“Eu nasci e cresci em Graúna. Gostava muito de brincar de amarelinha e bandeirinha. Meu sonho, grande sonho, era fazer uma festa de aniversário. E minha mãe, minha família é humilde, aí ela falava bem assim: ‘Deixa pra festa de quinze anos porque eu não tenho condições pra ficar fazendo festa sua e, se eu fizer agora, aí não faço a de quinze’. Aí eu esperei minha vida toda por uma festa só. Fizemos lá em casa, no quintal. Aí eu quis criar um enredo, contar a história da minha vida. Como se eu fosse nascendo, crescendo, brincando com a minha primeira boneca e, quando o tempo foi chegando, a minha primeira boneca ia se transformando num príncipe, e eu fosse apresentada ao meu namorado, meu primeiro namorado. Foi por causa desse príncipe que eu fui morar no Rio de Janeiro. Eu trabalhei de doméstica lá com dezenove anos pra fazer enxoval. Resolvi voltar porque estava sentindo muito falta de casa, não conseguia ficar longe. Mas casei e logo fiquei grávida do meu primeiro filho, que nasceu com um ano certinho de casamento. Aí fui trabalhar de vendedora até um dia que o presidente aqui da nossa comunidade, buscando melhorias para nós, falou de um curso. Eu e mais algumas mulheres fizemos curso de doces cristalizados e outros doces. Falamos ‘Vamos tentar vender pra comunidade’. Então fomos pra cozinha, uma cozinha da prefeitura. Preparamos licor, doces de compota, geleia e levamos pra exposição. Teve uma luta pra acertar o ponto da geleia de morango, que queimamos no começo. Aí começou esse negócio, essa luta. No começo tudo é difícil. Dá renda, mas não grande renda. E cada um tem sua profissão, e no pouco tempo que sobra é que tentamos ir pra cozinha. Por isso estamos lutando pra trazer a cozinha pra Graúna mesmo, pra comunidade. Tudo é difícil, mas é melhor do que ficar parada. E meu marido me apoia, porque é difícil sair de casa, com filho na escola e tudo. Quando ele está em casa, ele que fica com as crianças,...
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“Eu nasci e cresci em Graúna. Gostava muito de brincar de amarelinha e bandeirinha. Meu sonho, grande sonho, era fazer uma festa de aniversário. E minha mãe, minha família é humilde, aí ela falava bem assim: ‘Deixa pra festa de quinze anos porque eu não tenho condições pra ficar fazendo festa sua e, se eu fizer agora, aí não faço a de quinze’. Aí eu esperei minha vida toda por uma festa só. Fizemos lá em casa, no quintal. Aí eu quis criar um enredo, contar a história da minha vida. Como se eu fosse nascendo, crescendo, brincando com a minha primeira boneca e, quando o tempo foi chegando, a minha primeira boneca ia se transformando num príncipe, e eu fosse apresentada ao meu namorado, meu primeiro namorado. Foi por causa desse príncipe que eu fui morar no Rio de Janeiro. Eu trabalhei de doméstica lá com dezenove anos pra fazer enxoval. Resolvi voltar porque estava sentindo muito falta de casa, não conseguia ficar longe. Mas casei e logo fiquei grávida do meu primeiro filho, que nasceu com um ano certinho de casamento. Aí fui trabalhar de vendedora até um dia que o presidente aqui da nossa comunidade, buscando melhorias para nós, falou de um curso. Eu e mais algumas mulheres fizemos curso de doces cristalizados e outros doces. Falamos ‘Vamos tentar vender pra comunidade’. Então fomos pra cozinha, uma cozinha da prefeitura. Preparamos licor, doces de compota, geleia e levamos pra exposição. Teve uma luta pra acertar o ponto da geleia de morango, que queimamos no começo. Aí começou esse negócio, essa luta. No começo tudo é difícil. Dá renda, mas não grande renda. E cada um tem sua profissão, e no pouco tempo que sobra é que tentamos ir pra cozinha. Por isso estamos lutando pra trazer a cozinha pra Graúna mesmo, pra comunidade. Tudo é difícil, mas é melhor do que ficar parada. E meu marido me apoia, porque é difícil sair de casa, com filho na escola e tudo. Quando ele está em casa, ele que fica com as crianças, põe comida. Meu marido e meu pai também. A gente vê que lutando a gente consegue, a gente vê que lutando as coisas melhoram pra gente. Porque a gente em casa, dona de casa, a gente fica muito assim, com a mente muito fechada. Inclusive, ali no projeto eu vi o quanto o estudo faz falta. Uma coisa que me marcou é que eu não gostava muito de estudar quando criança. A escola não ficava longe de casa, eu ia até a pé. Mas não estudei direito, parei na quinta série e já tinha dezesseis anos. Agora que estou voltando, vendo a importância. E, agora, já estou pensando em faculdade: uma hora eu penso pra estudar pra ser professora, outra hora eu penso em enfermagem. Vamos ver… Nunca é tarde pra aprender, nunca é tarde pra lutar, nunca é tarde pra vencer.\"
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