Minha casa, minha cara, minha vida – Cabine São Bernardo do Campo
Depoimento de Nilza Mota da Silva Rocha
Entrevistada por Rosana Miziara e Márcia Trezza
São Bernardo do Campo, 08/03/2014
Realização Museu da Pessoa
ASP_CB05_Nilza Mota da Silva Rocha
Transcrito por Liliane Custódio
P/1 – Nilza, vamos começar você falando seu nome completo, local e data de nascimento?
R – Meu nome é Nilza Mota da Silva, moro em São Bernardo do Campo, nasci aqui mesmo.
P/1 – Seus pais são de São Bernardo?
R – Meus pais são mineiros.
P/1 – E vieram aqui pra São Paulo?
R – Sim. Casaram-se em Minas, eles novos, e vieram pra cá.
P/1 – Pra São Bernardo?
R – Pra São Bernardo do Campo.
P/1 – E onde era a sua casa de infância aqui em São Bernardo?
R – Então, quando eu cheguei aqui, nós morávamos num barraco, num morro, que eu também não sei onde é. E eu tinha quatro anos quando eu fui abandonada por eles, eu e mais quatro irmãos. Aí, nós fomos morar na Casa de Estar São Luiz, que fica ali perto do Poupatempo, que existe até...
P/1 – Na casa de quem?
R – Estar São Luiz. É uma casa, um abrigo onde ficam crianças.
P/1 – Mas seu pai e sua mãe abandonaram os quatro filhos?
R – Cinco. Nós éramos cinco.
P/1 – O pai e a mãe?
R – Meu pai trabalhava à noite na Volks e minha mãe ficava em casa. Aí, em vez de ela ficar em casa, ela saía por aí. E aí, a gente sempre chorando, chorando, chorando, sozinhos, um dia eu acho que os vizinhos resolveram fazer a denúncia, e naquele tempo era o juizado de menor, então chamavam, eles vinham. E aí, levou a gente pra esse abrigo. Eu fiquei lá uns meses, eu acho, e depois eu fui para as Aldeias Infantis SOS. Não sei se vocês já ouviram falar.
P/1 – O que são as Aldeias?
R – As Aldeias Infantis SOS é um orfanato, mas não é um orfanato, porque lá são grupos de casas e o pessoal é separado, cada casa tem uma mãe que cuida, igual a uma família normal. Eu cheguei lá com cinco, seis anos, e fiquei lá até os 18.
P/1 – Como foi a sua infância lá?
R – Pra mim foi muito boa, porque tudo que a gente via na televisão de roupa, sapato, a gente tinha. Tinha o amor das mães, das tias que a gente chamava de mãe, brincava normal com todas as crianças da rua, de fora, tinha escola do lado. Então, assim, não sofri, não. Peguei uma mãe boa, que cuidou de mim e dos meus quatro irmãos. E lá tem uma...
P/1 – E você morava junto com os seus irmãos?
R – Sim. O bom desse orfanato é que ele não separa os irmãos. Se, por exemplo, for uma família de 12 irmãos, ficam os 12 naquela casa e a tia cuida dos 12.
P/1 – E como era essa casa?
R – Era uma casa muito boa, grande. Acho que eu nunca imaginei morar numa casa dessas, como até hoje ainda não tive uma casa dessas. Então, tinha cinco quartos, tinha o quarto das meninas, que eram três meninas em cada quarto, tinha o quarto dos meninos e tinha o quarto da tia. Tinha a sala de estar, tinha a sala de jantar, tinha dois banheiros grandes, tinha o pequeno, tinha sótão, tinha quintal, tinha jardim. Normal.
P/1 – E você lembra quais eram suas brincadeiras?
R – Lembro. Era corda, cirandinha, era dominó, tinha o parquinho lá dentro também, que a gente brincava muito, os balanços, escorregador. Brincava de corre cotia, cabra-cega, cobra-cega. Então, tinha muita diversidade.
P/1 – Tem um fato marcante que tenha acontecido lá na sua infância que você lembra?
R – Assim, todo Natal era feita uma festa, aí reuniam todas as casas, todas as crianças e tinha um salão enorme, e aí tinha um Papai Noel. E eu acreditava em Papai Noel até os 11, 12 anos. E o marco dessa história foi que a gente ficava no salão brincando, quando dava meia-noite, o Papai Noel saía e ia por os brinquedos na nossa cama. E todo ano, todo ano essa festa. Eu falei: “Vou descobrir quem é esse Papai Noel. Vou descobrir”. Que a gente nem desconfiava. Aí, foi quando eu vi, o vô se esqueceu de trocar a bota dele e era a bota do dia a dia que a gente o via com ela. Eu falei: “Caramba! O Papai Noel é o vô”. Não era o Papai Noel.
P/1 – (risos).
