter nossa ética acima de tudo, que pra gente o mais importante, o fundamental é ter consciência tranquila de que a gente está fazendo o nosso trabalho certo, então o dinheiro fica... É importante, mas não o principal.
P/1 – A gente falou, por exemplo, desses óculos amarelo e vermelho né. No fundo, são mudanças do ramo. Na parte de fotografia, uma das mudanças maiores (talvez?) seja a entrada do ramo digital.
R – Isso.
P/1 – Como é que vocês vêm isso em termos de ramo de comércio, enquanto produto?
R – Olha, lá na loja nós ainda não estamos trabalhando com digital porque na situação atual é um investimento alto, um laboratório digital. Uma estação digital de última geração da Fuji custa cerca de 160 mil dólares, então é um investimento muito alto, e o ramo já tem muita... Em Copacabana já tem duas lojas que têm...
P/1 – Tem o que?
R – Essa estação digital.
P/1 – Que é revelação...
R – Revelação comum ________, filmes 135. A revelação de filme é PS e a impressão de fotos de computador também, dessas máquinas digitais, então ela faz de tudo, essa máquina. Mas é um investimento muito alto, e é um ramo que já está meio saturado, pela quantidade. Tem dois, um em cada esquina da Siqueira Campos; um na Barata Ribeiro, outro na Nossa Senhora de Copacabana, e o comércio não está bom para o investimento tão alto assim, apesar de o brasileiro agora ganhar para comer, para se alimentar, para tomar cervejinha no final de semana e pagar conta de celular. É que quando o celular chegou aí, tomou uma parte da fotografia, porque antigamente o pessoal gastava um pouco em fotografia, mas com o celular, o pessoal agora está gastando com a conta do celular, não sobra pra fotografia. A não ser que seja um batizado, uma primeira comunhão, um aniversario, um Natal, alguma coisa assim especial, mas não é mais como era.
P/1 – Assim, é interessante essa avaliação. Quer dizer, o mercado fotográfico também se adapta a essa... Adapta não, quer dizer, ela é...
P/2 – Afetada.
P/1 – É.
R – É, acabou sendo afetada também pela...
P/1 – Afeta...
R – Porque algumas lojas de fotografia começaram a trabalhar com celular. É comum, você vê fotografia, celular junto, que como começou a pegar uma parte da área o pessoal trouxe também pra dentro da loja de fotografia.
P/1 – Mas fotografia, ao mesmo tempo, um ramo da fotografia barateou. Hoje revelar um filme é mais barato do que era.
R – Em termos, porque antigamente o pessoal, apesar, de ser mais caro, o pessoal ganhava pra poder pagar. Atualmente não, os custos no mercado mesmo... As coisas aumentaram tanto, o salário está congelado, aumentou agora há pouco tempo, mas mesmo assim... Tudo aumenta: luz aumenta, telefone... Então o pessoal ou paga as contas de casa ou fotografa.
P/1 – Quer dizer, na sua opinião diminuiu esse...
R – Diminuiu. Apesar de ter barateado, quem mais tirava foto assim, muita parte de nossa clientela era o pessoal mais humilde, que queria ter, por exemplo: “Ah, eu vim do Ceará, eu vou tirar foto para mandar pro meu pai que esta lá.” Então esse pessoal já não tem um dinheiro pra fazer mais, apesar de ter barateado, o poder aquisitivo diminuiu. E com o digital... Há quatro anos, mais ou menos, lançaram o APS, que é um sistema novo – era né –, um filme que não tinha lingueta pra fora, que só tinha um jeito de botar na máquina. A máquina puxava sozinha, você não errava a colocação. Não pegou no Brasil por isso, porque o pessoal não tem dinheiro pra trocar a máquina, só troca de máquina mesmo quando quebra e quando precisa, porque se quebrar e ele não precisar, deixa lá, fica sem máquina.
P/1 – Mas ainda se concerta muita maquina fotográfica ou hoje se joga fora? É muito caro a mão de obra pra consertar máquina?
