Depoente: Lysandro Bartholo
Entrevistado por: Marina, Cláudia e Itamar
São Paulo, 27 de novembro de 1993
Entrevista nº 004
P - Seu Bartholo.
R - É "Bártholo". Eu gostei de falar porque me chamam de "Barthôlo" e eu não sou "Barthôlo" eu sou "Bártholo", com acento no "A". E eu costumo brincar e dizer que o "Barthôlo" é o da flauta, sabe?
P - Por favor, diga então o seu nome completo, data de nascimento e local.
R - O meu nome é Lysandro Bartholo, data de nascimento é 2 de janeiro de 15, ontem. Eu nasci em Ubatuba, no estado de São Paulo.
P - Nome do Sr. seu pai, sua mãe.
R - Meu pai é Luiz Augusto Bartholo,a minha mãe Amélia Maria Bartholo.
P - E profissão do seu pai?
R - Profissão, ele era comerciante.
P - O Sr. passou a sua infância em Ubatuba?
R - Não, não, eu passei a minha infância aqui em São Paulo. Eu fui criado no Ipiranga. Eu vim muito cedo de Ubatuba pra São Paulo. Eu vim muito cedo que o meu pai deixou o emprego que ele tinha lá em Ubatuba e veio pra São Paulo, e veio se estabelecer aqui, se estabeleceu aqui na Rua João Teodoro, aqui perto. E ele montou mesmo em frente da Rua João Teodoro, quando eu passava por ali, a minha mãe me apontava, dizia: "Olha, meu filho. Aqui que nós tivemos um armazém, era em frente aquele portão que dá pra cozinha do quartel ali." Porque tem um quartel aqui na esquina. Então, o meu pai veio pra São Paulo, a minha mãe ficou. E eu tinha dias, um mês, um mês e pouco, e fui criado aqui em São Paulo, no Ipiranga.
P - E como era o bairro nessa época, Sr. Bartholo?
R - O bairro era um bairro pra fim de semana, o Ipiranga. Era um fim de semana ainda. Estavam começando a fazer a estrada velha São Paulo-Santos, ainda tinha lá no Sacomã, ainda tinha um arco pra gente passar, tudo, ia pela estrada velha. O Ipiranga era um bairro... e nós fomos morar lá por causa disso. N...Continuar leitura
Projeto: História em Multimídia do São Paulo Futebol Clube
Depoente: Lysandro Bartholo
Entrevistado por: Marina, Cláudia e Itamar
São Paulo, 27 de novembro de 1993
Entrevista nº 004
P - Seu Bartholo.
R - É "Bártholo".
Eu gostei de falar porque me chamam de "Barthôlo" e eu não sou "Barthôlo" eu sou "Bártholo", com acento no "A".
E eu costumo brincar e dizer que o "Barthôlo" é o da flauta, sabe?
P - Por favor, diga então o seu nome completo, data de nascimento e local.
R - O meu nome é Lysandro Bartholo, data de nascimento é 2 de janeiro de 15, ontem.
Eu nasci em Ubatuba, no estado de São Paulo.
P - Nome do Sr.
seu pai, sua mãe.
R - Meu pai é Luiz Augusto Bartholo,a minha mãe Amélia Maria Bartholo.
P - E profissão do seu pai?
R - Profissão, ele era comerciante.
P - O Sr.
passou a sua infância em Ubatuba?
R - Não, não, eu passei a minha infância aqui em São Paulo.
Eu fui criado no Ipiranga.
Eu vim muito cedo de Ubatuba pra São Paulo.
Eu vim muito cedo que o meu pai deixou o emprego que ele tinha lá em Ubatuba e veio pra São Paulo, e veio se estabelecer aqui, se estabeleceu aqui na Rua João Teodoro, aqui perto.
E ele montou mesmo em frente da Rua João Teodoro, quando eu passava por ali, a minha mãe me apontava, dizia: "Olha, meu filho.
Aqui que nós tivemos um armazém, era em frente aquele portão que dá pra cozinha do quartel ali.
" Porque tem um quartel aqui na esquina.
Então, o meu pai veio pra São Paulo, a minha mãe ficou.
E eu tinha dias, um mês, um mês e pouco, e fui criado aqui em São Paulo, no Ipiranga.
P - E como era o bairro nessa época, Sr.
Bartholo?
R - O bairro era um bairro pra fim de semana, o Ipiranga.
Era um fim de semana ainda.
Estavam começando a fazer a estrada velha São Paulo-Santos, ainda tinha lá no Sacomã, ainda tinha um arco pra gente passar, tudo, ia pela estrada velha.
O Ipiranga era um bairro.
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e nós fomos morar lá por causa disso.
Nós fomos.
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a minha mãe foi criada por uma tia que eu tinha, minha tia Hipólita, e depois ela nos criou.
Quando a minha mãe veio de Ubatuba pra cá, nós fomos pra casa dela, porque ela morava aqui na rua José Paulino, porque o centro da cidade antigamente era aqui, era o Jardim da Luz.
E ela morava aqui na Rua José Paulino, e tinha essa chácara, pra fim de semana, pra passear lá.
Ela depois, quando o marido dela morreu, ela foi morar lá no Ipiranga, e a minha mãe, quando veio, isso foi em 1915, foi pra lá.
P - Na chácara?
R - Foi morar na chácara no Ipiranga.
E era tudo mato.
Eu lembro, eu fui criado no interior.
