Plano Anual de Atividades 2013
Projeto Nestlé - Ouvir o outro compartilhando valores – Pronac 128976
Depoimento de Gabriel Antônio Madeira
Entrevistado por Tereza Ruiz
Nova Resende 15/09/14
Realização Museu da Pessoa
Entrevista NCV_HV058_ Gabriel Antônio Madeira
Transcrito por Liliane Custódio
P/1 – Primeiro, Gabriel, fala pra gente seu nome completo, a data e o local de nascimento.
R – É Gabriel Antônio Madeira, nasci no oito de dezembro de 1955, aqui mesmo em Nova Resende. Aqui mesmo.
P/1 – Agora a data de nascimento... O nome completo primeiro do seu pai e da sua mãe, e se você lembrar, também o local e a data de nascimento deles.
R – Alcides Alves Madeira, o nome do meu pai, e ele nasceu em 18 de maio de 1929. E a minha mãe, Senhorinha, um momentinho pra eu lembrar a data do nascimento dela, às vezes eu posso ter um “enganinho”. Tá bom assim?
P/1 – Se não lembrar, não tem problema, não.
R – Ah, tá.
P/1 – Onde eles nasceram?
R – Eles nasceram tudo aqui em Nova Resende. Tudo nascido aqui em Nova Resende.
P/1 – E o que seus pais faziam profissionalmente, Gabriel?
R – O meu pai sempre mexeu com café. Então a vida inteira mexeu com café, no qual a gente aprendeu com ele. E ele já falecido. Falecido, mas deixou essa grande vantagem pra gente, ensinou a gente a trabalhar. E a gente aprendeu a mexer com café, do qual nós convivemos com café.
P/1 – E a sua mãe?
R – A minha mãe cuidava da casa, ajudava um pouco ele. Eu tenho dez irmãos, cinco mulheres, comigo seis. Então ela cuidava de nós quando... Cuidava, em alguma sobrinha ajudava ele, né? Então era desse jeito.
P/1 – Você sabe qual a origem da sua família, Gabriel? Eles vieram de outro país?
R – Não. A origem deles, a gente ainda não conseguiu notificar, porque é coisa lá dos bisavós, pra lá, a gente não sabe, mas acho que tem uma origem meio de italiano. Um pouco de italiano, pelo que a gente já ouviu algum comentar, tem...
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Projeto Nestlé - Ouvir o outro compartilhando valores – Pronac 128976
Depoimento de Gabriel Antônio Madeira
Entrevistado por Tereza Ruiz
Nova Resende 15/09/14
Realização Museu da Pessoa
Entrevista NCV_HV058_ Gabriel Antônio Madeira
Transcrito por Liliane Custódio
P/1 – Primeiro, Gabriel, fala pra gente seu nome completo, a data e o local de nascimento.
R – É Gabriel Antônio Madeira, nasci no oito de dezembro de 1955, aqui mesmo em Nova Resende. Aqui mesmo.
P/1 – Agora a data de nascimento... O nome completo primeiro do seu pai e da sua mãe, e se você lembrar, também o local e a data de nascimento deles.
R – Alcides Alves Madeira, o nome do meu pai, e ele nasceu em 18 de maio de 1929. E a minha mãe, Senhorinha, um momentinho pra eu lembrar a data do nascimento dela, às vezes eu posso ter um “enganinho”. Tá bom assim?
P/1 – Se não lembrar, não tem problema, não.
R – Ah, tá.
P/1 – Onde eles nasceram?
R – Eles nasceram tudo aqui em Nova Resende. Tudo nascido aqui em Nova Resende.
P/1 – E o que seus pais faziam profissionalmente, Gabriel?
R – O meu pai sempre mexeu com café. Então a vida inteira mexeu com café, no qual a gente aprendeu com ele. E ele já falecido. Falecido, mas deixou essa grande vantagem pra gente, ensinou a gente a trabalhar. E a gente aprendeu a mexer com café, do qual nós convivemos com café.
P/1 – E a sua mãe?
R – A minha mãe cuidava da casa, ajudava um pouco ele. Eu tenho dez irmãos, cinco mulheres, comigo seis. Então ela cuidava de nós quando... Cuidava, em alguma sobrinha ajudava ele, né? Então era desse jeito.
P/1 – Você sabe qual a origem da sua família, Gabriel? Eles vieram de outro país?
R – Não. A origem deles, a gente ainda não conseguiu notificar, porque é coisa lá dos bisavós, pra lá, a gente não sabe, mas acho que tem uma origem meio de italiano. Um pouco de italiano, pelo que a gente já ouviu algum comentar, tem origem italiana.
P/1 – E o seu pai, você falou que ele sempre trabalhou com café.
R – Sempre trabalhou com café.
P/1 – Ele era produtor rural?
R – Produtor rural.
P/1 – E ele tinha uma propriedadezinha dele? Como era?
R – Tinha. Ele tinha uma propriedade, na qual nós trabalhávamos juntos, eu trabalhava pra ele. Depois a minha mãe faleceu, era tudo pouco. E nós com uma turma de irmão, então dividiu a metade, saiu um pouco pra cada um, um pouquinho pra cada um. E depois o meu pai faleceu, aí dividiu o resto. Mas aquele pouquinho que ele deixou pra gente, a gente tirou um lucrinho daquilo lá e conseguiu aumentar mais um pouquinho. Então eu digo assim pra você, que a gente confia no café e vive bem com ele. Porque a gente trabalha bastante, um sol quente, dedica, a gente com a família inteira, porque você viu a minha família, mas aquele retorno. Ele dá aquele retorno pra gente desejado. Apesar de que com dificuldade, mas sempre a gente tem o que deseja trabalhando. E sabendo administrar um pouquinho, vai realizando. Ainda tem muita coisa que a gente quer realizar ainda, não to realizado, não.
P/1 – As propriedades que o senhor tem hoje eram do seu pai?
R – Essa daqui era, essa que nós vimos aqui. Agora as outras são tudo um pouquinho mais... A gente conseguiu comprar uns pedacinhos, sabe? É tudo pequenininho, separado em partezinha assim, mas...
P/1 – E, Gabriel, quando você era pequeno, quando você era criança, vocês tinham o hábito de consumir café na sua casa?
