Este sonho é um objeto, porque eu o conheço. Não é algo que sopra de supetão no escuro dos sonhos. É algo frequente e que domino, encaminho a narrativa, tenho poder sobre o desenrolar do sonho: eu salto do terraços de prédios em Porto Alegre com pulos que distam quilômetros. Posso pular do topo do Centro Administrativo até cair no meio do campo do Beira Rio. Posso pular da beira da praia de Torres e atravessar o Atlântico. Se caio dentro dágua, sem problemas. Posso soprar um bolha gigantesca de ar que me envolve e me protege. Dou saltos quilemétricos, posso voar sem asas, posso me envolver com raízes de árvores com a força do desejo. Sonho com poderes da terra, do ar e da água. Mas nunca tenho sonhos de fogo. Esses são pesadelos, não são bons nem cheios de liberdade. São corrosivos e me dão pânico. São de morte.
Que associações você faz entre seu sonho e o momento de pandemia?
Meus sonhos sempre são fantásticos. Sou um ávido consumidor de literatura e de qualquer material que fuja do compromisso com o real. Quase todos os meus sonhos eu domino, eu sei para onde eu quero que vá. Eu gosto de querer fugir deste mundo real tão triste. Gosto do que sonho, tenho orgulho. Sou verdadeiramente feliz no meu sono. A pandemia só inflou este desejo de querer largar o real e viver verdadeiramente das possibilidades do fantástico. Nunca tenho pesadelos, mas quando tenho, não são monstros nem criaturas diabólicas que me amedrontam: são tiros, mortes por facada, sequestros, coisas do mundo real.