P/1 – Senhor Ademir, primeiramente muito obrigado por participar do nosso projeto, por ter aceitado o nosso convite. Pra começar a nossa entrevista eu gostaria que o senhor dissesse pra gente o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – Meu nome é Ademir Alves, nasci em São Paulo em três de fevereiro de 1970, tenho 42 anos.
P/1 – E o nome dos seus pais?
R – Alfredo Alves e Valderez Rodrigues Alves.
P/1 – E você tem irmãos ou irmãs?
R – Tenho. Inês Alves e Roseli Alves.
P/1 – E você é o mais velho?
R – Sou o mais novo.
P/1 – E você conhece um pouquinho a história dos seus pais, da origem deles?
R – Da minha mãe eu tenho pouca informação porque eu só conheci a avó, que foi quem criou ela, né? A mãe morreu quando ela era bebê, o pai dela deixou ela com a avó e foi embora com outra família, enfim. A história da minha mãe resume-se só à avó que cuidou dela. Do meu pai, seriam de origem portuguesa, meu vô também veio bebê pra cá, pra São Paulo, e ele tem duas irmãs, uma falecida e uma que está viva ainda.
P/1 – E o seu pai também era oriundo da Zona Norte?
R – Também da Zona Norte. A história das famílias é na Zona Norte. Eles é no bairro do Carandiru, e a minha história é ali no bairro Jardim São Paulo, Santana, Tucuruvi. Então, a família viveu por ali o tempo todo, não teve mudanças, nós não andamos pela cidade, ficamos concentrados sempre naquela região.
P/1 – A sua infância foi nesse bairro Jardim São Paulo?
R – Jardim São Paulo.
P/1 – Que é o bairro que você mora até hoje?
R – Nasci e moro até hoje. Casei e mudei pra alguns quarteirões próximos de onde eu nasci.
P/1 – E tem como você falar um pouco pra gente como era esse bairro na sua infância, no Jardim São Paulo?
R – Claro, era um bairro muito mais tranquilo, a sensação... Parece que tinha mais verde. Porque as construções vão modificando o cenário e vai ficando de uma aparência mais de campo, vamos dizer assim, por ter muitas árvores, terrenos. Lá é um bairro que tem um clube da prefeitura, que eu brinquei muito lá dentro, e ainda existe. Ele piorou, na infância ele era muito mais interessante pra se morar, você conseguia brincar na rua, andar, correr, fazer essas coisas. Hoje você não vê quase as pessoas na rua, né?
P/1 – Mas essa mudança que teve no bairro se traduziu também em melhorias em infraestrutura?
R – Não, não. Não percebo tanto assim. Essa parte de asfalto, saneamento, transporte, sempre teve. Desde que eu mudei pra lá, em 1970, ele sempre foi um bairro já arrumado, tranquilo e organizado, nunca faltou essa parte, essas coisas básicas. Acho que a evolução que teve nele não trouxe melhorias não, a sensação que eu tenho é que saturou aquele charme que ele tinha.
P/1 – E você consegue localizar no tempo a partir de quando que começou essa mudança, em que década?
R – Deixa eu pensar um pouquinho aqui... Acho que quando chega próximo ao ano 2000, final da década de 90, acho que ele começa a se transformar e começa a ficar meio estranho. Antes ele era um bairro mais legal. Acho que final da década de 90.
P/1 – E que lembrança você tem da sua infância e adolescência, das brincadeiras, dos amigos. Quem eram os seus amigos e do que vocês brincavam?
R – Eu tinha vários amigos, mas teve um que foi o especial, que foi aquele que eu convivi a infância toda. Eu brinquei muito com ele, é um parceiro mesmo, a gente se dava muito junto e as brincadeiras de pipa... Pipa, bicicleta, futebol, mas a pipa, balão também, eu sempre gostei muito de balão, essas brincadeiras que tinha a ver com o céu, pipa, eram as que mais me fascinavam. Ele chama Julinho, é uma pessoa muito pobre, o pai dele era motorista de ônibus, a mãe dele doméstica (emocionado). Quando a gente lembra do passado se emociona um pouco, acho que é normal, né? E meu pai sempre conseguiu sempre ser bem sucedido na vida assim, até que rápido. Era eu o rico, vamos dizer assim, e ele o pobre, e parece que deu certo essa mistura, essa diferença de poder aquisitivo. Eu vivia numa casa enorme, minha casa é bem grande, e eu brinquei muito na casa dele, que é uma casa minúscula, que era só uma sala, um banheirinho, um quartinho muito... E engraçado, em vez dele brincar em casa, eu passei minha infância toda na casa dele, nessa casinha humilde, pequena, muito simples. E me traz boas lembranças mesmo, a gente brincava muito lá.
P/1 – Tem como você também lembrar pra gente um pouco da sua casa na infância? Você já falou que ela era grande, mas como é que ela era?
R – É um sobrado, é uma casa diferente, ela tem o telhado torto, ela tem um projeto de arquitetura moderno, é meio, sabe... Ela é diferente. Ela tem uma sala enorme, em cima tem os três quartos, no fundo tem um salão, como se fosse um salãozinho de festa, uma coisa envidraçada. Ali a gente brinca muito, nesse salão, que virou um quarto de brincadeiras, quintal grande. No fundo tem uma outra casinha também, que a gente também ficava circulando, como se fosse uma casa pra empregadas. A gente nunca teve empregados lá, mas a gente brincava muito por lá. É uma casa bem fora do tradicional. A casa tem um charme legal.
P/1 – E nessa sua infância você se lembra como era quando vocês iam fazer compras, em que rua vocês iam, em que loja, se era no bairro, se era em outro bairro?
R – A gente acabava comprando as coisas tudo por ali. O que mais me marca assim de lembrança era o mercadinho, que era do Takao. Takao era um japonês bravo (risos), acho que ele não gostava muito de criança, né (risos)? Então, ele maltratava a gente, mas a gente adorava ir lá justamente por isso, por ele se incomodar com criança, eu acho que a gente ia lá pra provocar mais ele, irritando ele (risos). Esse mercadinho que a gente comprava as coisas acho que é o que mais me... Tem uma loja de brinquedos também que tinha ali perto, que é uma papelaria também, e era legal ir lá por causa dos brinquedos.
P/1 – E esse comércio ficava numa rua específica?
R – Na Avenida Leôncio de Magalhães, que é uma rua paralela onde eu morava, que é na Rua Cataguases.
P/1 – E quando precisava fazer aquela compra mais pesada, tipo roupas pra todo mundo da família, vocês iam a um bairro vizinho ou era ali mesmo?
R – Não, a gente ia no bairro vizinho, em Santana, na Rua Voluntários da Pátria. Uma rua de comércio que há muitos anos é um comércio tradicional e continua sendo um comércio bom. Todas as compras da família a gente ia na Rua Voluntários da Pátria. Até hoje eu vou com a minha esposa, com a minha neném, eu gosto de ir lá passear na Voluntários. Meu pai vai lá almoçar na minha tia na Voluntários da Pátria, então, é um comércio que a gente compra roupa, sapato, tênis, coisas de esporte. Parece que lá tem uma história bem marcante pra nós.
P/1 – Ainda hoje é um polo comercial da Zona Norte?
R – Ainda é, naquela região de Santana é muito forte, acho que é a principal rua, a Rua Voluntários da Pátria é a principal rua. Tem todos os tipos de comércio, serviços, enfim, uma rua bem legal, tem charme e tem muita história essa rua, tem muita história.
P/1 – E além da Voluntários da Pátria, você lembra de algum outro pólo comercial importante daquela região da Zona Norte?
R – Você diz na época da infância ou chegando na adolescência?
P/1 – Na época da infância.
R – Época da infância... A gente fazia um passeio de fim de semana, no domingo, a gente ia ao Shopping Iguatemi, que é um shopping bem antigo. Era realmente o passeio de domingo pegar o carro e ir até o Shopping Iguatemi. Mas é um pouco frustrante porque a gente ia de domingo e as lojas estavam fechadas, né (risos)? A gente ia pra lá, tudo, e estava fechado.Tinha uma loja de brinquedo enorme, lá, uns bonecos enormes e toda vez que a gente ia estava sempre fechada, então, ficava sempre com aquela vontade. Mas quando era criança, acho que nem imaginava as lojas abertas, pra mim o passeio era aquilo, ver as lojas fechadas, parece que está tudo certo. Hoje que eu sei, pô...
P/1 – Olhar as vitrines já bastava.
R – Já bastava. Comer alguma coisa, era o passeio.
P/1 – E depois na adolescência? Abriu algum outro pólo importante por ali?
R – O pólo forte que abriu foi o Center Norte, né? Eu não lembro o ano que foi, mas eu já era adolescente quando abriu o Center Norte. Em Santana teve também um shopping bem pequeno que abriu que a gente também ia, que já tinha essa coisa de fascinar a gente, aquele jeito de ir pras lojas, tal. Center Norte também é um lugar que eu fui bastante. E é bem diferente do que é hoje, né? Ao longo dos anos ele foi aumentando, tal.
P/1 – E o período da escola? Em que escola você estudou?
R – Eu estudei numa escola estadual de primeiro grau, ela chama Antônio Lisboa.
P/1 – Era perto da sua casa?
R – Era perto da minha casa. E ficava uma sigla que é Gepal, Grupo Estadual de Primeiro Grau Antônio Lisboa, alguma coisa assim, Gepal, dava essa sigla (risos). Quando ficou esse nome era muito melhor Gepal do que Antônio Lisboa, né? Ficou mais legal.
P/1 – E nessa época da sua infância, que você estudava na escola, infância e início da adolescência, você já pensava no que você gostaria de trabalhar quando adulto ou ainda não pensava no assunto?
R – Não pensava muito no assunto, não pensei muito no que eu queria ser. Nunca tive um desejo de uma coisa só, de ser uma coisa... Na época era muito reduzido, sempre médico, engenheiro. Hoje as profissões são mais diversificadas, parece, as atividades. Antes era muito aquela coisa... E isso me incomodava, nunca me interessei muito por essas profissões. Eu ficava pensando mais em brincar, mesmo, e não pensava muito no futuro. Como adolescente você diz?
P/1 – Na época da escola.
R – Na época da escola, não, não pensava muito, não. Eu fui fazer o ginásio e o colegial sem nunca ter conseguido definir o que eu queria fazer.
P/1 – E voltando a falar um pouquinho do seu pai agora, a que se dedicava o seu pai? No que ele trabalhava?
R – Desde o começo da vida dele assim, o que eu sei da história?
P/1 – Desde que ele se tornou pai.
R – Ah, então, desde que ele é o meu pai ele tem uma perfumaria.
P/1 – A perfumaria? A Paraci?
R – A Paraci, é. Quando eu nasci a loja já existia.
P/1 – Há quanto tempo ele já tinha aberto essa loja?
