IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Dan Guinsburg. Nascido em Taubaté, 19 de janeiro de 1958. FAMÍLIA O nome do meu pai era Israel Guinsburg, mas era conhecido aqui na cidade como Juca. E a minha mãe chamava-se Ella Guinsburg. Meu pai, nascido em 16 de janeiro de 1928, nascido em Taubaté. Minha mãe era polonesa, nasceu em 14 de setembro de 1932. Os dois já estão falecidos. Eu conheci meus dois avós. O pai da minha mãe chamava-se Emanuel Gricksmann e a minha avó, eu não conheci. Ela morreu na Polônia, na Segunda Guerra Mundial. Foi na época lá do nazismo. Chamava-se Eva Gricksmann. E o meu avô [paterno] chamava-se José Guinsburg, que eu cheguei a conhecê-lo. E a minha avó chamava-se Berta Guinsburg, que morreu antes de eu nascer. Minha mãe tem uma história que dá um livro: os meus avós eram muito ricos e conseguiram comprar a liberdade, ficaram escondidos durante a guerra inteira em um porão de uma casa. A minha mãe passou-se por católica, por cristã. Ficaram mudando de locais, e tal. A minha avó não acreditou, foi pega, foi morta. Ela tentou fugir, foi fuzilada quando tentou fugir de um caminhão, quando estava sendo levada lá para um campo de concentração. E se salvaram meu avô e minha mãe. De lá, terminou a guerra eles vieram para a França. Ficaram em Paris um ano, vendo como é que iam... Tentaram ir para os Estados Unidos - todo mundo tentava ir para os Estados Unidos - , não conseguiram. Ele descobriu que ele tinha um parente aqui no Rio de Janeiro e veio para o Brasil. E aí, por coincidências da vida, ele resolveu abrir um curtume em Taubaté. Tinha algumas pessoas aqui da..., alguns russos, ou gente da Polônia na época, 1947, 48. Aí minha mãe veio para cá, conheceu o meu pai e casaram-se. O meu pai já nasceu aqui. Meu avô e minha avó vieram da... Meu avô era romeno e minha avó era russa. E vieram para cá depois da Primeira Guerra. Se encontraram aqui no Brasil e se casaram aqui. Mas eles não se...
Continuar leituraIDENTIFICAÇÃO Meu nome é Dan Guinsburg. Nascido em Taubaté, 19 de janeiro de 1958. FAMÍLIA O nome do meu pai era Israel Guinsburg, mas era conhecido aqui na cidade como Juca. E a minha mãe chamava-se Ella Guinsburg. Meu pai, nascido em 16 de janeiro de 1928, nascido em Taubaté. Minha mãe era polonesa, nasceu em 14 de setembro de 1932. Os dois já estão falecidos. Eu conheci meus dois avós. O pai da minha mãe chamava-se Emanuel Gricksmann e a minha avó, eu não conheci. Ela morreu na Polônia, na Segunda Guerra Mundial. Foi na época lá do nazismo. Chamava-se Eva Gricksmann. E o meu avô [paterno] chamava-se José Guinsburg, que eu cheguei a conhecê-lo. E a minha avó chamava-se Berta Guinsburg, que morreu antes de eu nascer. Minha mãe tem uma história que dá um livro: os meus avós eram muito ricos e conseguiram comprar a liberdade, ficaram escondidos durante a guerra inteira em um porão de uma casa. A minha mãe passou-se por católica, por cristã. Ficaram mudando de locais, e tal. A minha avó não acreditou, foi pega, foi morta. Ela tentou fugir, foi fuzilada quando tentou fugir de um caminhão, quando estava sendo levada lá para um campo de concentração. E se salvaram meu avô e minha mãe. De lá, terminou a guerra eles vieram para a França. Ficaram em Paris um ano, vendo como é que iam... Tentaram ir para os Estados Unidos - todo mundo tentava ir para os Estados Unidos - , não conseguiram. Ele descobriu que ele tinha um parente aqui no Rio de Janeiro e veio para o Brasil. E aí, por coincidências da vida, ele resolveu abrir um curtume em Taubaté. Tinha algumas pessoas aqui da..., alguns russos, ou gente da Polônia na época, 1947, 48. Aí minha mãe veio para cá, conheceu o meu pai e casaram-se. O meu pai já nasceu aqui. Meu avô e minha avó vieram da... Meu avô era romeno e minha avó era russa. E vieram para cá depois da Primeira Guerra. Se encontraram aqui no Brasil e se casaram aqui. Mas eles não se conheciam. Meu avô desceu... Chegou em um navio no Rio de Janeiro. Depois acabou vindo para São Paulo, também - parece que tinha algum conhecido, sempre tinha algum parente, algum conhecido. Veio, acabou vindo para Taubaté, a minha avó já estava aqui. Aí se casaram, tiveram quatro filhos, e dentre eles o segundo foi o Juca. Nós estamos falando em 1900. O meu pai é de 28, eles [os avós] casaram em 26, chegaram aqui em 25, 24. IMIGRAÇÃO Tinha comunidade judaica em Taubaté. E era maior do que hoje. As pessoas vinham, acabavam ficando aqui na cidade. Era mais unido. O pessoal era unido porque não falavam a língua [portuguesa], falavam ou o iídiche ou o russo. No caso da minha mãe, o polonês. Eles iam