Projeto Memória dos Brasileiros
Depoimento de Narcisa Pereira da Cunha
Entrevistada por Cláudia Leonor e Thiago Majolo
Serra do Cipó, 08/07/2007
Realização: Museu da Pessoa
MB_HV020_Narcisa Pereira da Cunha
Transcrito por Luisa Fioravanti
Revisado por Paulo Ricardo Gomides Abe
P/1 – Para começar gostaria que a senhora dissesse para a gente nome completo, data e o local de nascimento.
R – Narcisa Pereira da Cunha, nascida sete de agosto de 1942, na fazenda Quilombo, município de Corumbá de Goiás.
P/1 – Qual era o nome dos seus pais?
R – Francisco Pereira ________ e Benedita Gomes _______.
P/1 – O que eles faziam?
R – Papai é agricultor e mamãe é do lar, doméstica.
P/1 – A senhora sabe __________________ se conheceram?
R – A história de papai, ele era nascido _________ federal, _____, Goiás e sempre trabalhando, aprendeu ler, escrever, dizia ele assim, que aprendeu ler, escrever com a cartilha do ABC, porque naquele tempo tinha a cartilha do ABC, então ele pedia leitura para um, leitura para outro, nunca foi numa escola pública e ele até tinha uma leitura boa, boa mesmo papai tinha, papai era muito sábio, ele fazia as _____ de conta. Papai fazia muita coisa, não só _____, ele era carpinteiro, pedreiro, de tudo papai fazia um pouco, era muito inteligente. E quando conheceu mamãe no município de Corumbá, de Goiás, na fazenda ______, __________________ na fazenda _____ município de Corumbá, se conheceram e se casaram. E aí se mudou para essa fazenda Quilombo, onde construiu a família. E criou essa família na fazenda, foi ____ mesmo, ____ no município de Corumbá, onde nós todos fomos criados. Nós éramos quatro irmãos, eram quatro irmãos e nós foi tudo criado. Ele nunca pôs, naquele tempo não tinha escola na zona rural, ele ensinou os dois irmãos mais velhos e os dois irmãos mais velhos ensinaram as duas irmãs mais novas. Eu sou a caçula e a outra é (acima?) de mim. Nos ensinou em casa. Eu sei ler, escrever, leio qualquer coisa, mas nunca entrei numa escola pública. Tenho a sabedoria da roça, onde eu fui criada, plantando, colhendo, vendo as coisas acontecer e muita experiência para uma mãe que era analfabeta, mas também muito trabalhadeira, inteligente. Nos ensinou a costurar, ela era tecedeira. Nós aprendemos aquilo tudo da roça. Era trabalhar na lavoura, apanhar café, algodão, fiar, pegar mamona, fazer azeite, _____ com azeite naquele tempo. Era isso a nossa profissão, nascida e criada na lavoura. Só mudei para a cidade quando já era casada, mãe de três filhos, onde construí a família na cidade. Mudei de Corumbá, hoje resido em _______ há três anos, moro em ________, Goiás.
P/1 – Queria que a senhora contasse um pouco da sua infância com seus irmãos, as brincadeiras.
R – Nosso divertimento desde o tempo de criança era ensinado pelos vizinhos, pelos mais velhos, pela mamãe. Era a nossa brincadeira de roda. A brincadeira de roda tem muito sentido, porque hoje eu ____ me lembro. Noite de lua clara, nós reuníamos os vizinhos e íamos brincar de roda, tinha várias brincadeiras. Íamos acampar. De domingo também íamos passear na fazenda, reuníamos os amigos na fazenda de fulano. Nós íamos. Chegava lá, reunia e brincava o dia inteiro, só voltava para casa à tarde. No outro domingo, as pessoas às vezes vinham para as nossas casas e continuavam a brincadeira. Assim foi a nossa infância. E eu pensei que aquilo tudo tinha acabado, mas através do conhecimento dessa amiga minha que eu sou com ela ______, voltou tudo de novo. Nós estamos com as crianças, na escola, ensinando aquilo que já passou da minha infância e foi-se o tempo da brincadeira de roda, foi o tempo da ________, foi o tempo do mutirão que até hoje sei as (músicas?) do mutirão, que no nosso projeto tem, lá em Goiás. A _____ de mutirão que no tempo meu nós cantávamos para apanhar café, e tudo nós fazíamos na roça, tudo nós fazíamos. ________ derrubava a roça, ______ a roça, meu irmão picando madeira ficava ______ para limpar a terra para poder plantar. Meu irmão ia picando a madeira, porque eram só um homem e três mulheres. Meu irmão ia picando as madeiras e eu mais a minha irmã íamos carregando e amontoando para poder por fogo, para poder limpar a terra para poder plantar, ______ de carvão. (De tarde ninguém reconhecia nós?), e tudo feliz da vida cantando porque era tempo bom, tempo de fartura. Trabalhava também numa fábrica de farinha, ali mesmo houve uma roda, (ali parece que é engenho?), já foi tocado por _____, igualzinho a roda que papai fez de tocada por ______ de ralar mandioca. Então nós tínhamos fábrica de farinha também, trabalhava na fábrica de farinha, onde saía gente de Pirinópolis ______ ______ _____ de Pirinópolis. Saiu gente de Pirinópolis com cargueiro, a _______ ____ cargueiro, não tinha ____ de caminhão, não tinha nada. Então eles saíam de Pirinópolis para comprar farinha na nossa fazenda, polvilho na nossa fazenda e depois com ____ de tempo papai reuniu com um vizinho, chamava Zé Maria, ele tinha uns filhos. Papai também só tinha um filho homem, mas tinha umas pessoas que trabalhavam com ele, e começou onde é hoje ______, Goiás, onde passa a federal. E lá ele tirou o galho da estrada que é ______, a ______ de picareta, enxadão, e fez a estrada de caminhão para ficar melhor para conduzir as coisas da nossa fazenda, café, arroz, milho para a cidade. Mas a gente _____ do burro, do cavalo, e nós _____ também para passear, para ir para a cidade lá no lombo do cavalo. Era de cavalo que nós andávamos, desde o tempo de criança andava a cavalo.
