Depoimento de Isaac Lescher
Entrevistado por Valéria Barbosa e Roney Cytrynowicz
Estúdio da Oficina Cultural Oswald de Andrade
São Paulo, 27 de outubro de 1994
Transcrita por Rosali Nunes Henriques
P - Senhor Isaac, eu gostaria que o senhor iniciasse falando o nome completo do senhor, a data de nascimento e onde que o senhor nasceu.
R - Meu nome é Isaac Lescher. Nasci em São Paulo, na mais... propriamente no Bom Retiro, em 1938, 9 de setembro de 1938.
P - O nome dos pais do senhor e a origem deles. Onde é que eles nasceram?
R - Meus pais... o nome de meu pai é Aron Lescher e de minha mãe Beila Ryfka Lescher. Eles nasceram na Polônia, e vieram antes da guerra, talvez uns 4, 5 anos antes da guerra, 2ª Grande Guerra. Vieram pra São Paulo, vieram para o Bom Retiro. O meu pai era alfaiate na Europa e aqui continuou, que era outro nome que se dava, porque ele faz... ele já passou a fazer confecção de casaquinhos pra mulheres. Minha mãe cuidava, é prendas do lar.
P - Por que eles vieram pro Brasil?
R - As dificuldades que existiam na Europa, e já o caminho da perseguição nazista junto aos judeus poloneses. Porque na maioria, quando se fala polo... naturalidade polonês, como no caso eu fiz na ficha pro meu pai, ele é polonês mas descendente de judeu. Então judeu-polonês. E todos esses eram realmente muito perseguidos. Então começavam a vir. Os pais mandavam pra cá, os irmãos, uns tinham... Por que Brasil? A maioria vinha. O sonho era ir pro Canadá, Estados Unidos. Quem não tinha parentes vinha pra cá, pra América do Sul que aqui, diziam que haviam oportunidades. E eles conheciam Buenos Aires, Argentina, já ouviram falar, naquela época lá. Mas na realidade, eles aportavam em Santos e acabavam ficando aqui, tinha um pessoal que os acolhia, e assim foi.
P - Conta um pouquinho da infância do senhor. Como é que foi a infância, dos irmãos...
R - É... Eu nasci é... na Rua da Graça, numa vila. É... eu lembro bem que... casa...
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Entrevistado por Valéria Barbosa e Roney Cytrynowicz
Estúdio da Oficina Cultural Oswald de Andrade
São Paulo, 27 de outubro de 1994
Transcrita por Rosali Nunes Henriques
P - Senhor Isaac, eu gostaria que o senhor iniciasse falando o nome completo do senhor, a data de nascimento e onde que o senhor nasceu.
R - Meu nome é Isaac Lescher. Nasci em São Paulo, na mais... propriamente no Bom Retiro, em 1938, 9 de setembro de 1938.
P - O nome dos pais do senhor e a origem deles. Onde é que eles nasceram?
R - Meus pais... o nome de meu pai é Aron Lescher e de minha mãe Beila Ryfka Lescher. Eles nasceram na Polônia, e vieram antes da guerra, talvez uns 4, 5 anos antes da guerra, 2ª Grande Guerra. Vieram pra São Paulo, vieram para o Bom Retiro. O meu pai era alfaiate na Europa e aqui continuou, que era outro nome que se dava, porque ele faz... ele já passou a fazer confecção de casaquinhos pra mulheres. Minha mãe cuidava, é prendas do lar.
P - Por que eles vieram pro Brasil?
R - As dificuldades que existiam na Europa, e já o caminho da perseguição nazista junto aos judeus poloneses. Porque na maioria, quando se fala polo... naturalidade polonês, como no caso eu fiz na ficha pro meu pai, ele é polonês mas descendente de judeu. Então judeu-polonês. E todos esses eram realmente muito perseguidos. Então começavam a vir. Os pais mandavam pra cá, os irmãos, uns tinham... Por que Brasil? A maioria vinha. O sonho era ir pro Canadá, Estados Unidos. Quem não tinha parentes vinha pra cá, pra América do Sul que aqui, diziam que haviam oportunidades. E eles conheciam Buenos Aires, Argentina, já ouviram falar, naquela época lá. Mas na realidade, eles aportavam em Santos e acabavam ficando aqui, tinha um pessoal que os acolhia, e assim foi.
P - Conta um pouquinho da infância do senhor. Como é que foi a infância, dos irmãos...
R - É... Eu nasci é... na Rua da Graça, numa vila. É... eu lembro bem que... casa número 10. Era uma vila até gostosa. Essa vila ainda existe. A maioria dos moradores da vila, dez, a casa do um, tinham 11 casas essa vila. A do número 11 era minha madrinha, eu lembro. A... no número oito morava a minha tia-prima, é, que era dona do armazém na porta da vila. Eu ajudava eles a vender arroz, feijão, eu gostava dela. Desde essa época eu já gostava da história de vender alguma coisa. E a gente brincava muito na vila. E lembro muito bem, coisas que passam pela minha memória, época de Judas, né? Eu não sei que mês que é, tal. Eu lembro que a gente, os meninos se reuniam e nós não podíamos sair na rua, porque tinha uma turma muito grande na Rua da Graça, famosa naquela época, que eram os malfeitores da época que não tem nada a ver com os malfeitores de hoje. Mas eram uns moleques que... que jogavam, que jogavam futebol, baralho, enfim eram os... os moleques mesmo e eles batiam na gente. Então nós não podíamos nos atrever a sair da porta da vila porque era a época de Judas, e eles pegavam os judeuzinhos lá. Então tinha que ficar agrupado. E eu não vou esquecer de uma época, saiu no jornal, na Folha, se não me engano: "Gueto do Bom Retiro - Rua da Graça, uma vila...." E mostrou e fotografou a gente (risos). Muito bem. Isso é... depois passaram uns anos... com 11 anos eu comecei a trabalhar. Que trabalho era o meu? Como pus na ficha é... existia um construtor, Carlos Kusminski, que necessitava... ele começou a pegar obras de patrícios, de velhos patrícios que começaram a construir edificações aqui no Bom Retiro, principalmente na José Paulino. Eles tinham um problema sério que sumia muito material, cimento, tijolo, tal. Então o que que ele teve idéia de fazer: pegar esses garotinhos, na faixa de 11, 12, 13 anos, pôr nas obras. A gente começava acho, me lembro bem, acho que sete... oito... 7 e meia da manhã e a gente tinha... cada caminhão que chegava a gente contava o saco de cimento, fazia medição do... do caminhão de areia, e tijolos, tal, para que fosse controlado, um mínimo de controle. Então a gente trabalhava nessa construtora. E eu falo isso do Carlos Kusminski porque hoje ele é meu amigo, ele é muito mais velho do que eu e ele me vê e a gente lembra sempre esse fato. É
P - Ele lembra do senhor na época que o senhor trabalhava lá?
R - Lembra, muito. Carlos é meu amigo. Ele adora falar comigo, eu adoro ele porque ele era uma pessoa... ele era de Recife. E casou e veio pra cá, pra São Paulo. E ele, como a gente é conselheiro do diretor da Hebraica, o Carlos também foi conselheiro e... E ele gosta muito de me ver, bater papo, fazer... velhas lembranças, tal. Eu sei que ao longo da minha vida só fiz amigos. Um ou outro que, não é bem inimigo, mas que eu não gostava muito, mais pra frente eu conto.