R – Já tinha... 42...? Já tinha sete anos a loja.
P/1 – E você frequentava a loja desde criança?
R – Ia desde criança, desde bebezinho. De bebê eu não lembro, mas desde pequenininho a gente andava por lá, com as funcionárias, ficava junto com elas, elas me paparicando, essas coisas, né? Dormia... A gente dormia em caixa de absorvente, cortava a caixa e colocava o travesseirinho, não sei o quê lá, e a gente dormia dentro das caixas de absorvente. Ficava tipo um bercinho improvisado (risos), era legal, bacana.
P/1 – E onde era essa loja? Ela continua no mesmo lugar até hoje?
R – Ela fica na Avenida Tucuruvi, número 990. Está lá no mesmo endereço, desde que ele inaugurou a loja até hoje, está no mesmo número. Precisou mudar uma época pra Avenida Guapira pra ampliação da loja. Então precisou mudar o endereço por um tempo, pra aumentar a loja, e depois voltou. Mas é o mesmo lugar até hoje.
P/1 – E você sabe um pouquinho da história da loja? Como seu pai teve a ideia de abrir essa loja, por quê?
R – Meu pai era torneiro mecânico. Isso que eu acho meio surpreendente, que ele realmente mudou totalmente a profissão dele, saiu de torneiro mecânico pra abrir uma perfumaria, não tinha nada a ver, né? Eu não consigo ver nenhum vínculo. E o motivo por que ele abriu eu não sei qual foi a ideia inicial dele não, por que ele pensou nisso, não sei de onde veio essa ideia.
P/1 – E o motivo pela escolha do ponto? Ele já te contou por que o Tucuruvi?
R – Também não sei. A escolha do bairro eu não sei, precisaria perguntar pra ele.
P/1 – E o Tucuruvi na sua infância, como é que era esse bairro?
R – Eu só sei o Tucuruvi através da loja, só aquelas ruas no entorno da loja. Mas é um bairro mais comercial, mais cinzento. A sensação que eu tenho é que é um bairro mais... Não é um bairro tão divertido, pelo menos aquela região ali sempre foi uma coisa muito meio comercial, é um bairro mesmo...
P/1 – De pequenos comércios?
R – De pequenos comércios, isso.
P/1 – E isso persiste até hoje? Ou mudou um pouco o perfil?
R – Tá mudando aos poucos. Agora que vai vir o shopping ali talvez dê uma mudada. Mas é uma bairro que resistiu, não teve uma evolução que você perceba. Ele foi modificando muito aos poucos, tem muito imóvel velho, não sei porquê é um bairro que não bombou, não sei os motivos.
P/1 – E a sua lembrança, quando menino ali na loja, pra hoje, na fisionomia da rua, nota muita diferença?
R – Não, não noto. Não percebo muita diferença, é muito parecida. É um bairro muito estático, não consigo perceber.
P/1 – E em termos de movimento, segurança, infraestrutura?
R – Engraçado, que toda vez que você faz a pergunta do bairro eu acho que ele não mudou, é engraçado, né? Em relação ao Tucuruvi eu achei meio igual aquele bairro, até incomoda um pouco isso, ele tem aquela coisa meio igual, até as pessoas, dá a impressão que até as pessoas são sempre as mesmas (risos). As carinhas que você vê circulando ali, sempre aquelas mesmas figuras, é engraçado, interessante. As pessoas não mudam. Não tenho essa percepção muito grande.
P/1 – Na sua infância já existia naquela região a linha do metrô? Que é uma coisa bem importante pro bairro.
R – O metrô eu não lembro quando foi a inauguração dele, só sei que... Posso falar um pouquinho do metrô que é legal?
P/1 – Pode.
R – Uma história bacana. Quando foi inaugurar o metrô, todo mundo ficou sabendo e meu pai falou: “Vai inaugurar o metrô, vamos andar”. Porque ficou o dia inteiro circulando de graça, as pessoas entravam no metrô e ficavam andando. E fomos eu e o meu pai só, não sei porque não foi o resto da família, não sei o motivo, e a gente foi dar uma volta no metrô. E realmente, é uma experiência... pra uma criança andar no metrô foi uma coisa muito legal, velocidade, tal. Esse passeio até o Jabaquara, então, saiu de Santana, que o metrô era de Santana à Jabaquara, a primeira linha. E a gente foi e voltou até o Jabaquara foi uma experiência bem incrível, bem legal. Foi marcante.
P/1 – E quando deu a expansão até o Tucuruvi?
R – Faz pouco tempo, não sei, mas demorou muitos anos pra sair do papel. Umas obras ficaram paradas, vários governos não deram sequência naquele projeto, ficou muito tempo lá aquele início da estação Tucuruvi, ali ficou abandonado por muitos anos. Vinha governo, voltava, e ninguém decidia terminar aquilo, né?
P/1 – E você se lembra de uma expectativa criada pela inauguração: “Quando inaugurar vai aumentar o movimento...”. Como era a ideia dos comerciantes na época?
R – A ideia é que a Avenida Tucuruvi ia virar a Voluntários da Pátria. E como o metrô Santana está perto da Voluntários, a ideia é que tipo, quando fosse para o Tucuruvi, a Avenida Tucuruvi ia ficar parecida com a Voluntários da Pátria. Uma parte da Avenida Tucuruvi, a de cima, até que ela é uma avenida melhor, mais legal, mas onde eu estou ali não teve tanto impacto, a gente esperava mais, esperava comércio ambulante, tal, mas não aconteceu do jeito que a gente imaginava. Está aumentando o fluxo de pessoas, mas a expectativa nossa é que ela... em um mês ia virar... (risos) Foi um pouco frustrante porque você fica imaginando que poderia ter um ganho financeiro com isso e não aconteceu.
P/1 – E essa expectativa desse aumento de público foi acompanhada por investimentos na loja pra deixar a loja mais bonita, mais bem equipada?
R – Não, não, não. A gente ficou esperando pra ver, mesmo. Não nos antecipamos porque também não tinha nenhum estudo, alguém que pudesse embasar que aquilo iria acontecer, era só uma ideia, um palpite. Então, a gente ficou esperando pra ver. Realmente, se tivesse gastado dinheiro pra investimentos talvez iria beneficiar, mas não pela chegada do metrô ali, não ia ter adiantado muito, não.
P/1 – E apesar de não ter sido assim o que vocês esperavam, como é a Avenida Tucuruvi para o bairro Tucuruvi? É a mais importante ali pro comércio?
R – Pro bairro Tucuruvi, a Avenida Tucuruvi é a mais importante.
P/1 – Você explica pra gente como é o comércio no bairro, quais as vias importantes? O que chama atenção ali?
R – A Avenida Tucuruvi começa numa parte alta, ali onde tinha um hotel, tinha um cinema bem antigo que é o Valparaíso. Depois nessa região tinha baile de carnaval. Eu tenho essa lembrança daquele começo da Avenida Tucuruvi que eu via as crianças fantasiadas lá, uma coisa bem antiga. Então, ela começa nesse Valparaíso, onde tinha uma montanha e essa montanha foi retirada, teve até doação de terra, quem quisesse pegar terra pra... E virou um hipermercado, onde era essa montanha. Onde tinha esse cinema, essas coisas. Isso marca também, o baile de carnaval da infância no Valparaíso marca lá. E começa lá e termina no começo da Avenida Guapira, que é onde eu estou. E lá na parte alta é uma parte mais movimentada, onde tem os bancos e vai vindo pra cá, onde eu estou assim, e vai ficando mais residencial. Agora que está começando a ficar mais movimentada, mas a parte de cima sempre foi uma parte mais incrementada.
P/1 – E as outras ruas de comércio ali da região? Quais são?
R – Do Tucuruvi?
P/1 – Do Tucuruvi.
R – Tem algumas travessas, tem a Avenida Mazzei, mas são todos comércios fracos, são ruas com poucas lojas, não tem nenhuma tão marcante assim. Tem a Avenida Guapira também, com alguns serviços de carro, dentista, tal, mas de comércio resume-se à Avenida Tucuruvi. Depois tem as vias, como a Avenida Mazzei, Tucuruvi, Ataliba Leonel, um pedaço da Ataliba Leonel também é o bairro Tucuruvi, né? Mas se você me perguntar de comércio é a Avenida Tucuruvi que é a principal mesmo.
P/1 – Dá pra dizer que, comercialmente falando, o Tucuruvi é um bairro referência ali na região ou ele ainda perde muito pra Santana? Ele consegue ter uma zona de influência própria ou não?
R – Eu acho que... a parte do bairro Tucuruvi eu não vejo as pessoas falando: “Ah, eu vou no Tucuruvi achar não sei o quê que eu preciso”. É diferente, às vezes, de Santana: “Em Santana eu encontro tal coisa”. No Tucuruvi eu não ouço das pessoas com quem eu convivo: “Vamos no Tucuruvi que lá eu vou achar tal coisa”. Não tem isso ainda, não. Tem uma avenida que é importante, que é uma avenida que não existia, também é coisa da minha infância, que eu vi abrir até chegar ao Tucuruvi, que vai de Santana até o Tucuruvi que é a Avenida Luís Dumont Villares. Essa avenida também abriu ali quando a gente brincava ali de pipa, enfim. E, aos poucos, parece que essa avenida está chegando perto de Tucuruvi, que tem o Sesc, Sesc Santana, e ali vai nos bares, tem a Telefônica, um escritório grande, e essa parte de entretenimento noturno, ali vai subindo. Então, aos poucos tá começando a chegar na Tucuruvi, esse comércio está vindo de Santana, está começando a juntar, está começando, mas ainda não percebo o Tucuruvi com um charme, assim, vamos ver.
P/1 – Já está criando uma certa expectativa, uma maior expectativa, para a parte comercial?
R – A classe social está mudando, os imóveis estão ficando mais valorizados e você percebe um aumento de poder aquisitivo das pessoas ali da região.
P/1 – Então, vamos falar um pouquinho sobre o negócio de perfumaria. Porque esse é um tipo de comércio que evolui muito rápido, as tecnologias de perfumaria evoluem muito, mudam bastante. Em termos de produtos, mudou muita coisa desde a época que seu pai administrava a loja pra essa época que você administra agora?
R – O que eu ouço ele contar pra mim é que quando ele montou a loja não existia o plástico, então, os produtos eram em vidro. Os xampus líquidos eram em vidro. Na época dele, a grande transformação foi a chegada do plástico. Hoje esses produtos de supermercados são basicamente embalados em plástico, o vidro é até proibido em algumas coisas por questão de segurança, tal. Então, na época dele, do vidro pro plástico foi uma grande mudança. E da época dele pra minha, o que eu percebo é que o número de itens é dez ou mais vezes maior, o número de itens e opções. Na época dele era mais básico, mas mesmo assim, dava pra montar uma loja específica só de artigos de beleza. Eu acho que essa foi a grande ideia: pegar uma parte do supermercado, uma seção, e transformar em uma loja, né? Hoje é normal pegar, tipo artigo eletrônico, tem lojas de eletrônicas, quitanda, açougue, tudo está separado, mas perfumaria era uma coisa que na época era uma novidade, você pegar essa seção e transformar em uma loja só, só disso.
