Programa Concórdia Digital Formando Cidadãos
Depoimento de Samira Abu El Haje Furlan
Entrevistada por Gustavo Ribeiro Sanchez
Concórdia, 24/04/2013
CD_TM002_Samira Abu El Haje Furlan
Realização Museu da Pessoa
Revisado por Letícia Manginelli dos Santos
P/1 – Então, Samira, pra começar, eu vou pedir pra você falar o seu nome completo, a data e o local do seu nascimento.
R – Eu me chamo Samira Abu El Haje Furlan, sou nascida aqui em Concórdia mesmo e eu nasci no dia 20 de janeiro de 1965.
P/1 – E me conta um pouco da casa da sua infância. Como é que era essa casa, o quê que você lembra dessa casa?
R – São duas casas que eu tive a oportunidade de morar enquanto criança. Então, a primeira, eu sou filha de árabes, né, então a primeira era uma casa muito próxima à loja, onde o meu pai tinha o comércio, uma casa que a minha mãe não esquece, de madeira. Então, era diferente da vivência dela, que veio da Palestina, então lá não existiam casas de madeira. Então, pra minha mãe, a casa de madeira aqui no Brasil era uma coisa impressionante. Então, isso também me marcou por ter sido uma casa de madeira, não muito grande e depois, com o tempo, uns seis anos depois, eu já tinha uns sete anos, na época, aí o meu pai conseguiu construir uma casa, uma outra, que é onde eles moram até hoje, bem maior, um quarto para cada filho e não mais de madeira, né (risos), uma casa de alvenaria.
P/1 – Entendi. E me conta um pouco dos seus pais. Você falou que eles são imigrantes. Como é que eles vieram pro Brasil, como que é essa história, essa trajetória?
R – A história deles é de muita luta e de muita coragem. Então, veio o meu pai primeiro, no intuito assim, de se aventurar e mudar a história de vida dele. Então, na época, ele conta que o Brasil, mais a América do Sul era um local que atraia muito pessoas para mudarem a vida e enriquecerem. Então, dentro desse propósito, ele veio para o Brasil, aqui no...
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Depoimento de Samira Abu El Haje Furlan
Entrevistada por Gustavo Ribeiro Sanchez
Concórdia, 24/04/2013
CD_TM002_Samira Abu El Haje Furlan
Realização Museu da Pessoa
Revisado por Letícia Manginelli dos Santos
P/1 – Então, Samira, pra começar, eu vou pedir pra você falar o seu nome completo, a data e o local do seu nascimento.
R – Eu me chamo Samira Abu El Haje Furlan, sou nascida aqui em Concórdia mesmo e eu nasci no dia 20 de janeiro de 1965.
P/1 – E me conta um pouco da casa da sua infância. Como é que era essa casa, o quê que você lembra dessa casa?
R – São duas casas que eu tive a oportunidade de morar enquanto criança. Então, a primeira, eu sou filha de árabes, né, então a primeira era uma casa muito próxima à loja, onde o meu pai tinha o comércio, uma casa que a minha mãe não esquece, de madeira. Então, era diferente da vivência dela, que veio da Palestina, então lá não existiam casas de madeira. Então, pra minha mãe, a casa de madeira aqui no Brasil era uma coisa impressionante. Então, isso também me marcou por ter sido uma casa de madeira, não muito grande e depois, com o tempo, uns seis anos depois, eu já tinha uns sete anos, na época, aí o meu pai conseguiu construir uma casa, uma outra, que é onde eles moram até hoje, bem maior, um quarto para cada filho e não mais de madeira, né (risos), uma casa de alvenaria.
P/1 – Entendi. E me conta um pouco dos seus pais. Você falou que eles são imigrantes. Como é que eles vieram pro Brasil, como que é essa história, essa trajetória?
R – A história deles é de muita luta e de muita coragem. Então, veio o meu pai primeiro, no intuito assim, de se aventurar e mudar a história de vida dele. Então, na época, ele conta que o Brasil, mais a América do Sul era um local que atraia muito pessoas para mudarem a vida e enriquecerem. Então, dentro desse propósito, ele veio para o Brasil, aqui no Brasil, ele entrou de forma clandestina e começou a vender roupas, mascatear e vendia em vários e vários estados que ele passou, sempre com a malinha, conhecendo os lugares, não falando… não dominando o idioma, mas se virou muito bem, isso que eu admiro, essa coragem, né, de vir pra um país completamente estranho, que não domina nem a língua, nem a cultura, nem a rotina. E veio. Daí depois de seis anos, definiu que Concórdia seria o lugar onde ele instalaria o comércio fixo e teria família. Aí nesse meio tempo então, ele voltou lá pra Palestina, casou com a minha mãe e veio pro Brasil, pra Concórdia e desde então, é o lugar onde ele mora, ele ainda é vivo, ele e a minha mãe, né, casados até hoje. Meu pai tá com 85 anos, a minha mãe com 76 e aqui conosco, no município eles nos criaram. Sou eu e mais três irmãos homens. Eu sou a mulher mais velha e a única mulher, que também passou por um preconceito, né, porque filha de árabe, ainda a mais velha, então foi uma questão também diferente, mas eu tenho três irmãos maravilhosos, uma família maravilhosa, né, e essa é a história.
P/1 – E tem um porque se Concórdia, ele conta o porquê ele escolheu Concórdia?