R – Depende, depende do problema e do tipo de máquina. Tem gente que às vezes deixa cair e quebra o feixinho, feixinho o pessoal manda consertar. Agora, se der um problema no circuito do zoom, aí já é melhor comprar uma nova, porque...
P/1 – A mão de obra é cara?
R – Até... Nem isso, as máquinas saem de linha muito rápido, então para conseguir esse circuito, sai muito caro. É mais antigo, então vale mais a pena comprar uma nova.
P/1 – Qual a sua dica para quem quer começar a fotografar? Qual é a máquina para um aprendiz?
R – Aí depende do que a pessoa quer fotografar. Se quiser uma fotografia amadora, comprar uma dessas pequenas, compactas, ou da Canon, Olympus, são marcas boas, têm assistência técnica no Rio, Yashica, aquelas que fazem tudo sozinho. Agora, se a pessoa quiser trabalhar mesmo com profissional, tem câmeras profissionais hoje também fazem tudo sozinhas, tem as da Canon, a linha EOS, que é... Você bota no botãozinho verde lá que ela faz tudo sozinha. E se você quiser mudar asa, ela tem todos os recursos, é uma maquina profissional pra amador, também. Então aí depende do que a pessoa queira, o tamanho da máquina...
P/1 – Você fotografa?
R – Mais ou menos. Eu fotografo como amadora, com as máquinas compactas.
P/1 – Você trouxe uma porção de fotografias em preto e branco pra gente mostrar no projeto...
R – Isso.
P/1 – Alguém da família fotografava? Seu pai, teu avô, tua avó?
R – Meu pai, meu pai gostava muito de fotografia. E por isso acho que a gente não gosta tanto de fotografar, porque a gente cansou. Toda hora, a gente pequeno, já tinha uma maquina apontada pra gente, então... Eu olhava pra máquina e já falava: “Ah não, de novo não.”
P/1 – Karina, agora fala um pouquinho sobre embalagens, pacote, como era e com é.
R – Não tem muita mudança das embalagens não, geralmente a máquina fotográfica, quando é pra presente, a gente faz o embrulho no papel de presente, como antigamente, não...
P/1 – Mas sempre houve papel de presente na sua área? Teu avô tinha papel de presente, você saberia dizer, a tua avó?
R – Eu acho que sim, pelas fotos tinha lá os rolinhos de papel...
P/1 – É, aqueles rolos assim de... Grandão e pequeno.
R – Isso, que a gente tem até hoje lá na loja.
P/1 – Mas você usa?
R – Uso, fica guardadinho lá no cantinho, quando o cliente quer a gente tem a embalagem, a sacolinha de presente, mas às vezes o cliente não quer que bote direto na sacola, quer que bote um papel antes. A gente embrulha num papel de presente e bota na sacolinha.
P/1 – A sacolinha você sabe quando foi introduzida na sua loja?
R – Quando eu era pequena já tinha.
P/1 – Sacolinha de plástico?
R – É.
P/1 – Ou é de papel?
R – É de plástico. Na época que eu era pequena era da Fuji, a Fuji que fornecia, então não era com logotipo nem nada da loja, atualmente é com logotipo da loja, tudo.
P/1 – Qual é o logotipo da sua loja?
R – É só escrito Filme, Caneta e Copacabana nas letras antigas mesmo, não tem uma... Com o mesmo tipo de letra que era escrito antigamente, letra do tipo máquina de escrever.
P/1 – Ah é? E assim, capinha pra óculos, isso mudou?
R – Um pouco.
P/1 – Antigamente era caixa, agora é aquele saco. Você se lembra disso?
R – Não, a gente trabalha ainda com os dois tipos. É porque tem cliente que... Também depende do óculos, o óculos mais frágil a gente bota no estojinho duro, né.
P/1 – Estojo, é, caixinha.
R – E quando é mais curvo, já não cabe no estojo e tem que colocar no saquinho. Mas aí depende também dos óculos, tem todos os tipos; têm os menorzinhos pra meia taça, os maiores pra óculos normal, e tem cliente que não quer o mole, tem cliente que só quer o duro; tem cliente que não quer duro, quer mole, apesar de ser frágil, aí quebra... Mas tem todo tipo, num... O que eles inventam às vezes é um modelo mais bonitinho, uma cor mais atual, mas continua sendo a mesma coisa. O preto, o marrom e o cinza são os predominantes.