P/1 – De uma certa forma a Paraci é pioneira naquela região, de ser só perfumaria?
R – É. Foi a primeira loja que abriu no Tucuruvi só de perfumaria. Ontem foi uma cliente que falou assim: “Puxa, mas essa loja tem uma história também, que eu vinha com a minha mãe do Edu Chaves” – que é um bairro mais pra frente – “e eu vinha com a minha mãe, pelo menos uma vez por mês, na Paraci pra ela fazer compras”. Então, as pessoas de outros bairros vinham na loja porque não tinha loja de perfumaria, não tinha loja como tem hoje. E um detalhe interessante que ele me conta, é o sistema da loja também. Ele abriu uma loja de perfumaria autosserviço. Antigamente, nas lojas de farmácia e as perfumarias que tinham, você tinha que ser servido, se você fosse comprar um xampu, tal, alguém teria que pegar no balcão, atender e te servir o negócio. E ele ficou sabendo que em Campinas tinha uma loja que já era uma loja autosserviço, uma loja que as pessoas entravam e se serviam sozinhas das coisas, escolhia e pegava. Alguém vinha atender, mas você não dependia de ninguém, você circulava pela loja livremente pra escolher o que você queria. Ele foi ver essa loja em Campinas, pra pegar a ideia, ver como que era e ele montou. A primeira perfumaria de autosserviço em São Paulo é a Paraci perfumaria, com esse modelo. Que hoje em dia você vê todas as lojas de perfumaria, todas, cem por cento, não existe mais aquele sistema de servir. Nem farmácia, farmácia só uma parte do balcão que você é servido, mas o resto também é esse modelo. Ele foi a primeira loja.
P/1 – E essa ideia que ele viu em Campinas exigiu um investimento diferente em móveis pra loja, por exemplo, em vez de prateleiras, gôndolas? Exigiu todo esse tipo de investimento?
R – É. Aí, ele contratou uma empresa, uma marcenaria. Ele teve que fazer um projeto de uma loja inteira de madeira, toda de madeira, toda, toda, toda. As gavetas, uma coisa impressionante assim. A loja é uma loja grande, tem quase duzentos metros quadrados, então, a loja era todinha de madeira, que ele fez com um cara x, que também por uma coincidência do destino, quando eu fui casar, que eu fui casar no civil lá, tal, o Luis era o dono da empresa que fez a marcenaria. Depois de sei lá quantos anos a gente se reencontrou bem num momento importante da minha vida. O homem foi importante duas vezes, nessa reforma da loja, que foi uma reforma importante, e depois quando eu fui casar, o homem foi quem fez o meu casamento. Quando nos encontramos no dia eu não sabia que era, eu falei: “Oh, você não é dono da loja?”.
P/1 – Como você foi entrando no negócio do seu pai? A partir de que idade você começou a frequentar a loja, não para acompanhar o seu pai, mas já pra se inteirar do negócio, como é que foi que você foi entrando na administração da Paraci?
R – Quando terminou o segundo grau, eu não me decidi em nenhuma profissão que me interessasse e não dava pra ficar em casa, alguma coisa eu tinha que fazer. Então, foi automático, quando terminou o colégio eu já comecei a ir pra loja. Não lembro de ter curtido, acho que nem um mês (risos) eu devo ter ficado sem fazer nada, terminou o colégio e já comecei a ir pra Paraci.
P/1 – E nesse começo já tinha alguma atribuição, ou você foi lá pra observar? Como é que foi?
R – Já começou a colocar as funções, no caixa. Eu lembro que uma das primeiras funções minhas foi ficar no caixa, recebendo as coisas. Mas lá a gente faz de tudo, até hoje, a gente faz de tudo um pouco.
P/1 – Então, você nunca se ateve a uma função só, você foi passando por todas pra chegar na administração?
R – Isso, isso. Ele ficava no comando fazendo as coisas dele e eu ficava fazendo as outras atividades todas com ele. E é interessante que nós íamos fazer compras dos produtos da loja, ia em um atacado, pôr as coisas naquele carrinho e tal. E eu era a pessoa que empurrava o carrinho (risos) e ele ia escolhendo os produtos e eu empurrando. Empurrei muito carrinho. Muito carrinho. E uma vez eu lembro um dia, eu não percebo essa mudança, mas teve um dia que eu me deti e pensei: “Que interessante, ele está empurrando o carrinho e eu estou pegando as coisas”. A gente trocou a posição, mas eu não sei em que momento foi isso, não teve: “Olha, hoje eu vou pegar os produtos e você vai empurrar o carrinho”. Mas teve um momento que eu pensei: “Nossa, que engraçado!” (risos).
P/1 – E o que você sentiu nesse momento, que foi o momento que você realmente começou a...
R – A tomar conta, é. Começar a pegar o negócio.
P/1 – Foi simbólico nesse sentido?
R – Nesse sentido, acho que foi essa a percepção de estar no comando da coisa, dessa coisa de empurrar o carrinho. Empurrei muito e depois ele estava empurrando o carrinho, já passando...
P/1 – E esse fato de você ter passado por várias funções na loja, você acha que foi uma coisa que seu pai pensou mesmo pro seu aprendizado, foi uma coisa natural?
R – Acho que foi incentivo, não sei se ele programou. Mas é importante, eu acho legal quem tem uma atividade passar por todos os processos. Acho que é bem interessante, desde varrer o chão, limpar um banheiro, limpar as prateleiras, guardar produto, empacotar, fazer essas atividades todas, acho que é legal. Quando você chega no poder de comando você sabe exatamente o que quer daquela pessoa, você sabe fazer. E quando você precisa mostrar você vai lá e mostra como tem que ser feito. Dá uma credibilidade pro comando.
P/1 – E os seus irmãos passaram pela mesma coisa?
R – Minhas irmãs. Elas também tiveram um caminho parecido, só que eu acho que ainda tem essa coisa antiga do homem tomar conta do negócio. Acho que ele imaginava que a loja ia ser realmente pra mim, e acabou sendo, mas eu dividi com elas. Então, no caso delas, elas fizeram as mesmas coisas, mas elas não entraram no comando da loja. Não sei, talvez seja pela questão de tempo dele mesmo, de atividade. Acho que ele começou a realmente cansar de trabalhar, e talvez eu tenha chegado na mesma época. Se fosse antes, talvez uma delas assumisse, não sei. Mas quando eu cheguei é que ele... Para, e a gente assume. Mas assume os três, não só eu. Hoje em dia somos os três que comandamos, nós formamos sociedade há muitos anos.
P/1 – E quanto tempo durou esse seu tempo de aprendizado do trabalho ali, até você assumir a loja com as suas irmãs?
R – Quanto tempo? Deixa eu pensar um pouquinho aqui... Acho que pelo menos uns cinco anos pra gente tomar conta.
P/1 – E foi um período realmente necessário, você acha que precisa menos tempo, ou foi o período realmente necessário?
R – No caso, eu te falo. Se a pessoa, como no caso dele, que está trabalhando há 40, 30 e tantos anos, se ele estava muito cansado, talvez um ano seria o suficiente. Mas acho que foi mais uma questão do tempo dele, de deixar o negócio, do que a necessidade desse tempo todo pra transição. Acho que talvez não precisasse de tanto tempo, acho que depende da pessoa, mas acho que com um, dois anos, já dá pra assumir sem problemas.
P/1 – Você já falou que quando você era criança você não pensava muito no que você gostaria de fazer quando crescer. Você acabou assumindo a loja. De uma certa forma, você acha que o seu pai influenciava vocês pra assumirem a loja também, ou ele deixava vocês livres pra escolher outra profissão?
R – Não, não sentia pressão dele. Ele pedia algumas vezes pra ir ajudar, minhas irmãs iam de sábado, que é um dia de movimento lá pra ajudar ele, e tal, mas nunca teve cobrança pra gente assumir a loja, e falar: “Ah, isso tem que tomar conta”, nunca teve essa cobrança. Teve um momento que depois ele falou em fazer investimento, pintar. A loja ficou bem caidinha e esse desejo de dar uma reforma, uma mudança, foi um desejo nosso. Não é que ele falou: “Vamos reformar pra deixar pra vocês”. Nunca teve pressão, ficou bem livre pros três. Nós estamos lá porque foi decisão nossa, escolha nossa. Pode ter influenciado inconscientemente, mas não verbalmente. Engraçado, é o tal de filho de peixe...
P/1 – Peixinho é...
R – (risos). Tem muito, né?
TROCA DE FITA
P/1 – Falando ainda quando você começou a trabalhar na loja. Você já entrou sendo remunerado, demorou um pouquinho, como foi?
R – Não, a gente não era... Quando ele estava no comando a gente não era remunerado, não. A gente sempre teve o caixa livre pra pegar o que a gente precisasse, os três. A gente sempre pegou o que queria, então, tipo, o dinheiro sempre foi livre em casa. Engraçado, mas não é por causa disso que a gente gastava também, nunca gastamos muito, não. A gente sempre teve um controle com dinheiro legal assim. Vai precisar comprar um tênis, “Ah pai, preciso comprar um tênis”, chegava lá: “Dá dinheiro”, ele pegava o dinheiro e ia comprar o tênis. A gente não era remunerado, era o dinheiro da família mesmo. Os três usavam sem ser remunerados.
P/1 – Mas era necessário dar baixa ali que retirou tanto?
R – Não, não era. Porque vinha dele, ele fazia as contas dele, esse dinheiro já é um dinheiro que saía do lucro e já era pra ser usado. Eventualmente pode ser que pegasse do caixa ali, tal, mas era um dinheiro dele já, era um dinheiro controlado.
P/1 – E esse início de trabalho representou uma certa liberdade pra você? Você se sentiu livre pra sair mais, comprar suas próprias coisas? Como foi?
R – Em relação à época de colégio pra de trabalho?
P/1 – É.
R – Trabalhar é uma sensação boa. Quando estava no colégio, pelo menos pra mim, na época, parecia que o dinheiro não existia muito, não pensava muito nele. Quando você começa a trabalhar é que você começa a perceber a importância dele pra fazer as coisas. Essa mudança do colégio, que você faz as coisas, usa o dinheiro, mas não sabe de onde vem... Por mais que eu soubesse que ele tinha a loja, eu não sabia de onde vinha o dinheiro, usava e não sabia. Tipo, não parava pra pensar que o dinheiro vinha de lá, entendeu? Se me perguntasse um dia eu poderia dizer: “Ah não, vem de lá”, mas você ia vivendo sem saber de onde vinha. Quando você vai pra loja, eu percebi que o dinheiro saía de lá. Então, o dinheiro começa a ter importância.
