Projeto Memórias do Comércio de São José do Rio Preto - 2020-202
Entrevista de Luis Antônio Basque
Entrevistado por Cláudia Leonor e Luis Paulo Domingues
São José do Rio Preto, 13 de maio de 2021
Entrevista MCHV_072
Transcrita por Selma Paiva
(00:40) P1 – ‘Seu’ Luís, para começar, eu gostaria que o senhor falasse o seu nome completo, a data de nascimento e o local que o senhor nasceu.
R1 – Luís Antonio Basque, data de nascimento é vinte e sete de setembro de 1969, nasci em Primeiro de Maio, Paraná.
(01:05) P1 – No Paraná?
R1 – Isso, a cidade chama Primeiro de Maio, Paraná.
(01:10) P1 – Primeiro de Maio, legal. E qual que é o nome do seu pai e da sua mãe?
R1 – Meu pai chama Luís Basque e minha mãe chama Francisca Galera Basque.
(01:20) P1 – Legal. E os seus avós? Você conheceu, conhece? Tem avós ainda?
R1 – Não. Eu só conheci a avó materna e a avó paterna, só. Os avôs eu não conheci nenhum. Não, não. Desculpa. O meu avô paterno eu conheci também, mas eu tenho uma mínima recordação dele, porque eu tinha acho que três anos quando ele faleceu, alguma coisa assim.
(01:45) P1 – Sim. Perfeito. E você sabe a origem deles? Se eles vieram de fora do Brasil, para morar aí na região? Eles foram lá para o Paraná? Como que foi a história, até chegar em você?
R1 – O meu avô por parte da minha mãe, o meu avô materno, veio da Espanha com a idade de dez anos. Ele é espanhol. A minha avó é descendente de italiano, espanhol e português. E os meus avós por parte de pai também a mesma coisa, todos descendentes de italiano, português e espanhol também.
(02:31) P1 – Certo. E eles foram morar lá no Paraná, o que eles faziam lá? Você sabe?
R1 – É, eles eram dessa região aqui do estado de São Paulo. Aqui da região de Borborema, Novo Horizonte, essa região aqui. Aí na década, em 1940, boa parte da família migrou para o Paraná. Compraram terra lá, desmataram, desmatamento, para desbravar a terra lá, porque era tudo, vamos dizer assim, tudo mata verde.
(03:08) P1 – Sim. E você sabe como é que seu pai conheceu a sua mãe?
R1 – Meu pai é... eles estudavam acho que na mesma escola, moravam em sítios próximos lá no Paraná. Então, eles eram... se conheciam, eram vizinhos.
(03:29) P1 – Ah, entendi. E seu pai e sua mãe tinham qual profissão, ou tem ainda?
R1 – Ah, o meu pai e a minha mãe eram agricultores. Foram a vida inteira agricultores. Hoje são aposentados e moram na cidade, mas viveu toda a vida na roça.
(03:47) P1 – Certo. Luís, quando você nasceu, lá no Paraná, você morava nessa cidade Primeiro de Maio ou nasceu na zona rural?
R1 – Morava em Primeiro de Maio, zona rural.
(04:03) P1 – Certo. E o que você lembra da sua infância lá? Como é que era o lugar? O que você fazia? Onde você brincava com as crianças?
R1 – Aonde eu nasci mesmo eu me lembro muito pouco, porque eu nasci no sítio, né? A água chamava Barra Bonita. Aí quando eu tinha três anos ou quatro, mais ou menos, a gente mudou de local, em outra região do município. Então, lá eu lembro assim muito pouquinho. Me lembro assim, de algumas árvores que tinha, plantadas na frente da minha casa: um pé de laranjeira, um pé de flor rosa, alguma coisa assim, eu lembro muito pouco. Lembro da casa da minha avó, que a minha avó morava muito pertinho da gente, assim. Aí depois a gente mudou para um outro sítio, que onde foi que eu passei uma boa parte da minha infância.
(04:59) P1 – E nesse novo sítio você lembra do quê? Você consegue descrever mais ou menos para a gente, assim?
R1 – Ah, lá então eu morei dos quatro aos quatorze anos de idade. E lá foi onde eu brincava na beira da água, jogava bola com os amigos, trabalhava na roça já, né? Que eu comecei a trabalhar com nove anos na roça, então... mais ou menos é essas lembranças que a gente tem.
(05:29) P1 – Legal. E você ia para a escola, lá? Você trabalhava uma parte do dia e ia para a escola?
R1 – É, o primeiro ano que eu fui para a escola, a escola ainda era no sítio, né? Então, eu andava em torno de uns... mais ou menos de três e meio, quatro quilômetros a pé, para ir estudar. Esse foi o primeiro ano. A partir do segundo ano eu comecei a estudar na cidade. Aí eu fazia essa mesma caminhada, para ir pegar uma perua, para ir até a cidade, para estudar. Aí eu andava cerca de quatro quilômetros mais ou menos, a pé, pegava a perua e ia para a cidade estudar. Isso foi no período do primário, né? Depois eu passei para o ginásio, aí eu passei a estudar à noite.
(06:28) P1 – Sei. Legal. E o que você lembra da escola, assim? Você gostava de alguma matéria específica? Você deve gostar muito de livros, né?
R1 – Sim.
(06:40) Eu também. E o que a escola te ensinou, assim, que você lembra?
R1 – Ah, as matérias que eu mais me identificava eram Matemática, Química, Física, era o que eu mais gostava.
(06:54) P1 – Sei. E aí, Luís, como é que foi o seu primeiro emprego mesmo? Porque você começou a trabalhar com nove anos, com seus pais, né?
R1 – Isso.
(07:03) P1 – Aí, como que foi o primeiro emprego com salário, mesmo? Onde que foi?
R1 – Então, aí eu trabalhei com o meu pai até os vinte e três anos de idade, na roça. Meu pai tinha uma chacrinha muito pequenininha, né? E a gente trabalhava em família. Aí, quando eu estava já quase para completar vinte e quatro anos de idade, eu fui trabalhar, saí da roça para trabalhar num Banco.
