Era um momento em que todas as maneiras de conexão de uns com os outros estavam caindo. Como se fosse assim: caiu o presencial (por causa da pandemia, e isto é um dado inicial do sonho); agora cai a ligação de celular, cai o google meet... Era algo como um vírus que se pegava, e que desativava o número de celular e quaisquer outras possibilidades de contato. Passo o sonho me havendo com esse risco. No começo estou com alguém na casa da minha avó - que era apenas um quarto abarrotado de coisas; coisas dispostas em cima da cama e pelo quarto inteiro, como se para fazer malas ou fazer mudança. Eu e esse alguém que me acompanhava estávamos meio nômades, em permanente viagem, sempre nos havendo com a possibilidade de contrair aquele vírus. Precisamos sair da casa da minha vó, após ela dizer alguma coisa com um tom alarmante. As notícias uns dos outros, isso se sabia boca a boca, nos raros encontros. Saímos da casa da minha avó, transitamos, e estou contente com nosso aparente sucesso em não pegar o vírus até aquele momento. Entramos num elevador, que dá um tranco como se fosse cair, ou como se eu fosse ficar presa lá dentro (um medo que sempre tenho), mas na verdade ele vai baixando suavemente, desliza na diagonal até pousar no chão. O caminho desemboca num balcão de informações: andamos até ali. É o momento em que descobrimos que nosso caminho tinha chegado ao final. Não como morte ou contágio; era mais como sermos interceptadas ou interrompidas em nosso caminho, como se alguém dissesse ""por ora, o jogo acabou"". Ligo para minha mãe muitas vezes, preocupada com seu estado, se teria se contaminado com o vírus das desconexões... Ela nunca me atende. Em seguida, tenho notícias dela no balcão de informações. Recebo um papelzinho com seu celular, e o número estava riscado e alterado, aquilo me indicando que ela havia sido infectada, e por isso seu número estava desativado, bem como todas as outras possibilidades de acesso. Mesmo...
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Era um momento em que todas as maneiras de conexão de uns com os outros estavam caindo. Como se fosse assim: caiu o presencial (por causa da pandemia, e isto é um dado inicial do sonho); agora cai a ligação de celular, cai o google meet... Era algo como um vírus que se pegava, e que desativava o número de celular e quaisquer outras possibilidades de contato. Passo o sonho me havendo com esse risco. No começo estou com alguém na casa da minha avó - que era apenas um quarto abarrotado de coisas; coisas dispostas em cima da cama e pelo quarto inteiro, como se para fazer malas ou fazer mudança. Eu e esse alguém que me acompanhava estávamos meio nômades, em permanente viagem, sempre nos havendo com a possibilidade de contrair aquele vírus. Precisamos sair da casa da minha vó, após ela dizer alguma coisa com um tom alarmante. As notícias uns dos outros, isso se sabia boca a boca, nos raros encontros. Saímos da casa da minha avó, transitamos, e estou contente com nosso aparente sucesso em não pegar o vírus até aquele momento. Entramos num elevador, que dá um tranco como se fosse cair, ou como se eu fosse ficar presa lá dentro (um medo que sempre tenho), mas na verdade ele vai baixando suavemente, desliza na diagonal até pousar no chão. O caminho desemboca num balcão de informações: andamos até ali. É o momento em que descobrimos que nosso caminho tinha chegado ao final. Não como morte ou contágio; era mais como sermos interceptadas ou interrompidas em nosso caminho, como se alguém dissesse ""por ora, o jogo acabou"". Ligo para minha mãe muitas vezes, preocupada com seu estado, se teria se contaminado com o vírus das desconexões... Ela nunca me atende. Em seguida, tenho notícias dela no balcão de informações. Recebo um papelzinho com seu celular, e o número estava riscado e alterado, aquilo me indicando que ela havia sido infectada, e por isso seu número estava desativado, bem como todas as outras possibilidades de acesso. Mesmo assim, com aquela notícia, aquilo não era o fim do mundo: eu sabia que ela estava bem, apenas inacessível... dava para ter calma, dava para suportar esse momento geral.
Que associações você faz entre seu sonho e o momento de pandemia?
O sonho parte do dado de estarmos vivendo há um tempo sob uma pandemia. O vírus que agora circulava era um a mais, um que fazia caírem as outras possibilidades de contato não-presencial, como que incrementando a dificuldade de nos conectarmos uns com os outros. Também fala do momento de exceção que passamos no Brasil, em que um presidente genocida é quem governa, acentuando os efeitos destrutivos e mortíferos da pandemia. Quando acordo do sonho, me lembro da música Cai o rei de espadas, cai o rei de ouros, cai o rei de paus, cai, não fica nada, que remete à ditadura militar brasileira, e que é um contraponto, como que dizendo: tudo isso, esses reis com seus mandos e desmandos, uma hora cairão. Ao mesmo tempo em que se visualiza o horror no ar, acho que é um sonho que de algum modo fala da possibilidade de suavizar a dor. O eleva-a-dor, que pensei por um momento que fosse cair ou no qual eu ficaria presa (presa em elevar a dor), na verdade desliza com suavidade até o chão. Um sonho em que há dor, mas se suporta...
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