P/1 – Seu Rubens, primeiramente muito obrigado mesmo por aceitar nosso convite pra participar dessa entrevista. Pra começar a entrevista eu gostaria que o senhor falasse pra gente o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – Meu nome completo é Rubens Torres Medrano, eu nasci no dia 16 de outubro de 1940. Nasci no bairro da Mooca, capital, São Paulo.
P/1 – E o nome dos seus pais, por favor.
R – Os meus pais eram Diego Torres e Sophia Medrano Torres.
P/1 – Eles nasceram aqui em São Paulo?
R – Os meus pais nasceram no interior do estado de São Paulo, meu pai na cidade de Elisiário e minha mãe na cidade de Catanduva, são cidades próximas, no interior de São Paulo.
P/1 – E pelo seu sobrenome a gente deduz que o senhor tem uma ascendência espanhola.
R – Realmente.
P/1 – O senhor pode contar um pouquinho da história da sua família?
R – Pois não. Os meus avós, tanto paternos quanto maternos eram espanhóis, vieram do sul da Espanha, da área de Andaluzia. E quando chegaram eles foram pro interior porque geralmente os imigrantes quando vinham se destinavam ao trabalho agrícola. Foram lá pra região de Catanduva, ficaram lá durante um certo tempo, não muito tempo, depois migraram aqui pra capital e vieram para o bairro da Mooca, onde acolhia todos os imigrantes, de várias origens, espanhóis, italianos, lituanos, creio eu que o bairro da Mooca era especialista em receber os imigrantes.
P/1 – E você sabe qual foi o ano que seus avós chegaram no Brasil?
R – Eu não tenho certeza exatamente. Até procurei saber isso no Museu do Imigrante, ali tem os registros, mas hoje eu não lembro. Eu creio que eles chegaram aqui no início do século, em 1900, mais ou menos, mas não tenho precisamente a data.
P/1 – E as duas famílias, paterna e materna, se encontraram lá na Mooca?
R – Não, eles já se conheceram lá no interior, moravam perto e depois os meus pais vieram começar a namorar e se casaram aqui em São Paulo, no bairro da Mooca.
P/1 – Aqui na Mooca eles moravam pertinho também, um do outro?
R – Nós morávamos na Mooca, mais perto do Brás, aqui perto da Rangel Pestana, e os meus avós paternos moravam mais na Água Rasa, que era um bairro vizinho da Mooca.
P/1 – Os seus pais seguiram o script desses estrangeiros que vinham, eles também trabalharam como operários em fábricas ou eles se dedicaram a um outro tipo de atividade?
R – Não, os meus avós não chegaram a trabalhar em fábrica, meus pais trabalharam. Meus avós quando vieram, meu avô tinha uma banca de jornais, até na antiga Praça Clóvis Bevilacqua e o meu avô já se dedicava mais ao comércio, comércio alimentício, naquele tempo chamava de venda.
P/1 – E o senhor chegou a conhecer essa venda do seu avô e a banca de jornal do outro avô?
R – Não, não. Não cheguei a conhecer realmente, eu tenho uma vaga lembrança do meu avô paterno. Do meu avô materno também muito pouco. Quando eu cheguei eles já estavam aposentados.
P/1 – E o senhor tem irmãos também?
R – Eu tenho um irmão que faleceu recentemente, era mais novo do que eu, perdi a dois anos atrás.
P/1 – E quais são as lembranças que o senhor tem da sua infância no bairro da Mooca? Como era o bairro naquela época?
R – O bairro da Mooca sempre foi um bairro fabril, um bairro famoso onde você tinha lá as colônias, eram praticamente colônias. As colônias eram muito unidas pelo fato de terem vindo de terras estranhas, e eu tenho boas lembranças da minha infância. Na época nós morávamos na Rua Piratininga. A Rua Piratininga liga a Rua da Mooca à Rangel Pestana. Era uma via muito importante da Mooca, onde passavam os bondes, os ônibus, e tenho boas lembranças. Eu me criei, acabei estudando, fiz o meu curso primário até no Clube Escola Romão Puigari, que existe até hoje lá no bairro do Brás, na Rangel Pestana, esquina com a Rua da Mooca. Depois acabei fazendo meus estudos, o curso colegial fiz no Colégio São Judas Tadeu, na Mooca, famoso até hoje, universidade. E acabei fazendo meu curso universitário na Faculdades Integradas de Guarulhos. Mas voltando à Mooca, a Mooca ainda permanece muito viva na minha lembrança.
P/1 – E dentre essas lembranças o senhor lembra quais eram as brincadeiras na rua? Se era na rua, com quem era, com seu irmão, tinha mais gente?
R – Naquela época não tinha os jogos eletrônicos, né? Não tinha televisão, televisão veio em 56 ou 60. Eram brincadeiras de rua, de você jogar pau a pique, que era com um pedaço de pau e uma bola, fazia casinha de madeira, bola de gude e futebol. Futebol sempre foi o esporte predileto do brasileiro.
P/1 – E por ser o bairro da Mooca um local que tinha tantos imigrantes, estrangeiros, o senhor lembra de sotaques diferentes, ou então o pessoal falando realmente outra língua ali no bairro, não falando português. O senhor lembra disso?
R – Bom, lembro bem. Apesar de falarem a língua portuguesa ainda mantinha-se a língua pátria, né? Por exemplo, na casa dos meus avós falava-se muito castelhano, e até as vezes eu servia de intérprete pra minha vó, até quando morreu falava em castelhano, falava algumas palavras em português, mas mantinha. Então, era muito importante, isso foi importante na minha educação da língua. Até depois de muitos anos, no meu comércio, o que eu aprendi lá com meus avós, a língua castelhana me serviu bastante. E às vezes tinha os italianos, até às vezes a gente até misturava, você acabava entendendo algumas palavras do italiano, era muito interessante.
P/1 – E apesar de ser uma família espanhola o senhor chegou a aprender palavras em italiano? Chegou a pegar um pouco do sotaque também ou não?
R – Não, sotaque não, porque eu já estudei praticamente, quando eu me alfabetizei, foi já no português, mas eu nunca esqueci a língua materna, aquilo acaba ficando. É uma coisa que, por mais que passe o tempo, você pode às vezes esquecer o vocabulário, algumas palavras, mas até hoje lembro da língua castelhana.
P/1 – E como era a sua casa nessa infância? Onde que era e como é que era?
R – Bom, a casa da minha infância, antigamente as casas eram casas grandes, térreas, você tinha vários quartos e sempre tinha um quintal no fundo. Eu não esqueço, na Rua Piratininga morávamos com meus avós maternos, e era uma casa que estava sempre cheia porque naquela época os meus tios eram em quatro irmãs e dois irmãos, eram seis pessoas. Então, era uma casa que tava sempre cheia. Naquele tempo, como não havia televisão, não havia muitos tipos de diversão, a diversão na família era reunir-se de final de semana. E os meus avós também recebiam os irmãos, os meus tios, então geralmente nos finais de semana eram aquelas grandes reuniões, os almoços de domingo onde a família se reunía e conversava, era muito interessante. Acho que isso teve uma influência muito grande na minha formação moral, na minha formação intelectual, tudo, porque eram raízes da família, né? E a gente procura passar isso aos filhos, aos netos. Apesar que temos que atualizar porque os netos do passado eram um pouco diferente dos atuais, mas acho que a família é o grande esteio de uma geração que tem grande influência nos seus descendentes.
P/1 – E o senhor já é neto de espanhóis, então já é a terceira geração no Brasil. Mas o senhor sabe dizer se teve algum tipo de choque cultural, alguma diferença de costumes, na culinária mesmo. O senhor sabe dizer se houve alguma coisa desse tipo?
R – Bom, principalmente na culinária, né? A cozinha brasileira, você não tem uma cozinha brasileira pra dizer que é estritamente brasileira, houve uma série de influências. Mesmo a cozinha mineira que nós dizemos que é uma das cozinhas que pode se chamar de brasileira, teve influência de origem estrangeira. Na minha casa havia a influência da cozinha espanhola, mas também um pouquinho da cozinha italiana, porque existia naquela época, quem que não gostava de uma boa macarronada aos domingos? Eu posso lembrar da origem da cozinha espanhola, a famosa cazuela, nada mais nada menos era um tipo de uma paella, que era uma comida tipicamente espanhola, a sopa de garbanzo que é o grão de bico. E também tinha lá em casa a minha avó, era já um costume, todo dia que chovia, quando tinha chuva, no almoço ela fazia uma famosa comida que a gente chamava de miga, né? Miga é uma mistura de fubá com farinha de trigo e que a gente sempre comia com banana ou bacalhau assado. Então, são essas coisas que permanecem na mente e levamos para o túmulo.
P/1 – E o senhor encontra esses pratos em alguma lugar hoje?
R – Não, hoje não. Eu não tenho visto mais, infelizmente perdeu-se. Nem na própria família já se faz mais. Uma das coisas que uma das minhas tias mantém, que era uma tradição da família, nós fazíamos sempre na época natalina, se fazia um tipo de um rosquijos em espanhol. Era um tipo de bolinho que era feito de farinha de trigo e levava uma calda de açúcar. Isso, todo final de ano se fazia pro natal, as festas natalinas, era um doce obrigatório na mesa. Hoje eu tenho uma tia que ainda está viva e costuma fazer, até ela sempre lembra e, quando possível, todo final de ano ela me presenteia com uma lata de rosquijos pra lembrar da minha infância.
P/1 – Mas é melhor anotar a receita então, né?
