Plano Anual de Atividades 2013
Projeto Nestlé - Ouvir o outro compartilhando valores – Pronac 128976
Depoimento de Robson Donizete dos Santos
Entrevistado por Tereza Ruiz
Caçapava 14/08/2014
Realização Museu da Pessoa
NCV_HV047_Robson Donizete dos Santos
Transcrito por Liliane Custódio
MW Transcrições
P/1 – Então primeiro, Robson, eu vou pedir pra você falar pra gente seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Meu nome é Robson Donizete dos Santos, eu nasci no dia quatro de abril de 1972, em Caçapava, São Paulo.
P/1 – Agora o nome completo da sua mãe e do seu pai, e se você lembrar, também data e local de nascimento dos dois. Se não lembrar, só nome completo, não tem problema.
R – Meu pai se chama João Alves dos Santos, ele nasceu no dia 17 de agosto de 1946, em Caçapava. Minha mãe se chama Rosa Maria Leandro dos Santos, nasceu no dia dois de março de 1950, na cidade de Jambeiro.
P/1 – E o que seus pais faziam profissionalmente, ou fazem ainda?
R – Meu pai é aposentado atualmente, minha mãe é do lar, sempre foi do lar, sempre foi de casa. Meu pai foi industriário durante a carreira profissional dele toda, e hoje está aposentado.
P/1 – Onde ele trabalhava?
R – Ele trabalhou em duas empresas multinacionais: GM e Volkswagen.
P/1 – Conta pra gente um pouco como eles são de temperamento. Se você fosse descrever assim a personalidade do seu pai e da sua mãe, como eles são?
R – São bem tranquilos. São pessoas tranquilas, eu acho que herdei isso deles também, tranquilidade, calma pra conversar. São pessoas de personalidade bem calma, bem pacata. Pessoas muito simples também, que foram criadas na roça, na zona rural, no trabalho rural, quando criança e adolescente. Então são pessoas bem simples e temperamento bem tranquilo.
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tenho. Tenho sim. Tenho quatro irmãos.
P/1 – Qual o nome dos seus irmãos? O que eles fazem?
R – Eu tenho um irmão que se chama...
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Projeto Nestlé - Ouvir o outro compartilhando valores – Pronac 128976
Depoimento de Robson Donizete dos Santos
Entrevistado por Tereza Ruiz
Caçapava 14/08/2014
Realização Museu da Pessoa
NCV_HV047_Robson Donizete dos Santos
Transcrito por Liliane Custódio
MW Transcrições
P/1 – Então primeiro, Robson, eu vou pedir pra você falar pra gente seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Meu nome é Robson Donizete dos Santos, eu nasci no dia quatro de abril de 1972, em Caçapava, São Paulo.
P/1 – Agora o nome completo da sua mãe e do seu pai, e se você lembrar, também data e local de nascimento dos dois. Se não lembrar, só nome completo, não tem problema.
R – Meu pai se chama João Alves dos Santos, ele nasceu no dia 17 de agosto de 1946, em Caçapava. Minha mãe se chama Rosa Maria Leandro dos Santos, nasceu no dia dois de março de 1950, na cidade de Jambeiro.
P/1 – E o que seus pais faziam profissionalmente, ou fazem ainda?
R – Meu pai é aposentado atualmente, minha mãe é do lar, sempre foi do lar, sempre foi de casa. Meu pai foi industriário durante a carreira profissional dele toda, e hoje está aposentado.
P/1 – Onde ele trabalhava?
R – Ele trabalhou em duas empresas multinacionais: GM e Volkswagen.
P/1 – Conta pra gente um pouco como eles são de temperamento. Se você fosse descrever assim a personalidade do seu pai e da sua mãe, como eles são?
R – São bem tranquilos. São pessoas tranquilas, eu acho que herdei isso deles também, tranquilidade, calma pra conversar. São pessoas de personalidade bem calma, bem pacata. Pessoas muito simples também, que foram criadas na roça, na zona rural, no trabalho rural, quando criança e adolescente. Então são pessoas bem simples e temperamento bem tranquilo.
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tenho. Tenho sim. Tenho quatro irmãos.
P/1 – Qual o nome dos seus irmãos? O que eles fazem?
R – Eu tenho um irmão que se chama Leandro, mora em Curitiba, atualmente trabalha lá em uma empresa, casado, tem um filho. Eu tenho mais duas irmãs, a Rita de Cássia e a Rosimeri e o caçula dos irmãos, que é o Leonardo, que é o único solteiro da família.
P/1 – São três, é isso?
R – São quatro irmãos.
P/1 – São quatro irmãos, mais você, então vocês são cinco.
R – Somos cinco.
P/1 – Ah, tá. E você sabe qual a origem da sua família, Robson?
R – Eu acho que aí tem uma mistura. Eu acho que como todo brasileiro aí, tem várias descendências. Eu sei que tem o sobrenome português, do meu avô que é português, tem uma descendência indígena aí também da minha bisavó, e também de italiano por parte do meu pai, a família do meu pai tem descendência da minha avó paterna, italiana.
P/1 – Essa ascendência italiana e portuguesa, são seus avôs que vieram pra cá como imigrantes, ou é mais antiga do que isso?
R – Eu acho que é mais antiga. Eles já nasceram aqui, mas é mais antiga a ascendência.
P/1 – Você não sabe por que eles vieram então?
R – Não. Não. Não tenho essa informação.
P/1 – Contra pra gente um pouco como era a casa e o bairro onde você passou a infância.
R – A minha infância foi uma infância bastante gostosa. Por meus pais morarem em zona rural, meus avôs eram colonos de fazenda, trabalhavam numa fazenda. Então eu cresci, passei a maior parte da minha infância, até os 12 anos, morando na zona rural. Então meu pai, embora já trabalhasse em indústria, a gente morava na zona rural e a gente cresceu ali no ambiente livre, solto, com bastante brincadeira mesmo própria da época e num local bem gostoso e bem agradável de se viver. Então eu tenho boas lembranças, boas recordações da época de infância por ter vivido nesse local, em zona rural, num local bem arejado, bem gostoso, com bastante espaço pra brincar, pra se divertir. Eu posso dizer que aproveitei bastante.
P/1 – Vocês viviam na fazenda, era isso?
R – Meus avôs. Eu morava numa casa, numa chácara próxima, e a casa dos meus avôs era numa fazenda. Ele era colono, empregado de um fazendeiro, e a gente trabalhava... Ele trabalhava e a gente participava da casa, da vida um pouco da fazenda. Então as brincadeiras com primos, com os colegas, amigos ali da idade, eram todas na casa da minha avó.
P/1 – E era uma fazenda de quê?
R – Criavam gados. Era uma fazenda de criação de gados.
P/1 – Você sabe qual o nome, ou não?
R – Não. Não lembro. Não lembro o nome da fazenda.
P/1 – E essa casa que você cresceu, que era uma chácara, conta um pouco pra gente como era. Descreve mesmo a chácara, a casa.
R – Era uma casa bem ampla, bem arejada também, onde havia um pomar com bastantes frutas, laranjas. A gente gostava muito de se divertir, buscava água na mina, na nascente mesmo de água. Então a gente viveu nessa casa. Tinha bastante espaço também para as brincadeiras, pra gente jogar bola final de tarde, todo dia. Estudava também na roça. Tinha uma escola próxima, a gente estudava ali. Então foi um local bem gostoso, bem bacana, que eu pude aproveitar bem a minha infância.
P/1 – Você citou algumas brincadeiras de infância, queria que você falasse um pouquinho mais sobre isso, do que você brincava e com quem você brincava?
R – A preferida sempre foi o futebol. Desde pequeno sempre foi o futebol. Mas a gente tinha bastante brincadeira interessante, que praticamente a gente não vê hoje em dia. A brincadeira de polícia e ladrão, que uns fugiam, como era bem grande, uns fugiam, outros iam atrás pra procurar, e aí era diversão o dia todo pra poder achar, que a gente tinha bastante espaço pra isso. Brincadeira de peão, de cela, bicicleta mesmo, a gente fazia a brincadeira de andar de bicicleta como se fosse polícia e ladrão, correndo atrás do outro. Então tudo isso fez parte da infância, foram brincadeiras que a gente aproveitou bastante.
P/1 – Brinquedo tinha também? Você tinha brinquedos?
R – Não, a gente criava os nossos brinquedos. O meu avô que morava na roça, ele sempre fazia uma espingarda com taquara pra gente jogar mamona no outro (risos), e coisa desse tipo. Então a gente criava. A gente não tinha muito brinquedo, não. Só o final do ano que a gente ganhava da empresa que o meu pai trabalhava. Mas durante o ano, a gente criava os brinquedos pra gente poder brincar.
P/1 – E que outros brinquedos vocês criavam, além dessa espingarda com taquara?
