Projeto Memórias das Comunidades de Paracatu
Entrevista de Alice Torres Maciel
Entrevistada por Nataniel Torres
Paracatu, 10 de setembro de 2022.
Realização Museu da Pessoa
Entrevista número PCSH_HV1308
Transcrita por Monica Alves
P/1 - Primeiro, qual o seu nome completo? Qual sua data de nascimento? O local que a senhora nasceu? Então, primeiro o nome.
R - Alice Torres Maciel. Nasci em 01 de dezembro de 1953.
P/1 - E onde?
R - No Povoado do Cunha, é bem pertinho aqui da Lagoa, do Santa Rita e aqui de onde eu moro.
P/1 - E isso fica na cidade de…?
R - Paracatu né, Paracatu.
P/1 - Muito bem. E sobre o seu dia de nascimento, dona Alice? Contaram para você como é que foi? Alguma história, falaram como é que foi o dia do seu nascimento?
R - Não, não contaram. A única coisa do meu nascimento que eu sei, é que quando eu estava com quatro meses minha mãe faleceu. Aí minha tia, uma alma muito boa, me pegou para criar, aí já começa a história lá de Santa Rita. Ela morava ali no Sapateiro, bem ali onde é a Barragem hoje, aí lá eu fui criada por ela e meu… chamava de mãe e padrinho. Fui criada por eles, fiquei lá até meus 21 anos, aí eu casei. Mas sempre eu fiz parte lá do Santa Rita, a vida foi toda voltada para o Santa Rita.
P/1 - Aí a senhora falou que sua mãe faleceu né, quando era pequenininha, então não lembra dela é claro, mas…
R - Não, não lembro.
P/1 - E o seu pai, a senhora chegou a conhecer ele?
R - Conheci, meu pai eu conheci sim.
P/1 - Qual o nome do seu pai?
R - Antônio Gonçalves Torres.
P/1 - E a família do seu pai você conhecia? Assim, seus avós, seus tios?
R - Conheci meu avô. Conheci meu avô, conheci as tias também. Conheci bastante gente.
P/1 - E a sua família por parte de pai trabalhavam com o quê?
R - Todos eles mexiam com lavoura,...
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Entrevista de Alice Torres Maciel
Entrevistada por Nataniel Torres
Paracatu, 10 de setembro de 2022.
Realização Museu da Pessoa
Entrevista número PCSH_HV1308
Transcrita por Monica Alves
P/1 - Primeiro, qual o seu nome completo? Qual sua data de nascimento? O local que a senhora nasceu? Então, primeiro o nome.
R - Alice Torres Maciel. Nasci em 01 de dezembro de 1953.
P/1 - E onde?
R - No Povoado do Cunha, é bem pertinho aqui da Lagoa, do Santa Rita e aqui de onde eu moro.
P/1 - E isso fica na cidade de…?
R - Paracatu né, Paracatu.
P/1 - Muito bem. E sobre o seu dia de nascimento, dona Alice? Contaram para você como é que foi? Alguma história, falaram como é que foi o dia do seu nascimento?
R - Não, não contaram. A única coisa do meu nascimento que eu sei, é que quando eu estava com quatro meses minha mãe faleceu. Aí minha tia, uma alma muito boa, me pegou para criar, aí já começa a história lá de Santa Rita. Ela morava ali no Sapateiro, bem ali onde é a Barragem hoje, aí lá eu fui criada por ela e meu… chamava de mãe e padrinho. Fui criada por eles, fiquei lá até meus 21 anos, aí eu casei. Mas sempre eu fiz parte lá do Santa Rita, a vida foi toda voltada para o Santa Rita.
P/1 - Aí a senhora falou que sua mãe faleceu né, quando era pequenininha, então não lembra dela é claro, mas…
R - Não, não lembro.
P/1 - E o seu pai, a senhora chegou a conhecer ele?
R - Conheci, meu pai eu conheci sim.
P/1 - Qual o nome do seu pai?
R - Antônio Gonçalves Torres.
P/1 - E a família do seu pai você conhecia? Assim, seus avós, seus tios?
R - Conheci meu avô. Conheci meu avô, conheci as tias também. Conheci bastante gente.
P/1 - E a sua família por parte de pai trabalhavam com o quê?
R - Todos eles mexiam com lavoura, né. Eram agricultores.
P/1 - Eram agricultores de lavoura, de que era?
R - Era de tudo, porque antigamente em roça cada… a gente plantava uma coisinha, plantava outra, criava de tudo, então a vida deles era essa. Não tinha uma coisa específica não. Era…
P/1 - E… pode falar, perdão!
R - Não, assim, o que eu ia falar era isso mesmo, que era de tudo um pouco
P/1 - E a família do seu pai já era de lá da comunidade? Por exemplo, seus avós, eles já estavam lá na comunidade?
R - Na Santa Rita?
P/1 - Isso.
R - Não, eles eram do Cunha. Eu que fui criada lá perto do Santa Rita.
P/1 - Por causa disso que a senhora falou, que a senhora foi morar junto com a sua tia?
R - É, aham. Fui morar com a minha tia porque eu perdi minha mãe, aí minha tia me criou, mas o meu pai continua lá no Cunha.
P/1 - Mas os seus antepassados, assim, seus avós, vieram do Cunha?
R - É, vieram do Cunha. Ao redor de lá, tem um povoado que se chama Sabão, da Lagoa também. Ali tudo faz parte de minha vida.
P/1 - A senhora chegou a conhecer lá também, a senhora foi criada na Santa Rita, mas conheceu o Cunha também?
R - Não, conheci. Conheci muito, eu fui lá, até hoje eu vou lá. Conheço.
P/1 - Então antes da gente falar do Santa Rita, como é que era o Cunha? Como é que era lá quando a senhora ia visitar? Como era a comunidade?
R - Era assim, quase não tinha ninguém das pessoas que tinha. Porque hoje não né, hoje já modificou muito, tem muita gente, tem igreja. Mas antigamente não, era minha irmã que morava lá, meu pai, poucos vizinhos, não tinha muitos vizinhos. Aí depois que eles venderam, aí foi aumentando o povoado.
P/1 - E na Santa Rita como é que era nessa época do passado? Quando a senhora era criança primeiro? Como é que era a Santa Rita que a senhora lembra?
R - Santa Rita toda vida foi povoada, bem povoada, que eu lembro. Eu morava lá no Sapateiro, lá onde é a Barragem hoje em dia, mas sempre a gente ia, porque a gente tinha muitos amigos no Santa Rita, meu pai, ele era muito popular, meu pai de criação, muito popular, gostava muito de ir em festas. Tinha a festa de Santa Cruz, então a gente ia, às vezes tinha um forrozinho também, tinha muitos amigos lá também. Os companheiros de… assim, ele mexia com muita lavoura, aí as pessoas de lá iam trabalhar lá em casa, lá no Sapateiro, era Sapateiro que a gente falava, lá onde eu fui criada. Então eu sempre estava lá no Santa Rita, era uma comunidade bem aconchegante, toda vida foi muito boa a comunidade.
P/1- E lá nessa época de infância a senhora fazia o quê? A senhora tinha que ajudar? Por exemplo, nas lavouras, na roça, como é que era?
R - Ajudava, ajudava em tudo.
P/1 - Tá, e aí como é que era? Fazia o que quando tinha que trabalhar na infância?