Tinha o museu, estavam construindo o museu e o monumento, por causa do centenário da independência, de 1822.
Então estavam terminando a construção do monumento, eu lembro das festas do centenário no Ipiranga.
P - Conta então das festas.
R - Foi.
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Eu era menino, eu tinha cinco anos.
Nasci em 15, sete anos eu tinha.
E as festas foram aquela comemoração toda.
E foi a inauguração do atual monumento lá do Ipiranga.
Lembro vagamente.
Foi muita gente lá.
A família toda nossa e amigos iam todos lá pra casa, porque era chácara, não é? Então nós tivemos acho uma semana de festa lá, todo dia tinha desfiles, festas, comemorações.
Eu lembro vagamente porque eu tinha sete anos só, mas ainda lembro bem.
Lembro dos fogos.
Teve no encerramento uns fogos de artifício muito bonitos.
Mas ainda não tinha nada como tem hoje.
Era tudo mato, mato mesmo.
P - E como é que eram as brincadeiras na sua infância com a molecada do bairro?
R - A molecada do bairro.
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eu fui apaixonado por futebol desde criança e o meu divertimento era jogar bola de meia, porque antigamente.
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E hoje não tem bom jogador, porque a gente começava jogando bola, futebol com bola de meia mesmo.
E nós jogamos, quando eu fazia, estava na escola paroquial lá do Ipiranga, que tinha a escola paroquial, jogar futebol era jogar de meia e tal.
Aí tinha aquelas brincadeiras de criança mesmo, e nós levamos aquela vida de interior, porque nós estávamos lá.
Tinha um bonde, o bonde 4, que era o bonde Ipiranga, que antigamente.
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Não é do tempo de vocês o bonde é? Vocês são muito moças.
P - Do meu é.
R - Do seu é? Porque os bondes tinham número, a gente então sabia os números dos bondes.
O bonde do Ipiranga era o número 4, haja visto que quando eu tirei a minha carteira de identidade, que eu fui identificado, eles dão o RG, e eu decorei o meu RG, quando eles me deram, que o meu RG ainda hoje, os seus já devem ser milhares, o meu não, eu decorei por isso, eu pus, a primeira dezena era 39, que era o bonde Ponte Grande, o 22, que era o bonde Cambuci e o 13, que era o bonde Barra Funda, e eu não esqueci mais, 392213.
Então nós levávamos a vida lá no Ipiranga, uma vida de interior, porque era interior mesmo.
O bonde demorava 25, 30 minutos pra chegar lá,da praça da Sé até lá.
P - E a escola, o sr.
tem lembranças da escola?
R - Tenho.
Eu fui alfabetizado na Escola Paroquial do Ipiranga, Colégio da Igreja do Ipiranga, Nossa Senhora .
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de São José, dos padres de Sion.
E depois saí do Ipiranga de garoto, quando morreu meu pai em 26.
Porque quando morreu meu pai, a minha mãe, era eu e um irmão menor do que eu, eu tinha 10 e o meu irmão tinha 9 anos, e a minha irmã tinha 12.
E a minha mãe, quando meu pai morreu trancou a minha irmã nesse colégio aqui em frente, no Santa Inês, e ela se formou professora , e eu e o meu irmão, os dois menores, no Coração de Jesus.
E aí saímos do Ipiranga, sabe? Mas até 26 eu fiquei no Ipiranga.
Até 10 anos, 12 anos, eu fiquei, pintei o bode lá no Ipiranga.
Que eu fui moleque mesmo.
E jogando futebol sempre.
Quando foi no Coração de Jesus, aí melhorou, porque tinha os times de futebol, tinha campeonatos internos, eu era da divisão dos menores, jogava futebol lá.
Quando eu saí, em 30, eu fiquei quatro anos interno, em 30 fui pro externato, em 29 fui pro externato.
E em 29 foi quando eu ingressei, eu comecei a jogar aqui num time que existia aqui em São Paulo.
Tinha um senhor aqui que foi um grande.
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Porque ele gostava muito de futebol, ele tinha um clube só pra juvenil, e ele sustentava.
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Ele chamava-se Pascoal Constanzi, e o seu Pascoal tinha aquele clube, o nome do clube era.
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E eu fui jogar lá com o meu colega, porque quando eu saí do Coracão de Jesus, eu fui estudar no Ginásio Moura Santos e o meu colega do Ginásio Moura Santos jogava lá e me convidou, disse: "Você não joga futebol? Você não quer ir jogar lá? Tem um time.
" E eu fui treinar com ele e fiquei.
E depois é que eu fui jogar.
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Eu era louco pra jogar no Paulistano, porque o Paulistano era.
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Isso foi em 29 e eu adorava o Paulistano, eu achava o Paulistano.
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Então eu ia, eu já contei pra Sra.
isso.
A Sra.
não sabe de nada? Então, eu gostava do Paulistano e eu estudava.
Então, eu pegava minha chuteira, minha botina, punha embaixo do braço, e tomava um bonde, era o Cidade Jardim, que ia até lá embaixo da Cidade Jardim, lá no Paulistano.
E eu ia, porque a entrada do Paulistano, o campo de futebol do Paulistano.
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Hoje tá completamente modificado, porque tinha um campo de futebol ali, entrava pela rua Estado Unidos.
Então eu chegava lá e procurava.
