Retiro dos Artistas
Depoimento de Evaldo Teixeira Lemos
Entrevistado por Rosana Miziara
São Paulo, 13/04/2016
Realização Museu da Pessoa
RDA_HV05_Evaldo Teixeira Lemos
Transcrito por Mariana Wolff
MW Transcrições
P/1 – Evaldo, você pode falar o seu nome completo?
R – Evaldo Teixeira Lemos.
P/1 – Qual que é a sua data de nascimento?
R – Onze do três de 32.
P/1 – Em qual cidade você nasceu?
R – Rio de Janeiro.
P/1 – E os seus pais, são do Rio de Janeiro?
R – Todos os dois, tanto o pai, quanto a mãe.
P/1 – Como que é o nome do seu pai?
R – Meu pai é Demétrio Lisboa Lermos. Trabalhou com o Trajaninho.
P/1 – Os seus avós, os pais deles, os pais dos seus avós, os pais do seu pai são do Rio de Janeiro?
R – Não, meus avós eram baianos, tanto minha avó, vovó Pequena, quanto vovô Antônio.
P/1 – Você lembra o que o seu avô fazia?
R – Ele trabalhava no __00:05:06___, aquela época dos __00:05:11___, [cantando]: “Eu peguei um ita no norte para vim para o Rio morar”, ele era do __00:05:19___.
P/1 – E eles continuaram morando na Bahia ou vieram para o Rio de Janeiro?
R – Não, eles vieram para o Rio de Janeiro, já tinham o meu tio Edgard, que é o tio mais velho, aí veio e nasceu o meu pai. Com dois anos, eles foram de volta para a Bahia e o meu pai foi também, mas o meu pai só veio para o Rio com 21 anos de idade, que ele estudou, que tinha uma tia, tia Laurinha que cuidava deles, dele e do tio Edgard e aí, ele veio para cá, começou a… como a gente chamava na época, ele era __00:06:13__. E aí, de bengala, que era bossa andar de bengala, chapéu de palha e ia a teatro, ele tinha uma ligação com o teatro, por assistir, né?
P/1 – E a sua mãe? Como é o nome dela, mesmo?
R – Hilda Teixeira Lemos.
P/1 – Os pais dela eram do Rio de Janeiro? Seus avós maternos?
R – Não, minha avó, que eu não conheci, era de Campos e o meu tio-avô também de Campos. A minha avó era pianista, ela tocava na época, os filmes eram mudos, então tinha quem tocava piano para dar áudio para os filmes, né? E ela era pianista desse jeito. Ela tocava piano para os filmes.
P/1 – E você sabe como seu pai e sua mãe se conheceram?
R – Não tenho a menor noção. Eu só me lembro o seguinte, ele era remador do Vitoria, lá na Bahia e aí, ele veio para o Rio, tinha um amigo dele que remava junto com ele, que veio também, que acabou casando com a irmã do meu pai. Ele é pai do Carlos Lemos, que o Carlos Lemos foi editor do JB, né? E é um dos grandes… foi, que ele morreu há pouco tempo, inclusive, foi um dos grandes jornalistas desse país, né? E ele passou a ser… porque ele não é Carlos Lemos, ele é Carlos Lemos Leite da Luz, mas na época que ele começou no jornalismo, estava na época da revolução e tinha um jornalista chamado… que era Lemos, não. um jornalista chamado Luz e tinha o Carlos Luz que foi presidente da republica, né, do Brasil. Um pequeno período, né? Que o Carlos começou a trabalhar na Tribuna da Imprensa. Tribuna da Imprensa, não, não foi na Tribuna da Imprensa da imprensa, não. Ah, me esqueço o jornal, agora. Um jornal em que escrevia muito… não lembro. Como eu te disse, tem algumas coisas que…
P/1 – Quando o seu pai e sua mãe se casaram, eles foram morar onde?
R – Nós morávamos em Engenho de Dentro.
P/1 – Foi a casa onde você cresceu?
R – Até os cinco anos de idade.
P/1 – Você lembra dessa casa, não?
R – Não.
P/1 – E depois?
R – Com cinco anos de idade, meu pai veio morar em Copacabana e tem um episodio que eu vou contar. Eu tinha dois anos de idade e tinha sido meu aniversario na véspera e meu pai era integralista e tinha no bolo, minha mãe tinha feito um bolo em que tinha a bandeira do Brasil e a bandeira integralista. Aí, vieram… não quero dizer, então, vieram na minha casa para levar o meu pai e acabaram levando o meu pai, né, que o meu pai era chefe do Integralismo do Engenho de Dentro. Aí, o cara veio, viu… antigamente, tinham aquelas cristaleiras, ele veio e tirou a bandeira integralista, aí eu cheguei lá, peguei a bandeira brasileira e disse: “Uma sem a outra não serve”. Tinha cinco anos de idade, quer dizer, não tinha cinco, não, não chegava a cinco, cinco foi quando eu vim para Copacabana. Essa é para ser contada (risos).
P/1 – Em quantos irmãos vocês são? Tinha o seu irmão, já, você…
R – Não, não tenho irmão, não, eu sou filho único.
P/1 – Ah, eu entendi que tinha um irmão, lá.
R – Não, eu sou filho único.
P/1 – Ah, seu p[aí tinha um irmão que já tinha vindo.
R – Meu pai… eles eram 11 irmãos, morreram dois, o tio Evaldo, que foi por isso que minha avó pediu ao meu pai quando eu nasci, que botasse o nome de Evaldo, porque minha avó não viu o Evaldo, filho dela, porque ele tava no Ceará com a tinha Giginha e acabou morrendo lá de crupe, naquela época, se morria de crupe e ele acabou morrendo lá e ela ficou sentida, aí quando eu nasci, ela: “Bota o nome dele de Evaldo”, e aí, eu fiquei Evaldo. Evaldo é um nome nordestino, no Nordeste, tem Evaldo à beça. É um nome nordestino.
P/1 – E você é filho único, como é que você era criado? Você tinha muitos amigos, com quem você brincava?
R – Eu sempre fui tipo, eu era muito eu, eu comandava muito a gente da minha época, a rapaziada da minha época, né, por[que eu era líder, sempre fui um líder. Quando eu comecei a trabalhar no… no… Jornal do Brasil, não, me perdi. Desculpe. O quê que eu tava falando?
P/1 – Você sempre foi líder.
R – Sempre fui líder. Então, eu tinha time de futebol, eu era capitão, tinha time de futebol de salão, eu era o capitão, treinava o pessoal. Treinava o Trajaninho, ele treinava comigo.
P/1 – Quando você era pequeno, você brincava na rua? Como que eram as brincadeiras?
R – Não, não tinha na rua, não tinha. A gente começou a morar… depois que nós saímos de lá do Engenho de Dentro, viemos para Copacabana, morávamos em apartamento, aí não tinha negócio de rua, não, eu acho que a gente se virava. Tinha a praia, né, era quase de frente para a praia, então, eu vivia na praia. Tanto que inclusive, meus dois filhos, fui eu que ensinei eles a nadar, já sem perna, que eu perdi essa perna com 35 anos e não deixei de trabalhar por causa disso, né? Eu que ensinei meus dois filhos a nadar, a Monica e o Evaldo.
P/1 – Como que era Copacabana quando você era pequeno?
R – Copacabana era um espetáculo! Inclusive, o meu avô na época em que ele veio para o Rio de Janeiro, que nasceu meu pai, ofereceram para ele comprar um terreno em Copacabana, dois mil réis. Ele disse: “Você acha que eu vou comprar dois mil réis de areia?”, porque até onde ofereceram para ele, era areia, na Anita Garibaldi. Então, foi assim.
P/1 – Com quantos anos você entrou na escola?
R – Na escola, eu comecei a estudar com seis anos de idade no colégio chamado Guido de Fontgalland em Copacabana. Depois… não, primeiro no Doutor Cocio Barcelos, mas eu não me lembro o local, eu sei que era em Copacabana, mas eu não me lembro direito o local. Aí depois, eu passei a estudar no Guido de Fontgalland já no terceiro ano primário, que antigamente, era primário, não interessa… aí, eu fui fazer o exame de admissão, antigamente, você fazia o primário e depois, fazia o exame de admissão para poder passar para o ginasial. Eu fiz o exame de admissão e passei em seis meses, era nas férias o exame de admissão e eu passei de primeira e comecei a estudar ginásio no Santo Inácio.
P/1 – Você ia como para a escola no primário?
R – No primário, eu pegava condução normalmente, porque eu já tinha dez anos, normalmente, inclusive, numa briga com um companheiro de escola, ele me jogou uma lata de lixo, uma tampa de lata de lixo, que bateu… eu tenho até hoje a marca, que bateu na minha cabeça, quebrou a minha cabeça, aí eu fui embora para casa, minha mãe já não tava trabalhando, que a minha mãe era contramestre de costura, aí ela me levou para o Miguel Couto e no Miguel Couto me deram aquela… que hoje também não dá mais, como é?