para São Paulo, compravam roupa, tinham crédito lá na cidade. Vinham para cá, vendiam, é o que a minha avó fazia. Minha avó e meu avô. Meu avô era mais malandro. Quem gostava muito de trabalhar era a minha avó. A mãe do meu pai, a dona Berta. E meu pai ajudava. Meu pai, com dez anos ele punha uma mala nas costas e ia com ela trabalhar. Vender de porta em porta. Russo da prestação, famoso. Eles vendiam mais em Taubaté. Naquela época, o transporte era muito difícil, não era uma coisa muito simples: para ir para São Paulo só tinha o trem que demorava, sei lá, quatro horas para chegar a São Paulo. Então quando ia para São Paulo buscar mercadoria era uma coisa difícil. E como vendiam a prestação... Ele tinha uma bicicleta, que ele ia cobrar depois dos clientes, então acabavam vendendo mais em Taubaté. Eu não saberia dizer, mas acho que não vendiam fora da cidade. CIDADES Taubaté Existia um comércio regulamentado, mas era muito pequeno. Como hoje existe. Quer dizer, hoje o comércio mudou um pouquinho. O que a gente chama hoje de camelô - a pessoa que traz coisas lá do Paraguai, os importados e tal - na época isso aí era..., não existia. Ninguém sabia o que era isso. E existia esse comércio de roupa. Na verdade era basicamente roupa. Depois eles melhoraram, eles abriram uma espécie de loja dentro de casa. Foi um segundo passo. MORADIA Nessa época, eles conseguiram já comprar uma casa. Eles moravam de aluguel, mas conseguiram comprar uma casa aqui em Taubaté. Hoje é centro, bem centro da cidade. Chama rua Jacques Félix. Morei nessa casa. Nasci nessa casa, lá, quando as minhas tias foram embora. Porque as minhas tias moram... Uma morava em São Paulo e duas moravam no Rio de Janeiro. Elas casaram e se mudaram de Taubaté. A casa, quando meus avós faleceram, acabou ficando para o meu pai. Ele comprou a parte de todo mundo e a gente chegou a morar lá. É, era uma casa interessante. Porque não tinha garagem, aquela época não tinha carro, nada. Depois a gente acabou reformando para fazer a garagem, o local do carro. Tinha um bom quintal, tinha goiabeira, a gente tinha cachorro. Aquela coisa de cidade do interior. A loja dentro de casa era uma sala de visita. Foi construída uma loja. Não era da minha época, mas o pessoal comentava, e que era uma loja, uma loja de roupa. Vendia roupa, basicamente roupa feminina. Roupa pronta. Não tecidos, mais roupa pronta. E em seguida o negócio foi crescendo, a minha avó resolveu montar uma loja na cidade. Aí montou, chamava-se Modas Berta, tinha o nome dela. Pegaram a loja que era na casa e transformaram em uma loja. Isso ele tinha documento. Chegou, na época - como é que era? CGC [Cadastro Geral do Contribuinte], CNPJ [Cadastro Nacional da Pessoas Jurídica], não sei como é que era - , mas tinha contador, era uma empresa que funcionava direitinho. Era minha avó que cuidava. Meu pai já trabalhava, meu avô também trabalhava. Era uma coisa meio familiar, não tinha empregado, nada. Era uma loja pequena e os fregueses que estavam acostumados a receber a minha avó e meu pai em casa passaram a ir à loja comprar. Sempre a prestação, sempre pagando... o carnezinho, direitinho. Assim que funcionava. FAMÍLIA Meu pai estudava. Ele fez... Terminou o segundo grau, fez Escola do Comércio, na época. Seria hoje quase um contador, um técnico em contabilidade. E aí ele - já estamos falando em 1957, quando ele casa. Aí a minha avó faleceu, faleceu em 56, um ano depois ele casou. E nessa época ele resolve mudar de ramo. Ele achava que era muito pequena a loja. Na verdade teria que dar para uma nova família que ele estava constituindo e para meu avô, que ainda era vivo, e também era sócio. Resolveram abrir uma loja de móveis. Abriu uma loja de móveis, uma loja de móveis bastante grande para a época. Chamava-se GO móveis. Esses móveis vinham de todo o Brasil: tinha colchão Probel, Bergamo. E aí foi a época que eu nasci. Eu me lembro bastante bem da loja de móveis porque cheguei a trabalhar lá. Com onze anos... A minha mãe veio para Taubaté junto com meu avô, que resolveu montar um empreendimento aqui, um curtume. E aí eles se conheceram. Ela, na época tinha quinze para dezesseis anos, ele já estava com vinte anos. E começaram a namorar. Minha mãe era, dizem, que era muito bonita. O meu pai também era famoso aí na cidade. Namoraram, brigaram - essas coisas de sempre. O empreendimento do meu avô, o pai da minha mãe, não deu certo, e ele foi para São Paulo. Foi trabalhar lá em São Paulo como empregado em uma loja de roupa. Depois foi o braço direito do G.Aronson. Foi o gerentão lá do G.Aronson durante um bom tempo. Depois