Histórias Que Reciclam
Depoimento de Ana Maria da Silva de Oliveira
Entrevistada por Lucas Torigoe
São Paulo, 22 de outubro de 2015
Realização Museu da Pessoa
HQR_HV02_Ana Maria da Silva de Oliveira
Transcrito por Karina Medici Barrella
P/1 – Qual é o seu nome inteiro, local e data de nascimento?
R – É Ana Maria da Silva de Oliveira.
P/1 – Você nasceu em que dia?
R – Dia nove de dezembro de 1961.
P/1 – Em que cidade que você nasceu?
R – Acopiara, Ceará.
P/1 – Faz o mesmo para o seu pai. Qual é o nome inteiro dele?
R – Raimundo Nonato Vieira.
P/1 – Que ano que ele nasceu?
R – Ele é do dia 12 de dezembro de 1913.
P/1 – Ele nasceu em que cidade?
R – Ele nasceu na cidade de Várzea Alegre.
P/1 – É Ceará também?
R – Ceará.
P/1 – E o que ele fazia e o que a família dele fazia?
R – É agricultor.
P/1 – Eles plantavam o quê?
R – Milho, feijão, algodão, isso aí (risos).
P/1 – E a sua mãe, qual é o nome dela?
R – Minha mãe era Ana Alves Vieira.
P/1 – Ela nasceu em que dia?
R – Ela era do dia 18 de abril de 1919.
P/1 – Nasceu no Ceará também?
R – É, Várzea Alegre também.
P/1 – O que a família dela fazia, você sabe?
R – Era agricultor também.
P/1 – Todo mundo agricultor.
R – Era tudo agricultor.
P/1 – E você sabe como eles se conheceram?
R – Eles se conheceram lá. Eles nasceram em Várzea Alegre, mas se criaram na cidade de Acopiara e se conheceram lá mesmo, eles casaram. E minha família é uma família de 17 irmãos (risos), hoje já morreram três, tem 14 vivos. Uma sou eu, que sou a décima sexta filha (risos) e estou aqui contando a história (risos).
P/1 – E Acopiara é perto de Várzea Alegre?
R – É perto. Não é bem pertinho não, é um pouquinho meio longe, mas...
P/1 – E o que eles faziam quando eles se conheceram? Você sabe mais ou menos?
R – É sempre foi trabalhando no roçado mesmo.
P/1 – E como é que era o seu pai e a sua mãe?
R – Eram pessoas trabalhadoras que batalharam muito pra criar essa família na agricultura. Mas graças a Deus a gente era uma família feliz (risos). Apesar de que não era fácil, mas a gente era feliz.
PAUSA
P/1 – Você estava falando da sua família, né?
R – É.
P/1 – Você falou que seus pais eram trabalhadores, mas como é que eles eram? Eles eram bravos?
R – Sim, eram os pais que eles eram... Mas eram pessoas amorosas, né? (risos) Tem a braveza de pai que tem que ter mesmo, mas eles eram pessoas amorosas, tanto mamãe como papai, né?
P/1 – E você falou que você é a décima sexta filha.
R – É.
P/1 – Qual o nome dos seus irmãos?
R – Os meus irmãos, José, Maria, Francisca, Paulo, Geralda, Cesáreo, Antônio, Josefa, Vicencia, Ladislau (risos). Isaura, Maria Socorro, Tadeu, Margarida e Assunção (risos).
P/1 – E como é que foi crescer em Acopiara?
R – Ah, foi legal, foi uma infância muito legal (risos). A gente tinha onde brincar, a gente brincava as brincadeiras de antigamente, que era trisca, cabra-cega (risos). Era muito legal.
P/1 – Conta mais um pouco.
R – A gente tudo pequeno, já tinha os que já eram rapaz, moça e tinha a gente que era as crianças, né? Era legal.
P/1 – Vocês brincavam de quê mais?
R – De boneca, comidinha, essas coisas de criança (risos). E aí a gente cedo já começava a ter as responsabilidades, que pra gente era ponhar água nos potes, pegar água no açude. E ajudava no roçado, desde cedo a gente já começava a trabalhar no roçado, ajudar nas roças. Apanhar feijão, quebrar milho, essas coisas assim. Apanhar algodão. A gente fazia de tudo do roçado.
P/1 – A sua família vendia esses produtos ou era só para consumo?
R – O algodão. O algodão era para vender e o milho, o feijão, o arroz a gente plantava pro consumo.
P/1 – Vocês vendiam pra quem o algodão?
R – Era para um moço que comprava na cidade, o seu Emílio. Eles compravam e transformavam acho que em fibra, não sei o quê (risos).
P/1 – E vocês faziam o que pra comer geralmente? O que era costume comer na sua casa?
R – Comida era sempre, costumava ser bolo de caco, chamava bolo de caco.
P/1 – Como é que é isso?
R – Você ponhava o milho de molho de noite na água quente aí no outro dia moía, fazia a massa e fazia o bolo, que era uma delícia (risos). E o almoço antigamente pra gente era mais só feijão com pão, só que era muito gostoso também, que era sempre acompanhado com toucinho (risos), toucinho de porco. E na janta sempre era uma comida que dava pra nós que chamava mungunzá, que era feito com milho e feijão. Aí a gente jantava.
P/1 – Você come essas comidas hoje ainda?