P/1 – Antitetânica?
R – Uma antitetânica e aí, eu fui para a casa. Quando eu cheguei em casa, começou a dar reação da antitetânica, eu virei um bicho de brotoeja, não era brotoeja, era… acho que é brotoeja, mesmo, todo empolado, o corpo inteiro empolado, tanto que a minha tia me pegou nu, me levou para o banheiro e me botou embaixo do chuveiro para ver se eu parava de me coçar. Agora foi até bom você falar nisso, eu falar nisso, porque eu me lembrei que eu tô com um problema de… agora que eles estão me curando com… me levaram no… que aqui é formidável, aqui é formidável, eles cuidam da gente como se a gente fosse criança, eles me levaram para um… como é?
P/1 – Ambulatório?
R – Não.
P/1 – Enfermaria.
R – Não, como é o nome do médico?
P/1 – Dermatologista.
R – Dermatologista, que me receitou um remédio muito bom que me curou, mas ainda tem marcas.
P/1 – Vamos voltar lá para o primário. Do quê que você gostava na escola de fazer?
R – Futebol. Mas eu nunca fui muito bom jogador de futebol, não. Eu fui muito bom jogador de futebol de salão, mas futebol, mesmo, eu não fui muito… não era muito a minha, não, embora eu jogasse e jogava sempre no gol, eu era como se fosse… eu era goleiro e capitão do time, como sempre, mandava na turma, na garotada.
P/1 – Qual a profissão do seu pai?
R – Meu pai começou como vendedor de sapatos. Aí, ficou desempregado, depois de um certo tempo, demitiram ele, aí ele voltou… ficou um tempo desempregado, aí, tinha um cidadão, que na minha opinião foi o maior homem que o Brasil já teve, chamado Getúlio Vargas que criou os IAPs, era IAPC, IAPM, IAPB, enfim, todos IAPs, Instituto de Aposentadoria de Pensões dos Comerciários, Industriários e por aí a fora e ele foi trabalhar… um amigo do meu tio indicou meu pai e o meu pai foi, tanto que a matricula do meu pai no IAPC era 123, você vê, tinham 123 funcionários, só. E aquilo se tornou um mundo, né, IAPC, que hoje é INPS, aliás, nem é INPS, quando começou era… não me lembro, não.
P/1 – Inamps.
R – Inamps, depois é que passou a ser esse que me aposentaram.
P/1 – Como é que foi a sua entrada no Santo Inácio?
R – Santo Inácio?
P/1 – É.
R – É de padres, tinha muita criança, eram cinco turmas no primeiro ano ginasial, turma um, dois, três, quatro e cinco. Eu era da turma dois. E a gente jogava no intervalo, tinha um campo grande e tinham os campos pequenininhos, eram cinco ou seis campos pequenos e a gente jogava muito futebol no intervalo, né, mas eu nunca gostei muito não, mas eu jogava, senão, eu não fazia esporte, né?
P/1 – Tem algum professor dessa época que te marcou?
R – Não. Não lembro de nenhum… nada da época do Santo Inácio.
P/1 – Existia alguma expectativa do seu pai ou da sua mãe para que você seguisse alguma carreira?
R – Não. Sempre me deixaram muito à vontade.
P/1 – E você tinha alguma coisa assim: “Quando eu crescer, eu quero ser tal coisa”? Você pensava em alguma coisa?
R – Não. Eu sempre ia muito pela cabeça do Carlos Lemos, que nós fomos criados juntos, eu, ele e a irmã dele, a Vitorina. E o Carlos começou a trabalhar no JB, aliás, foi na época da Copa do Mundo de 58, acho que foi, que o Brasil foi campeão na Suécia, foi nessa época, ele: “Vem trabalhar comigo no JB”, o Jornal do Brasil estava começando a ser jornal de noticias, porque o Jornal do Brasil, quando começou, era de classificados e aí, eu fui trabalhar no JB. Trabalhei um pouco tempo, mas não…
P/1 – O quê que você fazia no JB? Com quantos anos você estava?
R – Ah não lembro. Você tá querendo demais (risos).
P/1 – O quê que você fazia lá? O quê que você começou fazendo?
R – Eu era redator, repórter e redator. Quando eu fui para lá, logo depois, eu fiz uma matéria, veio para o Brasil um daqueles navios que os Estados Unidos mandavam para… exportavam, né, e aí, eu fui… me escalaram para eu ir entrevistar o pessoal do… os americanos, né? E aí, eu consegui descobrir… eu não sei como é que eles chamam, que era padre, mas que tinha sido artilheiro de navio na época e aí, eu consegui isso e ainda nessa mesma matéria, eu consegui descobrir, o americano chegava, as mulheres iam todas, as mulheres vagabundas, né, iam todas para lá, né? E aí, eu consegui ver um namoro de um… a gente ia de lancha para poder chegar no navio, né, aí nós mesmos que tirávamos fotos, né, e aí, eu fui tirando foto e deu primeira página do Jornal do Brasil. Aí, eu fiquei todo orgulhoso, né, primeira página do Jornal do Brasil.
P/1 – Quando que você começou a torcer para o seu time?
R – Botafogo? Com seis anos de idade, quando…
P/1 – Por causa de quem?
R – Por causa do meu pai. Nós viemos para Copacabana e era relativamente perto do campo do Botafogo, que ainda existe até hoje, mas já não é mais a mesma coisa. Aí, meu pai me apresentou, me levou para lá e eu fui ver jogo, tal e coisa. Aí, passado um tempo, eu já com dez anos ou 11 anos, uma coisa assim, estreava um time no Rio de Janeiro chamado Canto do Rio, que era em Niterói. Embaixo, no apartamento de baixo, morava o Aimoré Moreira, um argentino chamado Santa Maria e tinha mais um outro jogador que eu não me lembro. Aí, eles me levaram para ver a estreia do Canto do Rio, para ver o jogo, falou com os meus pais, os meus pais disseram: “Pode ir”, aí eu fui assistir o jogo da estreia do canto do Rio lá em Niterói.
P/1 – Aí foi.
R – Aí, fiquei Botafogo até hoje. Dois dos meus netos são botafoguenses, um é o mais velho, vai fazer 24 anos agora, tem 23 anos e o outro que tem 16, e que joga futebol e que é goleiro, como eu fui. Ele é muito bom jogador, vai… eu tô querendo levar ele lá, mas é complicado para mim levar ele, porque eu levaria ele… principalmente agora que eles estão treinando lá em General Severiano, né? Eu levaria ele lá, mas é complicado para mim, dependo de alguém. A pior coisa do mundo é você depender de alguém para qualquer coisa.
P/1 – Você lembra de quando foi a sua primeira namorada?
R – Minha primeira namorada? Eu namorei muito (risos), não sei te dizer quem foi, não. Eu sei que era em Copacabana, um edifício que tinha sido construído na rua Toneleros, que tinha sido construído naquela época, tanto que nós fomos morar ainda com tapume, ainda. Foi um bom período, porque… para você ter uma ideia, conhece a rua Toneleros? Hoje é um tráfico danado, né? Nós jogávamos futebol em todo domingo, a gente jogava futebol, de vez em quando, passava um carro, a gente parava para o carro passar, para você ver como era a diferença daquela época para a época de hoje. De vez em quando, passava um carro, a gente tinha que parar para ele passar. Aí, depois, foi aquela loucura que era a rua Toneleros, que é um inferno, né? Nós fomos os primeiros moradores do primeiro edifício da rua Toneleros, foi onde nós morávamos.
P/1 – Aí, você entrou no Jornal do Brasil, você ficou quanto tempo lá?
R – Primeiro, eu fiquei pouco tempo. Esse tempo que eu falei da foto, não sei que, fiquei muito pouco tempo, porque eu gostava… não me ambientei muito com o jornal, né?
P/1 – Nessa época que vocês tinham um time de futebol?
R – Não. Não, nessa época, não, nessa época era o princípio do Jornal do Brasil, não me lembro, não poso te precisar a época, a data, mas era o principio do Jornal do Brasil, como eu disse para você, quando o Jornal do Brasil estava se transformando em jornal diário, deixando de ser só… como é? Aí meu Deus, deixando de ser jornal de classificados. Foi muito no principio. Mão me… não deu certo. Aí muito depois, é que eu passei a ser jornalista no Jornal do Brasil. Outra vez, o Carlos Lemos tinha assumido… ele era o… o Alberto Dines era o editor e o Carlos era o subeditor. Aí, eu fui para lá e comecei a trabalhar na Rádio Jornal do Brasil, mas que era tudo num andar só. Eu comecei a trabalhar lá. Aí, eu comecei a gostar.