R – E tinha a chaminé, então a gente achava que o Papai Noel vinha pela chaminé. E o meu tio falava: “Vocês fiquem aqui no salão, que o Papai Noel vai deixar o brinquedo”. Aí, eu e mais umas meninas, atrevidas, a gente foi. Quando a gente descobriu que era o vô, a gente ficou decepcionada.
P/1 – (risos).
R – Daí foi o fato marcante, que eu nunca esqueço.
P/1 – E você ficou quanto tempo lá?
R – Eu fiquei dos cinco anos até os 18.
P/1 – Vocês tinham alguma obrigação, assim, faziam algum trabalho?
R – Tinha. A gente tinha. Aprendia a lavar o banheiro, limpar a casa, o chão era de taquinho, tinha que encerar. Então, cada um tinha um serviço. Comida também, a gente tinha que aprender a fazer comida. Então, aprendi muito lá.
P/1 – E na escola? Você entrou na escola?
R – Isso. Lá já tinha o prezinho do lado, a escola existe até hoje. Então, tinha o parquinho, tinha até a oitava série, então a gente estudava ali do lado mesmo. Você saía pelo portão e já estava na escola.
P/1 – E você tinha assim desejo de ir atrás da sua mãe, dos seus pais, ou isso não acontecia lá?
R – Não. Eu não tinha, porque, assim, eu não sabia da história. Aí eu pensava: “Poxa, mas por quê? A gente tava no orfanato, por quê?”. O pessoal falava assim: “São órfãos e abandonados”. E a gente sabia que o pai e a mãe não tinham morrido, então porque era difícil entender. Depois, assim, tiveram pais que voltaram pra ver os seus filhos, mas não podiam levar. No meu caso, a gente ficava esperando, esperando, mas chegava uma hora que a gente falava: “Eu acho que se vier buscar, a gente não vai”. Porque a gente era muito bem tratado. E a gente não sabia como ia ser a vida com eles, então a gente tinha medo também de um dia eles irem buscar.
P/2 – Você é a mais nova, Nilza?
R – Não, eu sou a segunda mais velha. Tem um irmão mais velho, tem eu, tem a outra, tem a caçula e tem o rapaz. A gente era em cinco. Quer dizer, era em cinco lá, depois eu encontrei os outros cinco que eu descobri que tinha, através da internet.
P/1 – É mesmo?
R – Ahã. No ano passado.
P/1 – E dos seus pais, você nunca mais teve notícia?
R – Tive notícia. Quando eu tinha uns 22 anos, meu irmão mais velho tinha reencontrado meu pai. E aí, ele veio atrás da gente pra conhecer, porque com 18 anos ele casou e saiu de lá do orfanato. E aí ele veio, falou pra gente que tinha reencontrado o meu pai. Eu lutei um pouco pra querer conhecer, porque, assim, eu me sentia abandonada. Porque eu sempre pensei: “Por causa dele, a família acabou”. Destruiu, porque ele bebia. Trabalhava à noite, mas chegava bêbado, batia na minha mãe, então foram os motivos que ela fez o que fez. E aí, a gente o conheceu, tem contato com ele até hoje.
P/1 – E com 18 anos, você foi fazer o quê? Como você saiu de lá? Tinha que sair com 18 anos?
R – Tinha que sair. Na regra era obrigado. Então, às vezes eles até falavam: “Olha, não vejo...”. Eu dava muito trabalho, bagunçava, gostava de sair.
P/1 – Você?
R – Isso. Eu e mais umas meninas lá. Então a gente sempre ouvia: “Não vejo a hora de vocês fazerem 18 anos pra vocês saírem, pra desmamarem”.
P/1 – O que vocês faziam?
R – A gente pulava a cerca, ia pra forró, ia pra baile. Era baile naquele tempo. E a gente não podia ir, porque se acontecesse alguma coisa, o orfanato era responsável. Só que a gente não tava nem aí. Não ligava, dava sexta, sábado, domingo, a gente ia. Então, eles contrataram até um guarda pra ficar lá no portão e colocaram a cerca elétrica com um choque assim, leve. A gente ia pular o portão, levava o choque e voltava pra trás. O que a gente fazia? Tinha mato, era muito mato que tinha, a gente atravessava o mato e ia para o baile. E o guarda não vencia a gente, até que eles mandaram o guarda embora.
P/1 – (risos).
R – E aí, o guarda... A gente chegava às seis horas da manhã, o guarda ficava correndo atrás da gente. Ele falava: “Eu vou perder meu emprego. Eu vou perder meu emprego”. Porque...
P/1 – Que tipo de lugar você ia?
R – A gente ia, que nem, eu morava num bairro, a gente andava mais ou menos quatro, cinco quilômetros pra ir ao baile em outro bairro lá perto. A gente ia andando. Às vezes ia de ônibus, às vezes ia andando, mas a gente tinha que ir. E era baile normal, da idade da gente.
P/1 – Tocava o quê?