R – Tinha. Toda vida nós consumimos café. Consumimos e a gente, de outra coisa a gente se fosse preciso deixar, a gente deixava, mas deixar de beber café, eu acho que é impossível, porque a gente é acostumado e gosta. Então a gente sai pra ir pra roça, o café acompanha a gente. O dia que a gente sai pra viajar, sai pra passear, lá a gente ganha café, mas talvez que a viagem é longa, o café acompanha a gente no caminho, pra lá no caminho a gente tomar um golinho, porque é muito gostoso. Café é bom.
P/1 – E como era preparado o café quando você era pequeno?
R – Quando eu era pequeno, eu tenho aqui na cozinha que eu mandei fazer de recordação um pilão. Minha mãe socava no pilão o café, torrava na panela, tinha um moinho assim, passava o café naquele moinho, fazia o pó e fazia o café. Parece que o café era mais gostoso que o de hoje, eu não sei por que (risos). Era gostoso.
P/1 – E as refeições na sua casa, Gabriel? Quem cozinhava? O que vocês comiam?
R – Tinha uma horta de verdura, então nós comíamos verdura, feijão, arroz e frango. O frango caipira não faltava, o porco no chiqueiro nunca faltou, que até hoje a gente acostuma, a gente vende, que aqui também frango, porco, o leitinho do gasto, não faltam. Então a gente acostumou com isso e deu a oportunidade de a gente conseguir manter. Então desse jeito, né? E a minha mãe que fazia as refeições pra nós. Então é isso.
P/1 – Ela que cozinhava?
R – Ela que cozinhava. Cuidava de nós, lavava as roupas nossas, cuidava. Naquela vez eram muito difíceis as coisas. Hoje as coisas ficaram tudo fácil. Assim, facilitou muito, mas naquela vez era difícil. Então hoje a gente só tem que agradecer. A gente tem um pouco de orgulho, porque a gente sente que é uma pena que eles não estão aqui pra ver a evolução que chegou, o quanto melhorou pra nós. Porque aquela vez era dificultado. Daqui à cidade tem sete quilômetros, o meu pai nos pôs na escola quando nós éramos pequenos, nós fazíamos essa caminhada “de a pé”. Fazíamos sete quilômetros pra ir, sete pra voltar. E não tinha trânsito, não tinha carona, não tinha nada. Aquela vez era quietinha a cidade, tudo. Então nós caminhávamos 14 quilômetros. Isso foram quatro anos. Graças a Deus valeu a pena, porque o pouco que a gente aprendeu serve demais.
P/1 – Conta pra gente um pouco, Gabriel, como era a casa que você passou a infância, a casa que você cresceu.
R – A casa da minha infância, a casa que eu nasci, era uma casa de pau a pique. E não sei como vocês entendem isso daí, mas era de pau a pique, era sem rebocar, de janela, pau sem serrar, pau, assim. E isso deve fazer uns 35, 40 anos, aí o pai conseguiu evoluir um pouco e fez casa melhor, sabe? Mas no começo era casa muito simples, casa rústica mesmo. Então era desse jeito, mas era gostoso. A gente se lembra daquilo lá, a gente tem muita saudade daquilo lá. Era muito gostoso.
P/1 – A casa, você falou que era de pau a pique. E eram quantos cômodos? Você dormia junto com seus irmãos? Como era?
R – Dormia. Tinha o quarto dos meus irmãos, nós dormíamos em dois quartos dos meus irmãos, e dois quartos para as minhas irmãs, quartos pequenininhos. Então nós dormíamos com meus irmãos no quarto e as minhas irmãs dormiam em outro quartinho, um quartinho pequeno, a casa pequena. Então era desse jeito.
P/1 – E dormia em cama mesmo?
R – Dormia. Era cama, mas eram umas camas feitas de... Era por aqui mesmo, não são essas camas que a gente vai lá e compra uma cama bonita, tudo pintada, não era assim, eram umas camas mais rústicas. Era colchão de palha. Colchão de palha, não existia cama de espuma, essas coisas, não existiam, não. Então era desse jeito. Foi começando nossa vida. Hoje as coisas vão evoluindo, melhorando, mas que beleza vão ficando.
P/1 – E era nessa propriedade aqui?
R – Não. Não era aqui, não.
P/1 – Onde era?
R – Era em outra propriedade, que deve ter uns três quilômetros aqui para o lado de cá. A gente nasceu em outro bairro aqui no Córrego do Cavalo, depois me pai vendeu lá e comprou aqui, mas lá era de pau a pique, aqui também era casa de pau a pique. Depois que conseguiu fazer uma casa boa, uma casa melhor. E depois, aqui já faz 34 anos que eu casei, vim pra cá, adoro esse lugar, uma vizinhança muito boa. A gente é tão feliz aqui.
P/1 – Que bom.
R – Que bom. É gostoso.
P/1 – E o seu pai produzia na propriedade que você cresceu, era que tipo de café, Gabriel?
R – Era café arábica. Sempre foi o café arábica. Conseguiu aquela vez, então não tinha assistência. Teve uma época muito difícil, porque não tinha assistência, tudo plantava assim do jeito que achava que dava certo. O café tinha doença, mas não conhecia. Então depois que chegaram os agrônomos e conseguiram incentivar, e o povo assim, a gente com o pé meio atrás, não acreditava, aí consegui produzir. Aí a produção aumentou, foi na qual a gente ganhou essas melhoras.
P/1 – Isso foi quando? Desde quando eles chegaram?
R – Isso foi em 72, 75, mais ou menos. Em 75, foi por aí que nós tivemos a oportunidade de plantar o café com assistência. Plantou com assistência e a gente foi acreditando. Passou a acreditar e viu que era bom, então tudo melhorou.
P/1 – Antes de ter assistência, quais eram as dificuldades que vocês tinham?
R – A dificuldade era produção baixa. Era isso aí. Sempre produção baixa, o comércio não era tão bom quanto hoje. Hoje já mudou, porque hoje o comércio tá claro aí pra todo mundo, a gente sabe o que tá acontecendo. Então isso foi o melhor que teve.
P/1 – E de pequeno, você ajudava os seus pais na roça?
R – Ajudava desde pequeno, desde que a gente conseguiu ter força de erguer uma enxada. Isso tudo na enxada, a dificuldade, principalmente naquele tempo, era a enxada, porque na enxada, por muito que trabalhava, fazia pouco. Agora hoje com essas tecnologias que tem, facilitou, porque tem tanta facilidade pra manter a lavoura limpa.
P/1 – E na época que você era pequeno, no que você ajudava seu pai na roça? O que você fazia?