P - E o senhor estudava à noite?
R - Ah, sim. Estudava a.. estudei no primário, no Bom Retiro, no Ginásio Estadual... no Marechal Deodoro. Péssimas lembranças...
P - Por quê?
R - Eu vou bater muito nessa tecla do... é que até hoje isso marca, isso marcou pra mim muito. Eu tinha uma professora, no primário, coisas que às vezes eu lembro e não tenho oportunidade, e essa é uma que eu tenho. No primário tinha uma classe de, se não me engano, de 36 alunos e tinha uma professora que eu vejo ela como uma bruxa. Ela era gorda, feia, horrível, horrível (risos) Por que eu achava inclusive que ela era gorda, feia, horrível, e ela era tudo isso? Porque ela... ela não me chamava pelo nome Isaac, ela me chamava judeu. Então eu era o único judeu da classe de 36 alunos. Lembro de um amigo meu, que estudou até no Comércio comigo, o nome dele é Mário, lembro bem dele, nunca mais vi. Isso já... lá se vão uns 20 anos, até uns 20 anos atrás eu tinha visto ele. E ele era o meu companheiro. Bom, então toda a vez que tinha que vir ao quadro-negro, ela chamava: Judeu, levanta, vem para o quadro-negro. Eu não gostava, mas eu não sabia o que fazer, que reação. Naquele tempo eu era muito criança, muito menino. Até um dia que entrou um outro garoto, um tal de Aron, já não o vejo faz muitos anos, tem a minha idade. É. Ele entrou na classe também como aluno. Então ela falou: "Judeu nº 2, levanta e vai pra classe", ele não entendeu. Eu cutuquei ele, que era ele (riso), né, porque eu era o nº 1. Eu só sei que no recreio quando nós saímos eu bati nele. Ele perguntou: "Por que você está batendo em mim?" "Porque você deixou ela te chamar de judeu." Essa foi a minha reação, entende? Então hoje, se eu fizer uma análise hoje, acho que isso traz comigo, sabe, velhas lembranças. Bom enfim, foi terrível, daí aconteceu um outro negócio de que, na classe havia entrado uns rapazes que eram escoteiros e eles precisavam de novos rapazes que quisessem fazer escotismo, lobinho quem era menor e tal. E uma oportunidade que eu tinha de fugir dessa professora e fugir da classe era me tornar escoteiro ou lobinho, porque você saía no meio da aula pro recreio e ia aprender o escotismo, e eu fiz. E foi a experiência ruim também porque eu vivia nessa vila do Bom Retiro e nunca tinha saído de casa. É... eu quero dizer que a gente era de uma família muito pobre talvez, de toda família, nós éramos os mais pobres. Então eu fui pra um... fizeram um... um acampamento e lá fui eu como lobinho pra justificar que eu era lobinho, mas eu não sabia nada de nada da vida, eu não sabia que tinha além da minha casa e do Bom Retiro tinha outro espaço. Eu fiquei lá acho que cinco dias mas eu sofri muito com aquilo, me jogaram na água, não sabia nadar, eles nem ligaram, nem sei como saí da água. Enfim, dormia com os outros garotos mas no meio das vacas tal e me largaram na Estação Sorocabana e eu tive que vir da Sorocabana até a minha casa e eu não sabia onde eu estava, eu sei que perguntei para uma pessoa e vim a pé. Só sei que foi uma experiência muito ruim que eu tive. Muito bem, daí então eu fui estudar nesse, na Escola Técnica de Comércio Tiradentes, eu gostava muito. Era aqui na José Paulino e eu fiz... eu detestava contabilidade, mas era o que eu podia fazer. Eu sempre tive uma queda pra desenho, pra arte, pra qualquer coisa que seja mexer com as mãos. Então é, eu gostava de desenhar. Enfim estudei contabilidade, tentei sair da contabilidade, meu pai me levou no Museu de Belas Artes, que eu adorei aquilo, aqui na Estação da Luz, né, no Jardim da Luz, mas eu tive uma grande frustração porque eu tinha 15 anos e eles só aceitavam a partir dos 17 se eu não me engano, então foi frustrante pra mim. Mas onde eu tive chance eu fazia um cursinho ou outro, meu pai não podia me dar grandes coisas, enfim. Mas até hoje eu sou bom nisso, sou bom em pintura, sou bom em desenho e trabalhei como ourives também fazendo arte etc., obras de ouro.
P - Vamos voltar só um pouquinho.
R - Tá bom.
P - O senhor estava falando...
R - Eu quando me ponho a falar vou em frente (risos).
P - (risos) Não, tudo bem. Do trabalho como... o senhor tomava conta das obras.
R - Sim. Tá bom.
P - Depois...
R - Foi o meu primeiro emprego, e todo o dinheirinho que eu ganhava no fim do mês, que não era muito, dava em casa. E, e eu precisava trabalhar. P - Por que o senhor não ajudava o seu pai, por exemplo?
R - Claro Ajudava
P - Ajudava também?
R - Ah, ajudava meu pai na confecção? Não, não tinha nada disso, porque ele era um simples alfaiate. Onde eu poderia ajudar? Ao contrário, eu deveria ajudá-lo em alguma outra atividade paralela pra que com o dinheirinho dar em casa. E assim fazia também o meu irmão mais velho, que é três anos mais velho que eu, sempre trabalhou também desde pequeno. Aí eu fui trabalhar no comércio, numa malharia, porque o escritório dessa... escritório de engenharia do qual eu trabalhava era na Rua Silva Pinto e em frente abriu uma malharia, Malharia Pérola, e eram dois sócios, Seu Jaime e Seu Léo. O Seu Léo faleceu e o Jaime nunca mais vi, por coincidência me encontrei no clube, ele se tornou, ele era conselheiro e eu também. Todos aqueles foram antigamente meus antigos patrões e pessoas com quem eu lidava de uma forma ou de outra quando eu era pequeno. Quando você atinge a maioridade eles já são maiores que você mas já são, mais ou menos, é mais fácil o diálogo, não é? É... então encontrei essas pessoas ao longo do tempo, inclusive vou contar uma historinha se for possível. Ah... e nessa malharia eu trabalhava como empacotador, entregador, vendedor, no escritório todos gostavam muito de mim, mas um dos sócios, seu Jaime, era muito ruim, era uma pessoa... uma índole... não era boa, sabe? Enfim, o cara me judiava muito, quer dizer, usava e abusava, no... no sentido de que eu como funcionário tinha que fazer toda a espécie de trabalho, e sacrificava as minha horas de lazer porque eu tinha que fazer, ele exigia que eu fizesse entrega em determinadas horas no sábado, às vezes no domingo.
P - A loja entregava mercadoria em casa?
R - Não, pros clientes, para revendedores, eu ia levar pra casa deles, um era na Lapa, outro Penha, bairros que eu nem conhecia.
P - Que tipo de mercadorias exatamente?
R - Malharia.
P - Malharia.