R – Não, hoje não. Nem lá hoje usa mais (risos).
P/1 – Ah, é? Por quê?
R – Ah, hoje lá tudo é diferente, não é mais nada do tempo que eu me criei, mudou tudo. É a mesma coisa daqui, não existe diferença daqui, não. Existem muitas facilidades hoje em dia a vista do tempo que a gente se criou.
P/1 – É?
R – É.
P/1 – Está mais fácil para os seus filhos hoje do que na sua época?
R – Ah, eu acho... Assim, hoje em dia as coisas são mais fáceis por um lado e por outro é mais complicado do que no nosso tempo, eu acho.
P/1 – Entendi. E lá na sua cidade você começou também a estudar?
R – Estudava. Eu estudei até a quarta série lá.
P/1 – Em que escola você estudou, você se lembra?
R – O nome da escola era São Geraldo, que hoje não existe mais, não. Mas eu estudei até a quarta série lá.
P/1 – E como é que você ia pra lá, pra escola?
R – Tinha o grupo pertinho da casa da gente, aí a gente ia caminhando mesmo porque era pertinho. E mesmo com a quarta série lá no Ceará eu trabalhei três anos de professora (risos).
P/1 – Ah é?
R – É o registro que eu tenho na minha carteira (risos). É três anos de professora.
P/1 – Ah, é? Você gostava de alguma matéria mais do que as outras lá?
R – Ah, eu nunca tive dificuldade pra aprender a ler, não, só que a oportunidade pra mim foi pouca (risos). Aqui eu ainda estudei mais um pouco, mas não concluí a oitava porque eu parei. Eu estava fazendo supletivo e eu parei, ficou sem ter minha matéria, aí quando era pra ter minha matéria, que eu ia voltar a estudar acabou o supletivo e eu não voltei mais. E agora, se fosse para estudar eu estudava, mas fica difícil porque vem trabalhar, eu chego e tenho que cuidar de comida, tudo, aí fica difícil (risos).
P/1 – Mas na época você disse que virou professora, é isso?
R – É. Lá na minha época quem tinha a quarta série podia ensinar a alfabetização, aí eu trabalhei três anos como professora.
P/1 – Quantos anos você tinha quando você começou a fazer isso?
R – Acho que uns 19.
P/1 – E o que mais dava pra fazer na sua cidade? Tinha festa?
R – Ah, muito bom (risos).
P/1 – Ah, é?
R – Assim, no sítio lá que nós morava tinha um sanfoneiro que era meu primo e era festa todo sábado (risos). Todo sábado tinha festa, era muito bom (risos).
P/1 – E como eram essas festas que vocês faziam?
R – Juntava as pessoas, os conhecidos todos dos sítios ao redor, só lá em casa já dava festa (risos). E aí sempre tinha, todo sábado estava todo mundo dançando um forrozinho.
P/1 – Vocês dançavam forró?
R – Era forró.
P/1 – O que você comia naquela época, nas festas?
R – Nesse tempo nas festas não tinha quase o que comer, não (risos). Era mesmo só forró a noite todinha, as pessoas dançando.
P/1 – E na cidade tinha outras festas também?
R – No nosso tempo era no sítio mesmo, agora hoje, pros que estão lá só tem festa na cidade, na Acopiara, no sítio não tem mais, não. Hoje no sítio é tudo mudado, nada é mais como no tempo que eu vivia lá não.
P/1 – Você viveu até que ano lá? Quantos anos você tinha?
R – Quando eu vim pra cá eu tinha 24 anos.
P/1 – Você trabalhava com 24 anos?
R – Como eu falei eu trabalhei num período acho que foi dos 19 anos até 21, porque era assim, por política, era caso se eu votava num partido e o outro entrava já estava fora (risos). Foi isso que aconteceu. Aí logo eu já casei, vim pra cá. Cheguei aqui e fiquei só em casa mesmo.
P/1 – Mas conta um pouco pra gente como é que foi isso. Você falou de partido, como é que funcionava isso?
R – Naquele tempo o que existia era PMDB e, ai meu Deus, agora não lembro nem do outro (risos), mas eram dois partidos. Aí assim, sempre quando um ganhava quem entrava já tava fora, aquelas pessoas que estavam daquela época já pegava as pessoas do outro partido e os que tava saía fora.
P/1 – E você era de qual partido?
R – Era o PMDB e eu não estou lembrada agora do outro, tinha outro, mas eram só dois partidos também.
P/1 – E você se casou, foi isso, depois?
R – Casei.
P/1 – Como é que você conheceu o seu marido, quem que ele é?
R – A gente era conhecido de lá mesmo, do sítio. Ele veio pra cá, ele escreveu pra mim aí eu falei que aceitava namorar e aí ficamos se escrevendo. Quando ele foi nós se casamos e vim embora pra cá (risos).
P/1 – Como eram essas cartas, o que vocês falavam?
R – Era falando (risos), se conhecendo melhor, né?
P/1 – Você já não conhecia ele pessoalmente?
R – Conhecia, mas assim, a respeito de cada vez mais conhecia melhor. E quando ele foi a gente já casou. Já faz 31 anos que nós casamos e eu moro aqui.
P/1 – E ele veio pra cá pra trabalhar?