R – Ah, ajudava plantar, colher, colhia o café, varria o café. Aproveitava tudinho, não ficava um grão pra trás. E nós plantávamos de mão assim, sem tecnologia, arava de boi. Plantava milho, arroz, feijão. Lembro que não tinha adubo, plantava sem adubo, então a produção era muito baixa. Depois o adubo chegou, aumentou um pouquinho, mas tudo plantado assim “covado”, plantado de mão. Era desse jeito.
P/1 – E nessa época de infância, Gabriel, do que você brincava? Você brincava? Com quem você brincava?
R – Brincava. Eu brincava com os meus irmãos, com meus primos. Nós fazíamos Troller tudo de madeira, tudo feito a facão, porque nós mesmos que fazíamos. A pipa, que nós falávamos que era papagaio, mas essa pipa de soltar assim, que até hoje a gente gosta e encanta com isso, a gente gosta disso aí. Então nós brincávamos.
P/1 – O que você falou que você fazia primeiro?
R – Troller. Troller é um carrinho de pau que solta pra ladeira abaixo. E aquilo era gosto pra gente, montava em cima dele e ia pra ladeira abaixo. Era desse jeito. Nós brincávamos disso.
P/1 – Você tinha uma brincadeira favorita?
R – Tinha. Eu gostava de Troller. E desde pequeno o meu pai gostava de... Uma coisa que me incentivou muito, que eu gostava de cantar. Tocar violão, cantar. E isso até hoje ainda me acompanha. Apesar de que não sei. Não sei nem cantar e nem tocar, mas gosto e tento fazer. Então o violão me acompanhou desde os 12 anos até hoje.
P/1 – Quem te ensinou a tocar violão?
R – O meu pai que me ensinou. Ele sabia muito pouquinho, mas eu aprendi muito pouco. Eu sei muito pouquinho, mas é o suficiente pra gente se divertir. Então é isso.
P/1 – E o que você gostava de música?
R – Ah, sempre eu gostei de sertanejo, esses sertanejos... Essas modas, músicas de raiz, essas coisas, a gente gosta demais disso aí, isso mexe com a gente, isso é a vida da gente. A gente se puser... Eu digo pra você, se puser a história da música sertaneja e a corrida da vida da gente, você vê que uma tá junta com a outra. A minha, a sua, eu penso isso comigo. Eu acho que sim.
P/1 – E você tem uma música favorita, ou tinha uma música favorita?
R – Ah, sempre tem. A gente tem umas...
P/1 – E qual é?
R – Ah, é uma porção. Aquelas músicas de Tonico e Tinoco, Tião Carreiro, essas duplas antigas, que quase tudo já morreu, mas deixa a recordação com a gente.
P/1 – Tem uma que é a música da sua vida? Tem alguma assim?
R – Ah, tem.
P/1 – Qual é? Cante.
R – Cabocla Tereza, Rio Pequeno, Sabrina, a música da Sabrina, a Alma do Ferreirinha. Tudo isso chama a atenção da gente. Não dá pra gente ter tudo. É tudo boa.
P/1 – Você cantaria um pedacinho pra gente de alguma?
R – Ah, posso tentar (risos).
P/1 – Uma que você goste assim bastante?
R – Ah, pode ser assim (risos), né? Assim (canta): “Eu parei na invernada na fazenda Água Fria, pra descansar a boiada até o raiar do dia” (risos). Por aí.
P/1 – É linda.
R – É.
P/1 – Qual é essa?
R – Essa é a Alma do Ferreirinha (risos).
P/1 – É bonita.
R – É bonita.
P/1 – Você tinha brinquedo, Gabriel, na sua casa na infância?
R – Não, os brinquedos que nós tínhamos eram esses: era Troller, as pipas. Sempre eram esses. Quando não era um, era o outro. E a gente naquele meio que sobrava pra gente distrair, brincar, eram esses os brinquedos da gente.
P/1 – E você falou que você ia pra escola a pé. Vocês iam e voltavam a pé?
R – Ia a pé.
P/1 – Como era a escola? Conta um pouquinho pra gente.
R – Não, a escola era na cidade, uma boa escola, uma escola muito boa, na qual a gente aprendeu e valeu a pena. A gente era “dificultado”, mas eu quando entrei na escola já não tava muito novinho, eu já tinha 12 anos quando eu fui. E lá na escola tinha a filha da diretora e a filha da professora, então a gente disputava nota. E elas não podiam comigo. Eram quatro matérias que tinha, e eu só não tirava dez em todas elas porque a gente errava, trocava um S por um Z, trocava uma letrinha lá, mas o meu diploma saiu acho que com nota 97. Eu tive muita sorte. Mas a gente estudava. Sobrava pra estudar na estrada, nós íamos andando e estudando. Mas esteve bom.
P/1 – Você ia e voltava com os seus irmãos?
R – Ia e voltava com os meus irmãos. E em seguida que o meu pai nos pôs na escola, os vizinhos viram também, e começaram a por. Hoje a facilidade tá demais, porque hoje se eu estiver aqui, o ônibus vem aqui buscar. Hoje ninguém mais vai a pé. Então pra ver que valeu a pena. Melhorou bastante.
P/1 – Você teve uma professora preferida?
R – Tive. Eu tive uma professora por dois anos, que ela era muito boa. Ela era um pouco brava, mas a braveza dela foi para o nosso bem. Então a gente deve isso pra ela até hoje. A gente agradece demais. Então tinha professora preferida, sim. As outras também foram muito boas, mas essa foi dois anos. Chamava Argentina Maria Miranda, na qual depois eu tive a oportunidade de vê-la, acho que ela foi embora daqui, umas duas vezes depois que nós saíamos da escola. Hoje se a gente ver, talvez a gente sinta dificuldade, fica irreconhecível. E ela também nem se lembra da gente, porque a gente muda também (risos).
P/1 – Ela tá na cidade ainda será?
R – Eu acho que ela não mora nessa cidade nossa aqui, não. Eu acho que ela mora fora. Ela mora fora daqui.
P/1 – E, Gabriel, quando você era pequeno, você lembra o que você queria ser quando crescesse? Você tinha um sonho, alguma vontade de ser alguma profissão quando crescesse?
R – Eu tinha vontade é ser... O que eu tinha vontade de ser é o que eu consegui, é cuidar do meu pezinho de café. Isso eu consegui. Porque eu penso uma coisa assim comigo, porque é tanta gente que trabalha, e acho que quando a gente faz uma coisa que a gente gosta, acho que é um presente de Deus pra gente. Então Deus me deu aquela oportunidade de fazer o que eu gosto. Então eu gosto, sou feliz.