R - Ah, de tudo. A gente antigamente plantava arroz, feijão, milho, tudo. Era na enxada, não tinha matraca nem nada, então os homens iam covando e nós atrás plantando, colocando adubo e plantando na cova. E também, assim, tinha quando o arroz estava maduro, os passarinhos juntavam para poder comer, a gente tinha que ficar lá no meio do Arrozal tocando (risos)
P/1 - E nisso a senhora era criança?
R - Era criança…
P/1 - Ah, e como fazia isso? Como é que era esse negócio?
R - Nós íamos, tinha eu e mais duas irmãs. Nós íamos andando, tocando eles, jogando pedras neles. Eu também ajudava a arrancar feijão, dobrava milho, plantava feijão, depois colhia, a vida nossa era direto.
P/1 - E na infância a senhora chegou estudar, dona Alice?
R - Estudei.
P/1 - Então como é que foi quando estudou? Como é que aconteceu? Primeiro, a senhora estudava lá na Santa Rita mesmo?
R - Não, eu estudei na Lagoa.
P/1 - Estudou naquela escola que agora é a Maria Trindade, é isso?
R - É, ali que eu estudei.
P/1 - Aí a senhora saía lá do Santa Rita e ia lá na Lagoa para estudar?
R - É, do Sapateiro e ia lá na Lagoa. No primeiro ano de estudo, na verdade, eu fiquei na casa de uma madrinha minha, na Lagoa. Aí estudei o primeiro ano, quando foi nos anos seguintes, minha irmã já estava na época de ir para a escola, e a gente ia, nós duas para a escola, lá para a Lagoa. E assim a gente ficou uns dois, uns três anos indo para a Lagoa. Depois o meu padrinho arrumou uma casa e pós a gente lá na cidade. Aí nós continuamos a estudar lá na cidade.
P/1 - Lá em Paracatu?
R - É, em Paracatu.
P/1 - Então nesse primeiro ano que a senhora me contou, que a senhora ficou na casa da sua madrinha, a senhora tinha que fazer o que lá na casa dela? A senhora ajudava também na casa, ou não?
R - Ajudava pouca coisa, até que eu não fazia nada, assim, não (risos).
P/1 - Mas aí ficava na casa da madrinha e podia estudar…
R - E no final do ano… no final da semana eu ia embora para minha casa, meu padrinho me buscava. Aí é…
P/1 - E você vinha para cá, para o Sapateiro?
R - É, vinha para o Sapateiro.
P/1 - Aí durante a semana voltava para lá e ficava a semana inteira na casa da…
R - Ficava a semana inteira lá com a minha madrinha.
P/1 - Mas lá era tranquilo nessa época?
R - Era, era tranquilo.
P/1 - E a sua madrinha era boa?
R - Era, era muito boa também. Ela, o marido dela era muito gente boa, eu não tenho nada do que reclamar da minha infância, assim, sobre judiação, nada, nada, nada. A gente mesmo, assim, porque criança né, pintava muito, e lógico que tinha que trabalhar. Porque agradeço muito, assim, às vezes que minha mãe me corrigiu. Meu padrinho não, ele nunca me bateu, mas assim, mas minha mãe já, porque eu merecia, né. E eu agradeço muito, porque talvez se não fosse isso, hoje eu não era o que eu sou e também não saberia passar nada para a minha filha. Então eu agradeço muito! As vezes que eu trabalhava também. Porque é igual eu falo, na minha infância, sempre eu falo para a minha filha, a gente trabalhava muito, mas era uma época mais feliz, eu acho mais feliz do que hoje. A gente andava mais, parecia que as pessoas eram mais amigas, era muito bom! Hoje também a gente tem amigos ainda, mas não é igual antigamente.
P/1 - A senhora me contou que às vezes a sua mãe te corrigia, mas corrigia do que por exemplo?
R - Ah, quando eu pintava também. Eu respondia (risos).
P/1 - P/1 - Mas respondia para ela?
R - É.
P/1 - Mas por causa de quê?
R - Ah, criança você já viu né, malcriada mesmo (risos). Então alguma coisa a gente fazia. Tinha mais menino pequeno, sei lá, só sei que ela me corrigia e eu agradeço. Agradeço muito!
P/1 - E nessa época da escola, então, aí ficou um ano com a madrinha, depois continuou estudando nos outros dois anos que a senhora estava contando…
R - Continuei estudando lá na Lagoa.
P/1 - Como é que era a escola lá na Lagoa, nessa época?
R - Era muito boa, só tinham duas professoras. Hoje não, hoje tem bastante professor né, mas era tranquilo, muito boa a escola.
P/1 - A senhora chegou a conhecer a dona Maria Trindade?
R - Não, eu poucas vezes. Mas lá em Paracatu.
P/1 - Ah sim, mas na escola não?
R - Não, na escola não.
P/1 - Na época que a senhora ia para a escola, já chamava Maria Trindade ou ainda tinha outro nome?
R - Não, já se chamava Maria Trindade.
P/1 - Aí na escola a senhora falou que tinham duas professoras, como é que eram as matérias na escola? O que vocês aprendiam?
R - Ah, de tudo.
P/1 - Tem alguma matéria, alguma disciplina que a senhora gostava? Alguma que a senhora não gostava?
R - Ah, eu gostava de todas. De matemática, de português. A que eu menos gostava era a de Geografia, mas as outras eu gostava muito.
P/1 - Mas a senhora ia bem nas matérias?
R - Ia, até que eu ia. No primeiro ano não, no primeiro ano eu reprovei, mas daí para frente eu fui bem.
P/1 - E aí continuou indo para a escola, como estava contando, aí depois foi para Paracatu para continuar lá, né?
R - É, a gente continuou em Paracatu…
P/1 - Você ficou morando com uma irmã, é isso? Em Paracatu? Ficou a senhora e uma irmã em Paracatu?
R - É, daí a gente tinha… era eu e mais três irmãs. Tinha uma que era bem mais velha, aí ela tomava conta de nós, que éramos as pequenas, menores né, que não éramos tão pequenas mais não.
P/1 - Quantos irmão a senhora tem, teve?
R - Eu tive… irmãos de sangue foram 7. Hoje só tem eu e mais um, os outros todos morreram. Aí tem as de criação né, eram 6, eram não é, graças a Deus todas estão aí, só minha mãe e meu padrinho que morreram.
P/1 - Os seus irmãos, agora eles faleceram, mas antes deles faleceram, eles ficaram por aqui pela comunidade ou não?
R - Ficaram todos lá no Cunha.
P/1 - Todo mundo continuou lá no Cunha?
R - É, continuaram…
P/1 - E eles trabalhavam com o que, dona Alice?
R - Na roça, porque lá era um pedacinho nosso. Muito bom lá, a roça… era uma beira de rio, uma vazante na beira do rio, então o meu pai plantava na roça, quando não estava bebendo, porque ele bebia muito também. Aí também tinha outros vizinhos lá, que plantavam na roça, eles trabalhavam pra eles, criou todo mundo lá.
P/1 - Ah, e seus irmãos continuaram lá, se criaram lá e viveram a vida lá?
R - É.
P/1 - Mas seus irmãos também já tiveram filhos? Você tem sobrinhos?
R - Tenho, tenho sobrinhos. Todos eles tiveram.
