MEMORIAL
Por: Valmiram Cardoso Sobreira
e-mail: almiramescola@gmail.com
1.1. Trajetória histórica para um camponês e militante social
Sou filho de camponeses Sem Terra que migraram do Município de Rio Grande do Piauí para o Município de Canto do Buriti - PI à procura de terra para viver e trabalhar.
Nasci e me criei em uma comunidade Rural. Minha infância foi própria das crianças camponesas do meu tempo: entre o trabalho na roça com a minha família, e as brincadeiras, banhos nos açudes e montaria em lombos dos animais.
Assisti à televisão pela 1ª vez no ano 1985, ano em que a música de Alceu Valência - Morena Tropicana estava no auge do sucesso. Nosso meio de comunicação era o rádio, um velho campeão cinco estrelas que nos trazia as notícias e também entretenimento nas noites mais escuras, porque nas enluaradas, claras e de fogueiras eram cheias de diversões e brincadeiras.
Minha educação foi centrada em valores como humanidade, honestidade, humildade, respeito ao outro e trabalho, sendo o elemento fundamental.
Meu contato inicial com as letras foi sentado em banco de madeira na casa da professora primária Guiomar, que servia de escola para as crianças das comunidades do entorno. A escola ficava distante da minha casa 6 km. De tanto levar palmadas nas mãos com uma velha palmatória feita de um pedaço de Violeta, árvore bastante conhecida na região, aprendê as letras do antigo ABC e posteriormente as sílabas e, finalmente, listas de palavras “simples”, depois mais “complexas”. Da mesma forma aprendi também à fazer operações simples de matemática e a ler, o que na época chamava-se Texto Corrido, com a tomada de lição de um livro que era partilhado entre os colegas pois não tinha livros suficiente para todos. Lembro-me de que...
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Por: Valmiram Cardoso Sobreira
e-mail: almiramescola@gmail.com
1.1. Trajetória histórica para um camponês e militante social
Sou filho de camponeses Sem Terra que migraram do Município de Rio Grande do Piauí para o Município de Canto do Buriti - PI à procura de terra para viver e trabalhar.
Nasci e me criei em uma comunidade Rural. Minha infância foi própria das crianças camponesas do meu tempo: entre o trabalho na roça com a minha família, e as brincadeiras, banhos nos açudes e montaria em lombos dos animais.
Assisti à televisão pela 1ª vez no ano 1985, ano em que a música de Alceu Valência - Morena Tropicana estava no auge do sucesso. Nosso meio de comunicação era o rádio, um velho campeão cinco estrelas que nos trazia as notícias e também entretenimento nas noites mais escuras, porque nas enluaradas, claras e de fogueiras eram cheias de diversões e brincadeiras.
Minha educação foi centrada em valores como humanidade, honestidade, humildade, respeito ao outro e trabalho, sendo o elemento fundamental.
Meu contato inicial com as letras foi sentado em banco de madeira na casa da professora primária Guiomar, que servia de escola para as crianças das comunidades do entorno. A escola ficava distante da minha casa 6 km. De tanto levar palmadas nas mãos com uma velha palmatória feita de um pedaço de Violeta, árvore bastante conhecida na região, aprendê as letras do antigo ABC e posteriormente as sílabas e, finalmente, listas de palavras “simples”, depois mais “complexas”. Da mesma forma aprendi também à fazer operações simples de matemática e a ler, o que na época chamava-se Texto Corrido, com a tomada de lição de um livro que era partilhado entre os colegas pois não tinha livros suficiente para todos. Lembro-me de que decorava algumas lições que tinha como titulo Eva viu a Uva. Eva eu sabia que era uma menina, já a uva, não fazia a menor idéia do que seria, já que na região não se comercializava a fruta.
A escola com todas as suas deficiências (que não notávamos na época, pois não conhecíamos outra), era para mim uma atividade divertida, pois parte do tempo ficava na sala e a outra parte, a pedido da professora, ia buscar os animais da sua família na roça.