P/1 – E quando você ganha essa liberdade, de ganhar um pouquinho mais de dinheiro trabalhando, tinha algum objeto, alguma coisa, que você já sonhava em comprar desde antes e que você se dedicou a guardar pra comprar?
R – Não, não teve, não. A gente nunca teve problema financeiro, nunca passou nenhum aperto financeiro, eu nunca passei nenhuma vontade muito grande de ter uma coisa que eu não tivesse. Mas também, a gente nunca teve uma vida muito luxuosa, mas sempre teve carros, sempre teve roupas boas, comida, enfim. Mas algum objeto que eu não pudesse, eu nunca tive grandes desejos assim. Se pudesse comprar uma bicicleta, comprava a bicicleta. Essa parte não teve.
P/1 – E quando você começou a trabalhar com o comércio do seu pai, em algum momento você sentiu alguma coisa que você não gostava, que você não imaginava que tinha nessa atividade e que te desagradou, ou era tudo o que você esperava já e foi um caminho normal a seguir?
R – Uma coisa que eu percebi na época?
P/1 – E que te fez ter vontade de tentar fazer alguma outra coisa?
R – Nesses anos todos, no início, não teve esse problema. Depois que você fica alguns anos começa a cansar um pouco, você começa a querer mudar alguma coisa. Mas foi depois de muitos anos, depois de 15, 20 anos. No começo não teve nada que me incomodou, alguma insatisfação lá dentro que realmente me deixasse incomodado.
P/1 – E desse período pra cá, já pensou em fazer alguma outra coisa, já deu vontade de tentar alguma outra...
R – Tem períodos, tem algumas fases que dá um incômodo assim, que fala: “Putz, acho que quero fazer outra coisa. Fazer outra atividade que o dinheiro venha de algum outro lugar”. Aí passa. Há uns anos atrás teve, pensando em algumas outras possibilidades de profissão, vender outras coisas, ou até meio que fazer alguma formação, estudar alguma coisa. Depois passou, voltei a me dedicar e fiquei feliz de novo com o negócio, voltei a ficar empolgado. Que nem agora, nós estamos lançando essa parceria nova de dois anos, trouxe um gás novo, você trabalhar com outros comerciantes, outras lojas de perfumaria, essa troca de ideias com pessoas que fazem a mesma atividade que você, isso deu um gás novo e me deixou motivado de novo. De um tempinho pra cá deu de novo um incômodo, de às vezes querer fazer uma outra coisa, mas eu não penso em parar, eu estou querendo ver se eu acho alguma coisa atividade em paralelo, não penso em largar, mas às vezes ter uma outra coisa em paralelo, que acho que nos dias de hoje dá pra fazer.
P/1 – E você já tem uma ideia do que seria?
R – Não, não tenho. Certo não tenho. Não dá pra falar porque é muita coisa (risos), as ideias são muito variadas.
P/1 – E quando é que você se tornou, de forma oficial... Que a administração da loja passou pra você e pras suas irmãs. Como é que foi esse período de transição, que seu pai saiu de cena e passou pra vocês?
R – Pena que eu não lembro exatamente. Acho que é 94. Sei que foi uma época marcante porque foi um desses planos...
P/1 – Plano Real.
R – Exatamente. Foi bem nessa época do Plano Real. Eu tenho a impressão que foi essa transição que a gente assume a loja, no Plano Real, que é 94, você lembrou bem. A gente vivia antes numa época de inflação maluca, aquela coisa absurda, e incomodava muito a gente. Quem fala que comerciante ganha com a inflação... Pode ser os grandes, mas os pequenos, a inflação atrapalha. Então, na mudança do Plano Real que teve aquela conversão de URV, a gente ficou com dois dinheiros no caixa, eu lembro que tinha duas gavetas do dinheiro, a gente tinha a gaveta do dinheiro antigo, que eu não lembro o nome...
P/1 – Cruzeiro Real...
R – Era Cruzeiro Real? Pra depois ir pro Real. E ver as duas notas (risos). A gente ficou, e se a pessoa pagasse em Cruzeiro Real, você dava o troco em Cruzeiro Real, se a pessoa pagasse em Real, você dava o troco em Real, é meio louco assim. E foi aí que a gente assume a loja, nessa mudança do dinheiro. Foi bom.
P/1 – Mas foi um período difícil, ao mesmo tempo.
R – Foi difícil, foi difícil. Mas essa mudança do Plano Real é um momento difícil, mas é um momento de grande esperança, pra assumirmos a loja no começo do Plano Real é muito legal porque você consegue trabalhar melhor, visualizar seus lucros de uma maneira melhor. Na inflação é uma coisa muito vaga de quanto você retirava, quanto você tinha de lucro, quanto você vendia, não é uma conta certa. Com o Real você consegue visualizar o que você quer fazer. Foi difícil, mas na minha emoção é uma época positiva essa.
P/1 – E teve algum susto inicial? Alguma situação que vocês se depararam, administrando a loja, que vocês não esperavam?
R – Não, não teve nenhuma problema. Mesmo porque, como o meu pai vai até hoje lá, acho que não faltou um dia... (risos) Desde que a loja inaugurou, ele vai todos os dias, não falha. Então, talvez a presença dele trouxesse essa tranquilidade, que se tivesse algum problema perguntava pra ele. Aconteceu algumas vezes. Até financeiramente também, em vários momentos que precisava investir, que ia fazer um investimento, sempre foi uma opção pegar o dinheiro com ele pra dar sequência no negócio. O banco na verdade a gente usou pouco, empréstimos com o banco, a gente usou mais a ajuda dele, sempre pagando, enfim, nunca foi dado o dinheiro, mas a gente sempre usou bastante o dinheiro dele.
P/1 – E quando teve a transição de vocês assumirem a loja, que novidade você acha que vocês levaram pra loja? Uma nova mentalidade, um novo jeito de fazer negócio, ou vocês continuaram mantendo a linha do seu pai?
R – A linha administrativa é a mesma, a forma de conduzir é a mesma, que é uma forma segura, sem fazer loucuras, sem gastar mais do que você recebe, aquela coisa básica pra coisa ficar equilibrada. Nessa parte, a condição financeira da loja foi uma coisa muito parecida, né? Em relação a contas e tal, acho que o que muda é a parte do layout, a parte de arrumar a loja. Como era ele, homem... E minhas irmãs começaram, acho que a visão feminina, a loja vai ficando mais bonita, com toque mais feminino devido a presença delas. Apesar que a geração faz diferença, né? Ele foi contra “n” mudanças que a gente foi fazer, teve que ver cara feia, ouvir cada uma que foi difícil. Foi difícil, mas teve que enfrentar. Desmontar as prateleiras de madeira, [puxa], foi um problemaço, imagina! Falando pra você agora, eu imagino uma coisa que você fez, ter que de repente, ver alguém destruir, porque ali tem que destruir tudo porque estava velho... Mas pra ele, acho que isso era difícil pra ele aceitar. E a gente falou: “Não, tem que ir tudo pro lixo e pôr tudo novo, não tem jeito”. Foi difícil, pra nós foi difícil também, o velho e o novo chegando, né?
P/1 – O choque entre o velho e o novo.
R – É, mas tem que romper, senão, não tem jeito.
P/1 – Falando nisso, gostaria que você descrevesse pra gente como é a loja hoje, em que pontos mais fortemente teve essa transformação da loja antiga, do seu pai, pra loja como é hoje. Fisicamente falando, como é a loja?
R – Como ela era e como ela está hoje?
P/1 – Sim, as principais mudanças.
R – Agora, uma coisa que foi muito forte agora, de dois, três anos pra cá, foi a necessidade de estacionamento, né? Porque ali na Avenida Tucuruvi não tem onde estacionar o carro e as pessoas querem fazer compras com o carro. Então, uma mudança legal foi ter feito duas vagas internas dentro da loja. Essa solução, que eu já tinha visto em algumas farmácias, eu fiquei pensando pra fazer e essa foi uma mudança bem significativa. A pessoa entra com seu carro, dá pra pôr até três vagas, então, na necessidade eu vou deixar três carros na porta. Isso muda bem a estética, muda bem a loja. Os produtos sempre ficaram mais próximos à calçada, agora ficam mais pra dentro. Essa mudança é interessante.
P/1 – Em que período se deu essa mudança?
R – Faz uns três anos, mais ou menos. Três pra quatro anos.
P/1 – E dá pra dizer que isso teve um retorno do público? As pessoas comentam?
R – Comentam, comentam muito. Ficamos meses e meses recebendo elogios por isso, cliente que não ia mais: “Não vinha mais aqui, agora tem as vagas pra colocar o carro e eu venho”. Foi tão gratificante. É bom ouvir crítica, pra você melhorar, mas um elogio é ótimo (risos). Foram meses ouvindo elogios, foi bem gratificante. Tomara que tenha outras ideias assim que mereçam elogios, elogio é bom.
P/1 – Tem como você também descrever a fachada, como é que é, se tem letreiro, se não tem letreiro, como é que está a apresentação dos produtos, se tem uma importância na apresentação dos produtos.
R – Na época dele, ele tinha vidro, tal, pintado à mão. Ele contratou um cara que fazia letra, o cara pintou vidro à mão, ficou bem mais artesanal. Depois a gente colocou aquelas fachadas normais, de caixa tal, e de uns dois anos pra cá, com a parceria com outros membros da Beauty Point teve uma padronização. Então, vieram profissionais, arquitetos, pessoal de marketing, tal, agora ficou uma coisa mais padronizada e bonita. A fachada era azul, que era uma cor que na nossa sociedade não tem a ver com o universo feminino. O azul, pelo contrário... A gente acabou não percebendo isso. Às vezes precisa vir alguém de fora pra te orientar. Hoje a fachada é rosa, um rosa com branquinho, tal, tem um arabesco. A fachada sai de uma cara masculina, ou meio neutra, e passa pra um visual feminino, que o rosa ainda é uma cor ligada ao feminino, né? Apesar de eu achar que cor é cor, mas enfim, as pessoas olham rosa e identificam como uma coisa feminina. Então, a loja ficou mais feminina, ficou com esse ar mais feminino.
P/1 – E é uma loja grande, pequena, médio porte?
R – Pra perfumaria ela é uma loja grande, ela tem quase 200 metros quadrados, ela é uma loja grande, pros padrões de perfumaria. É bem ampla, pé direito bem alto.
P/1 – Pensando naquilo que você falou, sendo criança no Shopping Iguatemi, olhava as vitrines da loja de brinquedo... Qual a importância de você montar uma boa vitrine, apresentar bem os produtos. Numa perfumaria é igualmente importante ter essa preocupação?