R – Tocava forró, discoteca, na época. E a gente ia e aproveitava, dançava a noite inteira. Só que a gente não bebia. Mas dançava a noite inteira. Chegava no outro dia, a gente vinha andando também, nem ligava. E aí, chegava lá, o guarda via que a gente tava chegando... Ele não via sair. Então, ele via que a gente tava chegando, ele falava: “Gente! Meninas, não façam isso, eu vou perder meu emprego por causa de vocês”. Mas a gente não tava nem aí. Então, era muito legal.
P/2 – E aí, a mãe da casa sabia que vocês tinham... Ficava sabendo?
R – Então, nessa época eu já não tava mais, porque com 13, 14 anos, tinha uma casa de adolescente, eu já ficava nessa casa de adolescente. Então, não tinha mãe pra mandar. Então, a gente adorava. Mas tinha que dar satisfação para o dirigente de lá.
P/1 – E você tinha, assim, na adolescência, você tinha uma preocupação: “O que eu vou fazer quando eu sair daqui?”
R – Claro que tinha. Tinha, porque...
P/1 – O que você pensava?
R – Eu pensava: “Meu Deus, eu vou ter que arrumar um homem e casar, pra ter uma casa, pra ter uma família, pra ter onde ficar, porque o que eu vou fazer?”. A gente não sabia fazer... A gente tinha uns cursos lá dentro de artesanato e tudo mais, mas a gente, assim, estava muito acostumada com eles mandando, dando ordem. Então, a gente não tinha aquela autonomia. E aí, eu fiz 18 anos, eu trabalhava já. Lá dentro mesmo eu trabalhava. Eu levantava quatro horas da manhã, pegava o ônibus que passava quatro e meia, eu entrava sete horas na firma.
P/1 – Que firma?
R – Na Grow, em Piraporinha.
P/1 – O que você fazia?
R – Eu era auxiliar de produção. Isso eu comecei com uns 15 anos na Grow. Aí eu saía, pegava o ônibus quatro e meia, ia pra firma, aí saía cinco horas, vinha para o Riacho Grande, estudava, só chegava em casa meia-noite. Então, era essa rotina. Aí, ficava cansativo, chegou uma hora que eu parei. Eu fui trabalhar em casa de família, que eles arrumavam pra gente, mas eu falava: “Não quero trabalhar em casa de família, não tenho jeito, não é isso. Eu já faço serviço de casa, então não quero. Não gosto”, mas trabalhava, tinha que trabalhar. E quando eu fiz 18 anos, eu estava trabalhando na Kitano, que hoje é Yoki. Eu tava trabalhando, aí deu os 18 anos, eu tive que sair. Aliás, saí de lá com 17 anos, porque eu ficava numa casa de jovens no Bairro Assunção. Que aí a gente saía, que eles falavam que a gente tinha que sair pra ver como era a vida aqui fora. Eu trabalhava na firma e ficava. Aí, deu 18 anos, eu tive que sair da casa e não tinha pra onde ir. Aí, tinha uma mãe lá que ela tinha sido freira num colégio de freira, ela falou: “Olha, Nilza, lá tem uma vaga pra serviços gerais. Você pode trabalhar lá e dormir lá”. Eu fui na firma, pedi a conta, eles não queriam dar, tive que pedir. E aí eu fui pra lá. Lá eu fiquei seis anos, na Avenida Paulista. Aí dos seis anos, quatro...
P/1 – O que era lá na Avenida Paulista?
R – Era um colégio de freiras. Existe até hoje.
P/1 – Qual é?
R – O Instituto Madre Vicunha, Maria Imaculada. Tem um no Ipiranga e tem outro ali na Alameda Itu. Lá eu fiquei seis anos, só que quatro anos eu fiquei como noviça, que eles achavam que eu tinha jeito pra freira. Eu nunca achei que eu tinha, mas elas acharam (risos).
P/1 – (risos).
P/2 – E aí, não podia sair mais de final de semana?
R – Não, eu era funcionária, eu podia. Então como eu era funcionária...
P/2 – Mesmo como noviça?
R – Isso. Eu podia, mas ali assim por perto, sempre com alguém do lado. Depois, tinham as freiras que falavam: “Olha, você tinha jeito”. Outras já falavam: “Olha, sai fora, que você não tem”. Mas eu era funcionária, então, pra mim tava bom.
P/1 – E você, o que achava? Você queria ser noviça?
R – Não, eu não tinha jeito. Eu mesma via pelo meu jeito. O meu jeito era liberdade, era voar, porque eu já era presa dentro do orfanato. Então, eu falei: “Meu Deus, eu saio de lá, já tem gente me segurando; chega aqui, mais gente”. Mas eu tinha a liberdade de sair, como eu era funcionária. E lá tinha a parte das pensionistas, que é esse pessoal que vem de fora pra estudar, fazer faculdade. Tinha a parte do internato, que são essas meninas que a mãe não tem condições de ficar e deixava lá, e no sábado ia buscar. E tinha a parte do pessoal que vinha de fora pra trabalhar em casa de família, e fim de semana tinha que ir pra lá, pra ter lugar onde ficar, que não tinha. E lá eu fiquei, trabalhei os seis anos, fui passear, conheci muitos lugares através delas, porque direto tinha excursões, que elas gostavam muito de passear. E eu toda excursão eu estava. E lá eu conheci meu marido. Eu tinha 24 anos...
