Dizem que um casal só descobre que se ama de verdade depois de comer muito sal. O sal das lágrimas. E esse foi um tempero que nunca faltou no meu casamento. Eu e o Cesar nos casamos há quase 43 anos e a vida nunca facilitou pra gente. Perdemos um filho e, depois de um acidente de moto que quase nos custou a vida, perdi uma perna e passei a acreditar que não servia mais como mulher. Mas cada um desses momentos nos ensinou uma lição valiosa e hoje somos muito mais unidos!
Eu e o Cesar nos casamos em 1972, quando eu tinha 17 anos e ele 20. Nossa vida foi muito sacrificada, pois eu não tinha emprego e nosso sustento vinha do trabalho do Cesar no campo. No começo, a gente não tinha televisão e o fogão era a lenha. Também não tínhamos banheiro: eu tinha que ir para a casa da minha mãe fazer as necessidades. Logo tivemos nosso filho, o primeiro de três, e focamos em deixar o lar o melhor possível para as crianças. Nosso objetivo era conquistar uma situação confortável para a família. A gente não tinha férias nem feriado. Éramos mais pais e provedores que marido e mulher. Mas uma tragédia terrível abalou nossa vida em 2002 e nos fez enxergar tudo de uma forma diferente.
Depois de lutar três dias contra uma pneumonia, nosso filho mais velho, o Joel, faleceu aos 29 anos. Ficamos doentes coma perda. Era como se a vida não tivesse mais sentido. Na mesma época, meu marido perdeu o emprego. Para ter sustento, decidimos comprar uma máquina industrial de costura e fazer roupas para fora. Passávamos a noite tristes em casa, costurando, até que um dia, em 2005, ouvimos falar de um grupo de motociclistas que se reunia toda semana pelo rádio. Como sempre gostamos muito de motos, essa notícia nos deixou animados pela primeira vez em três anos. Fomos conhecer os motoqueiros e eles nos receberam muito bem. Contamos nossa história e tivemos muito carinho e apoio para superar a perda do Joel. Saímos de lá tão entusiasmados que logo o Cesar...
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Dizem que um casal só descobre que se ama de verdade depois de comer muito sal. O sal das lágrimas. E esse foi um tempero que nunca faltou no meu casamento. Eu e o Cesar nos casamos há quase 43 anos e a vida nunca facilitou pra gente. Perdemos um filho e, depois de um acidente de moto que quase nos custou a vida, perdi uma perna e passei a acreditar que não servia mais como mulher. Mas cada um desses momentos nos ensinou uma lição valiosa e hoje somos muito mais unidos!
Eu e o Cesar nos casamos em 1972, quando eu tinha 17 anos e ele 20. Nossa vida foi muito sacrificada, pois eu não tinha emprego e nosso sustento vinha do trabalho do Cesar no campo. No começo, a gente não tinha televisão e o fogão era a lenha. Também não tínhamos banheiro: eu tinha que ir para a casa da minha mãe fazer as necessidades. Logo tivemos nosso filho, o primeiro de três, e focamos em deixar o lar o melhor possível para as crianças. Nosso objetivo era conquistar uma situação confortável para a família. A gente não tinha férias nem feriado. Éramos mais pais e provedores que marido e mulher. Mas uma tragédia terrível abalou nossa vida em 2002 e nos fez enxergar tudo de uma forma diferente.
