Projeto Memória dos Brasileiros – Módulo Maués – Saberes e Fazeres
Entrevistado por Thiago Majolo
Depoimento de Reinaldo Teixeira da Silva
Maués 25/01/2007
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista MBCB 002
Transcrito por Augusto César Mauricio Borges
Revisado por Thiago Majolo
P- Para começar, eu gostaria que você falasse pra gente seu nome completo, o local e a data de nascimento.
R- Meu nome é Reinaldo Teixeira da Silva, moro em Maués, nasci em 1970. Tenho 30 anos de idade, sou marujo do Barco Don Jackson, estou aqui gravando a entrevista com o meu amigo.
P- E em que lugar que você nasceu, qual cidade?
R- Eu nasci em Parintins.
P- E até que época você ficou lá?
R- Eu fiquei até os 16 anos em Parintins.
P- Os seus pais faziam o quê?
R- Os meus pais eu fui criado pela a minha avó. Os meus pais, a minha mãe veio pra cá para Maués com o companheiro dela e o pai eu não conheci o meu pai não, o meu pai verdadeiro eu não conheci.
P- E a sua avó fazia o que?
R- A minha avó ela era aposentada. Trabalhava pra cá, pra ali, pra cá e pra ali, negócio de bico quando aparecia. É um trabalhinho qualquer. Até que eu vim embora completou os 16 anos e vim embora pra cá para Maués. E depois que eu provei do guaraná eu não voltei mais pra Parintins. Provou do guaraná não volta mais, está encantado por Maués.
P- Mas em Parintins você estudava, trabalhava, o que você fazia?
R- Estudava. Eu vendia negócio de doce, picolé em vez por aí pelas festas que tinham, o trabalho era esse a gente fazia: estudava.
P- E por que você mudou para Maués?
R- Eu mudei pra Maués porque eu vim atrás da minha mãe.
P- E encontrou?
R- Encontrei.
P- E ela está vida até hoje?
R- Está viva, está bem.
P- E quando você chegou em Maués o que você fez, foi trabalhar no quê?
R- Quando eu cheguei aqui em Maués eu andava pra cá, pra ali atrás de trabalho até que eu encontrei um trabalho. Eu trabalhava do outro lado aí na Vera...
Continuar leitura
Projeto Memória dos Brasileiros – Módulo Maués – Saberes e Fazeres
Entrevistado por Thiago Majolo
Depoimento de Reinaldo Teixeira da Silva
Maués 25/01/2007
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista MBCB 002
Transcrito por Augusto César Mauricio Borges
Revisado por Thiago Majolo
P- Para começar, eu gostaria que você falasse pra gente seu nome completo, o local e a data de nascimento.
R- Meu nome é Reinaldo Teixeira da Silva, moro em Maués, nasci em 1970. Tenho 30 anos de idade, sou marujo do Barco Don Jackson, estou aqui gravando a entrevista com o meu amigo.
P- E em que lugar que você nasceu, qual cidade?
R- Eu nasci em Parintins.
P- E até que época você ficou lá?
R- Eu fiquei até os 16 anos em Parintins.
P- Os seus pais faziam o quê?
R- Os meus pais eu fui criado pela a minha avó. Os meus pais, a minha mãe veio pra cá para Maués com o companheiro dela e o pai eu não conheci o meu pai não, o meu pai verdadeiro eu não conheci.
P- E a sua avó fazia o que?
R- A minha avó ela era aposentada. Trabalhava pra cá, pra ali, pra cá e pra ali, negócio de bico quando aparecia. É um trabalhinho qualquer. Até que eu vim embora completou os 16 anos e vim embora pra cá para Maués. E depois que eu provei do guaraná eu não voltei mais pra Parintins. Provou do guaraná não volta mais, está encantado por Maués.
P- Mas em Parintins você estudava, trabalhava, o que você fazia?
R- Estudava. Eu vendia negócio de doce, picolé em vez por aí pelas festas que tinham, o trabalho era esse a gente fazia: estudava.
P- E por que você mudou para Maués?
R- Eu mudei pra Maués porque eu vim atrás da minha mãe.
P- E encontrou?
R- Encontrei.
P- E ela está vida até hoje?