P/1 – Na Rádio?
R – É, na Rádio.
P/1 – O quê que você fazia?
R – Serviço de Utilidade Pública da Rádio Jornal do Brasil e… Como é? É um banco que eu me esqueço o nome porque acabou logo, Serviço de Utilidade Pública do Bando do Estado de Minas Gerais e Rádio Jornal do Brasil. E eu era redator. Eu sempre redigia muito bem, sempre. E aí, eu comecei a…Quando o Rio de Janeiro fez aniversario não sei de que quantos anos, eu trabalhava lá, e aí, (corte no áudio), eu tinha uma memória de cão, e eu, como era redator, porque eu redigia a minha matéria e como é que se diz? Lia a matéria do outro, do outro jornalista que fazia, que se chamava Cesarion Paxedes, que depois acabou sendo um dos grandes jornalistas do Jornal do Brasil, antigo, né? Eu já tinha saído. Então, eu trabalhava bastante, era só eu e o Cesarion e dividia, um sábado um, o outro sábado, o outro, então eu trabalhava um sábado sim, um sábado não. E eu trabalhava de tarde. Eu entrava… eu era funcionário público, meu pai tinha me colocado no IAPC, eu era funcionário público…
P/1 – Ah, você entrou no IAPC, então, seu pai te colocou lá?
R – Foi, meu pai me colocou lá.
PAUSA
P/1 – Você foi trabalhar no IAPC?
R – Trabalhei no IAPC e na Rádio Jornal do Brasil. Eu saía uma e meia do IAPC, que eu trabalhava de manhã cedo, entrava às sete horas da manhã, aí saía do IAPC e ia para o JB, que era do lado, era Avenida Rio Branco, 120 e Avenida Rio Branco 110, então, eu saía correndo para bater ponto, porque tinha ponto, né? Para bater ponto. Foi quando aí, me convidaram para ir trabalhar na TV Globo. Na segunda vez, que eu já tinha estado na TV Globo, antes.
P/1 – Você estava no IAPC e na Rádio Jornal do Brasil.
R – Na Rádio Jornal do Brasil.
P/1 – Com quem que você trabalhava no Jornal do Brasil, quem eram as pessoas com quem você trabalhava nessa época?
R – Eu gostaria de me lembrar, mas eu não lembro, não. Eu só sei te dizer que tinha um casal que era muito amigo do meu pai, mas eu não lembro. Gostaria de lembrar deles.
P/1 – Tem alguma cena marcante nesse período? Algum causo?
R – Não. Bom, foi na época logo que o Getúlio tinha sido reeleito e depois saiu, tinha um sujeito forte pra burro que era tesoureiro e chegou num sábado, eu saía às dez horas da manhã, eu entrava às sete e saía às dez da manhã, no sábado, a gente trabalhava menos, né? Aí, no meio da coisa, tinha um cara que chegou atrasado, que ia pagar e não dava, nós já estávamos com as portas arreadas, as portas eram portas de ferro que você enxergava tudo o que acontecia do lado. Aí, um cara começou a falar: “Ah não sei o que… esse viado é surdo?”, eu levantei, com a mão esquerda, eu levantei a grade de ferro que era pesada pra burro e dei um soco. Aí, foi um bafafá danado, né? Aí foi que eu sai de lá e fui trabalhar junto com o pai do Carlos Lemos lá na Galeria dos Empregados do Comércio.
P/1 – O quê que você fazia lá?
R – Eu era chefe, como sempre, chefe. Eu tomava conta de manhã cedo, às sete horas da manhã não ia ninguém, né, só eu e porque na época, os carros, os caminhões só podiam ir até às sete horas da manhã, então desciam os caminhões, aqueles ventiladores de teto pesadões e outras coisas e controlava o material do estoque, eu trabalhava no almoxarifado e controlava o estoque. Eu ajudava os caras, né, sete horas da manhã, você tinha que botar tudo no meio da calcada e trazer para dentro, porque não podia ficar mais nenhum carro na Avenida Rio Branco, né?
P/1 – Mas aí, você já tinha saído do IAPC?
R – Não, isso no IAPC.
P/1 – Ah, isso no IAPC?
R – Isso no IAPC, antes da Globo, mas junto com o Jornal do Brasil, né?
P/1 – Nessa época, quais eram os lugares que você frequentava, de lazer…?
R – Eu ia muito a boates na época, né? Cangaceiro, onde eu conheci a Helena de Lima.
P/1 – Como que era o Cangaceiro?
R – O Cangaceiro? Era um barzinho na rua Fernando Mendes em que ia muita gente e eu ia sempre lá, inclusive, quando chegava às cindo horas da manhã, fechava e aí, ficava só a turma que cantava, de música. Dolores Duran, Marisa Gata Mansa, Helena de Lima, Miltinho e tinha um pianista que era um compositor chamado, o apelido dele era Cabeleira, era o Luís Cabeleira Reis. Inclusive, na época, um daqueles dias, ele chegou lá… porque a gente só ia depois de nove, dez horas da manhã, que a gente saía de lá, a casa fechada. Aí, o Cabeleira sentou-se no piano, que ele era pianista e começou a fazer uma musica que foi feita na hora e que existe até hoje e é um dos grandes sucessos. [Cantando]: “Cara de palhaço, roupa de palhaço, pinta de palhaço, foi esse o meu amargo fim. Cara de palhaço, roupa de palhaço, pinta de palhaço foi o que eu arranjei para mim. Estavas roxa por um trouxa pra fazer cartaz, na tua lista de golpista tem um bobo a mais. Cara de palhaço, roupa de palhaço, pinta de palhaço, foi o que eu arranjei para mim”. Ele fez isso na hora. Aí, passou a música para o Miltinho cantar, foi o Miltinho que começou a cantar.
P/1 – E como que você conheceu a Helena de Lima?
R – Indo sempre no Cangaceiro. Aí, fizemos uma amizade boa. Amizade mesmo não tinha, porque na época, ela namorava um jogador do Vasco da Gama, da seleção brasileira chamado Maneca. E aí, ela era e é até hoje muito direitinha, né, mas nós não tínhamos namoro, não, eu levava ela em casa, ia na casa dela, mas a gente não tinha contatos maiores.
P/1 – E quando é que vocês namoraram?
R – Não, só na amizade, mas ela era a minha namorada, né? Naquela época, existia disso, né?
P/1 – Além do Cangaceiro, você ia onde?
R – De frente, no Drink’s Bar, tinha um outro em que tocava um pianista que tinha a Celi em LPs “Feito para Dançar”, que era no Arpege. E tinha um que de vez em quando eu ia, lá, que era naquela rua, Sá Ferreira? Não, Francisco Sá, que tinha um que foi feito lá e que cantava um cara que chamava ___00:44:59___, que era a copia exata do… que a filha morreu agora, há pouco tempo, um senhor pianista e cantor daquela época. Como é que é o nome dele, meu Deus? Tem LPs dele, tem coleções de LPs dele. Me esqueço o nome dele, agora. Uma pena não lembrar o nome dele, porque ele era maravilhoso, eu tinha a coleção de todos os discos dele. Não tô lembrando agora. Cantava muito em filme musical, na época, tinha muito filme musical e ele cantava em quase tudo que era filme musical. A filha dele morreu agora, ha pouco tempo. Eu já estava aqui quando ela morreu. Não lembro.
P/1 – Aí, você saiu do IPCA e foi para a Globo?
R – Não, aí como eu lhe disse, estava no JB e na Globo, né? Mas eu já tinha trabalhado em televisão, na TV Rio…
P/1 – A primeira televisão que você trabalhou foi na TV Rio?
R – Vamos dizer que foi a TV Rio, mas acho que nem foi a TV Rio. Como eu disse a vocês, eu fazia teatro e era um ator porcaria (risos)…
P/1 – Quando que você começou a fazer teatro?
R – Comecei a fazer teatro em 50 e… a TV Tupi começou em 53 e a TV Rio em 1954. Então, primeiro, eu fiz: porque antigamente, era teatro feito na televisão, mas eram peças teatrais e você via na televisão ao vivo, né? E fiz alguma coisa na TV Tupi, um, dois ou três espetáculos, mas eu fazia ponta, né, eu fazia ponta, eu tava começando, né? Aí, eu fui para a Rio, na Rio, eu já fazia… já tinha melhorado, né? Em 57, eu já tinha dado uma coisa e acabei sendo contratado e fazia os programas de humor naquela época.
P/1 – Que programas?
R – Não lembro. Os nomes dos programas eu não lembro, mas eu já fazia lá. E aí depois, acabei…
P/1 – Atuando?