Eu ia de manhã, fui umas quatro vezes lá, eu chegava lá com a minha chuteira embaixo do braço e tinha um preto na porta que era o porteiro e eu pedia: "Eu queria treinar, o Sr.
não podia me ajudar?"; "Não, menino.
Mas não vai ter treino, hoje vai ser o primeiro e o segundo time que treinam, porque num sei o quê.
" E aí eu fui, até que uma tarde eu cheguei lá e eu estava conversando com ele quando entrou o Hugo, ele chamava Hugo.
Porque antigamente os clubes, os campeonatos e os clubes é que forneciam o juiz-bandeira, o bandeirinha.
Então, o Hugo.
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E era gozado, porque o Hugo era um sujeito muito bem situado, ele tinha um ou dois carros-restaurante na Cia.
Paulista de Estrada de Ferro.
Era a melhor ferrovia aqui no Brasil, era uma beleza.
Ele tinha dois carros-restaurante, dono, e gostava de futebol.
Então ele ia entrando.
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Saía cada briga porque os bandeirinhas.
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Calcule: o bandeirinha do Paulistano, tudo que era bola fora era do Paulistano e o bandeira do Palestra tudo quanto era bola.
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E o do Corinthians.
Então era uma encrenca danada.
Então o Hugo ia entrando e o preto disse: "Seu Hugo, o Sr.
não quer ajudar esse menino aqui? Ele vem sempre, já veio várias vezes aqui e ele quer treinar, ele gosta de futebol.
" Aí o Hugo olhou pra mim e disse: "Que posição você joga?.
Eu jogo na linha, de "forward".
Ele disse: "Só que o treino não é hoje, hoje é o time principal, o treino é aos sábados de manhã que joga o juvenil.
Até um diretor que toma conta, tudo.
Mas vem cá, menino, vem cá, eu vou te apresentar e você vem sábado.
" Eu entrei com ele, ele me apresentou um cara que era gerente do almoxarifado, da roupa lá do Paulistano, e ele me apresentou e disse: "Tem esse menino, você não quer arranjar pra ele treinar?" Ele disse: "Olha, você vem de manhã aí, às oito horas é que treina o.
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" E me parece que quem treinava, quem apitava o treino era mesmo um diretor, era o Luiz de Barros, que ele foi diretor, ele foi presidente do Jóquei Clube até.
E eu, sábado cedo, de madrugada tava lá e com a minha botina, então apareci lá.
Mas o juvenil do Paulistano era formado pela garotada, filhos daqueles diretores, uns meninos bonitos, uns garotos que não sabiam chutar nem de bico, sabe? Então, eu fui e me puseram no time reserva.
Tinha o primeiro time já escalado, o time todo era filho de seu fulano, filho de seu beltrano.
Então eu fui jogar.
Eu, com a minha modéstia inclusa, eu acabei com o treino! (risos) Então, tomei conta, a ponto de quando no "half time", no fim do tempo, antigamente os termos eram todos ingleses, "half time" era fim do primeiro tempo, o intervalo, mas antigamente era tudo.
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P - Conta os outros nomes que tinha?
R - Os nomes.
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como?
P - Os outros nomes que eram diferentes.
R - Os nomes eram "keeper", eram "backs", eram "halfs".
P - "Halfs" eram.
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R - "Half" era o meio-de-campo.
Eram os três "halfs".
Eram os que alimentavam os cinco avantes.
P - Que se chamavam?
R - Que chamavam.
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Era o "insider", o Gween (?) , o Gween (?) era uma corruptela da palavra inglesa, era Gween (?), eles diziam Gween (?), que era o ponta, o "insider" que era o meia, é "insider" mesmo, né? Os "forward"! "Forward" eram os do lado esquerdo, eram cinco lá na frente, então eram todos.
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Então, como eu estava contando, no "half time", acho que foi o seu Luiz, era o Luiz de Barros mesmo, ele me mandou trocar, me pôr no time primeiro e trocou.
E aí eu comecei, mas foi no fim do Paulistano que eu fui jogar lá, porque o Antonio.
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Eu já contei, é bom lembrar, porque antigamente os clubes tinham um dono.
Um dono, não, tinha um que era o .
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No Paulistano o Antonio Prado Jr.
é que mandava.
E houve uma briga lá, falam que foi por causa do profissionalismo.
Foi uma briga que houve entre o Paulistano e o São Bento.
O São Bento tinha um diretor .
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Não, não foi.
A briga do São Paulo, que quando o São Paulo da Floresta brigou que foi com o São Bento.
Foi uma briga do Paulistano com a Associação Paulista, a APEA, Associação Paulista de Esportes Atléticos, porque lá, como continua sendo hoje, era todo mundo contra o time da casa, o time brasileiro, o time nacional.
E o Paulistano era o que representava.
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Porque antigamente eram todos os clubes, se calcular, tudo clubes de colônia.
O Palestra Itália era da Itália, dos italianos, tudo quanto era italiano era o Palestra Itália; o Corinthians era espanhol e italiano: tinha o Sírio, tinha a Portuguesa, tinha o Germânia, o Germânia tinha.
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Que é hoje o Pinheiros, que fundaram, depois no tempo da guerra é que acabou.
Eu joguei muito naquele campo do Germânia.
Tinha o outro, o Jabaquara em Santos, hoje é Jabaquara, era Espanha.
Quando havia qualquer coisa, eles eram contra o Paulistano, sempre.
Então houve.
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E o Antonio Prado não quis brigar, disse: "Olha, eu acabo o futebol.