R - Malhas, é, blusas pra senhoras, pra moças, naquela época se fazia também ban-lon, isso já foi mais tarde mas era muito em voga, tal, muito na moda. E eu levava. A blusa era pequeninha, mas se fazia pacotes desse tamanho, e eu tinha que levar no ônibus dois, três pacotes, um carregando na cabeça, outro na boca e outro na mão e assim por diante. Bom, são essas as lembranças. Depois eu passei a trabalhar numa outra malharia que me chamaram, Malharia Schipper, pessoal maravilhoso. O Jacques inclusive que era meu patrão, um cara jovial, e mais o Seu Schipper, que hoje tá em Israel, ele foi embora do Brasil, mas era uma pessoa maravilhosa. Então eu conheci alguns tipos de pessoas, gente maravilhosa e outras não muito boas, é. E o Jacques que era dono dessa malharia até hoje é meu amigo, a gente comenta muito quando se encontra no clube a respeito da fundação da empresa, o que eu fiz e tal. Coisa engraçada que eu quis comentar é que ele tinha um primo, esse Schipper que era sócio do Jacques, ele tinha um primo que tinha vindo da Europa, da França, um cara que sofreu perseguição e tal, muito bem, mas era uma pessoa muito capaz, muito inteligente o homem, mas frustrado, sabe? E ele judiava muito de mim na empresa, eu já não queria sofrer o que eu já tinha sofrido nas outras então ele exigia de mim muitas coisas, tudo bem, eu agüentava e tal. E o dia que eu saí de lá, que me retirei da firma, eu fiquei muito satisfeito mais por causa dele. Enfim assim foi tomando rumo a... a minha profissão, a minha carreira no ramo do comércio. Aí eu passar a comentar um fato que ocorreu há uns dois anos atrás, um ano e meio atrás. Eu estava na sauna com um amigo meu, e essa pessoa, esse senhor que era meu chefe, vamos dizer, sobrinho do meu patrão, que mandava em mim lá, ele sentou do meu lado e então... e ele era amigo daquele outro companheiro que estava... e eu estranhei vi ele e achei: ele era parecido com o meu antigo chefe (risos). E no papo, vai e vem, então eles perguntaram, esse antigo chefe me perguntou o que que eu fazia. Então eu disse que era dono da minha empresa que depois a gente vai comentar. Ah é, ele ficou meio assim, meio sem jeito, puxa, estranhou, um rapaz que, a idade que ele tinha e a minha idade, isso faz uns dois anos e pouco, eu não sou tão jovem assim mas, de qualquer forma, eu tenho a impressão que ele sabia de quem se tratava, agora eu sabia quem ele era. Eu falei: "Eu lembro do senhor muitos anos atrás, eu devia ter meus 19 anos, dezoito... dezessete... 18 anos." "Como?" ele falou. Aí eu expliquei para ele a história de que: "Quantas vezes o senhor fazia eu sair num sábado, na hora do meu lazer, na hora que eu queria ir numa festinha, tal, o senhor fazia pegar pacotes e levar não sei pra onde, e quando eu perguntava de que jeito eu vou, vai de bonde, vai de ônibus etc.?" Então eu tenho mágoa sua dessa época, mas o tempo passa. Eu senti que ele ficou meio frustrante... meio frustrado, sabe? Foi uma reação, na hora eu gostei, mas depois eu fiquei meio... pensei pra que, né? Tudo bem.
P - Na malharia, nessa malharia o senhor ficou quanto tempo?
R - Tenho lembrança que eu fiquei talvez, eu cresci junto... a malharia cresceu junto comigo e vice-versa. Nós estávamos na Ribeiro de Lima, depois eles construíram uma belíssima fábrica na Rua do Bosque e eu iniciei na Rua do Bosque e foi um trabalho, eu acho que foi um trabalho muito bom da minha parte, eu ajudei muito eles. Depois eles encerraram as atividades, estava muito bem, passaram pra frente a empresa e aí eu saí. Foi nessa época que eu comecei a trabalhar no ramo que estou até hoje jóias e relógios.
P - Como o senhor chegou nesse ramo?
R - É o seguinte, eu saí da malharia e não sabia o que fazer, eu teria que voltar depois um pouco pra falar a um pouco a respeito do teatro, de televisão. Isso foi uma pequena fase da minha vida. Então, eu tinha que fazer alguma coisa, que profissão eu tinha, era técnico em contabilidade, do qual eu não gostava, fui trabalhar num escritório de contabilidade e foi uma péssima experiência. Então um amigo, é... não amigo de longa data, um rapaz muito bacana que eu conheci, um tal de Eduardinho Rivera, e disse pra mim: "Por que que você...", ele já vendia jóias é... como revenda, ele entrava em determinados lugares e oferecia, fazia aquela clientela, no cartãozinho, tal, pagava a prestação por mês, tal. Eu falei: "Olha, eu sou bom nisso." Eu falei. "Eu gostaria de tentar." Então ele me deu o endereço é... do senhor Abram, que ficava na Líbero Badaró, ele oferecia, dependendo da pessoa, se ele tivesse confiança ele dava pra você, pra você escolher algumas jóias, dez anéizinhos, três relógios, cinco correntinhas etc., e você ia vender e depois você acertava na semana seguinte com ele, pagava, dava cheques etc. Foi aí que eu conheci o meu sogro, e foi aí que eu conheci a minha esposa.
P - Ela trabalhava com o pai?
R - Não, não. Naquela altura quando eu fui não. É... e ele me orientou como eu deveria proceder e realmente eu sou muito então, eu sou muito extrovertido, então eu converso com qualquer um, bato papo e eu sou muito simpático assim com as pessoas, sabe? Eu pelo menos me acho, (risos) não sei o que as pessoas acham de mim. Eu tenho a impressão que o pessoal gosta de mim Eu entrava nos escritórios e era muito boa gente, conversava com um, eu tinha a cara e a coragem, tá entendendo? Então, com a secretária eu pedia pra ela me apresentar aos outros, dava uma comissãozinha pra ela, dava um presentinho pra ela, e assim por diante. E fui levando e comecei a fazer uma boa clientela. E pra melhorar, o Eduardinho disse pra mim: "Por que você não vai nas bocas?" Eu falei: "O que é isso?" "Nas boates, na Major Sertório e tal." As boates de antigamente não eram o que era, o que são hoje, né? Hoje você não... hoje é difícil você sair a noite na rua, mas antigamente você podia ir, era até um negócio maravilhoso, bonito. Eu não fiquei muito tempo nessa, mas eu arrumei boas clientes. As mulheres que trabalhavam na noite, quando elas saíam eu ficava esperando elas lá fora e ele me apresentou umas duas que me apresentaram as outras e cheguei a ter umas cem clientes. Então, umas pagavam outras não mas a maioria pagava, elas compravam bastante jóias, relógios, ou o cara dava de presente, enfim.
P - Como é que o senhor apresentava essas jóias?
R - Ah sim, eu tinha uma caixinha que eu bolei uma caixinha, que já existia mas eu não tinha dinheiro pra comprar, então eu fiz uma sozinho, fiz uma com um araminho que não podia roubar que você se puxava ficava preso e tal (risos). Enfim, e fiz... gozado é que eu dava presente pros leões de chácara lá da porta pra me dar cobertura, me ajudar, dizer que era meu amigo, tal. E assim foi. Eu fiz minha clientela. E aí então eu conheci a minha esposa no escritório do atacado que era do meu sogro, meu sogro adoeceu, teve enfarte, tal, e o irmão dela e até a minha esposa foram trabalhar lá. Foi aí que eu comecei a conhecer. Muito bem, os anos se passaram, nós noivamos, casamos e eu acabei montando... meu sogro me ajudou a montar um escritóriozinho de atacado na Praça da Sé. A Praça da Sé não era o que é hoje.