R – No início, Concórdia era propícia pra comercio, né? com o tempo, a coisa foi mudando, mas as raízes, né, a questão de ter a família aqui, os filhos estudando, criou um vínculo muito importante, muito bom, com a comunidade, com a sociedade, ele era muito bem… ele é querido pelas pessoas e aí, nós também, na sequência. Então em consideração a isso, ele fixou a residência aqui e não pensou em sair, em tirar a família daqui. Mas teve um período que eu lembro, que Uruguaiana, que é uma cidade da fronteira, tava com o comércio excelente, então o quê que ele fez, na época? Nos manteve em Concórdia, que aí, a gente assumiu a loja, minha mãe junto com a gente e ele montou uma loja em Uruguaiana. Ficou dois anos, né, mas também não aguentou longe da família e teve o período, né, de melhoria, no saldo financeiro da família (risos), depois desse tempo, ele voltou e ficou em Concórdia mesmo.
P/1 – E me conta como é que foi essa sua infância, né, com os costumes culturais, adaptação, como é que… o quê que você lembra da sua infância?
R – Eu lembro que quando nós estávamos na primeira casa, foi muito mais difícil a convivência social. Era mais restrito ali entre a família e na época, tinham algumas famílias de origem árabe que eram o nosso relacionamento social. A questão da convivência com pessoas que não eram de origem árabe era muito restrito. Uma que nós nos sentíamos… nós nos excluímos, penso eu, né, e outra, que a tentativa que nós tínhamos de proximidade com as demais famílias que não eram árabes, não eram muito positivas. Então, a gente vai se isolando. Mas assim que a gente mudou de casa, então, indo para outra residência, para outro endereço, os vizinhos eram diferentes também, nós já tínhamos crescido e amadurecido e a escola coincidiu também com o período escolar. Então, a convivência com a sociedade, daí foi muito mais saudável e muito mais intensa. Então pra ti ter uma ideia, Gustavo, eu lembro que enquanto nós não interagíamos com os demais, nós dominávamos muito bem a língua árabe, porque era essa língua materna e dentro da convivência ali da família. A partir do momento que a gente começou a estudar e a interagir com os outros, a gente teve que… melhorou também a comunicação da língua brasileira. E hoje, eu digo que a gente tem pouquíssimas lembranças assim, pouco domínio da língua árabe, o que é uma pena, mas foi pela questão da interação, né, com a sociedade onde a gente tá.
P/1 – Tá certo. Eu queria que você contasse um pouco mais dos seus pais, assim, como eles são, como é que é…
R – (risos) Meu Deus! Como eles são? Eu vejo assim, que eles continuam muito ligados à cultura árabe e muito defensores da cultura árabe. Sofrem com os conflitos que ocorre lá, sofrem com o distanciamento da família, né, eles já tiveram, nesse tempo, a oportunidade de irem umas cinco, seis vezes, visitar a família que têm lá na Palestina, hoje, Israel e na Jordânia. Mas eles têm essa tristeza, né, de não ter muito a família por perto. Mas em compensação, eu vejo que a parte assim, da sabedoria deles, que serve de exemplo pra nós, eles permitiram que nós assumíssemos a cultura do lugar onde a gente tá. Então, permitiram que cada um de nós, os filhos, casassem com pessoas que não são de origem árabe, nós temos os nossos filhos criados dentro da cultura onde a gente tá, então, são a religião predominante, que aqui é a católica. Então, a própria religião muçulmana, que é a religião deles, eles abrem mão, né, eles são muçulmanos, mas não muito praticantes e ao mesmo tempo, aceitaram os netos católicos, dentro de uma concepção católica. Então, a questão de manter a comida, a decoração, a linguagem, a escrita, toda ela árabe, mas com alguns indícios, né, da cultura brasileira. E nós, pelo contrário, nós somos muito da cultura brasileira, né, da região aqui de onde a gente tá, mas com alguns indícios da árabe junto, né?
P/1 – Bacana. E as brincadeiras de infância com os irmãos, do que vocês brincavam, o que vocês faziam?
R – (risos) Então, é muito aquela brincadeira de brincar de casinha, de carrinho, né? eu sou a única filha, então eu brinquei muito com brincadeiras de menino, né? Até que depois, a gente começou aquelas brincadeiras de rua, né, aquela questão do vôlei, jogar futebol na rua. Eu lembro muito assim, em relação às amigas que eu tinha, a gente fazia teatrinhos, brincava muito de teatro, apresentávamos peças e chamávamos os vizinhos depois para serem os telespectadores, né? A questão da amarelinha, da… do elástico, da peteca… então, todas as brincadeiras que a gente tinha, né, na época, que eram mais as brincadeiras de social e de convívio social e que a gente produzia os brinquedos, era o que a gente convivia. Mas eu aprendi… mas como o meu pai era comerciante, ele ia muito pra São Paulo, então, ele trazia os brinquedos, as motocas que a gente teve, teve muita motoca, o vai e vem, que também era uma coisa que numa determinada época tinha, então, nós tínhamos o acesso. Os brinquedos assim, que eram produzidos comercialmente, além dos que a gente fazia, eu tinha esses brinquedos, meus irmãos também. Então, a gente cresceu não tendo carência de brinquedos e de brincadeiras.
P/1 – Samira, para retomarmos, você estava falando da coisa das brincadeiras na rua. Eu queria que você fizesse um pouco um panorama de como que era Concórdia nessa época, né, de poder brincar na rua, toda essa realidade, né?