" E acabou o futebol no Paulistano.
E foi quando eu fui jogar lá, eu fiquei jogando no juvenil uns dois meses, se tanto, que foi em dezembro parece que acabou o Paulistano.
Aí os que gostavam de futebol, os diretores, como esse Luiz de Barros, e outros diretores, .
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Pinto Filho e outros que eram lá do Paulistano, e eles gostavam de futebol, então eles fizeram.
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Porque existia um clube na Ponte Grande, chamavam Floresta, onde era tudo mato, onde é o Tietê hoje.
Porque o Tietê que tomou conta de tudo, houve a inversão.
O São Paulo que devia ter tomado conta de tudo aquilo, mas não.
Houve uma inversão, depois eu conto o que foi.
Então o Paulistano.
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E tinha um clube chamado Palmeiras lá na Ponte Grande, pegado ao Tietê.
Então, o Palmeiras estava muito ruim de finanças também e fundiram, o Palmeiras e o Paulistano, e deu certinho pras cores do São Paulo, porque as cores do Palmeiras eram preto e branco e a do Paulitano eram vermelho e branco.
Então ficou preto, branco e vermelho.
E aí é que eu fui também para o Floresta, lá pra Ponte Grande, pro São Paulo Futebol Clube da Floresta.
E eu fui jogar no juvenil, sempre juvenil, depois passei pros reservas e joguei no segundo time do São Paulo até .
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Foi quando eu era reserva, e joguei várias vezes no primeiro time, no tempo do Floresta joguei umas duas ou três vezes, por que eu era reserva.
Fui reserva do Zarzur, Zarzur foi um grande jogador do São Paulo.
O Zarzur foi um "center half" muito bom.
Então eu fiquei jogando lá, mas aí fiquei jogando no segundo time, era o time dos reservas, que havia naquele tempo o campeonato do segundo, dos reservas.
Havia um campeonato e eu fui.
O meu time, o São Paulo, foi campeão em 33 e 34 invicto.
Campeão do segundo time.
E o São Paulo foi campeão em 31 do primeiro time.
Então aí eu fui, mas quando foi.
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Houve a fusão e ficou, mas aí o clube passou a ter outro dono, tinha uma diretoria e tal.
Chamava-se Edgar de Souza.
A Sra.
não sabe quem era o Edgar de Souza? O Edgar de Souza era o dono da Light.
E a diretoria tudo, tesoureiro era o genro dele, que até tem o neto dele, eu tenho conversado muito com o Fernando de Souza que às vezes ele quer saber o nome, porque o pai dele, até eu indiquei.
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Foi porque ele tem um álbum muito bonito com fotografias das comemorações, porque antigamente o futebol era outra coisa.
O São Paulo, quando ganhava, tinha.
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Eles comemoravam e ofereciam, depois dos jogos, jantares, mas convidavam o time adversário e os jogadores todos pra ir.
Mas eram jantares e locais ultra-finos.
Por exemplo, era no hotel Terminus.
A Sra.
não lembra do hotel Terminus? O hotel Terminus, não esse que é na avenida Ipiranga, o hotel Terminus era ali, onde hoje é a Fazenda Federal, aquele prédio todo, era naquele local o hotel Terminus.
E tinha um restaurante muito.
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Na Avenida São João, O Palhaço, também eles faziam, ou então na Associação Comercial, que eles tinham também um restaurante muito bom.
Então, depois dos jogos eles ofereciam verdadeiros banquetes.
Então nós vivíamos aquilo, e o São Paulo até.
Aí é que veio outra encrenca, porque o campo do São Bento era ao lado do campo do São Paulo, lá na Ponte Grande, na Floresta, como chamavam, Floresta porque aquilo era cheio de eucaliptos e de palmeiras, e coisa como até agora tem, mas hoje é o Tietê que manda naquilo.
Então houve uma briga danada, que não acabou o jogo, e deram ganho de causa pro São Bento, e o Edgar de Souza e a turma dele não se conformaram e acabaram com o São Paulo, porque o São Paulo, o Conselho do São Paulo eram quase todos empregados do Dr.
Edgar de Souza.
Era uma pessoa muito boa, uma ótima pessoa, como o Dr.
Antonio Prado também foi uma pessoa proeminente, mas com ele ou estava como ele queria ou não se resolvia nada.
Aí é que acabou o São Paulo da Floresta.
Tinha um segundo time muito bom como eu disse pra vocês, era um segundo time que foi campeão dois anos seguidos invicto, nós fomos perder a invencibilidade lá em Santos.
O Santos pôs um primeiro time pra jogar contra o nosso.
Um calor miserável, mas nós perdemos a nossa invencibilidade lá em Santos no jogo.
Mas ele jogou porque o Santos pegou tudo quanto que era reserva, todos os jogadores, pôs tudo no segundo time, na preliminar, pra jogar e eles ganharam.
Parece 2 a 1, 1 a 0, um negócio assim.
Mas nós perdemos a invencibilidade aí.
E quando acabou o São Paulo da Floresta, os jogadores titulares do primeiro time do São Paulo fundaram um clube chamado Independente, que o Araken que era o.
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O Araken e um outro torcedor que tomaram conta e formaram o clube, o time pra jogar, o Independente.
Com esse nome Independente, porque não dependiam de ninguém.
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Eram eles só e tal.
E com os jogadores do Estudantes, do segundo time, que eram quase todos estudantes, com alguns que vieram do primeiro time, o Dr.