(07:35) P1 – Num Banco? Lá no Paraná?
R1 – Desculpa, cortou um pouquinho.
(07:41) P1 – E foi no Paraná? O Banco era lá no Paraná?
R1 – Foi. Foi. Não era na cidade que eu nasci. Foi em Londrina. Porque a cidade que eu nasci fica próxima de Londrina, fica a setenta quilômetros de Londrina. Aí eu comecei a trabalhar no Unibanco, em 1993.
(08:01) P1 – Sim. E os livros entraram na sua vida, o interesse por livros, antes disso? Nessa época? Depois? Quando foi?
R1 – Então, foi depois que eu estava no Banco. Porque, assim, eu comecei a trabalhar de office-boy no Banco, aí eu trabalhei por doze anos. Aí eu estava no cargo de gerente administrativo do Banco. Aí o meu tio, que tem o ramo que eu trabalho até hoje, né, que é em Londrina, que ele tem um sebo lá que é muito grande, deve ter mais de trezentos mil livros, então a gente já tinha conhecimento de como ele trabalhava e o meu irmão tinha ficado com o meu pai na roça. E eu tinha vontade de sair do Banco e montar alguma coisa. Aí a gente teve a ideia de montar uma loja, de sociedade com o meu irmão, para ele tocar. Foi em Marília.
(08:55) P1 – Ah, em Marília?
R1 – Em Marília. Aí a gente abriu a loja lá, ele começou a tocar a loja, foi tocando, a coisa foi andando e o Banco era um pouco meio que desgastante, era assim muito... suga muito a gente, era muito estressante e eu tinha vontade de sair. E as coisas foram andando, a loja foi dando certo, aí eu resolvi sair para montar uma outra. Foi aqui em São José do Rio Preto.
(09:27) P1 – Certo. Você chegou a ir para Marília também, trabalhar com o seu irmão, com o seu tio? Ou não?
R1 – Não. O meu tio não era sócio nosso. Meu tio só ajudou a gente a montar, né? Mas não tinha sociedade nenhuma. Eu ia trabalhar lá em Marília, mas só para cobrir as férias do meu irmão. Quando eu pegava férias, eu ia trabalhar lá, para ele tirar uma folga, porque ele sozinho não tinha como ele sair.
(09:52) P1 – E, Luís, você e seu irmão não estranharam um pouco a cidade grande? Londrina é uma cidade bem grande, né? Marília também é grande?
R1 – Londrina é grande, é.
(10:02) P1 – Como que foi essa mudança? Viveu até os vinte e três anos na zona rural e foi para uma cidade grande trabalhar no Banco. Você achou estranho ou gostou? Como que foi?
R1 – Ah, pra mim foi um pouco difícil a adaptação, né? Principalmente porque eu nunca tinha saído de casa, deixei a família toda pra trás, fui morar na casa de tio, de tia, sozinho. Aí foi um pouco difícil. Mas logo depois eu casei, aí já muda um pouco, porque você já tem a sua família, então aí você se adapta, vai adaptando. No caso do meu irmão também ele deve ter sentido dificuldade, mas ele já veio casado, com filhos, então acho que teve menos dificuldade de adaptação, vamos dizer assim.
(10:54) P2 – É verdade.
(10:56) Luís, como é que você conheceu sua esposa? Foi lá em Londrina?
R1 – Não. A minha esposa eu conheci em Primeiro de Maio, na cidade mesmo que eu nasci, ela também é de lá.
(11:08) P1 – Sim. Mas vocês se casaram quando você morava em Londrina, né?
R1 – Isso, isso. Eu a namorava, quando eu fui trabalhar no Banco eu já a namorava. Depois, quando eu consegui pular de cargo no Banco, aí eu me casei.
(11:22) P1 – Sim. Você ficou quantos anos no Banco? Você sabe? Você lembra?
R1 – Doze anos.
(11:28) P1 – Doze anos?
R1 – Isso.
(11:30) P2 – Luís, e no Banco você trabalhava com o que, exatamente?
R1 – Então, aí quando eu comecei no Banco, eu trabalhava como... na época chamava office-boy, né? Fazia serviço de entregas de documentos, serviço externo de rua. (risos) Aí depois foram me pulando de cargo, passei por supervisor... não, primeiro foi na área administrativa, eu nem me lembro mais qual era o nome do cargo, depois eu fui para a compensação, depois eu fui para tesoureiro, supervisor e depois eu fui para gerente administrativo. Foi o último cargo que eu tive.
(12:11) P2 – Agora, o próprio trabalho no Banco, assim, mudou muito com a informatização, essas coisas, você pegou essa fase, assim, de mudança da tecnologia do Banco?
R1 – Peguei, peguei. Na época em que eu cheguei no Banco era telex ainda. Telex e máquina de escrever. Quando eu saí já tinha... quando eu saí, eu saí em 2005, quando eu saí a evolução já era bem grande, mas continua evoluindo até ainda hoje.
(12:44) P1 – Muito bom. Luís, e aí, como é que foi quando você resolveu abrir o seu próprio negócio? Você escolheu já de cara São José do Rio Preto? E, se escolheu, por que Rio Preto?
R1 – Então, quando eu montei a sociedade com o meu irmão, a gente ficou em Marília, porque Marília ficava mais próximo lá de Londrina e não tinha uma loja, mais ou menos assim, naquilo que a gente pensava. Então, a gente montou lá. Aí, como deu certo e eu tinha vontade de sair do Banco, não era um serviço que me agradava muito, assim. Não é que não agradava, trabalhava, mas era uma coisa muito estressante demais, muito, muito, principalmente quando eu estava de gerente administrativo. Toda “curva de rio” parava na minha mesa, tudo que era tranqueira parava na minha mesa, igual “curva de rio”. Então, aquilo era um pouco muito estressante. E aí a gente teve a ideia de vir para Rio Preto, porque tinha muitos clientes que iam na loja de Marília, conheciam a loja, gostavam e falavam que aqui em Rio Preto precisava ter uma loja nesses padrões e tal e tal. Aí, quando a gente tomou a decisão de eu sair do Banco para montar outra loja, a gente veio conhecer Rio Preto. Aí a gente veio conhecer, gostou, procurou um ponto, acabou encontrando, dando certo, aí acabou montando aqui.