R – É (risos). Fica difícil porque as novas gerações já compram tudo pronto, né? Hoje já é tudo industrializado.
P/1 – Gostaria que o senhor descrevesse rapidamente pra gente como eram seu pai e sua mãe? Como o senhor via eles na sua infância? O que eles representaram pro senhor?
R – Os meus pais eram pessoas simples, pessoas bastante simples, a minha mãe era uma dona de casa. Minha mãe sempre se especializou na culinária, era uma doceira de mão cheia, fazia muitos doces e bolos, né? E o meu pai sempre teve o tino comercial, meu pai sempre foi um comerciante de visão. Acho que muito o que eu hoje uso, utilizo, aprendi com meu pai, apesar de eu nunca ter tido a oportunidade de trabalhar com ele. O meu irmão já trabalhou com o meu pai, né? Meu pai trabalhava muito na parte de gêneros alimentícios, trabalhava no mercado municipal e depois foi pro Ceagesp. Meu pai trabalhava muito no setor de abóboras e comprava grandes roças e trazia pra capital. Mas eu via sempre no meu pai um comerciante de mão cheia, um comerciante de tino, sempre procurando ver o futuro. Perdi o meu pai um pouco cedo, o meu pai faleceu com 57 anos, ele infelizmente teve um ataque cardíaco, mas o pouco tempo que eu convivi com ele, com meus avós também, principalmente com o meu avô materno. Eu me criei muito na casa dos meus avós maternos. A minha mãe, logo depois que eu nasci a minha mãe teve uma doença, ficou doente e disso acabamos morando com meus avós maternos e eu fui criado pelos meus avós maternos, junto com minha mãe também, mas minha mãe já, depois ela veio a se recuperar, mas no período da minha infância eu fui muito criado com meus avós maternos.
P/1 – O senhor já falou que não chegou a trabalhar com o seu pai, mas o senhor chegou a pelo menos ir com ele no trabalho, quando o senhor era criança, conheceu o mercado municipal naquela época?
R – Sim, sim, sim. Bom, naquela época o meu pai era geralmente da parte de atacado de legumes, eles trabalhavam no período noturno, começava por volta de dez horas da noite e ia até por volta de seis horas da manhã porque era onde os feirantes se abasteciam. Feirantes, pequenos comércios se abasteciam desse tipo de comércio. Era um comércio mais atacadista, não tanto varejista. Uma vez eu lembro de ter ido, mas como era à noite eu pouco ia com ele. Mas depois meu pai também teve comércio, um empório, meu pai também teve padaria, meu pai foi sempre da parte de comércio. Aí, eu vivi um pouquinho mais, aproveitava um pouquinho mais com eles, né?
P/1 – O empório e a padaria eram lá na Mooca também?
R – A padaria era na Mooca e depois o empório foi lá onde é hoje a Vila Formosa, era bem distante do centro, ficava naquela parte hoje que tem aquela famosa, o Jardim Anália Franco, que mudou bastante.
P/1 – E pelo seu pai ser comerciante e o seu avô ter tido uma banca de jornais, o outro uma vendinha, essa atividade de comerciante era uma atividade valorizada na sua família? O seu pai pensava nisso pra você também? Ou não.
R – O meu pai sempre deixou muito à vontade que eu decidisse aquilo que eu gostaria de ser. Talvez pelas suas origens agrícolas, tal, o grande sonho do meu pai era que eu fosse um engenheiro agrônomo, infelizmente (risos) eu não segui, mas o meu pai sempre deu apoio pra tudo aquilo que eu quis fazer e estudar. E eu comecei a trabalhar cedo no comércio, com 14 anos, numa firma que naquela época era um grande atacadista, importadora de gêneros alimentícios. É o tipo de uma empresa que hoje a gente chama de trading company, era muito forte nas importações, e dentre os diversos produtos além dos gêneros alimentícios, ela tinha também um setor de matérias primas, que naquela época se importava bastante matéria prima, até o gerente desse setor era um senhor grego. E o grego tem aquela fama de ser bom comerciante, e eu acho que eu aprendi muito com ele. Na minha vida eu sempre procurei aprender com os mais experientes, as pessoas mais antigas ou idosas, porque eu acho que independente do seu grau de cultura eles trazem uma coisa que é muito importante no ser humano, que é aquele conhecimento, aquela experiência. E então eu acho que eu aprendi muito com ele, devo tudo o que eu hoje sou a essas pessoas que me orientaram. Comecei a trabalhar como office-boy, fui crescendo a empresa, fui pra área comercial. Eu tive um grande atrativo sempre na área comercial. Durante um certo tempo cheguei a trabalhar na parte administrativa, mas eu acho que já corria nas veias aquele sangue de comércio, o que foi e o que eu sou até hoje e procuro fazer bem.
P/1 – Justamente isso que eu ia te perguntar. Quando é que o senhor percebeu, em você, essa vontade de ser comerciante? Foi no período da escola? Na escola o senhor já pensava em aprender as matérias mais importantes pro comerciante? Como é que foi essa vocação?
R – A gente quando é um pouco jovem fica meio inseguro, você quer ser tudo. Você vai variando, por vezes por causa de um amigo, ou de uma outra pessoa da família. Mas eu acho que talvez por eu trabalhar em uma firma estritamente comercial já acabou, sempre me adaptei bem, sempre trabalhava na área de faturamento, passei um período de experiência muito curto também nos armazéns da empresa. Acho que fui me especializando e aquilo foi um setor que eu gostei bastante, né? Eu tenho por formação, acabei me formando bacharel em Direito, advogado, mas nunca exerci, sempre foi mais pra ter um curso universitário, mas eu sempre tive um atrativo muito grande pelo comércio. E pelo comércio internacional. A minha educação, a minha experiência, vem sempre com comércio internacional, eu achava novos desafios, novas oportunidades, então eu posso dizer que eu acho que se hoje eu sou um comerciante é alguma coisa que eu sempre gostei de ser e não tenho nenhuma frustração por ser hoje comerciante.
P/1 – E por essa parte do comércio internacional, foi isso que o senhor falou da importância de ter tido contato com a língua espanhola na infância? Te ajudou muito?
R – No comércio internacional a língua mais falada é a língua inglesa. O inglês é necessário, eu estudei inglês, acabei fazendo a língua, mas a grande parte da população é hispânica e quando eu trabalhei muito na área depois, em uma outra empresa que trabalhei durante um período, que viajava muito pela América Latina. Fui responsável pela América Latina nessa empresa, uma empresa holandesa, trading company, e então isso me ajudou, essa origem do castelhano. Apesar de diferentes pronúncias em algumas palavras, o acento, dentre o México, a Argentina. Mas acho que aproveitei bastante, serviu. Até hoje me serve de vez em quando, eu gosto principalmente quando encontro com pessoas de origem latina ou de origem espanhola, nós falarmos o castelhano.
P/1 – A gente tava falando do seu primeiro emprego, foi com 14 anos. Então foi em 1954, certo?
R – Foi.
P/1 – Essa foi a época do quarto centenário de São Paulo, a cidade tava passando por festividades. O senhor tem alguma lembrança desse anos?
R – Tenho. Poxa, foi um ano marcante. Inclusive, nunca esqueço. Apesar dos meus avós serem de origem espanhola eles adotaram a pátria que os acolheu, eles gostavam muito do Brasil. Em 1954, quando foi o quarto centenário da cidade de São Paulo foram feitas algumas placas comemorativas onde tinha o logotipo do quarto centenário. E eu nunca esqueço que vendiam-se essas placas comemorativas e a primeira coisa que meu avô fez foi comprar essa placa e colocar lá na porta de casa. Então, era muito importante, era aquele sentido de paulista, já havia a Revolução Constitucionalista de 32, eu não era nascido mas a gente sempre lembrava. Os meus avós. Aquilo criou no povo paulista um sentimento de apego à pátria, à terra, então, acho que isso até hoje é uma marca do paulista, ele é muito apegado a sua terra. E eu acho que isso, não no sentido de querer ser qualquer grandeza em relação aos outros estados da federação, mas acho que isso é uma marca que todo paulista leva dentro de si. Aquele apego à sua terra, gostar, do sentido patriótico, né?
P/1 – E em 54 marcou pro senhor também como o ano do seu primeiro emprego. Queria que o senhor falasse como é que o senhor conseguiu contato, como é que o senhor entrou nessa empresa, como foi?
R – Eu fui pra essa empresa levado pela mão do meu tio, né? O meu tio já trabalhava nessa empresa e naquela época existia, os nossos pais achavam que a criança na rua não era muito bom, tinha que trabalhar, você tinha que se ocupar. E eu fui, comecei a trabalhar, estudava à noite, comecei a estudar à noite. Sempre foi assim. Fui levado pelo meu tio, comecei trabalhando como office-boy, lá a gente levava muita nota fiscal porque naquele tempo se faturava, levava pros clientes. E também esse contato, essa empresa era situada na Senador Queiros, era uma empresa de origem cerealista, gêneros alimentícios. Naquela época se importava quase todo azeite, o alho, os vinhos, e muitas frutas. Então, eu me criei naquela zona do mercado municipal, Rua Santa Rosa, Senador Queiros, era a grande concentração dos grandes atacadistas de gêneros alimentícios.
P/1 – O fato do seu pai ter trabalhado no mercado municipal antes te ajudou de alguma forma? Em termos de você conhecer alguma coisa já, teve alguma ajuda nesse sentido?