R – Aro, rodinha com taquara e aro pra correr, como se fosse um carrinho. A gente não tinha carrinho, então pegava uma roda e criava um aro com taquara pra poder brincar. Era um dos brinquedos que a gente criava.
P/1 – E futebol, você falou de futebol, você torce pra algum time?
R – Torço. Torço. Sou corintiano desde criança. A maioria da família é corintiana. Tem uns lá que torcem pra outros times, mas lá a maioria é corintiana. Isso eu herdei do meu pai também, meu pai é corintiano, e desde que eu comecei a vê-lo assistindo futebol, torcendo pelo Corinthians, eu criei paixão pelo Corinthians e até hoje sou corintiano firme ali.
P/1 – E você tem algum ídolo do futebol, um jogador preferido?
R – Olha, eu tenho alguns que eu poderia apontar, mas assim, que me lembro da minha época de infância, que eu gostei muito de ver jogar foi o Casagrande, que foi um centro avante, que jogou no Corinthians, que eu o vi despontando. O Sócrates. Então naquela época de 82, 83, que eu comecei a ficar mais vidrado, mais ligado em futebol, mais ligado no time do Corinthians, era a época que o Casagrande, o Sócrates jogavam. O Zenon. Então são os que eu comecei a admirar e admiro até hoje, tenho como ídolos no futebol.
P/1 – Tem algum jogo que tenha te marcado dessa fase, dessa formação do Corinthians?
R – Então, nessa fase, nessa época aí, o que marcou foi o bicampeonato paulista do Corinthians contra o São Paulo, os dois anos que o Corinthians ganhou os dois campeonatos contra o São Paulo. Então foi ali que marcou e que eu comecei a torcer mais pelo Corinthians.
P/1 – E nessa fase de infância, como eram as refeições na sua casa, Robson? Quem cozinhava e o que vocês comiam?
R – A minha mãe. A minha mãe, até hoje a gente tem que dar uma fugida pra ir à casa da mãe comer alguma coisa. Mas eu lembro que na época de infância, eu e meu irmão temos um ano só de diferença de idade, nós fazíamos horta no próprio quintal de casa. Como era uma chácara, a gente mesmo cercava, a gente mesmo plantava, a gente mesmo colhia as coisas. A gente aprendeu a fazer isso na escola e começou a desenvolver em casa. E a minha mãe então que cozinhava. E era comida simples, de coisas que a gente mesmo plantava, que a gente mesmo pegava ali. Então todo dia tinha lá uma abobrinha, tinha alguma coisa assim, legumes, ou verduras que a gente plantava. E ela, assim, sempre logo cedo, costume da roça, ela já tava em pé pra fazer o café. Não era comum, a gente não tinha padaria perto, não era comum ter o pão todo dia ali. Então ela sempre improvisava, fazia um bolinho frito, um bolo assado, sempre tava fazendo alguma coisa pra gente tomar café da manhã pra ir pra escola. À tarde a mesma coisa. Então a refeição sempre foi a minha mãe que fez e que a gente guarda com carinho até hoje essa lembrança das refeições que ela fazia.
P/1 – Você tinha um prato favorito?
R – Olha, não. Nunca tive um prato favorito. Eu sempre comi de tudo, nunca fui de rejeitar comida, até porque a gente aprendeu na roça a comer tudo que ofereciam pra gente comer. Mas eu não tenho um prato preferido. Gosto bastante de massa, embora hoje não seja muito bom comer muita massa, mas eu gosto mais é de massa.
P/1 – E o momento da refeição, vocês comiam juntos? Como era o momento da refeição?
R – Sim. Na infância, sim. Na infância, a gente comia junto, fazia a refeição todo mundo junto, com a minha mãe, menos o meu pai, que trabalhava em fábrica, raramente estava presente, era mais final de semana. Mas durante a semana eram os irmãos com a minha mãe, a gente sempre fazia a refeição juntos.
P/1 – E você mencionou que você começou a frequentar a escola nessa época que você morava na zona rural. Eu queria que você me dissesse quais são as primeiras lembranças que você tem da escola e como era essa escola.
R – Era uma escola muito simples na zona rural, onde tinha uma sala apenas, quando eu comecei. A primeira professora, dona Bernadete, eu lembro até hoje o nome dela. Depois vieram a dona Mariana, professora Mariana, professora Givaldina. São pessoas que passaram pela vida da gente, que a gente tem maior lembrança, maior carinho. Eu acho que os anos iniciais de escola, a gente sempre guarda boas recordações. E eu trago com alegria bastante recordação dessa época, que foi uma época de aprendizado, de sair de casa, de estar se afastando um pouco da mãe, que a gente era bem junto dela mesmo. Então começar um novo processo na vida pela escola. Então eu tenho boas lembranças, foi um momento de aprendizado muito, muito bacana mesmo pra vida.
P/1 – Como vocês iam pra escola?
R – A gente ia a pé mesmo. A gente morava próximo à escola. A residência que eu morava era próxima à escola, e a gente ia a pé mesmo, andava a pé mesmo ali no local, no trajeto de casa pra escola e vice-versa.
P/1 – E você falou que era uma sala, a escola era uma sala só.
R – Isso.
P/1 – Eram misturadas as turmas?
R – Isso. Eram turmas misturadas. E lembro que tinha o primeiro ano e o segundo ano de manhã, à tarde era terceiro e quarto, tudo na mesma sala. Duas séries na mesma sala. Por ser zona rural, tinha poucas casas, eram poucos alunos também, então dava pra fazer isso.
P/1 – E você citou o nome de algumas professoras. Dessas professoras que você citou, tem alguma que tenha sido mais marcante?
R – Olha, eu acho que a mais marcante pra mim foi a dona Mariana, que ela era uma excelente contadora de histórias. Contava muita história infantil e essas histórias me marcaram muito, me ajudaram muito a conhecer, a aprender muita coisa. Então nesse início de estudo, início de escola, foi a que mais me marcou.
P/1 – Você se lembra de algumas das histórias que ela contava?
R – Olha, eu não lembro. Eu não saberia nem contar agora, eu não sou bom nisso. Mas eu recordo das histórias, mas eu não lembro bem o desfecho. Mas eu lembro que foi um período muito marcante pra gente. Ficar atento, ouvir as histórias da professora, isso foi muito bacana.
P/1 – Tinha um nome essa escola rural? Você lembra?
R – Era um nome até estranho para os dias de hoje. Era Escola Estadual de Primeiro Grau Isolada do Bairro do Sapé. Era uma escola isolada mesmo, então tinha um nome um pouco diferente.
P/1 – Tinha o “isolado” no nome.
R – Tinha o “isolado” no nome.
P/1 – Você fez o primário todo nessa escola?
R – Eu fiz o primário lá. Nessa escola
P/1 – E nessa fase de infância, você lembra o que você queria ser quando crescesse? Se você tinha uma vontade...
R – Olha, no primeiro momento de infância, eu queria ser piloto. Eu sempre desenhava avião, queria ser piloto de avião. Mas um sonho que ficou ali na infância, que se perdeu logo.
P/1 – Mas você lembra por que você queria ser piloto de avião?
R – Não. Não me lembro de um motivo, eu lembro que eu gostava muito de avião, de desenhar avião, de ver desenhos animados sobre avião, sobre voo, então eu queria ser piloto nesse primeiro momento aí da infância.
P/1 – E nessa fase ainda de infância, tem alguma história que tenha te marcado, assim, um episódio que você tenha vivido, uma coisa que tenha ficado na memória?
P/1 – Olha, tem algumas coisas, não tem uma história muito relevante. Mas o que eu tenho, assim, eu lembro que próximo de casa tinha um armazém, e eu como criança, todo dia meu pai chegava do trabalho, tinha que ir comigo ao armazém pra comer doce, pra comprar aqueles doces de vitrine, doce de armazém. E a gente ia, então eram momentos que marcavam bem a gente, marcavam bem a infância da gente de poder ir com o pai ao armazém comprar um doce. Pra criança, isso era uma festa, era um motivo de festa. Então isso me marcava bastante quando eu era criança.
P/1 – Era próximo da casa de vocês esse...
R – Sim. Também próximo. Praticamente do lado da escola onde eu morava. Era o único local que a gente podia comprar os mantimentos ali que tinham na roça.
P/1 – E depois que você sai dessa escola do primário, onde você foi estudar, Robson?
R – Eu me mudei, porque eu tinha terminado a quarta série, na roça não tinha a quinta série na época. Aí eu me mudei, meus pais se mudaram pra cidade, mais próximo ao Centro, e eu fui estudar na escola do Sesi, onde eu comecei a cursar a quinta série. A partir da quinta série em diante eu fiz no Sesi.
P/1 – Até terminar o ensino básico? Até o colegial?
R – Até a oitava série. Depois, o ensino médio, eu fiz em outra escola, numa escola estadual.