R – É, características de uma cidade pequena, né, como nós ainda nós somos de um porte médio, então era menor ainda, né? Então, o fluxo de trânsito era bem pequeno, eu morava no centro, mas era um centro pouco movimentado. Então, a minha rua era uma rua com muita criança, praticamente todas da mesma faixa etária. Então, nós nos reuníamos e as nossas melhores brincadeiras eram na rua. Então, a gente se reunia e fazia as inúmeras… né, brincadeiras, menino com menina, às vezes, só as meninas, às vezes, só os meninos, eram muitas brincadeiras e às vezes, muitas brigas também. O esconde-esconde, eu lembro que a gente brincava à noite, se escondendo nos lugares que hoje, eu teria medo de me esconder. E o fluxo do trânsito, que poderia interromper as nossas brincadeiras na rua eram pequenos, e aí, a gente cuidava, né, interrompia, mas o que eu mais lembro, que é assim, que é o mais positivo, que eram brincadeiras com muita gente, eram brincadeiras com correria, com energia, com alegria, né, que infelizmente, hoje, a gente vê bem menos, né, a própria estrutura da cidade não oportuniza mais tanto, o lugar onde a gente mora, porque os bairros ainda oportunizam, né, um pouco mais e a questão até do próprio momento histórico, né, e o momento atual, que hoje, a gente não vê as crianças que eram da nossa idade brincando na rua, elas preferem mais ficar dentro da sua casa, né, brincadeiras mais eletrônicas (risos), né, tecnológicas.
P/1 – Tá certo. E Samira, você falou da escola como um momento em que você passou a se articular com as outras crianças, eu queria que você falasse um pouco das primeiras lembranças que você tem da escola.
R – Bom, pra mim, a escola era o espaço mais maravilhoso que eu poderia ter. Eu adorava ir para a escola. E eu acho que não era só a Samira, era uma geração, que via na escola, o momento maravilhoso de integração, de encontro com amigos, de aprendizagem, o estudar era bom, era prazeroso, não era um castigo. A relação com os professores… claro, a gente tinha as coisas que a gente não gostava com o professor, quando nos xingava, mas ao mesmo tempo, mas a gente respeitava muito, né, existia essa questão da escola, da relação professor e aluno com muito respeito, a escola, um lugar de aprendizagem e feliz, o encontro com os amigos, as aulas eram sempre muito boas, muito bem vistas. No início, como folha de árabe, né, então, o ler, o escrever, o calcular, eu tinha muita dificuldade, porque então, eu tinha que aprender na escola, porque o meu pai e a minha mãe… não podia contar com eles, porque o tipo de conhecimento deles era outro, não era o que a escola me ensinava. Então, nós tínhamos que se virar, então eu me virava, prestando muita atenção na escola, né, entender muito bem, eu sempre fui considerada ter fácil aprendizagem, né, então isso também era um ponto positivo e eu estudava muito em casa, então eu sempre fui considerada uma das melhores alunas da turma, sem ter tido muito acompanhamento do meu pai e da minha mãe, mas eles cobravam a nota. Nota era cobrada. Então, nessa questão, com o tempo, dependendo das dificuldades, gente procura ajuda externa. Então, eu tinha umas vizinhas que me ajudavam, as amigas que a gente fazia grupos de estudo, né, ou entre irmãos também, a gente ia se ajudando. Então, eu lembro dessas coisas. Só aspectos positivos da escola.
P/1 – Legal.
R – Sempre experiências positivas.
P/1 – E teve algum professor ao longo da tua trajetória que te marcou mais, que você tem na memória?
R – Vários. Vários professores e até porque hoje, como eu sempre morei na mesma cidade, então tem professores que até hoje são meus eternos professores, né? A minha professora de alfabetização, a professora Odete. Até hoje, a gente se olha, ela é a minha professora e eu sou a aluna dela. Então eu lembro que a gente aprendia, a gente teve alfabetização pela cartilha da casinha feliz. Então, eu tenho nas minhas memórias, a casinha, os personagens que eram o papai, a mamãe, a vovó, o vovô, “vá vá” e “vé vé”, então, a gente… e era aquela expectativa de que, que chegaria novo na família, né, na família feliz e assim foi uma alfabetização lúdica, prazerosa e com bons resultados, né? Aí, claro, os bons professores, as diretoras da escola, eu lembro muito bem delas, os professores, o professor de Filosofia, de Sociologia, claro, ficam as marcas, né, ficam as boas lembranças, mas a da alfabetização, acho que foi a que mais me marcou.
P/1 – Então, a gente tava falando agora dos professores marcantes. Eu queria retomar uma outra coisa, paralelo a isso, você ajudava o seu pai no comércio, em casa, você trabalhava, como é que era?
R – Era uma obrigação. Era uma obrigação! Eu lembro… meu pai tinha uma outra característica de comércio na cidade, então, ele tinha um ponto excelente ali no comércio, né, era ali bem na rua central, quatro portas. Então, ele vendia de tudo um pouco, né, mas a de maior era roupas, acessórios, né? então, nós tínhamos que ajudá-lo, porque ele dava conta meio que sozinho, durante um tempo, ele não tinha um funcionário. Depois ele passou a ter, então, enquanto não tinha e durante determinados momentos, quando ele não tinha funcionário trabalhando, nós que tínhamos que ajudar, os filhos eram obrigados, não era uma coisa que nós gostávamos, mas tinha que ir, não tinha opção. Hoje eu vejo, então, que essa minha ida eu tinha que atender e tinha que vender e preferencialmente, convencer a levar (risos). Então, hoje eu vejo que essa experiência trouxe grandes habilidades pra mim, né, a habilidade do relacionamento com as pessoas, a habilidade de você convencer através de argumentos em relação a tua proposta. Então, a venda naquele momento, era venda de objetos. Hoje, a gente continua vendedores, mas vendedores de quê? De ideias, né, de propostas e aquele exercício de comércio me ajudou muito nisso e até a forma de me relacionar com as pessoas, porque eu era muito, muito tímida e eu exercício do comércio vai tirando essa timidez da gente, né? E hoje, eu percebo que só vai deixar de ser tímido e vai poder se relacionar cada vez melhor com as pessoas, se relacionando, não tem outro jeito, né, é enfrentar esses desafios e se relacionar com as pessoas pra cada vez, ser melhor nisso, né?