R – Acho que não... Ajuda assim, comercial, não. Apenas, talvez, foi mais tranquilo pra família saber que tava no ramo que meu pai já trabalhava (risos). Então, talvez aquilo juntava a parte familiar, residência, com a parte de trabalho. Apesar que São Paulo naquela época era um Estado mais tranquilo, não era tão grande a população. Claro, sempre existiram os perigos, sempre existiram os grandes roubos, as grandes preocupações, mas não tanto que nem hoje, né? São Paulo era uma cidade mais tranquila, prova disso é que a gente sempre podia caminhar pelo Parque Dom Pedro, que era um parque espetacular, uma área verde da cidade de São Paulo. Então tudo aquilo, talvez não existisse tanta preocupação de onde você trabalhava, onde você estava.
P/1 – E como foi pro senhor conciliar trabalho, estudo? Trabalhar de dia, estudar à noite foi muito difícil? Tem alguma lembrança disso?
R – Não, não. Acho que foi um pouquinho difícil, mas naquela época acho que a maior parte dos meus colegas de escola, com raras exceções, trabalhavam. Era comum naquela época as pessoas trabalharem, alguns eram arrimo de família, outros porque talvez necessitassem, mas era comum você ter. E até existia uma certa compreensão dos professores ao exigir as matérias, as lições em casa, eles já sabiam que durante o dia estão ocupados no trabalho e exigiam menos. E também no trabalho já havia uma certa compreensão que em algum momento, quando a gente não tava ali sentado, trabalhando, era até incentivado que se estudasse, levasse os livros, os cadernos. E muitas das minhas lições eu fiz no ambiente de trabalho.
P/1 – E com esse dia a dia muito cheio sobrava tempo pra diversão, sair com os amigos, pra namorar?
R – As diversões eram no final de semana (risos). Eram sábado e domingo. Naquela época ainda se trabalhava aos sábados até meio-dia. Depois veio a ser abolido o trabalho aos sábados, mas no sábado depois do almoço é quando a gente aproveitava pra jogar um futebol ou se encontrar com os amigos. E namorar, paquerar também. No sábado à noite existia muito daqueles bailinhos, era muito comum os bailinhos, de escolas ou às vezes até de grupos de jovens que faziam os bailes, né? E existia também a temporada dos bailes no final do ano que eram os bailes de formatura. Eram os famosos bailes de formatura, Club Homs, Casa de Portugal, o próprio aeroporto onde tinha os grandes salões. Clube Pinheiros. A gente aproveitava aquela época pra participar daqueles bailinhos que eram muito interessantes.
P/1 – Tinha algum preferido seu?
R – Não. Acho que, talvez pela proximidade, a Casa de Portugal era um famoso que a gente sempre gostava de participar dos bailes da Casa de Portugal, um salão muito bonito. Existe até hoje.
P/1 – É na Liberdade?
R – Na Liberdade, é. Eu não tenho frequentado mais. O Club Homs na Avenida Paulista eu também não tenho ido mais. Eram os salões preferidos que nós tínhamos.
P/1 – O senhor entrou com 14 anos como office-boy, como é que foi o seu caminho dentro da empresa? Quanto tempo durou essa empresa?
R – Eu trabalhei nessa empresa até 1967. Eu fui crescendo dentro da empresa. Depois eu passei pro setor comercial da empresa e lá fiquei até atingir uma certa chefia. E depois, em 1966, 67 eu acabei saindo dessa empresa. Não por nada, eu acho que por uma questão, gostava muito dessa empresa, até hoje tenho relacionamento muito próximo de um dos sócios da empresa a quem eu prezo muito. Mas saí por uma questão que eu queria ter novos desafios. Eu tinha algumas ideias de comércio internacional, gostava bastante, e fui pra uma outra empresa, que trabalhava com derivados de petróleo, uma empresa já de um ramo que eu vinha da área química. E dessa empresa também fiquei um período, mais uns dez anos lá, até que eu saí e fui pra essa empresa internacional e depois fundei a minha empresa em 1981.
P/1 – Então, deixa eu fazer uns parênteses. Na época do exército, aos 18 anos, o senhor teve algum problema pra manter o seu emprego, como foi?
R – Eu fiz Aeronáutica. Eu fui designado pra trabalhar em São José dos Campos, lá no Centro Técnico da Aeronáutica, mas eu fiquei apenas um mês, depois eu fui dispensado por excesso de contingente. Naquela época você ia e geralmente aquelas pessoas que estudavam ou tinham algum emprego eles acabavam dispensando. Eu saí como reservista de terceira categoria da Aeronáutica. Mas durante esse tempo era normal nas empresas, quando fosse servir o Exército, dispensavam e você mantinha o emprego. E quando eu voltei, eu voltei pra empresa, não tive nenhum problema.
P/1 – Com as mesmas funções?
R – Voltei com as mesma funções, tudo. Eles foram muito compreensivos e só tenho a agradecer. Eu sempre tive bons patrões ou bons empresários com quem eu trabalhei, aprendi bastante, sempre me interessei e tenho boas lembranças.
P/1 – A empresa era de gêneros alimentícios, né?
R – Isso.
P/1 – E o senhor lembra com quais países eles faziam comércio, se eram muitos países, eram poucos países?
R – Tinha um pouco de comércio com a Argentina. Naquele tempo Chile não era muito. Mas era mais com a Europa, Espanha, Itália, Grécia eram os países com que tinha mais comércio. E pelo tipo de produtos, que nem Portugal, os produtos que trabalhava eram azeites, frutas importadas, melão. Hoje você não importa mais melão, tem melão nacional. A maçã nacional. Naquele tempo vinha da Espanha, da Itália, do próprio Portugal. Um pouquinho da França, não tanto. Mas eram mais os países do sul da Europa.
P/1 – E pode-se dizer que naquela época o Brasil era um grande consumidor de artigos estrangeiros ou era uma parcela restrita da população que consumia?
R – Bom, o Brasil já era um grande consumidor. É claro que você tinha alguns tipos de produtos que iam mais pra um tipo de população que tinha um poder aquisitivo um pouquinho maior. Mas eu acho que as frutas natalinas eram pra todo tipo de população, já era uma tradição devido à origem estrangeira. Uma coisa que os imigrantes sempre, por mais que eles tenham deixado sua pátria jovens ou pequenos sempre trouxeram alguns costumes e mantiveram. Então, existia, sempre no final do ano era castanha, as nozes, as frutas, sempre cereja que vinham da Argentina, Espanha. Podia ser pouco, mas sempre tinha um pouquinho pra manter as tradições das origens.
P/1 – E esse produtos estrangeiros chegavam no porto, e depois, como era a distribuição?
R – Chegavam no porto aí eram trazidos aqui pra capital, tinha os armazéns. A empresa que eu trabalhava tinha armazéns aqui na zona aqui da Avenida Presidente Wilson que era uma zona que tinha os grandes armazéns, os grandes atacadistas, e depois eram feitas distribuições. O grande comércio de frutas, e sempre foi, acho que hoje é menos, naquela época não existiam os grandes supermercados, eram mais empórios, vendas pequenas e os feirantes. Eu creio que os feirantes tiveram um papel muito preponderante nessa distribuição de alimentos. Depois foram se sofisticando, aí já vieram os grandes supermercados, aí já começaram mudar um pouco. Apesar que as feiras livres existem até hoje, prova esta feira do Pacaembu que ainda é famosa, e tem bons produtos. Mas naquela época os grandes centros de distribuição eram feitos através de pequenos comércios, pequenos empórios, vendas, e através das feiras livres.
P/1 – E o Ceagesp já existia nessa época? Ele já era importante nessa época?
R – Não, não. Se eu não estiver enganado o Ceagesp é da década de 60 ou 70, acho que foi mais em 70 que começou. Naquela época o grande centro era o mercado municipal. Era o mercado municipal e a zona cerealista da Rua Cantareira, da Rua Santa Rosa, que eram os grandes centros comerciais pra esse tipo de produto. O Ceagesp acho que veio bem depois, já na década de 70, eu não lembro bem. E aí foi onde que acabou, apesar que ainda se manteve as tradições do mercado municipal, mas mais em termos varejistas, e o grande atacado foi lá pra zona do Ceagesp. Meu pai chegou a pegar a zona do Ceagesp, meu irmão até quando faleceu continuava os negócios do meu pai no Ceagesp, foi a transferência do mercado municipal pro Ceagesp.
P/1 – Bom, e dessa empresa de importação o senhor passou pra uma empresa de um ramo bem diferente que é o petrolífero, né?
R – É.
P/1 – Como foi essa mudança pro senhor? Foi fácil a adaptação?
R – Como eu disse a você, essa empresa que era um tipo de trading company ela tinha uma área de produtos químicos, importava-se muitas matérias primas, principalmente parafina pra fazer velas, foi um dos grandes produtos, soda cáustica. Então já existia essa divisão que era controlada, gerenciada por esses senhores gregos, senhor Panaiotski, nunca esqueço, e depois quando eu fui pra empresa de petróleo que já saí do ramo alimentício, saí totalmente e nunca mais voltei ao ramo alimentício. E já fui pra esse ramo de matérias primas e até hoje permaneço com esse tipo de produtos.
P/1 – As relações nesse caso mudam um pouquinho, né? Em vez de ser um grande distribuidor o senhor tem que ter uma relação com a indústria, ou é diferente? Como é pro senhor distribuir a mercadoria que o senhor importa, nesse ramo dos produtos químicos?