R- Está viva, está bem.
P- E quando você chegou em Maués o que você fez, foi trabalhar no quê?
R- Quando eu cheguei aqui em Maués eu andava pra cá, pra ali atrás de trabalho até que eu encontrei um trabalho. Eu trabalhava do outro lado aí na Vera Cruz, travessia de Maués. Trabalhava lá e arrumei trabalho lá numa granja. Aí esse cara se deu bem comigo e tal e eu como era um cara de trabalho aí me botou pra tomar conta do gado dele. Aí e passei uns cinco anos tomando conta do gado dele e aí depois eu enjoei trabalhar de fazenda e vim pra cá para Maués e de novo arrumei trabalho num barco. Trabalhei no PP, trabalhei seis meses no PP e agora eu estou trabalhando no Don Jackson.
P- E você faz quantas viagens por semana?
R- A gente faz só uma por semana. Sai às segundas, chega terça, passa o sábado e domingo em Manaus e aí sai segunda e aí chega terça. Passa quarta e quinta aqui.
P- E quando você está em Manaus você fica aonde?
R- Fico aqui no barco mesmo.
P- Dentro do barco?
R- No barco. Aqui é a nossa casa aqui.
P- Me conta um pouco, como é que é trabalhar, o que você faz durante a viagem? Antes quando os passageiros estão chegando você ajudou a gente a carregar as malas.
R- Quando chega aqui a gente tem que estar atento em tudo, principalmente nos passageiros, que tem que tratar bem deles e pegar a mala. Quando chega qualquer coisa, precisando qualquer coisa e chegar com a gente e a gente ajuda. Chega em Itacoatiara tem que desembarcar, embarcar. O trabalho aqui é esse.
P- E durante a viagem qual?
R- Durante a viagem servir na cozinha lá, ajudar a servir, a limpar tudo, dar uma “geral” na limpeza do barco, o banheiro. Aí limpo o porão, ajudo a pegar o comando às vezes. Quando o comandante está muito cansado tem que ir lá dar uma força pra ele e aí à noite é comprida. Às vezes, o comandante vai até lá no leme lá e de vez em quando ele apaga e aí o barco em cima da terra. Aí quando ele está assim tem que ajudar ele. Tem que ir um lá ficar conversando com ele distraindo que não é pra ele dormir, se ele dormir...Mas isso não acontece, isso não costuma acontecer não, difícil.
P- Que bom! Sabe pilotar também?
R- Sei.
P- Você espera ter um barco seu um dia?
R- Com certeza, nada é impossível. Deus é quem sabe.
P- Mas você quer continuar essa carreira de marujo?
R- No momento é o que está dando pra fazer é isso e tal até pintar outra coisa melhor, mas eu gosto, eu acho bom trabalhar aqui.
P- Fala uma coisa: como é que era Maués quando você chegou aqui?
R- Quando eu cheguei aqui Maués era, ixi Maria, não era o que é hoje. Hoje está movimentado, está mais movimentado. Era meio mais calmo, mais parado. Esse pessoal plantava e fazia o plantio para vender e chegavam aqui em Maués não tinha para quem vender. Plantava melancia, essas coisas, vendia bem pouco. Agora não: você já planta e chega aqui e tem saída. É pouco, mas tem saída. Sai melancia, jerimum, essas coisas. Eu plantei muito isso daí também.
P- Conta um pouco dessa fase?
R- Isso aí quando eu ia tomar conta do gado pra lá eu fazia o roçado e deixava entrar para o fundo a valha e quando saísse a limpa eu ia cercar e plantar. Plantava um quadro de melancia, plantava meio de maxixe, plantava tomate, jerimum. Plantava e trazia para vender aqui. Com 500 melancias eu quase surtia a cidade era pequena, deixava um pouco na feira e levava um pouco ali para a Banca Saterê, perto da Banca Saterê, levava o outro pouco lá pra casa e aí ficava vendendo. Aí pegava um desses carrinhos triciclos e botava pra vender na rua e ia vendendo devagar e aí saindo pra pegar o dinheiro porque não corre quase dinheiro aqui, viu? Não que nem uma cidade como Parintins que é movimentada. É passagem de barco. Maués não. Maués as pessoas vêem pra cá pra conhecer, a praia é bonita e tal, mas não é uma cidade assim que tenha... Vem quem quer pra cá.