R – É. Fazendo jornal, né, jornalismo. Aí, acabei entrando no jornalismo, acabei sendo, depois, tempos depois, na TV Rio, eu passei a ser chefe de reportagem e editor, diretor de jornalismo e edito. Aí, quando eu fui para a Rio em 1967, pouco tempo de vida tinha a TV Rio, com oito dias, eu fui acidentado, fui atropelado.
P/1 – Como é que você foi atropelado?
R – Meu chefe chamava… você deve conhecer à beça, pelo menos… chamava… aí meu Deus, eita ferro, vai esquecer o nome dele? O melhor colunista esportivo. Armando Nogueira. Meu chefe era o Armando Nogueira e o Armando Nogueira costumava fazer depois do jornal ter ido para o ar, depois do Jornal Nacional, ele reunia a equipe toda e fazia o comentário sobre o jornal que nós botamos no ar. Aí, eu resolvi: sabe o que mais? Hoje eu acabei mais cedo, vou embora mais cedo para casa. Na época, existia falta de luz, como é?
P/1 – Apagão?
R – Não era apagão, era racionamento. Tinha uma hora durante de manhã, na hora do almoço, mais ou menos e uma hora de noite. E eu sai exatamente na hora em que tava começando o racionamento da noite. Aí, era na rua Jardim Botânico. Aí, fui atravessar a rua para pegar o ônibus circular, aí vinha um carro apagado, porque era breu mesmo, a rua jardim Botânico era um breu mesmo, mesmo nos dias de hoje, ela é muito escura e ainda mais com falta de luz, né? E aí, um carro me pegou, me jogou no chão, era um Simca Chambord, que era um carro da época, né, e que ele tinha um bico de aço que me pegou aqui na virilha e que me seccionou a perna, deixou de circular sangue na perna. Aí, o normal, eu teria sido amputado aqui, mas aí, eles começaram a fazer… chegou um médio, o Doutor Flores que veio, eles convidaram ele para ser… como é o nome daquela rua? Para ser do Miguel Couto e ele tinha um aparelho que expulsava os coágulos. Então, começou… tanto que eu só fui amputado 18 dias depois de eu ter levado a pancada. Começou a expulsar os coágulos e aí, eu amputei. Porque é o seguinte, se vocês virem os cotos, todos eles são desse tamanho, assim, aqui em baixo, porque eles cortam aqui só e você segue. O meu foi todo para poder eu usar… e depois que me disseram, para eu poder usar a perna, porque senão, eu não podia usar a perna, aí cortaram aqui, seria cortado aqui em cima, aí eu não ia conseguir andar de perna mecânica. Então, cortaram aqui em cima, depois de amputar para poder usar a perna e eu usei a perna até nove anos atrás. Eu só deixei de usar a perna agora, porque já… eu tive cinco AVCs, quatro, eu nem tomei conhecimento deles, não senti absolutamente nada. Em 90 e… 96. Aí, o meu filho foi me visitar, eu estava dando aulas, que eu já tinha abandonado, já fiquei aposentado, aí o meu filho foi lá em Passo Fundo para me ver no hospital, porque eu tava no hospital, eu não sabia que tinha tido AVC nenhum. Meu filho é que descobriu e muito tempo depois foi que ele me falou. E o meu filho disse: “Vamos embora para o Rio”, eu disse: “Não. Você conhece seu pai, sabe que seu pai não vai romper o contrato de jeito nenhum. Eu tenho contrato até o final do ano, quando chegar no final do ano, que eu vou para o Rio para ver vocês no Natal, aí eu vou e fico de vez, que aí o meu contrato eu já encerro o contrato e não faço mais contrato”. mas disse: “Do que eu vou viver?” “Isso é por minha conta”, e o meu filho na época estava trabalhando na TV Record, ele trabalhou seis anos na Record, dois contratos de três anos cada um. Aí, eu fui morar com ele aqui no Recreio dos Bandeirantes, morei alguns anos com ele, quase cinco anos com ele. Aí, ele morava lá há 11 anos, o proprietário veio e pediu as contas para o filho, um parente dele qualquer para morar na casa que o Evaldo tinha usado por 11 anos. Aí, ele disse: “Você vai para a casa da Mônica”, Mônica é a minha filha mais velha “Então tá”, aí eu vim para a casa da Mônica, morando num apartamento, lá no Evaldo era casa e eu ficava no meio da rua, ficava vendo as pessoas passarem. No apartamento, você não pode ver ninguém, né, você não sai, é horrível morar num apartamento. E aí, eu não conseguia mais andar, no dia 30 de novembro de 2007, eu tive mais um AVC, aí esse eu senti.
P/1 – Vamos voltar só um pouquinho?
R – Vamos.
P/1 – Eu queria voltar, depois que você teve o acidente, você amputou a perna, quanto tempo depois você voltou a trabalhar? Como é que foi a sua volta para o trabalho?
R – A volta para o trabalho foi na Globo, mesmo, naquela época, podia se trabalhar três meses e depois de três meses, era contratado, assinavam carteira e tudo. O meu, assinaram a carteira na hora, logo depois do acidente.
P/1 – Como é que você voltou depois?
PAUSA
P/1 – Evaldo a gente parou em como é que foi a sensação de ter tirado a perna, como é que você… quando você caiu em si…
R – Eu levei um tombo, o Simca bateu em mim e eu cai no chão. Veio um ônibus e parou em frente, senão, passava por cima de mim, sorte que parou ali. Aí, me pegaram, me carregaram e me levaram para o carne frita, me levaram para lá, estava chuviscando, embaixo de uma marquise. Aí, me levaram para o Miguel Couto. Aí, o Armando Nogueira ligou para um médico maravilhoso, que foi médico do Botafogo e foi o médico que foi da seleção brasileira, como é? Daqui a pouco, eu lembro. Eles me levaram para lá. Aí, tiraram radiografias: “Tá tudo bem com ele, é melhor vocês trazerem uma roupa para ele”, porque a calca tinha sido estraçalhada, né? Aí: “Ele vai ficar aqui, amanha de manhã, vocês vêm e pegam ele e levam ele”, aí eu estava deitado na enfermaria e estava já dormindo. Aí, acordei com dor, queria levantar e não conseguia, gritei, aí veio um enfermeiro: “Fica quieto ai”, e me deu uma pílula, ou injeção, eu não me lembro exatamente o que foi. Aí, eu dormi mais um pouco. Às oito horas da manhã chegava um médico, que era um flamenguista doente e o meu médico era o Doutor Renato, Lídio Toledo o que me ajudou a amputar, que trabalhava com o Monteiro. Eu conheci o Lídio Toledo, ele era médico, era estudante de Medicina no Botafogo, onde eu fazia esporte, inclusive, tem uma… tá vendo aqui?
P/1 – Tô.
R – Isso significa que iniciando o esporte no Botafogo, o Botafogo tinha umas… como é que se diz? Que os saltadores usam, porque depois eu passei a ser corredor de… corria 110 e 400 com barreira, acho que foi por causa dessa pancada que ralou tudo e o Lídio Toledo que aparou o sangue, né? Depois lá, quando foi para a amputação, aí foi o Lídio Toledo, foi o Nalvo Monteiro com o Lídio Toledo. O Nalvo Monteiro foi muito… chegou p[ara mim, depois que eu fui amputado e disse assim: “Olha, não existe nada para você se tratar, o que existe é o seguinte, chamado tração”, hoje em dia não se usa mais isso, né, esticava você para você se esticar. Então: “Você vai ter que aprender a conviver com a dor, você vai sentir muita dor sempre, mas toda vez que você sentir muita dor, toma um comprimido, que passa e você segue em frente”, eu digo: “Tá legal”, e eu aprendi a conviver com a dor, tanto que agora que eu tô deixando… já sinto dor.
P/1 – E aí, eles disseram, aí você começou a sentir essa dor na perna, aí chamou a enfermeira…
R – Não, quando eu fui amputado?
P/1 – É.
R – Não, quando eu fui amputado, o seguinte, eu estava…
P/1 – No dia seguinte, que você foi tentar levantar e não conseguiu.