R – Foi. Ele trabalhava na Cofap. Ele trabalhou 18 anos na Cofap, quando ele foi mandado embora ele não tinha estudo e já foi o tempo que pra se empregar tinha que ter estudo, aí ele preferiu catar reciclagem.
P/1 – Antes de chegar nessa parte me fala o que era a Cofap.
R – Cofap. Ele trabalhava, na carteira dele eu acho que era de operador de máquina.
P/1 – A Cofap é o que, uma construtora?
R – É uma firma que fazia amortecedor, essas coisas, pra carro.
P/1 – E como é que você veio pra São Paulo? Como é que foi a viagem?
R – Quando eu casei eu vim de avião (risos).
P/1 – Você nunca tinha pego um avião ou já?
R – Não.
P/1 – Como é que foi?
R – É legal (risos).
P/1 – É legal, você gostou?
R – Eu gosto (risos). É bom andar de avião (risos).
R – Assim, se for pra gente ir de ônibus é três dias que a gente fica dentro do ônibus daqui pra Acopiara. É cansativo, mas é gostoso também andar de ônibus (risos). Só que é muito cansativo. De avião dentro de quatro horas, se você for daqui pra lá, está lá em Fortaleza. Aí de Fortaleza pra onde eu moro é seis horas de ônibus.
P/1 – E quando você chegou aqui o que você sentiu?
R – Era muito diferente de lá (risos). Aí já está acostumado, mas logo na chegada a gente estranha muito (risos).
P/1 – Você estranhou como? O que aconteceu, como foi?
R – Ah, que lá é um sistema, aqui é outro.
P/1 – Como assim?
R – Lá as pessoas tinham mais amizade, moram perto, anda uns nas casas dos outros, é bem diferente daqui. Mas eu já me acostumei com o jeito daqui, eu gosto (risos).
P/1 – E quando você chegou aqui em São Paulo você foi morar onde?
R – Eu morava no Jardim Cruzeiro. Era uma casa que pra chegar nela tinha 38 degraus.
P/1 – Ah, é?
R – Eu gostava, era bom (risos).
P/1 – Era no alto?
R – É, no alto.
P/1 – Como era essa casa, como é que era o bairro?
R – Era uma casa só de dois cômodos, mas era boazinha. Era legal. Eu morei só cinco anos lá, era nossa mesmo, e o meu marido resolveu vender, comprou no Jardim Esperança. Quando ele fez a casa lá falaram pra ele que ia passar uma avenida pegando a nossa casa. Aí ele se desgostou, inventou de vender de novo (risos) e nós viemos pro Itaparque e desde que saímos do Esperança que nós estamos lá no Itaparque, há 23 anos que nós mora lá.
P/1 – Nessa mesma casa?
R – Não, morei 12 em outra casa e agora faz, deixa eu ver... Vinte e três? Isso mesmo, 12 em uma e agora 11 anos.
P/1 – E como é o bairro do Itaparque?
R – É bom lá, eu gosto. Moro de frente a uma pracinha lá, é gostoso. Eu gosto (risos).
P/1 – O que mais tem nesse bairro? Ele é muito cheio, tem muito carro?
R – Eu moro nessa avenida, essa avenida não é movimentada, agora a Avenida Barão de Mauá, a Avenida Itaparque já é movimentada, que ficou uma rua acima da que eu moro. É uma avenida bem movimentada. É um bairro simples, mas é legal, eu gosto.
P/1 – Quando você veio pra São Paulo você já sabia de alguma coisa sobre a reciclagem, já tinha ouvido falar?
R – Não. Até meu marido começar a reciclar mesmo eu não dava importância pra isso, não (risos). Às vezes passava gente na minha casa que reciclava, só que eu mesma... graças a Deus, quando você está num trabalho que você leva a sua vida numa boa. E naquele tempo não era tanto mesmo, começou a movimentar mesmo a reciclagem foi a partir daí desse ano, foi no ano de 1996, que foi um ano que estava a mesma coisa de agora, de crise.
P/1 – Ah é?
R – É. Foi um ano que estava difícil, mandando muitas pessoas embora das firmas. E estava difícil mesmo emprego.
P/1 – O que aconteceu?
R – Não sei, mas sei que foi um ano que estava difícil também, mesma coisa que de agora, que agora também não está fácil, está complicado (risos).
P/1 – Tá, a gente vai voltar pra esse ano. Quando você chegou em São Paulo você ficou mais em casa, é isso?
R – É, só em casa.
P/1 – Você fazia o quê?
R – Só luta de casa, só dona de casa mesmo (risos). Eu não fazia nada, eu sempre tinha vontade de trabalhar, mas a gente com filho pequeno prende muito a gente. E o meu marido não aceitava eu trabalhar, ele achava que o que ele ganhava era suficiente para nós viver, que era, mas quando ele desempregou, depois que ele ficou desempregado eu não parei mais. Porque assim, quando ele ficou desempregado ele começou a reciclar e eu sempre ajudava ele em casa, ele catava na rua e eu ajudava em casa, a separar as coisas. E aí foi quando apareceu o litro pra gente lavar em casa, né? A gente lavava o litro de Dreher e vendia pra Morada do Vinho e assim que nós vivemos a nossa vida (risos) depois que ele ficou desempregado. Aí nós ficamos por muito tempo assim, porque era reciclando também, era reciclagem e reciclava os vidros de Dreher, nós lavava e vendia pra Morada do Vinho.
