Plano Anual de Atividades 2013
Projeto Nestlé Ouvir o Outro – Compartilhando Valores – PRONAC 128976
Depoimento de Augusto Blaschi Neto
Entrevista por Vanuza Ramos
São José do Rio Pardo, 10 de julho de 2014.
NCV_HV35_Augusto Blaschi Neto
Realização Museu da Pessoa
P/1 – Seu Augusto, para começar, eu queria que o senhor falasse o seu nome completo, o local e a data que o senhor nasceu.
R – É, Augusto Blaschi Neto. Nasci em São José do Rio Pardo mesmo, dia seis de maio de 67.
P/1 – Os pais do senhor também são daqui?
R – São de São José.
P/1 – Qual o nome deles?
R – Minha mãe é Maria Salomé Blaschi.
P/1 – E o pai?
R – Meu pai, Natalino Blaschi.
P/1 – O senhor sabe o ano que eles nasceram?
R – Meu pai nasceu dia 25 de dezembro de 42. Minha mãe nasceu dia oito de outubro de 47.
P/1 – Eles estão vivos?
R – Tão vivos.
P/1 – Qual era a profissão deles?
R – Ele é lavrador, sempre foi.
P/1 – Lavrador? E a mãe do senhor?
R – Doméstica, do lar, né?
P/1 – O senhor assim, como o senhor descreveria eles? Diz uma característica marcante deles pro senhor.
R – O que quê a gente pode falar? Tudo é marcante, né? É difícil de lembrar alguma coisa, né?
P/1 – Mas o senhor lembra do seu pai indo trabalhar, como lavrador, todos os dias?
R – Trabalha. Ele trabalha até hoje, trabalha ainda.
P/1 – Até hoje, trabalha?
R – Trabalha. Sempre trabalhamos juntos, nós três.
P/1 – O senhor sabe qual é a origem da família deles? Brasileira, é, de fora, portuguesa?
R – A minha mãe, o pai dela era português, e meu pai, é tudo alemão, mãe, avó e avô.
P/1 – E você sabe como eles chegaram aqui no Brasil?
R – Não sei dizer, não.
P/1 – Não sabe?
R – Não. Os meus avós, não sei.
P/1 – E eles preservam tradições da Alemanha? Tem alguma coisa, assim?
R – Não, não tem nada “coisado” não, que eles trouxeram, assim, não.
P/1 – Não?
R – Não.
R – E o...
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Projeto Nestlé Ouvir o Outro – Compartilhando Valores – PRONAC 128976
Depoimento de Augusto Blaschi Neto
Entrevista por Vanuza Ramos
São José do Rio Pardo, 10 de julho de 2014.
NCV_HV35_Augusto Blaschi Neto
Realização Museu da Pessoa
P/1 – Seu Augusto, para começar, eu queria que o senhor falasse o seu nome completo, o local e a data que o senhor nasceu.
R – É, Augusto Blaschi Neto. Nasci em São José do Rio Pardo mesmo, dia seis de maio de 67.
P/1 – Os pais do senhor também são daqui?
R – São de São José.
P/1 – Qual o nome deles?
R – Minha mãe é Maria Salomé Blaschi.
P/1 – E o pai?
R – Meu pai, Natalino Blaschi.
P/1 – O senhor sabe o ano que eles nasceram?
R – Meu pai nasceu dia 25 de dezembro de 42. Minha mãe nasceu dia oito de outubro de 47.
P/1 – Eles estão vivos?
R – Tão vivos.
P/1 – Qual era a profissão deles?
R – Ele é lavrador, sempre foi.
P/1 – Lavrador? E a mãe do senhor?
R – Doméstica, do lar, né?
P/1 – O senhor assim, como o senhor descreveria eles? Diz uma característica marcante deles pro senhor.
R – O que quê a gente pode falar? Tudo é marcante, né? É difícil de lembrar alguma coisa, né?
P/1 – Mas o senhor lembra do seu pai indo trabalhar, como lavrador, todos os dias?
R – Trabalha. Ele trabalha até hoje, trabalha ainda.
P/1 – Até hoje, trabalha?
R – Trabalha. Sempre trabalhamos juntos, nós três.
P/1 – O senhor sabe qual é a origem da família deles? Brasileira, é, de fora, portuguesa?
R – A minha mãe, o pai dela era português, e meu pai, é tudo alemão, mãe, avó e avô.
P/1 – E você sabe como eles chegaram aqui no Brasil?
R – Não sei dizer, não.
P/1 – Não sabe?
R – Não. Os meus avós, não sei.
P/1 – E eles preservam tradições da Alemanha? Tem alguma coisa, assim?
R – Não, não tem nada “coisado” não, que eles trouxeram, assim, não.
P/1 – Não?
R – Não.
R – E o senhor tem irmãos?
P/1 – Tenho duas irmãs.
P/1 – Duas irmãs? Qual o nome delas?
R – Adriana, a mais nova é Adriana de Fátima Blaschi; e a outra é a Aparecida, Aparecida Blaschi.
P/1 – Elas também trabalham com agricultura?
R – Não. A Adriana, sim. A Adriana mora na fazenda Maracanã, aqui próximo. E a outra mora na cidade.
P/1 – Mora na cidade, ela trabalha com o quê?
R – Ela cuida de casa mesmo, do lar.
P/1 – Entendi. E o senhor cresceu onde, seu Augusto?
R – Aqui mesmo. Aqui no sítio mesmo.
P/1 – Aqui, nasceu e cresceu aqui?
R – Nascido e criado aqui.
P/1 – Nesse sítio?
R – Nesse sítio.
P/1 – E o senhor lembra o que da sua infância, aqui no sítio?
R – A minha infância era muito boa, né, a gente brincava, com os primos, juntava os primos, tudo, em casa. E tinha o finado meu avô, que era vivo ainda, tal. Brincava tudo em volta de casa.
P/1 – E o senhor brincava de quê?
R – Ah, era bola, de jogar taco, umas coisas aí, brincadeira da época, né?
P/1 – E era essa mesma casa aqui que o senhor morava?
R – Não. Era outra casa, que é a que tem lá em baixo, não sei se você reparou.
P/1 – Tem outra casa?
R – Lá de baixo, ali.
P/1 – É a casa dos pais do senhor?
R – Meu pai mora aqui. Lá, agora repartiu o sítio, então é de outro tio meu, que mora ali.
P/1 – E como era essa casa quando o senhor morava, na infância?
R – Ah, era uma casa antiga, né? Não tinha, assim, forro de madeira, de nada, era só telhado mesmo. Casa grande, que morava, meu pai, minha mãe, meu tio, minha tia, meu vô, minha avó, moravam tudo junto ali.