P/1 – Legal. E Samira, você começa a sua trajetória na educação pelo magistério, né? Eu queria que você contasse o quê que te levou ao magistério, por que essa opção pelo magistério, como é que foi esse começo?
R – Até por ter sido a única opção. Eu não tinha outra opção, porque o magistério fazia parte do ensino médio técnico e era diurno. Então, como filha de árabe, eu só podia estudar no diurno, imagina estudar noturno? Porque daí teriam outras opções, né, de ensino médio. Então, o meu direcionamento foi esse, porque era a única opção que eu tinha e à medida que a gente foi, né, estudando, aprendendo, foi passando pelos estágios e como eu via tudo isso ai… pra mim, era tudo muito prazeroso, né, era tudo muito bom, então eu me dedicava de corpo e alma. Então eu, também, vejo que eu tive destaque na turma do magistério, no estágio que eu desenvolvi. E assim que eu desenvolvi o meu estágio e me formei, em 1982, em 83, a própria escola onde tinha o curso de magistério me chamou pra ser professora de quarta série. Então, me formei no ano de 82, no ano de 83, eu já iniciei a minha profissão de professora, na quarta série. Então, de manhã, eu cuidava da casa, ajudava a minha mãe cuidando da casa e à tarde, eu ia trabalhar como professora e era um… era a coisa mais maravilhosa, eu não ia pelo salário, eu ia pela trabalho! Então é isso que eu vejo assim, então as marcas que eu tenho e que eu deixei, era de uma professora que ia trabalhar com alegria, com prazer e eu ia porque eu gostava de ser professora, porque o meu trabalho era um amor e uma dedicação que eu tinha e isso a gente passa pro aluno, até hoje assim, eu tenho gerações de alunos que nós temos um relacionamento, que onde a gente se encontra é aquele relacionamento de história, de afetividade, de carinho, né, não só profissional, mas é pessoal também. Então, a minha trajetória como professora começou em 83 e nunca mais interrompi.
P/1 – E como é que foi o primeiro contato com a sala de aula? Como é que você reagiu, o quê que você lembra?
R – Meu deus, eu lembro assim, claro, tudo o que eu aprendi no magistério, eu queria pôr tal qual na prática. E aí, tu vai vendo que não é, né, do jeito que tu imagina, então tem que fazer as devidas adaptações. Uma das coisas que me marcou, porque também tu se torna melhor professor, sendo professor, né, tem que ser professor, para se tornar melhor professor. E num determinado momento, a diretora da escola, que foi a que me escolheu, me selecionou um dia, chegou até mim e disse: “Samira, eu vou precisar que você hoje sente na tua sala e me veja dar uma aula de interpretação de problemas”. Porque o interessante também na época, que hoje já não se tem tanto, que o professor tinha uma supervisão tanto do gestor da escola, como também, como a nossa escola era estadual, tinha também da secretaria regional, que ia fazer uma supervisão do trabalho do professor. E numa dessas supervisões, identificaram que os meus alunos tinham problemas de interpretação de problema e aí, o quê que a diretora fez? Deu uma aula modelo. Então isso me marcou, porque daí, também, né, fui me aperfeiçoando no processo, vendo os outros e pondo em prática e tinha esse acompanhamento. Então, eu fui melhorando como professora nisso e muita vontade de querer acertar, né, muita vontade! Problema de indisciplina com alunos, eu tive pouquíssimos problemas. Era uma outra geração também, né, um outro momento, mas também eu acho que eu tinha um jeito legal de conduzir, né, os conflitos que surgiam. Tinha aluno disciplinado, mas a forma como a gente punia era vista de forma diferente e era aceita assim, no coletivo, né, tinha um apoio coletivo, então a questão das indisciplinas não eram tão grandes, não cresciam tanto, como hoje, talvez, a gente tenha, né?
P/1 – Legal. E ai, como é que é a sua trajetória na educação um pouco, eu queria que você fizesse um panorama aqui.
R – Então, com o tempo, com o tempo então, Concórdia teve a faculdade, teve a universidade e depois, ela começou com, cursos mais focados pra Administração, Contabilidade, mas depois, veio um curso de Pedagogia e quando veio o curso de Pedagogia, eu comecei também a fazer todo um trabalho com o meu pai para que ele me permitisse estudar à noite, e fazer um curso superior. No início, não queria muito, mas depois, ele aceitou. Então, eu fiz Pedagogia com habilitação em orientação educacional e sempre… daí, trabalhava durante o dia, ampliei minha carga, então manhã e tarde e à noite, eu estudava, fiz estágio, né, e o bom é que enquanto eu estudava aprendia no noturno, eu podia aplicar no diurno. Então, depois de um tempo, eu fui convidada também para ser orientadora educacional da escola onde eu estava e depois, assim que eu concluí a graduação, fui convidada para ser professora no curso, Filosofia. Daí, na sequência, para isso, eu precisava fazer uma pós. Então eu fiz uma pós-graduação em Erechim, uma cidade próxima, em Séries Iniciais. Então fiz a minha pós, conclui e trabalhei como professora. Até hoje, eu tenho vínculo com a faculdade do contestado, há 20 anos, que eu sou considerada professora da instituição. E trabalhei então em vários cursos de licenciatura, sempre com disciplinas relacionadas às licenciaturas. Aí, também, graças à universidade, eu tive a oportunidade de fazer o meu mestrado. O meu mestrado em Ciências da Saúde Humana, mas aí, com o foco na pesquisa da educação, e com o tempo, então, me surgiu a oportunidade de trabalhar como gestora, numa faculdade, a FATEP, que é ligada à Fabet – Fundação Adolpho Bósio. Quatro anos como gestora da faculdade e recentemente, tive a grata satisfação, né, de ter sido convidada para ser Secretária de Educação do nosso município.
