IDENTIFICAÇÃO Sou Armando José Precaro e nasci em 3 de junho de 1944, no distrito de Sousas, município de Campinas. FAMÍLIA Meus pais são Armando Osvaldo Precaro e Yolanda de Lurdes Zanata Precaro. A origem é italiana. Meus avós vieram da Itália e se instalaram em Sousas. Isso os avós maternos. Os paternos se estabeleceram em Joaquim Egídio. Meus pais nasceram em Sousas e Joaquim Egídio. Convivi com os meus avós maternos, Atílio Zanata e Natalina Fuccio Zanata. O meu avô materno se instalou no comércio; trabalhava no ramo de açougue. O pai do meu pai trabalhava na CPFL [Companhia Paulista de Força e Luz] e a mãe, na lavoura do café. Eles viveram... Uma parte da vida deles foi na lavoura. Com o tempo, eles compraram uma pequena fazenda. Na época que o café teve aquela descida no preço, aquela crise mundial de 1929, e eles venderam a fazenda e vieram morar no centro de Joaquim Egídio. Isso os avós paternos, José Precaro e Julia Mancini Precaro. Meu pai, ainda menino, com 13 anos, terminou o período escolar e entrou pra trabalhar numa venda, um armazém de secos e molhados em Joaquim Egídio. Ele trabalhou em outros armazéns até ele se casar. Depois de casado ele fez a independência financeira dele. Iniciou uma pequena transportadora, depois ele teve um automóvel, carro de praça; e em 1951 ele comprou um prédio comercial em Sousas e instalou um armazém, um empório chamado Empório Precaro. Era um tipo de supermercado, reservando o tamanho, mas vendia armarinho, tecido e material de construção; uma parte de hidráulica, elétrica, tinta, cimento e cal. Eu convivi no armazém desde a idade de 7 anos. Quando meu pai abriu o armazém, nós fomos morar no prédio do armazém. Eu cresci, praticamente dentro do armazém. Minha mãe ajudava meu pai. CIDADES / CAMPINAS / SP Sousas era uma pequena vila. Sousas e Joaquim Egídio tinha no café a parte de seu rendimento. Na época, as fazendas cafeeiras eram a riqueza. E...
Continuar leituraIDENTIFICAÇÃO Sou Armando José Precaro e nasci em 3 de junho de 1944, no distrito de Sousas, município de Campinas. FAMÍLIA Meus pais são Armando Osvaldo Precaro e Yolanda de Lurdes Zanata Precaro. A origem é italiana. Meus avós vieram da Itália e se instalaram em Sousas. Isso os avós maternos. Os paternos se estabeleceram em Joaquim Egídio. Meus pais nasceram em Sousas e Joaquim Egídio. Convivi com os meus avós maternos, Atílio Zanata e Natalina Fuccio Zanata. O meu avô materno se instalou no comércio; trabalhava no ramo de açougue. O pai do meu pai trabalhava na CPFL [Companhia Paulista de Força e Luz] e a mãe, na lavoura do café. Eles viveram... Uma parte da vida deles foi na lavoura. Com o tempo, eles compraram uma pequena fazenda. Na época que o café teve aquela descida no preço, aquela crise mundial de 1929, e eles venderam a fazenda e vieram morar no centro de Joaquim Egídio. Isso os avós paternos, José Precaro e Julia Mancini Precaro. Meu pai, ainda menino, com 13 anos, terminou o período escolar e entrou pra trabalhar numa venda, um armazém de secos e molhados em Joaquim Egídio. Ele trabalhou em outros armazéns até ele se casar. Depois de casado ele fez a independência financeira dele. Iniciou uma pequena transportadora, depois ele teve um automóvel, carro de praça; e em 1951 ele comprou um prédio comercial em Sousas e instalou um armazém, um empório chamado Empório Precaro. Era um tipo de supermercado, reservando o tamanho, mas vendia armarinho, tecido e material de construção; uma parte de hidráulica, elétrica, tinta, cimento e cal. Eu convivi no armazém desde a idade de 7 anos. Quando meu pai abriu o armazém, nós fomos morar no prédio do armazém. Eu cresci, praticamente dentro do armazém. Minha mãe ajudava meu pai. CIDADES / CAMPINAS / SP Sousas era uma pequena vila. Sousas e Joaquim Egídio tinha no café a parte de seu rendimento. Na época, as fazendas cafeeiras eram a riqueza. E Sousas e Joaquim Egídio tinham uma população