P/1 – Todo mundo junto, as irmãs?
R – É.
P/1 – Tinham os primos também? Moravam juntos?
R – Morava. Tinha. Tinha quatro primos e meu tio caçula que é irmão do meu pai. Moravam lá.
P/1 – Você disse que não tinha fogo, não tinha fogão. É isso?
R – É. Não, não tinha forro de teto.
P/1 – Ah, forro!
R – É, forro.
P/1 – Fazia frio, nessa época, vocês sentiam frio?
R – Fazia bem frio, né? Naquela época, era bem frio, mais frio do que agora.
P/1 – E tinha lareira na casa?
R – Tinha. Tinha um fogão à lenha.
P/1 – Tinha um fogão à lenha?
R – Tinha um fogão à lenha.
P/1 – Quem cozinhava na casa?
R – A finada minha avó, minha mãe e a mulher do meu tio também, que morava tudo junto, que tavam no jeito, ali, de fazer a comida.
P/1 – Tem alguma comida que elas faziam que o senhor lembra muito, que o senhor gosta?
R – Tá. Bom era o macarrãozinho de domingo, né? Franguinho caipira, que é da época.
P/1 – Do quintal mesmo?
R – É. Criava ali mesmo.
P/1 – E como era, aqui, a cidade? Vocês sempre moraram aqui nessa região da
Zona rural, vocês iam pra cidade?
R – Ia.
P/1 – Fazer o quê na cidade?
R – Ah, o finado meu vô ia pra fazer um negócio, vendia um queijinho, vendia verdura, e ia de carrocinha, e nós “ia” junto com ele. O burrinho ia puxando.
P/1 – Ia pra feira, vender?
R – É. E tinha o mercado. Tinha o mercado lá no Centro. Ia lá, vendia verdura lá, queijinho que fazia na semana. Fazia no sábado à tarde, no domingo e levava.
P/1 – E a cidade? Rio Pardo era desse tamanho?
R – Não! A cidade era só Centro da cidade mesmo. As vilas que tem em roda, não tinha não.
P/1 – Mudou muito?
R – Mudou. Hoje cresceu muito!
P/1 – E o senhor estudava em Rio Pardo?
R – Estudei.
P/1 – O senhor estudou até quando?
R – Até a quarta série.
P/1 – Como era o nome da escola que o senhor estudou?
R – Eu estudei, comecei aqui, na Fazenda São Antônio, que é vizinha aqui. Fiz dois anos ali. Depois, passei pra cidade. Na Stella Couvert Ribeiro, bairro Santo Antônio.
P/1 – O senhor gostava da escola?
R – Não gostava muito de estudar, não (riso).
P/1 – E dos professores?
R – Os professores eram bons.
P/1 – Tinha algum professor ou professora que o senhor lembra com carinho?
R – Todos eles foram bons, mas que quê a gente pode falar? Tinha, oito anos que eu estudei, tinha um professor que deixava nós copiar a prova do livro, ué (riso).
P/1 – Aí ficava fácil.
R – Aí ficava fácil.
P/1 – E o senhor lembra dessa escola? Como era? Essa escola era grande, pequena?
R – Não, era uma escola média. Não muito grande, nem muito pequena, era média.
P/1 – O senhor tinha muitos amigos da escola?
R – Tinha.
P/1 – E os amigos eram mais da região daqui do sítio, ou mais da cidade?
R – Mais da cidade.
P/1 – E o senhor ia de quê pra escola?
R – No começo, a gente ia de ônibus... No começo, não! No fim. Mas no comecinho era a pé.
P/1 – Era a pé?
R – Era a pé.
P/1 – E qual a distância pra lá?
R – Daqui dava uns quatro quilômetros, por exemplo.
P/1 – Vocês iam a pé? Com quantos anos, seu Augusto?
R – Naquela época, entrava na escola com sete anos. Ia na fazenda aqui, mais ou menos a mesma distância.
P/1 – E o senhor ia com quem pra escola?
R – Tinha um colega que morava aqui perto também.
P/1 – E as irmãs? Não estudavam?
R – Aqui, elas não foram. Elas já foram pra cidade.
P/1 – Ah tá. Elas são mais velhas ou mais novas que o senhor?
R – Mais novas. Todas duas são mais novas.
P/1 – Vocês moram aqui na zona rural, o senhor disse que sua família sempre foi de agricultores, vocês plantavam o quê?
R – Na época, tinha umas vaquinhas, tirava um leitinho, que eu vendia um queijinho. Plantava um pouquinho de cebola, muito pouquinho; mas, no intervalo de mexer com as vaquinhas, então plantava uma cebolinha.
P/1 – Entendi.
R – Mas era pouquinha coisa.
P/1 – Era mais, então, produção de leite?
R – É. Mas não era muito também não. Era pouca coisa. A gente fazia uma hortinha, vendia uma verdura. Era aos pouquinhos. Pegava um pouquinho de cada lado...
P/1 – Dessas verduras, vocês também tiravam o sustento?
R – Tirava. Tinha que sair dali mesmo, do leite, que vendia um queijinho. Uma cebolinha que vendia, no fim do ano, que plantava. Só no fim do ano mesmo, né?
P/1 – E vocês comiam essas verduras? Essas cebolas, essas coisas que produziam?
R – É. Usava pra casa e vendia o que sobrava, vendia pra fazer um dinheirinho pra comprar as outras coisas, né? Um macarrão, um sal, uma farinha, né?
P/1 – Os industrializados.
R – É.
P/1 – Tinha algum prato que vocês faziam com esses legumes?
R – Não. Era, só usava assim, a cebola como tempero, uma salada de alface. Era verdura, assim, de salada mesmo.
P/1 – E as outras verduras que vocês consumiam? Vocês compravam?
R – Comprava.
P/1 – Comprava onde?
R – É, comprava. Daí a gente trocava com um vizinho que tinha de outras coisas.
P/1 – Era tudo daqui da região mesmo?
R – Tudo da região mesmo.
P/1 – Daí o senhor jogava bola, ia pra escola...
R – Ia pra escola, brincava de bola.
P/1 - O que o senhor mais gostava de brincar, quando era criança?
R – Sempre gostava, mesmo, era de um carrinhozinho, um carrinho de plástico, aí ia empurrando no terreiro, fazendo rastrinho na poeira.
P/1 – Carrinho de plástico e de madeira.
R – De madeira. Às vezes, fazia algum de rodinha de sabugo. Pegava a tabuinha, cortava, fazia carrinhozinho.
P/1 – Vocês mesmo que faziam os carros?
R – Fazia. Que nem um de plástico que era mais bonitinho, sempre ganhava de parente vindo de São Paulo, assim, de fim de ano, só isso.