P/1 - E aí a senhora começou a crescer um pouco mais, teve essa época da escola. E como foi a época da adolescência, quando a senhora era mocinha? Como é que era essa época? O que a senhora fazia nessa época?
R - Continuei lá em Paracatu estudando. Aí depois vim para a roça outra vez e na roça eu fiquei até casar.
P/1 - Essa época da juventude a senhora estudou e depois voltou para cá e continuou estudando?
R - Não, voltou e…
P/1 - Continuou trabalhando, perdão!
R - É, porque… aí continuei trabalhando, porque a gente… era eu e mais duas que estudavam, a mais velha não, então as outras duas tomaram bomba e eu não. Aí o meu padrinho falou assim: “Não, as meninas tem que ir para a roça tomar um castigo”. Aí eu não podia ficar, só eu né, então eu fui para a roça também e não acabei de estudar. Aí depois de velhas é que elas terminaram os estudos.
P/1 - E nessa época que a senhora voltou para a roça, então se afastou de Paracatu, porque a senhora estava lá né, em Paracatu, assim, a cidade, veio para a roça e voltou a trabalhar naquilo que trabalhava antes de lavradora?
R - É, continuei na mesma lida. Na lida de casa e também ajudando na roça e em qualquer coisa. Nós fazíamos muita farinha, moía cana, em tudo nós ajudávamos.
P/1 - Vocês faziam isso, a moenda de farinha, a cana? E como é que era isso? Como é que era que fazia? Porque a gente lá não conhece, conta para mim, por favor?
R - Bom, a cana os homens iam e cortavam, né. Nessa época ainda era muito atrasada, nem carroça não tinha. O canavial nem era tão longe, aí a gente pegava a cana no ombro, levava e punha perto do engenho. Aí quando era de madrugada, meu padrinho levantava para moer a cana, a gente levantava para ajudar ele. E era assim a vida (risos).
P/1 - E a farinha como que era?
R - A farinha também, arrancava a mandioca, a gente juntava todo mundo para descascar e depois… e no outro dia torrar a farinha. Mas era bom, era um tempo muito bom!
P/1 - E essas… a farinha, a moenda, isso que vocês produziam era só para vocês ou vocês vendiam?
R - Não, vendia também.
P/1 - Ah, mas e como é que fazia para vender?
R - Levava para Paracatu né, vendia em Paracatu.
P/1 - Mas vocês tinham carro na época?
R - Não, levava na… como é que eles falavam… cargueiro, é no cargueiro, no cavalo.
P/1 - Mas eles tinham cavalo? O pessoal tinha cavalo?
R - Tinham, cavalo tinham.
P/1 - Então vocês produziam, colocavam no cavalo e levavam para Paracatu?
R - Levava para Paracatu. Aí depois que foi ficando mais adiantado, aí comprou uma carroça, mas trabalhou muito tempo, foi no cavalo. Tinha… era bruaca, aqueles… não sei se vocês conhecem, é tipo assim, duas caixas “assim”, aí eles enchiam essas caixas e punham na cela do cavalo, aí levava, leite também, levava na lata também para vender. Aí depois que foi melhorando.
P/1 - Vendia naquela época?
R - Vendia, vendia.
P/1 - Aí fazia o que com o dinheiro naquela época?
R- Ah, devia ser para o gasto dentro de casa mesmo, a despesa, né. Isso aí eu não sei muito ao certo não, mas…
P/1- Porque o que vocês produziam na fazenda, vocês consumiam também?
R - É, consumia também, consumia.
P/1 - Aí o que sobraram vocês vendiam, aí dava um dinheiro e esse dinheiro vocês compravam coisas que talvez vocês não produziam, é isso?
R - A roupa né, outras coisas, remédios. E também na época de plantar, a gente tinha que ter uma reserva para quando chegasse na época de plantar comprar semente, o adubo, essas coisas.
P/1 - E como é que administrava a fazenda nessa época? Como é que fazia essa administração?
R - Ah, não sei (risos), isso aí…
P/1 - Então, mas não era você que fazia?
R - Não, não, não…
P/1 - Isso era, sei lá, o seu padrinho…
R - Eu só ajudava.
P/1 - Entendi, fazia só a…
R - Era ele e minha mãe.
P/1 - Ah, eles conversavam lá entre eles e depois você só seguia o que eles mandavam?
R - É, isso aí era com eles lá…
P/1 - Mas aí dava, e o que dava na fazenda era para todo mundo que morava na fazenda?
R - Era para todo mundo.
P/1 - Vocês comiam daquilo, bebiam daquilo?
R - É, comprava roupa né.
P/1 - Muito bom. Daí a senhora falou que ficou lá na fazenda bastante tempo trabalhando e depois foi até casar. A senhora casou com que idade?
R - 21 anos.
P/1 - Ah, com 21 anos?
R - É, foi.
P/1 - E quem era o seu esposo? Como é que a senhora conheceu ele?
R - Ele morava lá no Santa Rita. Mas é igual o que eu estava te falando, nós sempre íamos em festa lá na festa de Santa Cruz, em alguma festinha de aniversário, algum mutirão. Aí a gente conhecia né, ficava conhecendo.
P/1 - A senhora já conhecia ele antes?
R - É, já conhecia. Conhecia a família dele.
P/1 - E como é que… porque vocês se conheciam e eram só amigos, depois mudou, o que aconteceu para mudar? O que… como é que foi esse encontro? O que ele falou? O que aconteceu?
R - (risos) Ah, normal né, foi gostando né, aí resolvemos casar.
P/1 - Aí ele veio conversar com a senhora?
R - Aham, foi.
P/1 - E aí, já na hora que ele conversou a senhora já aceitou, já começou a acontecer alguma coisa? Você já começou a gostar?
R - Foi.
P/1 - E depois ele foi pedir pra quem, para casar com você?
R - Para o meu padrinho.
P/1 - Ah, ele foi lá na sua casa?
R - É, o padrinho dele foi lá e pediu (risos).
P/1 - E como é que foi isso? Ele não ficou tímido? Não ficou com medo? Ou ele era corajoso? Como é que ele era?
R - Era, seu pai era corajoso né? Ele era corajoso. Eu não sei porque ele mandou o padrinho dele. Acho que antigamente era que a regra era essa também, né. Não é igual hoje que os jovens mesmo que resolvem. Era os pais, padrinhos que resolviam pra gente, né.
P/1 - E aí quando ele pediu, como é que foi? Porque eu sei que o namoro antigamente era diferente. Como é que era diferente antigamente? Qual era a diferença do namoro de antigamente para o de agora?
R - Aí, aí…
P/1 - Por que vocês casaram logo ou demorou para casar?
R - Não, não. Nós casamos logo.
P/1 - Logo que ele pediu?
R - É, passou uns seis meses a gente casou.
P/1 - E como é que foi a organização desse casamento, dona Alice? Quem organizou? Como é que foi?
R - Minha mãe mesmo. Eles lá mesmo, organizaram. Aí a recepção foi em Paracatu, aí foi normal.
P/1 - O casamento também foi em Paracatu?
R - Foi em Paracatu.
P/1 - Foi na matriz de Paracatu? Não?
R - Não, foi no Rosário. Frei Pedro que celebrou nosso casamento.
P/1 - Vocês se casaram e a festa também teve lá?