P/1 – Eu vou tomar as coisas desde o seu pai. Essas adaptações como é que foram ao longo do tempo, do seu pai te permitir estudar à noite aos poucos, como que foi esse processo?
R – Sempre eu tive que trabalhar com convencimento. Sempre! Eu tinha que me preparar, que eu ia pedir uma coisa, né, uma autorização, mas eu sabia que tinha me munir de muitos argumentos pra convencê-lo, né, que era importante e é nesse sentido que eu vejo, que eu admiro muito o meu pai, porque ele foi aos poucos, se desfazendo da rigidez da cultura árabe e permitindo que a filha, mulher, conquistasse espaços, não só dentro da família, mas espaços profissionais e sociais, né? Mas eu sempre tinha que ir lá e convencê-lo, porque a primeira situação era: “Tu é filha de árabe, tu é a única filha de árabe, nós temos um nome”, né, se às vezes, não era o meu pai que me cobrava, mas alguém ia cobrar do meu pai: como que ele tava permitindo que a única filha árabe fosse trabalhar fora, que a única filha árabe estudasse de noite, que depois, na sequência, a única filha árabe começasse a namorar com brasileiro, né? e ele foi, sempre com muita luta
P/1 – Legal
R – Sempre com muito convencimento (risos)
P/1 – E já nessa experiência universitária, qual a diferença de estar na universidade, perante as aulas que você teve na escola, por exemplo, o quê que a universidade agrega de diferente?
R – É o público, é o público, né, é o público e até o próprio direcionamento da disciplina que tu vai ministrar, então, na universidade, com o curso de licenciatura, é o foco de preparar profissionais pra depois serem profissionais magistérios, né, professores. Então é esse preparar as pessoas que já vêm com uma caminhada, que já vêm com uma experiência, que procuram a universidade, né, como um suporte teórico, mas também a questão de ter um título a mais, pra conquistar um espaço profissional diferenciado no mercado, que a universidade prepara pra isso. Então, a gente preparava pra essa questão de formação crítica, reflexiva do professor, mas ao mesmo tempo, com todas as habilidades necessárias técnicas, para que seja um bom professor. Enquanto que até o ensino médio, é a formação, é a formação do indivíduo, como indivíduo, no seu desenvolvimento humano, mas também, eu não podia deixar de me preocupar com o conhecimento científico e teórico daquele meu aluno, né, que é o diferencial depois na sociedade.
P/1 – Legal. E aí, você vai de professora a gestora, né, qual é a diferença nessa experiência de gestão, o que você aprende como gestora?
R – É aquele lado, que às vezes, a gente não tem, Gustavo, na formação das licenciaturas, que é o teu lado administrador, entre aspas de uma empresa, né? Porque ao mesmo tempo que você administra uma instituição de ensino, tu tem que ter o conhecimento a mais de uma sala de aula, que é aquele domínio de custos, o domínio da questão financeira, gestão de pessoas, né, a questão de como administrar conflitos de profissionais e não de aluno, né? Então essas questões que eu vejo que a gestão traz como um novo, né, além da sala de aula. E outra questão também que você, sendo um gestor de uma instituição, então representante primeiro daquela instituição na sociedade, onde tu tá, então a questão da Fabet em especial, além da… é uma instituição de ensino, com um público, em partes, eram acadêmicos, mas em partes, também tínhamos aqueles que só procuravam o curso técnico, principalmente motoristas. E aí, o nosso contato também era com grandes empresas, então a Fabet me oportunizou uma grande escola e uma escola muito… me trouxe aspectos muito positivos no contato e no convívio com outros setores além do ensino, né?
P/1 – E aí agora, já pensando na secretaria, como é que se deu o seu ingresso na Secretaria de Educação, como é que foi esse processo pra chegar aqui?
R – Eu penso assim, claro que estando na Secretaria de Educação, tu carrega toda uma responsabilidade e um compromisso político. Hoje, eu tô aqui no governo do seu João Girardi e do seu Neuri Santhier, então eu tenho como norte, né, do meu planejamento, as propostas aprovadas e as vitoriosas na campanha desse governo. Mas eu penso que quando eu recebi o convite, o seu Girardi lembrou mais da Samira professora e técnica do que a Samira política, né? Porque se for ver, eu não sou filiada a partido, mas o seu Girardi, o nosso convívio foi sempre na questão dos eventos que o município teve, eu tive uma grata assim, satisfação de participar de um conselho grandioso, que o nosso vice-prefeito é o presidente do conselho, que é o Conselho de Desenvolvimento Sustentável do nosso município, que projeta o desenvolvimento do município até 2030. Então na época… é o primeiro conselho que foi instituído, né, através da conferência das cidades e eu vim representar a Fabet nesse conselho. Então, participamos de inúmeras reuniões, ainda o conselho é ativo, agora em maio que pode ser mudado o direcionamento dele, até as pessoas que o compõe, e aí, tivemos a oportunidade de nos relacionar de forma mais próxima. E aí, tive, né, o convite só senhor secretário. Como até 2012, eu tinha possibilidade de aposentar, então eu poderia ou sair na Fabet, ou me manter na Fabet, ou me aposentar. Ai, com o convite, né, até realmente, eu tava pensando em voltar para a sala de aula, e com esse convite do seu Girardi, então, direcionei para a Secretaria de Educação e não me aposentar.
P/1 – Tá certo. E pessoalmente, o quê te levou a aceitar o convite da Secretaria de Educação?