P/1 – De correr, de pique?
R – Não! Naquela época, não tinha, não.
P/1 – Subir em árvore?
R – Isso aí (risos) direto, né?
P/1 – Isso era normal?
R – Era normal. Enfim, era normal.
P/1 – E o pai do senhor era muito bravo?
R – Não. Ele não. Meu avô era. Ele não era muito bravo não.
P/1 – Ele não gostava que vocês fizessem o quê? Tinha alguma traquinagem que vocês faziam que deixava o vô bravo?
R – A gente gostava de fuçar nas coisas dele, né? Tinha as ferramentinhas deles. A gente revirava, não colocava no lugar, ali, ele corria: “Cadê minhas coisas daqui? Olha, onde tá? Onde vocês levaram?”, era assim.
P/1 – Teve alguma situação, que o senhor se meteu que deixou eles muito bravos? Alguma traquinagem de criança que você não esquece, que ficou história da família?
R – Não. Eu nunca deixei assim, não. Era coisinha simples.
P/1 – Era criança quieta?
R – Mais quieto.
P/1 – Nunca teve um braço quebrado?
R – Não.
P/1 – Nunca subiu na árvore e caiu?
R – Cair, graças a Deus não. Subir, a gente subia, mas, graças a Deus, nunca caiu não (riso).
P/1 – E daí, o senhor estudou até a quarta série.
R – Até a quarta série.
P/1 – Por que o senhor desistiu?
R – É que eu não gostava mesmo.
P/1 – Não gostava?
R – Não gostava. Que na época, no fim, que eu tava indo já tinha ônibus pra levar, né, pegava ali na pista, onde vocês entraram pra cá, ali.
P/1 – E o senhor parou com quantos anos?
R – Eu fiz quatro anos. Repeti dois. Tava com doze anos, né, treze.
P/1 – O senhor parou de estudar e foi fazer o que?
R – Eu vim ajudar aí, trabalhar no sítio, comecei a trabalhar.
P/1 – Com essa idade mesmo, ou antes o senhor já ajudava?
R – Já ajudava, um pouquinho já. Eu vinha da escola, fazia a lição, aí, eu fazia uma coisinha, regar uma hortinha, limpar um curralzinho que tinha as vacas, lá. Ajudava.
P/1 – Com quantos anos isso?
R – Uns treze anos, por aí, já comecei.
P/1 – Já começou?
R – É.
P/1 – E daí em diante o senhor já trabalhava, já ficou só por conta da produção?
R – Da produção. Eu parei com a escola, fiquei só no sítio, trabalhando.
P/1 – E o senhor ia passear?
R – Muito difícil. A gente ficava mais em casa.
P/1 – E o que o senhor fazia pra se divertir nessa época?
R – Em casa, tinha televisão. Os primos vinham de domingo, brincava. Terreiro, ali. Aí, depois, de tarde ia embora, ficava em casa.
P/1 – O senhor foi ficando adolescente, continuou fazendo essas mesmas coisas?
R – Até certa idade, foi assim. Começou a sair, ia pra praça, né, com dezessete, dezoito anos, já.
P/1 – Tem cinema, aqui?
R – Tem.
P/1 – O senhor gostava de ir ao cinema?
R – Não. Nunca fui. Não gostava.
P/1 – Nunca foi?
R – Não.
P/1 – O senhor ia pra praça, e tinha o quê nessa praça?
R – A praça tinha uma banda que tocava. A praça, ali. Aí, ficava andando em volta, até lá pras nove horas, ia embora depois.
P/1 – Paquerava?
R – Paquerava um pouquinho (riso).
P/1 – O senhor ia pra praça, ficava lá, paquerava. Tinha bailes, seu Augusto?
R – Não. Tinha na Associação, ali, tinha bailes, mas nunca fui em bailes também.
P/1 – O senhor não gostava? Não gosta de dançar?
R – Não gosto não.
P/1 – O negócio do senhor era ir na praça, ficar em casa vendo sua TV.
R – É. Ficar em casa, dar uma volta, assim, voltava em casa...
P/1 – Tá bom. Como foi que o senhor conheceu sua esposa?
R – Ela vinha numa época que plantou arroz, ela ajudava a gente pra colher o arroz, né, colhia tudo manual. Cortava, depois passava na máquina, pra debulhar ele. Ela veio ajudar. Foi o arroz, aí conhecemos.
P/1 – Essa plantação de arroz era aqui mesmo no sítio, de vocês?
R – Era aqui mesmo.
P/1 – Ela veio porque ela conhecia as pessoas aqui? Por que ela veio?
R – Ela veio que chamou pra trabalhar por dia, né? Morava no sítio vizinho, ali. Ela trabalhava por dia. Aí, ficou sabendo que precisava gente pra colher, aí, chamou eles pra vir ajudar.
P/1 – O senhor ia colhendo pros outros sítios, aqui, da região? Fazia esse trabalho também, de ir pra outra produção?
R – Trocava de área, né? Quando na colheita de arroz, trocava.
P/1 – Entendi. Vinham os trabalhadores pra cá, quando tinha colheita de outra...
R – Ia pro outro lado.
P/1 – O que vocês colhiam? O que a região, aqui, produz?
R – Hoje, assim?
P/1 – Nessa época.
R – Nessa época, era arroz, milho. Plantava, isso era mesmo pro gasto, né?
P/1 – Aqui no sítio tinha arroz. O senhor disse que tinha cebola. Nessa época, o senhor tinha quantos anos, mais ou menos, quando você conheceu a sua esposa?
R – Eu tava com vinte anos já.
P/1 – Uns vinte anos. Vocês começaram a namorar?
R – É.
P/1 – Como foi isso? Conta pra gente como foi, esse namoro, esse flerte.
R – Eu conversei com ela, aí fui na casa dela, pedi pro pai dela. Aí, começamos namorar. Namoramos quatro anos e casamos.
P/1 – Namoraram quatro anos. O senhor tem filhos?
R – Tenho. Tenho um filho.
P/1 – Um filho?
R – É.
P/1 – Como é o nome dele e da sua esposa?
R – Dimas, o filho é Dimas. Minha esposa é Silvana.
P/1 – Silvana?
R – É.
P/1 – E o filho tem quantos anos.
R – Tá com vinte anos.
P/1 – E ele faz o quê, seu Augusto?
R – Ele ajuda um pouquinho, nós, aqui.
P/1 – É?
R – É.
P/1 – Também continuou a profissão da família.
R – É.
P/1 – O senhor quando era criança, já pensava que ia continuar trabalhando aqui no sítio? O que o senhor pensava? “O que eu vou ser quando crescer?”
R – Ah, eu tinha ideia de continuar, sempre continuar trabalhando aqui. Sempre foi.