R – Não consegui. Aí, ele disse: “Você fica aí que daqui a pouco vem um médico”, o médico era o doutor Renato e o outro médico era um flamenguista e o Renato que era botafoguense e eu botafoguense, era uma gozação danada, eles iam lá para o meu quarto para me gozar, se o Botafogo ganhasse, ninguém aparecia (risos), se perdesse, era uma gozação. Mas tudo bem, fazia parte. Aí, num desses dias, estava um jornalista e radialista e locutor Glauco ___01:06:17____, que foi me visitar lá no Miguel Couto. Eu comecei a tremer, eu tremia o corpo todo, minha mulher, minha tia e o Glauco me segurando e não conseguiam, até que gritaram, aí veio uma enfermeira, que começou a me segurar. Hoje em dia, eu não sei como eles tratam isso, era como se eu tivesse morrido, a impressão que eu tinha é que eu estava no espaço, estava viajando no espaço. Aí, passou a tremedeira, tiveram que trocar o colchão, me passaram para um outro colchão, porque tava ensopado de suor. E eu depois voltei, aí dias depois, na perna tinha um risco de sangue, aí minha mulher: “Parece que tá podendo ser amputado”, parecia que eu já podia ser amputado, mas não, não era, não. O Médico veio: “Não, ainda não tá na hora”, ainda tive que esperar mais esse tempo. Aí foi como eu disse, 18 dias depois é que eu fui amputado. Mas de uma certa maneira, eu recebi bem, porque o meu primo, o Carlos Lemos, que eu já falei, ele chegou e disse… dia 11 era meu aniversário, foi oito de março que eu fui… no dia 11 era meu aniversario, quando teve a amputação, ele disse: “Vai dar tudo certo, vou trazer da Itália…”, que era o máximo, né, “… vou trazer da Itália, um sapato para você usar”, eu digo: “Tá legal, Carlos, tudo bem”. Aí, os médicos iam lá, todo médico ia ver antes da amputação, né, todo médico ia lá, levantava o lençol, mas eu não via, porque eu não conseguia me mover ainda e dizem que eu sentia, eu não sentia nada, apertavam minha perna, não sei o que, tal, eu não sentia nada. Aí, o Carlos falou esse negócio, eu disse: “Não, tudo bem, meu filho. Acontece o seguinte, a cabeça tá boa, eu vou conseguir trabalhar na máquina…”, como é que era? Máquina naquela época? Na máquina de escrever. “…vou conseguir escrever, tudo bem, segue a carruagem” e foi assim que eu levei na flauta a amputação. Mas depois que amputou, era dor toda hora, é como se dissesse assim: “Eu tô aqui vivo, bandido”, porque cada passo que eu dava, eu sentia dor. E foi assim 40 anos até eu não poder usar mais a perna, porque com o último AVC, deu junto com uma isquemia cerebral, aí começou a deteriorar essa perna aqui, só tinha ela, não dava para escorar, como não dá agora. Para eu tomar banho, existe uma enfermeira, aquela que veio com vocês aqui, que vem todo dia me dar banho, porque eu não consigo levantar. O máximo que eu consigo fazer é isso aqui e tem que sentar rápido, porque não dá, o joelho não aguenta mais. Para quem foi atleta, é duro. É complicado, eu fico assistindo as competições, agora vai ser um terror para mim, que vem as Olimpíadas e eu não vou poder acompanhar, não vou poder fazer, vai ser duro, vai ser difícil. A Globo vai estar anunciando com 63 canais, vamos ver se dá para pelo menos eu não ter tempo de pensar.
P/1 – Evaldo, e aí, como é que foi a sua volta para o trabalho?
R – Aí, o pessoal do jornalismo acharam que eu tinha perdido a perna e tinha perdido a inteligência, também, né? Então, me botaram para assistir todos os jornais, os grandes jornais, assistir e passar o mais interessante para a redação e foi assim que eu fui. Aí, esse que eu quero lembrar o nome também e não consigo, Ruy Vioti, consegui! Aí, eu fui para a TV Rio, fui lá e digo: “Vioti, eu tô na Globo e tô fazendo serviço de utilidade pública, que era o que eu fazia na Rádio Jornal do Brasil, gostaria de montar um programa aqui na Rio”, aí ele disse: “Tá legal, vou dar para o chefe do jornalismo, que ele vai analisar e ver se tem alguma coisa para você”. Aí, esse Oliveira Filho, eu fui, levei para ele, ele olhou, olhou: “Tá, já tem até um patrocinador para isso”, que a TV Rio nessa época já estava um bagaço, né, praticamente, não existia. “Vou botar você”. Aí, foi saber quem eu era na Jornal do Brasil. Aí, na Jornal do Brasil, fizeram um relato do que era o Evaldo Lemos, né? Aí, quando eu cheguei lá, disse: “Eu só vim aqui porque eu não tenho máquina de datilografia, eu vou fazer no sábado, porque no sábado não tem muito movimento, dá para eu fazer as duas coisas”, e aí, eu fui para lá na segunda-feira, nove e pouco da noite, depois que eu fiz o meu trabalho na Globo, eu fui para lá e levei tudo que eu tinha escrito para fazer no programa para ele, para o Oliveira. Aí, ele: “não quero isso, não”, e jogou para fora, jogou na mesa. Eu não sabia se batia nele, se dava um soco na cara dele, se eu xingava a mãe dele, eu não sabia o que fazia, eu fiquei parado, e eu ainda estava de bengala, não sabia se dava com a bengala na cara dele. Estava estreando, na época, por isso que ele não me deu muita atenção nessa hora, o Randal Juliano, que era da rádio Record de São Paulo e ele vinha fazer o programa aqui uma vez por semana, o Randal. Aí: “Isso aí é porcaria para você, você vai ser meu diretor de jornalismo, porque eu tenho que estar viajando pelo Brasil e aí, você vai comandar o jornalismo” “Então tá bom” “E o seu salário vai ser de mil e duzentos reais”, eu ganhava quase 800 reais, não chegava a 800 reais “Você vai ganhar mil e duzentos reais e vai receber pela caixinha do jornalismo”, eu tinha carteira registrada, tudo, mas eu recebia religiosamente no dia do meu pagamento pelo jornalismo. E aí, seguiu a carruagem. Chefiei durante um tempo, aí a TV Rio foi vendida, o Pipa era o dono da TV Rio vendeu para um homem de televisão, mas ele não me manteve, porque ele trouxe um de São Paulo. São Paulo sempre na minha vida, atrapalhando a minha vida. Aí, ele trouxe um de São Paulo e eu fiquei encostado, não me mandaram embora, mas também eu fiquei encostado. Aí, passou-se o tempo, eu acabei indo para a TV Tupi, fui trabalhar na TV Tupi e da Tupi, eu acabei indo para a Bandeirantes e eu estava na Bandeirantes…
P/1 – Na Tupi, você ficou em que cargo?
R – Fiquei como… eu era… como é que se diz? Eu era o divulgador da TV Tupi e fazia… fazia a TV Tupi, tinham dois dias que eu redigia o que ia acontecer na Tupi do Rio, porque a Tupi era em São Paulo, né, o que ia acontecer no Rio, eu fazia um relatório e mandava para os jornais. Nesse mesmo tempo, eu fazendo isso, surgiu um jornalista chamado Arthur da Távola, dava a maior força para o que eu mandava para ele, ele publicava na última hora. Aí, passado isso, teve um dia em que ele botou na integra o meu boletim. Aí, uma jornalista que estava trabalhando ainda não era SBT, estava trabalhando com o Silvio Santos, perguntaram para ela: “Você não quer vir para cá?” “Não vou para cá não, por que vocês não chamam o Evaldo Lemos, que é quem fez tudo isso?”, porque fui eu que lancei boletim de noticias, como a Globo tem hoje, fui eu que lancei com a Silvia Donato, com quem eu tinha trabalhado na Rádio Jornal do Brasil. A Silvia: “Convida o Evaldo, o Evaldo tá aí no Rio”, ela estava em São Paulo. Aí, como é o nome dele? Não sei o que lá Cerda, não me lembro o primeiro nome dele, ele já tá falecido, era o chefe da TV Tupi aqui no Rio. Aí, ele me levou para lá: “Onde você está?” “Tô trabalhando na TV Rio” “Quanto você ganha lá?”, aí eu disse, eu não me lembro, aí eu fui para lá ganhando o que eu ganhava na TV Rio, mas com a certeza de que eu ia receber, na TV Rio eu não recebia, sempre salário atrasado. Eu não recebia. Aí eu digo: “Então tá bom. Amanha eu venho para cá” “Mas como você vem amanhã?” “Eu venho amanha para trabalhar aqui com vocês”. Cheguei na Record, falei com o meu diretor, que era diretor tesoureiro e disse: “Se vocês me pagarem em dia, me pagarem todo meu atrasado e me pagarem em dia, eu continuo aqui, senão, eu vou embora para a TV Tupi”, aí eles ligaram para São Paulo, São Paulo disse que não, que não tinha como me pagar, a Record já pagava direitinho, mas a Record de São Paulo, a que era TV Rio aqui não pagava em dia, estava sempre atrasado. Aí, eu fui para a TV Tupi. E na TV Tupi, comecei a receber, depois de um certo tempo, começou a atrasar o pagamento. Teve um mês de Natal, que estava na TV Rio ainda e não tínhamos recebido, há seis meses que a gente não recebia salário, recebia de vez em quando, valezinho. Aí, nisso que recebemos esse vale, na véspera de natal, eu recebi um vale de 50 reais, mas não é 50 reais de hoje, não, é 50 reais daquela época que não era nada! E para os meus dois filhos, era um presente para cada um, um brinquedo para cada um da Estrela, que a Estrela que patrocinava tudo na época, né? Eu peguei esses 50 reais, fui embora para casa, quando eu passei na padaria, comprei 100 gramas de presento, 100 gramas de queijo, uma Fanta Laranja grande e um pão para fazer sanduiche. Foi a minha noite de Natal. Isso eu não esqueço nunca, 100 gramas de queijo, 100 gramas de presunto, enfim, e foi assim que ocorreu. Aí, eu fui trabalhar na Bandeirantes como eu falei. Estava na Bandeirantes, aí a Bandeirantes ia começar a transmitir só programas de São Paulo, então a gente que tinha alguns programas aqui no Rio, inclusive do João Roberto Kelly, a gente tinha uns programas que não iam mais para o ar. Aí, eu liguei para um amigo meu, com quem eu aprendi a trabalhar na televisão, chamado Mario Lucio Prado Vaz, aí eu liguei para ele: “Mario Lucio, a Bandeirantes… nessa alturas, vai sobrar para mim, porque o meu salário é o mais alto, então vai sobrar para mim, você vive me chamando para eu voltar para a TV Globo, agora eu topo. Se você me levar para a TV Globo, eu vou”, ele disse: “Então tá, vem para cá, mas me dá um mês para eu arrumar um lugar para você” “Tá legal”. Passado menos de um mês, ele liga pra mim e diz assim: “Evaldo, passa na Visconde de Candaraí e vai assinar sua contratação”, ei digo: “Tá legal”, aí eu fui na Visconde de Candaraí, que era o jornalismo… como que é o departamento de vocês?