R – O desafio. O desafio, eu vejo que além do desafio, e é isso que eu espero que com o tempo eu não perca a confiança e a credibilidade das pessoas em relação ao meu nome, porque durante o tempo, foi o processo de cogitar a Samira, como secretária de educação. E durante esse período, eu tive mais palavras de apoio e incentivo, do que pessoas me dizendo: “Não, não pegue”, então eu fui amadurecendo a ideia, né, de ser a secretaria de educação, mas claro, né, que dependia mais de uma decisão política, do que da minha decisão, né? E realmente, isso de aceitar o desafio, e pela experiência, pelo amor, pela dedicação que eu tenho pela educação e pelo município, que me levou a aceitar, sabendo que os desafios e as dificuldades são muito grandes, mas disposta também a resolvê-los da melhor forma possível.
P/1 – Legal. E como você avalia a educação aqui no município, hoje, assim?
R – Como muito boa! Assim, a gente… só vivendo aqui na nossa… no nosso município e tendo acesso a tudo o que é desenvolvido na nossa rede, em relação às escolas, às creches, né, que a gente denomina Cmeis e o que a gente tem de conquistas, a gente passa a ver que é muito bom, indo mais pro ótimo, a gente só não vê ótimo porque sempre tem algumas situações que a gente precisa melhorá-las, mas que a rede, ela se encontra muito bem estruturada em tudo, assim, que depende, né, de apoio e de suporte, para que aconteça um bom processo de ensino e aprendizagem dentro de cada unidade. Então, nós temos aqui na secretaria, eu não sei se eu posso ir citando agora, Gustavo…
P/1 – Pode, pode ficar à vontade.
R – Mas a gente tem uma estrutura de uma equipe muito bem constituída, que domina bem todos os programas federais, podendo atender com índices, né, até pra gente também saber o quê que podemos usufruir do poder federal, pra poder trazer para o nosso município. Temos uma equipe de formação, constituída por cinco… não, sete, sete profissionais muito bem credenciadas na parte técnica, e que elas assumem o papel de fazer uma formação com todos os professores da rede, que são mais ou menos, uns 600 professores, 640 professores que a gente tem. Então, tem todo um planejamento pra isso, além daquela questão do transporte, muito bem organizado, né, bem acompanhado, alimentação, a merenda para todos os alunos, seja ele da educação infantil até o nono ano, nós temos a merenda para todos, três refeições durante o dia. Então, o material escolar também nós temos, que atende principalmente e primeiramente os alunos carentes economicamente, mas quando possível, se estende aos demais. Então, nesse sentido, eu vejo que nós temos uma boa estrutura de ensino. Os nossos índices de atribuições, né, de… me fugiu a palavra, daqui a pouco vem a palavra, mas os nossos índices de qualidade na educação também dentro do que a gente tem como meta, eles superam a cada ano, a meta que a gente se dispõe a atingir. Então, não dá para se dizer que é muito boa, mas satisfazer a todos, né, Gustavo, não é sempre que a gente consegue, né? E eu acho que até isso motiva a gente a querer cada vez melhores.
P/1 – Agora, se fosse apresentar qual é a função de uma secretaria de educação, né, principal?
R – Eu hoje, eu percebo nela, bem o termo secretaria, como tem o termo secretaria em cada escola, a secretaria de educação do município é a grande secretaria de todas as escolas. Então, a gente serve como um apoio, um apoio pra questão pedagógica da escola, quando se refere a alguns encaminhamentos de procedimentos de ensino, aprendizagens, docentes, passa por essa grande secretaria. Atende também toda a questão mais burocrática dessas unidades escolares, né, um apoio burocrático também e um apoio para as coisas que são extraescolares. Então, a questão da alimentação, transporte, tecnologia, que a gente tem até o núcleo de tecnologia, né, que a gente tem como um suporte e o apoio para as escolas, então também serve para esses programas de apoio e além do mais, a gente faz também o papel, às vezes, de orientadores educacionais a partir da nossa secretaria. Então, quando acontece algum conflito de… grandes conflitos de indisciplina dentro da escola, de violência, algum conflito de família com a escola ou da escola com a família, nós também interferimos dando as orientações e dando um apoio na mediação desse problema. E também, quando acontece algum conflito maior que foge da escola em relação a conflitos de pessoas dentro da escola, nós servimos de apoio também, né? Então, eu vejo que é uma grande secretária que vai dar um suporte técnico, pedagógico, jurídico, né, para as unidades escolares.
P/1 – Legal. E Samira, você já contou do grupo de formação, que acabou continuando, né, qual é o papel do grupo de formação?
R – É a formação continuada dos professores da nossa rede, no sentido assim, do que vem, da necessidade das próprias escolas. Então, as nossas professoras formadoras, elas passam por um momento, onde elas têm uma proximidade com as escolas, com os gestores e com os professores, para entender qual é a maior necessidade dos temas a serem abordados na formação. A partir disso, elas têm um grande planejamento, né, que está sendo implantado pra atender a necessidade de orientação e de formação pedagógica da escola. Além de ter um público ou professor, nós também temos dentro da formação, um trabalho focado para o gestor. Então, todos os profissionais que trabalham dentro da escola, passam pelo momento de formação junto com as nossa formadoras. Então, tem um cronograma, inclusive, agora, nós iniciamos o ano com mais falando da CONAE, que é o que as escolas, hoje, precisam desenvolver, né, proposições e discussões relacionadas a CONAE, pensando para 2014 a nível nacional, mas temos o compromisso de pensar dentro do município, então começaram com isso. Mas então, nós temos orientações metodológicas e teóricas, relacionadas à questão pedagógica e de gestão, que envolve também o professor de informática em determinado momento, o secretário da escola, o orientador educacional também passa por essa formação e aproximadamente 20 horas de formação com esse professor, né, que esse grupo tem, usando os diferentes espaços. Além disso, nós também incentivamos muito os professores a participarem dos congressos, seminários, outros espaços de discussão e de formação do professor, então, dentro do possível, a gente também proporciona momento de participação de grandes congressos, né, sejam eles no município, ou fora do município, fazem parte da formação.