(14:02) P1 – Legal. E em que ano foi isso, mesmo?
R1 – Ah, a loja aqui... o ano em que eu abri a loja?
(14:11) P1 – Isso. Aí em Rio Preto, é.
R1 – Aqui foi aberto no dia cinco de maio de 2005. Não, desculpa, nove de maio de 2005.
(14:23) P1 – Legal. E foi sempre aí? Porque eu fui visitar aí a sua loja quando eu... antes da pandemia a gente estava fazendo pesquisa aí, sobre a cidade de Rio Preto e eu até entrei na sua loja, na Bernardino de Campos, né?
R1 – Isso. Isso. Isso. Mas eu fiquei... onde eu abri foi bem em frente onde eu estou. Se você passou aqui, não sei se você chegou a ver, em frente tem uma loja fechada. Eu era ali, eu fiquei ali por seis anos. Aí, depois, na renovação de contrato de aluguel não deu muito certo, a gente mudou só de lado de rua, é bem em frente, né? Então, eu tô há dezesseis anos aqui. Fiquei seis anos do lado esquerdo da Bernardino, descendo, agora eu tô o restante desse período, tô do lado direito aqui, bem em frente.
(15:11) P1 – Sim. E você teve sorte, né? Sorte não, você escolheu a rua principal do comércio de Rio Preto. Não é aí, a Bernardino? É o lugar que mais passa gente, né?
R1 – É, vamos dizer assim, na época falavam isso, que a Bernardino é a rua que atravessa Rio Preto, né? Que ela começa lá em cima, perto do shopping, desce, continua, segue a Nossa Senhora da Paz e saí na BR 153, lá do outro lado. Quando eu vim para cá falavam isso, mas eu não conhecia a cidade, não tinha muita noção disso. Depois, realmente, eu falei: “Não, ela atravessa mesmo”. Muda de nome, mas atravessa. Uma altura é um nome, é uma avenida, rua, depois vira avenida de novo, mas praticamente é uma rua que atravessa mesmo a cidade toda. E ela tem acesso ao calçadão, né?
(16:04) P1 – Tem. Exatamente. E como é que você conseguiu os fornecedores? Você precisa ter muito livro, né? Você fez alguma propaganda que você precisava de livro? Ou você tinha alguma loja em São Paulo ou algum lugar que você poderia comprar? Como que funciona o seu negócio?
R1 – Então, quando a gente abriu, a gente ia muito para São Paulo, comprar livro. A gente ia nos sebos lá de São Paulo e comprava bastante. Porque até quando eu abri, a gente não tinha assim uma quantidade muito grande, o acervo não era tão do tamanho que é hoje, né? Hoje é maior. Então, a gente ia muito para São Paulo. Aí, nessas idas e vindas para São Paulo comprar livro, a gente conheceu um dono de sebo na cidade de Campo Grande. Chama Maciel Livros. É um sebo, assim, que tem muito livro, muito livro. E aí ele tinha duas lojas e uma loja dele era muito grande, aí a Americanas alugou o prédio que ele tinha essa loja e ele teve de sair dessa loja e ele não tinha espaço físico para colocar, porque era muito. Aí a gente acabou comprando uma metade desse acervo dele. Então, a gente comprou umas duas vezes desse acervo dele. Mas inicialmente foi assim, a gente começou a ir garimpar em São Paulo, mesmo.
(17:34) P2 – Luís, quando você fala que é um acervo grande, você está falando, assim, de qual quantidade de livros?
R1 – Você está se referindo ao meu ou....
(17:43) P2 – Dois mil? Três mil? Cinco mil livros? Para a gente ter uma noção.
R1 – Ah, sim. Você está se referindo ao meu ou ao do Itamar, de Campo Grande, que é do Sebo Maciel?
(17:51) P2 – Esse que você começou comprando. A gente vai chegar no seu ainda, mas, assim, quando você faz uma compra lá em Campo Grande foi o que, dois mil livros?
R1 – Não. Não. A gente deve ter comprado lá cerca de uns trinta mil livros, mais ou menos.
(18:09) P1 – Olha!
(18:10) P2 – Sério?
R1 – Sério. Veio uma carreta cheia.
(18:14) P1 – Olha! E como é que você escolheu? Como vocês escolhem os melhores?
R1 – Ah, assim, aí a gente compra o lote, né? Assim, a gente vai lá e faz uma negociação do lote: “Nesse lote aqui eu quero tanto, eu te dou tanto” e vira aquela briga, né? Até chegar num acordo. Aí, depois que chega o material, aí que você vai dando uma separada, vai dando uma classificada, vai dando uma moldada. Então, assim, de início, a gente dá uma olhada no total assim, mais ou menos, na qualidade do acervo, porque às vezes tem acervo que tem uma quantidade grande, mas não tem qualidade. Então, é importante também olhar isso.
(19:00) P2 – O que seria um acervo de qualidade, Luís?
R1 – Ah, então, seria assim, o que a gente fala é assim: são livros que têm um valor agregado e que também são livros que têm bastante movimentação, bastante procura, que têm uma rotatividade boa. Às vezes não é caro, mas é um material que é procurado, que é pedido em faculdade, que é pedido na escola. Então, tem esses detalhes assim, vamos dizer. E sem contar as obras raras também, que colecionador gosta, né? Isso tudo também tem...
(19:44) P2 – Luís, eu já percebi assim, se tem uma assinatura do autor, uma dedicatória, o preço sobe, né?
R1 – Ah, se o autor for famoso, sim.
(19:53) P2 – Não, mesmo sem ser famoso.
R1 – Sem ser famoso, já muda, né?
(19:58) P2 – Não é? Eu já vi preço assim, de parente meu, tio avô, simples: trinta reais. Com a assinatura dele: oitenta e nove. Assim, ganha um valor. É um valor agregado?