meu pai resolveu ir para lá, fizeram as pazes. E ele acabou trazendo ela de volta para Taubaté. Aí cassaram aqui. Aqui, no civil; casaram em São Paulo no religioso. E começou a família. Ele já tinha... Ele estava começando a loja de móveis dele. Essa loja chama GO móveis. Taubaté já era uma cidade grande, quer dizer, Taubaté na verdade foi a maior cidade do Vale. Nessa época era a maior cidade do Vale. Hoje perdeu esse nome para São José dos Campos, por N motivos que não vêm ao caso. Mas o comércio era bem pujante aqui na cidade. Tinham várias lojas de móveis, tinha vários amigos. Não tinha um diferencial, assim... Ninguém falava em marketing: vendia. As pessoas eram muito conhecidas. As pessoas, normalmente, sabiam quem era o pai, quem era a mãe, quem era o avô, quem era o bisavô. Então, de vez em quando, a gente sai na rua, vai a algum lugar, a pessoa chega e fala: “Ah, eu conheci sua mãe, conheci seu pai, sua avó, seu avô. Comprei roupa deles, comprei móveis”. Coisa que não existe mais, mas naquela época era uma coisa mais normal. As pessoas tinham essa preocupação, e a amizade acabava influenciando muito o comércio, a venda. Fui o primeiro que nasci, isso em 1958. Depois veio a minha irmã a Berta, em 1959 e o caçula, o caçulinha na época, já não é mais, o Ivan, em 64. INFÂNCIA Na minha infância, Taubaté era muito divertido. A cidade era pequena. A gente, na época... O meu pai sempre se preocupou muito com a educação. E ele tinha uma amiga - chamava Maude Rego Sá de Miranda, já falecida - , e ele queria que abrisse uma escola. Ela era uma pessoa muito capaz, uma pedagoga, fez N cursos, foi advogada. E na época que eu fiz sete anos, ela abriu uma escola. E eu fui o primeiro aluno da escola. Minha turma tinha seis alunos. Então eu fiz um primário com seis alunos. Na verdade com cinco, porque um acabou se mudando da cidade. Então eu praticamente tive um professor particular. E na época era um professor para cada matéria, era uma coisa completamente diferente para a época - estava acostumado a ter um professor que dava todas as matérias. Eu tinha um professor de português, uma professora de ciências, uma professora de matemática, e foi muito interessante. Depois a escola cresceu, depois a professora acabou falecendo e a escola acabou. Mas era legal, a gente jogava bola na rua, andava de bicicleta, ia para o clube, andava a pé - andava, não tinha essa preocupação com violência, não tinha absolutamente nada - , empinava pipa, tudo que tinha direito. Minha casa era uma casa normal, de classe média. A gente estudava, eu estudava, os outros estudavam. Era uma família unida, a gente batia muito papo e conversava bastante. Minha mãe trabalhava em casa. Ela era sócia do meu pai mas ia muito pouco na loja. O meu avô, o pai do meu pai, não gostava que ela fosse. Ele achava que lugar de mulher era em casa. Então basicamente ela cuidava dos filhos, cozinhava - era uma excelente cozinheira. Uma vez por semana ela ia ao mercado municipal. Então comprava galinha viva - não existia galinha morta. Quem matava era a empregada, porque ela também não gostava de matar galinha. Comprava frutas, verduras, carne. E tinha um armazém que ficava muito próximo da loja de meu pai, até na época chamava armazém Secos e Molhados, do Azuline, eu me lembro. Comprava arroz, feijão, não existia esse negócio de supermercado, essas coisas não existiam. Ia à padaria, também marcava na caderneta, pão, para pagar por mês, as coisas. Passava na porta de casa o cara vendendo galinhas e você comprava. Eu me lembro que eu gostava muito de leite de cabra. Sempre passava um cara com umas cabras, você tomava lá na hora o leitinho de cabra. O outro passava, vendia lingüiça, também na porta de casa. O leite era de garrafa. Todo dia deixavam lá os dois litros na porta de casa. Era umas coisas da década de 60, mesmo. Brinquedo era coisa de madeira, carrinho de madeira e bola. Basicamente bola, peteca. Depois foi surgindo alguma coisa como raquete, a gente brincava. Amarrava um fio na rua. Mas era muitas brincadeiras do tipo queimada, é brincar de boi, de pique. As brincadeiras eram mais desse nível, assim. Tinha uma loja de... Eu adorava uma loja de brinquedo chamada Plastilar. E você ia lá e se deliciava: tinha muito brinquedo, muita coisa de plástico. Coisas da Trol, o carrinho que hoje não faria a cabeça da criançada, mas na época era o que existia. Taubaté era uma cidade muito... Tinha bastante coisa. Tinha loja de carro, tinha bicicleta. A gente ia com alguma regularidade para São Paulo, pelo meu avô morar lá. E na época ele trabalhava em uma loja de