P/1 – E esse período assim no Sesi foi bem de transição entre infância e adolescência.
R – Adolescência. Exato.
P/1 – Eu queria saber o que mudou na sua vida em termos de... O que você fazia pra se divertir, lazer, grupo de amigos? O que mudou nessa entrada pra adolescência.
R – Até foi uma mudança bem radical na minha vida, porque eu já tinha 12 anos, eu comecei a estudar no Sesi, a criar outro círculo de amigos, entrando na adolescência, e tudo na minha vida foi muito prematuro. Eu comecei com 12 anos também a trabalhar. Apesar de estar estudando, eu comecei a trabalhar meio período, na época a gente podia trabalhar. Eu comecei trabalhar como ajudante de pintor residencial. Eu ajudava um pouco meus pais em casa e tinha as minhas coisas, eu queria ter as minhas coisas. Eu achava que com 12 anos era adulto. E eu estudava e trabalhava, e podia adquirir as minhas coisas com o dinheiro do meu trabalho. E fui criando um círculo de amigos, onde a gente saía. Comecei muito cedo a ir pra... Hoje a gente chama de balada, antigamente a gente falava que era para os bailes, para as discotecas. A gente ia para os clubes, com 12 anos não tinha proibição pra gente poder entrar. Então a gente ia. E eu vivi muito intensamente tudo isso nessa época, nesse período da minha vida. Participando de bailes no sábado à noite, no domingo à noite. E durante a semana trabalhando e estudando.
P/1 – E como eram esses bailes. Conte um pouco. Quem ia? Como vocês iam? O que tocava? (breve interrupção). Então só retomando, eu pedi pra você contar pra gente como eram esses bailes que você frequentava a adolescência?
R – Tinha um baile que chamava Tutti-Frutti, que era muito conhecido a cidade. E começava no sábado, às 11 da noite, e ia até de manhã no domingo. E a gente ia lá com o pessoal, sempre reunia a mesma turma que saía junto, a gente ia pra esse baile, era uma discoteca mesmo, música eletrônica, que tava iniciando mais forte na época. E a gente ia bastante pra esses bailes. Durante a minha entrada de adolescência, juventude ali, eu fui muito a esses bailes. E também tinha um baile que se chamava Le Dance, que era no domingo e a gente ia. Então sábado e domingo era baile.
P/1 – E eles eram em clube? Os dois eram...
R – Eram em clube. Os dois, um em cada clube diferente da cidade. E a gente então ia sábado e domingo a esses bailes.
P/1 – E o que você gostava de escutar de música nessa fase? Você lembra?
R – Eu sempre gostei muito de rock. Até hoje a gente ouve, meus filhos todos gostam de rock. Mas nesse período eu ouvia mais as músicas eletrônicas que foram entrando. Ouvia mais rock, mas também as músicas eletrônicas a gente sempre ouvia bastante.
P/1 – Você lembra quando você começou a gostar de rock?
R – Eu acho que foi um período da adolescência mesmo, entrando ali na adolescência, que eu comecei a ouvir música, ouvir mais rock, até mesmo um pouco de heavy metal eu ouvia. Teve um período que eu ouvia bastante, curtia bastante esse tipo de som. Mas o rock, eu sempre ouvi desde a minha adolescência ali, eu comecei a conhecer mais, a ver mais as bandas, conhecer mais as bandas. E até hoje eu tenho uma coleção de músicas que eu guardo e que eu ouço.
P/1 – E como você começou a escutar rock? Você lembra? Teve alguém que te apresentou, um amigo?
R – Não. Não. Eu comecei a ouvir por rádio mesmo, procurando, e gostava mesmo do tipo de som.
P/1 – E o que você gostava de escutar, ou gosta até hoje?
R – A gente pode fazer um passeio aí: Aerosmith, U2 eu gosto muito, o que mais? Eu tenho desde Iron Maiden também, que eu tenho gravado. São várias bandas: Beatles, Rolling Stones. Tem várias bandas que até me foge o nome de algumas agora, mas eu sempre gostei bastante de rock.
P/1 – E você teve ou tem uma canção favorita, que tenha te marcado, com a qual você tem alguma história?
R – Assim, o que marca é a época. O que marcou a minha época da minha juventude. Eu ouvia muito U2, With or Without You, do U2, que eu acho uma canção muito bacana. Não é um rock pesado, é mais romântico, mas é muito bacana, é uma que marcou uma época da minha vida.
P/1 – Mas você tem alguma história com ela ou é por que você escutava muito?
R – Não. Não. Só por causa da época mesmo. Da época de juventude, da época de desafios, de aprendizado, de conhecimento. Por ter marcado mesmo a época.
P/1 – E você mencionou que nesse momento você começou a trabalhar como ajudante de pintor.
R – Exato.
P/1 – Conte-me um pouco como você iniciou, como foi encontrar esse trabalho, com quem você trabalhava, como era o seu dia a dia de trabalho.
R – Eu quando comecei a estudar, eu tinha 12 anos, eu tinha vontade de adquirir as minhas coisas, comprar meu rádio, minha bicicleta. E foi onde eu conheci um senhor, que morava na rua da minha casa, e ele fazia esse trabalho como pintor. E ele sempre punha alguns meninos pra trabalhar com ele. Era uma forma de aprender alguma coisa, tal. E ele punha os meninos pra trabalharem com ele. Foi onde eu comecei. O apelido desse senhor era Tatu, todo mundo o conhecia por Tatu, era um pintor conhecido na cidade. E eu comecei a trabalhar com ele pra poder ter meu dinheiro, poder ter minhas coisas.
P/1 – E você lembra como era o cotidiano de trabalho com ele? Vocês iam a residências diferentes? Como era esse trabalho?
R – Era muito bacana. O relacionamento era muito bom com ele, com os outros meninos que trabalhavam também, tinha muita brincadeira, por ser bem jovem ainda. E era assim, cada semana a gente tava numa residência diferente, num local diferente, conhecendo outras pessoas. E a gente aprendia ali a desenvolver o trabalho, aprendia a se relacionar com as pessoas também das residências onde a gente passava trabalhando. Então foi um período também de aprendizado muito bacana. Que a gente pôde ter contato com essas pessoas, ser bem recebido pelas pessoas que precisavam do trabalho da gente, então isso foi muito bacana pra minha vida também.
P/1 – Quanto tempo você ficou trabalhando?
R – Olha, eu trabalhei acredito que uns cinco anos como ajudante de pintor.
P/1 – Bastante tempo.
R – Bastante tempo.
P/1 – E você se lembra desses cinco anos... Que foi seu primeiro emprego mesmo, né?
R – Foi.
P/1 – De alguma história que tenha... De uma vivência, uma experiência, um episódio, uma história que tenha te marcado?
R – Eu acredito que o período todo de trabalho sempre foi bacana. Eu sempre gostei de trabalhar, então o período todo foi muito bacana por conta dos relacionamentos, das amizades com os colegas de trabalho, a questão de um poder ajudar o outro ali no trabalho. Eu acho que isso tudo foi relevante pra mim, pra minha formação, pra aquilo que hoje eu consigo ser. Então eu acho que eu não teria uma história própria, mas a história toda, o período todo desse aprendizado foi importante pra mim.
P/1 – Você mencionou que você começou a trabalhar, um dos principais motivos foi que você queria começar a comprar as suas coisas, ter a sua independência.
R – Certo.
P/1 – Você lembra o que você comprou com os primeiros salários?
R – Então, eu lembro que eu comprei uma bicicleta nova, porque a que eu tinha era bem velhinha, e comprei um rádio, porque eu adorava ouvir música. Eu comprei um radio bem antigo, preto, que todo mundo já tinha, e tal, pra eu poder ouvir música. Levava para o trabalho, ouvia em casa, o tempo todo ouvindo música. Então foram as primeiras coisas que eu adquiri com o trabalho.
P/1 – Era um rádio portátil? Você levava contigo?
R – Rádio portátil. Era um rádio portátil. Nesse período também eu me aventurava às vezes em outro trabalho. Sempre na cidade costumava vir os parques, então eu mesmo trabalhando durante o dia como pintor, à noite eu trabalhava em alguns momentos. Em época de parque, eu trabalhava no parque. Sempre que vinha, eu ia lá e trabalhava no parque. Durante a semana e final de semana também.
P/1- E como era esse trabalho? Como era esse parque e como era esse trabalho que você fazia?
R – Era muito divertido. Era muito bacana, porque também a gente conhecia pessoas. Eu sempre fui assim de trabalhar com pessoas, dialogar, de fazer bastantes amizades. Então foi um período que eu trabalhava com as pessoas. Eu trabalhava numa banca de bolas, que as pessoas vinham, faziam o seu joguinho e ganhavam as bolas enormes. E às vezes derrubava, tinha que derrubar três objetos lá, às vezes derrubava dois, eu dava a bola pra agradar a pessoa. Enfim, foi um período muito bacana, muito gostoso, a gente se divertia muito trabalhando ali.
