Eu sou nordestino, nasci no Piauí. Cheguei a São Paulo com uma mala cheia de lembranças, das pessoas do nosso povoado, da nossa casa, dos animais que criávamos, incluindo a minha cabrita de estimação; a Tinha. O meu sotaque evidenciava que eu tinha nascido no nordeste, quando eu falava em sala de aula, muitas pessoas estranhavam, riam, até imitavam. Algumas vezes eu pronunciava algumas palavras que não costumam usar aqui e naturalmente não entendiam e eu comecei a me policiar, para não usar essas palavras.
Cheguei a achar que era errado o modo como eu falava e com o tempo eu fui perdendo o meu sotaque. Hoje, é uma das minhas saudades. A saudade me cutuca quando eu falo que sou nordestino e a pessoa com quem eu estou conversando diz que eu não pareço. Falar que eu sou nordestino, que eu nasci no Piauí, é uma forma de eu me reafirmar, de demonstrar o orgulho que eu tenho de ter nascido nessa região do país, de ter nascido em um estado onde muitas pessoas, e eu era uma delas, vive com pouco e são felizes.
O Piauí me ensinou a beleza da simplicidade, onde as pessoas trocam alimentos, onde existe uma agricultura familiar. Terminando o Ensino Fundamental e indo para o Ensino Médio, eu saí do Campo Limpo em São Paulo e fui morar em Francisco Morato, na Grande São Paulo. Nesta transição eu comecei a me interessar pela literatura brasileira, principalmente pelos livros que tratam do nordeste, como Vidas Secas do Graciliano Ramos, A Hora da Estrela da Clarice Lispector, Capitães da Areia e Grabriela: Cravo e Canela do Jorge Amado.
Músicas do Caetano Veloso, Maria Bethânia, Luiz Gonzaga, Elba Ramalho e Zé Ramalho. Obras como Retirantes do Cândido Portinari. Fiz várias pesquisas sobre o nordeste na literatura, música e artes visuais e me interessei bastante por essas histórias e o trabalho com a cultura, chegando ao ponto de procurar cursos ligados a memória e encontrei o Técnico em Museologia. Trabalhar com a memória é lidar constantemente...
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Eu sou nordestino, nasci no Piauí. Cheguei a São Paulo com uma mala cheia de lembranças, das pessoas do nosso povoado, da nossa casa, dos animais que criávamos, incluindo a minha cabrita de estimação; a Tinha. O meu sotaque evidenciava que eu tinha nascido no nordeste, quando eu falava em sala de aula, muitas pessoas estranhavam, riam, até imitavam. Algumas vezes eu pronunciava algumas palavras que não costumam usar aqui e naturalmente não entendiam e eu comecei a me policiar, para não usar essas palavras.
Cheguei a achar que era errado o modo como eu falava e com o tempo eu fui perdendo o meu sotaque. Hoje, é uma das minhas saudades. A saudade me cutuca quando eu falo que sou nordestino e a pessoa com quem eu estou conversando diz que eu não pareço. Falar que eu sou nordestino, que eu nasci no Piauí, é uma forma de eu me reafirmar, de demonstrar o orgulho que eu tenho de ter nascido nessa região do país, de ter nascido em um estado onde muitas pessoas, e eu era uma delas, vive com pouco e são felizes.
O Piauí me ensinou a beleza da simplicidade, onde as pessoas trocam alimentos, onde existe uma agricultura familiar. Terminando o Ensino Fundamental e indo para o Ensino Médio, eu saí do Campo Limpo em São Paulo e fui morar em Francisco Morato, na Grande São Paulo. Nesta transição eu comecei a me interessar pela literatura brasileira, principalmente pelos livros que tratam do nordeste, como Vidas Secas do Graciliano Ramos, A Hora da Estrela da Clarice Lispector, Capitães da Areia e Grabriela: Cravo e Canela do Jorge Amado.
Músicas do Caetano Veloso, Maria Bethânia, Luiz Gonzaga, Elba Ramalho e Zé Ramalho. Obras como Retirantes do Cândido Portinari. Fiz várias pesquisas sobre o nordeste na literatura, música e artes visuais e me interessei bastante por essas histórias e o trabalho com a cultura, chegando ao ponto de procurar cursos ligados a memória e encontrei o Técnico em Museologia. Trabalhar com a memória é lidar constantemente com a saudade, com momentos que foram marcantes, o contexto e a importância social.
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