Aos 13 anos de idade com a 3ª Séria do Ensino Fundamental, parei de estudar, pois a professora não podia mais lecionar para a minha turma, devido ela ter apenas a 4ª Série Fundamental. Dois anos depois o meu pai me matriculou em uma outra escola no Povoado Fazenda Nova Município de Canto do Buriti – PI, onde estudei a 4ª Seria Primária e morava com os meus avós paternos. Nesta escola tudo era divertido: os colegas as professoras, a merenda. Só era triste em dias de festas comemorativas do dia das Mães e dos Pais, pois sentia muita saudade da minha família.
Terminei o ano letivo, retornei para a minha comunidade e logo fui trabalhar como bóia fria em uma Fazenda de produção de suco de Caju e Cajuína. Nesse trabalho, conheci a truculência dos donos dos meios de produção, quando realizamos uma paralisação em protesto por trabalhar das 7:00hs às 23:00hs sem receber Horas extras. Mesmo não tendo consciência do que estava fazendo, eu, e os outros colegas fomos mandados embora sem o pagamento ainda fomos proibidos de entrar na fazenda. Para os colegas, parte deles meus primos, a proibição não afetava nada mais do que o fato de não poderem trabalhar mais na Fazenda. Já no meu caso, isso tinha uma implicância direta, devido a Fazenda ser caminho para a casa da minha Namorada, hoje minha esposa. Mesmo com as ameaças, eu continuava passando pela Fazenda que posteriormente mudou de gerente e a proibição deixou de existir.
No ano de 1994, aos 19 anos de idade me casei e fui morar no Povoado Fazenda Nova. Foi morando nesta comunidade que tive os primeiros contatos com a luta pela Terra. Neste ano o Meu Sogro seu Joaquim era Diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Canto do Buriti e Estava iniciando um trabalho de base junto com o MST para ocupar duas Fazendas desativadas existente no Município. Eu, recém casado, sem terra, fui convidado para uma reunião para tratar do assunto. De pronto me coloquei a disposição para ir acampar e no dia 13 de Junho de 1995, as 4:00h chegamos na Fazenda Industria Nordestina de Carnes – INCA que ficava a 5 km da comunidade.
Em setembro do mesmo ano, fui juntamente com minha esposa fazer um curso de formação de militantes no Estado do Maranhão. O curso chamado prolongado teve a duração de três meses e foi no curso que tive um aprofundamento sobre a história do MST e da luta pela Reforma Agrária. Durante o curso, além da formação política, tivemos aulas de Matemática, Ciência, Português, História, Literatura, Geografia e Espanhol em nível de Ensino Fundamental. Ao final do curso, prestei exame de supletivo e fui reprovada na disciplina de Inglês, cuja matéria não houve aula.
Retornando ao estado do Piauí, fui eleito para a Direção Estadual do MST e passei atuar no setor de Educação, acompanhando as poucas mais importantes atividades que o MST desenvolvia neste campo.
Em 1997, saio a desapropriação da Fazenda Malhada e eu fui assentado. No mesmo ano, ainda como Dirigente Estadual do MST, fui indicado para coordenar as atividades do Setor de Produção, atuando especificamente nos assentamentos da Região Sul do Estado.
No final de 1997 e inicio de 1998, assumi a coordenação do setor de Formação do Movimento e fui fazer um curso de Formação de Formadores no Centro de Formação Paulo Freire em Caruaru – PE. O curso durou dois anos, dividido em 4 etapas. Essa dinâmica permitiu conciliar estudo e militância política. Neste mesmo ano fui à Bolívia participar das atividades entorno dos 30 anos do assassinato do Che Guevara em Iguera e Vale Grade- Bolívia , representando o MST, a convite da Fundação Ernesto Che Guevara da Bolívia.