P/1 – E qual era esse parque? Era um parque itinerante, mas era o mesmo?
R – Era um parque itinerante, eu não lembro o nome, não me recordo o nome do parque. Mas ele vinha sempre pra cidade, e toda vez que vinha, eu ia trabalhar. Eu procurava e já começava a trabalhar com eles.
P/1 – E você trabalhando no parque, você podia também frequentar os outros brinquedos? Tinha isso?
R – Poderia. Poderia, sim. Mas eu não fui. Eu não gostava muito, não, de andar nos brinquedos. Mas eu gostava mais mesmo é de estar com as pessoas, de estar ali trabalhando com as pessoas, conversando, dialogando. Era isso que eu gostava.
P/1 – E depois desses cinco anos que você trabalhou como assistente, com esse pintor... Como era o nome, desculpa?
R – Tatu.
P/1 – O Tatu. Depois você mudou de emprego e foi trabalhar com quê?
R – Então, aos 18 anos, eu comecei primeiro trabalhando com operador de som numa rádio local, se chamava Rádio Universal, que funcionou bastante tempo na cidade. Era uma rádio AM e era a única que tinha no município. E eu trabalhei um período curto ali como operador de som nessa rádio. E logo em seguida eu entrei pra trabalhar na Nestlé, na empresa Nestlé. E ali quando eu estava na Nestlé foi quando eu já estava namorando, tal, foi quando eu casei, quando os meus dois filhos maiores nasceram, eu trabalhava na Nestlé. Então foi um período de quatro anos e meio que eu trabalhei na Nestlé, então o início da minha vida de casamento, dos meus dois filhos, eu trabalhava nessa empresa.
P/1 – Tá. Deixe-me voltar um pouco então e perguntar, nessa fase de adolescência e juventude, antes de você ir trabalhar na rádio, você tinha alguma outra ideia do que você queria fazer profissionalmente? Porque você quando criança queria ser piloto de avião. Depois surgiu alguma outra coisa nessa fase?
R – Então, no período de adolescência, também tem uma coisa que eu fazia muito, que era jogar futebol. E eu também queria ser jogador de futebol. Acho que todo menino brasileiro sonha em ser jogador de futebol. Quando eu comecei a estudar no Sesi, na quinta série, eu comecei a participar de um time de futebol, com 12 anos, da cidade, e joguei futebol amador por muitos anos aqui no município de Caçapava, por times amadores. Então eu joguei por vários times, por vários campeonatos. Disputei bastante campeonato. Mas não consegui me profissionalizar como jogador de futebol, mas a gente tinha o sonho, tinha essa vontade de ser jogador de futebol. Então eu sábado e domingo passava nos campos de futebol com chuteira, jogando futebol. Era o que eu amava fazer nesse período, nessa fase. Depois de casado, eu ainda joguei futebol por um tempo, mas logo eu parei.
P/1 – E no colegial, quando você mudou de escola, mudou alguma coisa na sua vida também em termos de cotidiano, lazer?
R – Sim, mudou, mas mudou um pouco também a mentalidade, o modo de a gente ver a vida, o modo de a gente pensar, já com mais maturidade, já com mais projetos pra vida. Então houve uma mudança, mas assim, mais pra responsabilidade mesmo, mais pra assumir os compromissos da vida. Então acho que a mudança foi bem essa.
P/1 – E nessa fase também de adolescência e juventude, nessa questão amorosa, mais afetiva, surgiu alguém? Teve um primeiro amor, uma grande paixão?
R – Na fase de adolescência surgiu, aos 15 anos. Tinha uma moça que morava em outra cidade e foi assim uma coisa de adolescente mesmo, aquele primeiro amor, aquela primeira emoção, a primeira alegria. Mas a gente teve um relacionamento muito curto, um período de namoro muito curto, não durou muito. Mas depois disso foi só quando eu conheci a minha esposa mesmo, que a gente começou a namorar, que a gente se apaixonou e casou.
P/1 – Quantos anos você tinha quando você conheceu a sua esposa?
R – Quando eu conheci minha esposa, eu era bem jovem ainda, eu tinha 17 anos.
P/1 – E como vocês se conheceram? Conta a história pra gente.
R – Nessa fase da minha vida, com 17 anos, foi um período de uma mudança maior na minha vida. Foi quando eu comecei a participar da igreja, comecei a participar de atividades religiosas. Eu fiz um retiro de um grupo chamado PLC, Peregrinação de Leigos Cristãos, e a partir desse momento, desse retiro, eu tive uma mudança em vários aspectos da minha vida. E nesse grupo que eu comecei a participar na igreja foi onde eu conheci minha esposa. Ela já participava, ela já era ali da igreja. Foi quando eu a conheci, a gente começou a namorar.
P/1 – E você mencionou que você se aproximou da igreja aos 17. Teve alguma razão? Como foi essa... Você já tinha uma formação católica quando você teve uma aproximação maior? Como foi a história desse retiro? Por que você decidiu fazer essa aproximação?
R – Eu, assim, sempre fui católico, nasci numa família católica, bem religiosa, meus avôs, minha mãe sempre religiosa. Só que teve um período da adolescência, do início da adolescência, que eu me afastei mesmo da igreja, não queria participar de nada, me afastei totalmente. Mas com 17 anos, eu estudava ainda, tava no ensino médio, e tinha um amigo que participava da igreja, que tinha a mesma idade, a gente sempre tava dialogando, sempre saindo, sempre brincando, e ele me convidou. Convidou a mim, e um grande amigo meu, que já faleceu, o Sid Mauro, conhecido como Cebola, que era um irmão da época de baile, da época de discoteca, a gente saía, a gente usava roupa um do outro. Então era um irmão mesmo. Infelizmente, ele já se foi. Mas nesse período então um amigo chamado Egídio nos convidou pra fazer um retiro. Eu não sabia o que era, não conhecia, e acabei indo pra passar um final de semana diferente, pra conhecer, pra ver o que era, e acabei me encantando com tudo que aconteceu no retiro, acabei me encantando com o grupo, com o jeito de participar na igreja. Acabei me encantando com o próprio Deus. Então esse momento pra mim foi muito marcante, foi um momento de mudança mesmo de vários aspectos da minha vida. E a partir dali então... Foi esse convite que me fez participar do retiro, conhecer o retiro, e a partir ali então eu comecei a ter um compromisso maior na igreja, uma participação até mesmo auxiliando outras pessoas que sempre precisassem.
P/1 – E como foi esse retiro? Conta um pouco assim. Como foi? Como foi a sua experiência nesses dias?
R – Foi uma experiência assim maravilhosa, sabe? Um retiro impactante, com palestras, com pregações, mostrando a realidade da vida, a realidade de pessoas que viviam uma vida totalmente sem sentido, sem rumo, e acabaram encontrando no retiro, encontrando em Deus uma direção, um caminho pra vida, e principalmente uma alegria muito grande de participar da igreja, de auxiliar outras pessoas. E eu pude sentir isso, eu pude experimentar isso. Eu acho assim, que com Deus, só a experiência pessoal é que vai dizer como é. Então eu tive essa experiência e pra mim foi muito importante pra minha vida, pra minha vida depois como casado, minha vida como pai. Pude passar isso para os filhos. Então esse retiro, esse encontro de um final de semana, foi um retiro que eu ouvi muitas palestras, muita história de vida, muita história de vida das pessoas que realmente não tinha um motivo, não tinha um sentido na vida. Então foi um retiro com histórias de pessoas que realmente tiveram, encontraram um motivo pra poder viver. E essa alegria que contagia, uma alegria de pessoas que conhecem a Deus e que contagia, e que dá um sentido novo pra vida.
P/1 – Dessas histórias que você tá mencionando e desses testemunhos, você se lembra de algum que tenha te impressionado em especial?
R – Lembro. Eu me lembro de um senhor chamado Norberto, Norberto Lopes, que eu uma palestra contando uma história, e não foi uma história dele, mas de um menino do Rio de Janeiro que era envolvido com o tráfico, com drogas, com armas, e esse menino tinha feito um retiro anterior ao que eu fiz e mudou totalmente de vida. Abandonou o tráfico, abandonou as armas, abandonou as drogas, e estava participando. E ele foi nesse retiro que eu participei pra contar a história dele na palestra do senhor Norberto Lopes. E uma história interessante, ainda com o senhor Norberto, que foi essa palestra a que mais me chamou a atenção no retiro, a que mais me marcou no retiro. E passados alguns anos, eu participando da igreja, eu me tornei ministro da eucaristia e tive a possibilidade de fazer uma visita para o senhor Norberto, que estava doente, estava acamado, e depois veio a falecer. Mas quando ele estava doente, acamado, eu pude fazer essa visita, eu pude levar a eucaristia pra ele no leito. Isso foi um motivo de muita alegria pra mim, muito gratificante, apesar do momento de dor, do sofrimento dele, mas poder de certa forma retribuir aquilo que ele me passou quando eu fiz o retiro. Então é uma história, é um momento que marcou bastante pra mim.