R1 – Ah, sim. Se tiver autografado, sim. Quando você for comprar na internet e o cliente está anunciando que é autografado, normalmente o produto dele é mais valorizado, né?
(20:31) P1 – Certo. E nesse início, quando você começou aí em Rio Preto, em 2005, ainda não vendia livro pela internet, né? Ou já tinha venda pela internet? Era só a pessoa ir aí para pedir, né? Ou não?
R1 – Olha, eu, quando comecei aqui, não vendia pela internet. E não tinha conhecimento também que o pessoal vendia. Não tinha conhecimento, mas...
(21:03) P1 – Como é que.... pode falar, desculpa, eu te cortei.
R1 – Não. Pode perguntar, pode perguntar.
(21:10) P1 – Aí, como é que você... então, no início, a pessoa, para comprar um livro seu, tinha que ir aí, onde você está agora, né? Como que você chamava o público? Como é que você ficou conhecido? Você fez propaganda no rádio? Fez panfleto? Foi na faculdade? O que você fez?
R1 – É, eu, assim, fiz algumas propagandas em rádio, jornal, fiz alguma publicidade nesse sentido. Mas eu também tenho muita gratidão pelos professores, porque eles vinham na loja, porque professor normalmente gosta e eles mesmos faziam a propaganda boca a boca - e era bastante importante isso pra mim - nas escolas, nas faculdades. Então, isso é uma coisa que eu acho que me ajudou bastante.
(21:59) P1 – Legal. E, Luís, onde é que você pesquisa, para saber os livros que valem mais, os que valem menos? As áreas do conhecimento. Você pesquisa na internet? Vai em algum lugar? Como que é?
R1 – Antigamente eu era mais no “chutômetro”, né? Agora a gente vai na internet e pesquisa, porque agora tem muita gente vendendo na internet, então dá pra você ter referência. Tem obra que você não acha, muito difícil, às vezes. Tem obra que você não consegue achar em lugar nenhum, mas a maioria você consegue.
(22:39) P1 – Certo. E você abriu para vender on line quando, mais ou menos? Que ano, mais ou menos? Que eu já vi anúncio seu, assim.
R1 – Eu não tenho, assim, uma data precisa, certinha, mas eu creio que foi mais ou menos em 2010. Entre 2008 e 2010, eu acho.
(23:06) P1 – Aí apareceu a Estante Virtual, né? Esses sites, assim. Eu já vi livro do senhor na Estante Virtual. Livro da história de Rio Preto e tal. Vende bem pela Estante Virtual?
R1 – Então, foi através da Estante Virtual que eu comecei a vender pela internet. Foi o primeiro canal de vendas que eu comecei, foi pela Estante virtual. Eu não tinha um site, assim, meu. Então, eu vendia através da Estante.
(23:31) P1 – Certo. E tem mais site que você anuncia o livro que você está vendendo ou é mais pela Estante Virtual, mesmo?
R1 – Hoje são três canais que eu trabalho: tem a Estante Virtual, o Mercado Livre e o Amazon.
(23:45) P1 – Ah, sim.
(23:47) P2 – Luís, como é que funciona, assim? Você tem um programa que sobe nessas três plataformas ou você tem de cadastrar o livro nas três plataformas? Como é que é isso?
R1 – Não, eu tenho um programa que ele sobe nas três plataformas, on line. Inclusive, se o cliente comprar em um, porque às vezes... antes, acontecia de eu ter, às vezes você tem um livro raro, assim, bom, um livro... não precisa ser raro ou bom, mas procurado. E às vezes acontecia de você vender o mesmo produto em dois ou três sites e você tinha um só. Então, acontecia muito de eu ter que ficar comprando num lugar, para não cair as minhas qualificações, porque lá a gente tem de estar bem qualificado, senão... (risos). É igual na loja: se não atender bem, o cliente não volta, né? Então, é a mesma coisa.
(24:31) P2 – (risos) Porque às vezes acontece isso: a pessoa compra pela Estante Virtual e outra pessoa compra pelo Mercado Livre?
R1 – Isso. Acontecia muito isso. Agora, o programa que a gente usa, a gente fez a integração, então o sistema baixa sozinho. Se o cliente comprar, vendeu aqui na loja, baixa das três plataformas on line e, se comprar em uma plataforma também, o sistema já baixa das outras e baixa na loja também. Então, agora tá bem on line.
(24:59) P2 – Tá tudo conectado?
R1 – Só que ainda, às vezes, ocorre de acontecer isso quando, vamos supor, compra num site e em dez minutos comprou no outro e, às vezes, ainda não deu tempo do sistema fazer essa baixa, mas agora é muito pouco que acontece isso.
(25:15) P2 – E esse programa é um programa nacional ou é um programa de fora, assim? Como é que é?
R1 – É um programa que eu trabalho com ele desde quando eu comecei a informatizar a loja. Então, eu pago por mês, para ter esse programa. Então, eu tenho o meu acervo cadastrado, emito as notas por ele, tudo. Faço tudo por ele. E tem, assim, a minha família é grande nesse ramo, deve ter... a minha família deve ter umas quarenta lojas ou mais, mais ou menos, basicamente todo mundo trabalha com esse mesmo programa...
(25:47) P2 – Agora, me fala uma coisa... oi, desculpa, interrompi, desculpa.
R1 – De vez em quando a gente fica meio bravo com o dono do programa lá, que tem umas falhas, cobra caro, mas serve bastante, então... (risos).
(25:59) P2 – Que aí são quarenta pessoas reclamando, né? (risos).
R1 – São. São quarenta brigando com ele. (risos).
(26:06) P2 – Agora, sabe o que eu sempre fico curiosa, Luís, é o seguinte: os livros atuais a gente, quando vai produzir, que eu e o Luís Paulo produzimos bastante, a gente já pede o código de barras digital, aplica o código de barras. Então isso está sempre, assim, no preço, né? Agora, como é que faz com esses livros mais antigos, assim, dos anos cinquenta? Até setenta não tem código de barras, né?
(26:31) P1 – Não tinha.