roupa, eu ganhava muita roupa dele. E a gente ia constantemente lá, visitá-lo. Uma vez a cada dois meses, a gente estava em São Paulo. Acabava comprando coisas em São Paulo, bem no centrão ali, onde era o Mappin, naquele miolo do centro de São Paulo. A gente ia de carro. Ah, eu lembro que demorava. Porque a Dutra só tinha uma pista, era cansativo. Algumas vezes a gente ia para o Rio, porque tinha parente no Rio também. Era muito cansativo. CIDADES Litoral A gente basicamente ia para o litoral, Ubatuba. Um pouco para Campos do Jordão, mas era mais difícil porque não tinha essa estrada que hoje tem. A gente tinha um amigo, muito amigo nosso, que tinha uma fazenda aqui perto, que hoje é dez minutos para chegar lá, mas na época era uma aventura, levava mais de uma hora, porque quando chovia, então: não chegava. Então a gente ia muito para lá. Eu sempre gostei de fazenda, meu pai me deu um cavalo. Então eu sempre queria ir lá andar a cavalo. E íamos para o Rio de Janeiro, que tinha família lá no Rio de Janeiro, São Paulo. E fomos muitas vezes também para Bertioga, na colônia do SESC lá. Comi lá de bandejão. Peguei todas as fases da colônia do SESC. FAMÍLIA Por volta de 1970, eu acho, 68, meu pai começou a se ligar ao SESC. Eu estava com um uns dez anos, mais ou menos dez. Lembro porque eu sempre acompanhei muito ele. Ele gostava que eu fosse junto com ele, ele achava que a gente aprendia estando junto. Então fui em muita reunião. Às vezes não tinha ninguém, só estava eu lá, pequenininho, com dez, onze anos participando lá da reunião, ouvindo. Às vezes me chateava, mas sempre gostei e foi interessante porque acabou... Minha vida acabou desembocando nisso. Hoje, a gente participa dessas entidades de classe: SESC, Senac, Federação do Comércio, sindicato do Comércio. Gosto de política. Estou envolvido aí na política da cidade. E, com certeza, isso aí aconteceu por isso. Porque, na época, ele também se envolveu com prefeitura. Ele acabou... As primeiras indústrias que vieram para Taubaté, nessa segunda fase - Volkswagen, Dardo, Nortris... Ele fazia parte de um grupo que a prefeitura tinha, que não era remunerado mas que conversava com os empresários, via o que eles queriam. E acabou trazendo essas indústrias aqui para a cidade. Ele sempre foi muito... Ele gostava de participar. Ele, se não tivesse sido comerciante, ele teria sido, sei lá, jornalista. Qualquer coisa que ele tivesse feito, eu acho que ele teria feito bem. Ele sempre... Esse negócio do comércio, ele começou a mexer na época da semana inglesa, para fechar o comércio sábado ao meio-dia - porque na época trabalhava direto. E começou a mexer. Eu acho que não teve ninguém. Teve alguns amigos, eu me lembro, da época, que eram gente mais antiga do que ele. Mas na verdade eu acho que ele buscou o caminho dele meio sozinho. Eu basicamente, sempre estive na cola dele, acompanhando: como é que era, como é que funcionava... Eu acho que ele era muito bairrista. Ele gostava muito da cidade, gostava muito de Taubaté. Conhecia muito a cidade. Inclusive ele era um arquivo vivo: sabia quem era quem. Agora ficou mais difícil, porque a cidade cresceu um pouco, mas era engraçado assim, porque quando eu era pequeno eu chegava em casa: “Ô, pai, esse é meu amigo”, aí ele perguntava quem era pai, quem era a mãe; aí ele falava quem eram os avós, quem era os bisavós. Sabia tudo da família da pessoa, sabia quem era. E ele lutou muito para a cidade crescer, para o comércio crescer. Essa ida dele para a prefeitura, para tentar trazer essas indústrias, foi para tentar fazer com que a cidade crescesse, uma época que Taubaté andou andando meio para trás, aí, acabou ficando meio perdido, aí, ele correu atrás dessas indústrias. Ele achava que... Como a Volkswagen, por exemplo, que hoje é uma potência: tem 6 mil empregados em Taubaté, faz com que o comércio deslanche. E aí ele participou da Associação Comercial, foi um dos criadores do serviço de proteção ao crédito. Depois surgiu o sindicato do Comércio Varejista. Ele foi o terceiro presidente. E ficou um bom tempo lá como presidente. Acabou trazendo o SESC para Taubaté. CIDADES Taubaté Taubaté sempre foi uma cidade privilegiada: tinha o Senac e tinha o SESC. Mas, o SESC era muito pequenininho, era uma casinha pequena. Tinha uma quadra de futebol de salão e dois dentistas - se resumia a isso, o SESC. E na época ele reivindicou, junto ao conselho lá do SESC, a vinda. Conseguiu um terreno junto a alguns empresários que doaram a área para o SESC. É uma área grande. Eu não saberia dizer quantos metros são, mas é bastante grande. E reivindicou mesmo, correu