R - Foi lá em Paracatu. Só a recepção.
P/1 - Foi uma recepção, mas como é que foi essa recepção? Tinha comida? Tinha alguma coisa?
R - Tinha comida, doce. Tinha muita coisa. Antigamente o que eles faziam em festa era comida né, não era igual hoje que é salgado e comida doce. Minha mãe fez muita fartura.
P/1 - E foi sua mãe que cozinhou para o seu casamento?
R - Ela arranjou gente para cozinhar, mas ela que organizou.
P/1 - Ela que fez a organização desse… da festa do casamento? E aí tinha o que de doce, por exemplo, que você lembra?
R - Ah, tinha muito doce, porque ela gostava muito de fazer muita qualidade de doce. Tinha doce de leite, de laranja, cidra, era muita coisa que ela fazia.
P/1 - E você lembra como foi o dia do seu casamento?
R - Lembro.
P/1 - Como é que foi esse dia do casamento? Foi muita correria? Foi tranquilo? Como é que foi?
R - Tranquilo, foi muito tranquilo.
P/1 - Mas a senhora se arrumou onde? Na sua casa mesmo?
R - Foi no salão.
P/1 - E de lá já foi direto pra igreja?
R - É, eu tinha uma prima que ela tinha salão, aí eu arrumei foi lá, com ela.
P/1 - E depois foi direto pra igreja?
R - Fui.
R - E aí deu tudo certo, foi tranquilo o casamento?
R - Foi tranquilo.
P/1 - E depois que casou, foi morar aonde, dona Alice?
R - Aí nós fomos morar no Santa Rita.
P/1 - Aí essa época vocês foram morar lá na comunidade mesmo?
R - É, na comunidade.
P/1 - E aí como é que foi essa época? Porque aí a senhora morava com a família e depois foi morar só a senhora e seu esposo, foi isso né? A família do seu esposo era de lá do Santa Rita?
R - É de lá. Comadre Aparecida, essa que você entrevistou antes, o marido dela é irmão do meu esposo. É tudo uma família só.
P/1 - A família morava tudo próximo?
R - É tudo perto. Lá eu, assim, nosso terreno mesmo, era 30 hectares. Lá cada um tinha um pedacinho de terra, então ficava todo mundo pertinho né, era bom demais a família unida. E mesmo os vizinhos de lá também, era muito bom.
P/1 - Então, e aí mudou para lá, foi mudar com o marido, com a família do marido e depois vieram os filhos, é isso?
R - Eu só tenho uma.
P/1 - Você tem uma menina só?
R - É só essa que estava aqui.
P/1 - E como é que foi essa época que ela nasceu?
R - Ah, foi uma maravilha (risos), muita trabalheira, mas foi bom.
P/1 - Quando ela nasceu, dona Alice?
R - 01 de dezembro de 76.
P/1 - Qual o nome dela?
R - Cláudia.
P/1 - Então, aí quando a Cláudia nasceu, como é que foi? Por que aí estava a senhora, e seu esposo trabalhava com o quê?
R - Lavoura também, lavoura, ele trabalhava com trator. Mas nessa época em que minha filha nasceu, ele não tinha trator ainda não, mas ele tinha vários ofícios, mas nessa época era mesmo… mexia com lavoura.
P/1 - E a senhora também estava próxima da família dele? Então, ela te dava um amparo?
R - Dava muito.
P/1 - Aí a Cláudia nasceu e como é que foi nessa época? Por que aí a senhora ficou mãe, em casa né? Como é que foi esse período?
R - A rotina foi a mesma coisa. Porque nós também fazíamos muita farinha, continuou a mesma coisa. Farinha, moía cana, só que a cana aí, quase não ajudava, porque era longe. Mas continuou, eu continue ajudando a mesma coisa.
P/1 - Mas aí a senhora ajudava agora com a família do esposo?
R - Não, eu e o meu esposo sozinho.
P/1 - Vocês tinham um espaço lá que era de vocês para produção?
R - É, tinha 30… eram 30 hectares e era tudo organizado. Tinha um barracãozinho que tinha tudo organizado. Mas assim, era uma família lá na Santa Rita… na verdade os vizinhos tudo lá, era uma família, assim, não eram amigos, eu considero eles como família, porque na época mesmo que a gente ia fazer farinha, pagavam duas mulheres e aquele tanto de gente no outro dia para poder ajudar, era aquele tanto! Em um instantinho descascava tudo. Se a gente fosse fazer qualquer coisa, os vizinhos estavam prontos pra ajudar, não tinha inimizades. Graças a Deus saí de lá sem deixar inimizades com ninguém, gosto de todo mundo lá.
P/1 - E nessa época, quando vocês produziam, vocês também vendiam para fora ou não? Aí era só para vocês?
R - Não, vendia também. Vendia e deixava em casa né, o que sobrava, porque a família era pequena aí vendia.
P/1 - Aí a filha também começou a estudar logo em seguida?
R - Começou.
P/1 - Quando ela teve idade de estudar, você colocou ela na escola?
R - Ela começou a estudar com seis anos, sete anos ela começou a estudar. Lá tinha uma escola, também, lá no Santa Rita. Aí ela começou a estudar lá, quando foi, acho que no terceiro ou quarto ano ela foi para Lagoa também.
P/1 - Nessa escola que ela estudava na Santa Rita, como é que era? Era igual a escola de lá da Lagoa? Como é que era?
R - Não, não era igual não. Já era mais fraca um pouquinho né, era assim, as três turmas todas juntas, era primeiro, segundo e terceiro ano, tudo em uma sala só. Aí depois que separaram.
P/1 - Mas tinha mais de uma professora ou era uma professora só que dava aula?
R - Não, era uma professora só. Aí depois que teve outra professora.
P/1 - Mas essa escola tinha estrutura? Tinha quadro, tinha tudo?
R - Tinha, tinha tudo. Tinha cantina, era uma escolinha, mas era bem ajeitada. Era mais fraca só por causa do estudo, era mais fraca um pouco né.
P/1 - Essa escola não existe mais hoje?
R - Não existe.
P/1 - Tá bom. Aí depois ela foi pra lagoa, foi para estudar. E como é que era essa época que ela foi para a Lagoa?
R - No início ela ia com a prima dela de a pé, de lá do Santa Rita de a pé para Paracatu, Paracatu não, para a Lagoa, estudar. Aí passou uns dois anos, que veio o ônibus escolar, aí já melhorou muito. Aí elas continuaram estudando e depois foram para Paracatu. Mas tinha o ônibus que levava e trazia. Era muito bom.
P/1 - Ia lá para Paracatu, pegava ela, levava para a escola e depois trazia de novo para a comunidade?
R - É, trazia para Santa Rita de novo. Aí já foi muito bom, que melhorou né.
P/1 - Aí ela ainda continuou a estudar lá em Paracatu?
R - Continuou, aí ela continuou a estudar.
P/1 - Quando ela era criança, ela também ajudava nas coisas em casa ou não?
R - Ajudava.
P/1 - Nas coisas da roça também como foi com a senhora ou não?
R - Não, na roça ela não ajudava não, mas em casa ela ajudava.
P/1 - Nas coisas da casa ela ajudava?
R - É, ela ajudava. Em casa ela ajudava.
P/1 - Por que a senhora quando era pequena, pelo que me contou, trabalhava na roça também?