R – É fundamental. A gente compra por impulso e com os olhos, né? E perfumaria, as pessoas vão: “Vou comprar um desodorante”, ou “vou comprar um xampu”, poucas pessoas vão já com a marca definida. Às vezes você chega no local e, às vezes, até pode dizer: “Vou comprar desodorante x”, mas quando você estiver as outras opções na sua frente, a chance de você modificar a sua escolha é enorme, né? Fora que as vezes você só vai pensando no que você precisa comprar: “Preciso comprar um creme dental”, mas quando você chega lá, você vai escolher lá no local. Então, a exposição dos produtos é fundamental pra você atrair pra fazer a compra. Então, layout é importante.
P/1 – E esse conteúdo é uma coisa que você aprendeu na prática ou são estratégias de marketing que vocês acabam estudando? Como é que é que vocês aprendem isso?
R – Até a uns anos atrás era ensinamento de pai pra filho, que veio vindo, funcionava. Mas aí o mundo mudou, as pessoas naquela época não lembro de ter ouvido ele falar de profissionais especializados em cada coisa. Hoje tem um que é marketing, outro de layout, outro não sei do quê. Enfim, um outro que analisa comportamento do consumidor dentro da loja, como a pessoa age, por onde a pessoa entra, por onde a pessoa sai, tudo isso, né? Então, eu fiquei muitos anos com conhecimento dos meus pais e de uns anos pra cá estou pegando conhecimento com os profissionais especializados. Faz bastante diferença, é fundamental.
P/1 – Você falou um pouquinho da feminilização da loja, da cor e tal. O público de uma perfumaria, acho que é majoritariamente feminino. Essa preocupação em feminilizar a loja, é uma coisa que também veio desse contato com profissionais, foi um toque que deram pra você?
R – Foi sim, sim, com eles.
P/1 – E se traduziu mesmo, na prática, em melhoria nas vendas? Qual é a tradução, na prática, disso tudo?
R – Foi através dessa orientação desses profissionais. E logo de cara assim, eu lembro que nos primeiros meses já deu um aumento de 15% no público, no movimento, muito rápido. Deu essa aumentada claramente, rápido. Mas depois dá uma estagnada. Na verdade nós já estamos na hora de dar uma outra sacada, precisa de uma outra coisa, que eu não sei exatamente o que é. Se é comércio eletrônico... não sei o que seria. Mas no ambiente da loja vai precisar de alguma outra coisa, algum outro serviço agregado, que eu não sei, ainda não veio uma ideia definida. Mas aumentou bem, mesmo.
P/1 – Essa parceria com a Beauty Point. É Beauty Point?
R – Beauty Point.
P/1 – Como ela se deu, como foi o contato, e quando começou?
R – A Beauty Point... Nós estamos indo pro terceiro ano, agora no meio do ano faz três anos. É uma distribuidora de produtos de beleza, de artigos de beleza, que eu sou cliente, e no convívio da loja eu fui convidado por eles. Eles escolheram alguns lojistas, não sei qual foi o critério pra fazer um projeto inicial. Começou com 20 lojas fazendo essa mudança e hoje está em 60. Nós fizemos parte das primeiras 20 lojas. Eles vieram, o rapaz mostrou a proposta pra gente, como é que era, tal. E a gente ficou tentado porque estava precisando dar uma chacoalhada. Tem que ser através de parcerias, se você quiser fazer as coisas sozinho, só você, fica muito difícil. Trocar ideias e trabalhar em conjunto faz as coisas crescerem.
P/1 – No que se traduz esse acordo? Eles dão a infraestrutura básica pra você mudar a loja, você comercializa o produto deles por um preço mais barato? Qual é a contrapartida?
R – A contrapartida é assim: eles dão todo esse respaldo de mudanças, do trabalho dos arquitetos, dos móveis, alguma coisa de visual, uniforme, tal. E em contrapartida você tem que ter uma fidelidade na compra deles, então, ele fica sendo o fornecedor principal da sua loja, entendeu? Não é uma obrigatoriedade, você pode comprar de quem você quiser, mas tem uma estrutura lá que amarra, que é meio complicado explicar. Eu também não sei se eu posso entrar nos detalhes...
P/1 – Entre nos detalhes se te deixar à vontade.
R – Sabe por quê? Só pra ficar claro. É que às vezes tem outros concorrentes que querem fazer também, e tem uma mecânica que eles que bolaram lá. Então, pra mecânica eu precisaria até pedir uma autorização pra eles. Mas é isso, a gente trabalha em conjunto, a gente tem o privilégio de comprar deles, por ter uma amarraçãozinha nas contas, mas você tem liberdade pra se abastecer também de outros lugares, e concorrentes deles mesmo. Mas com o vínculo de amizade, de informação, de treinamentos... Porque a gente vai lá fazer treinamentos de lojista dos funcionários. Então, essa relação pessoal, você fala: “Pô, tenho uma relação com você de amizade, você me passa informação, me passa uma série de coisas, a gente está sempre em contato, eu vou comprar de uma outra pessoa que não me dá nada?”. Tipo assim, acaba ficando até natural essa parceria.
P/1 – Vocês acabam expondo mais a marca deles também? No nome?
R – É, porque a marca é deles, mas é pro varejo. Na verdade, eles não usam a marca lá na distribuidora deles, é pra cada cliente deles. Por exemplo, tem um cliente de uma perfumaria nova que não tem essa bandeira, eles vão vender essa bandeira do varejo pra essa pessoa. E se beneficiam na verdade nessa... A indústria que fornece os produtos pra eles, e eles abastecem as lojas. Eles estão no meio, aqui, fazendo esse intermédio, intermediando a indústria com nós, então, eles estão aqui no meio. E também uma coisa que foi legal, a indústria aqui, e o varejo pequeno aqui, não chega, né? Fica muito longe. Então, uma Unilever, L’Oréal, tal, é difícil chegar numa loja só. Mas através deles, eles chegam. Você recebe visita de vários representantes de várias empresas grandes através deles. Aproximou a indústria, fez esse canal.
P/1 – Então, nesse sentido, alterou a forma de contatar os seus fornecedores também.
R – Sim, sim. Mudou a relação. Agora eu não compro mais só produtos, eu também acabo adquirindo informação, o que é tão ou mais importante. É igual, vamos dizer assim.
P/1 – Como era antes? Eram vendedores dos fornecedores que iam na sua loja, ofereciam catálogo...
R – Ainda vão, ainda tem esses, não mudou ainda. Só que essa distribuidora que trouxe essa ideia nova pra nós. A relação com eles mudou, os outros ainda continuam ainda meio com aquela coisa de vendedor, vender produto em promoção, tal. Mas ninguém vem fazer serviço pra você, ninguém vem trazer informação. Do outro jeito eu que tenho que buscar, então, tem que comprar uma revista especializada em assuntos de varejo, ou vai numa feira, assistir a uma palestra, Sebrae, essas coisas. Não que hoje eu não faça, mas agora eles trazem isso. E o legal que eles trazem também já específico para o ramo de perfumaria. Às vezes, você vai no Sebrae, às vezes você pega, por exemplo, fluxo de caixa. O fluxo de caixa é geral, né? Você tem que depois decodificar pra perfumaria. Eles não, já vem já pronto.
P/1 – Pronto pra perfumaria.
R – Pra perfumaria. Então, uma coisa de layout, vai ser de layout, vai ter exemplos de outros segmentos, é difícil você achar um artigo específico para perfumaria. Já vem já específico para o nosso ramo, isso já ajuda muito.
P/1 – E essa facilitação no contato com a indústria que você mencionou se traduz também em preços menores, mais em conta?
R – A gente acaba fazendo melhores negócios, claro. Não é nada milagroso, mas faz um contato melhor. Porque são 60 lojas, então, o poder de compra fica bem maior, né? Juntos, a gente consegue adquirir um volume de produtos maior, então, acaba vindo coisas mais específicas, kits específicos, promoções com leve dois e pague um, sabe esse tipo de coisa? Brindes específicos pra gente. Então, a gente acaba conseguindo coisas mais diferenciadas.
P/1 – E esse contato com esses fornecedores é diário ou semanal...
R – É semanal.
P/1 – Tem encontros marcados?
R – Tem encontros marcados, dia 15 agora tem uma apresentação que é o planejamento pro ano, vai ser dia 15 no Mercury, ali perto da loja, na Dummont Villares. Esse é o anual, que a gente quer pra visualizar o que vai ser feito até dezembro, todas as datas importantes, Dia das Mães, tal. Mas fora isso semanalmente eu entro em contato com eles, e-mail, enfim.
P/1 – E com os outros fornecedores, é semanal também?
R – Não, alguns são, outros não. Alguns são de mês em mês. Mas o contato com os outros é só comercial, com esse tem essas coisas a mais, eles entram mais no dia a dia da loja. Essa coisa da sacolinha, por exemplo. A sacolinha é uma coisa que a gente entra em contato com eles, você acaba conversando sobre isso. Com os outros fornecedores não conversa. Com eles há um interesse em resolver essa questão.
P/1 – Falando em termos práticos desses negócios: quando você resolve fechar uma compra com seu fornecedor, como é a entrega? Você que vai buscar, eles vão entregar na sua loja?
R – Eu vou buscar e entregam na loja, é misto. Muitas coisas eu vou buscar, outras eles entregam.
P/1 – Na sua loja tem um estoque pra guardar esse material? Como é o controle do estoque? De quanto em quanto tempo você costuma ter que pedir a reposição de estoque, como é?
R – Não entendi a pergunta.
P/1 – O controle do estoque, você tem que fazer esse contato com eles pra repor o estoque de quanto em quanto tempo, mais ou menos, ou...
R – Eu faço semanal. Eu consegui um sistema, também através deles, um sistema de uma empresa de tecnologia, que também me ajudou muito, então, o estoque está bem controladinho, está na mão, nunca esteve tão bom como está hoje. Então, eu tenho a loja com curva ABC, tá tudo bem certinho agora, e eu faço semanalmente. Semanalmente que eu vou visualizando, principalmente esses produtos da curva a que... Você sabe o que é curva ABC?
P/1 – Não.
R – A são os que vendem mais, B os que vendem intermediário, e o C é aquele que vende um a cada dois meses. Da A é o que sai toda hora, né? O pãozinho da padaria, aquele lá é o curva A. Então, os da A toda semana tem que estar de olho, sempre pegando, não convém ficar fazendo estoque, então, você compra pra semanal, cada 15 dias.
P/1 – Você mencionou que o pessoal da Beauty Point, além do contato comercial eles têm a troca de informações, e você falou do treinamento. Como é esse treinamento dos seus funcionários?