P/1 – O senhor gosta dessa atividade?
R – Gosto.
P/1 – Essa profissão. Nunca pensou em fazer outra coisa?
R – Não. Nunca pensei em mudar de profissão. Nada!
P/1 – Daí, você casou, continuou na mesma casa que seus pais? O senhor continuou no mesmo quarto? Como foi isso, depois que vocês casaram?
R – A mesma coisa. Eu casei, morava naquela casa de baixo, como eu te falei, né?
Aí, nós construímos essa aqui. Vai fazer dezoito anos já, nós passamos pra cá, e estamos aqui até hoje.
P/1 – O senhor ainda ficou dois anos morando na casa dos pais?
R – É.
P/1 – Depois, vieram pra cá. E seus pais vieram também?
R – Veio tudo junto.
P/1 - Como foi essa convivência quando sua esposa chegou?
R – Fica meio diferente, mas com o tempo foi se ajeitando, né?
P/1 – Aí, o senhor gostava mais da comida dela ou da comida da sua mãe?
R – Mais da minha mãe mesmo, que cozinhava, sempre foi. Sempre é ela que cozinha. Ela cozinha também, quando precisa. Ela ajuda na roça também, né?
P/1 – A gente vai entrar um pouquinho na parte dessa plantação, dessa atividade rural do senhor. O senhor pensa, seu Augusto, que caminho que o alimento faz desde quando o senhor planta aqui, até o momento que ele chega na mesa das pessoas? Como o senhor lida com essa coisa da produção, da cadeira, do transporte?
R – Mais ou menos, a gente tem um a noção que vai vivendo, plantando. A gente participa lá com a Nestlé... Assim... É isso que você quer saber? Como é que funciona lá. Tivemos visita lá dentro, pra saber como é que funciona lá. A gente tem uma noção mais ou menos, o que precisa ser feito aqui, pra chegar um produto bom lá também.
P/1 – O senhor fez um treinamento na Nestlé, conheceu a fábrica?
R – Fiz. Conheci.
P/1 – O que o senhor conheceu lá?
R – Visitamos a fábrica inteirinha, da Nestlé.
P/1 – E lá, era fábrica de quê?
R – De legumes e parte de farinha também, né?
P/1 – Os legumes, o senhor produz aqui, e vende pra Nestlé?
R – Pra Nestlé.
P/1 – Desde quando o senhor vende pra Nestlé?
R – Desde 88.
P/1 – E como foi esse contato comercial? Como vocês chegaram até a Nestlé?
R – Foi assim: Eu tenho uns vizinhos, aqui perto, já começaram a plantar um pouquinho também, aí vieram, aqui no outro vizinho, ajeitou aqui. Então, no próximo ano, nós entramos em contato com o agrônomo, que fazia a parte de João Roque, assim. Aí, ele começou a ajeitar um pouquinho pra gente plantar também. Tivemos contratinho, pouca coisa, pra ver como que era.
P/1 – E o senhor nessa época fornecia que quantidade?
R – Era pouquinha coisa. Você plantava uma cenoura, aí, quinze, vinte toneladas por ano. Um pouco, de salsa, trinta o máximo, quando colhia bastante.
P/1 – Por ano?
R – Por ano.
P/1 – Quantas vezes no ano, o senhor faz a colheita? Fazia, nessa época?
R – Nessa época, tinha salsa, fazia três colheitas por plantação. Então, plantava ela em março, por aí, é, março, mais ou menos. Daí em 80 dias fazia uma, daí 45 outro. E a terceira, daí 45 de novo. Aí, parava.
P/1 – Depois, o que acontece, tem que tirar?
R – Aí, passa o trator, arranca tudo, né, entrava e plantava o milho.
P/1 – Plantava o milho?
R – É.
P/1 – Daí, outro ano com o milho?
R – É. No fim do ano. No verão, entrava com o milho pra descansar a terra e pra uso de casa mesmo, do gado, das criações.
P/1 – Entendi. O milho, então, o senhor não fornecia pra Nestlé, nessa época?
R – Não. Milho não.
P/1 – Como foi que acertou isso? O senhor disse que começou a coisa pequena, um contrato pra tentar acertar. Como foi que a coisa realmente engrenou?
R – Engrenou, aí veio aumentando. Cada ano veio aumentando um pouquinho, um pouquinho. Todo ano aumentava. “Vamos plantar isso. Vamos plantar um pouquinho mais daquilo.” A fábrica precisava e tinha, na época, tinha pouco produtor, né? Aí, nós fomos aumentando até aonde pôde (risos).
P/1 – O senhor teve que comprar terra?
R – Não. Terra não comprou, não.
P/1 – Passou a plantar outras coisas. O que o senhor passou a plantar?
R – Eu passei a plantar o aipo, o alho-poró e o espinafre.
P/1 – Até hoje, o senhor continua com essas culturas?
R – Com essas quatro. Salsa, alho, aipo e espinafre.
P/1 – Desses o senhor disse que a salsa eram três vezes, aí vinha o milho, pra descansar a terra. E esses outros legumes, né? Eles dão quantas vezes por ano?
R – O alho? O alho pode plantar duas, três vezes, que ele consegue formar.
P/1 – E aí é o mesmo processo? Passa máquina, pra arrancar?
R – É. A mesma coisa.
P/1 – E a questão da adubagem, do solo?
R – Aí, tem que fazer análise, né, de solo. Hoje, faz análise de solo, pra correção do solo, tudo certinho, pra depois plantar.
P/1 – Quem faz isso aqui, pra produção do senhor? Tem alguma empresa, alguma Universidade, que faz apoio?
R – Tem. Tem a ESALQ de Piracicaba.
P/1 – ESALQ? Como é que funciona?
R – É uma parceria também.
P/1 – Uma parceria?
R – É.
P/1 – Vem um técnico de lá?
R – Ah, tem a técnica que vem. A cada seis meses, tem uma estagiária fazendo, prestando o final do estágio dela aqui.
P/1 – E ela faz o quê?
R – Ela acompanha o João Roque. Vem aqui, faz uma marcação numa planta. Tira a folha, leva para escola, lá, pra fazer coisa de nutriente da planta. Quanto absorveu, quanto precisa, quanto precisa por a mais.
P/1 – E o isso pro senhor é gratuito, esse serviço? Ou é pago?
R – Pra nós, é gratuito.
P/1 – É gratuito? É uma parceria com a Nestlé e com o senhor?
R – É.
P/1 – A colheita aumentou muito, seu Augusto, depois que o senhor passou a ter toda essa assistência, que o senhor disse que foi aumentando aos pouquinhos. Quanto que chegou hoje? Quanto que o senhor produz de coentro?