Décio Pedroso, Dr.
Cássio Vilaça, o José de Godói, que eram diretores do São Paulo da Floresta fundaram os Estudantes de São Paulo, que eles queriam porque nós, geralmente, tínhamos um time que quando saía excursão.
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Nós gostávamos muito de fazer excursão.
Então com a Faculdade de Medicina, o Dr.
Décio estava estudando, estava no quinto ano de Medicina, então nós saíamos com eles pra fazer caravanas pro interior, nós reforçávamos o time da Medicina.
E na Faculdade de Direito também, que nós estávamos no Direito e nós já íamos na Faculdade de Direito e já jogávamos.
Então, eles fundaram o Estudantes de São Paulo, que era um time só, mas tinha.
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Foi o "back", o Iracínio que foi um grande "back", injustiçado pelo São Paulo, um grande "back".
O Augustinho jogava comigo.
P - Foi injustiçado por quê?
R - Foi porque o Iracínio ficou no São Paulo, ele teve uma ocasião, era aparelho de "back", Augustinho e Iracínio.
Quando houve essa.
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Ele foi pro Estudantes, ficou no Estudantes conosco, porque ele gostava.
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O Dr.
Cássio Vilaça gostava muito dele e ele foi.
E a Portuguesa de Santos queria levar os dois, o Augustinho e Iracínio, prá lá, e ele disse: "Não, não vou, fico aí.
" E dava a ele um dinheirão, porque naquele tempo ainda era um profissionalismo marrom.
Mas ele não foi.
E o Augustinho também não foi, porque eles queriam os dois.
Até o Augustinho se aborreceu com ele e ficou.
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Porque o Augustinho era meio genioso, meio irascível, então ele não foi.
O Luizinho ficou conosco também, mas depois ele foi logo, ele não aguentou.
O Palestra Itália ofereceu um bom dinheiro pra ele, ele largou o Estudantes e foi jogar no Palestra.
P - E quem mais tinha do primeiro time?
R - Só nós, só esses.
Depois é que vieram outros, porque depois acabou o Independente, eles não se aguentaram, porque um queria embrulhar o outro.
Calcule como era: eles faziam o jogo, o que rendia eles queriam dividir, mas precisava lavar camisa, precisava tomar conta, precisava ter administração, precisava.
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Quem é que ia pagar isso? Então, o Hércules foi pro Fluminense, o Araken voltou pro Santos, o Luizinho, que já tinha vindo pra nós.
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E o time se esfacelou assim.
Mas o Estudantes não, o Estudantes foi em frente e teve um time muito bom, não foi campeão nunca, mas sempre proporcionou bons jogos.
Até que em 35, se não me engano foi em 35 que fundaram o São Paulinho da Fé.
Foi um turma também de abnegados, porque aquilo eram abnegados, o Porfírio da Paz.
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Porfírio da Paz eu acho que o São Paulo tá fazendo uma injustiça, porque ele devia ter uma fotografia dele, porque foi um homem que lutou pelo São Paulo, mas lutou em todos sentidos.
O Meca e outros, que no momento não me lembro, lutaram pelo São Paulinho da Fé, porque não tinha dinheiro, porque fazer futebol sem dinheiro, profissional.
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E eles vinham a trancos e barrancos até que.
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E o Estudantes ia indo muito bem, haja visto que foi convidado pra fazer uma excursão em 1938 pro Chile e pro Peru, e veio o empresário e nós fomos, uma viagem maravilhosa.
Estivemos dois meses viajando, porque antigamente não tinha essa moleza de tomar um avião aqui e descer ali não.
E foi gozado que nós tomamos um navio aqui em Santos e fomos até Buenos Aires, de Buenos Aires nós saltamos, tomamos um trem, fomos até Mendoza, de Mendoza tomamos o transandino, fomos para lá em Santiago.
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R - .
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a viagem de Santos até Buenos Aires foi uma beleza, porque a gente.
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Tava começando, Hitler estava começando a pegar judeu na Alemanha e o navio, era um navio alemão, estava cheio de judeus.
P - Isso foi em que ano?
R - Isso em 38.
Então, nós entramos no navio, tava cheio de judeus e tava gozado porque os judeus podiam trazer o que eles quisessem deles.
Então tinha judeu que tinha máquina fotográfica, binóculo e tudo.
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Mas não tinha dinheiro, que eles saíram sem um tostão, o dinheiro ficou tudo lá, só os que tinham dinheiro no banco tinham cheque.
Então nós viajamos com eles, fizemos uma camaradagem danada, arrajamos uma porção de namoradas judias, e era uma gente formidável.
Sabe que quando ele chegaram no coiso.
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Eles iam pra Argentina, quando eles chegaram em Santos, a maioria já estava se entendendo em castelhano, vocês calculam.
E nós falávamos aquele.
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Como é?
P - Portunhol.
R - É, é esse portunhol.
Ah, nós falávamos aquele portunhol e depois com a mímica e coisa e tal, e tudo saiu muito bem.
Então, nós fomos até lá e aí jogamos.
Pra completar, nós jogamos no Chile contra o Colo-Colo e empatamos um a um, e nós tínhamos chegado no sábado, de viajar tudo isso, e no domingo já fomos jogar.
Aí tomamos um navio em Valparaíso e fomos parar em Callao, no posto lá de Callao no Peru.
E fomos, ficamos uma semana viajando.