P/1 – O que ________ _____ ________ as brincadeiras?
R – As brincadeiras? ____ com mamãe, mamãe foi criada sem mãe, pouco ela aprendeu com a mãe dela, aprendeu com as avós, com minha bisavó e também com as vizinhas que tinha as pessoas mais velhas que ensinavam a brincadeira para nós. Não brincava só nós meninas não, brincava todos nas brincadeiras, os velhos, os vós, os pais, as moças, meninos, tudo na brincadeira, todos se divertiam. Tudo era bom e tudo saía alegre e satisfeito. Como hoje, as amigas de brincadeira minha, não moram em Pirinópolis, as amigas de brincadeira minha moram em ____, Goiás e moram em Corumbá só os dois irmãos mais velhos meus e lembram também das brincadeiras que eles brincavam. Era desse jeito.
P/1 – E a senhora brincou até que idade?
R – Ah, moçona, até vida de moça, depois casei, ______ parei de brincar e hoje brinco de novo. Brinco, lá no nosso espaço de Pirinópolis. Nós brincamos e vamos até o meio da rua brincar com as crianças, ensinar as crianças como os mais velhos me ensinaram, passando para as crianças e a criançada adora brincar junto conosco, nós brincamos até hoje, _____ de novo ________ tinha passado. Para mim tinha acabado, conheci essa amiga que está hoje aqui comigo, a ______, que veio do Maranhão, mora em Pirinópolis. Tomei conhecimento com ela e descobri as brincadeiras dela que eles vinham _______ brincar na minha rua junto, por causa de uma empregada dela que era minha amiga conhecida vizinha e aí brincava na minha rua. Eu sentei na porta da minha casa e fiquei olhando, não conhecia ela não, conhecia de vista. Fiquei olhando as brincadeiras delas, brincavam, cantavam de roda, bateram caixa. Foi embora, pensei aqui comigo: “A nossa brincadeira do nosso tempo, e elas brincam até hoje e eu larguei!”, porque uma foi para um lado, outra para o outro, morreram. Fiquei, então foram embora, no outro domingo elas voltaram, elas voltaram e eu não resisti, eu vi aquela brincadeira e me tocou muito, não resisti. Ela ia se despedindo para ir embora, canta para despedir a _____, a Luciana. Ela inclusive está aqui conosco, ela está passeando no Maranhão, ela é do Maranhão. Está passando férias e elas cantavam ________: “Leva eu João, eu também quero ir, ____ na tua casa de madeira tenho medo de cair”. E eu não resisti, eu me levantei e me aproximei e cantei assim: “Agora chegou a hora de ____ cantar primeiro eu não sou boa cantadeira eu fiquei por derradeiro.”, e me enturmei com ela e juntas estamos até hoje. Logo veio esse projeto de ______ _______, aí eles me puseram como a chefe dos ___ de Pirinópolis. Só ____ que pode ___ ______ __________ por causa da sabedoria que eu tenho do passado, e não esqueci do passado, das brincadeiras. Estamos levando para as escolas, para as crianças conhecerem. Como foi o passado muito diferente de hoje, mas a gente precisa conhecer como foi o passado, o tempo que tinha respeito, o tempo que os filhos obedeciam os pais e ____ ____ parou e hoje tudo acabou, não ouvia falar em droga, em nada. Não tinha televisão, a diversão nossa era essa. (Lá com os vizinhos passear longe, com a família?), chegava, fazia uma fogueira no terreiro, ia cantar e ouvir os mais velhos contar histórias. Como lembro de muitas histórias que mamãe contava para os amigos do _____, _________________________________________ depois que nós fomos para a Serra do Cipó, ____ uma história do meu tempo que já passou.
P/1 – Qual era o sentimento ________ ____ para a senhora? O que traz para a senhora?
R – O que traz hoje? Ah, era boa, era nosso divertimento. Saíam todos alegres e satisfeitos. Todo mundo ria, todo mundo brincava, se despedia e marcava o outro encontro. Era sempre assim, era sempre assim a nossa brincadeira, marcava outro encontro e continuava. Só acabou (através?) do tempo, porque cada um teve um estilo de vida, cada um para o teu canto, inclusive o ______ já morreu, com minha irmã mesmo, a mais velha que eu, já faleceu. Só tenho dois irmãos mais velhos em Corumbá, Goiás.
P/1 – A senhora cantou um tipo de cantiga que alguém falou alguma coisa e a senhora respondeu?
R – Isso, é sempre assim a brincadeira de roda ______ sabia umas, como eu e a _____. Ela veio do Maranhão já com a brincadeira dela de lá e deu certo com a minha. Eu aprendi dela e ela aprendeu de mim, porque deu certo. A minha brincadeira tinha acabado e a dela sempre revivendo sem deixar acabar. Ela reviveu a minha, arrancou o defunto da cova, que já estava enterrado. Para mim já tinha acabado.