P/1 – Essa foi a primeira atividade?
R – É. Porque eu ajudava também, era muito litro que a gente lavava. Foi um momento que era difícil, não era fácil porque eu estava com dois meninos pequenos e tinha que fazer, tinha as contas pra pagar (risos). Tinha que fazer, tem que ajudar. Só que quando ele trabalhava na firma eu tinha vontade mas ficava presa no sentido de sem trabalhar porque pensava na menina, ir trabalhar pra deixar a menina. E de qualquer maneira ele ganhava o suficiente que dava para a gente viver. Aí eu me aquietava em casa mesmo com ela. Mas chegou a hora que teve que ralar mesmo (risos).
P/1 – Antes do momento em que você precisou ir trabalhar você pensava em fazer o quê?
R – Eu sempre dizia assim, se fosse para eu ir trabalhar numa firma pra chegar o dia e eu receber eu ia, agora se fosse para ficar vendendo coisa, qualquer bico, eu dizia que não fazia. E não fiz mesmo (risos).
P/1 – E quem são seus filhos, quantos anos eles tinham nessa época?
R – Nessa época minha filha Sandra tinha 12 anos e foi a época que eu fiquei grávida do Francisco Samuel. Ele nasceu e aí era eu cuidando dele e tinha que ajudar no movimento da reciclagem, desses litros que nós lavava.
P/1 – Quem que foi que contou pro seu marido desse negócio? Como ele descobriu?
R – Ele é uma pessoa vividora, comunicativa, gosta de conversar e ele assim conseguiu ficar sabendo que essa pessoa estava precisando. Nós começamos lavando pouquinho vidro, aí foi aumentando, tinha mês que nós lavava três mil litros e ajudava muito nas despesas da casa.
P/1 – Como é que era esse processo de lavar?
R – A gente pegava o litro de Dreher, tinha que tirar o rótulo, aí a gente pegava um arame, ponhava a bucha no arame e lavava com detergente, ponhava detergente e lavava bem lavadinho e vendia para o Morada.
P/1 – E como é que vocês faziam, vocês levavam como?
R – Ele buscava pra nós. Até hoje a gente ainda lava. Pouquinho, né?
P/1 – E dava bastante dinheiro?
R – Sempre ajudou muito, era nossa conta de água, luz e telefone essa parte dos litros sustentável.
P/1 – Além disso, vocês faziam outras coisas também nessa época?
R – Ele catava reciclagem, tinha que estar movimentando os litros e a reciclagem. Ele catava na rua, né, sempre quando ele chegava eu ajudava a separar em casa.
P/1 – E como ele fazia, pegava com carroça?
R – Carrinho de ferro-velho ele tinha, tinha e tem, até hoje ele trabalha (risos) assim catando reciclagem.
P/1 – Explica pra gente que não conhece esse trabalho. Ele levanta, pega o carro...
R – Ele sempre levanta cedo. É assim, a reciclagem é um serviço que é trabalhoso porque você vai catar na rua, você não pode trazer já separado porque se você for separar lá você não consegue nada, você tem que trazer tudo misturado e separar em casa. Até hoje ele trabalha muito assim porque quando ele chega vai trazendo e depois de noite que vai separar. Aí vai tempo, não separa rapidinho. Ele só dorme tarde, vai separar tudo para no outro dia já pegar mais.
P/1 – E o que ele pega mais e separa como?
R – Muitas coisas é reciclagem e cada material tem seu preço. As coisas sempre é barata, se você levar tudo misturado aí fica mais barato ainda. Você tem que separar pra poder cada material ter seu valor, é onde rende mais pra você.
P/1 – Que materiais são esses?
R – Os materiais, papel branco, esse de caderno. Aí tem o misto que é o papel brilhoso. Latinha, a PET, tem os PAD e assim vai (risos). É muitos, né?
P/1 – E ele entrega onde esse material?
R – O meu marido vende nos ferros-velhos mesmo. Desde que ele começou ele trabalha sozinho. Agora eu já sou diferente, já estou na cooperativa (risos).
P/1 – Aí você começou a ajudar ele nisso e depois, o que aconteceu?
R – Eu sempre ajudei, agora como eu estou na cooperativa eu ajudo pouco porque não tenho tempo, né? Eu chego e vou cuidar de janta, tudo, aí precisa descansar, né, (risos) pra ir batalhar no outro dia. E assim todo dia é sempre a mesma coisa, sempre o mesmo serviço, sempre ele cata na rua, separava depois em casa e no outro dia vende.
P/1 – E os seus filhos estavam fazendo o quê nessa época, 96?
R – Eles foram crescendo dentro desse movimento de reciclagem.
P/1 – Eles ajudavam vocês?
R – O meu filho quando estava com 13 anos eu inventei de ir catar na rua com ele (risos). Eu saía no carrinho mais ele, ele me ajudava e assim, a gente ganhava o dinheirinho da gente, né? Mas só que pra puxar o carrinho é muito pesado, pra mim não dá muito, não. Aí eu fui e entrei na cooperativa. Apareceu a cooperativa, eu entrei na cooperativa, aí eu trabalhei um ano e quatro meses, saí, apareceu uma oportunidade, saí, mas não deu certo (risos).
P/1 – Você entrou em que ano na cooperativa?