P/1 – Onde você conheceu? No...
R – Nesse colégio de freiras, que ele era eletricista lá. Eu o conheci lá. E lá eu o conheci, a gente foi se envolvendo, aí eu saí de lá. Aí, fui morar com ele. Eu tinha 24 anos; e ele, 48 anos. Eu tinha 26 pra 27; e ele, 48. Ele falou: “Eu tenho uma casa, tenho isso”. Eu doida pra sair, pra ter a minha casa, fui morar com ele, onde eu morei e não deu certo.
P/1 – Onde vocês foram morar?
R – Em Cotia. Fiquei uns anos lá, tive três filhos e não deu certo. Era briga, briga, briga. Aí, como meu pai morava aqui no Silvina, mas a minha irmã também morava aqui, aqui dentro da favela, aí eu falei com ela, ela falou: “Ah, vem pra cá que a gente arruma um canto pra você ficar”. Catei meus meninos, um de cinco anos, um de três e um de dois meses, aí vim embora. Fiquei uns meses aqui, aí meu ex-marido veio me buscar: “Ah, vamos, que eu vou mudar, não sei o quê”. Eu falei para o meu pai: “O que você acha?”. Que eu não tinha vontade mais de voltar. Mas lá eu tinha uma casa boa, tinha um terreno enorme, gostava muito de plantar. Meu pai falou: “Você que sabe. Eu não vou falar nada. Porque de repente eu falo pra você ir, chega lá não dá certo. E de repente eu falo pra você não ir e você quer ir”. Eu falei: “Tudo bem”. Aí pensei mais pelos meninos, que eram muito apegados a ele, e fui. Chegou lá, um ano a gente viveu bem, no outro ano já começou outra vez. Eu falei: “Agora, se eu for embora, eu não volto mais”. Num belo dia, tal, ele tava nervoso, ele é da Bahia esse meu ex-marido, aí ele tinha um facão com uma bainha de couro, ele me deu uma surra com esse facão. Eu falei: “Eu não vou ficar aqui, que qualquer hora esse homem me mata e ninguém nem vai saber”. Que minha família quase não ia lá. Catei os meninos e vim pra cá. Nisso, eu vim morar no barraco do meu pai, ele morava no morro. Aí, dava enchente, o barraco enchia de água até a beirada da cama. E meus meninos ficaram doentes, e eu desempregada, não tinha como eu me virar com eles. O que minha irmã fez? Um dos meninos, o mais novo, pegou broncopneumonia e eu ficava com ele aqui no hospital direto. E os dois ficavam só chorando. E a mulher do meu pai, idosa. Então, ela não aguentava o choro de criança. Aí, minha irmã ligou e mandou o meu ex-marido vir buscar os meninos, aí ele veio. Ele veio, depois de umas duas semanas ele trouxe os meninos. Aí, continuava aquela bagunça dentro do barraco, aquela sujeira, aquela enchente. Ele falou assim: “Olha, o dia que você tiver um local bom pra morar, aí você me fala, eu trago os meninos. Agora, pra tirá-los de lá e deixar aqui, não dá”. Aí eu desempregada, não tinha nem dinheiro pra ir visitá-los. Uma colega minha vendo o meu sofrimento falou: “Nilza, eu vou arrumar um serviço em casa de família, você quer?”. Eu falei: “Minha filha, claro que eu quero”. Fui trabalhar nessa casa, comecei a receber, todo mês eu ia visitá-los. Nisso, eu arrumei um barraquinho.
P/1 – No Silvina?
R – Isso. Meu pai tinha comprado um barraco aqui, só que meu pai tinha comprado um barraco para o meu sobrinho, e meu sobrinho já tinha casa boa pra morar com a minha irmã, só que não se dava bem com o meu cunhado. O que eu fiz? Umas colegas aí que eu conheci falaram: “Nilza, invade o barraco. Porque seu pai comprou, mas seu sobrinho não precisa. Seu pai tá vendo a sua precisão”. Aí, invadi o barraco. Todo aberto, todo desengonçado, todo sujo. Eu arrumei um pessoal pra limpar, a gente foi limpar, tiramos as madeiras. Quando foi à noite, que eu tava dormindo, a mulher do meu pai mandou os bandidos irem lá pra me tirar do barraco... Posso falar, ou não?
P/1 – Claro.
R – Ah, tá.
P/1 – Não, a gente tá...