Em 1999, fui indicado para fazer uma viagem internacional representando o MST, na Caravana Intercontinental – ICC, que percorreu alguns Países Europeus como: França, Espanha, Portugal, Suíça, Itália e Alemanha. A ICC teve como objetivo, denunciar as mazelas do Sistema Capitalista e a Taxação das Grandes Fortunas.
Em 2000, contribui na Coordenação Política e Pedagógica do Curso Prolongado, realizado no Assentamento Vila Diamante- Igarapé do Meio – MA. Esse curso teve duração de 90 dias e contou com a participação de 80 Jovens e Adultos que durante o curso, vivenciávamos a formação política.
Em 2001 e 2002, Coordenei duas turmas do Curso Prolongado, realizado no Assentamento Novo Horizonte, Município de Tururu – Ceará, ocasião em que terminei o Ensino Médio. Neste mesmo período, ajudei a Coordenar a 1ª e 2ª Turma do Curso Sobre Realidade Brasileira para Jovens do Meio Rural, realizado na UNICAMP – Cidade de Campinas – SP, com duração de 10 dias cada.
Em 2003, ajudei a Coordenar a 3ª Turma do Curso Sobre Realidade Brasileira para Jovens do Meio Rural - UNICAMP . Nesse mesmo ano, participei das atividades em torno do assassinato de Salvador Allender no Chile, a convite da Associação das Mulheres produtoras do Chile – AMAPUT.
Em 2004, fiz um Curso de Extensão Universitária sobre Realidade Brasileira, a partir dos Grandes Pensadores Brasileiros na Universidade Federal do Maranhão – UFMA. O curso durou dois anos e foi dividido em 4 etapas de 20 dias cada. Éramos cerca de 50 Estudantes de 04 Estados (MA, PA, PI, TO). Na oportunidade, estudávamos parte da obra de pensadores como Celso Furtado, Manoel Correa de Andrade, Darci Ribeiro, Caio Prado Jr, Chico Buarque de Holanda, Florestan Fernandes, Gilberto Freira, Paulo Freire, Câmara Cascudo, Jacob Gorender, K. Marx, Che Guevara, Clóvis Moura, Cessa Benjamim, entre outros.
As leituras que fazia na Universidade, articuladas com a prática que desenvolvia na militância social provocavam-me dia após dia. Então procurei ler cada vez mais buscando novos fundamentos sobre sociedade, educação e as perspectivas para a vida em comunidade. Somando-se a isso, o fato de concomitante ao trabalho de formador envolvido nos movimentos sociais e populares da região contribuiu no sentido de ajudar-me a compreender esta realidade tão diversa e adversa. O pensamento de Paulo Freire traduz este meu processo: “o ser humano é um ser por natureza inacabado”. Foi essa trajetória dessa escola da vida, tão cheia de contradições, que aprendi com os desafios enfrentados, agarrar as possibilidades e a dar importância na realização do trabalho em coletividades. O trabalho desenvolvido nos movimentos sociais e populares contribuiu também para valorizar a vivência com a minha companheira de vida. A convivência com ela nesses últimos dezenove anos tem contribuído para a minha formação reafirmando e compartilhando uma nova visão de mundo, de ser humano e de sociedade. Dessa relação tivemos quatro filhos um menino e três meninas. Uma Deus levou e os que vivem com agente, são a nossa inspiração diária de amor, alegria e esperança.
Em 2005, prestei vestibular para o Curso de Licenciatura Plena em Ciências Agrárias na Universidade Federal da Paraíba – Campus de Bananeiras, no qual, fui classificado e cursei o curso. Forme-me em Outubro de 2008. Nesse mesmo ano, ainda em formação, fui indicado para Diretor da Unidade Escolar Alcides José de Moura, Pertencente à Rede Estadual de Ensino, na qual estou Diretor até os dias Atuais, contratado por vinte horas. Neste trabalho. Houve interrupções contratuais por períodos curtos.