P/2 – Brincadeira de roda?
R – Brincadeira de roda, música.
P/2 – Canta para a gente alguma?
R – Tem uma rolinha branca muito bonita, essa também, essa é nossa, essa é do nosso tempo. É uma brincadeira de roda, fazem a roda as pessoas e põem o nome de cada pessoa, Você está na roda, você é rolinha branca: “Rolinha branca piou, piou caiu no (laço?) se embaraçou, me dá um abraço que eu desembaraço. A rolinha branca caiu no (laço?), me dá outro abraço que eu desembaraço. A rolinha branca já saiu do (laço?).” Então você vai embora e chega nele: “O gavião piou, piou caiu no (laço?) se embaraçou, me dá um abraço que eu desembaraço. O gavião caiu no (laço), me dá outro abraço que eu desembaraço. O gavião já saiu do (laço?).” E vai embora e chega aquele: “O marreco piou, piou caiu no (laço?) se embaraçou, me dá um abraço que eu desembaraço. O marreco caiu no (laço?), me dá outro abraço que eu desembaraço. A rolinha branca já saiu do (laço?)”, e assim vai a roda inteira. Põe um nome de bicho, cada um tem seu apelido de bicho, dá um abraço e dá outro abraço que eu desembaraço, aí a pessoa sai, até o último na roda.
P/2 – E escolhe o bicho pelo jeito da pessoa?
R – Não, o que vir na cabeça (risos), é o que vem na cabeça. Se lembra de um pássaro ____ assim, não é com aparência não, a gente acha um que não parece, mas tem hora de dá certo (risos). _____ ______ foi minha vida, viu e hoje sou feliz. Sou feliz com a minha velhice, apesar que esse tempo da velhice é curto.
P/2 – Quais eram as outras brincadeiras?
R – Tinha várias, ih, muitas mais.
P/2 – Conta para gente!
R – Tinha muitas, várias brincadeiras. _______ do (arroxoxo?) _________ ____________, já ouviram?________ ___________: “Você não vai na função eu vou, você não está namorando, eu estou. Passarinho no (arroxoxo?), passarinho no (arroxoxo?)”, quando fala (arroxoxo?) dá um sapateado, para o próximo vir, dá um sapateado e bate palma. É desse jeito: “Agacha ali (moreno?) eu quero sentar no galho, depois que eu _____ sentada contarei o meu trabalho, você não vai na função, eu vou. Você não está namorando, eu estou. Passarinho no (arroxoxo?), passarinho no (arroxoxo?).” Agora cada um põe um verso, vai continuando, cada um põe um verso, como pode cantar outros versos: “Eu vou cantar a minha vida com a vida do pássaro preto, _____ ________________ mas ela que satisfez. Você não vai na função, eu vou. Você não está namorando, eu estou. Passarinho no (arroxoxo?), passarinho no (arroxoxo?)”, é desse jeito. E tem várias, muitas, muitas, muitas. Se eu for cantar para vocês, vamos ficar até o resto da tarde aqui gravando. É tanta brincadeira. Um ensinava, outro ensinava _____ _________ ________, tem várias dela também, já ensinou e também aprendeu comigo também, tem várias. Tem uma outra música que chamava (Coriola?). Essa também é engraçada, essa também põe um verso. Ela é uma música assim (___________ ___não faz isso não?): “Amiga fulana, você também é companheira, então entra nessa roda para fazer a roda inteira.”, vai jogando o lenço em todo mundo e vai cantando o verso, até formar a roda. Quando formar a roda, como é o seu nome?
P/2 – Cláudia.
R – Amiga Cláudia, você também é da coriola. Põe o pé neste pilão, canta um verso e vai-se embora.”, voltou para o meio da roda e você chega e canta o seu verso. ___________ e canta seu verso e vai embora. Como eu, eu chego e canto: “Eu entrei foi nessa roda, eu entrei foi de exibida, para entrar eu fui chamada para sair. Eu fui corrida.”, eu saio, também vai saindo. Todo mundo vai cantando o verso, convidando todo mundo para cantar o verso, põe o pé no pilão ____________________________________ pode por uma pedra, qualquer coisa, mas fale que é um pilão e canta o verso e vai-se embora até acabar a roda._______________________________________________________________________: “Essa dança do tatu, essa dança do tatu foi uma velha que inventou, foi uma velha que inventou. Essa velha já morreu, essa velha já morreu, essa dança ainda ficou. Essa dança ainda ficou. Essa dança do tatu é uma dança engraçada. Quem tem namorado dança, quem tem namorado dança, quem não tem fica sentado, quem não tem fica sentado. Volte, volte minha gente, volte, volte minha gente quero seu verso falado, quero seu verso falado.”, pessoa para e cada um fala o seu verso _________ em cima daquele morro tem um (carneirinho?) morto. Ele morreu arrebentado ______________________________________”, continua _______ a roda cantando a mesma coisa até ____________________ e a pessoa não sai não, continua na roda
P/1 – __________
R – Era por diversão e também tem muita coisa, muita música __________________________________, porque eu sempre sigo ________ velhos.
P/1 - ______ vou fazer uma pergunta e a senhora vai lembrando aqui, _________ para a senhora se era um diversão _______________________________________________________, a senhora inventava também os versos?