E aí viajamos num vapor italiano, estava naquela euforia de fascismo, estavam aqueles filhos italianos e cantavam a Giovenezza, cantavam aquelas canções italianas.
Por fim nós aturávamos tudo aquilo e entrávamos também, então foi um viagem muito boa e nós fomos.
Mas na volta.
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Nós jogamos lá e fomos felizes nessa viagem porque fizemos quatro jogos no Peru, lá em Lima.
Dos quatro jogos nós perdemos o primeiro, empatamos o segundo, empatamos o terceiro e ganhamos o quarto.
E foi tudo bem porque nós recebemos propostas e a diretoria do clube do Estudantes não quis, não aceitou pra ir jogar ali naqueles países, na Guatemala.
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P - Da América Central.
R - No Caribe, é Caribe né? Por ali, na América Central justamente.
Então, nós voltamos, aí fizemos novos jogos em Santiago, fizemos um jogo em Valparaíso, fizemos um jogo em Santiago e depois voltamos.
Mas aí o empresário deu bolo, fugiu.
P - Como assim?
R - Fugiu, nós ficamos em Buenos Aires uma semana sem um tostão.
Eu não fumava, graças a Deus, mas os que fumavam ficavam dando ponta de cigarro um pro outro, porque não tinham.
E aí o Dr.
Cássio Vilaça e Décio Pedroso é que providenciaram e pagaram as passagens aqui em São Paulo pra nós voltarmos, e nós voltamos num navio muito bom, o Oceania, da Linha C.
P - Linha C?
R - É, Linha C.
Foi uma viagem muito boa, mas chegamos aqui sem nenhum tostão, porque não tinha, o cara fugiu.
E quando chegou, o Dr.
Cássio, essa coisa, o São Paulo aí propôs pra fazer fusão que eles pagavam todo o déficit.
E pagou.
Eu lembro que pra nós foi uma beleza, a diretoria do São Paulo fez uma coleta.
O campo do Estudantes era na Rua da Mooca, onde era Antárctica, era o campo do Antárctica.
E o Dr.
Cássio tinha feito.
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Porque o Antárctica tinha um time chamado Paulista, por isso que ficou Estudantes Paulista, porque o time do Antárctica chamava Paulista Futebol Clube.
Antigamente não podia ter nome de companhias, de firmas, e esse negócio de pôr anúncio não podia, era proibido.
Então o Antárctica também tava com dificuldades com o time, eles não queriam gastar, fizeram fusão com Estudantes, ficou Estudantes São Paulo, e nós tínhamos o campo na Rua da Mooca, o campo do Antárctica.
Então eu lembro que logo que nós voltamos teve um reunião e a diretoria do São Paulinho da Fé fez uma vaca, reuniu e juntou dinheiro para pagar, porque nós todos estávamos sem receber a três meses, tínhamos recebido um vale, uma coisa e tal.
Então, eles começaram e formou o São Paulo, o atual São Paulo.
E o Corinthians, para ajudar, porque eles achavam que precisava ter um time aqui da cidade pra incentivar os torcedores nacionais, os torcedores paulistas, então o Corinthians ofereceu e propôs para fazer um jogo imediatamente.
Fizeram um jogo naquela semana mesmo do Corinthians.
Foi no Parque Antartica, no campo do Palestra.
Corinthians contra o São Paulo Novo, e o São Paulo Novo era o Estudantes todo, só tinha um jogador do São Paulinho da Fé, que era o Elísio, e o "keeper" também, que era o King.
Ficou King, Augustinho e Iracínio; eu, depois o Líbio e o Fiorotti, Paulinho Mendes, o Armandinho, Elísio, Araken e Paulo.
Era o time do Estudantes que jogou com dois jogadores só.
E aí começou esse São Paulo, mas começou com dificuldade.
Não pensem que foi uma maravilha o começo, porque continuou lá na Rua da Mooca mesmo, o campo continuou na Rua da Mooca, o São Paulo.
E lá nós tivemos a glória e a satisfação, nós jogamos com o Palestra Itália.
Porque antigamente era gostoso bater é no Palestra, porque bater no Palmeiras não tem.
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É Palmeiras entende? Mas quando batia no Palestra.
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Então nós jogamos com o Palestra lá na Rua da Mooca, demos de 6 a 0 neles, quase acabou o Palestra.
E foi aí com essa vitória do Palestra que voltaram alguns diretores.
Por exemplo, o Paulo de Carvalho, que era o dono da rádio Record.
E com essa vitória o Paulo de Carvalho voltou, foi, começou a se interessar e aí foi até eleito presidente logo em seguida.
Foi eleito presidente meio na marra, mas foi.
P - Por que na marra?
R - Por quê? Antigamente o São Paulo não tinha dinheiro, hoje eles se matam pra ser diretor lá, mas antigamente ninguém queria ser.
O Dr.
Piragibe foi também, imposto: "Não, vai ser o Dr.
Piragibe Nogueira!" Pergunta pra ele.
Um grande presidente, um médico formidável.
O Dr.
Paulo de Carvalho também.
O Dr.
Paulo de Carvalho só não perdôo porque ele fazia parte da diretoria do São Paulo da Floresta e ele concordou com a fusão com o Tietê, mas ele era uma ótima pessoa.
Então os diretores era uma luta, porque nós, o Estudantes.
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O Estudantes não, aí já era o São Paulo.
E no Estudantes, o tempo do Estudantes também, pra pagar.