R – De salsa, a gente tá produzindo, aí 150, 180 toneladas por ano.
P/1 – No começo o senhor disse que era quanto?
R – Era trinta. Vinte, trinta, no máximo. Um pouquinho.
P/1 – Daí, passou pra 150?
R – Cento e cinquenta.
P/1 – O senhor acha que o quê aconteceu pra essa produção aumentar tanto?
R – Aumentou, assim, pela parceria que fez, né, com a escola, Nestlé e produtor.
P/1 – O que o senhor aprendeu com essa parceria com a ESALQ?
R – Aí, vem explicando, vem fazendo uns cursos, tudo, de parte agrícola, treinamento.
P/1 – Treinamento de quê? Explica pra mim.
R – De insumos químicos.
P/1 – Insumos?
R – Agrotóxicos.
P/1 – O senhor aprendeu como usar o solo?
R – Como usar, é.
P/1 – Explica pra gente, detalhado, pra quem é leigo, não entende nada de terra. Como é isso, por exemplo? O senhor foi na ESALQ fazer o curso?
R – Não! Eles emprestam o professor pra vir aqui fazer.
P/1 – E junta outras pessoas, ou é só pro senhor?
R – Junta aí dez, doze pessoas, aí reúne num lugar, faz uma palestra, explica, põe em prática, mais ou menos.
P/1 – O que o senhor mudou, aqui, na sua plantação que o senhor aprendeu, por exemplo, num treinamento desse, num curso desse? Cita uma coisa que o senhor fazia de um jeito, tomou o curso, passou a fazer diferente.
R – O preparo de solo. Primeira vez, jogava o esterco lá, uma adubação que não era suficiente pra aquilo ali, né? Então, na palestra, a gente tirava a análise do solo, manda pra ESALQ, analisa lá, aí veem o que precisa pôr no solo.
P/1 – Por exemplo, no solo do senhor, o que já teve que corrigir?
R – Corrigiu acidez, falta de matéria orgânica.
P/1 – Quando tem esse problema da acidez, por exemplo, o que o senhor põe lá?
R – Eu tenho que pôr o calcário.
P/1 – E falta de matéria orgânica?
R – Tem que pôr ou esterco bom com matéria orgânica, ou fazer intercalação de planta com o milho. O milho oferece a matéria orgânica.
P/1 – Tá. Quando o senhor põe o esterco, esse esterco vem da onde?
R – Hoje, eu to usando um composto, que é um material que tem as firmas que fazem a compostagem dele. Hoje, tá tirando da Nestlé, fazendo, e voltando pra agricultura de vez.
P/1 – Essa compostagem é feita pela Nestlé?
R – Não. Ela tira dela. Tem uma firma que tira de lá, leva pra um sítio, lá eles fazem a compostagem e depois volta pro produtor.
P/1 – E o senhor compra esse adubo?
R – Esse adubo tá vindo, assim, em preço de frete, pra nós, hoje.
P/1 – Preço de quê?
R – De frete.
P/1 – De frete. Só paga o transporte?
R – Só paga a viagem, o transporte.
P/1 – Entendi. Também faz parte da parceria?
R – Faz parte.
P/1 – Da onde é essa empresa de compostagem?
R – É de Tapiratiba.
P/1 – É daqui da região?
R – É.
P/1 – O senhor disse que junta, aqui, dez, doze agricultores, pra fazer esses cursos. Esses agricultores são produtores aqui da região?
R – Daqui.
P/1 – E eles também fornecem pra Nestlé, ou não?
R – Pra Nestlé.
P/1 – Todos?
R – A maioria é da Nestlé que vem, que faz.
P/1 – E se alguém que não for da Nestlé e quiser participar, ele pode?
R – Pode também.
P/1 – É aberto?
R – É aberto.
P/1 – O senhor pode convidar?
R – Quem quiser.
P/1 – Quem o senhor quiser, e os interessados vêm?
R – Vêm.
P/1 – As pessoas gostam do curso?
R – Um ainda vem: “Ah, não vou não! Não me interessa nada.” Mas, lá um ou outro toda vez vem.
P/1 – Vem?
R – Vem.
P/1 – O senhor troca essas informações com os outros agricultores? Ah, um vizinho, aqui, produz, de repente, alguma coisa que é parecida com o senhor. Vocês trocam dados?
R – Ah, a gente conversa e troca informação, o que usou o que não usou, porque que tá assim.
P/1 – O senhor compra coisas do pessoal que produz, aqui, na região?
R – Sim.
P/1 – Por exemplo, o senhor precisa de um esterco, digamos. O senhor compra de alguém da região?
R – Compra daqui mesmo.
P/1 – Daqui mesmo? O calcário que o senhor compra, é daqui da região?
R – É. Têm as lojas aqui, que revende.
P/1 – E quando o senhor faz a colheita, como é depois? Pra onde que vai? Como é que vai?
R – A colheita nossa aqui, é quase 100% pra Nestlé mesmo.
P/1 – Cem por cento pra Nestlé?
R – Pra Nestlé.
P/1 – Vira o quê esses alimentos que o senhor produz aqui?
R – Vira o alimento infantil que tem, baby, né? A salsa vai pra tempero, o alho poró. Tempero da Nestlé.
P/1 – O senhor já comprou esses produtos?
R – A gente não compra. Da vez que tem uma palestra lá na fábrica, eles dão uma cesta.
P/1 – Uma amostra?
R – Uma amostra, que veio vários tipos de produto.
P/1 – O senhor já experimentou?
R – Já.
P/1 – Gostou?
R – Bom. Gostei.
P/1 – Reconhece seu produto ali?
R – Reconhece, né? Reconhece.
P/1 – O que o senhor acha quando o senhor vê? Vem aqui, tem a plantação, ser transportado, vai pra uma fábrica, vai pro mercado?
R – É uma coisa interessante na vida. É um círculo entre o produtor, a fábrica e o consumidor, né?
P/1 – Quando o senhor vê aquele produto final, o que o senhor pensa dele?
R – Acho que é um produto bom. A gente produziu, mandou pra fábrica. A gente experimenta, sempre, e produto bom.
P/1 – O senhor já ouviu a opinião de alguém, um conhecido da cidade, ou daqui da região que consumiu o produto e disse alguma coisa?
R – Não. Nunca ninguém falou nada, não.
P/1 – Seu Augusto, qual foi a mudança mais radical, uma coisa marcante que aconteceu na produção do senhor desde que o senhor começou, lá atrás, que o senhor pensa assim: “Nossa, o meu pai fazia desse jeito. Mudou. Aprendi que não é assim.” Teve alguma coisa muito diferente que mudou aqui?