R - Trabalhava.
P/1 - Ela não, ela já não era colocada lá na roça?
R - Ela não, ela trabalhava, mas era em casa. Também nem dava tempo, porque ia para a escola, chegava, saía cedo, chegava cansada, né. Aí tinha que fazer o dever de casa, não mexia na roça não.
P/1 - E ela que era filha única, tinha outros primos, amiguinhos de lá da comunidade ou não? Como que era?
R - Tinha, tinha as primas dela.
P/1 - Ela brincava também?
R - Brincava, brincava. Tinha as primas.
P/1 - E na sua época de infância, teve tempo para brincar ou não?
R - Ah, tinha. Nós em casa mesmo, tinha as meninas e a gente brincava.
P/1 - Vocês brincavam do que na época que você era criança?
R - Rodas, dessas bobagens de menina. Boneca (risos).
P/1 - Mas vocês tinham essas brincadeiras, vocês se reuniam para fazer brincadeiras assim?
R - É, "cozinhadim", a gente brincava.
P/1 - Mas aí vocês brincavam onde, quando tinha brincadeiras?
R - Lá mesmo em casa, embaixo dos pés de mangas.
P/1 - No próprio terreiro da casa?
R - No próprio terreiro da casa. Varria e fazia o lugar de brincar, era bom.
P/1 - E você tinha coleguinhas, tinha amiguinhas nessa época?
R - Ah, eu tinha muito pouco.
P/1 - Era mais da família mesmo?
R - É. Da família. Que era só na escola, né. Que aí… lá já era Fafá, de vizinho. Não tinha vizinho igual era no Santa Rita, não.
P/1 - E aí, a senhora contou que estudou na Lagoa, e depois a Claudia estudou na Lagoa também…
R - É, estudou!
P/1 - Muitos anos depois estudou na Lagoa. Quando a Claudia estudou a escola era diferente da sua época?
R - Era. Que tinha mais salas. Porque quando eu estudei só tinha duas salas, era… não. Uma sala. Porque era só uma sala. Aí, tinha de manhã e à tarde. Eram duas professoras, mas em horário trocado. E quando a Claudia estudou, não. Aí já tinha mais salas. Aí, tinha aumentado mais. Já tinha… depois, agora… fez, como é que fala…? Lá onde eles brincam…
P/1 - A quadra.
R - A quadra. É. A quadra! Aí, nossa, ficou muito diferente de lá agora.
P/1 - E aí, nessa época antiga, tinha energia elétrica lá na comunidade?
R - Tinha. Não, lá onde eu fui criada não.
P/1 - É. Primeiro no Sapateiro, tinha ali energia elétrica?
R - Não, não, não. Não tinha, não.
P/1 - Aí, vocês lidavam como? Como é que vocês faziam?
R - Lamparina, vela. Mais com lamparina. Mas era bom demais.
P/1 - Aí, durante o dia, usava a luz do dia, e de noite usava a lamparina, é isso?
R - Isso.
P/1 - E depois lá, quando você casou e foi pra comunidade, como que era lá?
R - Não tinha também, não. Aí, depois, passou vários anos, é que veio energia para a comunidade. Aí colocou energia. Nós colocamos.
P/1 - Quando a Claudia nasceu já tinha energia ou ainda não?
R - Não. Não tinha. Não tinha, não.
P/1 - E como é que era na época dela, que era pequenininha, como é que você tratava nessa época que não tinha energia?
R - Ah, sei lá, dava um jeito, tinha lamparina, a gente era acostumado, não tinha problema, não.
P/1 - E como vocês não tinham energia elétrica. Tinha rádio, tinha alguma coisa…?
R - Tinha, rádio tinha.
P/1 - Ah, e aí, como é que foi?
R - Rádio a pilha, né?!
P/1 - Como é que foi nessa época que chegou o rádio?
R - Bom, toda vida eu lembro do rádio. Desde o Sapateiro, quando eu me entendo por gente, meu padrinho já tinha um rádio.
P/1 - Ah, lá na época do Sapateiro já tinha um rádio?
R - É, já tinha um rádio.
P/1 - A senhora já escutava música naquela época?
R - Aham. Já, já escutava.
P/1 - Ah, e escutava o que? O que é que vocês escutavam?
R - Ah, toda música. Tinha aquele programa Zé Bettio, que ele gostava demais. Ele gostava de voz do Brasil. Tinha oração do terço. Ah, tudo quanto é tipo de programa. Depois eu ganhei um radinho também. Nossa, que eu amava música. Até hoje eu gosto. Aí, só que eu gostava assim: ouvindo a música e cantando. Aí, minha mãe ficava brava. Eu falava com Claudia: “Claudia, hoje eu entendo porque sua madrinha ficava brava comigo, porque a gente quando está mais velha não gosta de muito barulho”, e ela já gosta também de um rádio alto, e tem dia que eu não tô com muita paciência, “Ah, não, agora eu sei porque mãe ficava brava comigo”, aí, ela ia lá e desligava o rádio. Passava um pouco e ligava outra vez. E é assim, eu gostava muito. Gosto muito de música. Uma música boa. Agora, hoje em dia, não. Hoje em dia as músicas não tem graça nenhuma.
P/1 - E quando você era mais nova, que você tá contando que gostava de ouvir e cantar também a música. Era música de quem do que, que você gostava de ouvir?
R - Ah, música popular. Principalmente popular. Tinha muita música popular que eu gostava.
P/1 - Aí você ligava rádio, ficava ouvindo e cantava também a música?
R - Aham, era.
P/1 - E a sua madrinha, a sua irmã não deixava falava: “Não, não, chega de cantar”?
R - É. Mas ela também gostava de cantar, assim, que ela era costureira, minha mãe, sempre… tinha umas músicas antigas, que eu falava: “Claudia, eu lembro da sua madrinha cantando essa música. Ela costurando e cantando”. Nossa, chega doer coração quando escuto essas músicas lembrando dela. Essas músicas antigas. Mas hoje em dia não tem, as músicas não tem graça, não. Só tem um programa domingo que as músicas dele são boas.
P/1 - Um programa?
R - Que passa no domingo, na FM, ela passa só música antiga, eu gosto. Aí, nós…, mas tem umas que são ruins demais.
P/1 - A senhora contou que a sua mãe era costureira. A senhora chegou a aprender a costurar também, ou nem pegou, nunca chegou a pegar a máquina?
R - Não, na época dela não. Depois eu fiz um corte e costura, aí comecei a costurar. Mas hoje em dia eu não mexo com costura, não.
P/1 - Mas chegou a aprender também?
R - Aham. Costurei bastante depois que eu casei, mas depois larguei.
P/1 - E, enfim… aí, a gente estava falando da Claudia, né, depois ela cresceu, continuou estudando. Ficou mocinha. Como era a época que ela já estava na juventude? Porque aí depois ela começou a sair, como é que foi isso aí? Porque aí era a senhora, e o marido da senhora, né. Como é que ele lidava com isso, assim essa época que ela já…?
R - Mas ela saia com as primas dela. Saia muito. Eu que ficava brava, o pai dela não importava, não. Saia, gostava, até hoje ela gosta muito de cavalgada, dessas coisas, forró. Aí ela ia com as meninas lá, porque ia lá de casa, com os primos dela.
P/1 - E por que você não gostava na época?