P/1 – E foi a partir dessa experiência que você conheceu a sua esposa então?
R – Foi. Foi. Quando eu entrei na igreja, quando eu fiz o retiro, eu conheci a minha esposa, que participava do grupo.
P/1 – Qual o nome dela?
R – É Tânia. Tânia Maria. Ela participava do grupo, sempre foi ali da igreja, a família dela toda, inclusive ela tem um irmão que é padre, é sacerdote da igreja católica. Então ela sempre teve esse vínculo com a igreja e eu a conheci no grupo. Ali a gente começou a namorar, participar junto das atividades, nós fomos catequistas juntos, participávamos de reuniões do grupo juntos, então tudo isso foi muito bacana pra vida da gente.
P/1 – Como foi o namoro de vocês? Quanto tempo vocês namoram e o que vocês faziam juntos? Como foi esse namoro?
R – Nós namoramos durante dois anos antes do nos casarmos. Namoramos por dois anos. E a gente saía bastante, mas as nossas atividades eram mais vinculadas à igreja mesmo. A gente saía pra passear, pra ter um momento de lazer também. Quando a gente namorava, não podia chegar muito tarde, que a mãe dela não gostava, não deixava. E já tava acostumado, mas ela não. Então a gente saía, tinha que voltar cedo, que era um costume da família dela e a gente respeitava isso. Mas foi bem bacana, foi um momento de aprendizado, aprendi muito com ela. Até pela formação religiosa que ela tinha, eu pude aprender muito, conhecer muita coisa. Hoje eu sou grato a Deus pela vida dela, pelo que ela representa na minha vida.
P/1 – E quando vocês decidiram se casar? Como foi essa decisão? Teve um pedido oficial?
R – Teve. Teve. Foi uma coisa um pouco... Bem tradicional mesmo. Pra mim foi diferente, porque antes eu namorava e não tinha compromisso nenhum. E quando a gente tava namorando, a gente resolveu ficar noivo pra se casar, a gente decidiu se casar, a gente se amava mesmo desde o começo do namoro. E eu fui falar com o pai dela pra pedir a mão dela em casamento, essa história toda.
P/1 – E como foi assim?
R – Fui bastante tremendo, bastante nervoso, mas foi bacana, a família dela é muito bacana, a gente tinha um diálogo muito bom, uma conversa muito boa. Eles me receberam de braços abertos mesmo. Foi diferente pra mim, mas foi bacana, foi uma experiência boa. A gente ficou noivo e logo a gente se casou. Então foi uma experiência um pouco difícil, mas foi bem bacana.
P/1 – E como foi o casamento? O dia mesmo do casamento, o que você lembra? Como foi a cerimônia?
R – Olha, o dia do casamento foi assim... É muito corrido, é um dia que você tem mil coisas pra fazer no mesmo dia. Mas a gente fez o que a gente pôde. Foi uma coisa muito simples, mas assim, bem planejada, bem pensada, graças a Deus.
P/1 – Como foi a cerimônia?
R – A cerimônia foi feita pelo grande amigo nosso, Frei Bruno, um italiano que estava em Caçapava exercendo a função de pároco. E uma pessoa muito bacana, que a gente tem contato até hoje com ele. Muito amigo, muito prestativo mesmo. E a gente fez questão que ele celebrasse nosso casamento. E ele veio, celebrou com o maior carinho mesmo. Então foi muito bacana a cerimônia. Foi muito simples, mas muito bacana, com amigos, com pessoas que a gente mantém contato até hoje, a gente mantém uma amizade até hoje. Os padrinhos mesmo eram amigos nossos. Então foi uma cerimônia bem bacana mesmo. Bem simples, mas muito bacana, muito bonita, muito bem feita, muito bem celebrada.
P/1 – Você se lembra das músicas que tocaram, como a igreja tava?
R – Eu não lembro. A igreja tava bem arrumada, bem enfeitada. Eu não me lembro das músicas, mas foi bem arrumada, bem organizada.
P/1 – Teve festa depois?
R – A gente fez uma festa, uma recepção simples pra alguns amigos, algumas pessoas mais próximas. A gente fez, sim, uma celebração ali também fazendo essa recepção para os amigos.
P/1 – E como foi a recepção?
R – Foi bem bacana, os amigos participaram, estiveram presentes mesmo, dando apoio, dando incentivo. Inclusive, tinha alguns colegas de trabalho que foram, se fizeram presentes. O pessoal da igreja onde a gente participava esteve presente, pôde estar com a gente ali. Então foi bem bacana.
P/1 – Quando você se casou, você já trabalhava na Nestlé?
R – No período do meu casamento, eu trabalhava na Nestlé, já estava lá na Nestlé.
P/1 – Conta um pouco como foi essa entrada na Nestlé então. Como você chegou à Nestlé? O que você fazia na Nestlé? Qual era esse trabalho?
R – Assim que eu fiz 18 anos, eu fui trabalhar na rádio, como eu disse, depois eu fui... Logo em seguida surgiram vagas de emprego na Nestlé, eu fui procurar, e eu entrei, fui chamado pra trabalhar, e fui trabalhar na produção. Então pra mim era uma oportunidade muito bacana. Eu tava começando, eu estava noivo, tava prestes a casar. Com três meses de Nestlé, eu me casei. Então eu trabalhava na linha de produção da Nestlé chamada acondicionamento de chocolate. Nem sei se existe hoje essa linha de produção. Mas era ali que eu desenvolvia o meu trabalho. Por quatro anos e meio eu trabalhei ali na Nestlé. Um período também muito bacana, muito bom de aprendizado, de relacionamento, de realmente exercer a profissão ali com dignidade. Então isso foi bastante interessante pra mim.
P/1 – E quando você saiu da Nestlé, por que você saiu? E o que você foi fazer profissionalmente?
R – A Nestlé tem a sua sazonalidade. Então teve um período ali que realmente precisou demitir funcionários, precisou diminuir os quadros. Eu passei por várias fases dessas e consegui ficar, mas teve um período que realmente a demissão foi muito grande, o número de corte de funcionários foi muito grande, e eu acabei sendo demitido por isso.
P/1 – E você foi trabalhar com quê?
R – Então, nesse período assim eu trabalhei em outras empresas. Depois que eu saí da Nestlé, eu trabalhei em algumas outras empresas. Trabalhei em vários horários: à noite, de dia. Então aonde eu ia na empresa e precisasse, eu tava trabalhando. E trabalhei então em vários horários e várias empresas.
P/1 – E como você chegou aqui até a Casa de Acolhimento? Conta pra mim qual a história quando você começa a trabalhar aqui? Qual o caminho que você faz pra você fazer o que você faz hoje?
R – Então, pra eu chegar até aqui, eu passei antes por um processo que... Como eu sempre falo, tudo é um aprendizado na vida da gente. Eu fui conselheiro tutelar. Eu me envolvi... Assim, na igreja, eu já trabalhava com crianças, que era a catequese. Eu dava formação para as crianças através da catequese. E houve um período então que quando foi criado o Conselho Tutelar aqui em Caçapava, na década de 90, teve umas duas ou três gestões, e depois, no início do ano 2000, eu me candidatei ao Conselho Tutelar. A gente tem todo um processo antes, tem a comprovação no trabalho da área da criança e do adolescente, e eu me envolvi diretamente na causa da criança e adolescente. Participando do Conselho Municipal da criança e do adolescente, fórum municipal, fórum estadual, e eu comecei a aprofundar mais sobre a área da criança e adolescente. Fiz vários cursos na área. Então eu me candidatei a uma vaga como conselheiro tutelar. É uma eleição pública, a população que vota, e eu acabei entrando no Conselho, fiquei lá por dois mandatos. Essa minha experiência no Conselho Tutelar é que me trouxe aqui hoje. A atual secretária municipal, ela me conhece, conhece o meu trabalho, conhece o meu envolvimento com a causa. E quando eu comecei a trabalhar na administração atual, ela me chamou pra vir trabalhar aqui na Casa e auxiliar de alguma maneira o desenvolvimento aí, o trabalho com as crianças e adolescentes aqui da Casa de Acolhimento.
P/1 – Que ano foi isso?
R – Do Conselho Tutelar?
P/1 – Não, que você vem pra cá. Você começou a trabalhar aqui...
R – Eu comecei a trabalhar aqui em 2013. Em 2013. Assim que a atual administração assumiu a prefeitura, eu vim pra cá.
P/1 – E essa experiência sua no Conselho Tutelar teve alguma experiência, alguma vivência que tenha te marcado em especial?