P/1 – Tudo bem.
R – Aí eu fui para lá, preenchi o que tinha que preencher, levei carteira de identidade, ele disse: “Leva carteira de identidade e…”, como é? CPF. Aí eu levei para lá. “Depois que você acabar de se cadastras lá, venha aqui a minha sala” “Tá legal”. Aí, eu fui, ele trabalhava no oitavo andar, aí eu fui para lá. Subi, entrei na sala dele: “Eu quero saber o seguinte, o quê que eu vou fazer?” “Você vai ser meu assessor”, meu salário era igualzinho o meu salário da Bandeirantes “Mas eu tô caminhando para melhorar esse salario”, eu disse: “Tá legal”. Aí passado um mês e meio para dois meses, o Boni liberou a minha contratação. Aí então, eu pude passar a ser assessor, era como estava na minha carteira. Então, eu passei a ser assessor do Mario Lucio Prado Vaz, que era o diretor artístico de novelas. Aí, comecei a trabalhar com o Mario e fui aprendendo, porque o Mario Lucio sabia de tudo e ele foi me ensinando, me ensinando. Aí, passado um tempo, o Mario Lucio saiu.
P/1 – Qual foi o seu primeiro trabalho como assessor?
R – Eu assistia as três novelas, na época, seis, sete e oito. eu assistia as novelas e fazia o comentário para o Mario, porque tinha que reduzir, tinha um determinado tempo que eu não me recordo agora, de tempo, então tinha alguma coisa que tinha que ser cortada antes de ir para o ar, né, porque ultrapassava, outras não e outras menos. E era o que eu fazia com o Mario Lucio.
P/1 – Quais foram as três primeiras novelas? Você lembra delas?
R – Eu só me lembro de uma, que era Paraíso, que era do Benedito Ruy Barbosa. Só me lembro do Paraíso. Tinha uma outra, tinham mais outras duas novelas, que eu não me lembro, uma delas, quando morreu o Jardel Filho, e que o Manuel Carlos deixou de escrever a novela, não conseguia escrever aquela novela. Aí, a Globo… já era contratado da Globo o Lauro Cesar Muniz, aí o Lauro Cesar veio aqui para o Rio, nós ficamos conversando, como eu sabia toda a novela, eu passei toda a novela para ele, o quê que era, quem era quem, quem não era, quem comia quem, quem não comia ninguém, enfim, passei toda a história da novela do Jardel, que eu não me lembro o nome dela.
P/1 – Sol de Verão?
R – Sol de Verão. Aí, eu comecei a passar para ele e aí, o Mario Lucio saiu… tem mais alguma coisa aí que eu não tô… ah, ele passava a novela, ele mandava o script por ponte aérea, vinha na ponte aérea, pegávamos lá e trazíamos para fazer, para executar para o ar.
P/1 – Você fazia exatamente o quê?
R – Eu era o elo de ligação entre o Lauro Cesar Muniz e o departamento de novelas. Mas não deu muito certo isso. Aí, a Globo botou no ar, o Boni botou no ar um repeteco do Casarão bem reduzido para dar tempo de gravar a outra novela, uma novela nova para lá, que foi uma novela do Gilberto Braga, que eu não me lembro o nome agora.
P/1 – Louco Amor.
R – Louco Amor. Aí, eu comecei a seguir a novela e ia para edição, que tinha que agilizar, porque tinha dez dias para mandar antes da estreia, senão, eles cortavam, não davam autorização para a coisa. Aí, eu saía da gravação e a gravação ia até tarde da noite na época, era um grande amigo meu, que lamentavelmente, faleceu, Paulo Ubiratan.
TROCA DE BATERIA
P/1 – A gente parou, você estava falando que daí você trabalhou com o Paulo Ubiratan.
R – O Paulo Ubiratan é que comandava, era ele com o meu amigo… Paulo Ubiratan acabou sendo responsável por essa novela Louco Amor que ia entrar no ar, mas ele trabalhava junto com o… Roberto Talma. Acabou indo para o ar e eu comecei a trabalhar a olhar as novelas, olha de cá, olha de lá. Aí, com a saída do Mario Lucio, entrou um diretor chamado Sandrin, não consigo me lembrar o primeiro nome dele, entrou o Sandrin. Aí, eu já era gerente de produção, tinha passado a ser gerente de produção. Aí, o Sandrin fez o seguinte, Sandrin junto com um outro diretor que eu não vou dizer o nome dele nem que a vaca tussa, dividiu em três novelas com três gerentes de produção, um das seis, um das sete e um dos oito. O das oito era eu porque eu era o mais experiente deles. Das sete era um rapaz que eu não me lembro o nome e que logo depois, foi embora e o terceiro era o Carlos Henrique Cerqueira Leite, filho de um profissional antigo de televisão, tal. Muito bem, aí passado um tempo, o gerente das sete, a novela era… você que sabe das novelas, era a novela que ele fazia vários papeis, o Ney Latorraca, novela das sete.
P/1 – Não lembro.
R – Enfim, ele saiu, foi mandado embora, não tinha dado certo. Então, o Evaldo ficou fazendo as duas novelas.
P/1 – Um Sonho a Mais?
R – Um Sonho a Mais. Ficou fazendo as duas novelas. Passado um tempo, eu passei a ser gerente geral de produção, gerente de produção. Eu passei a ser gerente de produção das duas novelas e da terceira novela que era do Carlos… do Cerqueira Leite, eu fui… eu passei a ser das três novelas, pelo seguinte, porque o Cerqueira Leite estreava a novela, quando a novela estreava, era o Cerqueira Leite e aí, passava para mim, então, eu ficava com três novelas, fazendo três novelas. Das seis, das sete e das oito. E aí, eu fui fazendo. Aí, entrou um diretor para ser diretor de novelas, um diretor chamado Ruy de Castro Matos e ele não fazia nada, não assinava nada se não tivesse a minha rubrica. Eu digo: “Mas essa não é minha novela” “não tem importância, se não tiver a sua rubrica, eu não pago” “Então tá bom”, então, eu lia tudo que se tratava das três novelas, eu lia, passava, isso não dá, isso não dá, isso aqui dá… e passava para o Ruy e o Ruy assinava o que tinha que assinar e assim, eu fui fazendo. Aí, o Ruy Matos também saiu, mas aí, o Boni queria alguém para ficar comandando… aí já era… já tinha um titulo que eu não me lembro agora qual era o nome do titulo, já tinha um titulo… era gerente geral… era CGP, que era como eu disse, eu não vou dizer o nome dele. Aí, o Mario Lucio veio, já estava trabalhando com o Boni, o Mario Lucio veio e perguntou: “Evaldo, tem alguém que você acha que pode vim?”, eu digo: “Tem, tem um cara que mexe bem com dinheiro, sabe trabalhar com isso, só que ele não entende porra nenhuma de televisão”, mas o Boni gostou do cara e ele foi para lá para ser diretor geral de produção. Aí, passou-se um tempo, um amigo meu chamado… a gente chamava ele de Marisco, porque tinha sido da Marinha, a gente chamava ele de Marisco… oh meu Deus, eu não posso esquecer o nome dele! No decorrer, eu acabo lembrando, chegou para esse diretor e disse assim: “Mas vem cá, por quê que você não passa o Evaldo Lemos para diretor de produção também? Nós aprendemos com ele, ele que nos ensinou. Quase todos os gerentes de produção aprenderam com o Evaldo, bota o Evaldo lá” “Não.” “Por que não?” “Porque ele…”, aí meu Deus do céu, eu tenho a palavra certa. “Porque ele…”, não é não me respeita, não, ah…
P/1 – Mas ele quis dizer isso? depois você lembra a palavra, ele não deixou você entrar no cargo.