R – De produtos químicos você realmente sai um pouco da área atacadista, gênero alimentício e fui mais para fornecer para pequena e média indústria. Muda-se um pouquinho, ainda hoje existe e é muito importante o contato pessoal com as empresas, você tem aquele contato. Porque você só adquire o conhecimento no contato pessoal. Naquele tempo você não tinha tanta facilidade de comunicação, você dependia muito do telex. E como você sabe as comunicações eram o telefone e o telex. As comunicações no Brasil demoraram um pouquinho, apenas após o governo da revolução, governo militar, que houve um grande incremento nas comunicações. Então era muito importante o contato pessoal. Apesar que não era mais o contato com aquele comerciante que atendia o varejo, passou a ser o contato com o industrial. Mas o industrial que não deixou de fabricar produtos como tinta, produtos têxteis que no final vai pra população, vai praquele consumo varejista. Talvez fosse um tipo de relacionamento diferente, mas não deixava de ser um relacionamento comercial, muito importante. Acho que o comércio é feito por pessoas, o comércio, nos meus contatos, ainda hoje, na minha atividade tenho muito contato tanto nos Estados Unidos quanto a Europa, e você nota diferença de relacionamentos. O latino, talvez por ser mais emotivo, não ser tão racional (risos), ele gosta muito do contato pessoal. Então, você nota. Nos Estados Unidos o contato é feito por telex, sempre foi feito mais um contato não tanto nas visitas, no tête-à-tête, no olhos nos olhos. Mas aqui na América Latina e no Brasil, ainda hoje prevalece aquele contato pessoal, é muito importante pra você sentir, pra você acabar sabendo o que é, o que tá acontecendo realmente dentro do mercado. Mudou um pouco, mas eu diria que no sentido pessoal tudo aquilo que eu aprendi, vindo daquele contato pessoal com o comerciante, pequeno comerciante, ou com o próprio feirante, acabou se sofisticando um pouco, né? Porque a indústria sofisticou, mas continua, é muito importante esse contato pessoal.
P/1 – E nesse caso, esses produtos que o senhor importava vinham de quais países agora? Parafina... E o Brasil hoje, ele continua tendo que importar ou ele já está autosuficiente?
R – Não, não, o Brasil hoje já se tornou autosuficiente em muitos produtos, hoje a parafina já é totalmente nacional. Mas ainda existem algumas matérias primas, principalmente pro setor farmacêutico, cosmético e alimentício que não são fabricadas no país, então hoje é necessária essa importação. Existem alguns outros produtos que têm a produção nacional, mas não é suficiente, então ainda hoje você ainda é muito dependente das importações nesse setor de matérias primas químicas e petroquímicas.
TROCA DE FITA
P/1 – Com quais países da Europa era feito esse comércio? Quais eram os grandes fornecedores de produtos químicos nessa época?
R – Bom, num primeiro momento, na década de 70, 80, a Europa era o grande supridor do Brasil. A indústria química era muito pujante na Europa, e eles eram os grandes fornecedores do Brasil, Alemanha principalmente, Itália. Espanha menos. Os países do leste europeu que eram países industrializados. E depois começou florescer a indústria americana. Talvez pela nossa proximidade, pelos tipos de produtos que operam, área de solventes, produtos pra produzir tintas, os Estados Unidos foram um grande fornecedor na área química e petroquímica. E a coisa foi evoluindo. Hoje já houve também uma diversificação, Europa perdeu muito do seu mercado para Índia e China, hoje nós temos entre Índia e China, principalmente em algumas especialidades eles acabaram substituindo as importações dos produtos europeus. Mas ainda Europa em algumas matérias primas que exigem uma técnica, uma especialidade, ainda são fornecedores tradicionais. Mas eu diria que acabou mudando bastante a origem, estão sendo substituídos por produtos de origem indiana e chinesa. Mais na área química. Na área petroquímica ainda os Estados Unidos é um grande potencial fornecedor devido à proximidade. Porque às vezes tem certos produtos que o valor agregado não é muito alto e o frete encarece. Então, devido a nossa proximidade geográfica, e talvez pelo nosso relacionamento comercial, os Estados Unidos ainda são um grande parceiro comercial do Brasil.
P/1 – E essa indústria petroquímica no Brasil, nessa época, o senhor classificaria ela como razoavelmente desenvolvida ou muito insipiente? E como o senhor classificaria ela hoje? Como foi evoluindo essa indústria ao longo das décadas no Brasil?
R – A indústria petroquímica do Brasil é relativamente nova, ela começou na década de 70, onde se construíram os grandes pólos petroquímicos, primeiro em São Paulo, depois na Capuava em Mauá, foi o primeiro pólo petroquímico. Depois, o segundo pólo foi na Bahia, em Camaçari, e o terceiro acabou sendo no Rio Grande do Sul. Houve uma evolução muito grande, hoje a indústria petroquímica nacional tem uma escala, tem uma qualidade, eu diria a você, a nível internacional ela não fica a dever nada. E também o setor petroquímico, ele se tornou grande exportador também, tem algumas matérias primas que ele tem produção suficiente, ele é um grande fornecedor não só exportando para os Estados Unidos, como também Europa. Então, eu diria a você que a indústria petroquímica brasileira está bastante evoluída em termos de qualidade, em termos de pesquisa, em termos de técnica de produção, é uma indústria bastante evoluída.
P/1 – Os profissionais também?
R – Profissionais também, muito. O Brasil cresceu muito em termos de comércio internacional e profissionais. Eu acho que hoje nós temos muitos bons profissionais, eles se especializaram. É claro que houve um grande aprendizado nas grandes indústrias multinacionais, então eu diria que hoje, em termos de material humano, a indústria petroquímica brasileira é um nível igual, e hoje até estamos exportando os profissionais. Hoje tenho conhecimento em algumas indústrias multinacionais da área petroquímica, que tem executivos brasileiros. O executivo brasileiro, além de ser muito inteligente ele tem um grande vantagem que ele tem uma flexibilidade muito grande em se adaptar aos meios ambientes. Talvez devido as nossas crises econômicas pelos quais o Brasil passou, não só o executivo, mas o próprio empresário brasileiro, ele teve que conviver com todas as dificuldades e conseguir encontrar os meios pra poder sobreviver. Isso nos deu uma experiência, uma bagagem muito grande, eu diria a você que hoje o executivo brasileiro é muito bem valorizado mundialmente.
P/1 – Hoje em dia o Brasil, além de importador, é também exportador de matéria prima pra indústria química e petroquímica?
R – Sim. Você sabe que com a globalização você hoje não pode se dizer eu vou só importador, ou sou só exportador, você tem que ter essa flexibilidade. São produtos que dependem muito do preço do petróleo, produtos que têm muitas oscilações nos preços. Então, às vezes você torna-se importador ou exportador. Em alguns momentos as paradas programadas em certas unidades onde torna-se necessário aquelas importações para complementar o consumo nacional. E também você tem, como eu disse, talvez é um dos setores que nós já estejamos autosuficientes, mas a química e a petroquímica é um mundo muito vasto e abrangente. Você não pode ser bom em tudo, não pode ter produção em tudo. Em alguns produtos, apesar de ter produção nacional, você ainda depende de algumas importações pra complementar o consumo nacional.
P/1 – E foi no período que o senhor trabalhou nessa empresa que o senhor teve aquele trabalho que o senhor viajava pela América Latina? Foi nesse período?
R – Foi. Eu trabalhei em uma trading holandesa, eu trabalhei de 76 até 81, quando eu acabei abrindo a minha própria empresa. Foi muito importante esse período que eu trabalhei, eu era responsável por toda América Latina, viajava desde México, Colômbia, Peru, Chile, Argentina. Foi muito importante esse período na minha vida profissional.
P/1 – E tem como o senhor falar pra gente alguma história marcante desse período? Alguma viagem especial que o senhor tem alguma lembrança até hoje? Onde o senhor gostou mais de visitar?
R – Eu lembro que na época esses países tinham um controle de moeda, no Peru você chegava e tinha que declarar com quantos dólares você entrava. Na saída, quantos dólares você ia sair, precisa ver quantos dólares você trocou dentro do país. O México também era uma país bastante interessante, mas o México já era um pouco mais desenvolvido devido a sua proximidade com os Estados Unidos. Mexicano sempre teve um certo grau de liberdade. Mas em outros países, e também na Argentina. A Argentina com suas crises econômicas, suas greves. Houve uma época que era muito interessante fazer compra na Argentina, você ia comprar calçados, roupas, era um preço super interessante, então eu me abastecia muito de ternos e de calçados na Argentina da época que viajava bastante. Teve várias experiências, no momento assim... Ah, lembro uma vez eu tava na Colômbia e, por incrível que pareça, eu nunca tinha assistido a uma corrida de touro. E na Colômbia, em Bogotá, você tem a praça de touros em frente ao Hotel Tamanaco, que era um dos melhores hotéis. E eu estava um domingo lá, então, eu fui ao concierge do hotel pra assistir à corrida de touro. E o rapaz sabendo que eu não era colombiano ele disse: “Olha, eu vou dar um conselho pro senhor. Se eu fosse o senhor eu não iria” “Mas por que não?” “Porque é muito perigoso”. Naquela época os crimes e roubos eram muito grandes na Colômbia, então, pra mim foi uma frustração, descendente de espanhóis não poder ter assistido. Até hoje eu não assisti a uma corrida de touros ao vivo. Mas isso foi uma das frustrações que eu lembre. Mas do resto, eu acho que fiz boas amizades, até hoje tenho boas amizades nesses países que quando eu vou, apesar que alguns deles eu já não tenha mais um relacionamento comercial, mas ficou as grandes amizades, isso é muito importante.