Em 2009, prestei serviço a Prefeitura Municipal de Canto do Buriti – PI, como Acessor da Secretaria Municipal de Educação por contrato de prestação de Serviço de 20 horas. Nesse mesmo ano, contribui com o Curso Técnico em Agropecuária em Concomitância com o Ensino Médio – Turma José Pedro de Araújo, como Aluno Pesquisador. Ainda em 2009, fiz uma Especialização em Português e Literatura na Faculdade INTA. Esse curso durou dois anos e foi custeado pelos educandos/as do mesmo.
Em 2010, fui membro da Coordenação Pedagógica do Curso de Graduação e Artes Visuais e Músicas na Universidade Federal do Piauí – UFPI, na condição de Acompanhante Pedagógico do Curso. Esse curso resultou de uma parceria entre o Programa Nacional de Educação na Reforma agrária – PRONERA, UFPI e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST e foi a primeira Turma Nacional de Estudantes/as de Artes, oriundos dos Assentamentos da Reforma Agrária.
Em 2011, fui selecionado e participei do Curso de Especialização em Trabalho, Educação e Movimentos Sociais na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio – FIOCRUZ. Durante a os estudos as minhas indagações sobre o papel e a importância da educação nos seus mais diferentes aspectos para os povos do campo em especial os Trabalhadores Rurais Sem Terra se tornaram cada vez mais frequêntes e instigantes. Assim comecei algumas reflexões no campo da educação indagando a acerca da temática sobre a memória e a formação dos educadores do campo no Piauí. Com objetivo de aprofundamento de questões levantadas durante a realização de estudo para a produção de monografia de conclusão do curso.
Durante a realização dos estudos do curso, fui bolsista do Curso de Especialização em Educação contextualizada no Semiárido, na Perspectiva da Educação do Campo na UESPI – Pólo de São João do Piauí. Esse trabalho, ajudou-me a consolidar as indagações sobre o papel da educação no contexto da realidade do campo piauiense e suas múltiplas possibilidades.
Em 2013, fui contratado pela Caritas Diocesana de São Raimundo Nonato – PI, como assessor Técnico e prestei serviço como agente de campo, no Assentamento Fazenda Novo Zabelê, no âmbito das ações do Projeto Dom Helder Câmara - PDHC e nas ações do Programa Um Terra e Duas Águas – P1+2 da ASA/BRASIL. Nesse mesmo ano, iniciei estudos no Curso de Especialização em Gestão e Políticas Públicas no Semiárido, na Universidade Estadual do Piauí – Campus de São Raimundo Nonato – PI.
Foi através desses cursos que tomei consciência do quanto precisava estudar de forma mais sistematizada, o que o tinha feito na graduação. Concluí também que era apenas o início da minha formação profissional, e que a graduação não foi suficiente na minha preparação para assumir os tantos desafios que a função de educar exige. Sentia a responsabilidade e o compromisso ético com os sujeitos que comigo compartilhavam o ofício de estudar e educar. Foi também através das especializações que percebi as lacunas existentes que a escola básica e a graduação deixaram em minha formação, como enfatizei anteriormente. Essas reflexões sobre o papel da Escola na formação do sujeito foi tema de um dos trabalhos monográfico, como exigência para a conclusão do curso de especialização em Trabalho, Educação e Movimentos Sociais.
Esse curso ainda me permitiu entender como acontecem os processos de acumulação de riquezas, a precarização do trabalho, o desenvolvimento do modo de produção capitalista, assim como, o papel que teve os países da América Latina no processo de produção de riqueza. Foram leituras que contribuíram para entender esse processo e engrandecer e valorizar o senso crítica e a persistência militante de parte do povo brasileiro em tornar esse país em um lugar melhor e respeitado por todos/as.