P/1 – Que bom.
R – Que bom.
P/1 – Aí você sempre quis ser produtor rural?
R – É. Eu sempre quis cuidar do meu pezinho de café. E cuido. Tá bom. Ainda tenho muita coisa pra realizar, muito sonho pra realizar, mas vai indo devagarzinho, vamos indo, vamos ver se dá certo.
P/1 – E, Gabriel, nessa fase de infância tem alguma história que tenha te marcado? Uma história que você tenha vivido que tenha te marcado?
R – Não. A gente só tem boas saudades, apesar das dificuldades, mas deixou sempre saudade.
P/1 – Mas pode ser uma história boa também.
R – Não, mas assim, a gente tem história que a gente começou com o carro de boi, começamos trabalhar com o carro de boi, puxava o carro de boi, puxava um pouquinho, então a gente tem saudade daquilo lá. Hoje aqui ainda tem muito carro de boi, mas hoje o carro de boi que existe no nosso município aqui é pra enfeite, é relíquia. Mas assim, uma parte. Tem uma parte que ainda necessita, porque em lugar muito quebrado, ainda tem que ser de carro de boi. Mas a gente tem saudade daquilo lá. Então marcou pra gente o carro de boi. Andar no carro de boi, carrear. Hoje se a gente anda num carro de boi é de mentirinha. Aquela vez era de verdade, era necessidade, tinha necessidade. Ir lá, pegar o boi, ir lá buscar um milho, um café, puxar um arroz, um feijão. Tinha que ser no carro de boi. Agora hoje tem trator, tem muito jeito de ir buscar as coisas lá, facilitou muito, então isso marcou a gente.
P/1 – Mas conta pra gente como foi isso, como vocês conseguiram o carro de boi e como era o carro de boi, como usava. Conta um pouco. Naquela época, como era?
R – O carro de boi quando a gente começou a entender, o meu pai e o meu tio já tinham um carro de boi. Então era “dificultado” porque chegava na hora de... Cedo na madrugada tinha que juntar os bois no pasto, trazer para o curral, trazer, pegar de dois a dois pra por no carro, e isso tinha um tempo. E podia ser perto, mas saindo é lento, lento, lento, demorava demais. Às vezes uma distância perto talvez gastasse um dia pra ir lá e trazer um pouquinho. Um pouco de mercadoria. Então o tempo ia e fazia pouco. Agora hoje...
P/1 – Mas usava o carro de boi no quê? Na colheita? Conta pra gente.
R – Era direto. Quase que direto. Era na colheita, fazia o carro de boi, depois a gente pegou um pouco... Que não existia aqui no nosso lugar. Pouco açúcar, quase não tinha, na rapadura, então a gente alcançou um pouquinho, que era moer, fazer rapadura, e vendia. Isso eu alcancei pouco. Lenha, não tinha gás, não existia gás, então o carro de boi usava pra buscar lenha. Buscava lenha para o engenho, buscava lenha para o fogão da casa pra fazer as comidas. Tudo à lenha, não tinha gás. Acho que não tinha, porque a gente não ouvia falar. Depois que cresceu que apareceu.
P/1 – E como conduz o carro de boi?
R – O carro de boi é conduzido com duas pessoas: um carreiro e um candeeiro. E um ia na frente, outro ia despertando os bois pra eles puxarem. E chegava lá, virava no monte de café, ou de milho lá, juntava os dois pra carregar, depois em seguida vinha com o mesmo trajeto, um na frente, as estradas ruins, acudindo os buracos daqui, encosta pra aqui, encosta pra ali, até chegar.
P/1 – Um fica na frente, outro fica atrás, é isso?
R – É. Na frente, atrás, ou subido no cabeçalho do carro, assim, entremear a junta do coice. Na junta do coice conseguia iluminar o boi. E o que tava na frente ia indicando a guia. Era assim.
P/1 – E, Gabriel, assim, depois da infância, na sua adolescência, juventude, o que você fazia? Você fazia alguma coisa pra se divertir? Tinha festa aqui na região?
R – Tinha.
P/1 – Você saía? Como era?
R – Saía. Ah, tinha festa. A parte minha, assim, foi muito de folclórica. Aqui na vizinhança tinha e ainda tem Folia de Reis. É muito gostoso! A gente vai, fica com os amigos, canta. É um ato religioso, é um ato de religião, de Santo Reis, então a gente vai lá, pede um almoço, pede uma janta, onde tem a janta aqui no nosso lugar a vizinhança inteira junta, vira festa, vira multidão, todo mundo come. Isso aí foi o que me inspirou sempre, desde pequeno até hoje, sempre tem, sempre a gente vai, e a gente gosta disso daí.
P/1 – Como é a Folia de Reis? Conta um pouco.
P/1 – A Folia de Reis é uma bandeira de Santo Reis, onde tem dois palhaços enfeitados com roupa vermelha, cara tampada. E tem uma pessoa, que fala que é o maestro, ele sabe tudo cantar de cor e sabe o que é a história de Santo Reis. E chega a casa, canta, saúda o dono da casa, chega, canta e pede uma ajuda pra no dia da chegada fazer uma festa muito boa. E aí chega, canta, dá um intervalo, toma um café, um lanche. Depois começa outra vez, agradece tudo aquilo, agradece aquela oferta, agradece aquele lanche, agradece o dono da casa e tudo, e vai pra casa seguinte. É desse jeito.
P/1 – E como são as músicas que eles cantam?
R – As músicas são tudo improvisadas na hora. Conforme o que ele vai vendo é que ele vai cantando. Ele chega aqui, o que tem aqui e o que a gente representa, ele vai criando verso, assim, sabe? Não tem nada marcado, não, é tudo na... Sempre é algum que faz isso. Aqui tem muita gente que faz isso, mas eu mesmo não tenho dom pra fazer isso. Eu ajudo, canto, tudo que eles cantam, a gente responde, faz sete vozes junto, mas eu não tenho dom pra fazer verso, não. Não tenho, não.
P/1 – Eles que improvisam na hora tudo.
R – Eles improvisam na hora o verso.
P/1 – E depois que sai coletando essa ajuda, depois faz uma festa final?