Depois de lutar três dias contra uma pneumonia, nosso filho mais velho, o Joel, faleceu aos 29 anos. Ficamos doentes coma perda. Era como se a vida não tivesse mais sentido. Na mesma época, meu marido perdeu o emprego. Para ter sustento, decidimos comprar uma máquina industrial de costura e fazer roupas para fora. Passávamos a noite tristes em casa, costurando, até que um dia, em 2005, ouvimos falar de um grupo de motociclistas que se reunia toda semana pelo rádio. Como sempre gostamos muito de motos, essa notícia nos deixou animados pela primeira vez em três anos. Fomos conhecer os motoqueiros e eles nos receberam muito bem. Contamos nossa história e tivemos muito carinho e apoio para superar a perda do Joel. Saímos de lá tão entusiasmados que logo o Cesar comprou uma motocicleta pra gente passear com o grupo. A cada saída de moto, era como se eu conhecesse uma nova família, pronta para nos dar amor. Isso me fez perceber que era hora de parar de pensar só em trabalho e aproveitar a vida. Ela ainda tinha muito a oferecer! A partir daí, preenchemos nossos finais de semana com passeios incríveis pelas estradas do Uruguai. Só que a vida é cheia de ironias e aquilo que curou a dor de uma perda levou a outra tragédia. Em outubro de 2011, à tardinha, o Cesar e eu saímos para nosso passeio de moto habitual e fomos atropelados por um carro na contramão. Quando acordei, estava deitada no meio-fio com várias pessoas em volta de mim. Não consegui ver meu marido e apaguei. Quando acordei de novo, minha filha estava sentada ao meu lado, chorando. Só me dei conta do que tinha acontecido quando olhei para baixo e vi que, no lugar da minha perna, havia um toco que acabava antes do joelho.“Arruinaram minha vida para sempre”, pensei. E comecei a chorar. Naquele momento, coisas terríveis passaram pela minha cabeça. Eu não poderia mais andar, fazer o serviço da casa nem brincar com meus netos. E o que o Cesar pensaria de mim? Eu não era mais a mesma: não era bonita e não servia como mulher.
Como o Cesar estava internado em outro hospital, a gente se falava por telefone todo dia. Mas não contei nada sobre a perna. Tinha medo de que ele não fosse mais me querer. Depois de um mês, tive alta e fui visitá-lo. Estava muito nervosa para saber qual seria a reação dele ao me ver amputada. Mas meu marido é um homem sem igual. Percebendo minha insegurança, ele fez questão de dizer que eu continuava linda e que precisávamos ter força e seguir em frente. Voltei para casa aliviada e o Cesar continuou no hospital por mais dois meses, porque quebrou o quadril e precisou de vários enxertos na perna. O problema é que as palavras do meu marido não foram suficientes para me tirar da fossa. Ao ver que precisaria de ajuda da família para tomar banho e me limpar, continuei na pior. Me sentia inútil, um fardo. Sem ânimo, parei de me arrumar e me cuidar e não saí mais de casa, com vergonha de me mostrar aos outros. Eu só tinha um pé e ele estava na cova. O Cesar era mais positivo que eu e sempre tentava me reerguer. Assim que voltou para casa, ele teve que me “arrastar” para cima em vários momentos. Sem meu amor, não teria saído dessa crise. Para me deixar feliz, a primeira coisa que meu marido fez foi me prometer a renovação dos nossos votos numa segunda festa de casamento! Mas a depressão não me largava. Odiava a cadeira de rodas e não via futuro na fisioterapia. Aí, em 2013, comecei a assistir a programas sobre histórias de pessoas que, como eu, tinham sofrido acidentes e precisavam da cadeira de rodas. Havia casos muito piores e, mesmo assim, as pessoas davam a volta por cima e voltavam a viver. Comecei a me convencer de que era possível ser uma pessoa ativa mesmo na minha condição.
Minhas primeiras tentativas foram comos serviços da casa: lavar louça, cozinhar, varrer. Dava um trabalho danado, mas aos poucos fui pegando o jeito. E, me sentindo útil outra vez, a autoestima começou a melhorar. Passei a tomar banho e usar o banheiro sozinha. Os programas de TV me mostraram que eu podia buscar uma prótese para colocar no lugar da perna. Me enchi de esperança! Usei parte do dinheiro da indenização para comprar a perna ortopédica. Ela chegou agora, em janeiro. A sensação de andar de novo ao lado do Cesar foi indescritível. Me deu até vontade de sair pra rua de novo! Com a prótese, me senti inteira novamente e mulher por completo. Voltei a me arrumar e me cuidar. Eu estava linda! Isso me mostrou como a vida ainda pode me surpreender e que ainda tenho muita energia dentro de mim. Ser otimista é fundamental! Depois de toda essa desgraça, eu e o Cesar estamos mais unidos do que nunca! Estamos sempre juntos, namorando. Não somos mais pais e provedores apenas. Somos amantes. Renovamos nossos votos numa cerimônia belíssima e pretendemos aproveitar ainda mais nossos dias juntos. Para comemorar nossa vitória, fizemos viagens de barco e de avião e o Cesar comprou uma moto nova. Essa vida é bonita demais!
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