R - Ah, que a gente sempre tem a preocupação, né. Que tem que ter, tudo tem que ter a regra, então, eu não gostava de sair, mas ela gostava. Então ela ia.
P/1 - Você nunca foi muito assim, de sair, de ir para os lugares? Por exemplo, ir para essas festas? Festa religiosa a senhora ia, né, que a senhora contou.
R - Ia, ia.
P/1 - Mas assim, forró, a senhora nunca foi?
R - Não. Ia sim. Tinha época, ocasião, que a gente queria, outra vez não queria, né. E jovem, não, se for todo dia pra eles era bom.
P/1 - Então, a gente estava falando da filha, e ela cresceu, e depois o que aconteceu? Porque ela ficou mais velha, ela casou também já, a filha?
R - Não. É, nós, teve uma época que a gente morou na cidade, em Paracatu. Aí ela continuou a estudar, terminou os estudos dela, foi na época que pai dela morreu. Nós ficamos lá em Paracatu por 2 anos. Aí, voltei para Santa Rita, e ela continuou terminar… para terminar os estudos. Depois ela foi para roça também, lá pra Santa Rita.
P/1 - E aí, a senhora contou que o seu esposo faleceu, o que aconteceu, dona Alice?
R - Acidente de carro. Lá em João Pinheiro, teve acidente com ele.
P/1 - Ele tinha quantos anos, dona Alice?
R - 51, estava novo ainda.
P/1 - Ah. Então, como a senhora ficou sabendo? Enfim, porque ele estava longe, como é que avisaram a senhora? Como é que foi?
R - Aí, eu estava no serviço, aí chegou uma polícia lá e falou. Aí falou que ele estava no hospital, e lá no hospital eles falaram que ele tinha falecido.
P/1 - A senhora falou que estava no serviço, era serviço de que na época?
R - Trabalhava num restaurante, no Fornalha.
P/1 - Lá em Paracatu?
R - Lá em Paracatu. Que nós moramos, nós ficamos lá 1 anos… 2 anos em Paracatu. E quando ele morreu nós mudamos pra cidade meses de final janeiro, aí ele morreu em maio, ele não ficou quase seis meses em Paracatu. Aí na época que ele morreu. Aí eu continuei lá até o final do ano, aí eu voltei pra roça e Claudia ficou. Depois ela foi pra roça também, aí depois eu arrendei lá a roça, lá o Santa Rita e fui pra cidade. Aí nós ficamos lá 2 anos, depois eu voltei definitivo para Santa Rita.
P/1 - Essa terra que a senhora voltou, logo depois que a senhora foi pra cidade trabalhando de cozinheira. Depois voltou para cá, voltou a trabalhar na roça quando voltou para cá? Ou não? Como é que fez?
R - Não, a gente só fazia, mexia com farinha quando eu voltei.
P/1 - Fazia farinha para vender pra fora?
R - É, pro gasto mesmo, pra vender para fora, criava bicho, galinha, esses “trem’’, porco.
P/1 - E aí, era o dinheiro que a senhora ganhava para se sustentar?
R - Aham. E tinha a pensão, né.
P/1 - Enfim, e depois que a filha terminou de estudar, vocês foram para Paracatu de novo, depois voltaram para Santa Rita. Quando vocês chegaram, voltaram a trabalhar com farinha?
R - É.
P/1 - E daí a senhora nunca mais saiu da roça, né?
R - Não, nunca mais saí.
P/1 - E como é que chegou nesse lugar que a senhora está agora? Como é que foi?
R - Que aí como tem a história, veio o progresso, infelizmente veio o progresso. Que veio a RPM, desde lá do Sapateiro, veio a RPM. Aí comprou, foi comprando lá onde minha mãe morava, até que um dia chegou lá no Santa Rita, e aí, uns vizinhos foram vendendo, aí chegou na gente também, não era tão perto da barragem, mas tinha que sair, né, não podia ficar. Aí nós saímos.
P/1 - Mas o que eles falaram para a senhora na época? O que que disseram? Porque eles compraram a terra lá, né. O que eles falaram para comprar a terra?
R - Comprou. Ah, que tinha que vender porque lá era área de risco. Aí, barulhou, que muita gente reclamava por causa do barulho. E também meu genro, nessas alturas minha menina, minha filha já tinha casado. E, eu construí uma casa bem lá perto da igreja, nossa, era um sonho meu continuar lá, que era bem pertinho da igreja, da associação. Aí meu genro, pra ele só se via vender. Que via um e outro vendendo, pra ele só se via vender. Se fosse meu caso não teria saído de lá tão rápido. Aí, reclamava muito lá da RPM, que fazia barulho, que não dormia, aí eles compraram.
P/1 - Mas a senhora chegou a ver quando eles estavam fazendo a barragem? Ou a senhora foi lá ver a barragem?
R - Não.
P/1 - Mas a senhora sabia que eles estavam fazendo a barragem na época?
R - Sabia. Via. Quando a gente saiu de lá a barragem já estava velha. Eu vivi muitos anos lá com a barragem.
P/1 - Ah, enquanto a senhora estava lá a barragem já existia.
R - Não. Já existia. Já existia. Já estava lá construída. Eu já estava lá trabalhando.
P/1 - Mas a senhora nunca chegou a ir na barragem ver como ela era depois que ela estava pronta?
R - Não, eu acho que, não sei se… Eu acho que já passei lá perto. Que tinha uma estrada que passava lá perto, indo para Paracatu, aí eu passei, mas não, antes não, ir lá visitar não. Nunca fui não.
P/1 - A senhora falou que sua filha logo casou. Depois que ela casou, ela continuou aqui no Santa Rita, como é que foi?
R - É. Continuou lá no Santa Rita. Aí ela ficou lá na casa do Cida da sede pra ela… para eles. E eu construí uma casa lá perto da igreja. Nossa, que meu sonho era ficar lá pertinho da igreja.
P/1 - Que era bem nessa época aí, que aconteceu isso que a senhora está contando.
R - Uhum.
P/1 - Enfim, aí teve que vender lá, e aí, quando vendeu lá, o que aconteceu?
R - Aí, eu vim para cá. Ela comprou um pedaço, outro lugar para ela, uma fazenda. E eu comprei aqui. Tô aqui até hoje. Mas o Santa Rita não sai do meu coração.
P/1 - A senhora está a quanto tempo nessa casa?
R - Tem… Eu vim para cá em 2009. 19, 10, 13 anos vai fazer.
P/1 - E aí, quando chegou aqui nessa terra, porque a senhora estava acostumada lá com Santa Rita, chegou até ir para Paracatu, mas estava acostumada com Santa Rita, né, que a sua terra que a senhora está falando de coração. Quando chegou nessa terra, como é que teve que fazer para ajeitar tudo aqui?
R - Eu tive que fazer essa casa aqui, pode dizer. Que só tinha um pedaço velho dessa, aí eu fiz essa área. Era no tijolo. Fiz, reboquei. Nossa, trabalhei nela todinha. E fiquei aqui. Mas o pior foi se acostumar, né. A pior coisa foi se acostumar, porque lá os vizinhos eram pertinho, aqui… Eu tenho muitos vizinhos aqui também, graças a Deus, eu tenho vizinhos. Mas os vizinhos daqui é vizinho longe, só tem um ali que é mais perto, mas é longe os vizinhos. Mas são meus amigos também. Mas não é igual Santa Rita, que era amigo, assim, vizinho pertinho, você vê a casa de um, vê do outro. Sabe que podia contar a qualquer hora, dar um grito que eles escutavam. Uma criança podia ir sozinho. E aqui não, aqui é longe, até a igreja pra mim é longe aqui. Que é lá em cima, lá na estrada, lá. Quando vocês viraram para cá, era pertinho lá.