R – Eu entrei no ano de 2012, eu já vinha fazendo os cursos quando inaugurou e aí nós já começamos a trabalhar, foi no dia cinco de dezembro de 2012 que inaugurou, no dia seis nós já começamos a trabalhar. Eu trabalhei um ano e quatro meses, saí, fiquei um ano e dois meses fora. Aí a menina ligou pra mim e disse assim: “Dona Ana, vem aqui que agora vai ficar bom”. Eu voltei, estava mudando a administração e me colocaram pra presidente e hoje eu estou lá.
P/1 – Só voltar um pouquinho, quem que fundou a cooperativa e qual é o nome dela?
R – Armando.
P/1 – Armando?
R – É, ele que começou. Aí foi acompanhando as outras pessoas, que pra cooperativa abrir precisava de 20 pessoas. E aí eu acompanhei quase desde o começo. Quando eu fiquei sabendo eu comecei a fazer os cursos até abrir.
P/1 – E por que ele abriu, quem é esse Armando?
R – Armando, ele mora lá em Mauá. Ele que começou a movimentar pra abrir a cooperativa. Aí veio muitas pessoas, quando eu entrei já estavam fazendo curso que a dona Cida, tinha a Francisca que hoje não está mais. Já teve das que estavam na assinatura e morreu, que era a dona Cleusa. Tem a Denise. Natal está desde o começo. Só que tinha que ser 20 pessoas pra poder abrir, conseguiram essas 20 pessoas e nós começamos a trabalhar.
P/1 – E como é que foi que vocês chegaram nessas pessoas? Elas eram todas catadoras ou eram conhecidas?
R – Eu mesma, quem foi lá na minha casa foi a Socorro, que é da Secretaria de Trabalho e Renda.
P/1 – De Mauá?
R – Hum. Ela foi lá em casa que ela estava sempre indo. Ela chegou lá em casa e conversou com meu marido e eu não vi. Depois estava falando pra mim, eu fui e disse: “Ah, pois então assim, se ela vier de novo você fala pra mim que eu quero conversar com ela”. Quando ela veio de novo ela subiu lá na minha casa, eu fiquei conversando com ela. Porque pra puxar o carrinho é difícil, né? Eu disse: “Se for para trabalhar no galpão eu aceito”. Eu fui e comecei a fazer os cursos e quando abriu eu fui trabalhar.
P/1 – Qual a diferença de trabalhar no carrinho e no galpão?
R – Ah, no galpão... é um serviço cansativo, que é corrido, eu mesmo trabalho na esteira, é cansativo, mas eu acho bom (risos), eu trabalho de boa (risos).
P/1 – Mas o carrinho você vai puxando e no galpão tem uma esteira, é isso? Porque como a gente não conhece como funciona, se você puder explicar.
R – Porque começou assim, a prefeitura deu o terreno, a Braskem fez o galpão e ponharam os equipamentos que é a esteira, as prensas, tem três prensas. Tem os prensistas que ficam fazendo os fardos das coisas e a gente fica trabalhando, separando na esteira. Eu gosto, me acostumei (risos), eu gosto de trabalhar com reciclagem. Só que é cansativo porque na esteira você tem que ser rápido porque ela vai correndo e você tem que pegar aquele material que vai passando, se não pegar aí vira rejeito de novo, vira lixo. Que no caso assim, pra quem não precisa reciclagem já é lixo mesmo, né? Mas pra quem precisa é dinheiro, é material e se torna dinheiro.
P/1 – Você acha curioso isso?
R – Ah, eu acho legal. No meu caso eu agradeço muito porque hoje, você vê, dois filhos criados com dinheiro de reciclagem, quer dizer, é muito valioso (risos), pra nós é, muito valioso porque foi no que a gente se encontrou de trabalhar e ganhar nosso dinheirinho, de levar a vida. Eu gosto.
P/1 – E nessa esteira, que material que chega e o que vocês pegam?
R – De tudo. Tem as PETs, tem o PAD, que é todos aqueles tubos que envolvem produto de limpeza. E existe o material PP, que é plástico também, todos os outros plásticos. Vai de tudo, de tudo passa lá (risos). Como o papel branco, o papel misto, passa papelão também, as aparas, que todo tipo de plástico pra nós se chama apara. E assim é de onde vem o nosso salário.
P/1 – E a renda cresceu desde que você entrou na cooperativa?
R – Até agora a renda é um pouco baixa, mas a gente está na esperança que vai melhorar.
P/1 – Mas tem melhorado um pouco, assim, do carrinho, por exemplo?
R – Ah sim, a renda sempre é baixa, mas nós estamos com esperança que vai melhorar. Vai dar pra tirar um salário que dê pra gente levar a vida.
P/1 – E como aconteceu esse contato da Braskem com vocês?
R – A Braskem, acho que vem pela prefeitura porque a gente trabalha junto com a prefeitura também, quem trabalha no galpão é nós junto com a prefeitura. E aí acho que o contato da Braskem foi com a prefeitura.
P/1 – E eles têm contato com vocês, da cooperativa, vão lá?
R – Eles sempre iam agora está indo mais pouco, mas sempre iam lá. Tinha a Taís da Braskem, tinha o Fábio, que ele era nosso sucessor, era pela Braskem que ele trabalhava lá mais nós, agora ele não está mais, saiu.
P/1 – E o que eles fazem quando eles vão lá?