R - O que quê mudou? Naquele tempo, nós usávamos tração animal pra fazer canteiro, arar a terra, riscar. Hoje, nós temos um trator, né, pra fazer. Uma máquina. Tem uma encanteiradeira que faz o canteiro. Pica o terrão, fica certinho, lisinho. Tinha tempo de fazer tudo na enxada, quebrar os terrões, acertar, tudo tração animal. Então, aí, foi uma mudança grande que assim, foi um ano, que comprou o trator já deu essa mudança, de um ano pro outro.
P/1 – Mais ou menos em que ano o senhor passou a usar esse maquinário? O primeiro maquinário do senhor?
R – O primeiro trator é esse que tá aqui, mesmo. Foi em... Agora pra lembrar o ano não é fácil...
P/1 – Mais ou menos?
R – Deve ser (pausa)... Antes de começar a plantar pra Nestlé, eu já tinha ele. Ah, em 85, por aí, que mudou mais.
P/1 – O senhor tinha outras pessoas trabalhando pro senhor, aqui, antes?
R – Não. Naquela época não. Só a família mesmo.
P/1 – Eram vocês mesmo, que aravam com enxada? E depois com os maquinários, tem algum funcionário?
R – Não. Funcionário não tem.
P/1 – Continua mais ou menos a mesma coisa?
R – Mesma coisa.
P/1 – Como é que o senhor viu, depois que começou a usar as máquinas, o que mais mudou?
R – O que mais mudou, que as mesmas pessoas que “nós trabalha”, conseguiu aumentar a área de plantio, né? Com a ajuda do maquinário.
P/1 – A produção aumentou?
R – Aumentou a produção. E a área plantada também aumentou.
P/1 – Com relação à parceria, que o senhor tem um contrato com a Nestlé, o que mudou muito radicalmente?
R – Por conta da Nestlé, é o mesmo sistema, só que vem uma mudança sim, na questão de qualidade, segurança, que a gente tem que ter pra trabalhar com ela, né, inclusive pra ela.
P/1 – O que de segurança o senhor implantou, passou a fazer? Mudou a sua rotina de trabalho?
R – Segurança, eles querem em tudo, que nem “nós transportava” a mercadoria, daqui pra lá, com trator. Então, por segurança, um montão de coisa, hoje é no caminhão. Paga um transporte pra levar pra lá.
P/1 – Em dia, a segurança do senhor, durante o plantio, durante o cultivo da terra, teve alguma mudança?
R – Não. Aqui não mudou muito.
P/1 – Com relação aos agrotóxicos?
R – Agrotóxicos, mudou bem.
P/1 – O que o senhor fazia antes e que passou a fazer? O que o senhor mudou?
R – Eu, antes, eu usava agrotóxico com a roupa normal, que nem eu tou aqui. Hoje, não! Hoje, tem o EPI (Equipamento de Proteção Individual) próprio pra passar o agrotóxico.
P/1 – Como o senhor ficou sabendo que tinha que fazer isso? Mudou sua mentalidade? Que mecanismo que o senhor pensa, do senhor mesmo, sua cabeça, o que aconteceu que o senhor passou a adotar essas coisas?
R – A gente participou, por participação de curso de agrotóxicos, né? Mentalidades que as outras pessoas falam, que aconteceu, então, a gente tem que se prevenir, né? Pra não acontecer, o que aconteceu com alguns por aí.
P/1 – O senhor tem alguma notícia de gente próxima, de gente conhecida que aconteceram coisas pelo uso indevido? Agora, o senhor já sabe que não é assim...
R – Não. Aqui próximo não tem não. O professor mesmo, que vem dar aula, que explica, o quê acontece, o que pode acontecer.
P/1 – O senhor, sua família, que produz aqui, vocês pensam na questão da sustentabilidade, seu Augusto?
R – Tem que pensar um pouco, né?
P/1 – O que o senhor acha disso tudo? O que significa ser sustentável pro senhor?
R – Sustentável tem que fazer, com garantia de não perder, não estragar, pra você manter o que tem, né, manter a produção, e as coisinhas que a gente tem, tentar lidar. A sustentabilidade, acho que é por aí, né?
P/1 – Como o senhor acha que o seu trabalho, pensando em contribuição pro mundo, colabora para construção de um mundo melhor?
R – A gente contribui, eu acho que com a produção da gente, que vai pro Brasil inteiro, né?
P/1 – O senhor acha que tem algum diferencial na sua produção, que tenha esse efeito? Tem algo de especial que o que o senhor faz aqui?
R – Acho que diferente dos outros, não tem nada não. O que é produtor Nestlé, é mais ou menos...
P/1 – E dos outros, no geral, que não seja da Nestlé?
R – Aí, a gente quase não convive com esses produtores, a gente fica mais dentro da Nestlé.
P/1 – Mas o senhor tem notícia de leituras, assim: “Nossa! Tal lugar se produz de tal jeito. Aqui, não. Eu faço diferente.”
R – Isso é tem sim.
P/1 – O quê, seu Augusto?
R – Os produtos agrotóxicos, da vez da gente não vê lá, os outros comentam lá: “Fulano, usa isso.” Mas a Nestlé não pode, eu não posso usar. Então, a gente segura por aí, né?
P/1 – Entendi.
R – Aí, a gente comenta com o João Roque que é agrônomo. Ele: “Não, mas não pode. Você vai dar contaminação do produto lá no final.”
P/1 – O senhor mudou de agrotóxicos, além das coisas da segurança que o senhor passou a usar a roupa adequada? Tinham coisas que o senhor usava antes que o senhor aprendeu que não devia mais usar?
R – Tinha sim, mas era já informado por eles mesmo. Só que, aí, veio fazendo uma planilha do que pode usar e vem reduzindo os produtos, e também usando um pouco, do produto biológico.
P/1 – O que vocês usam de biológico?
R – Um inseticida biológico, um fungicida pra fungo de solo.
P/1 – Qual a matéria orgânica, de quê ele é feito?
R – Ele é um farelo de arroz, com... Como eu posso falar agora? Um bichinho que elimina os ruins, é mais ou menos assim.
P/1 – Sim, entendi.
R – É um ser vivo que você aplica ali, pra eliminar os outros.
P/1 – O senhor já teve algum problema com praga, seu Augusto?
R – Nós temos aqui com um pouco de fungo de solo, em salsa.
P/1 – Como vocês tem feito pra...
R – Tá usando o biológico pra ir combatendo. Não é que combate de uma vez, mas
vai. Tá melhorando bem já.
P/1 – Aparece periodicamente coisas que o senhor não tinha visto? Um fundo, uma praga, um mosquito, que prejudica a produção?
R – Isso aí tem. De vez em quando aparece uma coisa diferente. Aí, vai atrás até ver se consegue acertar o produto que dá certo.