R – Eu não tenho uma em especial, mas eu acho que todo o trabalho, todo o envolvimento no Conselho Tutelar é marcante, porque são histórias, são vidas de crianças e adolescentes que têm os seus direitos violados. São crianças e adolescentes que são vítimas às vezes da própria família, às vezes de terceiros. E a gente tinha que fazer então essa intervenção junto ao Ministério Público pra que garantisse os direitos da criança e adolescente. Então foi um período de muito aprendizado pra mim, de muita experiência. Experiência até assim, difícil vivenciar, mas que precisava vivenciar pra de alguma forma poder atuar ali. Então foi um período de muito aprendizado também pra mim.
P/1 – Não teve nenhum caso que tenha sido especialmente difícil, ou desafiador, ou aquela coisa que fica... Um momento que seja significativo mesmo nessa experiência com as crianças e adolescentes. Às vezes alguma criança, adolescente, com quem você se envolveu mais por alguma questão.
R – Então, os maiores problemas que eu via, além da violência, de toda situação que é corriqueiro, que é comum, infelizmente, acontecer, os problemas com adolescentes sempre foram mais complicados, e principalmente quando a gente tinha uma situação com adolescente envolvido com drogas. Teve um caso de um menino que eu cheguei a casa, o pai tinha acorrentado o menino ao sofá pra ele não sair. E a gente teve que fazer uma intervenção bem séria. A gente sabe que isso por lei não poderia acontecer, o pai não poderia fazer isso, mas a gente também se colocou no lugar do pai diante da preocupação, da tentativa de segurar o filho em casa pra não usar mais droga, que o filho estava realmente se acabando nas drogas. E a gente fez o processo pra interná-lo numa clínica de recuperação, a gente fez um acompanhamento. Então esse menino foi muito trabalhoso. Depois que eu saí do Conselho, eu não tive mais notícia, eu não sei hoje como ele está. Mas foi uma situação, uma história que me marcou bastante pelo fato do desespero do pai ter que acorrentar o filho por causa das drogas. Então foi uma situação que a gente teve que fazer uma intervenção bem grande ali nessa situação.
P/1 – E nesse caso, como vocês agiram?
R – Então, nós tivemos que, como eu disse, pedir uma internação para o menino, foi de pronto atendido, o Ministério Público agilizou. A gente conseguiu uma clínica, encaminhamos pra internação. E foi feito um trabalho, aí a gente encaminhou a família para o serviço social do município pra que pudesse acompanhar dando assistência social, psicológica pra família. Então a gente fez essa intervenção.
P/1 – Quanto tempo você ficou no Conselho Tutelar?
R – Eu fiquei dois mandatos. Cada mandato é um mandato de três anos. Então eu fiquei dois mandatos no Conselho Tutelar.
P/1 – Eu queria voltar um pouco, pra gente chegar aqui e falar do seu trabalho aqui hoje, falar um pouco dos seus filhos. Então eu queria saber um pouco sobre a questão da paternidade. Quando veio a primeira gravidez da sua esposa? Como foi receber essa notícia?
R – Então, falar dos filhos é uma alegria muito grande. Eu amos meus três filhos. Tenho três. Eu fui pai muito cedo. Eu com 19 anos, minha filha nasceu.
P/1 – Como foi receber a notícia dessa primeira filha?
R – Foi maravilhoso. O primeiro filho... A primeira filha, no caso. Foi maravilhoso, um motivo de muita alegria, muito prazer mesmo. E a gente começa a recordar a história dela quando nasceu, todo o acompanhamento durante a gravidez, do nascimento, do batizado. A gente começa a recordar essas coisas, sempre com muita alegria que a gente se lembra disso. Então foi motivo de muita emoção pra gente. A Aline, minha filha mais velha, hoje tem 22 anos. Quando ela nasceu... Na verdade eu tinha 20 anos quando ela nasceu. Eu tinha 20 anos. Eu casei com 19, com 20 anos ela nasceu. Então foi um motivo de muita alegria pra gente.
P/1 – Você lembra como vocês descobriram que estavam grávidos? Como veio essa notícia?
R – Foi assim, logo depois do casamento, acho que com três meses de casamento, minha esposa já ficou grávida. E com três meses ela já foi me contar, e assim, a gente ficou muito feliz. Eu acompanhei-a no pré-natal todinho, indo ao médico, sempre junto ali dando apoio. E foi muita alegria, muita emoção mesmo, a gente não tem palavras pra descrever.
P/1 – Você acompanhou o parto?
R – Não acompanhei de perto. Eu tava no hospital e tal, mas eu não entrei na sala pra acompanhar. Isso não. Mas eu acompanhei ali estando no hospital.
P/1 – E você lembra qual foi a sensação quando você viu a Aline pela primeira vez?
R – Ah, foi muita alegria. Foi muita alegria, muita emoção mesmo. Ela teve um probleminha assim que nasceu, de icterícia, comum às crianças, e teve que ficar dois dias no hospital. Aí foi triste, porque a minha esposa saiu e ela ficou dois dias ainda no hospital. Então pra mim ali parecia que o mundo tava desabando. Porque eram só dois dias, mas pra gente, o primeiro filho, a gente quer sair do hospital, levar embora, cuidar, então foi um pouco triste esse momento. Mas assim que ela saiu, aí foi só festa mesmo, só comemoração mesmo. Mas é muita alegria, muita emoção.
P/1 – E os seus outros filhos?
R – E aí um ano e meio depois eu tive o segundo filho, o Matheus, hoje tá com 20 anos. O Matheus veio logo em seguida. O Matheus, no momento que ele nasceu, eu me encontrava desempregado, tava sem convênio médico, e ele nasceu em outro município, nasceu na cidade de Jacareí. A gente conhecia o pessoal, conhecia os médicos lá, e eu o levei pra nascer lá nesse hospital em Jacareí. Mas assim, tudo bem, foi maravilhoso também, foi da mesma forma uma alegria imensa de saber que tinha filho, que era um filho homem, pra gente era motivo de muita alegria. É uma pena que ele foi corintiano por pouco tempo, depois mudou de time. Mas é...
P/1 – Pra quem ele torce?
R – Ele torce pelo Santos hoje. E a gente vive lá brincando um com o outro. Ele resolveu torcer pelo Santos, perdeu. Então é um problema dele ali. Depois, quando o Matheus tava com oito anos, com oito anos desse meu filho, veio a terceira, veio a caçula, a Beatriz. Hoje tá com 13 anos, é a caçulinha da casa, também foi motivo de muita alegria, nasceu aqui em Caçapava mesmo. Motivo de muita alegria, a gente queria ter mais um depois que os dois já estavam maiores, e aí veio a Beatriz, e até hoje alegria pra gente poder ter os filhos assim.
P/1 – E como foi ser pai, Robson? O que mudou na sua vida? Como é ser pai?
R – Olha, ser pai, assim, é alegria, como eu disse, é emoção, mas eu sempre fui assim muito criança com eles. Tudo aquilo que eu vivi de brincadeira na minha infância, eu sempre fiz isso com os meus filhos. Brincava com a minha filha de capoeira, levava pra jogar bola o meu filho. Então sempre fui assim muito de brincar com eles, de levar para o lazer, de estar junto com eles. Então a gente voltou a ser um pouco criança. De levar pra empinar pipa, pra soltar pipa. E levava os dois quando eram pequenos, depois minha filha, quando veio, também a mesma coisa, a gente levava sempre pra passear, ou pra brincar, estar sempre junto com eles. Acho que isso... A gente voltou a ser um pouco criança com eles, estar participando da vida deles, isso foi bem bacana pra mim, poder partilhar isso com eles, essa experiência que eu tive quando criança. Eu comprava até os brinquedos que eu gostava pra brincar com eles. Depois chegou um período que eles começaram a fazer o brinquedo deles, ou seja, videogame, brinquedos mais atuais, ter os brinquedos deles. Mas enquanto eu pude, enquanto eles eram menores, a gente sempre tava brincando com eles.
P/1 – Então vou agora falar um pouco do trabalho que você faz atualmente.
R – Correto.
P/1 – Eu queria que você me dissesse um pouco qual o trabalho da Casa de Acolhimento e qual o seu papel nesse trabalho.
R – Certo. Bem, eu trabalho aqui na Casa de Acolhimento, eu vim pra auxiliar a coordenação. Hoje é a dona Rosa que é a coordenadora e eu to aqui auxiliando na coordenação. O trabalho aqui, a gente tem os funcionários, os educadores sociais que cuidam diretamente das crianças, um cuidado direto com eles, e tem outros funcionários de outras áreas da casa. E a gente tá aqui pra coordenar esse trabalho dos educadores e também coordenar o dia a dia da casa, as atividades das crianças, como escola, como cursos que eles fazem, atividades esportivas que eles fazem. Então a gente tá aqui pra orientar esse trabalho, pra coordenar esse trabalho. Então a gente tem procurado fazer isso. Essas crianças são aquelas vitimadas, aquelas que saíram das famílias por uma decisão judicial e que estão aqui pra poder garantir os direitos delas. Até que a justiça tome uma decisão, alguns podem retornar pra família, outros vão pra adoção. Enquanto eles passam esse período, eles aqui têm que todo o cuidado necessário pra uma vida digna, uma vida decente. E é isso que gente procura fazer, isso que a gente procura desenvolver com eles.
