Voltava para casa e no caminho o carro que dirigia estragou. Abandonei o carro e segui caminhando, descobrindo um caminho alternativo que atravessava parte do terreno de uma indústria que chamam de usina. No caminho encontro grupos de animais mortos. Ao me aproximar da casa, vejo duas pessoas ajoelhadas rezando em frente a minha casa. Penso que são meus vizinhos, não saberei como agir em relação a eles. Da rua percebo que meu companheiro havia feito mudanças na casa, pitura no quarto, plantas penduradas do lado de fora. A casa está mais próxima da rua e mais exposta, sendo possível ver da rua o interior da casa.
Que associações você faz entre seu sonho e o momento de pandemia?
Penso que o sonho traz o assombro com a imagem das pessoas rezando ajoelhadas nas calçadas e a dificuldade de entender quem é o sujeito que está ali ajoelhado, pois ao chegar em casa essas pessoas eram como pedras, não tinha como falar com elas. O local por onde volto caminhando é uma indústria do ramo alimentício que tem trabalhadores distribuídos em turnos que cobrem as 24 horas do dia, então é um lugar que nunca para, um símbolo de produção. Associei também usina, com a usina nuclear, que com o desastre em Chernobyl produziu um tipo de adoecimento e sofrimento que foi negado e desacreditado por algum tempo. E a questão da casa estar visível da rua talvez diga de uma vida que, ainda que se passe mais dentro da casa, nunca esteve tão vigiada/monitorada.