atrás. Correu atrás, trouxe, na época, o Abrham para Taubaté. Levou o prefeito até lá. Ele perdeu uns, sei lá, uns dois anos assim para tentar que o SESC saísse. Até que saiu. Na época, o pessoal ficou meio assim porque era um bairro bastante afastado da cidade. Hoje não é mais. A cidade acabou indo atrás do SESC, o que é superinteressante. Mas, na época, era um bairro muito afastado. Era considerado longe da cidade. E até como uma justa homenagem, o SESC daqui tem o nome dele. TRABALHO Eu sempre xeretando. Com onze anos, eu me lembro, trabalhando na loja. Essa época de Natal eu gostava de vir à noite para a cidade. O comércio ficava aberto até mais tarde, dez, dez e meia. E normalmente era um comércio mais agitado. Tinha os vendedores, mas sempre chegava gente que não tinha condições de ser atendida, aí eu ia lá e perguntava o que é que a pessoa queria. Era até engraçado, um garotinho de onze anos. Algumas pessoas não falavam, outras falavam. E você vai se habituando, e eu comecei a tomar gosto do negócio. Era interessante lá. De repente o cara comprava, você tirava o pedido, o cara pagava. Tinha todo um ritual ali de... Do cara preencher as fichas, ou as notas promissórias - na época não existia esse negócio de cheque pré-datado - , ou vinha pagar mesmo. Então eu sempre ficava ali. E fui gostando. Nessa época eu passei a trabalhar, e toda hora que eu tinha um tempo vago, me dedicava um pouco a ir para a loja. Na época, por volta de uns dois anos depois, por volta de uns treze anos, meu pai abriu uma filial e me deu a chave da loja. Falou: “Olha, essa loja é para você tomar conta”. Com treze anos, ele deu para eu tomar conta. É lógico que eu tinha a chave mas eu não podia ir, porque eu estudava. Então, normalmente, eu ia à tarde lá, mas já tinha uma responsabilidade. Interessante isso, eu acho que é importante: meu filho está com quinze, eu estou tentando fazer com que ele trabalhe, mas está difícil. As coisas mudam. E aí eu comecei a me interessar. Então ia lá, já sabia fazer conta. Você tinha que dividir, cobrar os juros. E eu acho que foi uma época interessante, acho que a gente aprendeu, aprendi bastante. Eu fiquei um tempo, mas aí os estudos começaram a apertar. Eu resolvi ser engenheiro, então eu entrei no curso técnico. Aí, já com quinze anos. E me tomava mais tempo. Eu acabei deixando de lado um pouco a loja e fui estudar. Mas não foi durante muito tempo. Apareceu uma oportunidade e a gente comprou uma fábrica de sorvete. Eu tinha uns dezesseis para dezessete anos, mais ou menos, não lembro direito, mais ou menos. Mas era basicamente minha a fábrica, lá. Eu gostava, cuidava. Fiz a minha mãe trabalhar. Nessa época ela ia lá, recebia os carrinhos que vinham da rua, fazia as contas. Foi uma boa época. Ganhei dinheiro, não posso reclamar. Entrei na faculdade. Ele gostava disso, me emancipou. Eu com dezesseis anos já era emancipado. Tinha conta em banco, tinha... Dos irmãos, era só eu que gostava do comércio. Os outros eram mais preguiçosos. Meu irmão não gostava, não. Também foi uma outra época. Uma diferença de seis anos, um pouco diferente. JUVENTUDE Na juventude eu trabalhava, mas tinha tempo para diversão. A gente ia para o clube, nos bailinhos. Na época a gente montou - eu e mais dois amigos - uma espécie de um, não era um conjunto, mas cada um entrou com um tipo de equipamento. E a gente dava os bailinhos no final de semana. Ia para alguns bairros mais afastados e fazia o som, dava o som e tal. Foi muito interessante, era muito divertido. Tocava muito rock aqui em Taubaté, rock pesado. As coisas não mudam. Eu me lembro que nessa idade, à noite... Eu tinha um radinho, eu ficava ouvindo a Rádio Mundial, do Rio de Janeiro. Então eu ficava ouvindo aquelas músicas que estavam... Até por interesse. Contrabandeava uns discos, gravava uns discos, botava em fita cassete para poder tocar. Funcionava assim. A gente basicamente ficava em Taubaté. Mesmo porque não tinha carro. O carro, a gente só conseguiu lá com dezoito anos, e nessa época eu estava saindo de Taubaté. Mas o pessoal mais velho ia para as outras cidades do Vale. Mas tinha muita briga. O pessoal acabava tendo muita rixa. Ia para um baile em São José, brigava. Ia para Caçapava, brigava. Eu não peguei essa fase. Eu não era um cara de briga. Brigava, era rixa. Hoje o Taubaté subiu para a segunda... para a fase A2, no futebol. Qual é a grande... O que o taubateano quer ver? Quer ver ele jogar contra o São José. Por quê? Porque se ganhar do São José, está satisfeito. É igual o Corinthians ganhar do Palmeiras. É a mesma coisa. VALE DO PARAÍBA Na época