P/1 – Você chegou a morar em algum desses países?
R – Não. Não tive oportunidade, viajava constantemente, mas nunca fixei residência em nenhum desses países. Gostaria de ter morado nos Estados Unidos. Ainda hoje considero os Estados Unidos um país, em termos de civilidade, em termos de respeito ao ser humano, gosto bastante, tenho grandes boas amizades de americanos, mas não tive essa oportunidade.
P/1 – E dessa empresa o senhor foi abrir a sua própria empresa.
R – É. Em 1981 eu resolvi abrir a minha própria empresa, achei que deveria começar alguma coisa e eu abri minha empresa. Foi até interessante, quando eu abri a minha própria empresa eu acabei ficando como agente ou representante com a qual já tinha essa empresa que eu trabalhei, que eu já tinha contatos. Tinha um amigo americano que foi meu diretor. Eu acho que na minha vida foi muito importante, como eu disse no começo, os contatos e as boas amizades com meus superiores. Acho que sempre criei um relacionamento de respeito e consideração muito grande. E quando eu decidi abrir a minha própria empresa, esse senhor que tinha sido meu diretor nessa outra trading holandesa ele falou: “Não, você vai ser meu agente no Brasil”, e até me ajudou quando eu fui me estabelecer. Comecei com escritório lá na Rua Itapeva, e foi muito importante porque ele me deu muito suporte. E naquela época, em 1981, o Brasil teve um grande problema, o Brasil praticamente sofreu uma das grandes crises, que o Brasil até entrou em moratória. Naquela época foi muito incentivado, foi muito requisitado pelo governo as exportações. E começavam a operar os grandes processos petroquímicos, como o da Bahia, um complexo grande, e naquela época eles tinham uma produção suficiente, grande até, pra atender o mercado nacional. E como havia uma recessão no mercado interno era necessário exportar seus produtos que estavam sendo fabricados naquelas novas unidades. E naquela época então eu acho que eu tive um papel muito preponderante na exportação daquele pólo petroquímico, os Estados Unidos entraram com a gente. E também tive a oportunidade de desenvolver o mercado indiano com algumas exportações, viajei duas vezes à Índia, foi uma experiência muito interessante, um país totalmente diferente, com costumes. Mas acabei entrando também em Cingapura. Foi muito bom esse período, a firma tinha escritório nos Estados Unidos e na Suíça, e viajei bastante na Europa em todo esse período. A minha empresa, nesse período de 81 a 89, nós atuamos muito na base da exportação dos produtos petroquímicos. Em 1989, já incentivado até por essas empresas que exportavam e que também atendiam o mercado interno, disseram: “Rubens, por que você não começa a distribuição localmente?”. Em 1989, em 90 nós começamos a trabalhar. Nessa época os meus dois filhos, que até hoje estão comigo, vieram trabalhar comigo. Nós começamos então na mesma empresa, mas não só a parte internacional, como também a parte nacional, fazer distribuição local. Em 1990, quando foi da época do Presidente Collor, até aquela época o Brasil havia problema de divisas, as importações eram muito controladas. Mas em 1990, quando o Presidente Collor abriu, modernizou o comércio internacional, caíram certas barreiras, certas proteções econômicas, com todos os contatos que existia com firmas que eu tinha do exterior, e essas firmas não tinham negócio no Brasil, ou não vendiam, e foi uma grande oportunidade que eu tive, essas empresas me procuraram para eu importar e começar a fazer distribuição local. Então, nós começamos, foi um período muito bom, acho que era um período que quase não havia mercado para os produtos estrangeiros, que era só produção nacional, e deu oportunidade a nossa empresa de firmar-se como um canal de importações que complementava as necessidades das grandes indústrias nacionais consumidoras. Viemos, nós começamos lá em Diadema, uma armazém pequeno, depois acabamos indo pra um outro armazém maior, e em 1999 nós mudamos pras instalações que estamos hoje, que é uma instalação muito boa, lá em Diadema também, nós adquirimos, adaptamos, e estamos lá até hoje.
P/1 – O senhor mencionou que no mercado brasileiro o pólo da Bahia era importante, o pólo produtor...
R – Isso.
P/1 – Eu queria saber como é que essa indústria foi se desenvolvendo no Brasil. Quais foram os estados que tiveram maior participação, quais indústrias que são mais importantes nesse tipo de atividade?
R – Bom, a princípio, o Brasil, quando desenvolveu a indústria petroquímica, naquela época já existiam algumas multinacionais no Brasil, mas especificamente nas grandes centrais petroquímicas, o Brasil no seu início até usou uma política que acho que foi muito importante que é o modelo tripartite. Você tinha um sócio estrangeiro que trazia a tecnologia, você tinha o sócio nacional que era a Petrobrás, que continua sendo a grande fornecedora das matérias primas básicas, o petróleo, a Nafta, e tinha um investidor privado nacional. Se conseguiu coordenar essas três forças que foi muito importante, a tecnologia, a matéria prima e o gerenciamento. Esse modelo, ele veio até mais ou menos parte de 90, e depois eles foram se nacionalizando ou algumas acabou que o sócio estrangeiro ficou com toda empresa. E depois nós tivemos já na década de 2000, isso foi uma tendência mundial, que eram as grandes concentrações, as fusões. Aquele sistema de várias indústrias fragmentadas já não era necessário adquirir economia de escala. Aí, no Brasil também acabou havendo essas consolidações pra ter grandes plantas com produções em escala mundial, e não era mais possível você ter pequenas e médias indústrias fragmentadas. Hoje o modelo já é mais consolidado e eu creio que foi muito bom pra economia brasileira esse tipo de modelo que acabou se criando porque criou-se grandes empresas e onde a Petrobrás é a sócia nacional, eu creio que é o grande futuro, será em cima dele, de empresas. Isso na parte de produção, que nós chamamos de primeira geração. Porque dentro da indústria petroquímica você tem primeira geração, segunda geração, terceira geração. Primeira geração é a que faz as matérias primas básicas. Segunda geração, só pra dar um exemplo a você, é a questão do polietileno. Na primeira geração fornece o etileno que é a matéria prima, segunda geração faz o polietileno, e na terceira geração faz todos esses materiais plásticos que você conhece. Então, nós vimos essa concentração em primeira geração, na segunda geração também já começa a haver uma certa concentração, e terceira geração é fragmentado porque você vai se especializando em diversos setores. A química está em toda a nossa atividade, está na vida humana.
P/1 – Tem em todo lugar.
R – Tudo, na roupa, no automóvel, no batom, no esmalte (risos). Tudo isso é química. Eu sempre digo que a minha empresa é um supermercado da indústria química, nós temos vários produtos e abastecido, vai lá, todo dia tem alguma coisa que alguém, alguma indústria tem que comprar.
P/1 – O senhor também mencionou esses primeiros anos da sua empresa que é um período meio complicado pra economia do Brasil, o senhor atravessou bem. E eu gostaria que o senhor falasse então agora, não vou dizer que é o outro lado, mas esse período de aquecimento da economia no Brasil, a partir dos anos 2000 pra cá, como é que foi pra sua empresa, pro seu ramo de atividade? Ajudou? Como é que ficou desses últimos anos pra cá?
R – Houve uma alteração muito grande no nosso tipo de comercialização. Nos primórdios você simplesmente se limitava a importar, colocar num armazém e depois entregar para as indústrias consumidoras. Mas na última década nós assistimos no nosso setor, no comércio atacadista de distribuição de produtos químicos e petroquímicos, começou a haver, devido àquela consolidação na indústria química, ela passou a certos tipos de serviço que o fabricante prestava, ele passou a distribuidor. Como ter o controle técnico, análises, assistência técnica ao pequeno e médio consumidor. Então esse papel, o grande fabricante passou a atender a grande indústria consumidora, e o distribuidor passou a atender a pequena e média indústria nacional. É um papel muito importante que nós exercemos na cadeia produtiva, é reconhecido, e se você considerar um país de dimensões continentais como o Brasil, e onde a grande produção está concentrada no Sudeste, você tem que ter canais de distribuição bem equipados e bem capacitados a dar esse atendimento. Então, hoje a minha empresa, dentro dessa categoria econômica, ela passou a ter um papel muito importante dentro da economia nacional e na cadeia produtiva. Importante por dois motivos, primeiro lugar, que ela consolida e descobre novos fornecedores no mercado internacional e que traz pro Brasil. Também novos produtos que estão sendo incorporados, já produtos lá fora pra consumo final, e que também a indústria, principalmente cosmética, farmacêutica e de alimentos aqui acabam se sofisticando. Então, o distribuidor de produtos químicos, o que acontece? Através das suas condições de consolidar as quantidades, ele acaba trazendo a preços competitivos. E depois ele transfere parte dessa economia que ele faz aos seus consumidores. Ele, devido ao mix de produtos ser um mix muito grande e o nosso modal de transporte no país é rodoviário, o qual é um transporte caro, o distribuidor, ao trabalhar com uma gama variada de produtos, ele também dilui custos em certos produtos. O que acontece? Hoje, a nossa atividade é uma atividade que é requerida, ela é desejada e é muito importante dentro da cadeia produtiva pra pequeno e médio industrial. Por exemplo, nós temos visto, o Nordeste tem crescido muito na área industrial, então isso é muito importante que a cadeia distribuidora esteja bem equipada pra poder atender, você imagina, atender a uma indústria pequena, consumidora, lá no Amazonas, ou no Nordeste. Você tem que ter uma logística muito importante e eficiente, que você consiga dar condições de sobrevivência pra essa pequena e média indústria nacional.