P/1 – E aí, Samira eu vou te perguntar agora um pouco mais do programa “Professores em Rede”, né, primeiro, o que você pode falar pra gente sobre o programa “Professores em Rede”, o quê que é esse programa? Esse programa que vai continuar.
R – Bom, nós sabemos que teve toda uma parceria, né, com o Instituto Jaborandi, com a BRF, então teve todo um trabalho que foi desenvolvido a partir das orientações, né, do instituto e nós tivemos professores inscritos e que participaram regularmente dessa formação. Nós também temos uma equipe, constituída assim, por três profissionais, que estão… que fazem essa formação a partir das orientações que receberam e pra esse ano, então, a responsabilidade da formação em rede passa a ser maior no município. Então, dentro da contrapartida, né, nós recebemos esse programa e aí, temos as mesmas profissionais dando continuidade a uma formação do professor, que vai utilizar as tecnologias, as diferentes tecnologias em especial, as de computador, né, da informática, como ferramenta metodológica do processo de ensino e aprendizagem. Então, nós temos alguns professores que, de forma espontânea, estão pedindo para ter continuidade, né, de formações junto ao nosso núcleo, com essas profissionais que nós temos preparadas para trabalhar a ferramenta tecnológica, como ferramenta didático pedagógico. Então, a gente tem esse trabalho acontecendo no nosso núcleo, vários grupos que usam da sua hora atividade, que é quando eles não estão em sala de aula, pra poder se agendar e ir para o nosso núcleo e entender melhor as ferramentas que existem dentro do computador, para depois, poder ir para a sala de aula e para os nossos laboratórios de informática, que temos em todas as escolas e fazer da aula, e do processo de ensino e aprendizagem, a partir da tecnologia, junto com a tecnologia.
P/1 – Bacana. E você mencionou que o projeto surge dessa parceria, né, público e privado. Como você analisa essa parceria entre setores diferentes para construção?
R – Olha, não imagino outra forma de desenvolvimento, a não ser via parcerias, né, com os mesmos objetivos. Eu vejo que assim, as parcerias pública e privada precisam ocorrer, mas com o mesmo objetivo, né, direcionados para os mesmos objetivos. Então, esse exemplo, que a gente teve, da parceria com a BRF e Instituto Jaborandi é um exemplo fabuloso, né, porque ao mesmo tempo que se construiu uma proposta juntos, mas tendo uma entidade bem qualificada para passar as orientações e a gente ter um público, os profissionais e a continuidade desse processo. Então, a questão da parceria é o desenvolvimento futuro, né, é o desenvolvimento futuro.
P/1 – E aí, você comentou que a contrapartida hoje é o município estar assumindo, de alguma forma, o programa, né? Por quê que você acha que essa contrapartida é importante, o quê que leva o município acabar assumindo o programa?
R – Porque o quê que eu percebo agora? Nós temos a oportunidade de caracterizar essa formação com a nossa realidade, né, porque, claro, vindo de uma proposta maior, a gente acaba vendo o geral. E agora vindo… tendo ela no nosso município, nós podemos focar para as especificidades do nosso município, né, para as necessidades específicas da nossa localidade, né?
P/1 – Bacana. Deixa eu te perguntar outra coisa, pra você, qual é o papel da tecnologia na educação hoje, o quê que a tecnologia agrega, como ela altera a educação, atua na educação?
R – O quê que a gente vê, né? Tanto professor, quanto aluno muito ligado na sua vida pessoal, com o seu celular, com TV, com computador, né, com os notebooks, com os tablets e isso no seu dia a dia. Como desconsiderar essa situação tão grandiosa que a tecnologia assumiu na vida de cada um de nós? Como desconsiderar isso em relação à educação e ao ensino? Não tem como. O quanto antes, nós conseguirmos utilizar desses recursos tecnológicos no processo de ensino e aprendizagem, antes teremos bons resultados, né? Só o quê que a gente vê, nós avançamos muito, só que ainda nós precisamos realmente achar uma metodologia de inserir a tecnologia mais forte dentro do ensino e na aprendizagem, como ferramenta de maior utilidade, mas pra isso, nós precisamos passar pela formação do professor. Então, ali também que a gente percebe que essa parceria do “Professores em Rede” é preparar cada vez mais o professor, pra que ele possa perceber a importância e a dimensão da qualidade da tecnologia na escola, na sala de aula.
P/1 – E que mudanças você avalia que a tecnologia trouxe pra educação?
R – Talvez… bom, uma das coisas é considerar que a educação não se fecha à realidade, não se fecha às conquistas da sociedade, não se fecha. Ela tá trazendo os avanços tecnológicos de uma sociedade do mercado de trabalho a seu benefício também dentro da escola. Outra, que nós precisamos pros alunos da nossa rede, oportunizar os diferentes recursos e os mais modernos e os melhores que se tem. Então, é trazer para a escola os recursos para toda, todos os alunos de forma igual, né? isso é importante. Além do que, a agilidade na pesquisa, né, a parte dinâmica, que o lado tecnológico traz pra questão da aprendizagem, não tornando ela tão monótona, também mostrando para o aluno, que a interação tecnologia, aluno e professor pode ser melhores e melhor aproveitados. A comunicação aluno/professor também se torna melhor, né, porque eles falam a mesma linguagem, que são gerações diferentes, mas falando a mesma linguagem. Então, é questão até de nós professores, nos adaptarmos à realidade da nova geração.