R - _______ como inventar, inventava na hora, assim, pensa ou cantava para _________. Daquele verso que ele cantava, eu já fazia outro e já cantava para ele também, cantava versos, muitos versos que nós cantávamos aquele tempo e também _______ continuidade do tempo do mutirão. No tempo do mutirão, as pessoas estavam atrasadas com as roças. Não tinha como pagar peão, porque era tudo pobre. Não podia pagar peão, fazia mutirão, convidava os companheiros, aprontava e a pessoa ajudava, limpava a roça às vezes, batia ________, plantava o milho, outra hora limpava_______ de arroz já estava atrasado para plantar, porque a derradeira época de plantar arroz é 13 de dezembro, dia de Santa Luzia. Então _______, a chuva chovendo, vamos fazer um mutirão, arrumava tudo e as pessoas iam e ajudavam, ia na base dos mutirão, aí ________ que as pessoas trabalhavam cantando o dia inteiro cantando na roça. Tinha uma música que eles cantavam: “Oh, patrão, sustenta quem você falou. Você disse que me dava uma pinga _________ ________. Oh, patrão, põe água no garrafão ______ _____ para cá deixa o povo trabalhar.” E assim iam trabalhando e cantando, tinha várias de mutirão, _____, _____, a pessoa estava folgada com o serviço, às vezes não podia pagar para trabalhar, a mesma coisa que o mutirão, a pessoa ___________ _________ não estava sabendo de nada não, aprontava o _____ do almoço, chamava os companheiros: “Vamos na ____ de fulano!” Chegava na casa dele de madrugada, cantava na porta _________________ chegar a essa hora. Estavam todos dormindo, chegavam cantando: “Senhor dono da casa _______ o coração, abre a porta e acende a luz. Recebei sua ______. Boa noite, minha gente. Boa noite, morador, é hora de ______ ______ que chegou.” O dono da casa levantava igual um louco. Tinha gente que dormia de ceroula, antigamente não era cueca não, era ceroula, vestia _____ _____ correndo para receber a pessoa na porta. Olhava para porta e ______ saindo para tudo quanto é lado. Aquele povão na porta, punha a mão na cabeça ________: “Meu deus do céu, não tem arroz limpo e nem feijão cozido, o que eu faço _____ na porta?” O dono da casa recebia a pessoa e a mulher vinha atrás com tudo, feijão cozido, arroz _____, do jeito que _____ do almoço. Apessoa ia trabalhar, _____ as mulheres ajudar na cozinha e trabalhava o dia inteiro. Quando era de tarde, todo o serviço estava pronto. À noite era o baile, era o forró, _______ de oito baixo, dançava e nós cantávamos a noite inteira ________. Isso que era nossa diversão na roça e a solidariedade de ajudar uns aos outros. Era desse jeito, era um tempo bom que não volta mais. Hoje pouco lugar que tenha ______, porque aqui mesmo tem... o mutirão tem a ______, porque eu já vi na televisão. E mais, a chegada da _____ aqui em (Minas chegou e terminou o serviço?), lá era assim, pegava o cabo da ferramenta, quatro pessoas, ____ ______ e ____ a da ferramenta assim, força, _____ e prendia o dono da casa, prendia, punha na prisão e agora chegava com ele na casa ______ preso. Ele estava preso dentro da casa cantando e os trabalhadores atrás ______ _______: “Lá se vai, lá se vai uma boa ______ para soltar esse preso se for ________. Lá se vai, lá se vai uma boa ______ para soltar esse preso se for ________. Lá se vai, lá se vai uma boa ______ para soltar esse preso se for ________.” A dona da casa tinha que vir com ou uma garrafa de pinga e dar um golinho para todo mundo. Ia um golinho para todo mundo, todo mundo tomava um golinho para soltar o preso e soltava o dono da casa _____________. Uma vara, um chicote lá para o dono da casa, ele estava _____ _____. Agora em Goiás é desse jeito, era desse jeito. Isso lá também já acabou, algum lugar aqui existe, mas na nossa região mesmo não existe mais.
P/1 – Que idade a senhora __________?
R – 22 anos.
P/1 – E aí a senhora _______________________________?
R – Foi 30 anos de _____, Eu sou separada (risos) , faz 13 anos que eu me separei.
P/1 – Como foi o processo de relembrar ___________________________________?