R – Tem uma moça específica da Beauty Point que vai nas lojas passar as dicas pras meninas, como atender, como proceder. E tem também, a cada três meses mais ou menos, eu levo elas até a IBC, que é a empresa que gerencia, e lá tem um auditório e faz os treinamentos, as dinâmicas. Elas gostam muito porque aprendem bastante coisa lá.
P/1 – E pra você, administrador da Paraci, funciona bem?
R – É ótimo, funciona bem. São coisas que no dia a dia você não consegue ter uma: “vamos parar, vamos bolar um treinamento para atender...”. Você faz sempre aqueles toques verbais ali, mas aquela coisa estruturada com vídeo, mostrando como faz, tal... Ter alguém que prepara isso pra elas ficarem uma manhã toda lá, visualizando, isso é muito bom.
P/1 – E quantos funcionários você tem hoje lá na Paraci?
R – Estou com três. Nós somos três irmãos, eu e minhas duas irmãs, e mais três. São seis pessoas. Eu vou precisar logo da quarta funcionária, só que esse começo de ano, carnaval, não sei o quê. Mas eu pretendo pegar a quarta funcionária no meio do ano.
P/1 – E todas as funcionárias jogam em todas as posições também, ou são funções específicas pra cada uma?
R – Entre elas, elas diferenciam um pouquinho. As mais antigas acabam fazendo coisas mais de confiança, algumas coisas de conferência, banco, sei lá, a gente acaba deixando pras funcionárias mais antigas. As novas ficam fazendo outras atividades.
P/1 – E você e suas irmãs, também continuam atendendo no dia a dia da loja?
R – Continua. Menos, mas ainda fazemos as mesmas funções, assim. Atendimento, caixa, algumas coisas de conferência acabam rolando de vez em quando. Mas a gente delega bastante.
P/1 – E qual você diria que é a sua posição favorita na loja?
R – Acho que de administrador, compras eu gosto muito. Eu gosto de sair também, buscar as coisas. Gosto de conversar com os fornecedores, vendedores, essa parte eu acho que mais me agrada mesmo. A parte direto com o público, o cliente, eu faço, mas eu prefiro ficar nessa parte de compras.
P/1 – Lembrando da loja na época do seu pai, há muitas marcas que persistem até hoje, tem marcas muito fortes que são tradicionais, que persistem até hoje?
R – Tem várias ainda, continua as mesmas. Nomes específicos mesmo: Imedia, desde aquela época. Talco Granado, essas coisas tão antigas... Rugol (risos).
P/1 – Tem muita marca forte que caiu e desapareceu, ou a maioria continua?
R – As indústrias fortes daquela época, muitas continuam. Que é a Gessy Lever que virou Unilever, a L’Oréal, que ainda é a mesma. Algumas sumiram, outras continuam, acho que é normal assim.
P/1 – Você tocou em um tema bastante importante, principalmente hoje em dia, que é a questão da sacolinha. Agora com essa legislação nova, causa muita confusão ainda entre as pessoas que querem. Como foi pra vocês? Quando foi previsto que essa lei iria entrar em vigor, o que passou pela cabeça de vocês, que ia atrapalhar, que ia ajudar. Como é que foi pra vocês?
R – Eu fiquei atento ao assunto, mas eu pensei assim: A loja é antiga, nós passamos pelas embalagens, eu lembro desde... Contando lá do começo, os produtos eram embrulhados, não eram ensacados, aquele rolo rosa, tirava um pedaço do rolo, aí, punha os produtos no meio, fazia o pacotinho, tinha um negócio também de cordão, puxava o cordão, tinha um esquema lá pra fazer o cordão, e a pessoa levava em um embrulhinho de papel com cordãozinho. Acho que nem durex tinha, porque não tinha o plástico, então, tinha que ser no cordão, não tinha como colar. O durex chega depois também. Dá impressão que o durex sempre existiu na nossa vida, mas (risos), uma época não tinha o durex. Depois veio pros saquinhos de papel. Quando veio esse negócio da sacolinha, eu falei assim: “Quer saber? Se há muitos anos a gente trabalhou só com saquinho de papel, então, vai dar pra continuar. Tirando o hábito das pessoas, vai dar pra colocar as coisas no saquinho de papel”. Desde que começou essa ideia a gente tem a opção do saquinho de papel, que está todo lá, marronzinho, tudo, de vários tamanhos. E aí, colocamos as caixinhas de papelão também, pequenas, não como de supermercados porque o volume é maior, e se alguém quiser, ainda tem a sacolinha biodegradável que eu não estou cobrando também, eu forneço a embalagem. Mas acho legal passar pelo menos pro papel, né?
P/1 – E essas três alternativas que você oferece foi uma ideia que vocês tiveram em conjunto com a Beauty Point também?
R – Essa foi nossa, minha com minhas irmãs, a gente chegou a essa conclusão. Nesse caso acho que eles não conseguiram se definir, por ser 60 lojas, não veio uma orientação: “Olha, faz desse jeito, tal”, eles ficaram meio confusos como os supermercados ficaram, não veio nenhuma orientação. Eu decidi por conta e foi um sucesso. Está funcionando muito bem desse jeito, o pessoal leva no saquinho, quem está com a sacolinha de pano leva no pano, e está ótimo. Às vezes eu fico até triste, eu pergunto e a pessoa fala: “Não tem uma sacolinha plástica?”, aí eu falo: “Pô, caramba. Tudo bem, você tem direito.” Mas sei lá, acho que é um hábito...
P/1 – Mas quando a lei entrou em vigor você sentiu uma reclamação, os clientes que queriam a sacolinha plástica?
R – Não teve muito, a maioria gosta da ideia do reciclável, não sei o porquê, acho que poucos estão fazendo muito barulho, mas no geral a pessoa entende, sabe qual é a necessidade.
P/1 – Você falou brevemente sobre a parte de brindes, mas entendi que é mais brinde para os lojistas, né? Você repassa os brindes para os clientes, de alguma forma, ou oferece promoções pra um determinado produto?
R – Os dois. Algum é dado, algum é vinculado a algum tipo de compra, isso é normal, vem bastante.
P/1 – O que costuma entrar em promoção, o que leva algum produto a entrar em promoção? Por ele não rodar muito ou porque é um produto que é muito procurado?
R – Normalmente você escolhe os produtos que saem mais e têm boa visibilidade justamente pra você atrair o interesse das pessoas. E tem a promoção específica praquele que não está saindo, o ideal é colocar meio que misturado, junto, né? Coloca vários legais, mas no meio você tem que colocar aqueles que não estão saindo pra ver. Porque às vezes você pondo com um que sai, às vezes ele está precisando desse empurrãozinho pra ir também. Às vezes é pra ir e não voltar mais, também. Às vezes você acaba com ele e beleza (risos). Às vezes ele pega no tranco junto com o outro e anda junto. É isso, a gente faz dessa maneira.
P/1 – Qual é a periodicidade com que você costuma fazer as promoções?
R – É mensal, tem que estar sempre girando.
P/1 – Vamos agora pras questões práticas da loja. Quais são os dias de maior movimento ali?
R – Sexta e sábado, chegando próximo no fim de semana.
P/1 – E tem algum horário específico também?
R – No final da tarde, acho que quando as pessoas estão saindo do trabalho.
P/1 – Aquele percurso que saiu do trabalho e vai pra estação?
R – Sexta-feira, quinta e sexta, acho que é voltando do trabalho, na parte da tarde, quando já está terminando suas atividades e acaba fazendo as compras. No sábado é mais na hora do almoço, acho que o pessoal acorda mais tarde, dez, onze horas, depois das onze também dá um movimento legal.
P/1 – E vocês são uma perfumaria, então, são artigos geralmente pequenos, né? Se um cliente pedir pra entregar na casa vocês costumam entregar, tem alguém específico?
R – Não, não. Tem que ir buscar. Só alguns salões ali próximos que fazemos entrega, mas é pouco.
P/1 – E você também falou brevemente sobre comércio virtual. É uma alternativa que você enxerga pro futuro, ou já tem agora? Como é que vocês veem isso?
R – Não. Eu penso em fazer, minha esposa também mexe bastante com tecnologia, tal, e a gente acaba conversando bastante sobre isso. Mas eu não sei, não sei se é porque a loja tem essa tradição, são 49 anos aí de loja. Então, eu não quero entrar de qualquer jeito. Não quero começar... Como eu entro muito pra procurar os produtos de perfumaria, tem casas já bem legais, bem estruturadas, mas eu vejo muita coisa meio ruim também, muita coisa que você percebe que não tá legal. Então, eu quero entrar de uma maneira legal, direita. Não precisa ser grande, porque grande não quer dizer necessariamente direito, mas tem que entrar arrumado, nem que seja pequeno. Talvez faça um plano de negócios pra que a coisa realmente... não seja assim, por impulso.
P/1 – E nesse planejamento você vai pedir a opinião dos clientes também, se eles gostariam de ter um serviço por internet, ou você já faz isso?
R – Não, ainda não fiz essa pesquisa, não.
P/1 – Mas pretende fazer?
R – Mas é uma coisa interessante pra ser feita.
P/1 – Vou falar agora dos clientes. Você falou que o bairro Tucuruvi não mudou muito com o passar dos anos...
R – De repente até mudou, eu que não percebo.
P/1 – E os clientes, mudaram muito ou não?
R – Mudou sim. Não é que mudou, parece que aqueles tradicionais de muitos anos... Tem pessoas lá que vem há uns 20 anos lá na loja, aquelas carinhas toda semana ali, é muito interessante. Mas veio gente nova, agora tá dando uma mudada.
P/1 – E você consegue identificar se a pessoa é moradora do bairro ou se está de passagem?
R – É mais moradores da região. Não é um lugar que as pessoas moram em outros bairro, não é um lugar perto de estação. Apesar de estar no metrô, eu não percebo que as pessoas são de outro bairro. Conversando, as pessoas são ali de bairros próximos.
TROCA DE FITA
P/1 – A gente estava falando dos clientes. É possível você classificar o cliente de acordo com o produto que ele consome? Então, tem um cliente que vai consumir os produtos mais caros da loja, sempre escolhe os mais caros, tem o que sempre escolhe os mais baratos?
R – Não.
P/1 – Ou é muito misturado?
R – Acho que hoje em dia os clientes compram todos os produtos. Tem gente que você percebe que tem o poder aquisitivo mais alto, por causa do carro ou da roupa, enfim, que compra produtos mais baratos. E tem clientes, também de novo julgando pela aparência – também não tem outra forma – que aparentemente mais humildes, compram produtos caros. Aliás, as pessoas mais humildes estão querendo consumir coisas boas, isso é uma mudança. Tanto é que eu não tenho muito xampu barato mais, eu não tenho sabonete barato. Essa ideia do barato, pelo menos lá na perfumaria, já não está combinando mais, tem que ter produtos bons. A qualidade está acima do preço lá.
P/1 – E há quanto tempo você já observa essa mudança no comportamento dos clientes?