R1 – É, não tinha. Então, esses novos é fácil: a gente pega o leitor de código de barras lá, lê o Isbn, os sites já saem mostrando os preços e tudo. Esses mais antigos a gente tem que digitar tudo manual, digitar o título do livro, o autor, porque tem muitos títulos... que tem vários autores com o mesmo título, né? Muda o título, mas... os títulos são os mesmos, com autores diferentes. Editora, tem que pesquisar qual editora que é, às vezes uma tem mais valor que a outra. É mais ou menos por aí, tem que ir dando uma filtrada, mas no manual tem que ser, é mais trabalhoso.
(27:05) P2 – Mais no manual, esses raros...
R1 – É trabalhoso.
(27:11) P1 – Luís, e você sabe de cabeça quantos livros você tem aí hoje?
R1 – Ah, o meu acervo cadastrado que eu tenho está em torno de... deixa eu verificar aqui: oitenta mil.
(27:34) P1 – Oitenta mil livros? Olha!
R1 – É, mas não tá tudo cadastrado não, tem alguma coisinha que eu não terminei de cadastrar ainda não, que ficou pra trás, mas está quase acabando, mas é uns oitenta mil.
(27:46) P1 – Sei. Hoje você tem loja fora de Rio Preto também? Você falou que a família também tem?
R1 – É, eu e meu irmão somos sócios, né? Então, a gente montou a primeira loja em Marília, mas hoje eu não sou mais sócio da loja de Marília, porque o meu irmão se separou da esposa dele e, na separação, a loja de Marília ficou para ela, para a esposa dele. E eu e meu irmão continuamos sócios. A gente tem a loja aqui de São José do Rio Preto, a gente tem uma em São José dos Campos, uma em Piracicaba e uma em Jundiaí.
(28:18) P1 – Olha! Então, você viaja sempre? Você viaja pra...
R1 – Eu queria, mas eu não consigo. (risos)
(28:27) P1 – Não consegue?
R1 – Não consigo. (risos)
(28:31) P1 – Certo. Luis, mas então você tem bastante funcionários, né, para tocar essas várias lojas? Quantos funcionários você está hoje?
R1 – Aqui na minha loja são oito. Nas outras eu não sei te dizer de cabeça, não. Porque as outras é assim: eu e meu irmão somos sócios com a sociedade de um primo. Todas elas têm um primo que é sócio. Então, fica a cargo deles, eles administram tudo, a gente fica mais só na contabilidade mensal, essas coisas só, entendeu? A parte de administração, funcionário, tudo, fica tudo... a gente não apita nada, praticamente. Troca ideia, troca ideia só, mas em termos de administração a gente não se envolve, porque uma só já é... já não é fácil.
(29:20) P1 – Sim. Legal. E o que sai mais, assim, que tipo de livro sai mais? É livro de história? É livro de faculdade? Romance? Ou é tudo mesmo, é geral?
R1 – Ah, os livros técnicos, se você tiver livro técnico são os mais procurados, porque normalmente são caros os novos. Então, se você o tem usado, num preço bem mais acessível, aí você.... a procura é grande. Só que a gente não consegue atender a demanda, porque você não consegue o material, não é uma fórmula fácil, porque não tem... não é igual você comprar novo. Você vai comprar novo, você liga na editora e pede: quero cinco, dez. Usado você tem que aparecer...
(30:10) P1 - ... comprar o que tem, né?
R1 - ... é, o que aparece. E no caso dos livros técnicos também tem alguns detalhes, dependendo da área, desatualiza. Na área de Direito, na área de Medicina, algumas áreas mudam, né? Ou até nas outras áreas também, sai uma edição nova, na área de Administração. Então, sempre tem uma desatualizaçãozinha, né? Então... mas essa é uma área que é bem procurada.
(30:36) P1 – Certo. E, para você, no mundo do comércio, o que você acha mais difícil ou mais legal, assim? Porque o comerciante, como você, tem que atender o cliente, tem que fazer compra do que vai vender, tem que colocar preço, que colocar preço eu acho uma coisa muito difícil, você saber que preço eu vou colocar numa mercadoria, né? E fazer conta, contabilidade, administrar o negócio. O que é o mais difícil, para você?
R1 – Ah, para mim, assim, o que eu acho mais, no meu caso aqui, eu vou dizer da minha loja, né? Eu acho assim que é: chega muito material. Às vezes eu não dou conta de soltar esse material no tempo hábil, sabe? Chegar... hoje, todo material que chegou aqui eu conseguir soltar, cadastrei tudo, já foi tudo para a prateleira. É um pouco complicado, o que eu acho, porque é assim: existe um período do ano, quando você chega de dezembro a fevereiro, triplica o número de livros que chega na loja. Mas muito, muito. Porque muita gente acaba curso, muita gente vem trazer para trocar, para pegar outro produto, porque a gente trabalha à base de troca também, pegar livro que eles vão precisar, então chega muito. Mas aí eu não posso também montar uma estrutura de quadro de funcionários por três meses só do ano, que depois esse volume cai durante o ano. Então, é onde que eu vejo a maior dificuldade de administrar isso, sabe? A quantidade. Porque não dá para você saber exato: chega tanto, vai sair tanto. É um pouco meio assim. A gente sabe que tem uns períodos do ano que chega mais e sai mais, isso a gente sabe. Mas, assim, você ter dimensão da quantidade é complicado. Às vezes tem dia que eu falo: “Puta, eu preciso contratar mais dois funcionários”. Mas daí uma semana eu falo: “Eu acho que eu tenho de mandar um embora, não tem serviço”. (risos). Então, é um... não tem um...
(32:53) P1 - ________ (32:54).
R1 – Não. Então, o que eu acho mais difícil, é isso.
(32:58) P1 – Sim. Legal. E você faz algum tipo de promoção, assim? Quando chega, por exemplo, o começo do ano, vai começar um monte de curso na faculdade, você vai lá fazer uma propaganda? O que você faz?
R1 – A gente, ultimamente, trabalha bastante nas redes sociais. A gente divulga bastante nesses canais. A gente paga uma pessoa, pago mensal, para estar trabalhando nessa linha, direcionando...