P/1 – E o senhor vai atrás como?
R – Eu comunico o agrônomo e ele que se vira em ir atrás.
P/1 – Ele encaminha. Aí, vem o pessoal da ESALQ aqui?
R – Vem. Aí analisa, leva, pra ver.
P/1 – Quando vem alguém de lá da ESALQ, ou o próprio agrônomo, o que o senhor faz? O senhor mostra, relata? Como é isso?
R – Mostro o que tá acontecendo. Vai lá, tira uma planta, mostra pra ele. Talvez ele não vem, talvez a estagiária que tá aqui que leva pra Universidade, já faz lá.
P/1 – E o senhor tem registro dessas coisas que vão acontecendo ao longo dos anos? Com a produção? O que aparece?
R – Registrado tudo, assim, não tenho não. A gente vai acompanhando um caderno, marca mais ou menos.
P/1 – Tem um caderno que o senhor tem pra anotar essas informações. Como é o trabalho do senhor, com sua família? O senhor disse que seu pai trabalha até hoje, trabalha todo mundo junto, seu filho ajuda. Como vocês se organizam?
R – Trabalha tudo unido.
P/1 – E todo mundo faz tudo?
R – Cada um faz uma coisa. Meu pai é mais ajudar a catar um mato, na hora de colher, ajeitar em cima, da carga do caminhão.
P/1 – O senhor faz o quê?
R – Eu já faço qualquer coisa, faço de tudo.
P/1 – Faz de tudo?
R – Eu preparo o solo pro plantio...
P/1 – E o filho do senhor?
R – Ele ajuda também.
P/1 – Ajuda como?
R – Serviço mais fácil, que é semear coisas, o trator, ele faz também.
P/1 – E a mulher do senhor?
R – Ela ajuda também, catar mato.
P/1 – E quando chega a época da colheita?
R – A colheita da salsa, “nós tem” a máquina pra colher, nós mesmo que faz.
P/1 – Daí, precisa só de uma pessoa? E os outros? O alho-poró?
R – O poró, aí tem que contratar gente.
P/1 – O senhor contrata gente da onde?
R – Da cidade mesmo?
P/1 – Da cidade? E como é que o senhor faz? Já tem as pessoas certas? Você anuncia?
R – É. Tem as pessoas que vêm, assim, vêm, contrata ali com a pessoa responsável, ela arruma as pessoas, e vêm fazer colheita.
P/1 – E quantas pessoas o senhor precisa?
R – Eu aqui, mais ou menos, umas oito pessoas de fora, quando precisa.
P/1 –E demora quanto tempo pra colheita do alho?
R – O alho é, uma média de umas sete, oito toneladas no dia, mais ou menos.
P/1 – Dura quanto, quantos dias que passa?
R – Depende a quantidade que tem plantado.
P/1 – Ah, tá. E o senhor vai variando, assim, a área plantada por alimento?
R – A plantação varia. Cada época, você planta num lugar, né?
P/1 – Qual o critério pra dizer: “Vou plantar mais alho esse ano”, “Agora, eu vou plantar mais salsa.” O senhor tem algum critério?
R – Não. A Nestlé, o João Roque, mesmo, decide. Ele sabe a área que eu tenho, como tem que ser divido. Ele decide o que eu vou plantar, o que quê eu não vou.
P/1 – E quando o senhor discorda? Assim: “Não, João. Eu acho que é melhor mais salsa, esse ano.” Tem isso? Acontece isso?
R – Não. Com ele, nunca nós, essa coisa não.
P/1 – Sempre se entende?
R – Sempre entendeu. A gente conversa: “Aqui foi plantado. Não pode plantar isso.” Às vezes, eu preciso plantar, então nós vamos arriscar. Risco nosso, dos dois. Se vender errado, você vai ficar sem produção e eu sem o dinheiro (risos).
P/1 – Entendi. Como o senhor fazia antes de ter esse agrônomo?
R –Tinha os outros que vieram. Era pouquinho, né, então plantava: “Vamos plantar aqui.” Depois, planta ali. Era pouca coisa, então...
P/1 – Depois, sempre teve um agrônomo fazendo assessoria?
R – Teve. Ele vem e faz.
P/1 – E diz pro senhor quantidade, a área?
R – Uhum.
P/1 – É sempre no mesmo lugar, que planta a mesma coisa?
R – Não. Varia.
P/1 – Varia?
R – Sempre troca de terra, por causa do ciclo da planta, né?
P/1 – Qual a maior dificuldade que o senhor já teve aqui, seu Augusto?
R – Planta? Salsa!
P/1 – O que aconteceu?
R – Fungo de solo.
P/1 – E aí, o que deu?
R – Eu cheguei a perder. Plantava, nasce, não vai, não forma, perde tudo.
P/1 – Isso durou quanto tempo?
R – Isso aí teve quase que eu parar de plantar. Aí o João Roque que entrou, puxou a parceria com a ESALQ, aí que começou a melhorar de novo. Hoje, produz bem.
P/1 – Nessa época que teve esse problema com a salsa, o senhor produzia outras coisas?
R – É. Tinha o alho, o aipo.
P/1 – Mas o maior era salsa?
R – A salsa sempre foi a maior parte.
P/1 – A maior produção aqui é salsa?
R – É.
P/1 – Vocês passaram dificuldade que perdeu a produção?
R – Ficou meio difícil pra nós começarmos de novo, mas graças a Deus, nós fomos tocando.
P/1 – Esse ano de vacas magras, o que o senhor fez?
R – Tem que maneirar em tudo, reduzir todos os gastos, onde pode. Fui procurar uma ajuda nas cooperativas, revendedora, com o prazo pra colher, fazia assim.
P/1 – Entendi. O senhor já teve que pedir empréstimo bancário, essas coisas?
R – Bancário não! Sempre saia uma proposta da própria revendedora. Paga um jurinho, mas pega um prazo maior pra pagar.
P/1 – A revendedora, no caso, é a Nestlé?
R – Não. É outra firma.
P/1 – O senhor vende pra uma firma que vende pra Nestlé?
R – Eu vendo pra Nestlé direto. A revendedora é dos insumos que eu preciso. Adubo, veneno, essas coisas.
P/1 – Quais os principais aprendizados o senhor teve? O senhor vem de uma família de produtores rurais, então, desde que o senhor era criança que seus pais eram produtores, assim, o senhor participou mais de produção leiteira pro agronegócio. O que o senhor, ao longo desses anos, aprendeu? Qual a experiência maior, que o senhor teve?
R – A experiência nossa foi conviver com a Nestlé e plantar, e procurar as pessoas certas pra indicar como fazer certinho, né?