R – É, “Porque ele…”, não é não me respeita, tem um outro termo.
P/1 – Entendi, eu já entendi o contexto.
R – Aí, ele não tinha o que falar, não tinha o que dizer, né? Nesse intervalo, que o Mario Lucio saiu também, eu também sai, deixei de ser das novelas.
P/1 – Por quê que você deixou de ser das novelas?
R – Sabe que eu não sei. Até hoje, eu não sei porquê que eu sai das novelas, mas sai por mim. Aí, eu fui trabalhar com o outro que eu esqueci o nome, esse eu esqueci o nome, esse não é que eu não queira falar o nome dele, não, é que eu esqueci o nome dele. Ary Grande Neto Nogueira. Aí, ele montou um departamento chamado Departamento de Recursos Técnicos Artísticos, aí eu fui trabalhar no Departamento de Recursos Artísticos e tinham três gerentes de produção, que era eu, o Marcelinho, Marcelo… eu não me lembro o nome do Marcelo e um advogado, que eu também tô me esquecendo o nome, muita coisa já não lembro mais, sabe? Muita coisa eu quis apagar da minha cabeça e não me recordo bem. Aí, morreu a Guta, Guta era a que todos os atores ouviam. A Guta morreu e precisava de alguém para ir para lá, né? Aí, os velhos, os atores velhos, antigos foram falar com o Ary Nogueira que eles queria, fazer… quando não tivessem trabalhando numa novela, chefiava o departamento de elenco. Aí, quando foram falar com ele, aí o Ary disse: “mas eu estava pensando em botar o Evaldo lá no lugar”, aí a Eva disse: “Então, não se fala mais no assunto”, porque eu era… como é que se diz? A Eva Wilma era uma figura única e é ainda até hoje, né, a Vivinha. Então, eu fiquei no lugar da Guta. Aí, eu fiz uma remodelação total, lá…
P/1 – O quê que você remodelou?
R – Porque só tinha uma tela… não era tela, era um… como é que se diz? Era um guichê onde os atores… aí, eu tirei isso, fiz uma saletinha muito petititica, mas era uma saletinha e fazia os atores irem lá. Alguns, ainda remanescentes por justa razão da Guta…
PAUSA
R – Por justa razão, porque ela era querida deles todos, de alguns outros de mais acesso a ela, enfim, eu assumi aquilo ali, fiz esse negócio. Antigamente, faziam nas novelas, nos roteiros, não é nem nos roteiros, nos capítulos, não, nos roteiros, botavam assim para o pessoal que ia para a externa: “Encontro na Século XX”, Século XX é a padaria que tem do lado. Aí eu digo: “Não, não vai ser isso, não, vai ter que vir para aqui, para a sala, Século XX não é departamento da TV Globo. Então, como é que vai se encontrar na Século XX? Para isso, vem para cá, vem aqui para o departamento de elenco”, e assim foi. Passamos a ter um contato maior com os atores, até que surgiu o Projac, veio o Projac e com o Projac meio que cancelaram, aproveitaram também e meio que cancelaram o departamento de elenco lá. Aí, botaram alguém lá, mas os atores não gostaram muito, não quiseram, não davam a importância que deveria ter o departamento de elenco da Globo. Aí, onde que eu parei?
P/1 – Quando veio o Projac, eles queriam acabar com a…
R – Acabaram com o departamento de elenco da Globo e eu, por sua vez, estava assumindo uma senhora, vamos chamar de senhora, Marluce Dias Goncalves, que começou a mandar os velhos embora, eu não fui sozinho, foi um monte que foi comigo, que tinham acima de 60 anos, que ela dizia que acima de 60 anos não rendiam mais. Mas acontece que sem a gente, a Globo… a Globo, não, a televisão brasileira não existiria, porque fomos nós que fizemos a televisão brasileira. Como eu disse a vocês, eu comecei a ver a TV em 54, eu comecei a ver televisão, fazer televisão, como faço até hoje, quer dizer, até hoje já não faço mais, porque eu me desiludi, eu só assisti ainda alguns capítulos de novela depois que eu tava aposentado, porque meu filho trabalhava lá, meu filho e a minha filha trabalhavam lá, aí então, eu ainda assistia e ainda sabia de coisas, mas tudo ficava aqui. Entrava aqui e ficava aqui.
P/1 – Mas aí, a Marluce entrou e demitiu vocês?
R – A Marluce me demitiu. Porque eu tinha 66 anos, já. Já estava com seis anos de sobra. Ela me demitiu e aí, um amigo meu, Mario Lucio, né, foi perguntar para ela porquê que ela tinha me demitido: “Não, porque nós precisamos renovar a TV Globo, trazer gente jovem, gente nova”, mas só que essa gente jovem não entende porcaria nenhuma de televisão, nós, como eu disse, nós que fizemos a TV brasileira, eu e alguns que eu acho que ainda tem alguns que sobram, que ainda não foram como eu. A gente jovem dela foi para o espaço.
P/1 – E aí, depois disso?
R – Depois disso, eu me aposentei, quer dizer, aposentado eu já estava, porque antigamente, você era aposentado e podia trabalhar, né? Eu já estava aposentado, tanto que eu gosto muito, mas muito, muito do… como é? Esse presidente nosso? Do Lula, eu gosto muito do Lula e adoro a Dilma, adoro os dois. Quando eu me aposentei, eu ganhava 6,7, que no máximo, só ganhava até dez salários mínimos, era até sete salários mínimos, eu ganhava 6,7 salários. Hoje, eu não ganho três salários mínimos, porque eles foram cortando. Eu quero que você diga isso, porque eles foram cortando o nosso salário. Hoje eu não ganho três salários mínimos por isso que eu tô aqui.
P/1 – Posso voltar bum pouco na entrevista?
R – Pode.
P/1 – Quando que você se casou?
R – Eu me casei em 1962 ou 1963, não me lembro.
P/1 – Como que você conheceu a sua mulher?
R – Baile de carnaval. Começamos a dançar, aí eu fui levá-la, ela estava na casa da tia dela, no Méier e nesse intervalo, eu perguntei para ela: “Você quer casar comigo?”, no dia em que eu conheci ela. Aí, passado um tempo, era meu aniversário, que eu conheci ela no dia 29 de fevereiro, ano bissexto, aí no meu aniversario, 11 de março, eu fui lá para… “Vem cá para conhecer os meus irmãos e meu pai” “Tá”, aí eu peguei um ônibus e fui para lá. Naquele tempo, o ônibus levava cinco horas. Para Juiz de Fora. Aí, eu fui para lá. Mas aí eu comecei a me cansar, primeiro, eu ia uma vez por mês, depois eu passei a ir duas vezes por mês, depois passei a ir toda semana, aí eu já tava cansado, aí teve um dia que eu falei: “Você quer casar comigo mesmo?”, ela disse: “Quero” “Então tá, eu vou conversar com o seu pai”, aí eu chamei o professor…
P/1 – Como é o nome dela?
R – Elza Viana Lemos. Aí, eu chamei o professor, disse: “Professor, eu não aguento mais essa viagem para lá e para cá, eu quero me casar com sua filha”, porque ele queria que ela se formasse, porque ela tava fazendo o… ela tinha 16 anos, nessa época, ela tinha 16 anos e eu, 28. Aí, ele disse: “Mas eu queria que ela se formasse” “Mas eu não tô aguentando esse negócio de vai e volta”, eu trabalhava no IASPC, como eu falei e eu ia direto da rodoviária para o trabalho, já estava esgotado, cansado. Mas nesse tempo, também, operei, tirei os quatro meniscos numa tacada só. Aí, já não dava mais. Aí, até que ele concordou: “Quando é que você vai casar?”, eu digo: “Vou me casar no dia do meu aniversario, dia 11 de Março”, ele disse: “Então tá bom”. E eu me casei no dia 11 de março. Um ano e 11 meses depois que eu a conheci.