R – Então, e aí eu dormindo, eu só tinha o meu menino. Eu dormindo, uns tiros lá fora, e eu achando que eram pedras que estavam jogando em cima. No outro dia... Eu nem dormi. Eu levantei, fui à casa de uma colega minha, que ela tem um bar, tem um restaurante até hoje, e aí falei pra ela, ela falou assim: “Nilza, não sai dali, porque seu pai comprou, ele já tem o barraco dele, sua irmã já tem a casa dela, então pra que isso?”. Aí foi que eu não sabia, não conhecia nada de bagunça aqui, de coisa errada, foi quando ela falou: “Olha, vou conversar com umas pessoas pra ver o que tá acontecendo”. Foi quando ela conversou, aí falou: “Ah, não, se é filha, pode morar de boa. Você não tem onde ficar, né?”. Eu falei: “Ai, meu Deus do céu, que bom”. Chamei mais umas colegas...
P/1 – Não entendi. Mas não foi a própria mulher do seu pai que fez isso?
R – Foi. Ela mesma. Não foi com ela que eu falei, foi com outras pessoas.
P/1 – Mas como você descobriu que foi ela?
R – Porque ela falava. Eu não queria que eu morasse lá, ela queria que a neta dela ficasse no barraco. Já que meu sobrinho não ia ficar, queria a neta. E ela não gostava de mim, então ela não queria. E meu pai usava o barraco pra levar umas mulheres lá. E aí, acabei morando.
P/2 – Era na Naval?
R – Não. Aqui dentro do Silvina, Oleoduto.
P/2 – Oleoduto.
R – Isso. Eu sou daqui mesmo.
P/1 – Como era lá?
R – O barraco era todo aberto, todo cheio de buraco. Não tinha enchente, não tinha problema nenhum, mas era muito rato que tinha. E todo aberto, destelhado. E eu não tinha condições mínimas de arrumar as telhas. Quando eu mudei pra esse barraco, o rapaz pegou e tinha desligado a água, o dono do barraco que tinha vendido para o meu pai. Aí, eu fui conversar com ele. Ele falou: “Olha, seu pai não terminou de pagar o barraco, então não tem nem como você entrar”. Eu falei assim: “Então, você dá um tempo, que eu tô trabalhando, eu vou te pagando aos poucos por mês”. Meu pai tinha comprado por três paus e meio o barraco. Ele tinha dado um e meio, eu tive que terminar de pagar o resto. Fiquei morando, morando, morando, aí, veio o processo de urbanização. Já tinha feito um cadastro antigo.
P/1 – Você morava sozinha?
R – Sozinha. Eu e meus filhos.
P/1 – Aí, você trouxe seus filhos?
R – Não, aí, morávamos eu e meu filho. Os outros ainda não quiseram vir, que eles vieram ver, como era barraco, não estavam acostumados, o pai ainda não concordou. Nisso, eles lá, e eu indo visitá-los. Foi quando veio esse processo de urba... Nisso, eu tinha arrumado um rapaz aqui, aí engravidei. Com cinco meses, ele me largou e foi embora. Ficou doido, que ele usava droga, bebia demais, foi embora. Aí, eu tive minha menina, mas já tava no barraco e continuei morando. Veio o processo de urbanização a primeira vez. Eu era cadastrada, só que eu não fui dessa primeira vez. Depois, veio novamente outro processo, eu fui para o alojamento. E no alojamento eu fiquei três anos, depois mais três anos no aluguel e em 2011 é que eu mudei para o apartamento.
P/1 – Mas esse alojamento o que era?
R – Eram vários cômodos de madeira. Tinha a parte de baixo e tinha a parte de cima. Eram 22 famílias nesses alojamentos. Era um cômodo, aí você tinha que fazer de quarto e cozinha.
P/1 – Aí, você morava com seu filho e com a menina?
R – Eu morava com o meu filho, minha menina e meu marido agora que eu arrumei, casei com ele, tem nove anos que a gente tá junto e morando junto há nove anos. Aí, nós fomos para o alojamento.
P/2 – É um cômodo embaixo, um em cima?
R – Não. São 11 cômodos embaixo pra 11 famílias, e 11 cômodos em cima pra 11 famílias.
P/2 – E banheiro?
R – Era um sobrado. O banheiro, tinha o banheiro dos homens e o das mulheres. Então, eram quatro vasos sanitários para as mulheres e dois chuveiros; e quatro para os homens também, e dois chuveiros.
P/2 – Pra 22 famílias?
R – Pra 22 famílias.
P/2 – Só isso?
R – Só. E tinham vários blocos de alojamento. Cada um tinha esse tanto de família e os banheiros separados. O banheiro era fora, então à noite você tinha que sair pra ir ao banheiro. Eu fiquei três anos ali, depois fui para o Renda-Abrigo.
P/2 – Tem um sistema de aluguel. Quando vocês falam: “A gente foi para o aluguel”, como é?