R – Faz uma festa. No dia seis de janeiro, que na religião católica é dia de Santo Reis, aí tem uma festa na casa do festeiro, no qual a maioria é uma promessa que faz. E lá tem uma festa, uma festa muito boa.
P/1 – E como são essas festas?
R – Essas festas, talvez é de sal, talvez é de doce. Chega lá, faz a festa, depois vão tratando o povo, faz aquela fila grande, o povo vai pegando doce, comendo. É assim.
P/1 – Os foliões, é gosto pra eles, mas o povo também gosta.
P/1 – E você vai desde novinho?
R – Vou desde pequeno. Desde pequenininho a gente gostou de acompanhar. E a gente aprendeu um pouquinho, muito pouquinho, mas o que a gente sabe é suficiente pra ajudá-los. Desse jeito. Então chega seis de janeiro... Até Natal, até janeiro, sempre tem. E a gente é convidado e a gente vai. Sempre tem. A gente é convidado e a gente vai. Às vezes aqui, às vezes em outro bairro, às vezes até em outro município também. Então é isso.
P/1 – E nessa época assim, Gabriel, de adolescência e juventude, você teve algum... Nessa parte mais amorosa teve algum primeiro amor, uma primeira paixão, alguém que tenha te marcado?
R – Não. A gente teve uma namoradinha, pouco assim, mas... Depois eu comecei a namorar minha esposa. Nós namoramos três anos, casamos. A minha esposa, a mãe dela é irmã do meu pai, nós somos primos. E aqui nós vivemos num meio que as famílias são muito antigas e numerosas, então é quase tudo parente. Então é desse jeito, no qual os dois moços que estão aqui na cooperativa são “tudo primo” meu. Nós somos tudo de uma família só.
P/1 – Você e a sua esposa então se conhecem desde criança?
R – Desde criança.
P/1 – E quando vocês começaram a se gostar? Como foi?
R – Uai, a gente não se lembra dela quando ela era pequena. Era pra lembrar, né? Depois, eu não sei assim quando a gente era rapazinho, a gente a viu e interessou por ela e ela parece que se interessou pela gente, começamos a namorar e casamos. Foi assim.
P/1 – Quantos anos você tinha, Gabriel?
R – Eu tinha 24 e ela tinha 17 quando nós nos casamos.
P/1 – E como foi o casamento de vocês?
R – Não, o casamento aquela vez não era assim, não tinha festa, nada. Então tinha um almoço para os parentes só. Fazia um almoço para os parentes. A gente ia lá na igreja, o padre fazia o casamento. É o que acontece. Os casamentos de hoje sempre já têm grandes festas. Aquela vez não tinha, eram só os parentes, um almoço para os parentes, assim, ia lá, casava. Era isso.
P/1 – E quando vocês se casaram, você morava com os seus pais?
R – Morava com os meus pais. E ela morava com os pais dela também.
P/1 – E onde vocês foram morar quando se casaram?
R – A gente veio morar aqui. A gente fez uma casinha simples aqui, que é essa daqui, pequenininha. A gente não tinha um carro pra andar, não tinha um meio de transporte, a gente conseguiu com o tempo uma bicicleta pra gente andar. Eu tinha um cavalo, tinha um cavalinho, né? Depois, passado muito tempo, a gente conseguiu energia elétrica, que foi uma coisa muito boa. E depois, com um espaço de tempo, a gente conseguiu um meio de a gente andar, um carro ou uma moto. Então isso facilitou demais. Facilitou pra gente. Todo mundo conseguiu também, porque o que a gente conseguiu, os meus vizinhos tudo conseguiu também essas coisas. Então todo mundo caminhou junto.
P/1 – E, Gabriel, antes de você casar, depois que você largou a escola, você fez o primário, né?
R – É.
P/1 – E durante todo o primário você trabalhava com o seu pai.
R – Trabalhava.
P/1 – E depois você continuou trabalhando sempre com o seu pai?
R – Continuei trabalhando com ele. A gente saiu da escola, trabalhava direto com ele, diretinho. Depois que a gente casou que a gente foi trabalhar pra gente.
P/1 – E quando você trabalhava com o seu pai, você ganhava alguma coisa?
R – Não. Não ganhava, não. A gente não ganhava, mas valeu a pena, porque o ganho que eu tive foi que a gente conseguiu aprender com ele. Então ele deu essa escola pra gente de ensinar a gente trabalhar. Então foi a melhor coisa. Eu acho que se ele me pagado muito caro não seria tão importante igual era a gente aprender com ele. Ele firmar a gente no serviço, assim.
P/1 – E quando você casou então que começou a trabalhar pra você mesmo?
R – É. Foi. Quando casei que comecei a trabalhar pra mim.
P/1 – Conta pra gente como é o trabalho no café. Qual o caminho que o café faz até chegar à mesa das pessoas que consomem, que não sabem nada sobre o café?
R – Começando lá, desde fazer uma muda, que eu fiz muita muda de café, fiz bastante, na qual os cafezinhos de café eu que fiz as mudas, pegar uma semente, despolpar ela, pôr ela num saquinho, espera, a muda sai, a gente planta, vai um tempo, vão uns dois anos pra ela começar a ter uma pequena produçãozinha mínima. Depois, com o tempo ela vai crescendo, a gente cuidando bem dela, não tendo contratempo, com uns três, quatro, cinco anos, ela já começa dar o retorno que a gente já gastou com ela. Depois quando dá uma boa carga de café, que o café carrega, a gente vai lá, os apanha, colhe quando ele tá bem maduro. Apanha, traz logo em seguida para o terreiro, mexe ele em seguida, a hora que tá sequinho, leva pra máquina beneficia, e aí a gente tira o que é da gente, um pouquinho que é da gente, para o gasto da gente, e o resto vai. Aqui a gente traz o cafezinho da gente, leva para o moço da torrefação aqui, ele torra, a gente o traz de volta e o usa. Sempre a gente tá levando. De 60 em 60 dias a gente leva uns quilinhos de café lá pra ele torrar. E a gente traz, saboreia essa beleza que a gente tem aqui.
P/1 – Você lembra a primeira vez que você vendeu o seu café? As primeiras sacas que você vendeu?
