Desde pequena a literatura sempre teve um papel muito importante na minha vida. Talvez por eu ter crescido numa família de professores – meus tios, meus primos, todos são – ou por minha mãe ter o vício na leitura. Um dos meus tios recebia na escola em que trabalhava coleções...Continuar leitura
Desde pequena a literatura sempre teve um papel muito importante na minha vida. Talvez por eu ter crescido numa família de professores – meus tios, meus primos, todos são – ou por minha mãe ter o vício na leitura.
Um dos meus tios recebia na escola em que trabalhava coleções de livros de um programa do governo chamado “Literatura em minha Casa”. Vinha um livro de poesia, um de contos, um clássico adaptado, uma novela e uma peça de teatro. E uma das vezes veio no clássico veio o “Os Miseráveis”, de Victor Hugo. Até então eu nunca tinha ouvido falar da história nem de revolução francesa ou nada parecido. Foi o primeiro livro de “gente grande” que li sozinha, sem ajuda alguma. Obviamente não entendi nada, ma¬s fiquei orgulhosa demais de mim.
E aquilo criou um marco.
No primeiro colegial eu comecei a estudar a revolução francesa e senti que o assunto não me era estranho. Sabe quando dá um clique, uma espécie de deja vu?
Só que a minha professora não era muito boa . Inclusive, minha mãe é professora de história do tipo de contextualiza até mesmo um filme da Disney. Mesmo quando tá falando de uma coisa bem simples ela vai lá no fundo buscar na história pra explicar o ponto de vista dela. Então eu aprendia mais com ela do que na escola. Coincidentemente, em uma das tentativas de fazer a gente entender melhor a revolução, a professora passou para nós o filme de Os Miseráveis de 1998. O filme é horrível, mas a intenção foi boa. Mas naquele momento eu me lembrei do livro que li quando eu era criança eu tava finalmente entendendo a história, o contexto, tudo. Eu tava visualizando.
Foi uma porta que se abriu. A minha mãe tem uma amiga que mora no Espírito Santo e quase todas as férias de janeiro nós vamos pra lá. Quando eu tinha 17 anos eu os vi pela primeira vez. Eram grandes e volumosos. Pareciam deuses na estante dela.
Perguntei pra ela que livros eram e ela me respondeu: - Os Miseráveis, o original, dividido em duas partes. Pedi emprestado e entrei de cabeça.
Demorei uns 3 meses pra ler, são dois monstros enormes e a narrativa é densa e te arrasta pra dentro da França. O bom da literatura é isso, você passa a amar pessoas que nem existem, a morar num mundo que nem existe, mas pra você é real. E era real pra mim.
Desde pequena eu sempre fui apaixonada por musicais. Se tiver música no filme ou na peça, eu já gosto. A trama pode ser bem nada a ver, mas se tem música já tô de pé aplaudindo.
E quando eu soube que fariam um filme musical do meu livro favorito ---[pausa] eu pirei. Eu não cabia em mim.
Fui na pré-estreia, chorei quando Anne Hathaway ganhou o Oscar de atriz coadjuvante e o filme foi indicado pra melhor filme. Um musical. De melhor filme. Nunca que eu imaginei. E não só isso – o meu musical.
E quando eu descobri que tinha também uma peça da Brodway foi tipo o auge. Procurei na internet em todos os meios legais e ilegais. Devo ter chegado quase na deep web. Sério. Mas achei. Assisti quinhentas vezes, me descabelei.
Faz alguns anos que eu e minha mãe criamos a tradição de todo aniversário meu ir ver um musical no teatro. Geralmente a grande produção vai de março até dezembro, então pega bem a data. Em 2017 eu fiz aniversário num domingo e meu sábado foi um dos piores dias da minha vida.
Sempre tive problema com aniversário e tal, mas o dia anterior de 2017 foi campeão. E aí no dia da comemoração é que minha mãe vem com a surpresa.
Eu fui ver Os Miseráveis.
E assisti da segunda fila.Recolher