P/1 – Teve algum aprendizado técnico, ou de outra ordem, mesmo? Que o senhor tenha pensado: “Nossa! Como eu fazia isso? Como eu mudei!”.
R – A gente mudou, assim, mas que teve um outro meio... “Vai fazer assim, assim.” Foi com o passar do tempo que a gente foi se ajustando, achava que tava errado, mudava. Deu certo, vamos continuar, assim.
P/1 – Desde sempre, o senhor produzia salsa e a salsa é um negócio, o negócio é de salsa. O senhor nunca pensou em mudar pra outra coisa?
R – Não. Sempre na salsa.
P/1 – Mesmo com o problema do fungo que deu, o senhor persistiu?
R – Persisti e estamos tocando.
P/1 – Por que o senhor achou que tinha que persistir naquilo?
R – Ah, sei lá. Vai largar, quem vai plantar, né? Então, fica. Aí, conseguimos controlar o fungo. Tem um pouco ainda, judia um pouquinho ainda, mas tá bem controlado.
P/1 – Mas em nenhum momento, o senhor foi implantar outra coisa? Mudar de cultura?
R – Não. Na época que “coisou”, a gente passou pra uma cenoura, mas pra própria Nestlé mesmo. Pra dar uma ajudada, né?
P/1 – Uma equilibrada financeira.
R – É.
P/1 – Na sua vida pessoal, seu Augusto, o que mudou depois que o senhor aumentou a escala de produção? O que mudou?
R – Ah, quase que tudo, né? Tudo que a gente tem, vêm dessas produções da Nestlé.
P/1 – Por exemplo, diz um exemplo de alguma coisa que mudou pro senhor.
R – O trator, que eu tinha só esse pequeno. Consegui comprar um maior, consegui comprar a colhedeira, em sociedade, em três, nós conseguimos.
P/1 – Como vocês usam essa colhedeira?
R – Ela trabalha atrás do trator. Sentido de serviço dela, você fala?
P/1 – Sim.
R – Vai um tratorista, e vai um atrás tirando e jogando na caçambinha que ela tem, uma carretinha pequena, também.
P/1 – Ah, tá. Daí, são três donos?
R – É. Eu uso aqui, o outro usa, faz um giro. Quando eu preciso, eu vou buscar, outro precisa, ele vem buscar.
P/1 – Entendi.
R – Tem um responsável pra manutenção dela.
P/1 – Isso aconteceu depois que o senhor aumentou a sua produção?
R – Foi. Faz uns três anos, por aí.
P/1 – A renda do senhor aumentou? A renda familiar?
R – Com a máquina, aumentou e não aumentou, né? É que ela reduziu mão de obra, né? Pra colher oito mil quilos de salsa, nós precisávamos de dezoito, vinte pessoas. Hoje, em quatro, nós fazemos.
P/1 – Quais as suas perspectivas? O que o senhor pensa pro seu sítio, pra sua produção?
R – A gente pensa em melhorar, mais ainda, né?
P/1 – Aumentar?
R – Aumentar. Se Deus quiser, mais pra frente.
P/1 – Como o senhor vai aumentar?
R – Tem que alugar terra pra aumentar.
P/1 – Alugar terra?
R – Alugar. E o senhor pensa em plantar? Continuar com as mesmas coisas que o senhor já produz ou pensa em produzir coisas diferentes?
R – Eu penso em continuar com as mesmas.
P/1 – As quatro?
R – Se mudar alguma coisa, pra um plantio de cenoura.
P/1 – O senhor já planta cenoura?
R – Já plantava, essa planta. Só que aumentou o volume de verdura de folha, que é a salsa, o alho, então aumentou muito e não teve como plantar.
P/1 – Seu Augusto, já teve algum momento que o senhor pensou em mudar de profissão?
R – Não.
P/1 – Teve algum momento que o senhor pensou assim: “Nossa! Eu cansei dessa vida e agricultor.”?
R – Nunca pensei, não.
P/1 – “Vou jogar tudo pra cima”. Nunca pensou nisso?
R – Sempre foi positivo nisso aí. Nessa posição.
P/1 – Nunca pensou em ser astronauta?
R – Não (riso).
P/1 – O senhor gosta, então, do que o senhor faz?
R – Sim.
P/1 – Das suas atividades, qual o senhor mais gosta?
R – Ah, toda ela, eu gosto de toda ela (risos).
P/1 – Todas as etapas?
R – É.
P/1 – O colher...
R – Colher, preparo de solo, colher, irrigação.
P/1 – Tudo?
R – Tudo.
P/1 – E tem uma coisa que o senhor gosta com mais carinho do que outra?
R – O principal é a colheita, né? Tem que fazer com mais carinho, que é o final, né? Pegar ali, também tem que pôr uma pessoa pra ajudar, você tem que ficar em cima, pra não ir coisas estranhas no meio, né? Eles têm que ser mais atenciosos.
P/1 – Desses produtos que o senhor tem, vocês usam em casa também?
R – Usa.
P/1 – O senhor aprecia?
R – Opa! Salsinha, um alho, um aipo.
P/1 – Hoje em dia, o que é mais importante pro senhor?
R – Ué, o que eu posso falar? Mais importante? A família, né?
P/1 – Família?
R – Família.
P/1 – Por quê? Por que é importante?
R – Ter uma família unida é muito importante pra gente, né? Tudo junto, trabalhando tudo junto.
P/1 – O senhor gosta de trabalhar com sua mulher, com seu filho, com os pais, todo mundo na colheita?
R – Gosto. Todo mundo.
P/1 – E que sonho o senhor tem? Um sonho pessoal e profissional?
R – A gente tem o sonho de melhorar a parte financeira, né, quanto melhor a parte financeira, mais fácil pra tocar. E profissional, manter o que estamos mantendo, pra melhor também.
P/1 – O senhor sonha em aumentar a sua produção? Aumentar em que escala?
R – Produtividade diária mesmo.
P/1 – A gente tá caminhando pro final da entrevista, o senhor gostaria de falar alguma coisa que a gente não falou aqui?
R – Dizer o quê?
P/1 – Alguma coisa importante?
R – Eu acho que tudo já foi, mais ou menos, esclarecido.
P/1 – O senhor gostou de contar um pouquinho da sua história?
R – Gostei.
P/1 – Então, muito obrigada, seu Augusto.
R – Vocês gostaram? Tá mais ou menos?
P/1 – Gostamos sim. Importante ouvir a história do senhor, entender como funciona essa coisa da produção, que a gente vê só o produto lá no mercado, né?
R – Não sabe como é produzido.
P/1 – O senhor contando como é, a gente entende um pouquinho como ele chega lá. Muito obrigada.
R – De nada.
FINAL DA ENTREVISTA
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