(33:29) P1 – Já anuncia os livros no Facebook, por exemplo, no Instagram, já anuncia o livro? Os livros que têm.
R1 – Ah, sim. Já manda... se vai uma promoção, já manda qual é a promoção. Mas a gente procura mais é promover a loja, assim, em si. Porque é igual eu falei pra você: chega um livro bom aqui, eu vou promover, mas eu tenho um só, então, pra mim é mais interessante as pessoas conhecerem a loja. Porque não é igual ao novo: eu vou lá e compro dez, quinze, a quantidade que eu preciso. Não é assim. Então, a gente procura mais é tentar promover a loja em si, né?
(34:09) P1 – Certo. Perfeito. E, Luís, você já chegou a trabalhar ou trabalha com livro novo? De você ligar na editora e ter aí também?
R1 – Trabalho, trabalho. Mas, assim, não é muito o meu foco, não. Eu trabalho, mas tem pouco. Ultimamente eu tenho trabalhado mais com algumas editoras que estão editando uns clássicos da literatura e que estão com uns preços bem acessíveis. Aí eu gosto de trabalhar. Porque, normalmente, a pessoa que vem no sebo, a maioria vem mais no preço, vamos dizer assim, por ser mais em conta. Então, se você tem um material que é meio... é novo, mas é num preço acessível, ele sai, né? Então, eu procuro mais nisso aí. Mas a gente trabalha com alguma coisa nova também e tal, mas o novo eu gosto de trabalhar assim: mais pegar aqueles clássicos mesmo, porque eu sei que é um material que nunca vai sair de linha, ele sempre vai ser vendável, porque tem muito best seller que sai, vende a rodo um mês, no outro mês encalha e não sai mais nada. Entendeu?
(35:15) P1 – Sim.
R1 – Então, eu fico mais nessa dos clássicos, assim. Dos best seller’s eu não sou muito... não gosto muito não, vamos dizer assim. (risos)
(35:27) P1 – Sei. (risos) E, pra você, o que você gosta de ler? Você mesmo, pessoalmente?
R1 – Ah, eu, livro eu não sou muito... para ser sincero, eu não leio muito, não. Eu gosto, eu leio muito é matéria de jornal, noticiário assim, eu leio muito. Isso eu gosto.
(35:47) P1 – É mais notícia, mesmo, assim?
R1 – Isso, é. Livro é difícil eu ler um livro, mas... até porque, assim, o meu tempo é meio escasso, né? E eu também, se eu for ler uma matéria, ou assistir algum vídeo de alguma matéria ou uma entrevista e ela for muito longa, pra mim eu já num... às vezes eu tenho até interesse, mas pelo tempo eu acabo indo pra um que é mais rápido, que eu tento pegar a informação que eu quero ali mais rápido, mas assim, eu sou mais de ler matéria de jornal. Ler na internet uma matéria aqui, outra ali, isso eu leio bastante.
(36:24) P1 – Certo, certo. E você sabe, de todas essas cidades que vocês têm unidades do sebo, vocês já pensaram qual que é a que o pessoal lê mais, procura mais o sebo? Você sabe? Ou é geral, todo mundo procura?
R1 – Olha, eu, assim... às vezes tem loja que ela vai melhor do que a outra, mas eu não creio que seja por esse motivo que uma cidade lê mais do que a outra. Pode existir isso, mas eu acho que seja uma coisa muito pequena. Eu creio que a diferença seja mais por um ponto bem localizado. Por exemplo: quando eu vim abrir a loja em Rio Preto tinha pessoas que passavam ali na porta e falavam assim: “Você não vai sobreviver cinco meses aqui em Rio Preto. Ninguém gosta de ler, ninguém gosta, ninguém lê”. Aí eu até me surpreendi.
(37:17) P1 – Mas gosta.
R1 – Gosta. Gosta. Em todo lugar. Então, às vezes, a diferença que fala: “Essa vende mais, aquela vende menos”, às vezes não é pelo público da cidade, às vezes é pelo ponto, que você está num ponto bem localizado, isso tem influência. Porque eu vejo aqui, às vezes a pessoa passa correndo aqui na porta da minha loja, bem rápido, entra, pega um livro rapidinho, mas é porque ela passou aqui, mas não é porque ela queria ler, às vezes ela não está com tempo de comprar o livro. Então, eu vejo por esse lado. Em parâmetros de leitura eu acho que é meio balizado, assim. Da mesma forma que é uma, eu acho que é a outra. Agora, assim, eu vejo assim, por exemplo, tem cidades que foram formadas na base da agricultura: Londrina é uma, Rio Preto também é. Agora você pega Curitiba, que é uma cidade que não foi formada em base de agricultura, vamos dizer que é outro segmento de cidade, vamos dizer assim, as pessoas foram formadas de outra maneira. Tem cidades que as pessoas se formaram estudando. ____________ (38:36) estudar para trabalhar, senão não tinha emprego, né? Então, você percebe que essas cidades têm um volume maior de vendas sim, é diferente nesse quesito. Mas as cidades do interior basicamente é meio que... não tem muito... eu, pelo menos, é o que eu percebo, não tem muito essa diferença.
(38:59) P1 – Certo. Mas é bom, né? Porque, apesar de Rio Preto ter sido sempre uma cidade agrícola, foi formada em cima do café, lá atrás, da ferrovia, essas coisas, tem muita faculdade aí, tem muito... a cidade é grande, né? Então...
R1 – Eu digo assim: hoje não, hoje já nem... existe as duas formas, nessas cidades que eu citei: Rio Preto, Londrina, que são as que eu mais conheci e convivi, né? Existe a base da agricultura, mas já existe a base da indústria, das faculdades, das empresas que você mencionou aí. Então, hoje é diferente, mas eu digo assim, aquelas que não foram formadas na base da agricultura, a gente percebe que ela é um pouquinho diferente.
(39:48) P1 – Um pouquinho mais adiantada nisso, né?
R1 – Isso.