P/1 – Falando nessa logística que é um investimento importante, as inovações tecnológicas da era da computação pra cá, internet, celular, de que forma isso ajudou a sua atividade a crescer também? O quanto ela é dependente dessas tecnologias de hoje?
R – Bom, ela é muito importante. Hoje ninguém pode ignorar os grandes benefícios desse desenvolvimento que tivemos na área das comunicações. Apesar que eu disse a você que o contato humano é muito importante, nós não podemos dispender dos meios de comunicação. A internet é a grande descoberta do século, acho que nós nunca vimos tantas novas ferramentas na área de comunicação, comunicação em todos os sentidos, como na última década. E você notar, telefone celular, isto te dá hoje uma tranquilidade, uma mobilidade, é impressionante. A internet. Então, tudo isso foi muito importante. Foi muito importante na questão da comunicação, você reduziu custos, você otimizou seus processos, processo de controle, de gerenciamento, foram muito importantes. Mas ainda no comércio vale muito ainda o teu feeling pessoal. Eu acho que o comércio é uma coisa que, se você se reportar aos fenícios, as próprios gregos, aos holandeses que fizeram os grandes comércios, eram de um povo, é uma coisa que vem dentro do ser humano. Ele utiliza essas ferramentas pra aperfeiçoar e pra facilitar o seu modo de trabalho, mas o comércio ainda é muito dependente do material humano.
P/1 – Bom, seu Rubens, eu sou uma pessoa leiga nesse assunto, produtos petroquímicos, então talvez essa pergunta seja um pouco inadequada. Mas eu gostaria de saber, a descoberta do pré-sal na costa brasileira, isso influenciou de alguma forma? Que expectativa isso gerou pra sua atividade, pro seu ramo de atividade?
R – É, isso foi uma grande descoberta, não há dúvida nenhuma. O Brasil foi um país que durante muito tempo foi dependente do petróleo, então essa descoberta do pré-sal, você vislumbra um potencial muito grande. Agora, isso não é nem a curto, nem a médio prazo. Você sabe que uma coisa é você descobrir o petróleo lá embaixo do mar e outra coisa é você colocá-lo dentro de uma refinaria. Exige investimentos muito grandes, é uma atividade que demora, entre o tempo de maturação e descoberta vai de três a cinco anos. Mas não há dúvida nenhuma que isso será um grande trunfo do Brasil, isso trará um grande desenvolvimento, é muito grande a atividade industrial brasileira. O país hoje já é autosuficiente de petróleo, nós somos um pouquinho deficiente em termos de refino. O refino é a gasolina, o óleo diesel, que a Petrobrás está hoje investindo e talvez a gente venha ser autosuficiente. Mas não há dúvida nenhuma que essa descoberta foi um grande benefício pro país, e tenho certeza que daqui a dez, 15 anos, isso trará grandes melhorias. Nós esperamos que o governo seja capaz e responsável de utilizar todas essas riquezas, né? E também utilizar um pouquinho em termos de benefícios para a população, investir esses ganhos de produtividade, esses frutos dessa riqueza sejam aplicados na nossa Educação. O país ainda é carente de uma Educação, de Saúde. E se você considerar que um dos grandes trunfos para o desenvolvimento e progresso de nações menores, e com menos recursos naturais que o Brasil, se você pegar uma Coréia do Sul, o próprio Japão, eles foram frutos da educação, investiram muito em educação, e na saúde do povo. Acho que isso é importante. Nós já evoluímos bastante, mas ainda temos que nos preocupar quanto às futuras gerações. Eu lembro quando anteriormente, talvez a 20 anos atrás, você ia procurar emprego, a tua escolaridade era o grupo escolar, o primário. Hoje, quando você vai no mercado de emprego, você já precisa ter um curso superior, senão você acaba sendo excluído. E também informática. Apesar que nós mais antigos às vezes temos certas dificuldades (risos) em lidar com toda essa modernidade, mas não podemos ignorar, né?
P/1 – O senhor falou que o seu escritório está hoje em Diadema.
R – Em Diadema.
P/1 – Bem, essa região do ABC historicamente se desenvolveu muito como parque industrial. É por esse motivo que o seu escritório está lá? Qual foi o motivo dessa escolha por Diadema, tem alguma coisa a ver?
R – Por incrível que pareça não foi bem a parte industrial, foi apenas uma parte de comunicação. Quando nós fomos lá pra Diadema, em 1989, telefones no Brasil, linha telefônica era uma dificuldade. Antes de você ir para um local você tinha que ver qual era o seu acesso ao sistema de telefonia. Esse foi um dos motivos, em Diadema naquela época ainda existia condições de você ter sistemas de telefonia disponível e o segundo motivo, talvez foi bem preponderante, esse foi mais estratégico, foi porque todas as importações são pelo porto de Santos, e hoje nós estamos localizados entre a Imigrantes e a Via Anchieta que são duas grandes vias de comunicação com o porto de Santos e a Capital, então, nós nos localizamos nem lá, nem na capital. Inclusive, você tem que escolher alguns locais, quando você fala em produtos químicos tem algumas restrições pra sua localização devido aos produtos que você manipula, manuseia. Então, nós fomos à Diadema pela sua proximidade com o porto de Santos e também por uma parte industrial. Apesar que naquela época Diadema era, Diadema não tanto, o Grande ABC, Diadema era uma cidade dormitório. Hoje já mudou bastante, mas o ABC teve o seu desenvolvimento com a indústria automobilística, apesar que hoje já não é o grande, vamos dizer, continua sendo a grande fonte de renda, mas diversificou bastante. Hoje você encontra no ABC muita indústria de logística, devido a sua proximidade com o porto de Santos. E a nossa razão, e eu acho até que foi uma decisão correta, quando optamos por Diadema, foi devido a proximidade, e hoje essa nossa localização facilita bastante, principalmente quando você nota, existe uma restrição ao trânsito de caminhões na Grande São Paulo, então, a nossa localização nos dá uma bela vantagem em custo de logística.
P/1 – Aproveitando o gancho, essas restrições impostas ao transporte de produtos químicos, materiais químicos. O senhor tá satisfeito com a políticas atuais, essas restrições, ou o senhor acha que tem que mudar alguma coisa? Como é que o senhor vê essa questão?
R – É uma situação um pouquinho complexa, e que a gente tem que ver por vários ângulos. A grande verdade é o seguinte, a indústria automobilística, na época de Juscelino, que criou o modal rodoviário, ela deturpou um pouquinho a percepção das pessoas. Hoje, o automóvel é o grande favorecido, todo mundo acha que o automóvel deve ser o grande modal favorecido. Isso é incorreto porque o automóvel é individual, o que nós temos que ter são os transportes de massa. Quanto à questão do caminhão, essas restrições a gente entende que devem ter, mas não da maneira que está sendo conduzido, uma vez que você ainda tem pequenas e médias indústrias aqui localizadas em São Paulo que dependem do caminhão. Você não pode transferir esse transporte pra noite, é perigoso, tem n incovenientes. Agora, tem que ter uma regulamentação, eu até entendo, mas nós temos que tentar encontrar um meio termo, nem tanto torná-lo como um vilão, como o caminhão sendo o vilão, nem também deixar que as coisas sejam feitas de uma maneira assim, sem qualquer controle. Eu diria a você que é um assunto que precisa ser muito melhor ponderado, essas restrições a caminhões tem trazido um aumento de custos porque você passa a ter o teu tempo de utilização das vias carroçáveis menor e isso tudo acaba gerando aumento de custos. Se você pegar, tentou-se recentemente no Grande ABC também fazer restrição de caminhão, mas nós temos um grande problema, você não tem vias transitáveis. Se você tivesse grande avenidas, avenidas perimetrais, como o Rodoanel. O Rodoanel, não há dúvida nenhuma que foi de grande valia, de grande auxílio, que você tirou do centro de São Paulo aqueles caminhões que vinham, e nós não podemos ignorar que São Paulo é o grande centro, você vai pro norte, você vai pro sul, devido ao porto de Santos, das produções, elas passam por São Paulo invariavelmente. Então, você tem que ter. Agora, com a criação do Rodoanel já facilitou bastante, tirou. O que nós temos que desenvolver é recuperar as ferrovias. Pra alguns tipos de transporte a ferrovia é essencial, nós temos que recuperar esse tipo de transporte, nós temos que recuperar pros transportes de massa, o tipo do metrô, que em São Paulo, apesar que entre todos os estados brasileiros é o que tem a maior rede de metrôs, acho que ainda nós temos que investir em transporte, logística e ferrovias, senão daqui cinco anos estaremos com o mesmo problema outra vez.
P/1 – Gostaria que o senhor fizesse um balanço agora, breve, sobre quais foram as principais transformações na sua atividade desde que o senhor começou até hoje. O que mudou, o que o senhor aprendeu, absorveu pra continuar progredindo? Como o senhor enxerga isso?
