Senti uma emoção muito forte quando segurei o Lucas, um menino especial de cinco anos, em junho de 2013. Ele me olhou nos olhos profundamente e sorriu. Era a primeira criança com paralisia cerebral de quem cuidava. O Lucas era tão inteligente e alegre quanto qualquer guri da idade dele, mas estava preso em um corpo que não respondia aos seus comandos. Aquilo me comoveu de tal maneira que não aguentei ficar de braços cruzados. Criei um macacão especial para que o baixinho pudesse brincar com os amiguinhos da escola! Conheci o Lucas quando passei num concurso para auxiliar de inclusão numa escola.
Cuidaria exclusivamente dele, a única criança especial do pré-primário. Ele não sabia mexer as pernas e os braços e se locomovia numa cadeira de rodas. Ficava todo compenetrado na aula. Aí, quando chegava o recreio, ele olhava as crianças e fazia uma carinha como quem diz: “Vamos?! Eu também quero brincar!”. Manteiga derretida que sou, não resistia àquele olhar. Pegava o Lucas no colo, a gente sentava no balanço e se divertia à beça. Balançar era a atividade preferida dele. Só perdia pra brincar com bola.
Aí, colocava meus braços por baixo dos dele e o segurava em pé para que ele pudesse encostar a perninha na bola. Só que, como ficava curvada nas brincadeiras, a coluna começou a doer e precisei de antiinflamatórios pesados. Sabia que não poderia continuar desse jeito. Fiquei desolada. Mas ainda não estava pronta para entregar os pontos. Nas férias, decidi usar meu tempo livre para encontrar uma solução. Queria alguma engenhoca que transformasse meu corpo num suporte para mantê-lo em pé. Sem sucesso na busca, resolvi dar vida à minha ideia sozinha. Botei a imagem que tinha imaginado no papel e usei meus conhecimentos como costureira profissional para produzir o protótipo.
O suporte seria compostode duas peças: uma espécie de cinto que eu vestiria e um macacão para o Lucas. As duas seriam conectadas e funcionariam...
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Senti uma emoção muito forte quando segurei o Lucas, um menino especial de cinco anos, em junho de 2013. Ele me olhou nos olhos profundamente e sorriu. Era a primeira criança com paralisia cerebral de quem cuidava. O Lucas era tão inteligente e alegre quanto qualquer guri da idade dele, mas estava preso em um corpo que não respondia aos seus comandos. Aquilo me comoveu de tal maneira que não aguentei ficar de braços cruzados. Criei um macacão especial para que o baixinho pudesse brincar com os amiguinhos da escola! Conheci o Lucas quando passei num concurso para auxiliar de inclusão numa escola.
Cuidaria exclusivamente dele, a única criança especial do pré-primário. Ele não sabia mexer as pernas e os braços e se locomovia numa cadeira de rodas. Ficava todo compenetrado na aula. Aí, quando chegava o recreio, ele olhava as crianças e fazia uma carinha como quem diz: “Vamos?! Eu também quero brincar!”. Manteiga derretida que sou, não resistia àquele olhar. Pegava o Lucas no colo, a gente sentava no balanço e se divertia à beça. Balançar era a atividade preferida dele. Só perdia pra brincar com bola.
Aí, colocava meus braços por baixo dos dele e o segurava em pé para que ele pudesse encostar a perninha na bola. Só que, como ficava curvada nas brincadeiras, a coluna começou a doer e precisei de antiinflamatórios pesados. Sabia que não poderia continuar desse jeito. Fiquei desolada. Mas ainda não estava pronta para entregar os pontos. Nas férias, decidi usar meu tempo livre para encontrar uma solução. Queria alguma engenhoca que transformasse meu corpo num suporte para mantê-lo em pé. Sem sucesso na busca, resolvi dar vida à minha ideia sozinha. Botei a imagem que tinha imaginado no papel e usei meus conhecimentos como costureira profissional para produzir o protótipo.
O suporte seria compostode duas peças: uma espécie de cinto que eu vestiria e um macacão para o Lucas. As duas seriam conectadas e funcionariam como uma marionete: os movimentos que um fizesse, o outro faria também. Para esse primeiro modelo, usei calças jeans velhas para as estruturas e garrafas plásticas para as tiras de sustentação. Fiz tudo em casa. Antes mesmo de as férias acabarem, falei com a fisioterapeuta da escola e mostrei minha criação. Ela amou e deu dicas de como deixar o macacão mais firme e apontou os lugares certos para posicionar as tiras de apoio nas minhas costas. Quando estava no terceiro protótipo, comuniquei a escola e eles me deram ajuda de custo de R$ 40. Aí, meu produto foi aprovado pela médica do Lucas. Coloquei o suporte à prova assim que as aulas voltaram. Foi incrível!
O Lucas nunca mais fez cara triste. Ele ficou ainda mais alegre e, segundo a fisioterapeuta, terá benefícios físicos com o tempo. As brincadeiras estimulam os braços, pernas e a conversação. Por isso, as chances de ele vir a desenvolver suas capacidades motoras são muito maiores. Que felicidade! Já tem dois meses que não trabalho mais com o Lucas, mas continuamos amigos. Ele segue usando o macacão em casa e na escola. A presença do Lucas mudou muito a minha vida.
Comecei a trabalhar na produção e venda de macacões para crianças com paralisia e sou procurada pelo Brasil todo. Levo um dia e meio para fazer cada suporte, agora com materiais especiais. No mês passado, vendi sete conjuntos a R$ 350 cada! Já virei até Microempreendedora Individual (MEI). A situação não poderia ser melhor: além de ter melhorado a vida de uma criança, meu trabalho novo me permite multiplicar essa boa ação e ajudar muito mais gente!
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