P/1 – Bacana. Então agora Samira, eu queria voltar um pouco para a tua vida pessoal, você já me contou que acabou casando com um brasileiro, com uma cultura diferente. Como é que foi isso, assim, como é que foi esse casamento? Como é que foi essa fase da sua vida?
R – Não tinha que ser diferente de tudo o que eu conquistei (risos), tive que brigar. Eu tive que também convencer o meu pai, né, de que seria bom eu namorar, que não era ruim eu namorar com um brasileiro (risos) e casar com um brasileiro. Houveram resistências, muito grandes, da família, não só do pai, mas meus irmãos, a mãe, né? Mas aí, quando se percebe, né, que a persistência, existe um sentimento, pessoas ajudando, né, fazendo a mediação, como aconteceu comigo, ai claro, teve uma aceitação, mas uma aceitação da situação, em nome do bom relacionamento, mas não porque era o que o meu pai queria. Mas depois, com o tempo, também houve uma aceitação por conhecer melhor o meu marido, ver que a gente se dá muito bem, que um faz o outro feliz, né, constituímos uma família, trabalhamos juntos em prol, né, da união, do bom relacionamento, então, com o tempo, houve uma aceitação. Mas no inicio, tive que defender a ideia e brigar por ela (risos).
P/1 – E a Samira como mãe? Como é que é ser mãe, Samira?
R – Ah Gustavo, é bem… eu tô… é que como tu não me conhece, não conhece muito a minha história (risos). Então, Gustavo, eu tive dois meninos, o Gabriel e o Samuel. O Gabriel, com 14 anos, faleceu. Então, essa foi uma coisa muito triste (choro), né, pra mim e pra toda cidade, foi uma morte bem trágica. Então isso abalou muito a minha estrutura, né, como mãe e aí, eu vejo que o que me deu um suporte muito grande foram as pessoas, né, a família, as pessoas, os amigos, a confiança em Deus e o compromisso assim, com o outro filho, né, eu parti um filho, mas eu tenho outro filho, e a vida profissional. Eu vejo que o trabalho também me ajudou muito no momento do falecimento desse meu filho. Hoje, eu tenho o Samuel, que tá com 16 anos. Então, pra mim, ele é o meu sentido de vida, ele é o meu sentido de vida, meu marido também é, minha família também é, mas principalmente o meu filho é o meu sentido de vida, mas adolescente. Ele é adolescente e é o meu desafio de vida também, como mãe, no sentido do meu bom relacionamento com o filho adolescente, que é diferente de um aluno adolescente. O alunos adolescente, a gente consegue, às vezes, muito mais coisas do que com o filho adolescente, mas é o meu desafio, meu sentido de vida, né, o meu lado de mãe sendo construído e sendo desenvolvido e aperfeiçoado, sendo mãe, agora é a fase de ser mãe de adolescente, né, inclusive agora, daqui a pouquinho eu tenho que ir lá pra escola pra ver porquê que a escola tá me chamando (risos), mas tem esse sentido.
P/1 – Quais as coisas mais importantes pra você hoje, Samira?
R – A família, a família e outra coisa que eu vejo assim, até pela experiência, é o viver bem dia a dia. Porque a gente sabe que o nosso tempo de vida é limitado, né, não sabemos quando a morte vem, mas ela vem. E o quê é que conforta o momento da morte? É a forma como você viveu. Se você viveu bem, fez tudo que era o certo, não deixou nada pendente, quando chega a hora, né, de tu deparar com a partida de alguém ou alguém partir, isso vai te servir de conforto. Então, eu vejo assim, realmente, a forma como você vive com as pessoas é o que te faz ser melhor ou mais feliz ou mais infeliz. Por isso que eu vejo que os conflitos, eles fazem parte da vida, é a forma como a gente resolve os conflitos que é o diferencial. Então, por isso que eu penso sabe, que talvez eu estando, hoje, à frente da educação do nosso município, sabendo que é um município grande, com grandes conquistas, mas com grandes desafios, que eu acho que é uma forma de contribuir na melhoria e nos encaminhamentos dos conflitos durante esse período, né, da melhor forma possível, o mais humano possível, né?
P/1 – Qual o seu sonho hoje?
R – O meu sonho? Meu desejo maior é… bom, em relação a família é constituir, né, e manter uma família unida e feliz junta, né, da melhor forma. A outra, em relação a vida profissional, é realmente poder contribuir com o município em mais avanços e a mesma confiança e credibilidade que eu estou recebendo agora no início do mandato, que eu tenha, quando encerrar, né, o meu mandato aqui, que as pessoas continuem tendo essa imagem, que eu contribui, né, que a mesma confiança e credibilidade que eu tenho iniciado aqui a carreira, que eu termine com ela.
P/1 – E como é que foi pra você contar um pouquinho da sua história, como é que você se sentiu?
R – É reviver, né? Contar as nossas histórias é reviver os bons momentos, né, os momentos tristes, difíceis, mas eu tenho orgulho a minha história, foi uma história assim… claro, eu tive muitos privilégios em muitas coisas, muitas oportunidades que eu aproveitei, oportunidades que eu também não aproveitei, mas eu não me arrependo de nada, e sou feliz e sou orgulhosa da minha história e do que eu tenho. Então, é reviver, né? Contar a história é reviver os momentos bons e os momentos difíceis.
P/1 – Tá certo Samira, eu então agradeço a sua entrevista e a sua atenção.
R – Imagina, foi muito tranquilo. Obrigada.
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