R – O ser humano é um ser que continua aprendendo a vida toda, né? Desde que nascemos até morrermos, acho que o aprendizado é sempre muito importante. O que mudou foram as vias de comunicação, os sistemas. Quando eu comecei você imagina que era máquina de datilografia, né? Hoje você tem o computador, então, as coisas foram evoluindo, mas é importante que você vá se adaptando às novas exigências, novas condições, a uma vida moderna, isso é um processo dinâmico. Acho que o empresário tem que estar sempre se atualizando, sempre procurando saber quais são as tendências, utilizar aquela sua experiência, tudo o que você adquiriu, e aplicá-los e mesclá-los com essa geração. Hoje nós temos uma geração de jovens muito inteligentes, eu acho a nossa juventude muito bem preparada, ela é uma juventude que é inteligente, muito por força de vontade. Então, o grande segredo é você mesclar a tua experiência dos mais antigos, não diria antigos (risos), dos de mais idade com essa juventude que tá vindo hoje aí, com muita força de vontade. O país é um país jovem ainda, apesar de estar envelhecendo. Nós temos que criar oportunidades e aprender com essa mocidade que está saindo hoje das universidades que já vem com um conhecimento muito bom. Então, eu acho que o segredo do empresário é esse, é ter uma equipe humana, que eu sempre falo na minha empresa. A minha empresa é uma empresa familiar, também não é fácil você administrar os conceitos, relacionamentos familiares, os conflitos entre pai e filhos, mas acho que tem sido pra mim uma experiência muito boa, com os sucessos, algumas coisas não diria sucesso, mas que você não consegue mudar, mas nós temos que nos adaptar e saber entender as outras pessoas, e conviver com o ser humano, né? Eu nunca esqueço, uma vez um senhor que eu tinha um relacionamento, e até era um cliente meu, um senhor já de idade, muito inteligente. Um dia eu cheguei pra ele e falei: “Puxa, tem uma série de problemas, uma série de dificuldades”. Ele disse pra mim: Olha Rubens, problemas, dificuldades são normais. O que é pior é você entender o ser humano, o teu relacionamento com o ser humano”. Então acho que é isso, nós temos que saber quando se deve exigir e saber quando eu devo conceder, também ser flexível nas nossas atitudes, né?
TROCA DE FITA
P/1 – Senhor Rubens, eu gostaria de perguntar pro senhor agora se o senhor participa de algum tipo de associação de comerciantes, sindicato ou federação, e como é que se dá a sua participação, quais são as suas atribuições, se o senhor participa.
R – Bom, eu sou presidente, desde 1993, do Sindicato do Comércio Atacadista de Produtos Químicos e Petroquímicos. O sindicato congrega todas as empresas comerciais, atacadistas de produtos químicos e petroquímicos. O sindicato é nível estadual. E sou também Presidente da Associação Brasileira dos Comerciantes e Distribuidores de Produtos Químicos e Petroquímicos que é de âmbito nacional. Desde 1993 eu venho me reelegendo. Nessa mesma época eu comecei a participar da Federação do Comércio, comecei como diretor, depois tive um período que eu fui diretor secretário, e na última gestão eu assumi, sou o vice-presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo. Além dessa participação, eu participo nos vários conselhos que têm lá dentro, fui presidente do Comércio Atacadista, lá dentro da Federação do Comércio, participo do conselho, continuo participando do Conselho Atacadista, Conselho do Comércio Exterior, os vários conselhos que tenho participação. E também, além da Federação do Comércio, desses cargos, por a Federação do Comércio administar o Sesc e o Senac, eu comecei como conselheiro do Senac e agora nessa última gestão que começou em 2010, eu fui conduzido à Conselheiro Nacional do Sesc. Estou no Sesc, tenho procurado dar um pouco da minha participação, do meu conhecimento em prol do comércio, mas também tenho aprendido muito. Acho que a Federação do Comércio, devido a sua diversidade de atividades comerciais e de serviço que lá participam é um fórum que permite você não somente ver o seu tipo de negócio, aquilo que tá acontecendo na sua atividade, mas em diversas outras atividades. Então, esse conjunto te traz uma série de, você faz comparações, você tem a oportunidade de analisar o seu próprio negócio em contato com outros empresários, o que eles fizeram, o que deixaram de fazer, o que fizeram certo, o que fizeram errado. O mundo é um conhecimento, uma experiência que você vai sempre aprimorando e procurando sempre estar o máximo possível, atual, dentro das coisas que acontecem não só em São Paulo, no Brasil, e também no mundo todo, né?
P/1 – E o senhor, nessa condição de atuar no Sindicato de Produtos Químicos, o senhor pode falar um pouquinho pra gente quais são as principais reinvindicações, a principais problemáticas que são tratadas ali?
R – Como eu disse a você anteriormente, o nosso setor teve grandes transformações na sua atividade comercial, no seu meio. Quais foram essas alterações? A princípio, o comércio atacadista comprava o produto, estocava e vendia da maneira que recebia. Com o desenvolvimento das atividades comerciais, e com aquelas consolidações que houveram na parte da indústria produtora, se passou para o comércio atacadista uma série de outras atividades, se agregou à sua atividade uma série de outras funções que ele não tinha. Por exemplo, hoje o comércio atacadista tem que ter laboratórios pra poder ajudar a pequena e média indústria, então, você tem que entregar a qualidade garantida do produto, se está dentro das especificações que o seu cliente exige. Você tem que ter o fracionamento entre os produtos, tem alguns produtos que você, por exemplo, pra você ter uma economia de escala, nós importamos produtos a granel, tanto líquido e alguns produtos sólidos. Então, você tem que ter uma tancagem pra depois você reembalá-los em embalagens menores que possa ser utilizado pela pequena e média indústria. E também se transferiu algumas atividades mercadológicas para distribuição como pesquisa de mercado, desenvolvimento de novos produtos, tudo isso foi muito importante na nossa atividade e nós passamos a agregar valor ao produto. Hoje, a nossa atividade agrega valor ao produto, você pega o produto x e agrega todos esses serviços, todo esse apoio que você dá tanto ao fornecedor como ao seu consumidor. Isso na nossa atividade foi uma mudança muito grande que houve, uma mudança de cultura, que você teve que ter, exigiram-se investimentos muito grande pra você poder atender a essa nova demanda. E com isso, por um lado te dá um certo custo, uma certa responsabilidade, mas por outro lado, te vislumbra que a tua atividade hoje é uma atividade que é desejada, é uma atividade que agrega valor, ela é importante na cadeia produtiva. Às vezes, o setor do comércio, talvez de uma maneira injusta, de pouco conhecimento ou quem o fez, chamava de atravessador. Eu acho que isso foi um termo pejorativo muito pesado e que veio de pessoas que pouco conheciam a atividade do comércio. Se nós considerarmos que temos só 200 anos da abertura dos portos, de 1808, e foi o comércio que trouxe o desenvolvimento pra esse país. A área agrícola foi muito importante, a área industrial foi importante, mas sempre dependeu do comércio. E o comércio é desde os povos, já se comercializava desde os primórdios. Tudo isso é importante, essa atividade do comércio. E hoje o comércio, ele agregou serviços, que é muito importante também. Hoje o setor de serviços tem evoluído muito na Federação do Comércio do Estado de São Paulo. Até outro dia eu participei de um fórum e escutei até uma menção que foi muito interessante que ele disse: “Antigamente, se você queria comer uma pizza você tinha que ir na pizzaria, hoje você tá na sua casa você pede o delivery”. Então, o que é um delivery? O delivery é um serviço. Aquele rapaz com a moto, ele está te prestando um serviço. O próprio serviço de motoboy, antigamente era o office-boy que fazia, hoje você faz motorizado. Então, esse desenvolvimento, essa agregação dos serviços, é tudo comércio. É muito importante a atividade comercial dentro de um país, para o desenvolvimento, até pra criação de empregos. Nós tivemos na indústria uma automatização muito grande, se você considerar mesmo a indústria automobilística que era o grande gerador de mão de obra, de empregos, hoje ele tá altamente robotizado, automatizado, então, o comércio e os serviços é o grande segmento empregador desse país. E isso tem que ser visto de uma maneira muito especial dentro das atividades. E a Fecomercio de São Paulo tem lutado bastante nesse sentido, tem feito um trabalho muito grande, não só em defesa do comerciante, mas também no sentido da capacitação do comerciante. O varejo mudou hoje, se você nota já as lojas, elas acabaram se modernizando, a própria vitrine. Antigamente a vitrine não era muito valorizada, hoje, você passa, olha, às vezes você compra com os olhos, né? É aquele impulso de compra. Os grandes shoppings que têm mostrado com essa agregação de serviços, restaurantes, cinemas, tudo isso eu acho que o comércio tem prestado um grande serviço à nação. E a Federação do Comércio tem sido pioneira em São Paulo. Eu acho que ela inovou, ela tem tido uma visão de futuro muito importante através de credenciar, capacitar, e isso aliado aos serviços que o Senac e o Sesc prestam. Senac na área de aprendizado, na área de preparação de mão de obra, e o Sesc na área de cultura e também de lazer pra população. É muito importante que a população tenha uma cultura, não só com educação como eu falei, mas também seja um povo culto, que tenha acesso às artes, a teatro, a outras atividades artísticas muito importantes. Eu acho que isso é muito importante pro ser humano, principalmente praquela classe de população com poder aquisitivo um pouco menor. Eu acho que essa popularização, essa democratização, tanto do ensino como da parte de cultura e lazer, isso é importante. Se você tem um empregado que já tem uma certa cultura, que ele também é feliz, que usufrui um pouquinho da área de lazer, isso se reverte na produtividade que ele passa a ter dentro da sua empresa. Então, eu acho que isso é um conjunto que, bem analisado, ele talvez não seja tão aparente os benefícios que ele traz, mas é alguma coisa, aquele trabalho de formiguinha, silencioso, e que tem revertido, tem sido muito importante pra população paulista. O interior hoje, nós vemos o Sesc levando caravanas de culturas, espetáculos teatrais, tudo, pro interior, acho que tudo isso é muito importante, faz o conjunto todo do comércio ser bastante útil e valorizado na nossa economia.
