Museu Clube da Esquina
Depoimento de Rubens Moreira Filho (Rubinho Batera)
Entrevistado por Estela Trezzi e Márcia de Paiva
Rio de Janeiro, 15 de junho de 2004
Realização Instituto Museu da Pessoa
Código da entrevista: MCE_CB022
Transcrito por Marllon Chaves
Revisado por Joice Yumi Matsunaga
P1 – Rubinho, vamos começar com a sua identidade, seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome é Rubens Moreira Filho, mais o quê?
P1 – Local e data de nascimento.
R – Nasci no interior de Minas Gerais em Caetés, no dia 9 de agosto de 1948, desculpe a minha memória.
P2 – Se você pudesse começar falando um pouco da sua trajetória profissional.
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R – Eu posso te dizer como me deu vontade de tocar o meu instrumento, essa coisa eu me lembro, eu era garoto de sete anos, lá na minha terra mesmo eu vi um garoto tocando bateria.
Aquilo me influiu tanto que aí eu fixei e sou baterista até hoje.
Na época, mais ou menos alguns anos depois, meu pai mudou para Belo Horizonte, e lá nós formamos um grupo, sem pretensão nenhuma, todo mundo garoto, mas o grupo foi tendo uma formação boa e começamos a fazer bailes em Belo Horizonte, chegamos até a tocar no Automóvel Clube, no Iate Tênis Clube lá em Belo Horizonte e, enfim, foi dando um aspecto bom no grupo, e eu passei a ser.
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, inclusive – eu estava estudando –, parei de estudar porque eu fiquei tão influenciado com isso.
Em Belo Horizonte tinha até um lugar lá chamado ponto dos músicos, que era uma rua lá em Belo Horizonte, no centro, a gente ia todo dia encontrar com os músicos todos, a gente fazia amizade com todo mundo.
E a vida foi assim, né, com música até.
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, e teve a participação muito do Marilton Borges, que é irmão do Marcinho.
Ficamos nos conhecendo naturalmente, né.
P1 – Qual o tipo de música que vocês tocavam?
R – Ah, a gente tocava de tudo, né, era baile, a gente tocava de tudo mesmo, e mais o quê assim, participava do grupo, eu lembro que era o Marilton Borges, o Lô Borges sempre ia com a gente também e tudo.
O Marilton Borges, o meu irmão, tocava vibrafone também na época, o Eduardo, pianista, o Ildeu no contrabaixo, Getúlio no sax, e o Marilton era o crooner mas tocava piano também para gente, e o grupo chamava-se, meu Deus, como é que era? Era Gemini 7, chamava o grupo, a gente era bem requisitado para fazer bailes, formatura, a gente não parava, bailes de formatura de colégio.
Era baile um atrás do outro.
E eu vou até adiantar um pouquinho, eu me lembrei que numa dessas épocas eu fiquei doente, estava de cama mesmo, adoentado.
Aí aperta a campainha lá em casa, minha mãe abriu, Milton Nascimento e mais quem, meu Deus, era um empresário que trabalhava com ele, não me lembro o nome, faz muito tempo isso, enfim, os dois se sentaram na beira da minha cama e falaram: “Olha, você quer gravar comigo?”.
No outro dia eu já melhorei, já estava bom, de tanta alegria.
P1 – Você já conhecia o Milton?
R – Já conhecia porque um grupo de música, a gente conhecia os músicos todos, a gente, inclusive, já tinha tocado com o Milton assim esporadicamente em outros lugares e tudo, mas tudo assim, muito na brincadeira, nada profissional, então ele já morava aqui no Rio, ele já tinha feito sucesso com aquela música no Festival, né? Então ele me chamou para gravar o “Clube da Esquina”.
Eu me lembro que foi uma alegria tão grande que no outro dia eu já estava de pé e ótimo, aí vim para o Rio e, muita coisa, vou lembrando aos pouquinhos, eu só sei que eu me lembro que eu cheguei de avião aqui no Santos Dumont, e a gravação era no Odeon.
Eu não conhecia o Rio de Janeiro ainda, primeira vez que eu vinha.
Garotinho, eu vi uma rapaziada com violão, carregando instrumento, eu falei: “Eu vou perguntar onde fica a Odeon, porque eu vim sozinho”.
Aí eles falaram: “Aqui mesmo”.
Quando eu fiquei sabendo, era o pessoal dos Mutantes, eu tinha conversado com eles.
Aquilo tudo para mim foi inovação, em relação assim, foi um incentivo, né? Eu me lembro que eu cheguei no estúdio muito acanhado, não conhecia ninguém.
Só conhecia o Milton e o Wagner Tiso, também que era meu amigo, que gravou junto e tudo mais, e aí participei do disco, moramos juntos em Copacabana, foi é gente para gravação.
Eu acho que o Milton tinha alugado um apartamento em Copacabana, aí morou junto eu, o Milton, o Lô Borges, o Beto Guedes e, se não me engano, o Flávio Venturini também estava, a gente morou durante a gravação um mês, um mês e pouco até fazer a gravação toda e enfim.
P1 – Você era bem moço, né?
R – Bem garoto, bem garotão, devia ter o quê, uns vinte anos, vinte e um, sei lá.
Bom, acabou a gravação, todo mundo pedindo “Continua no Rio”, eu não adotei o convívio aí, não gostei, aí voltei para Belo Horizonte, voltei para o grupo Gemini 7, fazendo baile naturalmente, e tinha um amigo meu, o Luís Villela que estava em Nova Iorque já há um tempo, ele voltou de lá de Nova Iorque já com um show armado aqui no Rio com a Marlene, aquela Marlene da antiga.