relativamente grande. Até foi colocado um trem que ia de Campinas até Cabras, com as estações pra trazer a produção de café, de algodão. Com essa queda do café, Sousas, Joaquim Egídio e Cabras ficaram com a população mais reduzida. Era uma vila pequena, comércio pequeno e era muito sossegada. Era praticamente uma família, um reduto de imigrantes. Praticamente, quem morava em Sousas e Joaquim Egídio eram as famílias de imigrantes. Uma parte deixou Sousas e Joaquim Egídio e foi para outros centros maiores, para São Paulo, enfim. A parte que ficou era uma família praticamente. Todo mundo convivia em um vilarejo. INFÂNCIA A minha infância foi muito gostosa porque de manhã eu andava, fazíamos aquelas brincadeiras de faroeste, entrava pelo meio do mato, brincando de índio, de mocinho. Eu me recordo que eu gostava muito de uma época do ano - e eu não sabia por que, depois eu descobri - que era a primavera. De manhã era aquele cheiro de capim-gordura, aquela coisa gostosa, e à tarde sempre tinha aquele joguinho, aquela pelada de futebol no estradão. Nós íamos ao campo de futebol do Sousas Futebol Clube e jogávamos até escurecer, até não enxergar mais a bola; depois íamos para casa. Na época de verão, de primavera, quase todo dia estava pulando no rio, nadando no rio. O clube não tinha piscina, nós também não éramos sócios, então íamos nadar no rio. Andar de bicicleta, porque meu pai deixava. Eu ia pra aula à tarde, depois saia da aula: “Pai, eu vou andar de bicicleta.” “Pode ir.” “Eu vou jogar bola no estradão.” Só queria que avisasse. Porque a preocupação deles, na época, era perigo na beira do rio, essas coisas. Ele deixava sair. Foi muito boa a infância. O meu irmão tinha três anos a menos do que eu. Na época, ele me acompanhava depois de certa idade. Ele era pequenininho e não saia de casa. Tinha os amigos, saia de bicicleta. COMÉRCIO DE CAMPINAS / SOUSAS O armazém do meu pai foi um dos mais novos porque os armazéns, as vendas, como eles falavam na época, já eram antigas, de famílias já estabelecidas. E meu pai, como ele foi um emergente, um ascendente, ele era funcionário, depois ele fez a independência, ele instalou o armazém dele, o menorzinho, mas novo. Era pequeno. Era o mesmo jeitão dos outros. Mesmo tipo de instalação. Mas meu pai já tinha um sangue mais novo, ele já era bem jovem. Quando ele se estabeleceu, tinha 33 anos. Foi uma época que ajudou porque tinha a parte que vendia a construção e logo veio essa procura de material de construção, pegou uma atividade grande. E foi daí que surgiu a minha loja. Já estava por volta de 1970, 71, eu terminei meus estudos e me casei, e eu tinha uma vontade, de ter uma profissão. É uma questão que eu não tinha uma resposta, porque meu pai queria que eu estudasse e eu não tinha intenção de que profissão escolher. A resposta veio bem depois, que eu percebi, mas eu não tinha idéia do que fazer. Eu fiz uma faculdade de Ciências Econômicas, mas guardei o diploma e continuei trabalhando no armazém. Eu já estava casado e estava trabalhando com meu pai. E na época começaram a aparecer os primeiros supermercados; veio a era do supermercado. Aquela venda com balcão, atendimento, já era diferente. Ou era supermercado ou auto-serviço pequeno, com as gôndolas e o caixa na frente. E a minha idéia era transformar pra auto-serviço, tirar o balcão. Eu tive idéia de deixar a parte de secos e molhados, de armazém, e fazer uma seção separada da parte de construção, hidráulica, elétrica, tinta. Havia um salão separado do prédio, que o meu irmão tinha desocupado. O meu irmão tinha uma loja de confecções e ele desocupou aquele salãozinho. Eu fiz a prateleirinha ali, com umas latinhas de tinta, umas lâmpadas que eu coloquei do armazém e alguma coisa de material. E o pessoal entendeu que eu estava abrindo uma loja de construção; não sabiam que eu estava só com uma seção a parte. Como a procura era muito grande de material, aquela seção