P/1 – Óculos, armação?
R – Não, os estojos. Tem um cliente ou outro que gosta de um azul, de um colorido, mas a maioria prefere um marrom, um preto.
P/1 – E essa mania hoje... Mania não, quer dizer, um hábito hoje, que muita gente que usa óculos pendura os óculos naquele...
R – Num cordãozinho.
P/1 – Num cordãozinho. Você sabe datar quando é que isso entrou, quando é que se tornou mais moda?
R – Quando a gente começou a trabalhar com ótica, que tem mais ou menos uns dez anos, já tinha. Na época era aquele cordãozinho preto, que tem até hoje – cadarço que eles chamam –, que é feio demais...
P/1 – Feio à beça.
R – Depois vieram as miçangas, depois vieram contas. Chegaram a ter de ouro, bastante correntinha de ouro, mas a data certa eu não sei. Quando a gente começou no ramo de ótica, dez anos atrás, já tinha.
P/1 – Que hoje você vê mais gente com óculos pendurado do que... Antigamente você via óculos, todo mundo colocava óculos pra cima...
R – Aí começou a quebrar muito e o pessoal não tem dinheiro pra comprar outro, o pessoal começou a preservar.
P/1 – Antigamente os óculos eram pra cima, agora óculos é pendurado.
R – Fica até um perigo, se tomar um abraço, lá vão os óculos.
P/2 – Voltando assim um pouquinho na embalagem. Aquele saquinho, no caso, pra colocar o óculos, tem o nome da loja?
R – Tem, a maioria tem. A não ser que seja um óculos, por exemplo, a Ray Ban tem estojo próprio, e as pessoas fazem questão do estojo. Como a gente tem um óculos da Fendi, que é uma grife super famosa, super cara, e a gente teve uma promoção que os óculos saíam a 150 reais, teve muita gente comprando por causa do estojo, porque o estojo na loja da frente custava 300 reais, só o estojinho, por causa da grife. Então a pessoa acabava comprando os óculos que não ia fazer nada, só por causa do estojo.
P/1 – Nossa, pra quê, pra botar caneta depois?
R – Não, pra usar como estojo de óculos mesmo. ________
P/1 – ______
R – Porque aquele estojo sozinho na loja custava 300 reais, e lá na loja custava 150. O pessoal comprava pra tirar uma onda.
P/1 – Que coisa, hein. Fala dessas promoções.
R – É, de vez em quando... Sempre tem quando muda a coleção, aí...
P/1 – Como é que muda uma coleção de óculos, Karina?
R – Está sempre mudando, mas atualmente não tem mais aquela coisa de ficar ultrapassado, porque tudo está na moda, então a moda hoje está assim, vai mais do estilo da pessoa. Tem pessoas que gostam daqueles óculos enormes pretos? Tem. Tem pessoas que gostam daqueles pequenininhos, que não aparecem? Tem. Então não tem muito isso de moda, as promoções hoje já não são iguais as de antigamente, porque saía de moda e ninguém mais queria mesmo, “Ah, é ultrapassado”, atualmente nada é ultrapassado, tem pessoas pegando armações da avó para fazer. “Ah, essa armação é da minha avó, vou fazer.” Ano passado a Gisele Bündchen usou aquele modelo tradicional da Ray Ban, o aviador, que voltou super na moda, e começou a ter falsificação adoidado por aí, com a lente rosa, com lente verde.
P/1 – Mas quando você faz promoção, onde é que você anuncia, como é que é a sua chamada?
R – Não, a gente geralmente... A nossa é mais boca a boca mesmo, a gente não faz muita propaganda não, inclusive pelo tipo de loja que é, não tem muito disso de anunciar, de...
P/1 – Mas você coloca um cartazinho na loja, por exemplo?
R – É, geralmente.
P/1 – Dentro da vitrine?
