Meu filho, Paulo, faleceu aos 24 anos no dia 9/12/2000. Meu marido, minha filha mais nova de 9 anos e eu morávamos no interior há 4 anos. Paulo e Adriana moravam na casa dos avós em SP. Anualmente, antes do Natal em família, os dois escolhiam um restaurante que gostavam e junto com os namorados ...Continuar leitura
Meu filho, Paulo, faleceu aos 24 anos no dia 9/12/2000. Meu marido, minha filha mais nova de 9 anos e eu morávamos no interior há 4 anos. Paulo e Adriana moravam na casa dos avós em SP. Anualmente, antes do Natal em família, os dois escolhiam um restaurante que gostavam e junto com os namorados e sem a filha mais nova que monopolizava um pouco as atenções, jantávamos no local escolhido por eles. E assim, no dia 6/12/2000 nos reunimos naquele que seria nosso ultimo jantar juntos. Sempre era um momento muito especial onde cada um expunha os planos para o ano novo, falamos sobre a formatura dos dois que estava próxima e muitos outros assuntos. Foi um momento de alegria, risadas, planos para o futuro. Paulo terminava
a faculdade de administração na GV e queria fazer pós no exterior. Quando nos despedimos, ele me deu um bj e um abraço apertado, o que era comum ele fazer, mas tive a estranha sensação de que ele estava triste. Perguntei se estava tudo bem, ele respondeu que tinha sido um semestre difícil na faculdade e o trabalho estava exigindo muito, mas que não me preocupasse porque já tinha se programado para passar o réveillon em Ilha Bela com a namorada e ia descansar. Nos abraçamos novamente e cada um retornou para casa. No dia 8/12 fui ao cinema com o meu marido, nossos celulares estavam no mudo e, quando chegamos em casa nossa funcionária nos disse que ele havia ligado mas que falaria comigo no dia seguinte (sábado) porque estava saindo com a namorada. Vi que tinha uma chamada no meu celular mas como passava da meia noite achei melhor falar com ele no dia seguinte. Deveria ter ligado...No dia seguinte ele estava morto, nunca soube o que ele queria me dizer. Nossa vida como a conhecíamos nunca mais foi a mesma, não existe dor maior do que a perda de um filho, vc perde o passado, o presente e o futuro deste filho. No inicio, vc tem muitas pessoas a sua volta logo em seguida as pessoas retomam suas vidas e vc se pergunta quando vai conseguir respirar novamente. Falta ar, falta o sol, falta luz, todas as lembranças deste filho desde o principio da vida com ele estão registradas em incontáveis fotos. Passei muito tempo reorganizando as fotos com ele e fazendo álbuns, chorei oceanos e ainda choro. Queria poder voltar o tempo e refazer aquele dia, queria ter retornado a ligação,
queria sentir aquele ultimo abraço apertado e não tê-lo soltado mais. Usei, durante muitos anos, o perfume dele pq queria senti-lo mais perto, falar sobre ele causava um desconforto nas pessoas então só falávamos dentro do núcleo, eu, meu marido e minhas filhas, mesmo os avós, primos, tios mudavam de assunto quando se falava dele, talvez achando que estavam nos polpando. Depois de um tempo que não sei determinar, medicações, terapia, exercício físico foram ajudando um pouco. Mas me sentia percorrendo uma estrada escura que não tinha fim, as vezes saía dela para a luz, mas retornava pq não conseguia lidar com a vida lá fora, com o som pulsante de um mundo que continuava a girar apesar da morte do meu filho,
minha vida tinha parado no dia da partida do Paulo. Sabia que não poderia acampar nesta estrada escura pois, minhas filhas e marido precisavam de mim ou do que tinha sobrado de mim, mas não conseguia
Mais de 2 anos após a partida do Paulo meu marido, sentou-se ao meu lado, olhou nos meus olhos e me disse da forma mais amorosa possível: - O seu coração tinha um espaço para 4 pessoas, eu, o Paulo, a Adriana e a Mariana, entretanto desde a morte do Paulo este espaço passou a ser ocupado pela dor e a saudade dele, seria importante se nós, que te amamos tanto e sofremos terrivelmente a ausência dele, voltássemos a ter nosso espaço no seu coração e na sua vida. Nos abraçamos e choramos juntos, suas palavras calaram fundo dentro de mim e eu fui buscando ficar mais tempo no caminho iluminado, colocando de volta no meu coração as pessoas que são tão importantes quanto o Paulo na minha vida. Nove anos depois que o Paulo partiu, nasceu meu neto no dia 8/09, parece que o nascimento dele, um dia antes da data da morte do meu filho, veio como um presente trazendo alegria a uma época marcada pela tristeza. Seu nascimento trouxe de volta a leveza da época que antecede o Natal que tinha ficado marcada pela tristeza. Confesso que nos últimos 7 anos voltei para a estrada escura pois meu marido foi diagnosticado com Demência Fronto Temporal e estou lidando com a dor dilacerante de um luto antecipado.
Mas esta é uma outra historia...Recolher