que eu separei começou a faturar bem mais que o armazém. Meu pai falou: “Agora você abre uma empresa pra você. Eu continuo com o armazém.” Meu pai já estava quase pra se aposentar. Foi aí que eu dei entrada na abertura da J. Precaro. Mas, na época, tinha os armazéns, aquelas vendas antigas e as padarias que forneciam pão e frios. Mas o consumo era um consumo de vilarejo, mesmo, era bem modesto. Tinha o pessoal de fazenda que não tinha dinheiro e traziam um vale do dono da fazenda. Meu pai recebia o vale do patrão, não traziam nem dinheiro. TRANSPORTE Eu não lembro do trem. Depois acabou aquela safra de café, algodão, eles suspenderam o trem. Só tinha um bonde. Andava em um bondão. Era um bonde que carregava bastante passageiros, depois foi substituído por um pequeno, tipo esse que tem no centro de Campinas, pequeno. Ele saia da estação, descia a José Paulino, pegava a parte da Orozimbo Maia e pegava a parte para Sousas, aqui no ramal férreo. FORMAÇÃO Em 1951, eu fui da primeira turma do jardim da infância de Sousas. Fiz meu grupo escolar, no Tomas Alves de Sousas. Em 1955, eu estava na quarta série, quarto ano primário, eu fiz admissão ao ginásio, no colégio Cesário Mota e eu sai do Colégio Cesário Mota em 1965 pra ir pra a faculdade. Eu fiz aqui em Campinas, na PUC. Economia. Meu pai nunca forçou. Ele gostaria que eu fosse engenheiro, mas eu até me perguntava por que meus colegas, meus amigos iam pra São Paulo, pras outras cidades, Curitiba. Eles faziam cursinho, faziam faculdades, medicina, engenharia, e eu não me interessava. Eu queria fazer faculdade, queria ter um diploma. Eu terminei a faculdade, o pessoal oferecia cursos de pós-graduação nos Estados Unidos e tal, mas não passava da idéia. Depois que eu vim a entender que a profissão que eu queria era a do meu pai. Porque ele era uma pessoa que trabalhava contente, sorrindo, assobiando, muito alegre, feliz do que ele fazia. Eu, inconscientemente, queria seguir a profissão dele. JUVENTUDE Tinha aquelas festinhas americanas, que eram moda, nós levávamos o rum com a Coca-Cola e as meninas levavam salgadinhos e doces. Tinha sempre um que levava vitrolinha. Tinha um amigo nosso que tinha uma vitrola muito boa. O hobby dele era comprar discos de vinil. Era muito gostoso. Tinha o cinema. O cinema era obrigatório. De terça, quinta, sábado e domingo, cinema. Os cinemas eram em Sousas. Foi inaugurado um cinema novo, moderno, bonito, o Cine Danúbio, na época. Os bailes eram aqueles tradicionais: tinha o caipira, depois tinha o da primavera, depois tinha o da rainha. Tinha o clube, Clube Recreativo Sousense, que era freqüentado pela sociedade e as matinês de domingo à tarde. Foi a época da lambretinha. Pegava a Lambreta, ia para os bailes em Campinas, Valinhos. Foi uma época também muito boa. Na faculdade já estava namorando, então à noite era aula, sábado e domingo ia pra casa da namorada em São Paulo, e era essa a vidinha. VIAGENS Meus pais nunca tiveram férias. De vez em quando escapava. Saía num sábado e voltava no domingo. Ia pra Santos. Meu pai gostava muito de Poços de Caldas. Ia no final do ano, no dia 31 e voltava no dia 1º. Meu pai tinha uma camionete que cabia a família dentro e nós íamos. Ele gostava muito de visitar os parentes. Todo domingo nós visitávamos. A minha mãe tinha uma irmã em Valinhos, então todo domingo estávamos lá. E um domingo por mês, nós íamos pra São Paulo, pois tinha os outros irmãos dela em São Paulo, e nós íamos lá com a camionetinha. CRESCIMENTO DO NEGÓCIO Eu fui impulsionado pra esse caminho. A empresa começando com prédio próprio, com família trabalhando e bem mais fácil. Foi um boom. Eu entrei nessa corrida de comércio. Foi a época do milagre brasileiro, dos anos 70. Em Sousas foi a época que começaram os loteamentos. Que até então não havia loteamentos, era só vilinha, aquela parte urbana, pequena. Mas nessa época, nessa década de 1970 aconteceram os loteamentos