R – Pois é, _________________ como já contei que relembrei, e tem alguns, na cidade de __________ Goiás que é entre Pirinópolis e Corumbá. Lá existe as minhas amigas, moram numa cidade tão pertinho da outra, mas cada uma ocupada com as suas coisas. Não lembram de visitar uma a outra, passa tempo sem ver. Nós estamos com um trabalho lá, então nós fomos a Corumbá, numa escola, eu e essa amiga aí _______, Luciana (eu conhecia a coordenadora da escola, era minha sobrinha?). Arrumamos um lugar, vamos apresentar agora em agosto lá na cidade de Corumbá e fomos para ______ nosso trabalho vai _____ ______. Essas três cidades, Pirinópolis, Corumbá e ___________, esse projeto que nós estamos terminando agora em agosto. E nós chegamos em _____, fui na casa de uma prima minha, criada junta também ali apanhando café, trabalhando na roça, fazendo aventura ia longe com a turma a pé passear para as outras fazendas, andando a cavalo. Então nós fomos para a casa dessa prima visitar umas amigas ________, daquele tempo meu lá na roça _______ ______. Chegamos, relembramos tudo, marcamos tudo e fomos almoçar no hotel de uma amiga minha, desse tempo também. Você diz que ela me reconheceu? Ela não me reconheceu, ____, ela tinha ido lá em casa. Fazia 11 anos que ela tinha ido na minha casa em Pirinópolis. Eu cheguei e falei para o marido dela passar uma surpresa nela _______________________________________________ na cozinha. Eu falei: “Fala para ela que chegou uma mulher para cobrar dela, que ela é devedora, deve e não paga, chama ela aí”, ela olhou pela janela do restaurante, servindo a mesa que estava fora. Ela me olhou assim e não me reconhecia, tornou a dar uma olhada: “Não conheço não!”, olhou: “Não conheço!” ___________ gostava muito de me ouvir cantar, eu falei: “Ela vai lembrar quem eu sou agora, quer ver?” “Lá vai uma chalana, bem longe se vai , ______ o remanso do Rio Paraguai...” Quando ela ouviu a minha voz: “Oba, é você, danada!”, me reconheceu pela voz. Tinha esquecido a minha fisionomia e agarrou na memória a música que eu cantava. Se aproximou de mim, largou cozinha, largou tudo e veio recordar o passado, desse jeito foi a minha infância.
P/1 - ________________ cantava?
R – Eu cantava e me conheciam como cantora, eu a minha irmã que morreu, faz 10 anos que faleceu. E as outras amigas também, nascemos, crescemos cantando. E eu fiquei muito tempo sem cantar, larguei. Sou rezadeira também, sou do grupo do presépio de Pirinópolis. O presépio de Pirinópolis tem uma tradição muito bonita. (Dei continuidade em Pirinópolis, mas aprendi onde eu fui criada?), mas era rezadeira, rezava o terço nas casas, _____ _____, oficio de Nossa Senhora, essas coisas assim, e agora em Pirinópolis eu sou do grupo do presépio, que é muito bonito, muito bonito.
P/1 – Depois que a senhora encontrou essa amiga e ela te reconheceu, vocês decidiram fazer uma retomada?
R – Vai sim, vai retomar, que nós vamos dar continuidade em trabalhar em ________ para ver se levanta aquele povo do meu tempo que já esqueceram, como eu também levantei. Vamos trabalhar junto com eles para ver se eles alembram daquele tempo.
P/1 – Retomando aqui, Dona Narcisa, a gente estava falando exatamente sobre isso, sobre retomar a memória, a senhora disse que ficou muito tempo sem cantar quando estava casada, mas a senhora, em nenhum momento, esqueceu as cantigas, sempre lembrou?
R – Sempre lembrei.
P/1 – E aí a senhora passou para as suas amigas? Como foi isso?
R – Eu encontrei outras amigas que continuaram cantando comigo. O que eu sabia eu ensinava para elas e o que elas sabiam ensinavam para mim e nós continuamos cantando na cidade onde eu moro, Pirinópolis. Eu tenho o meu grupo lá, cantadora e rezadeira, todas nós juntas, como nós canta e como nós rezamos juntas, que é Dona Laurita, que é uma das famílias tradicionais de Pirinópolis, uma cantadeira e rezadeira, porque nós cantamos e rezamos juntas e outras também juntas no grupo conosco e continuamos cantar, sempre cantando, levando o conhecimento às vezes e ensinando quem quer aprender as coisas daquele tempo nosso, que já se foram. Então às vezes se dá continuidade de ficar para esses novos, como o presépio de Pirinópolis, que está ficando no esquecimento também. Se terminar esses mais velhos que estão cantando, os mais novos não querem prosseguir. Agora tem umas (netas?) de Dona Laurita cantando conosco, espero que elas levem isso em continuidade, porque é muito bonito.
P/1 – A senhora disse que foi criada na rua. Hoje em dia falam que quem está na rua é vagabundo, como a senhora vê _____?
R – É, mas, (não foi no tempo que eu obedecia os pais?), porque quando eu me mudei para a cidade, eu já era casada. Foi no tempo que eu conhecia os pais: “Você vai _____________________, você chega tal hora!”, chegava naquele tempo. Hoje, nem eu, já está diferente o jeito que eu criei a minha (família?), a minha (família?) não segue a minha tradição. Eu segui a tradição da minha mãe, que me ensinou, ____ os mais velhos, que me ensinaram, que eu aprendi com ele, e estou seguindo. (Nenhum filho meu?) teve a vocação, nem o dom de chegar onde eu estou aqui hoje, nenhum deles. Eu tenho quatro filhos homens e duas filhas mulheres. Nenhum deles, nenhum. Cada um segue seu rumo, a sua vocação, mas não como eu, que tinha de cantar e rezar, brincar, dançar dança de roda, quadrilha. Esse ano nós dançamos a Quadrilha dos ________ foi um sucesso aqui em Pirinópolis, foi um sucesso a Quadrilha dos _______ Pirinópolis, não tinha nenhum filho comigo, tudo moram lá, não tinha nenhum junto comigo. Então, eu acho que quando eu morrer, acabou a semente, acabou. Não vai ficar não, do meu lado não. Pode ficar com a minha companheira que está junto comigo, a neta de Dona Laurinda, que eu já falei dela. As netas dela podem continuar porque estão aprendendo, agora o meu acabou... Acho que quando eu morrer acabou.
P/1 - __________________ ajuda a retomar isso?