R – Lembro, mas sempre a gente... Depois que a gente casou, quando a gente era solteiro mesmo a gente conseguiu um lote muito pequenininho de café. A gente vendia ele sem descascar, porque não tinha máquina de descascar. Eu me lembro de o pai vender... O pai, meus vizinhos, tudo vendia. Trazia as sacarias, ensacava, costurava, levava no carro de boi. Depois em seguida aparecia o caminhão, saía de caminhão. A estrada meio ruim, mas levava de caminhão. Levava, aí na cidade tinha a máquina que beneficiava. A máquina beneficiava, aí eu não sei que destino pegava esse café lá. Ele vendia essas “cafezadas”, assim. Hoje a gente beneficia aqui no terreiro, os vizinhos tudo têm máquina de beneficiar. Beneficiam, levam pra gente.
P/1 – E as primeiras sacas que você vendeu, você lembra o que você fez com o dinheiro que ganhou?
R – Então, as primeiras sacas de café sempre a gente vendia, às vezes já tava devendo ela. O vizinho emprestava dinheiro pra gente e a gente ficava doidinho pra colher o café pra pagar a ele. Então a gente colhia aquele cafezinho, vendia, ia lá pagar o vizinho. Era desse jeito. E às vezes... Em seguida a gente ia pensar no ano que vem. E trabalhava, ganhava um pouquinho, trabalhava de diarista pra algum, do que sobrava da gente, do serviço da gente. E com bastante economia foi indo, foi indo. Desse jeito.
P/1 – E, Gabriel, o seu primeiro filho... É menino o primeiro?
R – É um menino. É o Marquinho.
P/1 – Como foi que você soube da gravidez? Como foi a gravidez e o parto do seu primeiro menino?
R – Então, aqui nós tínhamos tratamento nosso nesses anos atrás, tá com 33 anos, então era muito precário. Tinha um médico aqui, mas ele era pra cuidar de muita gente, muito rápido. Aí a minha esposa ficou grávida. Ela ficou grávida e a pressão dela era alta. E assim teve vez de ela ficar internada. Ele nasceu prematuro. Ele nasceu com um quilo e meio de peso, prematuro de sete meses, e na hora que ele nasceu, ele bebeu água do parto, então deu um foco na cabeça dele. É esse que vocês estão vendo aqui, mas graças a Deus continua com tratamento até hoje. Ele é tratado diretinho. E vem, então ele usa remédio direto. Mas graças a Deus tá aí um moço, no qual a gente estima ele demais. Vocês viram ele.
P/1 – Como é o nome dele, Gabriel?
R – Marcos. Marcos Vinícius. Em seguida depois veio o outro. O outro também, o outro veio muito saudável. É um esteio que eu tenho, tá com 24 anos, me acompanha até hoje, nós trabalhamos juntos. Ele tá noivo, vai casar agora. Então pra gente é um presente que Deus mandou pra gente.
P/1 – Você tem dois filhos então?
R – Dois filhos.
P/1 – E como foi ser pai, Gabriel, pra você?
R – Uai, foi um orgulho, né? Foi muito bom a gente ser pai. O filho, a gente se dedica nele. Então o que a gente faz é para o filho. Então estão aí meus dois filhos, a gente trabalha junto. O Luciano é muito sacudido, muito dedicado, trabalha sempre... Nós trabalhamos sempre com a camisa molhada com esse calor, e nós não desanimamos. Satisfeitos, graças a Deus.
P/1 – Você tem neto já?
R – Não tenho. Não tenho, não. Não tenho. O Luciano tá com 24 anos agora, agora que ele vai casar, não tenho neto ainda não (risos).
P/1 – Tá novo ainda.
R – É.
P/1 – Vai vir.
R – Vai vir. Vai vir. Futuramente vem.
P/1 – E atualmente, Gabriel, você tem três propriedades, é isso?
R – Tenho.
P/1 – De café.
R – É.
P/1 – Quanto você produz? Qual a produção das suas propriedades?
R – Olha, eu tenho três, eu produzo nas três... A maior carga que eu tive, eu já produzi acho que 406 sacas de café, no ano de carga alta. No ano de carga baixa, eu produzo 150, 200. Eu, agora há pouco, acabei de fazer a conta com o Luciano ali, que até tá escrito ali, o ano passado deu 300 e uns quebrados de sacas, acho que 316. Esse ano vai dar 280 sacas. E a gente faz quase que sozinho, no finzinho que os sobrinhos e os irmãos da gente acabam lá e dão uma ajudinha pra gente, pouca. Mas nós fazemos quase tudo sozinho, é secado sozinho. E a gente seca ele, cuida bem, sempre dá... Eu tenho sorte, meu café sempre dá café bom. Meu café é o pó de café padrão. A gente aprendeu a cuidar do café bem.
P/1 – E você colhe manual?
R – É manual. A gente colhia de mão, agora de uns tempos pra cá apareceu a apanhedeirinha motorizada, então nós colhemos. Dá muito rendimento.
P/1 – Então agora é mecanizada a colheita?
R – Mecanizada. É mecanizada. Mas assim, mecanizada, mas nós mesmos que manejamos a maquininha.
P/1 – Como é?
R – Nós mesmos que manejamos. Porque sempre o terreno é tombado, não anda máquina, nada, e aqui tem pouco mecanizado. Então apanha assim a colheita, faz o dobro do que se fosse fazer manual. Então valeu a pena, aumentou.
P/1 – E a cooperativa surgiu quando, Gabriel, a Cooxupé? Desde quando ele existe? Desde quando você faz parte da cooperativa?
R – A cooperativa, que ela existe, eu não lembro. Depois, o meu pai fez parte da cooperativa logo em seguida que ele começou a mexer com café. Em 70, por aí, ele já entrou de cooperado. E eu, depois que eu casei, logo em seguida eu conseguiu adquirir o meu pedacinho de terra, comecei a produzir, e entrei como sócio também. E na qual a gente entrou como sócio, a gente veio caminhando e sempre dá certo.
P/1 – E no que a cooperativa ajuda o produtor?
R – Ela ajuda assim, ela tem assistência técnica, que é o importante de tudo, assistência técnica. Ela tem as campanhas dela, que sempre quando a gente precisa do adubo, vai lá, a gente pega, troca no café pra pagar na colheita, é ajuda, né? E acho que ela procura ajudar bastante. Ela procura ajudar bastante a gente. De qualquer maneira, a gente acredita nela.
P/1 – Ela antiga, então. Seu pai já era cooperado.
R – Ah, ela é antiga. Eu não lembro quando ela foi fundada, mas quando eu era solteiro, o pai entrou de cooperado lá, eu lembro quando ele entrou de cooperado. Eu não lembro quando ela começou, mas depois veio, depois a gente entrou de cooperado. Então a gente é atendido, sempre foi muito bem atendido, tá bom.