R – Antigamente a gente botava o... Que a gente chama de “Marcelo Maluco”, que é uma figura conhecidíssima em Copacabana, dos chifres, que fazia a promoção... Faz propaganda pelas ruas da Cogumelo, que ele andava com um cogumelo na cabeça, andava com chifres, não sei se você...
P/1 – Um altão.
R – É, um grandão. Eu chamo ele de Marcelo Maluco até hoje por isso, desde pequena eu vejo aquele cara fazendo essas propagandas. Ele era Papai Noel, ele fazia Papai Noel na galeria...
P/1 – Menescal?
R – Isso, quando... Até meu pai levou ele em casa lá vestido de Papai Noel, eu chorei a beça, eu tinha meses, tinha nove meses, mais ou menos. Abri o berreiro com medo daquela figura estranha entrando na minha casa.
P/1 – E aí ele faz a propaganda pra vocês?
R – De vez em quando.
P/2 – ___________
P/1 – Quinze minutos, ótimo. ____Ele fazia pra loja?
R – Isso.
P/1 – Mas como ele anunciava um óculos ou um...
R – É, com panfleto, ele ia distribuindo nas ruas, o panfleto.
P/1 – Quando é que você acha que entra esse estilo de publicidade, que é panfleto pra dar para os passantes?
R – Geralmente em véspera de alguma data. Véspera do dia das mães, dia dos pais, dia dos namorados, Natal, geralmente nessa época que a gente costuma fazer.
P/1 – Mas quem introduziu isso foi você e teu irmão ou seu pai já fazia?
R – Meu pai já fazia, meu pai já fazia isso.
P/1 – Você estava contando anteriormente pra gente. Quando você era pequena, você lembra também de um bonequinho que era um chamariz da propaganda...
R – Era o robozinho da Curt.
P/1 – Pois é, conta um pouquinho...
R – Ele ficava lá na porta da loja, era um robozinho que se mexia, falava, dava prêmios, aí tinha aquela festa toda na porta da loja. Era um robozinho bem legal, prateadinho, desse tamanho mais ou menos, a criançada fazia uma festa, adorava.
P/1 – Quem era Curt?
R – Curt era um laboratório, laboratório fotográfico de revelação, tinha a Fuji, a Colorarte, a Kodak, Curt.
P/1 – Ainda tem o Curt?
R – Acho que não... Bom, não tem não, que eu conheça, não.
P/1 – Mas o robô falava?
R – Falava. Falava porque tinha alguém por trás, mas falava, piscava os olhinhos, era superinteressante, era bem legal mesmo.
P/1 – Pra anunciar o que, material fotográfico?
R – É, ele ficava um dia na semana, ficava lá na loja fazendo propaganda do laboratório Curt.
P/1 – Agora, sobre sistema de pagamentos, Karina, qual é a moeda mais vendida: cartão, cheque, dinheiro?
R – Cartão... Não, cartão.
P/1 – E o que isso mudou ao longo dos anos, na sua opinião?
R – Antigamente praticamente ninguém trabalhava com cartão, e atualmente é só o que existe, é dinheiro de plástico. Muito difícil a pessoa andar com dinheiro e cheque, é bem arriscado. A gente aceita no comércio porque, por mais que a gente peça documento, por mais que a gente confirme endereço e tudo, tem golpe pra tudo.
P/2 – Quando ________cartão de crédito, você se lembra?
R – Há uns cinco anos, uns cinco anos atrás, aí começou uma forma de pagamento mais utilizada, passou a ser cartão. Tinha uma coisa interessante que eu tinha comentado com vocês antes do jogador, do Júnior, que é...
P/1 – Ah é, conta.
R – Que é também amigo do meu pai lá, e diz que o primeiro time que ele jogou foi o Filme e Caneta, no Aterro. Meu pai tinha time de futebol e tudo.
P/1 – Ah, que bacana! De que, de empregados da loja?
R – É, de empregados, amigos. Aí tinha lá a Fuji, a Kodak. Às vezes davam um jogo de camisa, aí iam para o Aterro jogar. Inclusive o Júnior jogava lá no time.
P/1 – Ah, que legal.