não era com São José, essa rixa. São José era muito menor do que é hoje, então não era uma cidade que a gente se preocupava muito. Hoje é com São José a maior rixa, eu acho. As duas cidades maiores. Mas era com Pinda, era com Guará, era com até Tremembé, aqui do lado, uma cidadezinha pequena. As coisas aconteciam e tinha esse tipo de briga. Mas aí, mais velho, a gente ia para os bailes, ia para os bailes de Carnaval. Mas aí era mais complicado porque o pessoal da cidade não gostava. Chegava aquele monte de forasteiro querendo pegar as meninas da cidade, lá, isso dava muito problema. EDUCAÇÃO Já tinha faculdade aqui em Taubaté, mas eu botei na cabeça que eu queria morar no Rio de Janeiro. Aí eu... Minha mãe queria que estudasse em São José, no ITA [Instituto Tecnológico de Aeronáutica]. Aí eu não passei no ITA, não passei na Fuvest - não sei se era esse o nome - mas passei na Cesgranrio. Entrei na Federal do Rio. Queria estudar no Rio de Janeiro. E fui para lá: peguei minha malinha e fui fazer faculdade no Rio de Janeiro. Era diferente. Era diferente, era muito maior. Tem a praia. A própria faculdade. A gente pegou o finalzinho ali da repressão, não podia falar algumas coisas. Eu morava no Rio na época da bomba lá do Riocentro. Eu só não fui naquele show porque eu tive algum tipo de problema. Mas era para ter ido. Então era uma ebulição, as coisas estavam acontecendo. Entrei na faculdade em 77. Não participei dos movimentos. A gente olhava meio de longe assim, mas sabia que tinha problema. Porque, de vez em quando, apareciam umas pessoas diferentes na escola. Um olhava para o outro, sabia que o cara era..., tinha cara de policial. Tinha cara de quem não era da faculdade. Então a gente tinha um pouco de medo, tomava um pouco de cuidado. Mas era legal. Quer dizer, tinha muita gente que tocava música, aquelas músicas de protesto. Mas era uma coisa bem light, assim. Vinha final de semana. Alguns finais de semana eu ficava lá, outros vinha para cá. JUVENTUDE Namorava, saía com os amigos. Alguns amigos tinham saído fora. A gente se encontrava aqui, a turma. Teve gente que foi estudar em São Paulo, teve gente que foi estudar em Petrópolis, um pessoal que ficou aqui em Taubaté. Aí reunia, ia para as boates, ia bater papo, jogar conversa fora, ia para o clube. TRABALHO Me formei. Nessa época eu já... Quando eu entrei no terceiro ano, eu já comecei a trabalhar. Nunca gostei de ficar parado. Trabalhei em uma empresa no Rio de Janeiro que fazia computadores. Foi no início do... Quando surgiram os computadores no Brasil, essa empresa começou a fazer. O dono tinha uma empresa em Niterói, que cuidava de um cartório. E ele queria informatizar o cartório. Então a gente trabalhou um bom tempo lá informatizando o cartório dele. Ele queria fazer um piloto até para vender para os outros. Eu me formei, achei até que fosse continuar, porque a empresa estava bem, mas ele acabou brigando com a mulher, acabou se desentendendo e a empresa acabou. Eu voltei para Taubaté, mas queria muito trabalhar, quer dizer, na minha área. Mandei um monte de currículo, arrumei emprego em São Paulo, na Prológica. Também era uma empresa que estava começando na área de computador. Aí começou a carreira lá. Fui gerente de produto. De lá fui para uma outra empresa de eletrônica, trabalhei como engenheiro. Em seguida os amigos meus, que eu tinha deixado no Rio de Janeiro, tinham montado uma empresa que vendia computadores, um comércio de computadores. Estava indo muito bem a empresa, eles queriam abrir uma filial em São Paulo e eles me convidaram para ser o sócio de São Paulo, já que eu estava em São Paulo. Aí eu abri com eles uma empresa. Fiquei um tempo, depois eu saí, abri a minha empresa. E aí foi. Fiquei em São Paulo uns dez anos, mais ou menos. Aí nasceu o meu segundo filho - isso foi em 1993, mais ou menos. Eu não agüentava mais São Paulo, estava louco para voltar para Taubaté. Acabei voltando para Taubaté, montei aqui uma empresa de informática e fui... Voltei a trabalhar com meu pai. FAMÍLIA Meu pai, nessa época, tinha um depósito de gás, esse gás de cozinha. Eu fui dar uma mão. Na época ele já estava meio cansado, achava que não estava ligando muito para o negócio, e eu acabei indo lá, incorporando, ficando lá. Na época ele tinha loja de móveis e acabou aparecendo uma oportunidade de ele comprar uma loja, um depósito de gás - um amigo dele que estava querendo se desfazer - e ele acabou comprando. Isso foi por volta de 1970. O depósito de gás tem desde 1970. E ele gostou muito do negócio. Ele tinha uma habilidade manual muito grande. E ele gostava