(39:51) P1 – Luís, você tem planos, você e seus sócios, seus primos, seu irmão, para expandir o negócio? Abrir em mais cidades? Porque livro é o que não falta, né? Livro a gente arruma em tudo quanto é lugar, né? Expandir mais para outras cidades?
R1 – (risos). A gente fala, eu falo, porque eu já fiz tanta abertura de loja, tanta mudança de loja, que eu já tô, confesso que eu tô meio cansado, sabe? Eu falo assim: “Eu não vou mais mexer com isso”. Mas não sei, não dá pra cravar que não vai, porque não sabe, a gente não sabe o dia de amanhã, né? A intenção é parar por aqui, mas não sei.
(40:40) P1 – Tá certo. E, viu Luís, como é que foi a pandemia pra você, heim? Deu problema aí? Você teve que fazer mais entrega de livros, se é que existe. Teve que fechar a loja uns dias, né? Não teve?
R1 – É, o ano passado ei fiquei quase noventa dias fechado. Foi do dia vinte e três de março, fechou no dia vinte e três de março e foi abrir no dia primeiro de junho, ou dia dois, uma coisa assim. Eu sei que deu setenta e alguns dias, quase noventa dias. Aí foi difícil, porque você, com a porta fechada, não tem renda, não entra. Foi difícil segurar as pontas. Aí a gente começou a fazer entregas, mas na entrega não tem esse hábito ainda, então era uma coisa totalmente irrelevante. O que mais me ajudou... pode perguntar.
(41:53) P1 – Não, desculpa, eu te cortei. Mas pela internet você conseguiu vender, né? Na pandemia o pessoal leu.
R1 – Pela internet a gente conseguiu vender. Aí manteve as vendas e até aumentou, porque as pessoas que não podiam vir acabavam comprando, porque recebiam pelo correio, aí acabou aumentando as vendas. Só que...
(42:16) P2 – Mesmo que.... desculpa. Desculpa, pode falar.
R1 – Pode falar, pode perguntar.
(42:21) P2 – Mas mesmo estando na cidade, as pessoas pediam pela Estante Virtual?
R1 – Não. Da própria cidade, não. A gente vendia para outras cidades, né? Aqui o pessoal, assim, aí teve um período que podia passar para retirar, então agendava pelo whatsapp, separava o livro e a pessoa passava e retirava, ou a gente fazia a entrega, né? Era dessa forma que era feito. Agora, como eu já vendia pela internet, o fluxo de vendas da internet acabou aumentando aí na pandemia, eu creio que uns dez por cento, mais ou menos.
(42:59) P1 – Que bom! Porque o pessoal ficou mais em casa, né? Aí...
R1 – Só que depois começou a cair de novo, por que o que acontece? Eu tenho um acervo de oitenta mil livros, mas eu tenho que colocar, que nem diz o outro, adubo nele todo dia, eu tenho de colocar novidade todo dia, porque começa a ficar saturado o seu acervo. Aí, como estava fechado e não entrava material novo, o acervo foi ficando saturado na internet, aí começa também a diminuir.
(43:29) P2 – Quando você fala saturado na internet, você quer dizer o que, exatamente, assim?
R1 – É, porque é assim, o que eu digo é assim, por exemplo, vamos supor, um livro que eu vendo aqui a quinze reais, na loja, certo? E é material que eu vendo, que são livros que custam, novo, trinta e nove, quarenta e nove reais e eu os vendo a quinze, vinte, dependendo do estado de conservação dele aqui na loja. São romances, são esses livros. Mas, se você pegar esses livros que eu vendo aqui na loja nesses preços, se você for consultar na internet, o pessoal vende a cinco reais, seis. Eu acho inviável, porque o preço que eu pago, o custo de funcionário, embalagem, imposto, pra emitir a nota e tudo, eu prefiro não trabalhar, pra tomar prejuízo não... assim, não é prejuízo, mas é ficar empatando. E aí, então, a gente vende melhor aquele que é mais, que é um material mais selecionado, que é o que eu falei para você, que é, por exemplo: o livro didático, os técnicos. Então, esses livros são bem concorridos na internet. Mas se a loja está fechada, eu não consigo angariar esse material, porque... aí chegou um período que eu comecei, que eu fazia muito pouco, só quando era uma quantidade muito grande que eu ia até a casa das pessoas, para poder avaliar o produto, né? Mas, devido a pandemia, eu comecei a ir com quantidade bem menor, porque eu precisava do material. Preciso, né? Preciso da minha...
(45:05) P2 – Para fazer girar esse acervo?
R1 – Para fazer girar, exatamente. Porque também, às vezes, você - acontece de você... já aconteceu comigo, eu já percebi isso - vende um livro que é bom de venda na internet e a pessoa acaba comprando outro que não é bom, mas porque vai num pacote só, ela vai pagar uma tarifa menor de correio, um custo menor, ela acaba comprando. Então, também ajuda, né?
(45:28) P2 – Muito, né? (risos). Esse, esse... no correio esse custo para livros ser mais em conta, ajuda também a despachar pelo correio?
R1 – Então, é assim: esse custo não é mais, antigamente existia um subsídio para livro, né? Existia um subsídio para registro módico, que ele ia até trinta quilos. Ele era subsidiado, era um preço bem baixo o frete. Depois teve uma mudança na política, que tirou esse subsídio. E não tem mais o subsídio e esse registro módico ia até trinta quilos e ele passou a até três quilos, só. Depois passa para PAC. Aí esse custo é muito alto. Se eu mandar um livro para o nordeste, que custa vinte reais, trinta reais o livro e ele for passar de... esse produto passar de dois quilos, esse frete pode chegar até sessenta, setenta reais.
(46:39) P2 – Muito mais caro que o preço do próprio livro.
R1 – Muito mais, nem... muito, muito.
(46:45) P2 – Luís Antonio, o que eu já percebi é assim: alguns livros editados em Portugal têm um preço bom também, né?
R1 – É, normalmente as editoras portuguesas têm um... assim, o pessoal gosta mais, né? O pessoal gosta mais da... como é que fala? Acho que por ser mais próximo das obras originais, né? Então, o pessoal aprecia bastante, principalmente os colecionadores, os professores.