P/1 - Aqui é a igreja de que santo, dona Alice?
R - É São Pedro.
P/1 - E lá é a igreja de Santa Rita, né?!
R - É, Santa Rita.
P/1 - Então vamos falar da comunidade. Então, antes não tinha a igreja de Santa Rita lá, né. O pessoal contou que lá era pequenininha, e depois que ela foi crescendo. Como é que aconteceu isso aí? Porque a senhora chegou a ver, a senhora está desde o começo, né, estava um pouquinho mais longe, mas via.
R - Mas ajudei também, né. Ajudei a crescer também.
P/1 - Então, como é que foi, fala para mim?
R - Quando eu mudei, nós mudamos para lá, ainda a igreja era bem pequenininha, aí tinha uns meninos assim, que eles todos eram muito fervorosos também, as pessoas mais velhas, aí resolveram crescer a igreja, acrescentar a igreja. Aí pediram ajuda, de fazer muita novena, leilão. Aí, cada ano fazia uma coisa, até que ficou do tamanho que está. Mas foi com muito suor, e muita boa vontade de todo mundo.
P/1 - E a senhora me contou também da associação, né. Como é que nasceu a associação lá, como é que foi essa história?
R - Aí, a associação eu não tô lembrada quem foi que criou a associação.
P/1 - Mas como é que a senhora começou na associação? Porque a senhora esteve associada também. Como é que foi?
R - Eu associei, né. Eu só frequentava, aí depois eu passei, me convidaram para ser secretária. Aí fui secretária duas vezes, e foi assim.
P/1 - E nessa época aí, que a senhora começou a frequentar, depois foi secretária, o que vocês estavam pedindo, o que era a reivindicação da época? A senhora lembra?
R - Para querer… reivindicou mesmo, primeiro foi, eu não sei se foi uma cozinha comunitária, acho que antes foi, mas não foi para a RPM. Quem deu essa cozinha, ajudou nessa cozinha comunitária, foi o cara da diocesana. Aí, depois que a RPM já entrou, cada um queria um projeto, né, particular. Eu mesma, eu ganhei na época um projeto para eu criar galinha, acho que teve um para criar porco também, alguma coisa, umas coisinhas lá.
P/1 - E essas eram as reivindicações de todo pessoal de lá?
R - É, cada um queria uma coisa. Aí eles… igual, galinheiro mesmo, davam para todo mundo galinheiro. Mas foi uma época muito, nossa, triste, viu? E a gente, igual eu mesma, que eu tinha feito essa casa lá perto da igreja. Meu sonho era terminar ela, continuar ali. Mas, né, não deu certo.
P/1 - E deixa eu te perguntar uma outra coisa, que eu sei que tá associado, a senhora pode não ter feito, mas talvez tenha visto, que é o garimpo. A senhora chegou a garimpar ou conheceu alguém que garimpava? Na cidade…
R - Não, eu via na estrada, né. Que ali no Morro do Ouro, na época que eu estudei, nós continuamos assim, ia pra cidade, para Paracatu no domingo de tarde, ficava lá a semana todinha, aí quando era na sexta-feira de tarde a gente voltava outra vez para a roça. Aí era aquele tanto de gente garimpando com caixote lá na estrada. Eu lembro dessa época. Agora, assim, outros garimpos… Eu tinha uma tia também que ela garimpava numa praia lá, mas garimpo assim dá, igual a RPM, não, nunca.
P/1 - Mas, o garimpo do pessoal de Paracatu você viu, e aí depois, acabou o garimpo.
R - Uhum, via. É, acabou.
P/1 - Aí, fez que o povo? Porque o povo vivia de garimpo, uma parte. E aí, depois quando acabou fez o que?
R - Uai, eu não sei, porque às vezes não era gente que eu conhecia. A gente passava na estrada, eles estavam ali garimpando, era do São Domingo, meio de Paracatu. Mas eu não ficava por dentro do que eles faziam, não. Da vida deles, não. Porquê da minha família mesmo não garimpavam, não.
P/1 - E, deixa eu te perguntar, lá na comunidade, quais eram os costumes que vocês tinham, a senhora me contou que tinha a festa de Santa Cruz, né, que é uma festa bem do costume do pessoal de Santa Rita. Como é que é a festa de Santa Cruz, conta para mim, por favor? Como é que vocês fazem a festa?
R - É assim, cada ano uma pessoa fazia a festa, e vamos supor, eu fazia a festa esse ano, aí levantava o mastro, depois para descer, não… descia o mastro, fazia… rezava em casa, quando… Mês de junho, é mês de julho. Quando era em maio eu tornava a subir o mastro, aí passava para outra pessoa, e assim ia, fazia as novenas, era muito bom.
P/1 - E aí, vocês faziam a novena lá onde é a igreja hoje?
R - É, onde é a igreja hoje.
P/1 - E como é que reunia a comunidade nessa época? Como é que vocês faziam para reunir?
R - Ih, ia de todo jeito, ia gente de longe, de a pé, ia muita gente. Hoje que é pouca gente, né, que mudou quase todo mundo. Mas ia muita gente.
P/1 - E como era a comunidade no passado, e como é a comunidade hoje, qual a diferença da comunidade?
R - Tem muita diferença, muita.
P/1 - Então me conta, qual a diferença, como é que ela tá?
R - Antigamente as pessoas, elas eram mais fervorosas, mas assim, não tinha, eu acho assim, porque antigamente não tinha o que distrair as pessoas. Hoje em dia não, hoje veio televisão, veio internet, aí as pessoas já foram desligando, não é igual era antigamente mais não. De jeito nenhum.
P/1 - E o pessoal que era original de lá da comunidade, ainda tá lá, não tá mais, o que aconteceu?
R - Pois é. Muitos o RPM comprou e outros mudaram, mudaram, ainda tem alguns lá, igual o Hideo, como a Aparecida, tem, ainda deve ter umas dez famílias lá ainda.
P/1 - Mas teve uma época que tinha mais que isso?
R - Tinha. Nossa, lá tinha muita gente. Lá devia ter umas… Só que assim, nem todos mudaram por causa da RPM, umas 50 ou 60 famílias tinham lá. Que tinha gente que morava, era bem pequenininho o terreninho, aí era bem unido um do outro. Aí foram, uns foram mudando porque quis, outros morreram, e depois finalmente a RPM foi comprando. Aí, é, basicamente acabou a comunidade agora aqui.
P/1 - E as festas, que vocês faziam as rezas, como é que tá agora?
R - Ah, a reza continua, né.
P/1 - Mas o povo ainda vai? Como é que é?
R - Vai. Mas igual eu estava falando com a minha menina, assim, parece que não é aquele fervor, que as pessoas estão rezando mais, vai mais interessado é no forró, né. Não é igual antigamente. Antigamente era diferente.
P/1 - E a senhora acha que o pessoal mais novo tá seguindo as tradições, as culturas? Ou pelo menos eles sabem quais são as tradições, as culturas da comunidade?