e aí facilitou. Sousas foi mais de moradia. Algumas, que era moda nas outras décadas, de pesqueiros, chácaras. Tinha alguns pesqueiros, algumas chácaras, mas o que impulsionou mesmo foram as moradias, a procura das residências. Houve a época da procura aqui em Campinas da moradia vertical, mas aí voltou à procura de residência, uma casa com quintal. Uma parte mais residencial, em contato com a natureza. Minha loja eu sempre procurei crescer com solidez. Não arriscando e contando com o sucesso antes de acontecer. A minha loja começou bem pequena e eu investia de acordo com a necessidade, de acordo com o rendimento do próprio capital. Sem usar um capital de terceiros, mais o capital próprio mesmo. A minha idéia sempre foi de permanecer no mercado, não de esquematizar um crescimento sem uma base. A minha preocupação era que o ramo de construção tem muita facilidade de crescer, mas existe o inverso; não sabe se vai realmente dar certo. Eu me sinto hoje realizado por estar todo esse tempo no mercado, continuando ainda com esperança de ir mais pra frente. Havia uma diferença porque na época as lojas de material eram individuais, era uma loja só. E entraram as redes que vieram de São Paulo, foi dividindo, a concorrência veio bem rápida também. O capital deles maior, das redes, isso veio de frente conosco. Nós dividimos o bolo, não foi assim como na época de 1970, que o crescimento era rapidíssimo. Hoje está mais com as grandes lojas. Nós temos o depósito, que é um comércio individual, defronte com as redes. A história se repete, como aconteceu com a primeira loja, eu não imaginava ter uma loja de material de construção e ela apareceu. Essa segunda loja apareceu também. Porque eu comprei um terreno maior que o da outra loja e coloquei lá um depósito fechado, que era só para armazenar material; o caminhão ia lá, carregava e entregava. E esse terreno ficava na avenida que vem pra Campinas. Aconteceu que os clientes em potencial passaram a ser de Campinas, porque o pessoal da cidade comprava terreno em Sousas. De manhã, era uma procissão de pedreiros, arquitetos, donos de obra; eles passavam na avenida. Os colegas com os depósitos novos instalaram lá em cima, que havia mais espaço para instalar comércio, o centrinho já estava muito pequeno. Virou a parte da avenida de chegada à Campinas um centro comercial maior do que o centro antigo. E o pessoal começava a entrar com lista no depósito pedindo material. Não era loja, era um depósito. Mas como coincidentemente eu tinha colocado meu gerente da loja no depósito pra organizar, ele começou a vender sem loja mesmo, só com telefone e pegando a lista de um e de outro. Nós fomos obrigados a construir um barracão para colocar a loja de emergência. Surgiu a segunda loja e começou a faturar, em poucos meses ultrapassou o faturamento da primeira loja. Foi um sucesso. FUNCIONAMENTO Sempre foi das 7 da manhã às 6 da tarde. Aos sábados, eu trabalhava até duas e meia, três horas. Agora nós fechamos a uma hora. E no período nós fechávamos para almoço, tinha essa chance, condição de fechar, todo mundo almoçava. Depois voltava, abria de novo. Aos sábados também. No começo trabalhava de manhã, aos domingos e feriados. Depois foi fechando mais cedo de sábado, domingo não abria mais. O horário do almoço agora nós revezamos. Minha esposa trabalhou um período comigo. Agora não, ela tem outra atividade. A minha casa fica a 150 metros da loja. Eu moro próximo da ponte do rio, atravessa a ponte já está chegando na minha loja. CIDADES / CAMPINAS / SP Campinas era uma cidade promissora, crescendo com base na indústria e com um comércio forte. Era uma cidade agradável, ainda tinha os cinemas, as diversões. Era uma cidade com muitas vantagens. Tenho um conhecido que é suíço e foi trabalhar em Sousas. Ele falava que precisava trazer o pessoal da Suíça: “Eu estou em uma cidade que tem um aeroporto internacional, tem uma situação