R – É que o Júnior foi criado ali na Figueiredo Magalhães, então meu pai... Minha mãe e meu pai eram da turma de _____de Gouveia, e minha mãe da Siqueira Campos, então era todo mundo ali da mesma turminha, era a turma da bagunça.
P/1 – E aí nessas camisas tinha o nome Filme...
R – Tinha.
P/1 – Caneta e Copacabana?
R – O endereço... O nome, endereço e telefone. E quando era a Fuji que dava, vinha Fuji de um lado e o nome da loja do outro. Porque antigamente tinha muito esse negócio de brinde. Tinha toalhas, shorts, casaco, essas firmas faziam muito brinde assim.
P/1 – Casaco, como assim?
R – Casaco.
P/1 – Escrito Fuji?
R – Fuji.
P/1 – Ah.
R – Que davam para os lojistas, para os clientes.
P/1 – A gente, vendo uma das suas fotografias, um cartão, um posterzinho, com o coelhinho da páscoa, eu acho que aquilo era uma propaganda muito própria do sindicato dos lojistas e tal. Você tem memória desses cartõezinhos? Dia da mãe, dia do Natal, de algum sindicato de lojistas fazer propaganda?
R – Não, não. Tinha muito assim, da Fuji. Os cartazes pra fazer até propaganda, que antigamente era feito muito cartão de Natal com a foto, que vinha a foto e do lado vinha o espaço em branco para a mensagem da pessoa, era muito utilizado na década de 80, muito mesmo. De 75 a oitenta e pouco era muito usado, as pessoas faziam muito cartão de Natal com a foto da família ou com a foto das crianças, pra mandar pros amigos, pros parentes.
P/1 – Karina, como é... Quantos funcionários você tem, hoje, na loja?
R – Dois. Sou eu, meu irmão e mais duas pessoas. Um que fica no laboratório e um pra serviços gerais.
P/1 – Como é um dia seu na loja?
R – Chego de manhã, de mau humor. Assim, espero...
P/1 – Que horas?
R – Nove horas. Antigamente a gente abria às oito e meia, só que com o apagão que fizeram, a gente teve que mudar o nosso horário. A gente abre agora às nove, ainda chego meio de mau humor. Mas atendo bem, e a gente fica até sete horas, até o último cliente. Se ficar cliente até oito, oito e meia, a gente fica lá.
P/1 – Me descreve hoje a Galeria Menescal. Você vive a Galeria Menescal desde quando você nasceu, meados da década de 70...
R – Isso. Antigamente...
P/1 – Qual a mudança maior que você observa na Galeria Menescal?
R – Até mesmo a limpeza, a iluminação. Antigamente eu lembro que a galeria era lavada, encerada todos os dias. Todos os dias antes das lojas abrirem eles enceravam. Atualmente uma das maiores brigas que eu tenho lá dentro é por causa disso. O pessoal fala que eu sou chata, que eu sou ranzinza, que eu não sei o que, porque eu reclamo muito do que... Porque eles jogam água na galeria, eles não lavam. O chão é maravilhoso, o chão daquela galeria, as paredes são lindas.
P/1 – É mármore?
P/2 – É, isso, pode descrever o material?
R – Ah, não sei, é tipo um mosaico, o chão. O chão é tipo de mosaico, não sei explicar o material que é, só sei que é lindo, é muito bonito mesmo. E esta muito mal cuidado, até a iluminação está muito fraca, eles tem uns lampiões maravilhosos que... Tem os lustres no teto e tem os lampiões nas paredes que eles não acendem, que são uns lampiões maravilhosos, que deveriam ser acesos, que funcionam até hoje. Deveriam ser acesos, mas por economia não acendem. Eu brigo a beça, eu sou tida com a chata da galeria, porque eu reclamo de tudo lá dentro, da limpeza, da falta de iluminação.
P/1 – Você acha que a Galeria Menescal é uma galeria de passagem?
R – Mais ou menos.
P/1 – As pessoas cortam caminho pela Galeria Menescal?