R – Ajuda sim, a ______ ajuda a retomar porque nós estamos dentro da escola agora ensinando os alunos. Como eu fui, estou ensinando como foi o meu tempo na roça, como eu vivi, como eu aprendi, como era o meu divertimento. Não tinha televisão, não tinha rádio, então o divertimento da gente era esse e estamos passando isso na escola. Agora estamos todos dentro da escola com as crianças, está tudo lá, _____ estão na escola, _____ às vezes fica no esquecimento, né, alguma criança pode se interessar, ______ para contar mais para frente para os seus filhos que aprendeu isso na escola com o _____ antigamente, como era antigamente.
P/1 – Quando foi que a _______ convidou a senhora para________?
R – Foi agora, há pouco tempo. Não tem nem um ano ainda, e faz tempo que eu encontrei a _______ maranhense. É paulista, mas eu chamo de maranhense, porque veio do Maranhão. Já disse como eu conheci ela na porta da minha casa, revivi o passado meu junto com ela, agora ______ _____, não faz nenhum ano que eu entrei, com esse nome de ______? Nem conhecia, nem sabia o que era isso. O que é ____? Quer dizer que são as pessoas mais velhas que sabem contar história, então é isso aí.
P/2 – E lá na escola, como que a senhora faz? A senhora vai lá, senta em roda? Como que é a dinâmica lá?
R – Lá na escola, a gente senta, roda com as crianças, pega na mão, ensina como que é, como que não é. Até aconteceu um caso muito engraçado na escola. Na segunda série, ou terceira série, a professora não estava. A mestra mesmo estava com a irmã dela. Parecia que essa irmã dela podia cair em cima dela, porque ela não estava nem aí. Quando a mestra ____ abriu a porta da classe em que a meninada estava estudando, estava parecendo que tinha um bando de bicho ali dentro. Mas alvoroçaram, alvoroçaram mesmo, e a professora mandou calar e nada e virava e voltou e veio e falou para mim: “Mas, Dona Narcisa, canta uma música ali!”, e ela olhou lá no quadro e estava escrito: sobre o rio, sobre a água, ela olhou lá a frase e voltou para mim: “Canta uma música aí que fale sobre a água!”, e eu pensei, consultei com a companheira minha, ela não lembrou e eu lembrei. Lembrei ___ entrei na sala e cantei a música sobre a água, parecia que a água caiu na cabeça deles. Quando caiu na cabeça deles, eles arregalaram o olho em mim, (aquietou?) todo mundo! Epor fim, pudemos trabalhar com eles, incentivando mesmo. Agora a ____ me apresentou, que eu era da roça, nascida e criada e plantando, colhendo. Fazia isso, fazia aquilo e eles ouviram, pararam para ouvir. E assim que estamos trabalhando.
P/2 – E eles faziam perguntas? Podem fazer perguntas?
R – Podem, eles podem fazer pergunta. Sempre eles fazem pergunta. Você tem que responder para eles. Era assim, era assim, era assim. Desse jeito.
P/2 – E que história a senhora conta de quando era criança? História do quê?
R – Eu tenho muitas histórias.
P/2 – Conta uma para a gente.
R – Tem uma história que mamãe sempre contava para nós, que o lobo estava com muita fome, viajando, não achava nada para comer. Encontrou uma raposa e cumprimentou ela: “Adeus almoço!” Adeus almoço porque ele queria comer ela. Adeus almoço, então a raposa respondeu: “Se Deus quiser!” Ele respondeu: “Deus queira, deus não queira, Adeus almoço!” Ela respondeu para ele: “Se Deus quiser!” Veio o elefante carregando uma laje de pedras nas costas e parou para ouvir aquele debate deles. Desceu a pedra, ele desceu a pedra e quando foi suspender a pedra, a pedra quebrou. Ele ficou com muita raiva, então a raposa falou: “Esse lobo dá conta de emendar a sua pedra!” E o lobo falou: “Essa raposa dá conta de emendar a sua pedra!” Ela respondeu assim: “É com o nervo do lobo!” O elefante então correu atrás do lobo para pegar e a raposa vapt no mundo, sumiu. Quando o elefante pegou o lobo, matou e ______ a raposa estava muito longe! Então mamãe contava assim para nós, nada sem Deus querer, porque ela tinha fé em Deus e o lobo não. “Deus queira, Deus não queira, Adeus almoço!”, e a raposa estava muito longe. E tem uma outra também, eu cantei ela nesse outro projeto, eles gostaram. Nós fizemos o retiro numa fazenda abandonada que tem logo ali. Não é abandonada não, os donos ainda moram ali. Quero dizer que os casarões que estão acabando. No tempo dos escravos, onde era a senzala, tudo está caindo tudo _______. Em Pirinópolis, existe um lugar que já foi dos escravos que chama Fazenda Babilônia. Lá está (conservado?) onde era os escravos, que foi construído pelos escravos. Lá perto tem o tronco, muitas coisas dos escravos. Então, eu contei a história para eles, do tempo que os bichos falavam, o tempo que os bichos falavam, os pássaros, tudo falava; que o (Urutao?) era muito rico. Vocês conhecem o pássaro chamado (Urutao?), não? Ele dá um grito que se você estiver perto dele, um suspiro, você não conhecia na ______, porque, se ele der um grito, você corre porque você não conhece ____ mal assombrado. Esse bicho está em extinção, lá em Goiás mesmo, onde nós moramos, tinha ele. Agora pouco tem. Corumbá ainda tem, mas em Pirinópolis eu não vejo o grito na mata. Ele _____ de tarde e de noite. O (Urutao) era rico, no tempo que os pássaros falavam, ele era milionário, ele só pensava em dinheiro, ele não pensava em nada, ele não ______ com nada. E um dia, um dos amigos dele, ____ papagaio, foi um pássaro também, foram dar notícia que o povo dele estava acabando. Então chegou a história cantada, chegou para ele e falou assim: “(Urutao?), seu pai morreu, foi ele, ficou eu. (Urutao?) sua mãe morreu, foi ela, ficou eu. (Urutao?), seus avós morreru, foi ele, ficou eu. (Urutao?), seus irmãos morreu. Foi ele, ficou eu. (Urutao?), morreu seu padrinho, lá se foi em bom caminho. (Urutao?), seus parentes morreu, foi ele, ficou eu. (Urutao?), seu dinheiro acabou.” “Huhuhuhuhu”, e agora ele suspirou, de paixão e está suspirando até hoje por causa do dinheiro dele que acabou. É desse jeito o grito dele. O povo diz que a lenda foi porque o dinheiro dele acabou, ele se apaixonou por causa do dinheiro, parente? Morreu tudo! Estava nem aí. Então eles gostavam muito dessa história _______ nesse projeto.