P/1 – Você falou que seus pais já são falecidos, os dois?
R – Os dois.
P/1 – Faz muitos anos já?
R – Faz. O meu pai deve fazer uns... A minha mãe faz 23 anos, e o meu pai faz uns cinco anos.
P/1 – A sua mãe faleceu jovem então?
R – A minha mãe faleceu com 54 anos. Ela faleceu jovem. Faleceu bem nova. Ela podia tá até hoje aqui, mas faleceu nova.
P/1 – Ela adoeceu? Foi isso?
R – Ela adoeceu. Ela tinha falta de ar. Assim, uma bronquite aguda. Ela faleceu nova. Ultimamente ela ficava mais no hospital do que em casa. Foi indo, aí veio a falecer, não teve como segurar mesmo.
P/1 – Quantos anos você tinha quando ela faleceu?
R – Quando ela faleceu, eu tinha... Olha, eu tinha uns... Faz 24, eu tinha uns 35 anos, por aí. Uns 35, mais ou menos.
P/1 – Tava casado já.
R – Tava casado. O meu filho tava pra nascer, o que tá com 24 anos. Tava pra nascer. Dali a dois meses ele nasceu quando ela faleceu. Mais ou menos por aí.
P/1 – E o seu pai foi mais recentemente então?
R – É. O meu pai faz uns cinco anos por aí. Ele faleceu com 83 anos.
P/1 – Ele vivia aqui com vocês, ou não?
R – Ele vivia. Ele vivia na casa dele com um irmão meu que é solteiro. Ele vivia lá, mas nós vivíamos juntos direto. Quase toda semana nós estávamos juntos. Nós íamos lá, ele vinha cá. Nós o acompanhávamos certinho. Eu, os outros irmãos meus também, tudo acompanhava ele. Depois ele adoeceu e acabou falecendo.
P/1 – Seus irmãos são produtores rurais todos?
R – São todos produtores rurais. Tudo pegou a mesma linha que a gente pegou. Todos eles pegaram a mesma linha.
P/1 – Todos com café?
R – Tudo com café. Então a gente fala que a gente estima demais o pé de café, no qual o pé de café é o patrão da gente. Nós trabalhamos para o pé de café e ele dá o retorno pra nós. A gente pede que seja sempre assim.
P/1 – Gabriel, eu queria saber um pouquinho da relação com a Nestlé, no Nescafé Plan. Quando você conheceu o projeto, a Nescafé Plan? Quando você começou a participar? Conta um pouco pra gente como foi.
R – A Nestlé, sempre a gente ouvir falar dela, mas a gente não sabia. Depois a cooperativa entrou, acho que a cooperativa sempre falando da Nestlé. A Nestlé entrou e a gente teve muita chance nisso aí, porque na qual através da Nestlé ela foi fazer curso de aperfeiçoamento pra gente, no qual eu, a Marta e o Luciano sempre tivemos curso, que tá ali o certificado. A gente aprendeu muito nos cursos.
P/1 – O que ensinava esses cursos? Era curso de quê?
R – Nós tivemos curso de defumado embutido, curso de tratorista, curso de roçadeira, manutenção de roçadeirinha, na qual roçadeirinha a mesma que apanha o café. A Marta teve curso de embutido e defumado, curso de ensinar criar galinha, curso de ensinar fazer queijo, de cardápio. Então tudo isso vale a pena, aprende sempre uma coisa a mais, sempre vale a pena. Agora, em seguida teve... Acho que foi através da Nestlé que teve uns exames de água. Aquela água que deu problema, ela deu pra nós um purificador de cloro, no qual eu ganhei um, tá funcionando. Então estamos sendo beneficiados, sim.
P/1 – Vocês têm visita de técnico aqui pela Nestlé? Como é isso?
R – Não. Não tem. O técnico da Nestlé veio, ele pôs o clorador pra nós e ensinou que jeito a gente fazia. Então a gente aprendeu com ele, vai dando sequência.
P/1 – E o que ajuda esse clorador?
R – Esse clorador ajuda que o... Eu tenho duas águas, uma nascente de água, na qual foi feito exame, muito saudável. Mas com essa seca que tá dando agora, ela parou de cair. E o me filho, que já é cooperado também, ele ganhou um. Aí fez de um poço que tem ali embaixo, que se ele for fazer a casa, ele vai pegar pra ele. Mas o poço lá tava desleixado, ela deu uma pequena impurezinha, ela deu uma impureza, aí com o cloro é resolvido. Ele ganhou o clorado e foi bom porque nós estamos usando a água dele. Ele tá clorando e nós estamos usando.
P/1 – E qual a importância de ter a água...
R – A água clorada é saudável. Ele fica saudável. Se ela tiver qualquer impureza, ela fica saudável, pode usar para as galinhas, para as verduras, pra cozinha, fica uma água desinfetada. É o que diz pra gente, que a gente tá acreditando que seja isso mesmo. Então é isso.
P/1 – Tem alguma outra modificação que vocês tenham feito a partir ou desses cursos que vocês fizeram, ou de algum outro tipo de auxílio da Nestlé na propriedade?
R – Pode ser que tenha, mas é meio corrido, a gente não pegou de onde veio. Pode ser que tenha, mas que eu acho que... Eu não estou informado que tenha, não. Pode ser que tenha também, que veio da Nestlé, mas que eu tenho através dos cursos e água. Agora, tem também assim, que eu acho que nascente, essas coisas, ela tá cuidando, ajudando a gente a cuidar das nascentes. Então nós precisamos ter mais assim... Ver que jeito que é, pra nós pegarmos essas oportunidades também, porque nós precisamos. Isso é uma coisa de bem pra nós, pra nós tudo.
P/1 – E, Gabriel, o café que você produz vende pra Nestlé?
R – É a cooperativa que o compra. Com certeza vai pra Nestlé. Nós chegamos lá, vendemos pra cooperativa. Agora, a cooperativa, aí com certeza que ela passa pra lá. Porque quem compra de nós é ela, mas com certeza que é passado pra Nestlé.
P/1 – E você sabe se tem um preço melhor, alguma ajuda nesse sentido?
R – Assim de...
P/1 – De valor. Se o valor da saca é mais bem pago. Tem alguma coisa assim?
R – Eu não sei, mas com certeza tem. Mas eu não sei se tem.