R – É o Renda-Abrigo. É o aluguel. Que o prefeito dá 315 reais e você procura uma casa aí. Só que a casa que eu achei era 350, aí eu tive que dar os 315, completar, fora água e luz. Fiquei nisso daí uns três anos.
P/2 – Com esse Renda-Abrigo você pode também pagar o aluguel, se de repente for mais barato, pagar as outras despesas: água, luz?
R – Isso. Pode. Que são os 315. Quando eu entrei, todo mês você tinha que levar o comprovante, o recibo de aluguel. Mas agora acho que é a cada seis meses que o pessoal tá levando.
P/1 – E como foi o processo de você chegar aqui ao conjunto?
R – Então, eu fiquei no alojamento esperando, esperando, várias reuniões, várias esperanças, e aí fui para o aluguel. Fui pra três casas de aluguel. Porque uma era um absurdo, o aluguel era pouco, mas a luz era demais, aí fiquei nesse tempo lá. Depois, fui pra outra casa. Até que eu achei um sobrado. Nesse sobrado eu já pagava 350 reais, mas pagava com gosto, porque era uma casa boa, era ali dentro mesmo. Era uma casa boa. E eu achava casa pra fora, mas eu não podia, porque a escola dos meus meninos é aqui e o meu serviço é aqui no bairro também. Então, pra ir pra muito longe não dava.
P/1 – E como foi chegar ao conjunto?
R – Nossa, foi assim, muita expectativa, muita esperança, porque você via os dos outros blocos, dos outros prédios mudarem, você queria ter uma casa digna, né? E no aluguel, a casa não era minha. Então, nossa, quando eu via levantando, a gente acompanhou a obra toda, do começo até o final. E tinha um pessoal no alojamento que resistia pra sair, a gente falava: “Poxa, enquanto eles não saírem, não vai poder ser construído”. E a gente ia, conversava. E eles resistindo. Até que veio a máquina e pôs no chão. Aí, fomos para o aluguel, fiquei até contente, falei: “Agora vai sair a moradia. Já que tem o aluguel, vai sair”. E nisso, esperando, esperando, esperando esses três longos anos que nunca passavam. Eu falei: “Meu Deus, quando eu vou ter a minha casa?”. Até que a gente ia à reunião. Quando foi a última reunião, que falou que a gente ia mudar, eu falei: “Eu não acredito”. A gente não acreditava. Nós fomos visitar antes de morar, fazer o checklist, a gente já queria entrar, falava: “Não, a gente vai entrar do jeito tá”. Mas não pode ainda. Aí, eles deram um prazo pra gente de 15 dias pra gente poder arrumar, pra quem tivesse condições de arrumar. E nisso, ainda eles deram mais três meses de aluguel pra gente, sem a gente estar no aluguel, já morando no apartamento, pra poder arrumar o apartamento.
P/2 – “Arrumar”, o que é “arrumar”?
R – “Arrumar”, eles entregam no grosso. Então, você tem que fazer um contrapiso ainda pra poder colocar a cerâmica. A parede também eles entregam no grosso, você que tem que terminar, fazer o acabamento. Agora, janela, porta, hidráulica, eles entregam tudo certo.
P/1 – E como você fez?
R – Então, eu tô acabando de arrumar o meu agora. Essa semana mesmo o gesseiro tá terminando o serviço, passar o gesso. Mas eu já tinha colocado contrapiso e o piso. E os móveis que a gente vai ter que comprar tudo outra vez, porque mudança pra lá e pra cá, pra lá e pra cá. Aí, já não dá mais, vai ter que colocar tudo novo novamente.
P/1 – O que você sente? Assim, quais foram as principais mudanças que tiveram na sua vida?
R – Ah, pra mim foi muita, porque eu morava no barraco, mas não sei o que acontecia, não sobrava dinheiro pra nada. E agora, já tem mais assim, sobra, e tenho ânimo pra fazer alguma coisa dentro de casa, pra sair. Eu tenho um endereço, então eu posso trazer pessoa sem ter aquela vergonha de a pessoa estar conversando com você e estar olhando aqui, olhando ali. Então, assim, pra mim, eu me sinto muito bem. Eu não tenho vergonha de falar “eu moro na favela”, mas eu moro no apartamento.
P/2 – Você diz: “Moro na favela, mas no apartamento”?
R – Isso. Moro no apartamento. Eu tenho uma casa pra morar, uma casa boa.
P/2 – Mas por que favela?
R – Porque é favela. Porque tem muitos barracos ali, então é favela.
P/1 – Não, ela diz que agora ela tem uma casa pra morar, não mora mais numa favela.
R – É, eu moro ali na favela, que agora eles não querem mais que fala favela, que é comunidade, por causa da urbanização.
P/1 – É.