P - Mas antes o senhor trabalhou no escritório do seu sogro também.
R - Ah, sim, é verdade. Então eles me propuseram, porque, como eu queria montar um negocinho próprio, eu estava cansado de andar, de sair na rua, tal. Eu queria montar meu... meu atacadinho. E o atacado era basicamente para aqueles clientes, tinham... portugueses, espanhóis, judeus, italianos, pessoas de idade que tinha uma clientela muito boa nos bairros. Eles eram pessoas de confiança pra nós e pra aqueles pra quem eles vendiam. Era uma clientela fantástica, o escritório cresceu muito do meu sogro.
P - Que tipo de jóias e relógios o senhor vendia exatamente?
R - Eram, o clássico mesmo que você vê que vende hoje nos atacados. O meu sogro formou... se você anda lá na Praça da Sé, na Barão de Paranapiacaba, na cidade, existe um grande comércio de atacadista de jóias e relógios, meu sogro foi o primeiro, foi quem formou eles.
P - Mas eram baratos, caros?
R - Muito baratos, bem barato. Porque você chegava no ourives, você dava por exemplo; você comprava um quilo de ouro e dava pra ele. O ourives, que ficava em casa trabalhando na banquinha dele, ele mais o filho, mais algum empregado, ele fazia pra você vamos dizer cem anéizinhos de três gramas cada um, e o preço unitário era barato que ele cobrava de feitio. Você dava o ouro e ele te cobrava o feitio. E você, em cima dessa mercadoria, você punha a sua margem de lucro que não era ruim, porque você que adiantava o ouro e o feitio era barato. Você repassava pro cliente que era baratíssimo e ele ainda repassava com uma margem muito grande e vendia em três, quatro vezes. Claro, ou cinco ou dez, não tinha inflação. Então eram jóias baratas.
P - Eram relógios de pulso?
R - Eram relógios de pulso. Existiam poucas marcas de pulso porque não existia Manaus ainda naquela época e tinha entrado, até a Seiko estava entrando naquele momento. Eram aqueles relógios desse tamanho assim, grandes. E eram... Enfim, marcas, não marcas de primeiro time, sabe? Marcas comuns. Mas na verdade o que se vendia mesmo eram jóias. Os relógios era...
P - E o senhor que desenhava também as jóias? O senhor fazia o...
R - Aí, fui trabalhar. Eu... eu senti a necessidade... como eu gosto muito de arte, eu senti a necessidade de aprender a... a trabalhar com jóias. Então uma... uma parte do período da manhã eu ia trabalhar. Naquela época, os gregos que vinham do... da Grécia, vinham pra cá em busca de oportunidades eram grandes joalheiros, depois eles se tornaram grandes comerciantes confeccionistas, tal. Mas tinha uns que eram verdadeiros artistas e são até hoje, eu acho. Grandes artistas em... em jóias, ourives. Eu aprendi com eles. E, eu sentava na banca, tal, até hoje eu guardo uma... uma lembrança que é um anel, uma aliança quadradinha, foi eu que fiz pra mim e pra minha esposa, um marido quadrado, tal (risos). Foi eu que fiz essa. É. Eu gostei muito, mas aquilo não dava pra mim, mas eu precisava aprender como é que... e fui e aquilo valeu. Até determinado tempo, até em 1968, 69 eu tinha grandes problemas no atacado lá na Praça da Sé. Aí já começaram a haver os... não existia bem trombadinhas mas tinha muitos ladrões. E o problema começou a surgir, inflação no país, tal. Então eu resolvi é... sair pro comércio mas montando uma loja, uma coisa mais fina, uma coisa melhor porque o ambiente que eu estava já não era bom, sabe? Então uma amiga minha que trabalhava, era gerente de uma loja no Shopping Iguatemi, me falou: "Isaac, por que é que você não vai pro Shopping Iguatemi?" Pra mim era um sonho. "O que é que é um Shopping Iguatemi? Eu ouvi falar, mas o que é?" "Vai visitar", tal. E eu já estava tão decepcionado com o meu negócio, eu estava era perdendo dinheiro naquelas alturas. E eu resolvi fazer o que ela falou. E fui visitar o shopping e me assombrei, era um Natal, tinha uma árvore enorme onde que é o Jardins do Rinaldi hoje é... uma árvore enorme de Natal, nunca tinha visto uma coisa assim. Claro que nessa altura eu já estava casado, tinha um filho e minha mulher não quis ir comigo: "É loucura, você vai se meter com outros negócios, tal." "Eu vou." Eu tinha um pouquinho de reserva só, pouca reserva, de dinheiro. Então eu fui, encontrei um chinês que... que tinha uma lanchonete muito grande no shopping, Júlio Din se chamava, e ele resolveu acabar e fazer diversas lojinhas. A minha tinha, a minha futura lojinha teria 19 metros quadrados e foi um preço caríssimo, coisa que eu não sonhava, e eu tinha um pouquinho só de dinheiro pra dar pra ele, mas ele confiou em mim, foi um cara bacana. E eu acabei comprando essa lojinha. E foi aí o início da minha, o impulso pra minha carreira de... de comerciante.
P - E o senhor fechou na Sé? O atacado?
R - Ah, sem dúvida. Foi em 68. Eu encerrei as atividades lá. Como estava acabando naquela altura todos os atacadinhos e meu sogro já tinha falecido, meu sogro tinha falecido e...
P - Por que acabaram os atacadinhos?
R - Devido às dificuldades. Mas, não, continuaram alguns, os mais jovens continuaram, os mais arrojados que estão até hoje. Ganharam muito dinheiro, fizeram grandes empresas, sabe, até hoje. Partindo daquela época, da época de 70 pra frente. Aqueles que estavam como eu há mais tempo e meu sogro, foram desistindo porque já não agüentavam mais. E esses outros jovens entraram com um novo impulso, nova coragem, que você enfrentava mil problemas, desde a Polícia Federal, ladrão, que vendia ouro e iam lá pra ver se você não tinha... mil problemas. Não era meu negócio. Então foi o início da minha carreira. Nessas alturas eu montei a Seiko Center, uma lojinha de 19 metros, que foi um grande sucesso. A Seiko já estava radicada no Brasil já há algum tempo, estava crescendo, era um nome importante, o público já conhecia, nós ajudamos a formar inclusive esse nome. E o relacionamento meu com eles era muito bom. Aí eu convidei meus... meu cunhado, que tinha o atacado também com meu sogro junto, meu sogro já tinha falecido, ele desistiu. Entrou pra Bolsa, na época a Bolsa não deu certo, tal, recém-casado também. Então nós começamos, eu dei a sociedade pra ele. E daí partiu.
P - O que determinou o sucesso da loja? Era uma linha de relógios mais finos?
R - Não, era sempre trabalhando com aquilo que a gente conhecia de jóias baratas.
P - Mas esse era o público consumidor do shopping?
R - O público consumidor do shopping sempre foi um público A, B, sabe, classe média alta e classe média média, com um poder aquisitivo bom. Mas a... os preços das joinhas que a gente tinha era atrativo. Inclusive era uma época que se vendia muito jóia de esmalte, quem é do ramo sabe, ouro 18 com esmalte em cima, coloridas, tal. Foi um sucesso tremendo, era uma coisa. Eu chegava na lojinha de 19 metros tinha que pedir licença pra, pra poder entrar atrás do balcão. Enfim, os anos foram se passando e aí nós montamos a loja grande, a Top Time. Claro que já com um maior número de relojoaria, com laboratório técnico, enfim...