R – Muito, muitas cortam. Pra mim sempre foi, né. Eu passava porque tinha que passar, independente da loja do meu pai ser ali, todo lugar que eu ia... É até um lugar mais seguro, as pessoas se sentem mais seguras, porque às vezes você está andando pela rua e pode ser assaltado. Ali dentro já é mais difícil, porque o ladrão já pensa duas vezes, por: “Estou aqui e tem gente na saída, tem gente lá, então eu estou meio fechado”.
P/1 – Mas as pessoas ainda veem vitrine?
R – Veem.
P/1 – Param na tua vitrine pra ver?
R – Algumas. Agora a gente está com problema sério lá, que tem a mendiga pedindo dinheiro, e isso afasta um pouco, e ninguém toma providência pra tirar. Mas já está virando uma figura conhecida ali da Galeria Menescal, porque agora com a barraquinha de milho, tem o forró lá e ela fica dançando, aí pede dinheiro. De vez em quando ela dá uns shows lá, que xinga um, que manda ela trabalhar: “Ah, vai trabalhar!”. Ela xinga, responde, esperneia, mas _________
P/1 – Ainda se para pra ver vitrine? Ainda se tem tempo de ver vitrine?
R – Depende da faixa. Os aposentados ainda param, ainda pesquisam, perguntam, olham.
P/1 – Copacabana tem esse perfil de consumidor, né?
R – Tem, e tem muita gente assim. Muitas senhoras e senhores sozinhos que buscam mesmo alguma coisa pra fazer e acabam indo para as lojas pra perguntar, pra conversar, até mesmo pela carência da pessoa, elas vão, conversam.
P/1 – Vocês são a loja mais antiga da Galeria Menescal, hoje?
R – Hoje somos.
P/1 – Vocês são proprietários da loja?
R – Somos.
P/1 – E ela tem quantos andares?
R – São três andares na parte de baixo, que é onde funciona a loja. O segundo andar é onde a gente guarda documentação, onde se troca bateria de relógio, e o terceiro andar é onde funciona o laboratório.
P/1 – Bom, pra ir encerrando: você é casada, tem filhos?
R – Não, sou solteira, não tenho filhos, por enquanto.
P/1 – Você usa óculos?
R – Só pra fazer um charme.
P/1 – Ah é (risos)?
R – Eu tenho só meio (grau?) de miopia, e quando eu quero fazer um charme eu boto uma armaçãozinha colorida, alguma coisa assim.
P/1 – Karina, então o que você acha dessa continuidade... No fundo você é terceira geração na família Scheyen, não é?
R – Isso.
P/1 – O que isso representa pra você?
R – Ah, não sei, acho que é mais uma... De manter as raízes mesmo, de manter o nome da família, é mais essa coisa de carinho, de apego, mesmo, ao passado, é muito disso. Não é nem como... Porque se a gente fosse viver com o comércio mesmo, do jeito que estão as coisas, a gente teria fechado. A gente ainda luta pelo carinho de que os meus avós construíram, da gente não deixar fechar o que uma pessoa importante pra gente começou.
P/1 – Mas, quer dizer, a família hoje vive desse negócio?
R – Vive.
P/1 – Você e seu irmão, seu pai, quem são os sócios da loja hoje?
R – Meu pai, eu e meu irmão.
P/1 – E qual é a data da sua entrada na loja, efetivamente?
R – No papel, mesmo, tem três anos.
P/1 – No papel, porque também...
R – Eu trabalho lá desde os 16, já tem 12 anos que eu estou lá, mas no papel tem três anos, foi quando meu irmão do meio saiu e eu entrei no lugar dele.
P/1 – Bom, então, para encerrar, o que você acha de um projeto de memória do comércio da cidade do Rio de Janeiro e o que achou de dar o seu depoimento?
R – Eu achei muito interessante poder deixar registrado a história da família mesmo, do resgate das coisas antigas, que eu acho muito interessante isso, apesar de odiar história, se é uma matéria que eu odiava, mas eu acho bem interessante a pessoa saber o porque da... a evolução mesmo das coisas, a evolução do comércio, o legal mesmo de estar ali, de lutar pra continuar, acho legal isso.
P/1 – ______ Está bom então, eu te agradeço muito pelo depoimento, Karina, muito obrigada, foi muito legal. Tempo certinho?
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