privilegiada.” Campinas, nos anos 70 era uma cidade que convidava as pessoas a terem um bom motivo para poder se instalar. COMÉRCIO DE CAMPINAS Sousas era um vilarejo, tinha uma loja que era uma alfaiataria, lojas que vendiam armarinhos, presentes. Em Campinas, eu lembro dos Calçados Clark, da Picolloto, das lojas de móveis, da Zanollini. Aquelas lojas Renner, de roupa; Regional Caetano. O pessoal vinha fazer compras em Campinas. FUNCIONÁRIOS Como a loja ela nasceu como uma criança, eu ficava na loja, entrava o cliente eu atendia. Se o pedido dele precisasse ser entregue, eu saía para entregar. Meu pai e minha mãe ficavam ali tomando conta. Voltava, atendia outro e saía de novo. Até que contratei o primeiro funcionário, meu motorista, para ele sair para as entregas. Depois eu contratei um menino para ficar no escritório, para organizar os papéis. Fui contratando um a um. Veio o segundo caminhão, o terceiro caminhão. Foi aumentando a parte de entrega. Eu fui comprando caminhão maior. E foi crescendo gradativamente. Hoje eu tenho 18 funcionários nas duas lojas. CLIENTES A minha clientela veio desse período do armazém, que foi o padrinho, foi o patrono da loja. Nós mantemos hoje até, poderia se dizer, a caderneta, que o cliente vai lá, faz a compra, depois paga. E não mudou, não é um tipo de loja de centro que não se conhece o cliente. Nós conhecemos o cliente já desde os avós, os bisavós. Também aqueles que chegam, nos identificamos com eles, criamos uma proximidade com o cliente. Isso diferencia a minha loja das outras. Tem lojas que já tem mais o tipo de cidade, que não conhece o cliente. Nós temos mais proximidade com eles. Tem cliente desde a fundação. Foi cliente do meu pai, do armazém. PRODUTOS Hoje eu tenho uns artigos de coisas de sitio: fogão à lenha, fogão já montado, peças para o fogão. A chapa, o forno, chaminé. São coisas que por um tempo eu mantinha alguns tipos de artigos. Hoje está mais em pecuária. Hoje o que vende é o material básico, mesmo, o que tem mais saída, cimento, cal, material básico para início de obra. Tem uma parte dos clientes que tomam a loja como um parceiro. O que eles precisam eles pedem para fornecer. E outros não. Eles costumam escolher um tipo de um artigo só. Eles acham que eu só vendo o material básico, então eles não procuram o acabamento. Outros não, outros o que o pedreiro pede, eles levam a lista pra mim e pede pra que eu forneça. Nosso trabalho é feito assim: damos um prazo de entrega para o cliente. Uma grande parte dos produtos não são usados no momento, então damos prazo de um dia, uma semana, um mês pra entrega. O nosso costume é não dizer que não tem aquele produto. Seja o que for para construção nós damos um prazo para entrega, preço, orçamento e fornecemos qualquer material. MOBILIÁRIO Essa loja, a número um, a matriz, tem o mesmo tipo de balcão, tipo de prateleira; é a mesma ainda. A outra loja já tem a gôndola, já tem o caixa. É mais rápido. Já tem estacionamento. Diferenciado da outra loja que não tem estacionamento; é no centro, e o balcão ainda é aquele tradicional. FORMAS DE PAGAMENTO Na época tinha o cliente de caderneta e o cliente que precisava de um financiamento, construir a casa total. Nós começamos com financiadoras. Depois o pessoal não se interessou tanto por causa de juros, acréscimo. Voltou a ser como era antes e agora mais facilitado com o cheque pré-datado. E agora com os cartões de crédito que por si financiam. Hoje, mais o cartão. Agora com os cartões eles estão fazendo já a venda para o cliente diretamente, com limite de cartão, facilitou bastante. A inadimplência não é significativa. Existe uma época, um momento que cresce, mas depois decresce. Hoje está mais branda a coisa. O fiado sempre teve. E permanece até hoje. Nós acabamos aprendendo. Uma coisa que eu aprendi é que as pessoas têm hábitos. E pelo que nós vivemos, os clientes antigos, de gerações. Nós conhecíamos a família que não