P/1 – Indo pra uma parte mais final agora, a gente vai voltar pra falar um pouquinho mais da vida pessoal, tá? O senhor mencionou que o seus filhos trabalham com o senhor na empresa, é uma empresa familiar.
R – Isso.
P/1 – Eu queria saber quantos são, o nome deles.
R – Bom, eu tenho quatro filhos, são três homens e uma mulher. O mais velho é Ricardo, Reinaldo, Rubens Filho e a Rubiana. Hoje estão comigo dois, o Reinaldo e o Rubens. O Ricardo esteve um tempo comigo, mas hoje ele tem o seu próprio negócio, ele trabalha com customização de motos, é uma coisa que ele gosta, além de sempre ter tido uma boa mão, uma queda pra desenho, então eu acho que hoje ele tá feliz no negócio dele. A minha filha é psicóloga, mais dedicada aí a questões de psicologia infantil e social. Também esteve um tempo comigo e depois acabou indo pra lá. Numa empresa familiar é muito importante que você saiba que realmente eles queiram trabalhar. Eu acho que você não pode forçar o seu filho a ser aquilo que você gostaria que ele fosse, ou que você não foi e tenta transferir pro seu filho pra que ele seja. O que eu sempre procurei passar pros meus filhos foram os valores morais, os valores éticos, que eu aprendi dos meus avós, dos meus pais e passar pra eles. Agora, é importante que, se você força um filho seu a querer estar contigo são dois frustrados, ele por causa que ele está num lugar que ele não gosta, e você que ele não tá fazendo aquilo como você gostaria que ele fizesse. Mas esses dois filhos que ficaram comigo eles trabalharam durante um curto período de tempo em outras empresas e depois quando vieram para a empresa já estavam conhecendo um pouquinho melhor as atividades comerciais. Se adaptaram, têm as suas ideias, seus sonhos, e estão comigo lá e nós esperamos que a firma possa continuar e eles possam, um dia, também dar continuidade ao comércio. Uma das características que tem no comércio, principalmente na nossa atividade de comércio de produtos químicos, são empresas familiares, por incrível que pareça. Não só no Brasil, tanto na Europa, nos Estados Unidos, elas são empresas de origem familiar, algumas com mais de cem anos de atividade. E aqui no Brasil também são empresas familiares. E um dos grandes problemas que nós temos sentido, agora falando como setor, como entidade, como presidente do sindicato, é quando você acaba tendo a sucessão porque muitas empresas acabaram sendo vendidas ou fechadas porque não tiveram sucessores. Então, creio que isso é um outro fator, ou você profissionaliza a empresa totalmente ou você acaba tendo sucessores que queiram levar a empresa adiante. Então, a empresa familiar, é uma arte dirigir uma empresa familiar. Não é fácil, às vezes são conflitos profissionais e conflitos pessoais, mas que no final tem que entender as nossas virtudes e limitações, né?
P/1 – E quais são as atribuições deles na empresa hoje?
R – Hoje o Reinaldo cuida da área comercial e o Rubens Filho cuida da área administrativa e financeira. São duas áreas importantes que a gente procura conciliar aos conflitos, mas creio que estão sendo bem administrados e parte do sucesso é devido ao empenho e a dedicação deles para o negócio.
P/1 – Como o senhor falou, o pai não deve tentar impor uma profissão ao filho, mas lá no fundo, era um desejo seu? Mesmo que o senhor não fosse impor, mas era um desejo seu que um dia eles tomassem conta desse negócio? Que eles levassem adiante?
R – Quando eu decidi abrir a minha própria empresa eu tinha um bom emprego, uma boa posição, mas eu achei que eu gostaria que alguém continuasse aquele trabalho que eu fiz, tudo o que eu realmente consegui, conhecimento não só pessoal, como também material, econômico, né? E foi a razão que eu quis que eu pudesse passar pra alguém aquilo que, não sei se talvez não quero ser assim um tipo que não tenha uma falsa modéstia, mas aquilo que eu tinha aprendido e tinha conseguido amealhar ao longo da minha carreira, comecei a trabalhar cedo, então eu tinha uma experiência grande, foi por essa razão que eu os convidei pra vir comigo. Agora, eu acho que o futuro a eles pertencem. Não posso querer que eles tenham o mesmo tipo de desejo, eles tenham seus sonhos, as suas aspirações, e nós temos que respeitar, procurar entender. Às vezes talvez seja difícil não concordar, mas temos que entender que temos os filhos e eles não são pra nós, são para o mundo. E eles têm os filhos deles e talvez as aspirações sejam diferentes, né? Agora, tudo tem o seu tempo, o seu momento, tem que procurar saber quando é esse momento certo (risos).
P/1 – Uma coisa que eu não te perguntei, e a sua esposa? Quando o senhor conheceu ela? Ela trabalhou com o senhor também?
R – Eu tenho um segundo casamento, né? Então, nos damos muito bem, nos conhecemos no ambiente comercial e levamos a vida a dois de uma maneira muito bem. To feliz e espero aí a gente terminar a nossa velhice de uma maneira tranquila, sem muita aspirações, mas com saúde, que possamos usufruir um pouquinho dos netos, bisnetos e de um pouquinho que a gente conseguiu amealhar na vida, em todo esse período.
P/1 – E quantos netos o senhor tem hoje?
R – Eu tenho oito netos e três bisnetos.
P/1 – Bisnetos já?
R – (risos) É. Casei cedo, a família casou cedo também. São oito netos, desses oito netos tenho uma bisneta que é de um filho do Reinaldo e tenho dois bisnetos que é do Ricardo, do mais velho. A menina, Ana Júlia, vai fazer seis anos agora, e o Diego e o Pedro, o Diego vai fazer dois anos e o Diego vai fazer um ano. São os bisnetos (risos), já estamos na segunda geração do Rubens (risos).
P/1 – E hoje o senhor mora com quem?
R – Hoje eu moro só com a minha atual esposa, a Miriam, nós moramos sozinhos. Meus filhos estão casados, minha filha é solteira ainda, mas ela reside no apartamento dela, tem a sua vida. Em casa hoje só somos os dois.
P/1 – E eu gostaria de perguntar pro senhor quais são os seus sonhos e planos pro futuro? Qual o seu objetivo na vida agora?
R – Quando a gente vai chegando numa certa idade (risos) as coisas... São coisas impressionantes, como a vida humana é interessante, um pouquinho de filosofia. Hoje praticamente da minha família, dos meus avós, meus pais já são falecidos, meu irmão falecido, tenho só três tias que ainda estão vivas. E também dos amigos, hoje praticamente perdi quase todos os amigos, os meus amigos de infância faleceram, então, você vai perdendo. Te entristece um pouco e você perde um pouquinho da sua história. Mas daí nós temos que olhar pra frente. Então, tem os filhos que estão aí, os netos, os bisnetos, mas eu gostaria de realmente, primeiro saúde, acho que é importante ter saúde, ter uma velhice com dignidade, e poder, o que eu gosto é de viajar. Gosto de viajar muito ao exterior, acho que você sempre renova seus conhecimentos, acaba vendo novas pessoas, novos lugares. Então, eu acho que eu gostaria de, para minha velhice, ver a minha família unida, tranquilidade, e poder usufruir um pouquinho aí. Não quero parar de trabalhar, acho que a minha própria personalidade é assim estar sempre muito ativo, então, mas talvez reduzir um pouquinho a minha carga de trabalho e usufruir um pouquinho de tudo aquilo que eu plantei e consegui construir até hoje.
P/1 – E o que o senhor achou de ter participado desse projeto, de ter vindo hoje aqui dar um depoimento, falar da sua vida?
R – Olha, me sinto muito agradecido e me sinto honrado de ser um dos. Hoje na Federação do Comércio, no Sesc, você tem figuras com as quais eu me relaciono espetaculares, pessoas que talvez tenham muito mais a contribuir do que eu nesse projeto que vocês estão fazendo. Pessoalmente só tenho a agradecer ao Sesc, elogiar e parabenizar vocês pela ideia. Eu acho que o povo brasileiro é um povo que não tem muita memória, ele sempre tá olhando o futuro e não olha que pro futuro você teve um passado que fez chegar aqui. Então, todo esse trabalho de vocês é de um grande significado, não só histórico, não só cultural, mas também humano. Vocês estão ouvindo pessoas simples, pessoas que têm um pouquinho a dizer, têm um pouquinho a contar a sua história, e que, realmente, será uma grande contribuição para as futuras gerações de poderem olharem e saberem que pessoas, em outras gerações, ajudaram a contruir e contribuíram pra que eles tivessem um futuro melhor.
P/1 – E pra finalizar, tem algum assunto que a gente não abordou, que a gente não perguntou, mas que o senhor acha importante registrar? O senhor acha que ficou faltando?
R – Não, eu acho que vocês abordaram tudo, eu só tenho a pedir desculpas e a compreensão de vocês se eu não atingi todos os objetivos ou se não fui muito preciso nas minhas respostas, mas procurei ser o mais honesto possível, e de uma maneira bastante resumida, passar um pouquinho daquilo, modestamente, do que eu aprendi, de tudo que eu tenho vivido até hoje.
P/1 – Então, em nome do Museu da Pessoa e do Sesc São Paulo eu agradeço muito a sua participação, muito obrigado.
R – Muito obrigado a vocês e sucesso nesse empreendimento!
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