P/1 - _______________________ uma importância de preservar a roda?
R – É, tem , __________________________.
P/1 – Como é preservar a roda? O que significa __________________________________?
R – Eu acho bem ______ na roda, inclusive, nós fomos no (Sesc?) Brasília, ________ sobre a roda e o quadrado. A roda ganhou, _____ uma reunião em roda, tudo em roda, ficava aqui olhando um para o outro. Observando os companheiros todos que tem de estar na roda. Então senti um pouco de entusiasmo do meu tempo de brincadeira de roda, porque até hoje ela tem valor, a brincadeira de roda. Você não está sozinho, você está na roda com o par, os companheiros, tudo ali em volta. Um segura na mão do outro, outra hora um com a mão no ombro do outro e roda, como a quadrilha dançou esse ano. ____ nós pegávamos na mão, ____ nós pegávamos no ombro do outro e sempre roda, brincando. Você conhece quadrilha? Pois é. A nossa quadrilha foi um pouco diferente, _____ quadrilha, ao mesmo tempo que é vilão, uma dança que chama vilão, vocês nem conhecem, nem ouviram falar. E a outra dança de ____ junto da quadrilha, tudo junto, cada hora, três partes numa só, quadrilha, a vilão e _____.
P/2 – Como que é a vilão?
R – A vilão é a pessoa assim, a dama de um lado e o cavalheiro do outro com um lenço na mão, ______ daqui_____ lá, mas tem que ter espaço: “Oh, vilão ___ cá ____ não está não senhor...” Agora um ergue o lenço, vai passando assim por baixo, vai parando lá, um outro vai e vai e vai ______________________________ vai erguendo o outro, vem de lá para cá, com o lenço alto, abaixa assim ______________________________ prende o lenço na boca e vai batendo palma: “Oh, vilão ________________ não tem fé ______________na casaca do nhonho____________________________________________________________________________________________________________________________”. Assim vai e vem. Muito bonito o vilão, então isso ________ também, mas resolveu erguer de novo. O _____ também, que é um rapaz que dança, põe a vara no chão assim e ele pula. _____ batendo palma e ele pulando, ele pula de _____, ele pula de pé, ele pula de todo o jeito. Muito bonito o ____ também. A quadrilha _______ foi diferente. Agora as ______ comum que é só a quadrilha. Tem _____ de quadrilha, o vilão e o _____, tudo junto, porque nós estamos querendo levantar aquilo que já foi para mostrar para os mais novos que não sabem ainda.
P/1 – Como a senhora se sente sendo __________?
R – Era isso que eu esperava, estar nesse ______, pensei que ______ minha vida, só restava ____ filhos, ajudando os netos, agora ____ isso, eu não tinha esperança de conhecer Minas Gerais. Através da _____ eu estou aqui. Tinha esperança não, conheço Bahia. ______________________________ conhecia só Bahia, tinha esperança de conhecer São Paulo também, não conheço, mas quero conhecer ______. Nossa Senhora Aparecida do Norte. E agora _____ assim um pouco descontrolado, fomos para o Rio de Janeiro. Do Rio de Janeiro para Belo Horizonte. Até tive oportunidade de conhecer o Rio de Janeiro, que eu tinha esperança de conhecer a terra natal de um neto meu, porque eu tenho um neto meu que nasceu no Rio, da filha mais nova, nasceu no Rio de Janeiro. Eu tinha esperança de conhecer o Rio de Janeiro, conhecer a terra natal. Por coincidência conheci, passei de passagem, mas vi o Rio de Janeiro que eu não tinha visto.
P/2 – A senhora viu a cidade?
R – Sim, vi a cidade, achei feio, não achei o Rio de Janeiro bonito não. Achei que tem muita montanha e morro. Minha filha falou: “Mãe, o Rio de Janeiro é feio porque tem muita fumaça!”, dito e certo. ________, não achei o Rio de Janeiro bonito, não. Às vezes tem lugar bonito que eu não fui, mas de passagem assim, não vi nada. Não posso dizer nada. Agora Bahia eu já gostei muito, a cidade de Bom Jesus da Lapa, Romaria, gostei muito da Bahia.