tinha hábito de pagar e aquelas que tinham hábito de pagar. Eu vejo assim, o cliente paga, se ele tem hábito. Tem cliente que não paga e tem dinheiro; tem aquele que não tem dinheiro, mas um dia, uma hora, ele dá um jeitinho e paga, mesmo com a maior dificuldade. É questão de hábito. Nós já tivemos inadimplência com o máximo de cuidado pra não acontecer e aconteceu. Por causa de hábito. A pessoa não quer pagar, não paga. PROPAGANDA Não faço propaganda. Eu faço só na lista telefônica. É um tipo de cliente assíduo, ele procura. O que funciona na nossa loja é o boca a boca. Chega o cliente que foi indicado pelos parentes, pelos amigos, pelo arquiteto, pelo pedreiro. Eu não vendo porque eu tenho um marketing; não tenho site, nada. É só no boca a boca. DESAFIOS Tudo aconteceu tão harmoniosamente que realmente eu não vejo uma situação difícil. Ultimamente é que está aparecendo desafio... O maior desafio foi essa época do Plano Real. O Plano Real veio trazer pra empresa brasileira, a verdade. Porque na época da inflação, na outra época, era fácil de... A própria inflação absorvia as despesas. Eu facilitava a venda com acréscimo de preço da inflação. E depois, não havendo mais inflação apareceu realmente a verdade do custo. Isso está sendo um desafio para mim. Desde a implantação do Plano Real, eu consegui ter uma organização. O padrão das empresas era de trabalhar na inflação. A inflação foi do final dos anos 1950 pra cá. Até 1993. Foi um período longo que acomodou as empresas nesse tipo de economia, e aí virou. É outro tipo de economia, isso exige perfeição. As empresas que estão vivas hoje, ou elas já estavam preparadas ou elas estão lutando pela perfeição. SUCESSO Eu tenho um primo que era muito questionado na questão de empresa. Alguém perguntou para ele um dia: “Qual empresa, que ramo tem mais vantagem?” Ele falou assim: “A empresa controlada, organizada.” Tem que ser uma coisa, como eu disse, perfeita. Para ela poder continuar viva. COMÉRCIO DE CAMPINAS Se nós perguntássemos se o comércio de Campinas precisa de mais alguma coisa, eu diria: “Bom, shoppings centers existem muitos.” Na época existia o Iguatemi, o Galeria, o Campinas, o Unimark. Não precisava de mais shoppings centers. E aí apareceu um maior, o Dom Pedro, e os outros não se intimidaram, eles investiram. O comércio é essa maravilha que são os riscos e as buscas. E Sousas está crescendo bastante. Todos os ramos de construção, agora o ramo de farmácias, que chegaram em Sousas. Agora já está chegando rede de supermercado, que eram só os auto-serviços, agora já estão chegando supermercados. E os comércios desde o pequeno, o médio, se tornam grandes. Isso é uma coisa fantástica. RELAÇÃO COM O ESTADO DE SÃO PAULO São Paulo tem que lutar pra continuar o pioneiro, a locomotiva. Porque ele está sendo enfrentado pelos outros estados. As empresas do Sul estão já bem avançadas, estão entrando pra cá. São Paulo já era a locomotiva, precisa também ir trocando os trilhos, trocando as máquinas. LIÇÕES DO COMÉRCIO Eu sou um apaixonado pelo comércio. Quando um funcionário meu fala que vai mudar de ramo, eu fico triste. O comércio é uma coisa fantástica, que dá abertura pra nós nos comunicarmos. O dia fica maravilhoso porque é um entra e sai, você conversa com todo mundo. Tem relacionamento com o povo. Isso pra mim é vida. Até hoje fico no balcão atendendo. MEMÓRIAS DO COMÉRCIO DE CAMPINAS Eu avalio isso uma procura não somente histórica, mas também que dá um incentivo pra nós tocarmos mais pra frente. Porque sempre vivemos nós questionando: será que não seria interessante parar, mudar? Quando recebemos o convite foi muito lisonjeiro, gratificante pra nós. E sabendo que é uma coisa séria, que não existe nada por trás de interesse. O interesse não é individual, o interesse é sério, de uma nação. Que assim que se constroem nações. A história e o incentivo.
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