P - E o nome Top Time?
R - O nome Top Time surgiu quando nós... a Seiko Center ficou pequena pra nós e meu cunhado estava, já era meu sócio, e precisaríamos crescer. O Seu Diogo nessa época já estava lá. É, e houve uma empresa de móveis que ia sair do shopping e ela nos ofereceu uma loja de 120 metros, era um sonho aquilo pra quem saiu de 19, 120 era uma loucura. Mas, enfim, a gente enfrentou. Não lembro quanto custou na época mas foi parcelado e montamos a loja. Foi muito difícil nos dois primeiros anos, eu queria até fechar porque era grande demais e as despesas eram muito grandes. Mas de repente começou a mudar o país, começou a mudar a minha mental... minha cabeça, o produto, o nível do pessoal. E fomos crescendo, crescendo. Aí... para pôr o nome Top Time, eu lembro que eu peguei um... uma folha de papel, comecei a por os nomes que vinham na cabeça. Top é grande, precisava ser um nome inglês porque Shopping Iguatemi, eu nem sabia o que era shopping na época, antes, né? Quer dizer, enfim, aí eu achei Top Time, Top... outros nomes, eu pus, mas eu gostei do Top. Aí eu fiz uma pesquisa entre a família e o pessoal gostou do Time, eu também tinha gostado. Achei um rapaz que tinha uma pequena agência de publicidade, conheci um... Joãozinho França, se um dia... ele vai me ouvir nessa entrevista, ele sabe que eu gosto muito dele. Ele é diretor de uma grande empresa de... de publicidade e ele que bolou o nome, me ajudou a bolar o nome Top Time. E ele falou: Isaac, investe em publicidade. Eu nunca sabia o que é que era publicidade em termos de gastar dinheiro em publicidade. Em 1970 eu comecei a fazer Top Time, a loja do shopping que vende relógios, relógios, relógios..., que até hoje está. Foi ele que bolou isso.
P - Era pra rádio originalmente?
R - Era só pra rádio. Então nós fomos fazendo em outras emissoras, foi se tornando conhecida. O grande sucesso da Top Time foi o laboratório de assistência técnica.
P - Por quê? Não existia na época?
R - Não, não existia. Aliás até hoje, eu digo pra você que não existe nenhuma loja no estilo da nossa, existem sim concorrentes que só vendem relógios. O que é que acontece com a gente hoje, nós basicamente só vendemos relógios. Nós temos nove lojas, só em shopping center. Não se justifica pôr na rua, que seria muito mais barato, o ponto, tal, porque a situação da segurança... segurança pesa muito e um shopping você tem a vantagem de ser protegido, você tem, você está lá das 10 da manhã às 10 da noite, você trabalha com dois turnos, você tem estacionamento que é o principal, e tem segurança. Intempéries? Não chove, não faz sol, tal, etc. E, então, nós fomos crescendo dessa forma, e fomos entrando em outros shoppings, mais um shopping, mais um... e sempre foi muito sacrificante porque cada shopping você tinha que pagar antecipado as lojas. Quer dizer, enquanto eles construíam você ia pagando. Como eu, outros desbravadores também, jovens entraram no ramo.
P - Tem muita diferença, por exemplo, o senhor tem uma loja no Center Norte, né? O senhor poderia falar um pouco da diferença entre o Center Norte, Santo André e Iguatemi? Só pra ter uma idéia do público, que tipo de loja...
R - Só queria completar o que me fugiu, que eu queria dizer que uma coisa que eu acho muito estranha. Não, eu não acho estranha não. Pra montar o que nós montamos foi muito arrojo e nós acreditamos muito no ramo de relojoaria, já hoje a gente é muito conhecido. O principal é o bom atendimento e a confiança, sabe, é muito importante. O cliente, quando ele ouve falar em Top Time, ele lembra de relógio, ele ouve uma empresa séria, bem fundamentada, tal. E não tem laboratórios nas outras relojoarias. Então a nossa, é por isso que eu digo que é uma das únicas que você encontra. Eu não sei nem se lá fora tem assim como a nossa. Eu já fui para os Estados Unidos, fui pra Europa, não conheço, não conheço mesmo.
P - Por quê? Predomina a pequena oficina? O pequeno relojoeiro...
R - Em geral uma relojoaria tem um relojoeiro ou... Nós não, temos um laboratório, bem montado, o pessoal com uniforme. E nós temos escola de relojoeiros, é, porque infelizmente como o marceneiro, o filho dele não continuou a profissão, que é uma profissão belíssima que eu acho, trabalha com as mãos, fazer móveis finos, enfim, obras, que são obras, verdadeiras obras de arte. O filho do joalheiro não continuou como joalheiro. E o relojoeiro, infelizmente o filho dele não vai dar continuidade.
P - Mas o senhor mantém um curso dentro da... R- Então, o que é que acontece? Eu estou perdendo os relojoeiros, se você... é uma dificuldade tremenda eu conseguir bons relojoeiros. Então eu devo ter... como são nove lojas, eu tenho um ou dois, tenho dois relojoeiros em cada loja, a não ser no Iguatemi. No Iguatemi eu tenho oito relojoeiros. No total eu tenho 25 relojoeiros total, e eu estou perdendo eles. Pra não perder, o que é que eu resolvi fazer: os boys que vêm trabalhar na loja, ele começa, quando eu percebo que ele não é bom pra vendas ele tem que ser bom para alguma coisa, eu incito ele, então, de outra coisa que eu me orgulho, eu e meu cunhado, os boys que vieram trabalhar com a gente eles hoje são bons vendedores, já são donos de lojas, eu tenho dois que já se tornaram donos de lojas ou são gerentes das minhas lojas e ainda, principalmente, outra virtude de que eu dou escola pra eles de relojoeiro, porque, como acabaram os relojoeiros, você vê aqueles boys que entraram menininhos e hoje são bons relojoeiros que se formaram na Top Time. Os nossos relojoeiros vão ensinando devagarinho, começam primeiro com o despertador e hoje são bons relojoeiros. Então eu acho que pra isso eu contribuí um pouco na... na formação deles. Você tinha me perguntado?
P - Da diferença entre Center Norte e Center Sul.