P/1 – Entre seus alunos, tem alguns ou algumas que a senhora sabe que vai ser especial, que vai saber mais cantiga, __________________, que vai dar continuidade a esse conhecimento?
R – Ah, veremos, por enquanto eu estou de novo no grupo __________. Não deu para perceber, daqui uns tempos a gente vai ver. Tem um neto meu, está no grupo que nós estamos trabalhando na escola, _______________, uma das classes tem um neto meu, inclusive estou criando ele agora porque a mãe morreu, mas parece que esse não tem dom para isso não. Eu tenho uma neta que parece que ela quis bem me semelhar, gosta de cantar, voz boa, mas a danada da mãe: “Porque a minha filha vai ser Testemunha de Jeová.”.
P/2 – Não pode?
R – A minha filha é testemunha de Jeová, os filhos também são.
P/2 – Mas aí não pode cantar assim?
R – Não, não pode não. É só deus lá.
P/1 – A senhora tem medo que acabe _______?
R - _______ vai acabar, porque agora que nós estamos viajando, as pessoas aprendendo, quando nós fomos a cidade com os alunos, com as criançadas, no meio da rua e tudo, ensinando, e a criançada gostando, às vezes no meio dessa criançada, por milagre de Deus que pode pintar uma que vai dar segmento naquilo. Não tenho esperança de acabar por isso. Antes eu tinha, já pensei que tinha acabado, mas com esse novo grupo começamos a levantar de novo.
P/1 – O que precisa para ser um bom cantador?
R – O que precisa? Para ser um bom cantador, primeiro precisa ter voz, voz boa, coragem de enfrentar, não ficar nervoso, porque se ficar nervoso acabou tudo. Se eu fosse uma grande nervosa, estava esquecendo todas as perguntas que você está fazendo aqui para mim. Ficou nervoso, acabou. Mas para você ser um bom cantador, precisa ser de família de ascendência de gente cantador. Porque eu sou de família, vem lá de mamãe e de papai. Papai era tocador de viola, era folião de folia, tudo isso ele sabia.
P/2 – Como que é a folia_______________?
R – A folia tem dois tipos na nossa cidade, como antigamente quando eu conheci. É a cavalo. As pessoas saem pelas fazendas a cavalo, tem os ____ certo com a bandeira de Espírito Santo. Você pode até conhecer a bandeira de Espírito Santo, ________________________ de Espírito Santo. Tem seis ___, sete ____, oito ____, cada dia pousa numa fazenda. Tem o folião de ____, folião de ____ é aquele que canta, o folião de ____ e o ______ contra guia, é aquele que canta as músicas, pede ______, depois de pedir o _____ eles vão, jantam. Eles vão e agradecem à mesa, agradece a comida que comeu. E depois tem a festa, porque antigamente era só _______, agora estão voltando com o _____, _____ tinha acabado. Era o ____ a noite inteira, outro dia. Eles ______ de madrugada __________________________________________________________________ também, tem a ______ de madrugada que sai cantando no terreiro. E eles almoçam, agradecem o pouso e viajam, vão embora, já partem para outro. É isso, uns oito dias em Pirinópolis a folia, mas vence o cavalheiro, até o governador de Goiás, era governador, hoje ele é senador em Brasilia, ______ _____, ele foi chegado na folia porque a mulher dele era de ________, ele era chegado com a folia. Todo o ano, ele faz chegada com a folia da zona rural, entra na frente com a bandeira do Espírito Santo e a _______ ______, todo mundo gosta, o município de Corumbá tem ela também.
P/2 – A comida lá de Pirinópolis é muito parecida com a mineira?
R – Eu não estou achando diferença não, ____ comendo comida mineira. Já possuo vizinho mineiro que nós, inclusive, tivemos muita amizade, ou as mineiras amigas que nós cantávamos juntos e brincávamos de roda juntos e essa brincadeira de roda que eu cantei aqui para vocês e a dança do castor foi uma mineira que me ensinou. Eu não estou achando muita diferença não, _____ do comentário do povo, por causa do comentário. Mas eu não estou achando diferença com a comida goiana e mineira não, não. Estou achando muito boa a comida.
P/1 – O que a senhora achou da entrevista com a gente?
R – O que estou achando? Ah, para mim é legal, tudo legal, ______ entrevista, _______________ entrevista.
P/2 - __________ da senhora, a experiência da senhora?
R – Eu não sei se estou falando certo, não sei falar, não sei pronunciar, mas é um prazer estar aqui com vocês. Não estou nada incomodada (risos).
P/1 – Se a senhora pudesse cantar mais uma para a gente encerrar!
R – Cantar essa daqui que eu cantei para acalmar as crianças na escola, pode? Porque ela me pediu para cantar uma música para acalmar as crianças que estavam alvoroçadas, que fala sobre a água: “ O _________________ da cachoeira, as águas, todas as águas na pedreira, são as mais belas horas que existe em minha vida. Pelas madrugadas nasceu ________, as árvores balançam calmas seus fortes galhos, e a folha de _______ sem agasalho, os passarinhos põem-se a cantar, a deslumbrar. Eu de longe avisto o sol raiar, quando o sol descamba lá no horizonte, os passarinhos voltam ao seu ninho. A lua no céu tristonha faz a cerração, enche de esperança o meu coração.” Quando eu cantei essa música na escola, a meninada arregalou os olhos em mim __________________________________________________.
P/1 – Obrigado.
R – De nada, de nada, foi um prazer, viu.
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