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Sabe? Porque dinheiro era uma luta, chegava no fim do mês tinha que.
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Então nós quase não treinávamos, porque, por exemplo, quando tinha.
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Se não tivesse o jogos de campeonato, nós fazíamos excursões, o São Paulo fazia excursão.
E essa ocasião que nós demos de 6 a 0 no Palestra, vocês vejam como nós tínhamos que jogar.
Nós tínhamos que jogar, no domingo nós jogamos.
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Demos no Flamengo, lá no Rio, de 4 a 2, depois fomos jogar em Juiz de Fora, demos num tal de Tupi que tinha lá, não sei.
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Demos no tal de Tupi e no domingo enfrentamos o Palestra e ganhamos de 6 a 0.
Então eram jogos.
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Nós tínhamos que jogar porque.
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Hoje eu vejo o São Paulo, eu fico vendo esses jogadores todos, essa mordomia que eles têm.
Meu Deus do céu! Eu fico vendo.
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No nosso tempo.
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Eu apanhei uma sinusite lá no São Paulo, porque não tinha chuveiro quente lá no campo, e era um chuveiro que a gente ficava embaixo, porque era entupido, não cuidavam nem nada, então a gente tinha que correr atrás do.
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E no tempo do frio, todos conhecem, sabem o que é São Paulo no tempo do frio, a gente sai quente de dentro do campo e se metia naquele chuveiro gelado, sabe? Eu vejo hoje no São Paulo, São Paulo tem ducha, tem sauna, mas tem tudo.
Eles têm tudo lá, tem tudo.
Ainda bem que eles ganham o campeonato.
P - É dedicação em tempo integral.
No seu tempo não era?
R - Não, no meu tempo não era tempo integral.
Nós treinávamos às terças individual, ginástica e "coiso", chamava treino individual.
Cada um ia, fazia ginástica, corria, pulava; e às quintas- feiras tinha o treino de conjunto, treino de futebol, que era os reservas contra o primeiro time.
P - Um dia só de treino?
R - Só quinta-feira.
Às quintas-feiras tinha tudo.
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P - Enquanto isso o sr.
tinha outra profissão?
R - Ah, eu tinha.
Futebol pra mim era um bico, porque antigamente futebol não era.
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Eu vou regredir um pouco.
Quando o São Paulo se formou, eles trouxeram do Santos, isso o São Paulo da Floresta, quando o São Paulo da Floresta se concretizou, eles trouxeram de Santos o Araken, que era do Santos.
Foi um grande jogador.
E o Siriri, que era cunhado dele, que eles faziam parte daquele time de uma linha do Santos que foi.
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Só o Pelé parece que suplantou.
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Que tinha cento e tantos gols num campeonato, que era o.
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Quem era mesmo a linha? Ah, era Siriri, Camarão, Feitiço, Araken e Evangelista, eram uma linha.
Então eles trouxeram o Siriri e o Araken, mas eles não vieram.
Era um profissionalismo marrom, eles pagavam, mas deram emprego pro Araken e o Araken foi ser caixa da Light, ali onde é a Light.
Então era uma luta.
Até o Araken brincava, porque todo mundo queria ir lá, torcedor, então fazia fila.
Nas outras caixas não tinha ninguém na fila, e o Araken dizia: "Mas sou só eu aqui, não posso!" E o Siriri arranjou um emprego com outro, era um diretor do São Paulo também, eu citei o nome dele agora, não sei, era o Dr.
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Não lembro, mas também deram emprego.
Então cada um tinha seu emprego.
Por exemplo, tinha o Luizinho.
Luizinho arranjou emprego, era funcionário da Caixa Econômica Federal, e ele formou-se mesmo jogando futebol.
Ele continuou e ele se aposentou como chefe do departamento jurídico da Caixa Econômica Federal em Santos.
E todos tinham seu emprego.
P - E o Sr.
?
R - Eu era funcionário público, que eu arranjei um lugar de escriturário, daí era funcionário público.
Estava no Estudantes, então eu jogava e fazia outras coisas.
Eu me metia numa porção de negócios, porque o futebol, eu tinha aquilo como profissão e ninguém tinha como profissão, porque quem implantou, quem pôs o profissionalismo aqui no São Paulo foi o Leônidas, que foi quando o Pedrosa era diretor do São Paulo.
Que o Pedrosa jogou no Estudantes, jogava no gol do Estudantes também, foi um grande "keeper".
Eu acho que nessa seleção eu ponho Pedrosa, mas o Pedrosa, o Pedrosa era um intelectual, um camarada muito bem posto, haja visto que ele não ganhava nada.
Vocês decerto vão ouvir aqui as declarações, ouvir depoimentos da mulher do Serroni.
Qual é o nome dela? Catarina.
Ela pode falar porque o Pedrosa não ganhava, a gratificação dele ele mandava dar para o roupeiro, que era o Serroni, que era não era profissional.
O pai dele estava muito bem.
Então, o Pedrosa é que foi buscar, porque o Leônidas tinha se metido numa "tretantagem" lá no Rio, sabe? E ele ficou preso um ano e tanto lá.
P - Como é que é, por favor?
R - O Leônidas, ele se meteu numa "tetrantagem", negócio de vender certificado de reservista ou coisa que o valha e ele foi processado e foi preso, ficou preso e ficou sem jogar.
E quando ele estava pra sair da prisão, o Leônidas, foi conversar com ele e propôs, disse: "Olha, você vai jogar lá no São Paulo.