Em 2013, fui convidado pelo Coletivo Nacional de Educação do MST para compor a Coordenação Pedagógica do Curso Nacional sobre Pedagogia do MST e Educação do Campo, para militantes que atuam nas escolas dos Assentamentos e Acampamentos como Educadores/as Gestores/as. No curso atuamos sistematicamente na formação política dos educadores e educadoras do campo. Como estava de férias do trabalho que exercia como Diretor da Unidade Escolar Alcides José de Moura – Assentamento Malhada, aceitei e entende que ali estava a oportunidade de retribuir tudo que o MST, já me oportunizou como militante social, como pessoa e como pai de família. O Movimento Sem Terra, como é nacionalmente conhecido, foi o sujeito coletivo e histórico que forjou parte dos saberes no labor da luta política diária. Os grupos com os quais trabalhei se caracterizam por serem pessoas cheias de esperança, que trazem uma prática real para ser refletida e vivenciada. Assim, a formação se fazia na ação, efetivando uma práxis educativa calcada na realidade.
Entre os anos 2014 e 2016, colaborei com o Movimento de Educação de Base – MEB, como Técnico Pedagógico no Projeto Assentamentos: Territórios livre do Analfabetismo e em 2022 concluiu a Especialização em Tecnologia de Baixa Emissão Carbono pela UNIVASF – Campus de Juazeiro da Bahia – BA.
Na vida militante tive diversas dificuldades e no exercício da profissão também, sendo a rotina de gestar uma escola, a mais desafiadora afinal, foram quase quinze anos no ofício de ser militante social e agora professor em um modelo de educação que busca ser do/e no campo e não uma educação tradicional. Vivi um conflito entre as marcas de uma escola convencional e as iniciativas da educação do campo especialmente por está lidando com professores que vieram de processo de formação em espaços tradicionais. Mas fomos visualizando e procurando refletir os aspectos comuns da atividade educativa (o ato de ensinar e aprender, a troca de experiências, de saberes, a socialização dos conhecimentos socialmente acumulados pela humanidade). Através deste trabalho fui pouco a pouco percebendo a complexidade que envolve o trabalho educativo e em especial, o do seio das organizações populares.
Aos poucos fui refletindo e buscando visualizar os aspectos comuns da atividade educativa nesses espaços, uma vez que os sujeitos com quem trabalhava tanto na escola pública quanto na comunidade eram filhos e filhas de assentados que, por conseguinte, é parte da classe trabalhadora, vítimas das diversas mazelas causadas pelo modo de produção capitalista. Para eles, ter acesso aos conhecimentos socialmente acumulados pela humanidade era fundamental para assim, construir a libertação da classe da qual faziam parte. Essas constatações deixaram-me entusiasmado e comprometido com a possibilidade de estar contribuindo com a construção de uma educação diferenciada, que leva em conta a realidade da classe trabalhadora, em especial, os trabalhadores do campo.
No desenvolvimento cotidiano das minhas atividades docentes como gestor de escola pública, a ausência da articulação acerca do ensino, pesquisa e extensão na minha formação profissional exigia da minha prática um esforço dobrado no sentido de dar conta de algo que possuía apenas idéias vagas. Nesse percurso fui percebendo a necessidade de voltar a estudar, agora num momento de maior maturidade, tentando um aprofundamento maior das questões que ora eram colocadas pela gestão no ensino médio, principalmente no que toca a necessidade de articular os conteúdos lecionados em sala de aula pelos educadores e a realidade da comunidade local nos seus diversos contextos.
Assim em 2015, foi aprovado para o mestrado do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Territorial na América Latina e Caribe – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP, (um programa articulado pelo professores/as ligados ao Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais – IPPRI, em parceria com a Escola Nacional Florestan Fernandes – ENFF e Via Campesina), concluído em 2019.
No curso de Mestrado busco oportunizar-me leituras de obras de autores, entre as quais destaco: Fernandes, Gliessman, Saner e Moiséis v. Balestro, AYERBE, L. Fernando (Org), CALDART, R. Salete, ESCOBAR Arturo, FERNANDES, Florestan, FURTADO, C., LEFF, E, MÉZAROS, PIZARRO, A. (Org), entre outras teorias do currículo e sugeridas pelos educadores das disciplinas.