R - Claro, o Iguatemi foi nossa primeira loja depois veio se não me engano o Eldorado, Ibirapuera e por último West Plaza, Center Norte. As melhores lojas que nós temos. A maior que eu tenho é a Iguatemi que tem 120 metros e ela tá realmente localizada no melhor shopping de São Paulo, talvez do Brasil. Onde eu fui pioneiro lá dentro. Outra segunda loja melhor é o Center Norte que é uma loja grande, tem 60 e poucos metros, bem localizada e é um shopping que eu e outros não acreditavam, tá de parabéns o senhor Otto Baumgarten que... ele acreditou porque ele era da Zona... da Zona Norte, Santana, e eu lembro que eu morava no Bom Retiro mas longe de imaginar, eu sabia que ele tinha na... naquela rua principal de Santana, Voluntários da Pátria, tinha comércio, até tinha um amigo meu que tinha loja de móveis lá. E eu jamais acreditei que fora da... da Zona Sul pudesse outro shopping vingar. Então, quando estava montando o Shopping Center Norte meu cunhado acreditou, ele disse: Vamos lá pra ver e eu fui. Batendo um papo, o Otto estava sentado, engenheiro que construiu, era dono de toda aquela área. Ele estava sentado brincando lá com um pedacinho de madeira e batendo papo com a gente, nós já tínhamos escolhido a nossa loja. Ele falou: É, ninguém acredita, o pessoal vem aqui e quer que eu dou de graça o ponto, tal, e eu estou propondo. Eles propuseram na época oferecerem os pontos e as pessoas cresceriam com o shopping junto e depois de um ou dois anos pagariam a luva. Nós não fizemos isso, pagamos a luva porque ele nos fez um preço melhor e tal. Mas eu confesso que eu... eu falei: Será que aqui vai dar certo? Porque era um grande brejo, perto do Campo de Marte e tal, mas foi uma grande surpresa. Esse é o verdadeiro público, aquele estrangeiro, espanhol, o português, o italiano que... que veio do lugar de origem e foi pra Santana, vamos dizer no bairro, e se radicou lá, é. Montou sua padaria, ou sapataria e tal, depois comprou a casa vizinha, e depois comprou outro terreninho e foi ganhando dinheiro, depois os filhos cresceram e se formaram e assim por diante mas eles, sabe, ainda continuam fiéis ao bairro. E o bairro realmente ficou muito rico e é um público maravilhoso tão bom se não for melhor que o próprio Iguatemi, eu diria. P - Como o senhor vê a diferença do, por exemplo, do relógio vendido no Iguatemi e no Center Norte. Existe uma diferença significativa?
R - Não. O cliente... não, o preço nosso em média, em média.
P - Não, eu estou pensando... no modelo...
R - O preço no geral é tudo igual, deveria, eu deveria talvez fazer mais barato em São Bernardo, Santo André, porque talvez é outro público e tal, mas é tudo igual, basicamente, talvez os artigos que eu ponho nessas outras lojas sejam diferenciados, mas é um... público igual, público... Eu percebo muito isso de classe... sem dúvida as minhas lojas mais fracas hoje eu diria Santo André, é a pior loja. Onde mais? Eu lembro muito bem que o Ibirapuera era um público de uma classe maravilhosa, como eu digo sempre, a classe média é que fez... que faz as grandes revoluções, que faz o progresso de todo o país, no mundo todo, mas a classe média ficou achatada aqui. Então eu lembro bem do Shopping Ibirapuera, antes de eu entrar, uma pesquisa que se dizia era que o pessoal da classe média que era um diretor de banco, diretor de uma pequena empresa, ele tinha uma ou duas empregadas, tinha dois carrinhos, o filho na faculdade e tal, esse pessoal foi sumindo aos pouquinhos, mas ainda é a classe média predominante da classe... não sei classe média A, da B, C, talvez. Mas agora está voltando, eu sinto que o shopping... aquela zona do Shopping Ibirapuera tá voltando a crescer bem. Então, enfim, felizmente todos estão crescendo, devagarinho. E agora, dando uma bajulada aí no Fernando Henrique, quem sabe ele ajuda mais ainda, que a gente tá cansado de sofrer no comércio.
P - Senhor Isaac, o senhor tinha falado que o senhor se dedicou uma época ao teatro e televisão...
R - Verdade. Quando eu... é... na idade dos 17 anos, trabalhando no comércio, nessas lojas, eu sempre... fui voltado à arte de alguma forma. Eu tinha um amigo meu, nós tínhamos um clubinho na Casa do Povo na Rua Três Rios, aí em frente a essa faculdade, que era faculdade. Um clubinho em que os jovens faziam coral, teatrinho. Então nós fundamos um teatrinho infantil. Do qual eu lembro bem, um rapaz chamado Jurandir Pereira, ele é um bom e grande autor de peças infantis. Não tenho visto mais o Jurandir, mas quando eu olho no jornal que tem uma peça dele eu vou com os meus netos. Ele fundou uma pequena companhia e nós... e eu fui trabalhar. Eu sempre trabalhei em teatro infantil. Adorava fazer isso. Daí, do teatro infantil, eu fui pro teatro amador. Participei de festivais de teatro amador, tal, também em função do clube da Casa do Povo, ou do nosso clubinho, lá na Rua Silva Pinto tinha outro clubinho. E aí o Felipe Wagner, que é um ator, que hoje mora... não sei se tá morando no Rio ou São Paulo, ele trabalha na Globo inclusive, em peças. Ele teve um... uma sociedade israelita que formou um grupo teatral e Felipe Wagner veio dirigir. Então ele traz... ele foi convidado pelo Júlio Gouveia na época com a Tatiana Belinky aqui no Teatro da Juventude, não me pergunte a época, na época da extinta Tupi. Onde o Teatro da Juventude era feito aos domingos de manhã. Era maravilhoso Uma coisa fantástica Ao vivo, não existia o videoteipe, né? E o Felipe convocou pessoas pra participarem do... do Teatro da Juventude do Júlio Gouveia que ele queria fazer testes. Mas eu já conhecia o Ricardo Gouveia, que era o filho do Júlio, era menino como eu, devia ter 17, 18 anos. E eu fui e o Júlio gostou. E eu comecei a participar do Teatro da Juventude aos domingos. Fiz o Sítio do Pica-pau Amarelo, nós fazíamos espetá... a Tatiana, ela... ela conseguia fazer as histórias de Colombo, ou de Cabral, enfim, os descobrimentos, da época do Egito, do faraó, é... da perseguição dos judeus, e assim por diante. E fazia séries aos domingos de manhã. E então eu entrei no... não era profissional, era um teatro amador. Nisso, eu fui convidado para o teatro profissional, através do Felipe Wagner. Flávio Rangel, que foi um grande diretor, ele faleceu, foi meu diretor, ele me convidou pra fazer, na época, era Juventude sem Dono. Eu lembro dessas coisas, vou falando empolgado porque faz parte da minha vida. Não é todo mundo que pode contar essas pequenas coisas, eu passei por isso. É... é... deixa eu lembrar, Milton Moraes, que faleceu recentemente, ganhou prêmio é... prêmio de melhor ator da época... P - Nessa peça?
R - Nessa peça Juventude sem Dono. Era uma peça de toxicômanos, indivíduos que se injetavam com... com drogas. Eu era um pequeno gângster (riso). É verdade. Eu fazia... Billy Detuch era o meu nome. E eu adorava. Então eu fazia no Teatro Cultura Artística. Era uma época em que, eu não era casado ainda, claro, tinha 17, 18 anos nessa altura. E nós fazíamos o Teatro Cultura Artística e eu lembro que saía correndo do... da firma às 5 horas da tarde, pro Teatro Cultura Artística pra poder fazer ensaio, pra me preparar, tal. E era um sonho, uma vida aquilo, um mundo, né, diferenciado. E a minha fotografia ficou na porta do teatro, com os outros artistas, tal. Foi muito bacana. Ganhava.
P - O senhor tem esse cartaz?
R - Eu não tenho essa fotografia... tenho, eu tenho, se eu pesq... se eu procurar, até procurei, achei algumas coisas, mas não essa. Eu estava de blusão de couro e minha mulher, que era a minha namorada na época, ficava na porta do teatro e olhando quem... se ela tivesse chance ela dizia: É o meu namorado (risos). E eu ficava na porta do teatro querendo ver se alguém olhava também pra minha fotografia. Mas, por que é que eu ficava na porta do teatro? Porque antigamente o Giggetto ficava em frente, todo o dinheiro que nós atores ganhávamos a gente gastava no Giggetto em comida. O Milton Moraes... Era... era uma... uma profissão gozada que você não ganhava dinheiro, o que você ganhava gastava rápido, você não tinha chance de guardar. E foi aí que começou a aparecer gente da televisão, e que eles foram começando a... os atores começaram a ter valor na televisão.