P- Você chegou aqui com 16, é isso?
R- Dezesseis anos.
P- O que você fazia para se divertir aqui?
R- Rapaz, aqui tinha praia, tinha umas boates pra aí pra trás, era o Miramar no tempo. Tinha ali salão pra jogar bola na coisa de salão, o que tinha mais? Tem um parque ali pra trás também. Para se divertir tinha muita coisa e aí ia para a praia e, às vezes, passava quase o dia inteiro pulando na água. Ia lá para Vera Cruz de voadeira e voltava, fazia o negócio do picnic pra lá. A minha avó comprava frango e pegava peixe e fazia aquele assado na beirada e aí comia e botava uma rede e dormia e de tarde a gente vinha embora de novo pra cá. Aquela turma a gente se reunia, a aquela turma da rua. Era quase todo domingo que a gente fazia isso. Quando não a gente ia lá para a boca de Maués para o encontro das águas pra lá. Pra lá a gente fazia os assados pra lá, comia, levava o som, mais meninas com nós também, às vezes. Diversão é essa.
P- Conta pra mim algum caso engraçado ou divertido ou interessante. O que aconteceu nessas travessias de Maués até Manaus com você?
R- De engraçado?
P- Ou até interessante, diferente.
R- Ah, uma viagem que eu estava trabalhando no PP aí. Nós ia passando de fronte, não tem aquelas terras altas lá?
P- É que eu não conheço ainda.
R- Pois é, a gente vai te mostrar quando chegar lá. Aí nós ia passando e tinha uma menina que estava lavando roupa na beirada. Aí o Louro, o comandante do PP 2003, aí mexeu com ela, acenou com ela, e aí ela acenou pra ele também e aí foi na subida. Quando foi na baixada que nós baixamos ela ligou o rádio, passou o fio: “oi, oi, PP 2003?” “É Pepe 2003.” “Você lembra daquela menina que você mexeu com ela que estava na beirada? Sou eu quem estou falando com você agora, como que é seu nome?” Aí reconheceu o cara, sabe? Aí ela falou o nome pra ele também e aí foi que eles se conheceram e tal e agora ela é cozinheira no barco. Estava no beiradão assim e sem mais nem menos ele mexeu com ela e foi um caso que aconteceu aí. Eu achei meio divertido.
P- E você falou que está na terra no guaraná e que se apaixonou pelo guaraná. Você toma guaraná todo dia?
R- Eu tomo guaraná de manhã e quando vou viajando também assim pra não dar o sono, que ele corta o sono, e viajo.
P- Mas como que você toma, conta pra gente, faz uma receita. Quanto de guaraná, quanto de água?
R- Eu boto meia colher de guaraná, boto primeiro o açúcar, boto o guaraná, meia colher de guaraná e tempero com meio copo d’água. É o suficiente para não dormir, para passar o sono.
P-E fora assar o sono tem mais algum benefício que ele trás?
R- Tem porque o guaraná ele é uma coisa que você pode estar meio devagar assim você pode tomar ele que ele dá uma reanimação no seu corpo quando você está meio devagar você pode tomar o guaraná que ele dá uma energia, ele dá uma força pro cara.
P- E pra curar doenças você conhece algum caso disso?
R- Não, para doença não. Não, guaraná não.
P- e pode fazer mal tomar guaraná?
R- Pode, se você tomar muito ele faz mal.
P- O que acontece?
R- Se você sofre do nervoso ele faz mal.
P- O que acontece?
R- Porque ele fica o guaraná, muito guaraná, ele abala o sistema nervoso do cara. Ele fica... Tem que tomar controlado ele, tomar muito faz mal.
P- Reinaldo, só pra terminar, o que você achou de ter participado? De contar um pouquinho dessa história?
R- Eu achei muito bom, achei bacana que pela primeira vez, né, eu nunca tinha participado. Eu não sei como me sai, eu sai bem um pouco nervoso, né?
P- Está ótimo.
R- Mas foi bom.
P- Obrigado pelo depoimento.
R- Obrigado você.
Recolher