de ir nas indústrias e vender o gás para usar para corte, usar nos restaurantes, caldeira para água quente. Então ele fez uma freguesia muito grande, na época, porque não existia em Taubaté ninguém vendendo esse gás. Ele gostava. Quando dava problema, ele ia arrumar - era engraçado isso. E aí acabaram vindo alguns magazines para Taubaté, foi ficando difícil o negócio para uma empresa pequena de móveis, ele acabou se desfazendo. E ficou só com o gás. Tinha uma concorrência, mas era pequena, para o negócio do gás. A loja de móveis fechou em 75, talvez. Meu pai continuou no comércio, mas vendendo o gás. E tendo a atuação dele lá no sindicato do Comércio, que ele gostava muito. MIGRAÇÃO Voltar para Taubaté foi interessante. Por um lado, Taubaté é muito menor que São Paulo, menos oportunidade. Por outro lado, eu vim com uma bagagem interessante: trabalhara em várias empresas, tinha visto vários tipos de negócio, e vim para cá para tentar aplicar esse tipo de coisa. Eu sabia que... eu ia ter algum tipo de problema com meu pai, que sempre tem. Que você quer fazer uma coisa, ele quer fazer outra. Mas ele deu muita liberdade. Ele falava: “Olha, faz o que você achar melhor”. Mas eu sempre consultava, via o que ele achava. Algumas coisas ele achava que era arrojado demais, mas ele falava: “Vai lá”. Por exemplo, na época, eu queria comprar, sei lá, três caminhões para botar na rua para fazer entrega automática, que não tinha. “Mas três?”, “Não, é que dividi a cidade de tal maneira que eu preciso dos três caminhões”, “Está bom, vamos lá. Vamos ver o que acontece”. E aí ele segurava as pontas. Era um paizão. COMÉRCIO Ficamos trabalhando um tempo juntos, quer dizer, na verdade ficamos trabalhando até há uns cinco anos atrás. Ele teve um problema grave de saúde. Teve um AVC [Acidente Vascular Cerebral], quando ele deu uma piorada, mas ele melhorou. Ele tinha o carro dele, dirigia. Até que há uns dois anos atrás ele piorou, mas ele continuava tendo a vida dele. Ele ia lá no depósito de gás, não dava muito palpite, mas sentava lá, lia o jornal. Essa época ele já estava com motorista, ele já não estava dirigindo. Perguntava como é que estavam as coisas, se estava precisando de alguma coisa. Sempre participou, até o final da vida dele. Faz dois meses que ele morreu, extremamente recente. Ele continuava participando. Ele era uma pessoa muito determinada. Um mês antes de ele morrer, mais ou menos, ele perdeu muita massa muscular. Só para dar um exemplo: cheguei em casa, ele estava em uma cadeira de rodas. Eu falei: “Pô, pai, mas cadeira de rodas?”, “Não, eu estou com dificuldade para andar e tal”. Só que ele foi sozinho, junto com o motorista, alugou a cadeira de rodas, pagou - ele que tomava conta da conta bancária dele - , assinou o cheque. A conta era comigo. De vez em quando eu dava uma olhada para ver como é que estava, mas é engraçado, uma pessoa ir sozinha, ir lá e botar uma cadeira de rodas. É isso. Teve uma época, que ele foi juiz classista. Ele gostou muito dessa..., de atuar como juiz classista na Justiça do Trabalho. Foi juiz, acho, que durante uns dez anos. Fez boas amizades. CIDADES Taubaté Saí daqui com dezoito anos. Voltei em 92. Eu estava com trinta anos. A cidade cresceu, a gente perde um pouco de... Acaba não conhecendo muito as pessoas, as pessoas vão se mudando, e tal. Os bairros da cidade cresceram, os lugares que você..., que eram fazendas, hoje são loteamentos, as pessoas moram. Mas quando você é da cidade, acho que quando a sua raiz é dali, é sempre, você sabe onde está o sapateiro, você sabe onde está o supermercado, o bar que você freqüenta, os amigos onde é que vão. Não tem uma... Acho que você demora um pouquinho, mas acaba voltando, aquela rotina acaba sendo a mesma. RELAÇÃO COM O COMÉRCIO Não saio de Taubaté para fazer compras. A gente vai, às vezes, para São Paulo, para São José dos Campos para passear - que a criançada, às vezes, fica enjoada aqui da cidade. Você acaba indo para um shopping, acaba indo para São Paulo num shopping. Mas eu não tenho, eu não vejo necessidade. Então Taubaté me basta. E como tenho tudo o que eu preciso hoje... Vou ao shopping. Mas basicamente a gente compra as coisas nas lojas dos amigos. Taubaté é uma cidade que eu ando sem dinheiro. Então eu vou no bar, eu compro alguma coisa: “Anota aí”, vou na loja não sei do quê, às vezes você precisa de alguma coisa, ou o filho vai, anota. Depois a pessoa manda receber. Ainda funciona esse tipo de coisa com os amigos. Esses tempos meu filho queria ficar sócio de uma locadora. Eu falei: “Olha, vai lá e fala que você é meu filho”, “Não, mas