P/1 – Você mesmo não sabe, não, né?
R – Não. Não sei. Mas é capaz que sim. Acredito que sim. Às vezes tem um auxílio qualquer.
P/1 – A participação da Nestlé nos cursos que você falou que fez, nessa ajuda da água, você acha que isso é importante por quê?
R – Uai, eu acho que isso é importante. Como eu disse pra você lá começo assim, que vieram os agrônomos, que a gente tinha um pouquinho de pé atrás com eles, depois a gente passou a acreditar, viu, aprovou que é bom. Hoje tá chegando coisa que é boa, a gente tem que acreditar, porque é bom, você tá vendo que é uma... É uma necessidade, e a gente se ficar sem ouvir isso, a gente não sabe, não sabe que tem aquele problema. Então isso aí eu penso: é bom pra nós, pra nossa saúde, pra nossa convivência. Então é coisa que a gente não conseguiu notificar e estão vendo que tem aquilo lá que é bom, é uma necessidade, e tá jogando pra nós, nós estamos pegando.
P/1 – Você se lembra de algum exemplo agora?
R – Assim, exemplo de...
P/1 – De modificação que vocês fizeram na propriedade, ou de alguma ajuda.
R – Assim, da Nestlé?
P/1 – Se você se lembrar da Nestlé é bom.
R – A gente teve muita modificação boa, na qual planta de café nossa aqui era muito dificultado, porque tinha que fazer curva de nível pra não deixar as águas estragarem. Depois passou, agora nós aprendemos que nós não limpamos a terra mais, a água não corre mais. Porque pode fazer uma notificação nas lavouras de café, que não corre água no café. Não tem erosão, não tem nada. Isso aí pode ser terreno inclinado, mas por quê? Porque nós não carpimos, nós não lavramos a terra mais. Então sempre tem uma cama seca lá. E isso quem passou pra nós? Gente que sabia, cooperativa, a gente veio vindo, evoluindo com isso daí. E vale a pena, porque pra lavoura é muito melhor também. Então é uma coisa importante, que foi bom pra nós, não estraga a terra mais. É isso.
P/1 – Mudou muito desde que você começou a produzir café lá pequeno com seu pai até hoje?
R – Mudou. Mudou, porque aquela vez produzia pouco, ganhava pouquinho. Hoje produz mais, ganha mais um pouquinho. Então mudou.
P/1 – Você lembra qual era a diferença de produção, o quanto que cresceu sua produção nos últimos anos, se cresceu?
R – Lembro. Lembro sim. O meu pai, ele teve ano que ele falava assim: “Eu quero ver se esse ano eu colho 200 medidas de café”. Que nós falamos que são 200 balaios de café. Duzentos balaios de café dão 30 sacas de café se fosse pra limpar. Aquela vez não limpava. Umas 30, 35 sacas de café. Era uma colheita boa pra ele. Hoje, você vê, o meu café dá umas 280 sacas. Então pra você ver que aumentou bastante. Talvez com menos trabalho, porque aquela vez, as 200 medidas às vezes davam mais trabalho que essas de hoje. Então melhorou. Por que melhorou? Porque a gente foi aprendendo a trabalhar. Teve quem ensinasse a gente, os agrônomos foram ensinando, foram acontecendo essa porção de coisa, a evolução foi chegando, a gente vai melhorando um pouquinho, não ficamos naquela base lá. Então valeu.
P/1 – Aumentou bem.
R – Aumentou.
P/1 – É um aumento grande.
R – Aumenta. E isso, a gente, todo mundo, os vizinhos nossos aqui, tudo assim também, tudo aumentou.
P/1 – Tá certo, Gabriel. São duas perguntas pra fechar a nossa entrevista. Eu queria saber se tem alguma coisa que a gente não tenha perguntado que você gostaria de falar.
R – Não. Eu acho que tudo nesse meio aí que aconteceu com a gente, a gente informou. Acho que com uns 80, 90% de certeza que foi isso mesmo. E tudo corretinho.
P/1 – Não faltou nada você achou?
R – Não. Acho que não. Não faltou nada, não. Foi muito boa.
P/1 – Tá certo. Então eu vou fazer agora a penúltima pergunta: quais são seus sonhos de vida?
R – Uai, os meus sonhos são sempre melhorar, acudir umas coisas que a gente ainda tem vontade comprar, que ainda não chegou a hora, não deu certo de a gente comprar. É isso daí.
P/1 – Que coisas assim, por exemplo?
R – Assim, por exemplo, melhorar o meu carro, comprar um carro novo ou seminovo, talvez aumentar um pouquinho, quando a gente tiver mais oportunidade, comprar mais uma areazinha de terra, comprar mais um pouquinho de terra. Esse é o sonho que a gente tem. E a gente às vezes dá, às vezes não dá, mas se não der, tá bom desse jeito; mas se der, melhor. A gente quer sempre mais, né?
P/1 – Tá certo.
R – Tá certo.
P/1 – E, por fim, a última pergunta, como foi dar essa entrevista? O que você achou de contar a sua história?
R – Uai, eu achei que pra mim foi um motivo de orgulho, porque a gente fica contente de vocês escolherem a gente. A gente ser simples do jeito que a gente é, ser aqui, a bem dizer, do mato, e vocês escolherem a gente pra gente falar nessa língua que a gente fala, que a gente nem prosear direito a gente não sabe. Eu fico orgulhoso com isso daí. Pra mim foi um motivo de orgulho, vocês me escolheram pra fazer isso daí. Então a gente fica cheio de orgulho, fica entusiasmado com isso daqui. Fico contente.
P/1 – Tá ótimo, Gabriel. A gente agradece muito.
R – Eu que tenho que agradecer vocês, viu? Você virem aqui, você e mais os moços aí, os agrônomos, a gente só tem que agradecer, ficar contente com vocês, porque eu digo uma coisa, passa tanta gente pela vida da gente e a gente não esquece, então isso aqui sempre vai marcar. O tempo que a gente durar, a gente vai se lembrar dessa passagem que a gente teve na vida, nesse motivo bom. Motivo de orgulho pra gente.
P/1 – Tá certo. Muito obrigada, viu?
R – Eu que agradeço vocês, viu? Agradeço de coração mesmo vocês, viu?
P/1 – Tá certo.
R – Tudo de bom pra vocês. Fica com Deus.
P/1 – A gente encerra aqui então.
FINAL DA ENTREVISTA
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