O trabalho trata das práticas agroecológicas dos grupos de trabalho coletivo do Assentamento Malhada da região Centro sul do Piauí, no período de 2011 a 2016. Inicialmente faremos uma narrativa da trajetória histórica do MST no Centro Sul do Estado do Piauí, tendo como parâmetro as ocupações de terra e conquistas de assentamentos na região. Num segundo momento, busco registrar as práticas agroecológicas realizadas em prol de uma agricultura sustentável com qualidade, destacando avanços e retrocessos vividos pelos protagonistas, durante as lutas e conquistas obtidas.
Outros aspectos relevantes para a realização da pesquisa no mestrado são: a) a contribuição no debate acerca da questão da agroecologia e da Reforma Agrária no contexto da luta de classes na atualidade, como condição para o enfrentamento do capitalismo no campo neste início de século, como também sobre as ações de resistência propostas pelos Movimentos camponeses; b) a possibilidade de contribuir nas reflexões e, quem sabe, no aperfeiçoamento das experiências desenvolvidas pelo Movimento sociais no campo da educação ambiental; c) contribuir nos registros e sistematização das práticas agroecológicas de grupos coletivos ligados ao MST/PI nas diversas ações realizadas nas regiões Centro Sul onde o Movimento está organizado; d) ampliar a produção acadêmica sobre as experiências agroecológicas do MST no Estado da Piauí. Estas reflexões levaram-me a buscar ser um educando do Curso de Mestrado da UNESP, do Programa do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais – IPPRI, em parceria com a Escola Nacional Florestan Fernandes – ENFF e Via Campesina. Esse nosso desejo, sonho e luta encontra correspondência na problemática da qual emergiu nosso objeto de estudo, a saber, uma prática real, da qual sou partícipe como já enfatizado neste texto.
Como foi mencionada anteriormente, a minha trajetória no MST é marcada por uma efetiva participação, buscamos produzir um trabalho não apenas com qualidade militante, mas também acadêmica, sobretudo um trabalho que possa contribuir para impulsionar as lutas da classe trabalhadora do campo rumo à conquista da emancipação humana.
Fazendo um balanço da minha trajetória nesses anos de militância política, trabalho agrícola e envolvimento com o trabalho educativo em várias dimensões, posso afirmar que ainda permanecem tantos limites e desafios a serem superados, ainda que muitos foram superados tanto em nível coletivo quanto individual. Minha publicação ainda é quase inexistente, visto que durante os estudos que realizei anteriormente, não tenha me despertado para isso. Tenho consciência da importância de publicar artigos, mesmo que ainda para mim é um grande desafio, embora tenha clareza da sua importância para a vida acadêmica.
Concluindo, penso que o papel social do educador e da instituição pública é retornar para a coletividade todos os benefícios que ela lhe propiciou, é assim buscou se tornou Mestre em Geografia no Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP. Processo de qualificação profissional da educação e agricultor agroecológico certificado pela Associação dos Produtores (as) Agroecológicos (as) do Semiárido Piauiense (APASPI) com a qual amplia as responsabilidades, sociais, ambientais, políticas ética e culturais. As vivencias, a militância social e os conhecimentos socializados tornaram-me uma pessoa consciente de que toda a construção humanista munida de valores como companheirismo, solidariedade honestidade, respeito e tolerância, fazem parte do exercício permanente da cidadania, a qual é parte essencial da nossa busca na construção da emancipação humana da classe trabalhadora.
Atualmente, estou Presidente do Conselho Municipal de Educação de Canto do Buriti – PI, professor do Instituto Superior de Educação do Sul do Piauí – ISESPI, Consultor em Agricultura Resiliente ao Clima – ARC, Apicultor e Consultor Apícola.
Em fim, a trajetória descrita aqui, só foi possível graças ao apoio de uma coletividade de homens e mulheres da grande família MST. Pessoas comprometidas com a superação das desigualdades sociais em nosso País, as quais agradeço todos os dias de minha vida.
Valmiram Cardoso Sobreira
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