P/1 – Aí, vocês tiveram dois filhos?
R – É, a Mônica e o Evaldo. E ainda tem um detalhezinho aí, vivi 34 anos com ela, tô viúvo há 21 anos, nós vivemos juntos, eu trabalhando nas novelas com atrizes, aquele mundaréu de gente todo, que circula na televisão e nunca tivemos uma briga se quer, nem discussão, a gente só: “Não gostei disso” “Então tá, então vou fazer assim”, sabe? Eu concordava com ela e ela concordava comigo. Quem me comandava era ela. Eu e ela éramos um casal, pode-se dizer, casal perfeito. Nós vivemos maravilhosamente bem juntos durante 21 anos. É isso.
P/1 – Tiveram dois filhos.
R – Dois filhos, a Mônica, que é a mais velha, que vem uma vez por semana, ela vem aqui, porque ela vai fazer as Olimpíadas, ela é muito boa, ela saiu da Globo que ela trabalhava na Globo, ela saiu da Globo porque chegou um diretor para ela… ela foi fazer um programa que era em São Paulo, chamado “Sufoco”, que é o BBB de hoje, começou em São Paulo, um programa do Faustão. Aí, um diretor falou para ela… ela tinha acabado de ter dois nenéns, são os gêmeos, Pamela e Iago, são os dois filhos dela. Aí, ela disse: “Pra eu ficar em São Paulo, eu fico em São Paulo, mas vocês podiam fazer o seguinte, vocês vão pagar a minha diária e façam o seguinte, eu pago a diária, mas nos ponha num apart hotel e eu levo uma empregada para tomar conta deles enquanto eu estou trabalhando” “A Globo não tem culpa de você ter tido filho”, esse cara era meu amigo, era meu amigo, também não vou dizer nome. E aí, passados alguns dias, a Mônica disse: “Então, faz o seguinte, me demite”, e ela com 20 e tantos anos já de Globo foi demitida. Mas ela recebeu um negócio que eu recebi também e que hoje não tem mais, que se chama ___02:04:45__, é um agrado por cada mês trabalhado, não me lembro o percentual, era uma titica, mas em 12 meses ficava, era simpático e ela recebeu isso. Aí depois que ela saiu, tempos depois, eu quis botar ela de volta, eu já tava fora da televisão, quis botar ela de volta, aí falei com um grandão da Globo, também não vou dizer o nome, que disse: “Não pode, de jeito nenhum, ela já levou o __02:05:27___, não tem como voltar”, e aí ela não pode voltar. E o Evaldo, também trabalhando na Globo, era diretor de imagem, era não, é diretor de imagem.
P/1 – Seu filho?
R – É, meu filho. Considerado por todos os outros diretores, o melhor diretor de imagem que a Globo já teve. Mas ele recebeu um salário, um convite da TV Record para… a TV Record estava começando, aí levou um convite para ir para a Record, três vezes o salario que ele ganhava na Globo, não tem quem resista, né, embora fosse contrato como era na Globo e como deixou de ser, era contrato por temporada. Ele trabalhou três meses, depois mais três meses renovado e aí, acabaram com o Evaldo. Ele tava fazendo uma novela chamada Rebeldes. E o que acontece é o seguinte, a Record acabou, a Record agora é da TV… como é? É de São Paulo, é uma empresa de São Paulo, que eu me esqueço o nome agora.
P/1 – É do bispo.
R – Não é mais do bispo. A Record existe, mas a dramaturgia não é mais. Casa Blanca que comanda, usando o material, é sensacional, é maravilhoso o que eles fizeram, que construíram. Tem cinco estúdios.
P/1 – Quando os senhor era casado e tinha os filhos, onde vocês moravam?
R – Eu morei um tempo, quando a Mônica nasceu, eu morei, continuei morando com o meu pai e minha mãe, né, depois, quando o Evaldo nasceu, eu já tinha me mudado, morava na Senador Vergueiro, logo no principio da Senador Vergueiro. Até outro dia, eu relembrei, mas eu não pude descer, porque eu estava todo empipocado. O Silvio Cesar, cantor Silvio Cesar veio fazer um show aqui, aqui no Retiro e o Silvio Cesar até conheceu a Mônica de colo, enfim, eu acho que eu já falei bastante, não já? Ou você ainda quer mais?
P/1 – Tá cansado?
R – Não, não é cansado, não, dificilmente eu me canso.
P/1 – Como é que foi a sua entrada aqui no retiro dos Artistas?
R – Teve um ator chamado Stepan Nercessian, que fez acho que não tenho muita certeza, mas umas cinco novelas comigo, quando eu era produtor de novelas. E aí, há dois ambos e meio atrás, eu liguei para o Stepan, em janeiro e disse: “Stepan, tem um lugar para mim no Retiro dos Artistas?”, porque eu já estava morando com a Mônica no apartamento com dois adolescentes (risos), e era terceiro andar, era difícil de descer e tal. Liguei para o Stepan e disse: “Stepan, tem um lugar para mim lá no Retiro?” “Tem, claro que tem” “Aquele lugar que você me prometeu, ainda tem?” “Tem, tem sim, vem” “Tá legal”, mas eu não pude vir por causa de dinheiro, tinha que montar como tá montado aí um… é pequenininho, mas tem de tudo aí. Aí, não deu para vir. Aí, quando chegou agora… tem uma turma aqui maravilhosa, tem um que passou aqui agora, tem 90 anos, trabalhava no Teatro Municipal, trabalhou 30 e tantos anos no Teatro Municipal. Enfim, tem… ontem quem se hospedou aqui foi a irmã do Dedé Santana.
P/1 – Você tava falando, daí você tinha que mobiliar a sua casa.
R – Tinha que mobiliar, tava ruim de dinheiro. Aí, eu só vim para cá um ano e meio depois, só vim julho, mas antes, eu já estava começando… porque eles fazem… tem os operários que remodelam o apartamento, então, eles remodelaram, mas foi atrasando, atrasando, atrasando, depois tem as festas juninas, que atrasa mais porque o pessoal que faz a construção da casa ia trabalhar na coisa, mas Stepan Nercessian foi quem me trouxe para cá, a quem eu agradeço de montão.
P/1 – Você tem amigos aqui?
R – Todos. Todo mundo, me dou bem com todo mundo, cumprimento todo mundo, todo mundo me cumprimenta também, enfim…
P/1 – Quais são os seus sonhos?
R – Meu sonho? Ainda ficar vivo (risos). Não tenho sonho, filha. Não tenho sonho, não sonho, aliás, nunca sonhei. Nunca sonhei.
P/1 – O quê que você achou de dar a sua entrevista hoje?
R – Maravilhosa. Não vai tudo para o ar, mas pude contar tudo, pelo menos… aliás, não é com você, é com o Diogo que eu vou conversar com ele.
P/1 – A gente vai conversar com ele também.
R – Conversar com o Diogo pra…
P/1 – Eu queria te agradecer.
R – Não tem nada que agradecer. Eu que agradeço a vocês por lembrarem que eu existo.
P/1 – Sempre, imagina!
FINAL DA ENTREVISTA
Dúvidas:
R – Ele trabalhava no __00:05:06___, aquela época dos __00:05:11___, [cantando]: “Eu peguei um ita no norte para vim para o Rio morar”, ele era do __00:05:19___. – Página 01.
Com dois anos, eles foram de volta para a Bahia e o meu pai foi também, mas o meu pai só veio para o Rio com 21 anos de idade, que ele estudou, que tinha uma tia, tia Laurinha que cuidava deles, dele e do tio Edgard e aí, ele veio para cá, começou a… como a gente chamava na época, ele era __00:06:13__.– Página 01.
E tinha um que de vez em quando eu ia, lá, que era naquela rua, Sá Ferreira? Não, Francisco Sá, que tinha um que foi feito lá e que cantava um cara que chamava ___00:44:59___, que era a copia exata do… que a filha morreu agora, há pouco tempo, um senhor pianista e cantor daquela época. Como é que é o nome dele, meu Deus? _ Página 08.
Aí, num desses dias, estava um jornalista e radialista e locutor Glauco ___01:06:17____, que foi me visitar lá no Miguel Couto. – Página 11.
Mas ela recebeu um negócio que eu recebi também e que hoje não tem mais, que se chama ___02:04:45__, é um agrado por cada mês trabalhado, não me lembro o percentual, era uma titica, mas em 12 meses ficava, era simpático e ela recebeu isso. – Página 18.
[…] “Não pode, de jeito nenhum, ela já levou o __02:05:27___, não tem como voltar”, e aí ela não pode voltar. E o Evaldo, também trabalhando na Globo, era diretor de imagem, era não, é diretor de imagem. – Página 18.
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