Marlene, Emilinha Borba, não sei se vocês se lembram, aí ele veio e me disse: “Olha Rubinho, tem um show lá no Hotel Glória, é dois meses, você quer ir comigo?”.
Falei: “Vamos embora”.
Aí vim com ele, daí não voltei mais para Belo Horizonte.
As coisas foram acontecendo e trabalhei muito aqui em casa noturna, em boate, tudo.
Aí o Edu Lobo me viu tocar, adorou e me chamou para trabalhar com ele, e fiquei trabalhando com Edu Lobo quase uns cinco anos, a gente gravou quatro, na época era LP, né? Gravamos um LP que ficou muito legal, foi o “Limite das Águas”.
Foi lindo, lindo, lindo, todo mundo gostou muito.
E trabalhei com ele um tempão, e as coisas aí foram acontecendo e eu fui ficando no Rio, mas eu encontrava muito com o Milton.
Teve uma época lá no Baixo Leblon, sei que a gente se encontrava muito, toda noite todo mundo ia lá, se encontrava, a gente encontrava muito com o Milton, com o Chico Buarque, com todo mundo, era uma frequência muito legal nesse barzinho lá.
P1 – Voltando um pouquinho nesse período em que você morou em Copacabana, que vocês estavam nesse momento para gravação do “Clube da Esquina 1”, você também esteve na casa lá, aquela casa em Niterói, no Mar Azul, onde eles também estiveram por um tempo preparando, compondo as músicas do Clube da Esquina 1?
R – Não.
P1 – O quê que vocês ouviam na época, quais eram os assuntos da moçada nessa época?
P2 – O que vocês gostavam de tocar também antes do Clube da Esquina, tinha uma sintonia já entre vocês ou não?
R – Já tinha muita sintonia, a gente gostava muito, a gente era interessado assim, que coisa, antigamente, na época, a gente, coisa que eu não vejo agora nessa geração, eu acho que tem muita gente tocando bem, mas na época a gente era mais bem informado, a gente gostava de tocar jazz, muito jazz, gostava de aprimorar o instrumento.
Eu me lembro que tinha o Valtinho, um baterista que tocava muito bem.
O Paulinho Braga também, que, inclusive, está em Nova Iorque agora.
A gente ia na casa do outro, “Vamos, como é que você faz isso, como é que faz.
” Sabe, a gente tinha um interesse pela música, a gente conversava muito a respeito e tocava outras coisas, jazz, procurava dar uma aprimorada.
Eu não sei se estou certo, coisas que eu não vejo agora na rapaziada que está vindo tocar aí, eles sabem, fazem a coisa muito bem, mas as outras ficam por, sabe, então, posso estar errado, mas o que eu mais vejo por aí…
P2 – O que mais te influenciava era o jazz, então.
R – Era tudo, né? Me lembro que na época da bossa nova também, o Tom Jobim para mim era fabuloso.
Eu gostei muito do Simonal na época também, então isso tudo vai influenciando.
É muita coisa que.
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, e o grupo da gente era tão unido que quando a gente se encontrava para trabalhar era uma alegria total, isso também depende da idade, a gente se sentia muito bem em tocar, me lembro que a gente tocava, era lá em Belo Horizonte, no Iate Tênis Clube, no Automóvel Clube, tinha fixo toda sexta e sábado, fazia muito baile no interior, viajava muito, aí que foi o incentivo “Eu vou parar de estudar e vou tocar”, então estou aqui até hoje, é mais ou menos assim.
P1 – Está ótimo.
E Rubinho, o que você achou de ter participado, contribuído com a sua versão para história do Clube da Esquina?
R – Olha, para mim, além de ser um prazer, uma honra, foi uma coisa assim, eu, se eu estivesse doente de novo, eu estava melhor de novo, a mesma coisa do Milton me chamar, porque para mim, olha, foi uma ideia genial, sabe, que isso os músicos que gravaram ali, digo isso de coração, porque são músicos tão importantes que isso é muito bom para eles e para o Milton também.
O Milton merece isso, porque repetindo, o Clube da Esquina foi um disco que renovou muita coisa de música aqui no Brasil.
Aconteceu muita coisa, para mim está sendo uma honra participar disso e de ter participado do disco também.
E agradeço muito ao Milton pela confiança de me chamar, o carinho comigo e eu tenho um carinho com ele enorme também.
E eu agradeço a Deus por tudo isso.
R – Está ótimo.
P1 – O que você queria falar do Márcio?
R – Que ele é muito meu amigo, um cara legal comigo, que ele também me incentivou muito.
P1 – O que mais? Tem alguma outra coisa da gravação do LP que você se lembra?
R – Não, da amizade minha com o Márcio Borges, com o Marilton Borges, com a mãe e o pai dele, os irmãos todos, foram muito fortes para mim, muito interessante, acho que isso tudo fez força do Clube, eu acredito que tudo isso foi o início do Clube da Esquina, tudo isso fez parte, sabe, dessa formação.
P2 – Dos laços todos que você fala que influenciaram toda a feitura.
R – Claro, isso, a amizade, isso tudo influiu muito e, claro, o trabalho também, a gente também tinha de saber tocar, porque senão não ia acontecer, mas o importante também foi a amizade, o trabalho que a gente teve junto, a amizade das famílias também, a minha família era amiga da família do Marilton, então isso tudo influiu muito.
O Milton também morava lá, então a gente ficou muito amigo aí, foi crescendo tudo.
R – Está ótimo, obrigada.
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