precisa assinar, precisa o documento e tal”, “Vai lá e fala que você é filho do Dan”. Aí ele foi lá e voltou com a fita embaixo do braço. Eu falei: “Está vendo como...?”, “Ele sabe quem é você, pai”. Aí eu falei: “Sabe, lógico que sabe”. Então funciona assim ainda a cidade. Mas está crescendo. Começa a ficar mais difícil esse tipo de coisa. CASAMENTO Conheci minha esposa aqui em Taubaté. Foi engraçado. Essa época eu morava no Rio de Janeiro e vim passar férias em Taubaté. Eu estava na loja de uma amiga minha e ela estava lá. A gente se cruzou, assim. Eu achei ela interessante. Acabamos indo... Na época - tem uma festa grande no Tremembé, em agosto, a festa do padroeiro. Aí ia uma turma grande, ela acabou indo, a gente acabou conversando. Na época a gente trocou muita carta. Não tinha e-mail, o telefone era caro. A gente mandava cartinha, aí. Ainda tem as cartas guardadas. Ela tem, eu não tenho. E namoramos bastante tempo. Depois eu fui para São Paulo, ela foi para lá. E a gente casou. FAMÍLIA Meus filhos, um nasceu em São Paulo e o outro nasceu aqui. Acho que eles levam uma vida muito boa. Estudam em uma boa escola, freqüentam o clube, ficam bastante tempo no clube. Fazem inglês, fazem informática - um agora está mexendo com informática. O maior, que tem quinze anos, já está criando vida própria. O final de semana ele sai, liga três horas, duas, cinco horas para ir buscá-lo no clube ou na boate, que vai todo mundo dormir em casa. Ou então ele liga que está indo dormir na casa do amigo. Mas eu acho que eles têm uma vida boa. Comparada à minha vida de adolescente, é uma vida mais difícil. A gente se preocupa mais. Onde ele está, tem que ligar. Esse tempo atrás a gente deu um celular, mas achei que não foi uma boa idéia e tirei de volta. Vou acabar dando de novo. Porque você fica preocupado. Porque você não... Esses dias morreu um amigo dele aí em um acidente de carro. Então você começa a ficar preocupado. Na minha época tinha isso? Tinha. Mas tinha muito menos. Na minha época não se falava em drogas, era muito difícil. O máximo que você tomava era um pifão na vida. Eu tomei três. Não bebo mais. Mas não existia esse negócio de droga, não existia essa violência gratuita que tem hoje. O meu filho sai sozinho, ele anda sozinho, ele anda de bicicleta. A gente segura, explica como é que é, como é que funciona. Mas não dá para colocar ele preso em uma redoma. E o de dez anos está começando também a se soltar. De vez em quando pega a bicicleta, vai para a casa da avó. Mudou um pouco, mas ainda é uma cidade boa de se viver, Taubaté. Se morasse em São Paulo, com certeza, eles não teriam esse tipo de vida. São Paulo está muito complicado. AVALIAÇÃO Comércio As lições do comércio: primeiro, sempre manter uma reserva de dinheiro. Ter dinheiro no banco é muito melhor do que ficar precisando de dinheiro. Atualmente está complicado. O comércio não está passando por uma fase boa, mas é importante. E segundo, tentar criar um círculo de amizade, porque se você fizer esse círculo de amizade - lógico que o seu negócio tem que ser impessoal, tem que andar sem você - , mas se as pessoas tiverem a tranqüilidade ou souberem que aquele negócio é do fulano, e que se tiver algum problema a pessoa vai te ligar e você vai estar lá para resolver. Então os meus negócios, mais ou menos, funcionam sem a minha presença. Mas, às vezes, a pessoa liga e fala: “Olha, Dan, eu não tenho dinheiro hoje. Eu não posso dar um cheque para tal dia? Olha aconteceu um problema”. As pessoas têm essa..., precisam saber que tem alguém atrás do negócio. É uma coisa - a gente tenta até levar para o lado da impessoalidade, até em tentar ter mais de um negócio, não estar ali na frente do balcão. Mas elas sabem que tem - o meu pai também trabalhava desse jeito - mas elas sabem que tem alguém ali atrás, se precisar de alguém, está lá. Estava o Juca, agora está o Dan. É mais ou menos isso. É uma pena meu pai não estar participando aqui, porque realmente ele viveu, conheceu muito do comércio. Ele viveu toda essa mudança do comércio aqui, da prestação de casa em casa até os grandes magazines, até as grandes negociações que hoje acontecem. Ele passou... Ele sempre falou: “Eu sou um privilegiado. Eu vi nascer o chuveiro elétrico”, porque na casa dele não tinha chuveiro elétrico, esquentava a água no fogão a lenha, passava a serpentina. “Vi nascer a televisão, o rádio, o carro.” Então era uma enciclopédia mesmo. Ele era um bom contador de história. É uma pena ele não estar aqui para contar. E eu contei um pouquinho, e para contar história, ele era melhor do que eu.
Recolher