R – Ajudam na parte administrativa.
P/1 – O que precisa administrar lá na cooperativa?
R – A parte de fazer as contas, a parte que mexe com administrativo.
P/1 – E você falou que você fez uns cursos antes de começar a trabalhar, é isso?
R – Fiz. Eu fiz um curso de primeiros socorros. Fiz um de logística. Fiz outro de, agora estou esquecendo (risos), que foi voltado pra administração, que era contabilidade, essas coisas.
P/1 – Algum voltado pra reciclagem?
R – A reciclagem a gente já tinha noção do que era, mas assim, pra movimentar com a reciclagem tem que ter noção dessas outras coisas, né? Os cursos servem para esse outro sentido. Mas antes de nós começar na cooperativa nós fomos trabalhar em outra cooperativa, nós trabalhamos oito dias lá pra aprender todos os materiais pra poder começar na nossa.
P/1 – Quem fez esses cursos?
R – Os cursos eram pelo Senai, o outro que nós fizemos era pela Unisol, sempre era bancado por outras entidades.
P/1 – E nesses anos de cooperada teve alguma história que te marcou junto com o trabalho de reciclagem? Você lembra de alguma história, algum causo?
R – Porque como trabalha no galpão é convivência, né? Convivência seja onde for é difícil, mas a gente supera, está indo (risos).
P/1 – É boa a convivência com as pessoas lá?
R – Ah, não tenho o que dizer, dá pra ir levando (risos).
P/1 – Agora quando o seu marido puxava o carrinho e você também tava era perigoso esse trabalho, como é que era? Era na rua?
R – Tem o perigo dos carros, mas dá pra levar de boa (risos).
P/1 – E o seu marido, por que ele não quis ser cooperado?
R – Porque ele já acostumou trabalhar sozinho. Agora ele já está chegando nos 60 anos, ele está mais querendo é se aquietar (risos). Ele não vai deixar de trabalhar, mas hoje ele trabalha, mas em vista do que ele trabalhava antigamente ele maneirou muito, né? E precisa maneirar mais ainda (risos). Porque a idade vai chegando, a pessoa não pode parar, mas tem que maneirar.
P/1 – E você está vendo alguma diferença de renda entre quem é cooperado e quem está sozinho?
R – Por enquanto na cooperativa a gente está tirando menos do que ele sozinho, mas tudo indica que vai melhorar, nós vamos chegar a tirar um salário. É trabalhando, tem que ralar (risos), tem que trabalhar pra poder chegar aos objetivos.
P/1 – E como é ser presidente da cooperativa? Qual é a sua rotina, as suas atribuições?
R – Ah é legal, tem que estar lá no meio das pessoas, orientando. Eu estou gostando. As pessoas mostram gostar de mim e eu tenho que levar de boa com todo mundo, tem que incentivar trabalhar e trabalhar também, mostrar que tem que estar junto, né?
P/1 – E o que você fala pra essas pessoas geralmente, pra incentivar?
R – Eu acho que o caminho é tratar as pessoas bem, incentivar de boas, né? Acho que tem que estar incentivando, mas sem nunca machucar as pessoas, tratar tudo de boas.
P/1 – E você acha que esse trabalho de reciclagem é reconhecido hoje pelas pessoas na sociedade?
R – Acho que sim.
P/1 – É?
R – Porque hoje em dia esse negócio de reciclagem não é dizer Brasil, é o mundo que recicla, é no mundo, em todo lugar tem reciclagem, em todo lugar tem gente que recicla. Eu acho que é um trabalho que tem que começar a ser reconhecido mesmo porque são muitas famílias que vivem de reciclagem. Assim, como na cooperativa que eu estou quem está lá é porque precisa trabalhar e não encontra trabalho e vai trabalhar na reciclagem. Porque como eu mesmo, eu saí no intuito que ia dar certo no outro emprego, não deu certo e fazer o quê? Voltei, não arranjei outro e voltei pra lá (risos). E estou lá. E eu gosto, não tenho o que dizer de reciclagem, não, só tenho que agradecer (risos).
P/1 – Mas você acha que com o tempo esse emprego vai ser um emprego que as pessoas vão querer mesmo, que vão gostar mais ainda? Você acha que está caminhando pra isso?
R – Eu acho que sim. Porque emprego não tá fácil, né, e tem muita gente que não tem estudo e aí é difícil entrar em firma. E na reciclagem é mais fácil conseguir trabalhar. Que nós trabalhamos não é registrado, é um trabalho que não registra, mas neste instante mesmo lá tem, deixa eu ver... estamos acho que é com 29 pessoas.
P/1 – Bastante gente.
R – É. E tudo no mesmo sentido, trabalhar e ter sua renda. Sobrevivência (risos).
P/1 – E os lucros como é que acontece, são repartidos?
R – É, quando separa faz os fardos, vende, aquele que dá durante o mês parte pra todo mundo. Cada qual vai ter o seu salário igual, todo mundo recebe igual.
P/1 – Mesmo você sendo a presidente?
R – É a mesma coisa.
P/1 – E você vê a reciclagem como um trabalho como outro qualquer, porque tem gente que não vê, né?