R – Mas mesmo assim a gente não esquece, continua sendo, porque ainda tá mudando, não mudou totalmente. Ainda tem barracos ali. Mas pelo menos você tem um endereço, você tem vontade de trazer alguém pra sua casa.
P/1 – E seus filhos, os outros que ficaram?
R – Então, vou visitá-los, converso com eles direto por telefone, pelo Face, então sempre a gente tá conversando, tal. Eles não vêm aqui, mas eles falam que querem vir, mas eu acho que é o pai que não deixa. Mas eles já são maiores, então... Mas eu tenho contato bom com eles, meus meninos também têm, os daqui.
P/2 – Nilza, você falou lá fora que as lideranças aqui estão participando de um curso.
R – Isso.
P/2 – Você é uma liderança aqui?
R – Sou. Eu sou líder comunitária e sou presidente de uma associação de moradores que a gente criou aqui dentro.
P/1 – O que faz a associação de moradores?
R – A associação, a gente, assim, tenta ajudar as pessoas. Leva os problemas deles pra habitação, porque agora que elas estão entrando mais aqui dentro e tem um posto. Que elas vinham, ficavam, faziam o serviço e iam embora. Agora já tem uns dias que elas ficam aqui atendendo o pessoal. Então, a gente sempre os conscientiza, fala: “Olha, a assistente social tá ali. Se tiver algum problema, alguma coisa, vai lá conversar”. Tipo, o posto, quando tem alguma campanha, a gente chama, de prevenção, de câncer de mama, alguma coisa. Eles passam pra gente, a gente espalha pra todo mundo. Igual esse evento aqui de hoje, então muita gente tá sabendo. Então, tudo que vai acontecer, eles passam assim pra gente, a gente vai, corre, passa pra todo mundo saber. O que mais? Nas escolas também quando tem alguma coisa, algum problema, a gente e passa, conversa com o pessoal, conversa com os pais e leva até a diretora, até a professora, a professora leva até eles. Então, é um contato que gente tem. Comprovante de residência, ainda tem muita gente que não tem, então nós já temos o nosso pra poder dar. Não precisa ir na Câmara, ir à Prefeitura buscar o comprovante, aqui dentro a gente tem. E a gente faz festa, faz eventos aí para o pessoal. Então, é bem assim entrosado. A gente conhece quase todo mundo. Estamos tentando resolver um problema de uma água aí, que é tudo junto, a gente tá querendo separar. Então, a gente, assim, influi muito.
P/3 – Tem quanto tempo que você tá no apartamento já?
R – Três anos. Agora, dia 11 de janeiro fez.
P/1 – E como é essa convivência com os vizinhos, com a comunidade?
R – Com os vizinhos é até bom, com a comunidade também. Só que sempre tem uns cri-cris. E o nosso, assim, não dá muito problema, porque os nossos, fomos nós que escolhemos os vizinhos.
P/2 – Ah, é?
R – Então, a gente pôde escolher o apartamento, o andar que queria e os vizinhos que queria. Então, quando a gente já sabia que tinha uns cri-cris nos alojamentos, encrenqueiros, então a gente já nem chamava pra nossa lista. Então, a gente escolheu o pessoal que trabalha pra ficar no nosso, porque tem o condomínio que tem que pagar. Então, não dá problema pra ninguém.
P/2 – Todo mundo escolhia, ou só vocês que são mais...?
R – Não, todo mundo. Tem as reuniões antes de o pessoal mudar. Tem reuniões direto com a habitação. A Taci até participa e tudo mais. E aí, mostrou os apartamentos, a gente escolhia, cada sala tinha o número do apartamento: bloco um, dois, três, quatro, cinco, seis. Você entrava no que você queria, aí chegava lá dentro da sala, você escolhia: “Eu quero o 32, eu quero o 22, eu quero o 21”. Aí, você via os moradores. Se você entrasse na sala, tivesse algum morador que você não gosta, não tem afinidade, você vai pra outra sala pra ver se você dá naquele dali.
P/2 – Entendi.
R – Mesmo assim, ainda tem confusão, porque...
P/2 – A água é junto do prédio?
R – Dos seis blocos do meu lá, dos seis prédios, são juntos. Então quando chega a água, igual, o mês passado deu 853 reais, aí é dividido para os seis blocos e é dividido pra cada morador. E tem bloco que eles pagam o condomínio e a água é separada. O meu já é tudo incluído. São 35 reais e é incluída a limpeza da escada, que tem uma pessoa que limpa, a luz das escadas, que é paga por fora também. Então, é pra usar ali no condomínio mesmo. E vai juntando pra conter o fundo de caixa, pra ter. E aí, a gente pega... Colocamos piso no nosso. Que a prefeitura também não dá com piso, a gente que se vira e coloca. E é pra essas coisas...
P/2 – Você é síndica?
R – Sou subsíndica do meu.
P/1 – Quais são seus sonhos hoje?
R – Meu sonho é terminar a faculdade. Por enquanto, é só. Ver meus filhos formados também, que eles estudam, todos os quatro estudam.