(47:27) P2 – Por isso que tem um preço maior, assim?
R1 – É, normalmente é... não é de regra, não são todos, mas, assim, tem alguns que são mais caros, sim.
(47:38) P2 – Entendi.
(47:39) P1 – Luís, você já vendeu livro pra fora do Brasil? Já mandou para o exterior, livros?
R1 – Já mandei. Já vendi.
(47:50) P1 – Para quais países? Você lembra, assim?
R1 – Não foram muitos, não. Foram poucos, não foi muito não. Mas eu me recordo que eu mandei para Portugal, Espanha, se eu não me engano é Suíça, Itália e me parece que teve um que foi para a Alemanha também, mas esse da Alemanha eu não tenho muita certeza, não. Mas é pouco, mas já tive sim.
(48:26) P1 – Legal. E uma coisa que eu sempre pergunto para os comerciantes, nesse nosso trabalho, é o que você gosta de fazer, quando você não está trabalhando? Você falou que trabalha muito, não tem tempo, mas alguma hora você para pra fazer alguma coisa, né? O que é? Jogar bola? Assistir televisão? Música? O que é? Passear?
R1 – Bom, eu, jogar bola eu gosto, continuo até hoje. Continuo não, depois que virou a pandemia nunca mais. Já faz dois anos que eu não jogo mais, mas era sagrado, duas vezes por semana. E pescar também.
(49:01) P1 – Ah, pescar? Certo.
R1 – Pescar.
(49:04) P1 – Aí perto de Rio Preto tem bastante rio bom pra pescar, né? É o Rio Grande, o Rio Paraná...
R1 – Tem. Tem.
(49:11) P1 – Você vai lá?
R1 – Tem o Rio Grande, tem o Paraná. Vou bastante no Rio Grande.
(49:16) P1 – Sim. Bonito. Bom, Luís, Cláudia você tem mais alguma pergunta?
(49:23) P2 – Não. Eu tô super tranquila. Super satisfeita.
(49:26) P1 – Legal. Luís, se a gente... se tinha alguma coisa que você gostaria que a gente te perguntasse e a gente não perguntou, pode falar, porque às vezes a gente esqueceu alguma coisa.
R1 – Não. Acho que a gente, basicamente, conversou de tudo. Sobre, assim... deu um apanhado geral. Não sei se alguma coisa que eu não soube me expressar direito, se vocês quiserem perguntar novamente. Eu não sei.
(49:53) P1 – Não. Foi ótimo. Achamos legal.
(49:55) P2 – Não. Foi ótimo. Eu só queria saber, Luís, o que você achou de ter dado a entrevista, de ter falado da sua história, ter deixado registrado, assim, a história sua, do sebo, para um museu assim, para a posteridade?
R1 – Ah, eu achei muito interessante. Nunca aconteceu comigo. (risos) Acho que a minha vida para ir para um museu não tem sentido, mas já que vocês querem...
(50:19) P1 – Vai para o Museu e para o Sesc. O Museu da Pessoa é o maior museu de história de vida do mundo. Fica lá em São Paulo. Sua entrevista vai ficar no portal, todo mundo, no mundo inteiro, vai poder ver. E também vai para o Sesc, porque tem o projeto do Sesc, aí vai virar exposição. Nós vamos te chamar para você ir, quando tiver a exposição, aí no Sesc de Rio Preto. Física. E, além disso, a gente têm um fotógrafo, que a gente está arrumando aí em Rio Preto, para ir tirar fotos de todo mundo que a gente entrevistou. Então, ele vai entrar em contato - é o Sesc de Rio Preto que arruma esse fotógrafo - com você e um dia que você puder, você marca com ele, ele vai fazer uma sessão de fotografias aí na loja, com você junto, com seus funcionários, para poder sair na exposição, no livro, certo?
R1 – Ah, sim. Pode mandá-lo me ligar, que a gente combina, sim.
(51:26) P1 – Tá legal, então. E, quando acabar a pandemia, que eu tô fora de Rio Preto, né, aí eu vou visitar o sebo de novo, que eu fui o ano passado. Tá bom? Combinado?
R1 – Ah, pode vir, que a gente tá aguardando, esperando aqui. Será um prazer atender vocês aqui, receber vocês aqui. E depois eu consigo o link da entrevista?
(51:46) P2 – Consegue. A gente vai subir tudo para o portal do Museu. A gente tem um trabalho agora, ela vai virar texto...
R1 – Vocês vão tirar as partes ruins, né?
(51:55) P2 – ... a gente vai corrigir, vai fazer biografia, vai fazer resumo, vai colocar as fotos. Tem um trabalho imenso agora. E, junto com a sua entrevista, a gente tem mais noventa entrevistas pra fazer.
R1 – Nossa Senhora! É bem trabalhoso. Acho que é mais trabalhoso que o meu, heim?
(52:12) P2 – É um projeto potente, assim. É um grande mapeamento do comércio do interior do estado. É um grande desafio que a gente está tendo, de fazer isso on line também, no meio da pandemia. Então, assim, a gente agradece muito você ter aceito o convite, para nós é fundamental a ajuda de vocês nesse projeto, senão a gente não conseguiria trabalhar também.
R1 – Eu é que agradeço a oportunidade de vocês, para a gente estar apresentando a nossa loja, da maneira que a gente trabalha, eu acho muito importante isso. A história é importante.
(52:45) P1 – Sim. Legal. Luís, mas assim que estiver on line, já estiver disponível no site, a gente te avisa, tá legal?
R1 – Ah, tá ok. Eu aguardo.
(52:58) P1 – Então tá bom. Um abraço e muito obrigado, viu?
R1 – Um abraço pra vocês.
(53:02) P2 – Obrigada, Luís. Boa noite. Bom descanso. Tchau, tchau.
R1 – Boa noite. Obrigado. Bom trabalho.
(53:07) P1 – Obrigado! Tchau, um abraço.
(53:10) P2 – Obrigada! Tchau, tchau.
R1 - Tchau.
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