P - O senhor chegou a participar do Sítio do Pica-pau Amarelo? Do original? R - Participei. A Emília foi... que era... a Edith Eher era a minha namorada nas novelas do Sítio do Pica-pau Amarelo. A Edith Eher era a... tinha o Pedrinho, a Emília...
P - Que personagem o senhor fazia? R- Eu cheguei a fazer o Pedrinho, no começo. Depois passei a fazer... não o Visconde, porque o Visconde de Sabugosa era muito magrinho, mas era meu amigo particular. Eu não lembro. Era uma série de... E lá era gozado porque você tinha que fazer ao vivo. Você não podia errar, não tinha videoteipe que você podia voltar. Nada era gravação, ao vivo. E nessa época que eu tenho muita lembrança de ter convidado o Elias Gleiser, que hoje é um bom ator da Rede Globo, Marcos Plonka, que faz até a Escolinha do Professor Raimundo. Eu levei, eles vão lembrar disso, que no Marrom, no nosso grupinho, o... o Ricardo Gouveia falou: Isaac, traz pra mim jovens atores que você acha que são bons pra meu pai fazer um teste. E eu levei esse pessoal.
P - O senhor falou do Júlio Lerner também.
R - O Júlio Lerner, que é meu amigo particular. O Júlio... agora anda sumido, mas ele foi diretor da... da Cultura, negócio de televisão, de teatro, são os amigos contemporâneos. Então eu levei. Eu lembro muito bem. Não sei se o Júlio vai lembrar: Não, não foi. Foi sim.
P - E por que é que o senhor não seguiu profissionalmente a carreira de ator? R - Ah, então deixa eu falar por que. Porque naquela época, ser profissão ator era terrível. O ambiente que você vivia, ainda mais pra um pequeno judeu como eu, judeuzinho que não... e eu namorava a... a Raquel, minha esposa, meu sogro: Ele, um artista? Nunca na vida. Então foi... eu devo dizer pra vocês nessa entrevista que o Brasil perdeu um grande ator (risos). Ainda hoje na Hebraica, nós temos quatro ou cinco grupos teatrais e meu primo que é um jovem, filho de meu primo, Heitor Goldfuss, ele é um bom diretor de teatro. Ele me convidou pra fazer uma peça novamente. Eu acabei não fazendo Violinista no Telhado, eu ia fazer, foi uma pena. Foi na época que minha mãe estava no hospital e ela faleceu. Eu tinha marcado entrevista, tinha marcado ensaio. Em casa, minha filha, meus filhos, diziam: Vai, faz, faz, porque eles sabem que eu gosto e... uma pena.
P - Que peça o senhor vai fazer agora?
R - Não, eles estavam me convidando pra fazer uma peça e eu estou relutante, sabe por quê? Eu já, eu não sei se devo voltar. Eu gostaria, honestamente, mas alguma coisa que seja compatível com o meu tipo, porte físico. Então, foi aí que eu disse que parei quando Brasil perdeu um grande ator, mas eu continuo como grande comerciante, um bom comerciante, um comerciante honesto e trabalhador.
P - Senhor Isaac, o que o senhor mais gosta na relação com os relógios. O senhor tem alguma relação especial já que o senhor....
R - Tenho. Tenho, eu gosto, eu adoro relógios, eu, apesar de ter poucos relógios, eu não sei segurar relógio pra mim, mas eu adoro comprar, pesquisar, eu trouxe algumas fotos de lembranças, em que nós ganhamos o prêmio é... a Melhor Vitrine da Expo-Suíça Brasileira, eu fiz uma vitrine muito bonita na loja do Iguatemi, que eles nos deram um prêmio pra visitar Basel. Basel é a Feira Mundial de Relógios, há muitos anos, ela todo o ano tem e eu já fui umas quatro vezes pra Basel e talvez meu cunhado vá esse ano com o filho dele. E é um lugar muito lindo, sabe? Então eu acompanho aquilo há muitos anos, eu recebo revistas, eu aconselho fornecedores meus que... porque, sabe, chega a um ponto que você não tem muita novidade, você tá usando um Swatch, né? Eu... eu devo dizer que eu sou um dos maiores... é... a Top Time é uma das maiores vendedoras dos relógios Swatch. O relacionamento nosso é muito bom e eu sempre acreditei nesse relógio. Sempre o pessoal vem, se orientam, os suíços quando vêm conversar com a gente, o que eu acho. Opiniões que a gente dá porque eu conheço alguma coisa.
P - Mas você coleciona relógios antigos?
R - Não, não coleciono. Eu tenho... eu lamento... não. Eu lamento não... Uma época eu comecei mas, eu tenho bons amigos que colecionam e eu ajudei eles muito a ter. Sabe por que é que eu não coleciono? Porque eu sou tremendamente relaxado. Então eu sou capaz de guardar um relógio e não saber aonde eu pus. Então eu não coleciono mesmo.
P - E que relógio o senhor usa no pulso?
R - Eu tenho um Times, que é o segundo relógio, eu diria hoje que o Times é o relógio mais vendido pro jovem no Brasil. É um relógio que uma empresa americana colocou escritório aqui montado e também nós somos uns dos maiores representantes desse relógio. Existem muitos relógios em diversos tipos de lojas mas que não são relógios Times, mas que o pessoal vende sem garantia, meio assim, o pessoal que traz de fora, tal. Mas definitivamente como eu só trabalho, eu tenho lojas e só trabalho com empresas que me dão cobertura, nota, garantia, e tenho um nome a zelar. Então, os meus preços podem não ser os melhores mas são os melhores... o melhor atendimento e a garantia que a pessoa pode ter com a gente e o laboratório que a gente tem, que é a oficina de conserto de relógios, como eu falei. P - O senhor tem algum comerciante na família?
R - Tem meu irmão do meio, que tá em São José dos Campos, que é o Simão, que é um grande comerciante, grande vendedor. Outro meu irmão mais velho foi um comerciante, 15 anos de idade montou a primeira fabriquinha de camisa. É muito arrojado. Mas ele estudou agrimensura e depois passou pra, entrou no ramo de reflorestamento e hoje tem fazendas, tal. E tá muito bem, felizmente. É também um grande comerciante mas em outra área.
P - E dos seus filhos, algum deles se dedica ao comércio?
R - Eu tenho...
P - Fala um pouquinho dos filhos do senhor.
R - Falar dos meus filhos. Bom, falar dos filhos. Eu tenho... o filho mais velho que é o Auro, Auro Danny Lescher. O filho mais velho tá com 32 anos. Ele é um médico, psiquiatra, adora a profissão dele. Ele é daqueles abnegados. O Auro me conta histórias incríveis das coisas que acontecem no Brasil. Ele é voltado à área de drogas e AIDS. Por que AIDS? Porque aquela droga injetável que depois passa o vírus e tal. Então ele trabalha na Organização... Organização Mundial de Saúde, é chefe da Proad. Proad é aquele centro da Escola Paulista de Medicina que ajuda os drogados, enfim. E tem o consultório dele. Ele viaja muito pra fora, quer dizer, é convidado, um orgulho que eu tenho, né? E a minha mulher mais ainda, ela diz que eu protejo a menina e ela protege ele, mas... Tem a do meio, a Simone, que ela fez Arquitetura mas não terminou o curso. E... mas... essa é uma ótima comerciante, sabe vender como ninguém. E ela tem uma lojinha no Shopping Iguatemi, pequena mas tem.