" Ele disse: "Não, um ano eu tenho que jogar de graça, só me pagar o ordenado, ou bicho.
" Isso quem me contou foi o Leônidas.
E comentou, isso eu ouvi: "Eu vou jogar pro Madureira.
", porque o diretor do Madureira, não me lembro o nome dele agora, foi o único que cuidou do Leônidas, ia visitá-lo todo domingo na prisão.
No quartel, não era prisão, era no quartel, porque ele estava meio solto lá.
E levava toda semana e todo mês, comprava uns mantimentos todos e levava pra mãe do Leônidas.
Esse presidente do Madureira.
Então ele disse pro Pedrosa: "Eu tenho obrigação, eu vou jogar pro Madureira um ano de graça, sem luva.
Ele só vai me pagar os ordenados porque eu tenho que viver, mas não vou querer luva.
" Aí o Pedrosa disse: "Olha, isso é bobagem, isso é até contra-senso porque uma andorinha não faz verão, o que é que você vai fazer no time do Madureira? Você sozinho, ficar lá na frente pra.
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Não pode.
" E foi falar com o presidente do Madureira e contou isso, disse: "Olha, eu fui propor pro Leônidas pra ele ir jogar no São Paulo e ele disse que não, que esse ano ele tem que jogar um ano, um campeonato pro Madureira.
" E esse diretor do São Paulo que foi.
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P - Pedrosa?
R - Pedrosa.
Falou com ele: "Escuta uma coisa, se ele perder esse ano, você precisa ajudá-lo.
O que ele vai fazer no Madureira?" Porque o Pedrosa conhecia bem o homem, porque o Pedrosa tinha jogado, quando ele veio pra São Paulo, ele antes jogava no Botafogo, então ele conhecia isso.
Ele argumentou com ele: "Agora ele tem um chance formidável, que nós vamos dar uma ótima luva pra ele, vamos pagar um ordenado muito bom pra ele, e ele vai sair do.
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" E o homem se sensibilizou com o que o Pedrosa falou e autorizou, foi lá e disse: "Olha, Leônidas, você não tem compromisso nenhum comigo.
Você faça o que achar.
" Aí o Pedrosa contratou-o.
E o Leônidas veio pra São Paulo.
Com a vinda dele pra São Paulo, porque ele recebeu uma luva muito boa e pra contribuir no pagamento do ordenado dele, o Paulo de Carvalho deu, tinha um programa das 6 horas, do Matte Leão, que ele ia e falava, que pra tomar Matte Leão e coisa.
Então ele ficou e aí é que veio e começou o profissionalismo que, no Brasil e em São Paulo principalmente, começou com a vinda do Pedrosa pra cá, porque aí todo mundo achava que devia se valorizar.
E eu não tinha essa concepção.
Eu recebia o que o São Paulo me dava, nunca discuti com eles pra reformar um contrato.
E eu tenho uma carta lá em São Paulo hoje, o Porfírio da Paz me comunicando que eu tinha sido, dada a minha situacão, que eu estava muito bem, porque eu ganhava só parece que 350 cruzeiros de ordenado, e eles resolveram igualar com os outros, me deram 600, porque eu não fazia questão.
Então, eu tinha outro.
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Trabalhava e estudava, sempre estudando, me formei, e quando me formei é que fiquei naquele, eu não sei se é de.
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Se foi um dilema ou se foi um diadema, o que eu sei é que eu fiquei pensando, porque eu fiquei naquela coisa, eu estava.
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Comecei a me desentender com o treinador do São Paulo, que era do Uruguai, qual era o nome dele, meu Deus? Era um cabotino, ele que me perdoe, mas era um cabotino.
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P - Sr.
Lysandro a gente já está se encaminhando pro fim da entrevista.
O Sr.
queria acrescentar alguma outra coisa? O que o Sr.
acha, só diga em poucas palavras, o que o Sr.
acha de deixar esse depoimento gravado no Memorial do São Paulo?
R - Eu acho ótimo.
Isso é uma oportunidade pra amanhã ou depois, porque eu estou contando o que eu vivi, eu vivi isso tudo, dentro do São Paulo, que eu acho que atualmente no São Paulo, com a minha modéstia inclusa, eu acho que atualmente no São Paulo tem muito pouca gente que viveu isso, não vou citar nomes porque eu posso deixar de.
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mas tem muito pouca gente que viveu isso da fusão do São Paulo da Floresta, com o Paulistano, com o Palmeiras, que viveu o Estudantes, a fundação do Estudantes, haja visto que eu sou sócio remido do São Paulo.
P - Então a gente agradece muito a.
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R - Sou sócio remido do São Paulo.
P - Agradecemos muito a entrevista.
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R - Eu espero que aproveite alguma coisa dessa minha arenga.
P - Com certeza.
Muito obrigada.
R - E muito prazer.
E faço votos que sejam bem felizes nesse empreendimento, porque isso será muito bom para o futuro, pra alguém saber como foi e o que houve, e podem crer na minha sinceridade, que o que houve foi isso, eu vivi isso, E muito obrigado também.
Eu que agradeço essa oportunidade.
E as Sras.
são muito simpáticas.
P - Obrigada.
R - E os Srs.
também, apesar de eu não gostar de homem, mas.
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(risos).
P - Foi muito boa.
R - Serviu pra alguma coisa?
P- Serviu.