As marcas que a imigração deixa nos descendentes.
Meu nome é Maria Aparecida Bordon, nasci em Descalvado-SP-Brasil, em 09 de outubro de 1955, bisneta de imigrantes italianos.
Meu bisavô imigrou para o Brasil em 1892, vindo de uma pequena localidade: Passarela, fração de San Donà di Piave - na região do Vêneto, Itália.
Veio acompanhado da esposa, quatro filhos, a mãe, e mais um irmão, com a mulher e duas filhas.
Acredito baseado na pesquisas que fiz, que ele foi “forçado” pelas circunstâncias da época a deixar a Itália, como outros tantos milhares de compatriotas.
A vida foi muito difícil, veio para trabalhar em uma Cooperativa, na cidade de Botucatu, ficou lá dois anos, tempo em que perdeu dois filhos pequenos e a mãe.
Depois desse tempo, o irmão, voltou para a Itália com a família e ele mudou-se para Ribeirão Preto, na fazenda Dumont, pois o contrato acabou e acredito que foram dispensados, lá em Ribeirão Preto, ele teve mais três filhos , entre eles meu avô, que nasceu em 1895.
Ficou em Ribeirão Preto até aproximadamente em 1900, quando se mudou para a vizinha cidade de Descalvado, onde mais uma filha faleceu com 16 anos.
Em 1928, faleceu, um ano após, a minha bisavó também faleceu, estão sepultados em tumulo da família na cidade de Descalvado.
O tumulo no cemitério foi a única terra que teve no Brasil, isso só após a morte de meu avô em 1973, pois antes estavam sepultados em terra de Prefeitura.
Muito ligada à genealogia, resolvi pesquisar minhas origens, pois a minha criação apesar de ser bisneta de italiano, foi puramente italiana, visto que Descalvado tinha na sua maioria imigrantes italianos e os meus antecessores são todos de origem italiana.
Sempre fui apaixonada pela Itália, seus costumes, talvez pela quantidade de estórias que os meus avós me contavam.
Faço até curso de italiano para poder me comunicar melhor.
No...
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As marcas que a imigração deixa nos descendentes.
Meu nome é Maria Aparecida Bordon, nasci em Descalvado-SP-Brasil, em 09 de outubro de 1955, bisneta de imigrantes italianos.
Meu bisavô imigrou para o Brasil em 1892, vindo de uma pequena localidade: Passarela, fração de San Donà di Piave - na região do Vêneto, Itália.
Veio acompanhado da esposa, quatro filhos, a mãe, e mais um irmão, com a mulher e duas filhas.
Acredito baseado na pesquisas que fiz, que ele foi “forçado” pelas circunstâncias da época a deixar a Itália, como outros tantos milhares de compatriotas.
A vida foi muito difícil, veio para trabalhar em uma Cooperativa, na cidade de Botucatu, ficou lá dois anos, tempo em que perdeu dois filhos pequenos e a mãe.
Depois desse tempo, o irmão, voltou para a Itália com a família e ele mudou-se para Ribeirão Preto, na fazenda Dumont, pois o contrato acabou e acredito que foram dispensados, lá em Ribeirão Preto, ele teve mais três filhos , entre eles meu avô, que nasceu em 1895.
Ficou em Ribeirão Preto até aproximadamente em 1900, quando se mudou para a vizinha cidade de Descalvado, onde mais uma filha faleceu com 16 anos.
Em 1928, faleceu, um ano após, a minha bisavó também faleceu, estão sepultados em tumulo da família na cidade de Descalvado.
O tumulo no cemitério foi a única terra que teve no Brasil, isso só após a morte de meu avô em 1973, pois antes estavam sepultados em terra de Prefeitura.
Muito ligada à genealogia, resolvi pesquisar minhas origens, pois a minha criação apesar de ser bisneta de italiano, foi puramente italiana, visto que Descalvado tinha na sua maioria imigrantes italianos e os meus antecessores são todos de origem italiana.
Sempre fui apaixonada pela Itália, seus costumes, talvez pela quantidade de estórias que os meus avós me contavam.
Faço até curso de italiano para poder me comunicar melhor.
No mês de setembro, depois de muita pesquisa, economia, e obstinação, fui visitar a Itália, e também a cidade de San Donà de Piave.
Foi uma experiência inesquecível, ao pisar em solo italiano, me senti em casa, me identifiquei de pronto com as pessoas e locais, mas ai que me senti estranha.
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Sou italiana de sangue, mas não consigo me comunicar com meus pares.
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Sentindo-me como uma surda muda, apesar de entender muito bem o que as pessoas falavam.
Senti-me como um espírito invisível andando pelas ruas onde meu bisavô viveu.
Perguntei a mim mesmo, e a Deus, por quê?
Sou brasileira de nascimento, mas no meu corpo corre sangue italiano, não tenho direito de ser italiana?De pisar na minha terra, de entender o que dizem? Poder conversar normalmente com todos?contar a minha estória ?Porque devo ter sentimentos sofridos, se só sou uma vítima de uma imigração, acredito que forçada, pela época? Pois meu bisavô não deixaria uma terra tão linda e produtiva por motivo banal.
Fico meditando os sentimentos também de outras pessoas, e dos meus antepassados, a dor que sentiram de não poder voltar, de ver seus parentes voltando, e eles não, de sentir saudade da terra que nasceram, de ter que ficar em um país diverso do seu, da humilhação da exploração dos grandes fazendeiros, do medo de voltar por causa das guerras da Europa, de ouvir de seus pares, que os verdadeiros italianos ficaram e os covardes fugiram.
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O que podemos fazer para evitar que no futuro não aconteça mais?para que não possamos ter que também fazer como eles, abandonar onde vivemos por crise, descaso, e má administração?
Sinto-me marcada profundamente no coração pelo ato de meu bisavô, e acredito quer nunca serei brasileira e nem italiana, o que sou?
MARIA APARECIDA BORDON
FILHA DE PAULO BORDON E IDA AGOSTINHO
NETA DE LUIZ BORDON E ANGELA IPOLITO
BISNETA DE GIUSEPPE BORDON E MARIANA BOERETTO
TATARANETA DE MATTEO BORDON E ANGELA TREVISAN
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