Não é nenhum tipo de autopromoção ou panfletagem; é simplesmente uma História Real! Sou filha de uma auxiliar de enfermagem (Mary Dias Santos), que aos 18 anos saiu de Valença na Bahia e veio a São Paulo em busca de uma Vida Melhor. Teve a ajuda de sua mãe, minha querida avó Maria; sua fiel companheira que cuidava de mim e dos meus 5 irmãos enquanto minha mãe trabalhava incansavelmente. Mulheres negras e pobres, muitas vezes negligenciadas pelos maridos e pela sociedade, mas que apesar de tudo sustentam famílias inteiras Brasil afora.
Nasci na Beneficência Portuguesa em 9 de março de 1982; pequena com apenas 2,5 Kg para 41 semanas de gestação. Contudo, sobrevivi e não fui entregue à obstetra que me pedira em adoção. Sempre fui afeita aos estudos. Calma e quietinha adorava fantasiar e desde pequena dizia que seria médica e dançarina, rsrs!!! Minha maior alegria era aos domingos acompanhar minha mãe ao trabalho (aqui na enfermaria de Clínica Médica do HC). Lia com cuidado as bulas de cada medicamento e ficava deslumbrada com a rotina dos médicos residentes. Até hoje me lembro perfeitamente da primeira vez que entrei aqui na Faculdade de Medicina (no famoso porão) ... nossa, como fiquei emocionada!!!! Aos 14 anos de idade tremia sem parar. Comprei uma camiseta escrito: Medicina USP; e guardei. Pois, só a colocaria quando me tornasse aluna desta Casa.
Eu estudava em uma escola pública da periferia da Grande São Paulo (em Itapevi, onde morávamos); a qualidade do ensino era precária, sabia portanto que se quisesse realizar o meu sonho, seria preciso ir além...Então, comecei a ir até os cursinhos vestibulares e pedir exemplares de apostilas antigas de cortesia. Foi com elas que estudei até conseguir uma bolsa de estudos no Cursinho Etapa. Isso foi incrível!!! A oportunidade que eu tanto buscava. Mas o caminho era longo, não foram dias fáceis ... eu vendia doces e sorvetes em casa para pagar o transporte e a alimentação, às...
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Não é nenhum tipo de autopromoção ou panfletagem; é simplesmente uma História Real! Sou filha de uma auxiliar de enfermagem (Mary Dias Santos), que aos 18 anos saiu de Valença na Bahia e veio a São Paulo em busca de uma Vida Melhor. Teve a ajuda de sua mãe, minha querida avó Maria; sua fiel companheira que cuidava de mim e dos meus 5 irmãos enquanto minha mãe trabalhava incansavelmente. Mulheres negras e pobres, muitas vezes negligenciadas pelos maridos e pela sociedade, mas que apesar de tudo sustentam famílias inteiras Brasil afora.
Nasci na Beneficência Portuguesa em 9 de março de 1982; pequena com apenas 2,5 Kg para 41 semanas de gestação. Contudo, sobrevivi e não fui entregue à obstetra que me pedira em adoção. Sempre fui afeita aos estudos. Calma e quietinha adorava fantasiar e desde pequena dizia que seria médica e dançarina, rsrs!!! Minha maior alegria era aos domingos acompanhar minha mãe ao trabalho (aqui na enfermaria de Clínica Médica do HC). Lia com cuidado as bulas de cada medicamento e ficava deslumbrada com a rotina dos médicos residentes. Até hoje me lembro perfeitamente da primeira vez que entrei aqui na Faculdade de Medicina (no famoso porão) ... nossa, como fiquei emocionada!!!! Aos 14 anos de idade tremia sem parar. Comprei uma camiseta escrito: Medicina USP; e guardei. Pois, só a colocaria quando me tornasse aluna desta Casa.
Eu estudava em uma escola pública da periferia da Grande São Paulo (em Itapevi, onde morávamos); a qualidade do ensino era precária, sabia portanto que se quisesse realizar o meu sonho, seria preciso ir além...Então, comecei a ir até os cursinhos vestibulares e pedir exemplares de apostilas antigas de cortesia. Foi com elas que estudei até conseguir uma bolsa de estudos no Cursinho Etapa. Isso foi incrível!!! A oportunidade que eu tanto buscava. Mas o caminho era longo, não foram dias fáceis ... eu vendia doces e sorvetes em casa para pagar o transporte e a alimentação, às vezes ainda faltava, então, contava com a ajuda de algum familiar ou vizinho. Apesar das dificuldades, sempre fui ao cursinho com muita disposição e sorriso no rosto ... eu estava determinada e sabia que passar na Faculdade era só questão de tempo. Dois anos depois fui aprovada nas três Universidades Públicas em que prestei; sem o auxílio de cotas raciais; pois em 2002 ainda não existiam. Passei na Unesp de Botucatu; na Unifesp – Escola Paulista de Medicina e aqui na Faculdade de Medicina da USP, onde cursei. Finalmente pude usar a camiseta que havia comprado 6 anos antes.
Em minha turma da Faculdade de Medicina, nós negros e mulatos éramos apenas 5 entre 175 alunos; 2,8%. Num país onde segundo o IBGE 54% da população é de negros e mulatos. No Brasil menos de 18% dos médicos são negros. Bem, enfrentar essa desigualdade que por si só já é agressiva e me formar aqui na Pinheiros (como é chamada pelos íntimos), não foram tarefas simples. Aprendi MUITO mais que Medicina em todos esses anos aqui vividos. Aprendi entre outras coisas, que é possível fazer medicina e ajudar ao próximo sem renunciar-se a si mesmo! Hoje me descobri uma iniciante e APAIXONADA Montanhista. Pois, quando estou escalando o oponente nem sempre é a rocha; na verdade a maioria das vezes não é ... E enfrentar os meus medos, superar os meus limites e me harmonizar com a natureza são coisas que me fascinaram e mudaram meu modo de ver a Vida.
A Medicina continua sendo fundamental em meu caminho e hoje busco ir além dos muros da Universidade e utilizar as ferramentas acadêmicas que aqui aprendi, não somente para fornecer um atendimento médico de qualidade em um consultório, mas também para procurar educar e ampliar o acesso da população à cardiologia preventiva; que acredito ser conhecimentos fundamentais para a prevenção eficaz e concreta dos fatídicos eventos cardiovasculares por nós tão estudados e temidos. Tenho iniciado a divulgação de materiais educativos, semelhantes aos que tive contato pela primeira vez na França, onde sabidamente existem excelentes políticas públicas em Saúde. Bem, vejo isso como uma oportunidade de mudar a relação do Médico com a comunidade... o aproximando um pouco mais da realidade do país e permitindo contribuir com a sua melhora. Talvez seja apenas uma gota no oceano, mas é a forma que encontrei para começar a fazer alguma diferença.
Enfim, essa é a minha história e a trouxe para dizer que sim, é possível transformarmos sonhos em realidade. A trouxe para dizer aos Negros desse país que é possível sim superarmos as desigualdades e infelicidades históricas e nos tornarmos pessoas melhores. Os rótulos não nos acrescentam nada, é preciso aceitarmos de coração as diferenças e nos empenharmos todos juntos: brancos, orientais, índios e negros. Pois um país mais justo e com oportunidades semelhantes a todas as pessoas... Certamente será um lugar MELHOR e mais Feliz de se Viver!!!!!! Muito Obrigada!
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