R – É, mas é. Hoje a reciclagem é um trabalho como qualquer outro (risos). E vem ajudando a muita gente porque a pessoa não arranja outro emprego, tem que trabalhar, né, tem que ganhar dinheiro, ninguém sobrevive sem dinheiro, tem que ser através do dinheiro. Ou pouco ou muito, mas tem todos os meses.
P/1 – E você que criou seus filhos nesses anos com essa profissão, o que você diria pra essas pessoas que não conhecem esse trabalho ou que não consideram ele?
R – O que eu tenho que dizer é que as pessoas tenham que começar a ver como uma profissão mesmo e um trabalho como qualquer outro. E que tem muita gente que precisa. Porque com nós lá só tem 30 porque a gente não tem como pegar mais pessoas porque se pegar, mas a procura é grande.
P/1 – Para esse trabalho?
R – É. Assim, a nossa renda já não é tanta, se põe mais gente cada vez mais a pessoa vai receber pouquinho, aí tem que deixar um tanto que dê para fazer o serviço e que não caia mais do que a gente já está recebendo. Mas a procura é grande. A gente lá tem muito currículo (risos) e sempre passa deixando, procura, alguém querer trabalhar.
P/1 – Tem muita gente que sai, que entra, a rotatividade?
R – É, sai, às vezes não arranja nada lá fora e volta (risos).
P/1 – Você fez muita amizade nesses anos com a reciclagem?
R – Eu tenho bastante, conheço bastante gente. É legal (risos).
P/1 – Como é que a reciclagem mudou a sua vida, Ana?
R – Ah, mudou pra melhor. Porque você trabalha bastante numa firma, mas quando você sai o que você recebe não é tanto assim pra dizer... Nós mesmos tinha começado uma casa e terminou a casa e acabou o dinheiro (risos). E você tem que trabalhar. Porque as pessoas têm uma mania de dizer assim, se a pessoa está empregada: “Ah, Fulano é rico”. Eu acho assim, a nossa riqueza primeiramente é a saúde e depois da saúde o nosso emprego porque você está bem enquanto você está empregado, você desempregou você vai comer com o que você já fez, se você não arranja outro logo se acaba. E você precisa trabalhar, precisa de dinheiro pra sobreviver. E aí é onde que entra aqui, se você não arranja uma outra coisa de qualquer maneira você tem que arranjar o que fazer. Eu acho que é um trabalho digno como qualquer outro trabalho e é um trabalho que diferente de muitos é um trabalho que é pesado e sujo (risos). Mas isso aí não quer dizer nada, quer dizer que você trabalha e tem sua renda. Pra mim é muito útil o trabalho da reciclagem, não vejo diferente de qualquer outro (risos).
P/1 – E com relação ao meio ambiente?
.
R – E tem essa também porque você reciclando você está ajudando a natureza, né? Tirando a reciclagem, quer dizer, você está fazendo um bem à natureza, ao meio ambiente. É um trabalho que só vai ajudar a natureza.
P/1 – Você acha que você conquistou bastante coisa com a reciclagem, esse trabalho?
R – É, só em ver meus filhos hoje criados pra mim é tudo. É, minha felicidade é meus filhos (risos), é tudo pra gente, é ver que a gente ficou numa situação de não poder nada e hoje ver eles criados, como o meu filho que já tem 19 anos, já está trabalhando, pra mim é muito bom (risos).
P/1 – Tudo com reciclagem?
R – É. Pra mim é o que importa, né? Eu fico muito feliz em ver ele hoje criado, trabalhando, é muito bom.
P/1 – Fala um pouquinho da Sandra. Como ela nasceu e como foi?
R – É, a Sandra, quando ela nasceu foi diferente, meu marido estava na firma, foi bem diferente. E até os 12 anos ele ficou na firma só que quando ele ficou desempregado aí ela já começou a ajudar nós, ela já ajudava e continua. Até ela começar a trabalhar mesmo ela ajudava nós na reciclagem. Como eu falei do tempo dos litros, ela era forte nos litros, ajudava. A respeito dos meus filhos eu não tenho o que dizer deles, não, eles são meninos trabalhadores, os dois. Eles têm a consciência que têm que trabalhar (risos), tem que ralar pra levar a vida. Só que eu sempre incentivava o estudo, tem que estudar: “Vocês já estão vendo que nós não estudamos, não é fácil, vocês têm que estudar”. E ela foi uma menina toda vida dedicada nos estudos. Ela fez um curso de hotelaria que ela fez a inscrição, fez a prova, ela passou, que ela fez na ETE um curso de Hotelaria, que a gente não pagava pra ela estudar. Ela sempre estudou assim, conseguindo pelas provas, passa e estuda (emocionada).
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Em 1:03:05 repete o áudio de 0:03:54:9 até 2:02:06 (até antes da pausa)
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Em 2:02:06 repete o áudio de 0:03:54:9 até 3:01:23 (até antes da pausa)
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(Em 3:01:30 reinicia)
P/1- Você se emociona muito quando você fala dos seus filhos?