P - De que?
R - É, coisas de... é bichos de pelúcia, ela fabrica com minha mulher ajuda ela... nécessaries, coisas pra bebê, enfim. E o meu filho mais novo, que é o Sílvio, tá com vinte e sete... vinte e oito... 27 anos, trabalha na Top Time, mas ele pediu um tempo porque ele se formou em Cinema. Ele é cineasta e tem um estúdio fotográfico, ele trabalha hoje, tá trabalhando com o Cláudio... Cláudio, é até famoso o rapaz, é Elizabetick. Está no estúdio dele e gosta muito da área. Eu tenho medo que a Top Time vai perder um... um colaborador mas eu acho que ele vai ficar lá.
P - O senhor quer que os filhos, pelo menos um dos filhos...
R - Sabe, não adianta muito querer porque isso vai deles. Eu sinto pelo Sílvio, porque o Sílvio adora o que ele faz, adora cinema, fotografia. Ele tá muito bem na... na carreira que ele tá começando. E ele é muito bom também como... naquilo que ele fazia, porque eu disse pra ele: Você trab... quando ele começou ele não ganhava nada, aliás como hoje ele não ganha grandes coisas. Ele ganha da Top Time porque ele tem um pro-labore que eu faço questão de dar pra ele pra ver se entusiasma. Capaz dele voltar. Enfim, é o único. O resto. Simone tá na área dela e eu queria parar de crescer na... com lojas, mas acabei de comprar uma loja no West Plaza, que nós demos continuidade porque... é uma pena foi feita uma proposta muito boa, era um comerciante que se dedicou mais à joalheria, largou a parte de... ele já tinha montado a loja de relógios. E ele sentiu que... quem mais ele poderia vender? Seria a própria Top Time, que é o segmento, ele nos conhece, enfim. É mais uma. Eu queria parar, queria diminuir, descansar. Mas não Vamos lá, tocar. Ainda mais que vocês estão me incentivando com essa história do Museu da Pessoa, tal (risos).
P - Se o senhor pudesse mudar alguma coisa dessa sua trajetória aí, o senhor mudaria? O que o senhor mudaria?
R - Eu tive fazendo um balanço da... da minha vida. Eu digo que eu escrevi um livro, o livro tá em branco, por enquanto (risos). Não, mentira. Eu acho que eu pensei nisso também. Eu não posso reclamar, né, porque eu vim de uma família pobre, nada foi fácil pra mim. Eu sempre trabalhei. Desde os 11 anos de idade eu trabalho. O que eu consegui eu devo confessar que meu sogro me deu uma força, uma mão. Mas ele não me deu... ele me deu, vamos dizer, a ferramenta pra eu trabalhar. E o que eu consegui, não é nenhum absurdo, mas o que eu consegui foi com o auxílio meu e da minha mulher, que me ajudou muito. Minha mulher é sensacional. Estamos casados há 34 anos. Outro dia eu comprei um telefone celular e... eu precisava provar que eu era... foi no nome dela. Então eu trouxe um comprovante de residência, mas estava no meu nome. Ele disse: Não, precisava atestado de casamento, no dia que eu completei 34 anos. Eu olhei pro cara e falei: Olha pra minha cara, você não acha que eu sou casado com ela? (risos). Lembrei disso. Mas não adiantou, teve que mostrar a certidão. Então, realmente eu não me arrependo de nada, nada, nada do que eu fiz. É... eu tive sonhos de... uma coisa que eu sonhava ser médico, sabe? Outra coisa que eu sonhava... dar continuidade porque eu gosto de pintura, arte. De dar seqüência na carreira. Mas essa eu reservo pra, eu acho que ainda sou jovem, 50 e lá vai fumaça, eu ainda sou jovem, eu chego lá. Então eu vou... no momento eu quiser descansar eu vou pegar as minhas telas e pintar. Aí o artista que o Brasil perdeu como ator vai receber um grande pintor, vocês vão ver (riso). Aguardem.
P - O senhor faz isso nas horas vagas?
R - Faço, mas com menos freqüência. Eu devo voltar... Eu não deixo de fazer cursinho não. Outro dia eu fiz um curso de pintura, onde tinha uma moça genial, a Roseli, e eu fui convidado por uma outra conhecida: Vai fazer, tal. Eu fiz coisa que a consciência pesou um pouco mas depois eu desisti, eu trabalhei tanto porque que eu não posso me dar ao luxo de às 2 e meia da tarde ir num... num estúdio na casa dela e ficar das 2 e meia às 5, durante dez dias eu fiz esse curso, não, que nada, foi um mês. E gostei e vou voltar de novo. As minhas colegas de trabalho eram como as do Sílvio Santos, eu... eu era o único, eu e mais um outro rapaz, eram os únicos homens, o resto tinha mais umas 15 mulheres. Mas foi muito agradável, muito bacana, muito gratificante. E é nessas horas que eu me incentivo de novo com a pintura e faço coisa bonita. Eu mesmo reconheço.
P - Que tipo de...
R - Ah, eu gosto do... do clássico. Eu gosto da Era Vitoriana. Enfim, eu pinto não arte, não coisa moderna. Eu sou mais voltado ao clássico.
P - A gente precisa fazer uma última pergunta.
R - Pode.
P - É... O que o senhor achou de dar seu depoimento e contar a sua experiência de vida nessa entrevista?
R - Seu nome é...
P - Valéria.
R - Ah, Valéria. Porque eu tive contato com outras pessoas também, eu fiz confusão. Quando a Valéria veio a mando do... de um amigo comum, eu percebi que era uma coisa séria. O Museu da Pessoa me soa muito bem. Existe o Museu do Homem, acho que em Paris. É... Como se trata da Federação da Indústria, do Comércio e tal, eu acho que é uma entidade séria. Normalmente... porque pra eu sair do meu negócio, como eu e outros comerciantes saíram. Eu tenho outras coisas pra fazer, sabe? Aquelas.... ainda depende de mim, eu assinar o cheque, ir depositar no banco. Eu tenho quem faça isso mas eu tenho que estar por trás. Eu sabia que eu ia perder possivelmente algumas horas mas eu devo, confesso a vocês, que foram horas muito gostosas, boas, eu me dediquei a... a separar fotos, a minha mulher me ajudou porque eu senti que era uma coisa muito boa. E pra outra geração. E se posso ajudar, com a idade que eu tenho, com os anos que eu passei no comércio, eu... eu acho que tenho que contribuir, eu contribui de alguma forma e vou contribuir possivelmente com essa entrevista com... com os dados que eu posso passar. E quem precisar de ajuda no meu ramo pode solicitar. Então eu, sinceramente, vocês estão de parabéns. É... eu senti que era coisa séria, e senti que era coisa boa e saio daqui mais confiante ainda. Que não foi em vão, que foi uma coisa muito boa. É isso aí.
P - Muito obrigado.
R - De nada.
P - Muito obrigada.
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