P/1 – Qual a faixa etária das crianças que vocês têm aqui?
R – Aqui na casa, pela lei, elas podem estar aqui do zero até 18 anos. Hoje a gente tem aqui... O mais novo tem um ano. A gente tem três bebês de um ano, nessa faixa de um ano, e o mais velho tem 16 anos. Então até 18 anos pode estar na casa pela lei.
P/1 – E normalmente, assim, em média, vocês têm quantas crianças e adolescentes?
R – Então, hoje, somando as crianças e adolescentes, a gente tem em torno de 27, 28. Não me recordo exato o número, mas tá em torno disso.
P/1 – E eles não voltam pra casa, não, né? Eles ficam aqui até...
R – Eles moram aqui. Até que se tenha uma decisão judicial, eles ficam morando aqui. Ou seja, passam o dia, dormem aqui, final de semana. Saem para as atividades fora, ou pra algum passeio, que a gente programa o final de semana pra fazer alguns passeios com eles. Então essas atividades normais de uma família, de uma vida que eles têm. Mas eles só vão retornar pra casa com autorização judicial. Alguns começam um processo de visita à família, e aí vão aos finais de semana passar com o familiar, com a autorização da justiça, até que se veja que tem possibilidade dessa criança voltar pra família, ou pra destituir do poder, quando a família não tem condição de receber novamente, e essa criança então, ou adolescente, vai pra adoção. E aí tem que esperar todo um processo burocrático pra poder fazer a adoção.
P/1 – E nesse tempo que você tá aqui, Robson, como tem sido essa experiência de trabalho pra você? E se você teve algum desafio diferente daquilo que você já tava habituado.
R – Sim. Sim. Eu posso dizer que sim. É também um aprendizado, mas assim, uma experiência bastante difícil, porque são realidades difíceis. São realidades diferentes uma das outras. São muitas realidades diferentes juntas, então tudo isso traz uma sobrecarga, uma responsabilidade muito grande. A gente tem bastante dificuldade principalmente com alguns adolescentes que já têm um histórico, mas a gente entende que eles vêm de famílias já comprometidas, que eles vêm com um histórico difícil. Então a gente tem que ter muita habilidade pra trabalhar com tudo isso. Então o desafio é esse, principalmente os adolescentes. Com as crianças é difícil, é complicado, mas a gente consegue maiores resultados, resultados mais rápidos. Com os adolescentes é outro processo, um pouco diferente, que a gente precisa. Ter um pouco mais de paciência, um pouco mais de tranquilidade, um pouco mais de proposta pra trabalhar com eles. Então a gente ainda encontra bastante dificuldade nesse aspecto, mas assim, é ao mesmo tempo maravilhoso. É compensador você ver que o seu trabalho, que a sua dedicação de repente surge frutos. Nós temos um adolescente aqui que final de semana agora vai disputar um campeonato mundial de jiu-jítsu. Foi vice-campeão sul-americano e vai disputar o campeonato mundial agora no próximo domingo. Então é um motivo de alegria muito grande pra gente. É uma atividade que ele faz fora da Casa, também por um projeto social, e ele desenvolve essa atividade e tá conseguindo isso, de ser um vice-campeão sul-americano e vai disputar um mundial de jiu-jítsu. Então isso é motivo de alegria, de orgulho pra gente, de ver que o trabalho tá surtindo o seu efeito, tá tendo os seus frutos.
P/1 – Você se lembra de outros exemplos, outras histórias como essa assim? Do trabalho que vocês estão fazendo e de você sentir que tem um resultado, ou mesmo de dificuldade dentro daqui da casa?
R – Deixe-me ver...
P/1 – Um episódio que você tenha vivido, uma situação específica, ou história de alguma criança, ou de algum adolescente.
R – Então, eu vejo que assim, quando a gente conquista a confiança deles, principalmente dos adolescentes, é um motivo da gente comemorar. Porque eles vêm pra cá realmente descrentes de tudo, desconfiando de tudo. Quando a gente consegue conquistar a confiança deles, o respeito deles, consegue fazer essa troca de carinho, ao mesmo tempo de chamá-los à responsabilidade, ao compromisso, que a gente consegue manter esse diálogo bacana com o adolescente, eu acho que isso é motivo pra gente poder comemorar.
P/1 – E você se lembra de algum exemplo disso que você tá falando?
R – Deixe-me lembrar aqui.
P/1 – Não se lembra de algum específico agora?
R – Específico agora, não. Até tem histórias, mas eu...
P/1 – Pode ser uma coisa bem cotidiana mesmo. Assim, do cotidiano de trabalho mesmo.
R – Tem história, mas eu não to lembrando agora.
P/1 – Que tipo de resistência eles têm no momento? Como vocês tentam contornar essa resistência?
R – Ah, a principal resistência que eles têm é com relação às regras. Que a casa tem que ter uma regra pra poder funcionar bem. A obedecer os horários, a obedecer as regas da casa. Então a resistência deles é um pouco com relação a isso. Então a gente procura manter bastante diálogo, bastante esclarecimento pra eles, pra que eles possam contornar essa resistência e entrar no ritmo da casa, no ritmo das regras que tem. Então esse é um pouco o trabalho que a gente tem feito e que tem, de certa forma, dado resultados. Tem aqueles que estão mais difíceis, que a gente ainda vai ter uma demanda de tempo aí, de dedicação pra poder contornar, mas de forma geral a gente tem conseguido fazer isso.
P/1 – Tá certo. Queria saber um pouco então agora sobre a relação de vocês com a Nestlé. Como começou essa parceria? Como o Nutrir veio pra Casa?
R – Eu posso falar um pouco das atividades aqui. Agora, como começou, eu não sei te dizer.
P/1 – Quando você chegou, já tava o programa?
R – Já tava. Já tava, e assim, quem faz esse contato é a assistente social da casa, então ela tem essa informação. Eu não sei como começou, como foi esse relacionamento.
P/1 – Ah, não tem problema. Então me conta um pouco como o programa acontece dentro da casa. Quais são as atividades? Qual a participação da equipe da Casa? Qual a participação das crianças e adolescentes? Conta um pouco mesmo.
R – Certo. Então, quando eu vim trabalhar na Casa de Acolhimento, já existia aqui o projeto da Nestlé, o Projeto Nutrir, que desenvolve um trabalho de alimentação com as crianças, uma alimentação balanceada, uma alimentação adequada. Então eles vêm uma vez por mês, o último final de semana, no sábado, e fazem... Tem a equipe de cozinha que elabora a refeição, que elabora o cardápio pra eles no dia, e que auxilia servindo essa refeição pra eles no almoço, e também às vezes no lanche. Ou em algumas datas específicas, eles fazem alguma coisa diferente, como na festa junina que eles fizeram. E foi bem bacana, trouxeram coisas de festa junina, comida típica de festa junina, mas de um jeito mais saudável. E trouxeram pra eles, foi bem bacana.
P/1 – Mas como o quê, por exemplo, nesse caso da festa junina?
R – Eles fizeram um cachorro quente lá, mas sem muito condimento, uma coisa mais saudável. Então eles desenvolveram algumas comidas típicas de um jeito mais saudável. E a criançada gostou bastante, aproveitou bastante, comeram bem, gostaram. E além disso, além da questão da alimentação, ainda tem um projeto que eles desenvolvem que fazem de uma forma lúdica, de uma forma que as crianças participem, brinquem, se divirtam e aprendam. Então já desenvolveram várias atividades aqui com eles ao longo do tempo, fizeram já o dia da pipa, então eles fizeram, trabalharam, elaboraram as pipas, e as crianças soltaram as pipas pra se divertir, tal. Fizeram a questão do meio ambiente, no mês do meio ambiente, eles elaboraram projeto e fizeram atividade com as crianças, até de plantio de mudas. E hoje nessa Casa não está porque ficou na antiga. Mas fizeram essa plantação de mudas com as crianças. Então eles sempre desenvolvem. Então vem uma equipe, uma equipe até que grande, uma equipe bacana, que no sábado que eles vêm é motivo de festa para as crianças. Eles brincam, eles se divertem, mas aprendem na brincadeira. Dentro do projeto, eles fazem atividade com que as crianças aprendendo, elas estão brincando e aprendendo ao mesmo tempo.