P/1 – Você faz faculdade do quê?
R – Eu tô no terceiro ano de Serviço Social.
P/1 – É seu sonho se formar em Serviço Social?
R – Desde criança. Ou eu queria ser advogada, ou nutricionista, ou assistente social. E mais assistente social, por causa do serviço que a gente faz aqui dentro. E eu cresci convivendo com assistente social, porque no orfanato tinha psicólogo, assistente social. Então, eu sempre via o trabalho e gostava.
P/1 – Ah, obrigada. Você tem mais alguma...
P/2 – Não. Obrigada.
R – Então, eu vou falar uma coisa que vocês não perguntaram mais.
P/1 – Ótimo.
R – Então, a minha mãe, né? Eu tava mexendo no Facebook no ano passado, já estavam acabando as minhas férias, e aí eu sempre conversava com uma moça, aí a moça parou de conversar. Eu vi que tinha o mesmo sobrenome meu, aí parou de conversar. Num belo dia, à noite, era meia-noite, eu mexendo, tava jantando na frente do computador, aí a moça: “Posso falar com você?”. Eu falei: “Pode”. Ela falou assim... Eu falei: “Quem é você?” “Ah, sou irmã de fulana, fulana de tal”. Ela começou a fazer umas perguntas da minha vida, eu falei: “Poxa, mas nem conheço”. E ela perguntando de onde eram meus pais. Eu falei: “São de Minas” “De que cidade?”. Eu me lembrava da cidade do meu pai, mas não me lembrava da cidade da minha mãe. Eu sempre que conversava com os outros, falava. E aí, ela falou assim: “Por um acaso não é de Mercês?”. Eu falei: “É. Por quê?”. Mas assim, eu sou uma pessoa esperta, mas nesse dia, não sei o que aconteceu, que eu tava distraída (risos).
P/2 – (risos).
R – E aí, conversa vai, ela falou: “Eu sou sua irmã”. Eu falei: “Por que você é minha irmã se não tem o sobrenome, nem nada?”. Ela falando, tal, tal, conversando. Ela falou que tinha certidões de nascimento nossa, que a minha mãe guardava, e que procurou a gente a vida inteira, só que não achou. Aí, a gente veio saber da outra parte da história. Porque meu pai batia nela e tinha ameaçado-a.
P/2 – A sua mãe?
R – Isso. Falou que não era mais pra ela pisar em São Bernardo, não sei o quê. Tanto é que a família dela, ninguém soube mais do paradeiro. Ela morreu em 2008. Ela começou a postar foto e todos eles achavam que eu era parecida com ela. E olhando as fotos, era mesmo. E aí eu conheci. Fui na Semana Santa do ano passado e fui conhecê-los. Assim, tem quase tudo a ver com a gente.
P/2 – É mesmo?
R – É.
P/1 – Essa tua irmã?
R – São cinco por parte de mãe que tem lá. Tem o meu irmão, que saiu do orfanato, casou, se aposentou da Volks e foi morar em Minas. Agora, ele vem pra cá o mês que vem pra conhecer esses outros irmãos.
P/2 – Que estão aqui em São Paulo? Em São Bernardo?
R – Que estão aqui. Eles moravam em Itaquera. Os cinco em Itaquera.
P/2 – Bela história.
R – Pronto (risos).
P/1 – Linda a sua história. O que você achou de contar a sua história aqui?
R – Eu achei legal.
P/1 – Um pedacinho dela, né?
R – É, então, que se for contar, eu vou a vida toda. Eu, assim, achei interessante, legal. Porque pra todo mundo que eu conto, eles falam: “É interessante. Por que você não escreve um livro? Porque é legal”. Eu falo: “Ah, não”. Mas eu gostei. É importante esse trabalho de vocês. Muito legal. Eu nem sabia que existia. Aquele dia você falando lá no curso lá, a gente foi se interessando, foi fazendo pergunta para as meninas da habitação e elas foram falando. Mas é legal. É interessante.
P/2 – Por que você acha que é legal?
R – Ah, porque assim, o pessoal não vem assim... É gente diferente que vem. E o pessoal que vem aqui muito, eles não querem saber da história assim, mais é a assistente social que vem, e assim mesmo, elas nunca têm esse tempo assim pra gente contar. Porque tem gente aí que tem muita história pra contar. E o pessoal que eu chamei pra vir amanhã: “Ah, eu tenho, sim. Tenho. Claro. Que eu tenho muita coisa. Já vi muita coisa aqui, já presenciei. E vim lá da minha terrinha, nunca mais voltei, adoro aqui, não quero voltar, então eu tenho história pra contar”. Então, eu achei interessante, que eles vão poder contar a história. Muito legal.
P/1 – Obrigada.
P/2 – Obrigada, viu, Nilza?
R – De nada.
FINAL DA ENTREVISTA
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