R – De uns anos pra cá, acho que uns três, quatro anos que eu comecei a perceber. Acho que essa coisa do Brasil estar dando o poder econômico... Essa coisa econômica do Brasil ficando boa, o país crescendo, eu acho que mudou esse perfil, as pessoas estão consumindo produtos melhores.
P/1 – Então, as marcas que antigamente eram mais populares acabam até saindo do mercado por causa disso? Você percebe?
R – As marcas também se adequaram.
P/1 – Estão crescendo junto?
R – Estão crescendo, eles estão procurando produtos de mais qualidade, até com valor mais alto, e poucos lançamentos de produtos baratos. As grandes empresas não lançam produtos baratos, tanto é que até o famoso xampu Seda, que era sinônimo de produto barato, ele não está com tanta moral como estava. O pessoal ainda vende, tal, ele tentou se reformular, mas ele não é mais o top, o pessoal não quer mais o Seda, o pessoal quer uma coisa mais legal, mais específica.
P/1 – E nesse contato diário com clientes, tem alguma história ali na Paraci que você se lembra de ter sido muito curiosa, muito engraçada, diferente, alguma coisa que você lembra agora e gostaria de contar?
R – Putz, deixa eu pensar um pouco agora. De bate pronto não me lembro de nenhuma, são muitas histórias. Depois se eu ver alguma, história peculiar não tem não, que eu me lembre assim, não tem. É que tem “n” situações, mas pra contar uma história que marcasse algum evento ali que ilustrasse alguma coisa, eu não estou lembrando, não.
P/1 – Vamos falar de sistema de pagamento agora. A questão do pagamento, como é que foi evoluindo com o passar do tempo? O pessoal continua pagando muito em dinheiro, em cheque, ou isso já se transformou totalmente?
R – No começo com dinheiro, cheque, depois com dinheiro e cheque pré-datado. Marcou muito o cheque pré-datado. De uns dois anos pra cá o cheque foi diminuindo, diminuindo, hoje não recebo quase nenhum cheque mais, só de alguns clientes antigos que ainda gostam, que é até interessante, mas mais é cartão e dinheiro mesmo, 50% dinheiro e 50% cartão, débito e crédito.
P/1 – Por ser uma loja antiga no bairro e ter, imagino, clientes antigos também, tem algum cliente que seja mais amigo da loja, que tem a caderneta, a continha ainda?
R – Tenho, ainda tenho um caderninho lá que marco ainda. Tem uma família lá que (risos) são umas seis pessoas, todas estão no caderno. A família toda está no caderno assim, é muito legal! Aí, um vem e paga a conta do outro, fala: “Vou pagar a minha e vê quanto meu filho está devendo. Vou pagar a dele também”. Ainda tem uma galerinha que marca. É divertido. E é bom pra gente isso. Esse caderninho, marcando, de clientes legais assim é bom, fideliza. A pessoa normalmente depois compra mais, não sei. É gostoso, bacana.
P/1 – E são moradores do bairro?
R – Moradores do bairro. A maioria é moradores do bairro.
P/1 – Tem muitas perfumarias hoje em dia, ainda mais das que atuam em redes, que fazem o tal do cartãozinho da loja, né?
R – Sim.
P/1 – A Paraci já pensou?
R – Estou com um modelo em casa de uma outra loja, que o rapaz da IBC me forneceu para eu estudar e estou pensando já em fazer ele. Eu estou rodando o cartãozinho com as pessoas pra ver a opinião delas com esse cartão, ver o que elas acham do texto, se dá pra entender, se dá pra entender o regulamento. Porque a princípio eu não vou fazer um cartãozinho de plástico, vou fazer um de papel mesmo, que dobra e abre. Mas estou pensando em fazer, está quase pra sair. É justamente pra fidelizar o cliente, porque todo mundo está fazendo isso, é uma coisa interessante de ser feita, mesmo.
P/1 – E como é que funcionaria? Daria direito a desconto na loja?
R – Esse modelo não está certo ainda se vai ser dessa forma ou não, mas seria a cada dez compras, 5% do valor total a pessoa retiraria em mercadoria, de uma vez só. É mais ou menos essa a conta. Por exemplo, a pessoa fechou dez compras com 500 reais, 5%, 25 reais, então, ela pegaria 25 reais ao longo de dez compras em mercadoria, sendo retirada tudo de uma vez, é mais ou menos isso.
P/1 – E publicidade, Ademir? Você já pensou em fazer ou já fez?
R – Antes dessa parceria eu não fazia nada de anúncio, zero. Sempre só esperando os clientes virem. Justamente por essa facilidade da loja ser bastante conhecida, tal, acabava ficando meio acomodado nessa parte. Mas com a rede agora, trabalhando em conjunto, ficou mais forte, conseguimos até fazer, três vezes ao ano, a gente vai pra televisão e tem uma propaganda que passa na TV, no programa da Ana Maria Braga. É pouquinho assim, sabe, mas vai pra TV. Tem o anúncio lá que monta. Isso foi legal pra gente, porque sozinho você nunca que ia conseguir. Imagina, uma equipe pra filmar um comercial... Não dá, não tem condições. Ainda mais de pôr na televisão. Então, só foi possível trabalhando em conjunto. Isso foi legal, foi um marco importante.
P/1 – E como é que foi? Foi o pessoal filmar lá na loja mesmo?
R – Não, eles filmaram em uma das lojas, fizeram o comercial em uma das lojas, montaram lá os filminhos, e todo ano é um filme novo que vai pra TV. Não percebe muito aquele efeito, porque não são tantas propagandas, não é que nem uma Casas Bahia que é toda hora que a pessoa vê, né? Você não percebe o movimento no dia a dia, mas quem vê é legal você saber que estava na TV, dá um respaldo bom.
P/1 – O pessoal comenta, os clientes?
R – Comentam, não é muito, mas comentam. Justamente porque não tem tanto, não são tantas propagandas. Sei lá, são 20 inserções por campanha, 20 ou 30, então, não dá pra ter tanta visibilidade, mas é legal.
P/1 – E em jornais do bairro, ou jornais do metrô, pensa em anunciar já que está pertinho do metrô.
R – É uma falha minha, deveria começar a fazer mais isso daí, mas não faço, não.
P/1 – Mas está no planejamento, então?
R – Espero começar a fazer, viu?
P/1 – Voltando um pouquinho mais pra parte pessoal, você vinculado à loja. Apesar de ser bem jovem, você já está há bastante tempo no comércio. O que mudou, o que você acha que mais mudou quando você começou a trabalhar no comércio pra hoje? Relação do comerciante com os clientes, com a loja...? O que você diria que mudou muito, se é que mudou alguma coisa?
R – O que mudou... Uma coisa que me incomoda um pouco é a pressa. Tá todo mundo muito afobado. Eu percebi que antes as compras eram feitas de uma maneira mais tranquila, né? Mas enfim, a gente tem que se adaptar. O pessoal quer que o cartão passe rápido, quer ser atendido rápido, quer achar logo os produtos. Enfim, essa velocidade na hora da compra, apesar da perfumaria exigir um certo tempo, tal. As pessoas estão com mais pressa, essa é uma mudança bem significativa. Então, são mais exigentes com educação, atendimento, atenção. Não que antes não tivesse, mas acho que é mais solto. Hoje a gente segue alguns padrões de conduta mais determinados do que antes. Antes eu acho que acabava tendo aquela coisa mais informal, o atendimento de antes. Hoje acho que a gente atende de maneira mais padronizada, acaba batendo papo, enfim, mas acho que ficou mais padronizado. É bom e ruim, não sei.
P/1 – E na outra ponta, com os fornecedores, mudou alguma coisa nessa relação do comerciante com o fornecedor? Pra melhor, pra pior, ou as duas coisas?
R – Acho que mudou pra melhor por causa da tecnologia. Antigamente era aquele bloco, anotando tudo na caneta a mão, mais demorado. Hoje você passa por email, tem empresas que tem o e-commerce, então, a relação é bem mais legal, sabe? Acho que é melhor comprar hoje, fazer compra com os fornecedores hoje do que antigamente, essa agilidade acho que é legal.
P/1 – Agora pra falar um pouquinho sobre o tema da relação patrão e funcionário. Você, de certa forma, foi funcionário do seu pai.
R – Sim.
P/1 – Como é que foi, ele te ensinou a lidar com funcionários? Que ensinamentos ele te passou e o que você observou na prática que você utiliza hoje pra lidar com seus funcionários.
R – Acho que ele era mais firme, mais rude com os funcionários, uma relação mais assim, que eu não gosto muito, né? Eu prefiro uma relação mais cordial, mais amiga, sabendo suas funções, mas de mais igualdade. Ele pegou uma maneira que não foi muito um exemplo pra mim, não. O modelo que ele usou com os funcionários não é exatamente o que eu gostava, nessa parte eu tentei fazer diferente dele. Chegar num meio termo de cobrar, assim, sem brigar, sem gritar. Em algumas coisas ele usava esses artifícios, não todos. Tanto é que vai funcionários lá da época dele que vão perguntar dele, que gostam dele, não é isso, mas é um jeito que não é bem o que a gente gosta.
P/1 – E você que já fez praticamente todas as funções ali na loja, hoje você é administrador. Qual é a principalmente dificuldade de ser um administrador de uma loja, que você enxerga hoje?
R – Principal dificuldade? Acho que é a coisa de captar dinheiro pra investimentos. Às vezes, você usa criatividade, faz aquilo, mas às vezes pra alguma coisa dar... Ou você realmente tem que ter uma ideia que realmente seja genial, que deu, ou então, você precisa de dinheiro. Acho que o pequeno, às vezes, precisa de um capital, essa é a dificuldade do dinheiro pra você poder crescer. Como... E isso está mais apertado, sinto que está mais difícil usar esse dinheiro pra fazer investimento. Acho que precisa do dinheiro. A gente tenta usar a criatividade, mas às vezes precisa daquele boom precisa arrumar o dinheiro.
P/1 – E para um pequeno comerciante, que não conta com um suporte dessas grandes redes, qual a vantagem de se ter uma loja de rua, voltada pra uma rua principal de um bairro próximo a um metrô? Você enxerga uma vantagem, uma importância muito grande, ou no seu caso...?
R – Como assim, não entendi.
P/1 – A vantagem de se ter uma loja de rua, em uma rua comercial importante de um bairro.
R – Vantagem em relação a alguém?
P/1 – Em relação ao público, atendimento, clientela...
R – Não sei, não entendi muito bem a pergunta.
P/1 – O fato de você estar perto de uma rua principal, perto de uma estação de metrô, ajuda muito?