R – Um pouco (risos). Começo a falar e me emociono. É assim, porque aí ela foi e fez a inscrição de novo e passou na prova do curso de Edificações, que é voltado pra Engenharia. E quando ela estava com seis meses que ela estava nesse curso de Edificações a professora dela encaminhou ela para uma firma que começou a trabalhar lá, ela ganhava pouquinho, mas estava indo. Aí um sobrinho, um moço que é casado com uma sobrinha minha disse assim, eu estava conversando mais minha irmã e falando que ela trabalhava e ganhava pouquinho e ele trabalhava na Estática, que é a firma de Engenharia Civil. Aí ele disse assim: “Diga a ela que mande um currículo porque eu indicando ela já está lá”. Eu fui, cheguei em casa e falei, ela mandou aí ela entrou lá só que tinha que ser dois anos de estágio e ela foi e estava lá já um tempo e foi um outro moço que ficou sabendo de uma vaga que tinha em canteiro de obras, que o que ela faz dentro da parte de Engenharia é desenhista, né? Aí ela saiu de lá da Estática que era só estágio, era dois anos e se eles gostassem aí registrava, se não gostasse mandava. Ela saiu e veio pra essa obra, trabalhou uns dois anos aí ela resolveu sair, ela saiu de lá e já estava empregada de restaurante, ficou um ano trabalhando em restaurante. Ela disse assim: “Não mãe, agora eu vou trabalhar, se é pra se estressar eu vou me estressar na minha área mesmo”. Eu disse assim: “Pois se você quer sair o seu currículo é bom, se você quer sair, saia”. Ela saiu, aí ela pôs currículo nas agências aí chamou nessa firma de engenharia do meio ambiente que ela está agora, já está perto de um ano já que ela está trabalhando lá.
P/1 – Ela está feliz lá?
R – Ah (risos), ela gosta. É que ela é muito insegura assim, às vezes eu acho ela muito insegura, mas ela gosta sim, ela gosta do que ela faz. É que convivência é muito difícil, né? Quem trabalha em escritório é convivência também. Não é fácil, mas tem que saber levar, né? Aí ela mandou os currículos e rapidinho chamou nessa. Mas chamou em muitos cantos pra ser cozinheira, só que quando chamaram ela já estava registrada nessa porque ela queria era de Engenharia mesmo. E está lá.
P/1 – E você disse que ela tem um filho, né?
R – É.
P/1 – Quem ele é, o que ele está fazendo?
R – Ela fez essa prova do Enem, passou, ela está fazendo a faculdade. Ela está no segundo ano da faculdade de Engenharia de Produção, que ela queria mesmo era de Civil, mas não tinha e ela está fazendo Produção. E está trabalhando na área. E o filho ela teve, hoje o menino dela já vai fazer 16 anos, foi uma luta pra nós (risos), mas graças a Deus a gente está feliz que foi um neto que apareceu e nós tinha que ajudar mesmo, né? E hoje ele ainda está só estudando, mas logo, logo começa a trabalhar também, que não tem jeito, a vida tem que lutar mesmo, trabalhar. E estamos aí pra contar história (risos).
P/1 – E o seu filho, Francisco Samuel?
R – O Francisco é um menino legal, comunicativo. Ele já terminou o ensino médio, agora ele trabalha em construção civil, ele puxou pra esse lado aí (risos). Ele está gostando. É que é assim, construção civil é servente em obras. Ele começou, trabalhou quatro meses e a obra acabou e quando acaba a obra manda embora. Mas disseram quando tivesse obra chamava de novo. Chamaram, agora está lá trabalhando e está fazendo curso, está fazendo dois cursos no Senai, um de Logística e um de Almoxarifado. E ele vai tocando a vida (risos).
P/1 – Vocês moram todos juntos ainda?
R – É, todos juntos, os cinco numa casa (risos).
P/1 – Ana, querendo agora passar para as perguntas finais, primeiro é o que você espera pro futuro da cooperativa, como é que você está vendo?
R – Eu espero que tudo dê certo, que cresça mais. Assim, é um negócio que é pequeno e espero que cresça mais, que seja uma coisa que vá ser bem produtiva pra todos nós (risos). E eu acho que só está fazendo o bem às pessoas, à natureza. Pra nós o bom é evoluir, né, ver o crescimento. É o que eu espero.
P/1 – E quais são seus sonhos?
R – Ah, sonho a gente tem que sonhar (risos), enquanto você tiver sonho tem vida, se você deixar de sonhar a vida acaba (risos). Ah, o meu sonho é ver a minha família feliz, ver meus filhos estudar mais, trabalhar, ver eles bem (risos).
P/1 – E pra você como é que foi contar a sua história pra gente?
R – Acho legal (risos). Nunca esperava estar aqui contando a minha história de vida (risos), achei legal.
P/1 – E o que você acha da ideia das pessoas contarem a história delas?
R – É bom, não vejo nada, é legal (risos). Todo mundo tem sua história, que a nossa vida é de altos e baixos, tem hora que você está melhor, tem hora... Você tem que saber equilibrar todos os momentos. E quando você está num tempo melhor tem que saber levar e causa que, como eu mesmo, o desemprego abala muito a pessoa, né, mas tem que saber levar também. Graças a Deus nesse sentido aí a gente soube controlar a vida, levar a vida (risos). Só que uma coisa que é muito ruim na sua vida é o desemprego, não tem como o desemprego. Não tem como você estar com a sua saúde e ter seu emprego que dê mesmo pra você levar sua vida bem mesmo. Mas na situação que você estiver você tem que saber levar, né?
P/1 – Está certo. Obrigada, o Museu e a Braskem agradecem a sua participação. Obrigado, foi ótimo.
R – De nada.
FINAL DA ENTREVISTA
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