P/1 – E sobre alimentação também elas aprendem? Tem essas atividades lúdicas que você tá mencionando voltadas pra questão da alimentação?
R – Sim. Tem. Eles procuram mostrar para as crianças a importância da alimentação, do quê comer, por que estão comendo aquilo. Então isso tudo é bem bacana, porque é ensinado pra eles, não é simplesmente chegam aqui e dão o alimento. Mas ensinam o porquê, por que têm que comer aquilo, o que faz de bem pra saúde. Então as crianças aprendem assim.
P/1 – Você já acompanhou alguma das atividades?
R – Já. Sempre que eu estou no plantão do fim de semana e que tem o Projeto Nutrir, eu venho, eu participo, eu acompanho as atividades. A gente tá sempre auxiliando em algumas coisas que eles precisam da Casa. Então a gente vem pra sempre acompanhar o trabalho.
P/1 – E nesses dias que você acompanhou, quais eram as atividades? Dá alguns exemplos pra gente. Essas atividades lúdicas, de quê natureza?
R – Eu posso dizer da... Assim, com relação à alimentação, eles sempre fazem, ou faziam, um período aí, a pesagem das crianças, então faz o controle de peso mês a mês das crianças. Então acompanhei isso. A questão do meio ambiente, quando eles fizeram atividade do meio ambiente, eu estava presente, acompanhei. Na festa junina que eles fizeram, fizeram uma quadrilha, a criançada dançou, eu estava presente acompanhando. Então algumas atividades a gente tá presente. E você vê que as crianças se interessam mesmo. Elas gostam dessa parceria. Elas gostam dessas atividades que o Nutrir traz pra Casa de Acolhimento.
P/1 – E tem uma formação também com os educadores da Casa, com a equipe da cozinha da Casa? Como é essa relação?
R – Olha, eu não me lembro de ter havido antes, mas a gente começou, no último mês agora, que passou, a gente teve uma primeira reunião com a coordenação, com alguns educadores. E o projeto agora é assim, fazer esse trabalho também com os educadores, pra eles estarem inseridos nesse processo. Porque quando a equipe vem, os educadores estão aqui, saber como acompanhar, como trabalhar, como auxiliar o projeto. E na cozinha sempre vem uma equipe também e a gente também tá começando a passar isso pra equipe nossa de cozinha pra eles interagirem de uma forma melhor com o Projeto Nutrir.
P/1 – E qual você acha, Robson, que é a importância de um programa como esse, como o Nutrir, pra Casa de Acolhimento, por exemplo, para as crianças e adolescentes que estão aqui, e pra equipe de uma maneira geral?
R – Eu acho que é de fundamental importância, até porque a gente tá ampliando essa parceria no sentido de ter mais colaboração do próprio Projeto Nutrir em algumas coisas que a Casa está precisando. De algumas coisas que as crianças estão precisando de desenvolvimento, de atividades, de brincadeiras, de esportes. Então a gente tá com umas ideias novas, junto com a equipe do Nutrir. Então algumas coisas novas vão surgir pra Casa e isso é bacana.
P/1 – Em que sentido assim? Essas ideias que você falou, que tipo de ideias, ou que tipo de propostas?
R – Ideias assim, por exemplo, uma das coisas que a gente tá se propondo a fazer, e o Projeto Nutrir vai nos auxiliar, é a gente ampliar os muros aqui pra conter os brinquedos, as bolas que caem fora dos muros. A gente mora aqui numa área residencial. Então eles vão ampliar essa proteção dos muros, trazer algumas coisas que hoje a Casa tá precisando, pra ampliar até mesmo as atividades lúdicas das crianças, com brinquedos e algumas outras coisas pra que as crianças tenham mais atividades.
P/1 – Mas a Nestlé vai entrar nisso como? Como doação?
R – Como doação. Algumas coisas que eles vão doar pra Casa, que eles querem e têm como fazer pra doar para as crianças.
P/1 – E essa questão da conscientização e da mudança de alimentação, você acha que isso tem um impacto na Casa de Acolhimento? Tem uma importância na vida dessas crianças e jovens?
R – Com certeza. Com certeza. Tem uma importância, sim. É um trabalho que não é fácil, porque é um processo educativo. E num processo educativo demanda um tempo, demanda uma insistência, uma persistência no trabalho. Mas é de fundamental importância. Eu acho que precisa continuar e eles, enquanto crianças, têm que aprender uma alimentação melhor até pela questão da saúde, pra ter mais saúde mesmo. E às vezes, assim, a gente insiste, insiste, e eles não gostam de um legume, não gostam de uma fruta. Mas aí a Nestlé vem, elabora um jeito que eles possam comer sem saber que tá comendo. Então eles vão e vão inserindo esses nutrientes, esses legumes e frutas pra poder ter mais saúde. Então isso é bacana. Mas ao mesmo, o Projeto Nutrir vai ensinando-os a importância de comer, a importância de se ter uma alimentação adequada. Então isso eu acho que é de fundamental importância essa parceria.
P/1 – E você sabe há quanto que o programa já tá junto com a Casa?
R – Não. Não sei.
P/1 – Você não sabe.
R – Eu não tenho conhecimento desse período.
P/1 – Eu sei que você tá relativamente pouco tempo, mas não sei se você saberia dizer se vocês já tiveram algumas mudanças nesse sentido da alimentação, seja nas crianças e nos adolescentes, seja na equipe. Eu sei que é uma coisa que de processo e aprendizado, mas às vezes é uma coisa que parece pequena, mas que é relevante. Então uma criança que tinha resistência a um legume e passou a comer, ou às vezes até um educador que teve um aprendizado em relação à alimentação, alguém da cozinha.
R – Eu acho que toda mudança... Eu lembro assim, que eu to aqui há um ano e alguma coisa, um ano e pouco, e toda mudança tem uma resistência. Eu acho que a primeira resistência veio por parte dos adultos, dos educadores: “Ah, mas por que tá fazendo isso e tal?”. E leva um tempo para as pessoas entenderem isso. Pra equipe nossa, a equipe de cozinha, a equipe de educadores. Talvez no início não tenham entendido isso. Hoje eles já entendem melhor e já colaboram até mais pra que auxiliem as crianças. E as crianças, elas gostam quando vem o Nutrir e elas aproveitam bem da alimentação. E eu vejo assim, que pra algumas crianças já deu fruto, sim. Algumas crianças hoje já comem algumas coisas que antes não comiam, já procuram um legume que antes não gostavam. Então isso deu fruto, sim.
P/1 – Bacana. Tá certo. Eu vou encaminhar agora para as questões finais. Antes de fazer... São duas perguntas finais, de fechamento. Eu queria saber se tem alguma coisa que a gente não tenha perguntado e que você gostaria de deixar registrado.
R – Eu acho que não. Eu acho que falei bastante (risos). Coisa que eu nem esperava que eu ia falar.
P/1 – Não? Então tá bom. Então a penúltima pergunta: quais são seus sonhos hoje?
R – Os meus sonhos pessoais você pergunta? Então, meu sonho, assim, eu sempre trabalho, como eu disse aqui, eu sempre gostei de trabalhar com pessoas, sempre gostei de me relacionar com pessoas. O meu sonho é que a gente tenha uma sociedade cada vez melhor, que a gente não desista. Hoje eu trabalho num lugar que eu preciso acreditar e eu preciso fazer com que as crianças e adolescentes desse local acreditem, acreditem na vida, acreditem no ser humano, acreditem nas pessoas, acreditem que vale a pena se dedicar por uma causa. Eu não estou aqui somente profissionalmente, mas porque eu acredito. Se eu não acreditasse, talvez eu estivesse fazendo outra coisa. Então o meu sonho é assim, não é um sonho pra mim, mas é um sonho pra que as pessoas acreditem mais num mundo melhor, numa sociedade melhor. É isso que eu sonho.
P/1 – Tá certo. E por último, como foi contar a sua história? Como foi dar o depoimento pra gente hoje?
R – Olha, contar a minha história, relembrar algumas coisas, foi até surpreendente pra mim, porque eu não imaginava que fariam perguntas de coisas que eu vivi há tanto tempo. Mas foi muito legal. Foi muito gratificante pra mim, relembrar um pouco da minha vida e saber por que eu to aqui hoje, me colocar um pouco no tempo de hoje e ver que tudo que eu vivi é um aprendizado. E que hoje eu estando aqui, eu também estou aprendendo e tenho muito pra aprender ainda. Mas tudo que eu aprendi já, eu quero contribuir. Então falar um pouco da vida da gente é muito... Como eu posso dizer? É muito importante a gente reconhecer que tudo que a gente viveu, tudo que a gente passou, tudo que a gente aprendeu pode ser útil hoje pra que a vida de outras pessoas possa ser melhor.
P/1 – Tá certo. Muito obrigada então. A gente encerra aqui.
FINAL DA ENTREVISTA
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