R – Ah, sim. O ideal é você estar próximo onde tenha outros serviços, e também é legal estar próximo de coisas que sejam afins ao seu negócio. Por exemplo, lá perto da loja tem bastante salão de cabeleireiro, tem uma escola de cabeleireiro, tal. Então, ter o seu negócio próximo também a coisas afins do seu ramo. Pode ser diferenciado com outras coisas, mas também é legal que tenha algumas pessoas que consumam o seu produto também. Por isso é bom estar em uma rua de comércio. Essa é a vantagem mesmo.
P/1 – E na desvantagem, poderia pensar no lado da concorrência, por exemplo? Tem muitos concorrentes ali próximo de você?
R – A concorrência ajuda você a melhorar, a ficar atento. É importante. Tem uma loja boa no começo da avenida, que ela é meu principal concorrente, mas é o principal fator que me motiva a melhorar. Muitas vezes, quando eu vou melhorar, eu penso nele. Porque eu sei que se eu bobeio... Então, ele é um concorrente saudável, apesar dele pegar clientes meus, eventualmente, porque o pessoal também gosta de variar ou acham o local... Mas ele me motiva. Então, a concorrência, dependendo do tamanho dessa concorrência, ela é saudável e útil. É útil. É bom que tenha ela, se você ficar sozinho no local faz você acomodar. E também, onde não tem gente querendo vender algumas coisas é sinal que o ponto é ruim também, né? Vou ficar sozinho aqui, a loja tá sozinha, o lugar é ruim (risos).
P/1 – E a concorrência com as grandes redes de supermercados, por exemplo? Também atrapalha, estimula?
R – Também estimula. Principalmente as farmácias. As farmácias mudaram bem o perfil, antigamente a farmácia era remédio, agora elas estão deixando o ambiente todo com muita perfumaria, eles são o nosso... Na verdade meus concorrentes não são as perfumarias, são as farmácias, os outros. Tipo, na verdade precisa de mais perfumarias, e acho que isso essa parceria está tentando fazer e está mudando a cara das perfumarias, pra realmente segmentar pra quando você pensar em comprar um cosmético você pensar em perfumaria. Muita gente hoje ainda vai pensar: “Ah, vou na farmácia comprar um protetor solar”. Não sei o número, mas muita gente ainda pensa na farmácia pra comprar seu xampu, e a gente quer que a pessoa pense... Como tem pão/padaria, que a pessoa pense xampu/perfumaria. O trabalho é chegar nesse ponto. A gente vai chegar lá.
P/1 – Agora, pra ir finalizando a entrevista, voltar pra uma parte bem pessoal. Queria que o senhor dissesse pra gente como é o seu dia a dia hoje, como é o seu cotidiano?
R – Minha rotina?
P/1 – É, sua rotina.
R – Dentro da minha casa? (risos)
P/1 – Sim.
R – (risos) Na minha casa eu acordo entre cinco e meia e seis horas da manhã por causa da neném, porque a neném não tem jeito, é um despertador ali, ela não falha. O despertador você pode até não programar, mas ela... (risos). Cinco e 20, cinco e meia ela acorda. Então, eu acordo, ajudo minha esposa pra cuidar dela. A parte da manhã até umas nove e meia... Porque a gente faz um rodízio na loja entre os sócios. Então, eu entro às dez horas e saio às sete e meia, oito horas. Até as dez horas é cuidando da neném, da casa, basicamente cuidando da neném. Faço alguns trabalhos em casa também, com o computador eu consigo acessar o sistema da loja, então, eu faço bastante coisa em casa, também. A loja está aberta, eu já vou resolvendo algumas coisas ali. Algumas vezes eu já vou direto fazer serviço de rua, distribuidor, saio de casa direto, e algumas vezes eu vou pra loja e fico lá. Às vezes eu vou direto pro distribuidor e às vezes eu vou direto pra loja. Almoço na casa da minha mãe todos os dias, que é bem próximo, todos almoçam na casa da minha mãe (risos), que também é próximo da loja, estamos todos ali juntinhos. Então, é isso, mais ou menos isso.
P/1 – Essa rotina inclui finais de semana também? Sábado e domingo?
R – Sábado muda um pouquinho porque a gente acaba almoçando na loja, tal, não vou pra casa da minha mãe. É isso.
P/1 – E nas horas de lazer? O tempinho que sobra aí pra você se divertir, o que você gosta de fazer?
R – Olha, eu sempre gostei de coisas relacionadas à artes, então, eu gosto de música, principalmente lugares que têm música ao vivo, que têm um artista, eu acho legal ver uma pessoa tocando um instrumento. Antes da neném nascer, eu e minha esposa gostávamos muito de ir a shows, barzinhos, cinema. Preferência no dia de semana ir ao cinema, dar uma fugidinha, tipo uma quarta-feira, ir ali na região da Paulista, Augusta, ali no cinema, esse é o programa preferido: pegar um dia da semana, dar uma fugidinha do trabalho e ir no cinema ali, naquela região ali, tomar um café. Pô, acho que essa é uma das coisas que eu mais gostava de fazer. E agora, só quando a neném ficar maiorzinha, e ela vai junto também (risos).
P/1 – E de fazer compras, você gosta?
R – Fazer compras eu não gosto muito, não. É engraçado, a gente fica o dia inteiro vendendo, trabalhando no comércio, quando eu preciso ir no supermercado, a coisa que eu mais quero é entrar e sair rápido, o mais rápido possível. Porque cansa, né? É um ambiente muito familiar... Shopping eu também não gosto muito, é um lugar que... Eu acho que pra mim lazer tem que ser fora da parte de compras. Agora, pra comprar compras pessoais eu não sou uma pessoa que gosta de consumir muito, não.
P/1 – Hoje o senhor é casado, qual o nome da sua esposa?
R – Fernanda.
P/1 – E a sua filha está com quantos anos hoje?
R – Está com seis meses, uma beleza, acorda cinco e meia da manhã (risos).
P/1 – Sei que está muito cedo ainda pra perguntar, mas, você pensa em um dia ela vir a trabalhar na loja, assumir a loja?
R – Eu acho difícil acontecer, não dá pra saber. A minha esposa faz coisas opostas ao que eu faço, ela não é uma comerciante, ela não vende produtos, ela trabalha na parte de educação, faz um monte de curso de ensino à distância. Ela faz outras coisas, e ela faz curso de desenho, ela é astróloga, então, ela é muito diversificada. Talvez a neném seja influenciada por essa coisa da mãe fazer um monte de coisa, vamos ver a personalidade dela, talvez ela se interesse por alguma coisa. Eu imagino que ela se inspire na mãe em alguma coisa, eu imagino. Se ela tiver algum desejo de gostar de beleza e de vender produto, aí vai ser muito legal também.
P/1 – E pro futuro da Paraci? O que o senhor enxerga? Além de você, se o senhor também estiver cansado, o que o senhor enxerga?
R – Após a minha...
P/1 – A sua administração.
R – Não comigo, você diz, né?
P/1 – Com você e depois.
R – Comigo tem o que eu falei, que não é novidade, essa parte do comércio eletrônico, meio óbvio. Uma coisa de serviços, precisa de alguma coisa relacionada a serviços, não sei. Não salão, mas não sei se alguma coisa de estética, talvez esse tipo... Com ou sem profissionais trabalhando, pode ser por aí. E qual a outra pergunta?
P/1 – E depois.
R – Depois eu nunca pensei nisso.
P/1 – Nunca conversou com as suas irmãs?
R – Não. Até aconteceu um negócio que deu uma chacoalhada na gente, emocionalmente, foi que uma das minhas irmãs está querendo sair da loja (chora). O que é bom, né, quer dizer... É triste porque (choro)... Parece que é o fim, né? Dá a impressão que é o fim (chora). Mas é importante também. O que ela está fazendo é super saudável, sabe? Mas emocionalmente dá essa mexida na gente. Foi um choque no começo, quando ela falou. Mas é ótimo. É difícil, mas é bom que queira fazer outra coisa. Ninguém é obrigado a ficar lá, nem eu, nem ninguém, mas como a história é muito longa, fica muito enraizado, acho que por isso que dá essa emoção (emocionado).
P/1 – Pra gente finalizar a nossa entrevista agora, qual é o seu sonho? Não pensando na Paraci, você. Qual o seu sonho pra sua vida agora, o que você deseja pro seu futuro.
R – Não profissionalmente, assim?
P/1 – Se for um profissional pode ser, pode falar também. Mas o que você deseja pro seu futuro.
R – O que eu estou curtindo agora pro meu futuro é a família. Essa coisa da... Eu era casado, éramos só eu e minha esposa, agora nasceu a neném, então, eu visualizo o futuro na família mesmo. É montar a família com todas as coisas que uma família tem, sabe? Com as brincadeiras, os almoços, os bichinhos, essas coisas. Então, não tenho desejos materiais, tenho desejos de vivência, de alegria, diversão, viagens, essas coisas.
P/1 – E pensando nisso, esses anos todos no comércio, o que o senhor aprendeu na sua carreira no comércio pra sua vida pessoal? Você pensa em utilizar agora, já utilizou...
R – O que o comércio exige da gente, em qualquer área que faça, é disciplina, né? Então, um comerciante sem disciplina não sobrevive. A disciplina, qualquer área, profissão, qualquer coisa, por mais que seja aparentemente artística ou livre, tal, sempre vai precisar de uma disciplina. O comércio traz essa disciplina. Qualquer coisa que eu for fazer fora, ou depois, acho que essa disciplina é a principal coisa.
P/1 – Tem alguma coisa que a gente não perguntou, mas que você gostaria de deixar registrado, acha importante falar?
R – Não. A gente falou tanta coisa, né? Não sei, não, foi mais do que eu imaginava, até. Tá legal.
P/1 – E o que o senhor achou de ter participado da entrevista, de ter se lembrado disso tudo, de ter contado um pouco da sua história?
R – Gostei bastante. Uma vez eu fiz uma terapia, há uns anos atrás, e tinha umas lições pra fazer. A senhora lá passava umas lições. E tinha uma delas que era pra contar a infância, então, você tem que escrever a sua infância, como que foi, não sei o quê. Nossa, a dificuldade pra escrever era muito grande. Pra escrever na forma linear a sua história. Foi difícil. Saiu, acabou saindo, foi importante fazer aquilo, essa parte terapêutica de você contar a sua história do começo lá, escrever e até os dias de hoje que a gente tinha que fazer também... Na escrita foi mais amarrado, mais travado. Ali a gente estava fazendo um trabalho pra trabalhar suas emoções, sua história. Aqui eu vim mais relaxado, mais tranquilo. E você, conduzindo e falando, parece que foi mais interessante, mais gostoso. E você não tem consciência que você tem alguma coisa pra contar.
P/1 – Mas teve bastante, né? (risos)
R – (risos).
P/1 – Que bom!
R – Valeu.
P/1 – Então, em nome do SESC São Paulo e do Museu da Pessoa a gente agradece muito a sua participação, muito obrigado.
R – Valeu, obrigado!
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