R - É. Isso aí tá, né. Tem muitas pessoas que tá. Segue ainda, que gosta, igual cavalgada mesmo, tinha cavalgada antigamente, tinha lá um pasto que tinha corrida de cavalo. Agora esse acabou, vive falando que eles iam levantar outra vez, mas não sei se vai mesmo. Aí, ia muita gente, vinha gente de Paracatu. Minha menina mesmo, nossa, ela é louca por causa da cavalgada e corrida de cavalo. É posto de folia, não sei se você já ouviu falar, já, folia. Aí esse também tinha muito, a gente já deu muito também lá, aqui também já dei.
P/1 - Mas a senhora recebeu os foliões na sua casa?
R - Uhum. Sempre a gente recebe. Só esse ano que não. Teve dois anos por causa da pandemia, e esse ano que não deu certo.
P/1 - Mas a senhora dava pouso pros…?
R - Dava.
P/1 - Ah, e como é que era essa época então? Só conta um pouquinho sobre isso, porque até os foliões, é importante falar sobre isso também. Eles vinham, passavam aqui pela casa da senhora, era um dos pousos?
R - É. Eles já vinham, saiam de lá, do início, que era no Ribeirão, aí girava, ia, passava por Paracatu, aí passava aqui em casa, pousava, pousava em outros lugares primeiro. Aí vinha aqui para casa, daqui ia para outro vizinho, mais longe daqui, de lá ia voltava para Santa Rita e ia embora. Era muito bom. Era bom mesmo, assim... Pelo menos assim, parece que era muito um fervor, porque não é fácil a pessoa ficar 20 e tantos dias a cavalo, longe de casa, no tempo de frio, chuva, né. Porque tem época que tá, meio do ano tá chovendo, aí eles estão ali, sempre rente. Porque não é fácil, a gente sabe que não é fácil. Então, tem que ter um motivo para eles estarem ali sempre juntos. Aí, eles chegam, reza… Primeiro eles pedem o pouso, vai no altar, pede o pouso, canta, aí depois janta, agradece a mesa, dança com a catira, reza e dança com a catira. Aí no outro dia, agradece a mesa outra vez e vai embora. Eu gosto muito de folia também. Só que tem ocasiões que não dá.
P/1 - Vamos só falar um pouco da catira, porque aí tem gente que não conhece. O que é a catira?
R - É uma dança.
P/1 - Mas como eles fazem a dança? Como é que é?
R - É um repicado de viola, aí eles dançando e batendo o pé e palma. Fica um de lá e um de cá assim, aí é o par. Aí, eles seguindo o ritmo da música, bate palma e o pé. É importante. Agora esse ano, eles já, eu achei até bonitinho, que, assim que todo evento a gente tem que ir colocando as crianças, os jovens assim, se não acaba, porque os velhos vão morrendo, ou mesmo ficando cansados. Eles tinham um tanto de jovens acompanhando a folia, então, apesar que era da família mesmo dos foliões. Mas é bom para não deixar morrer a tradição, né, eu achei muito bonito.
P/1 - E a senhora achou que o pessoal mais jovem tá querendo fazer?
R - Tá. Não, eles tá. Ele estava uma gracinha, todo mundo ali junto rezando, eu achei bonitinho. Mas vamos ver se segue, né. Porque não é fácil, não.
P/1 - Aí a senhora tinha contado da associação, né, que tinha sido secretária, e, mas participou da igreja também, né.
R - Participava.
P/1 - Conta para mim do seu trabalho na igreja, por favor?
R - Eu dava curso da palavra, e fazia leitura, celebrava o culto, essas coisas.
P/1 - Isso lá no Santa Rita?
R - Santa Rita.
P/1 - E aqui, a senhora chega a fazer aqui, ou não? Que a senhora falou que é mais longe.
R - Aqui não, nem tem também. Só tem a missa. Na missa eu vou, quando eu dou conta, eu vou. Mas assim, os outros eventos que tinha lá em Santa Rita, aqui não tem, não. Acho que nem lá, não sei se tem mais. Às vezes tem, quando é época de São Pedro, tem untrido, que é três dias que eles fazem de celebração. Mas não é igual antigamente.
P/1 - Mas eles celebram como o São Pedro?
R - Faz… Esse ano veio o padre, três dias, o padre veio. Aí no final também ele veio, encerrou. Aí teve comida típica, teve leilão, aí essas coisas.
P/1 - E quando tem festa assim, a senhora ainda vai lá no Santa Rita? Ou é mais difícil agora?
R - Ah, eu vou. Igual, outro dia mesmo teve na casa de, dessa menina, eu fui. Porque sempre quando tem posto de folia, ou outra festa aqui, como Aparecida tá sempre me ajudando, aí ela é uma, meu braço direito. Aí então, eu fico sem graça, né, “Nossa, dona Alice, é para você vir”. Aí eu vou para ajudar ela. Fico lá ajudando. Outro dia mesmo eu fui, ajudei ela.
P/1 - Mas e missa, essas celebrações mais comuns do dia a dia, a senhora consegue ir lá, ou…?
R - Não, lá no Santa Rita não. É longe, né, aí não dá, não.
P/1 - E nessa aqui, pelo menos na missa a senhora vai?
R - Não, na missa aqui eu vou. Só alguma vez que eu tô sentindo alguma coisa, que nem a minha menina trabalha, aí ela não tá aqui, para eu ir de a pé, aí não. E é de noite a missa, assim, a tarde e já vem a noite. Às vezes eu falho em algumas, mas na missa eu vou.
P/1 - Oh, e a gente vai fazer agora as últimas perguntas, tá? O que a senhora gostaria de deixar como legado?
R - Ah, assim, a união, a amizade, porque para mim conta muito, a amizade sincera é mais do que qualquer dinheiro. Igual, eu falo assim, povo assim: “Ah, não, fulano tá bem”. Falei: “Não, tá bem, mas às vezes não tem amizade”, não adianta nada. O dinheiro não cobre a amizade. Eu acho que a gente deve tá sempre unido, a família unida, unir com os amigos, com os vizinhos, né. Então, é isso.
P/1 - E, aí, uma última pergunta que a gente faz. Como foi contar a sua história de vida aqui, sentar e contar a sua história de vida pra gente?
R - Aí, eu gostei. Para mim foi bom, porque falar do… As pessoas falam assim: "Nossa, viver o passado, a gente não pode ficar lembrando o passado", mas eu, o meu passado eu acho que foi bom, acho não, foi bom. Apesar… Assim, teve as dificuldades? Teve. Teve tristeza? Teve. Mas só que hoje em dia não é igual antigamente. Então, para mim foi… principalmente falar de Santa Rita. Para mim foi muito bom. Que Santa Rita para mim é um… Nossa. Só que se eu fosse mudar para lá hoje, eu não ia querer, porque não tá igual era antigamente, né. Já destruiu tudo. Mas se fosse tá lá igual antigamente, eu queria tá lá, do que aqui.
P/1 - Então, dona Alice, eu agradeço, a gente do museu da pessoa, os meninos daqui, do Click Paracatu, a gente agradece que você tenha dado a entrevista. Muito obrigado, dona Alice.
R - Nada. Eu que agradeço. Mas desculpa viu.
P/1 - Imagina, muito obrigado.
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