Projeto Memórias do Comércio 2020-2021 – Módulo Bauru
Entrevista de Gerson Luís de Ângelo – Hotel Fenícia
Entrevistado por Luís Paulo Domingues e Guilherme Dias Foganholo
Bauru, 29 de janeiro de 2021
Entrevista MC_HV010
Transcrito por Selma Paiva
P/1- Bom, senhor Gerson, pra começar eu gostaria que o senhor dissesse o seu nome completo, pra ficar registrado pelo senhor aqui, a data de nascimento e o local de nascimento.
R- É Gerson Luis de Ângelo. Nascimento, vinte e quatro de julho de 1954, em Pirajuí.
P/1- Legal. E qual o nome do seu pai e da sua mãe?
R- O meu pai, Élson de Ângelo. A minha mãe, Jorgina Bernardinelli de Ângelo.
P/1- E os seus avós, o senhor conheceu? O senhor lembra do nome deles?
R- Conheci. Luis de Ângelo. E a minha avó... o meu avô do Paraná é Antonio. Antonio Bernardinelli. Me lembro bem deles. Da minha avó materna, paterna, eu já não conheci. Eu era muito pequeno quando ela se foi.
P/1- E o senhor tem irmãos?
R- Tenho. Tenho três irmãos. Quatro comigo.
P/1- O primeiro nome deles, se o senhor lembrar.
R- Álvaro, Janete e Edna.
P/1- Legal. E o senhor nasceu em Pirajuí, né?
R- Exato.
P/1- E o que o senhor sabe da origem da sua família? Eles vieram imigrantes de outros países? Como foi?
R- A minha família é original da Itália. Os meus bisavós vieram da Itália. Eles passaram pela região aqui, Bauru, Jaú, mas se fixaram em Pirajuí. Lá, basicamente, eles compraram terras, eram agricultores. Inclusive, eu nasci numa colônia de italianos lá em Pirajuí, na Estiva. E logo eles foram pra cidade. E meu pai virou, lá em Pirajuí, um comerciante do ramo de móveis. E até hoje já ______ (3:25) irmãos, um bom negócio lá na cidade. E eu naquela época de 1965 ou 1970, nós saíamos pros centros maiores, pra procurar oportunidade de emprego. Então, eu fui pra Campinas, fiquei lá muito tempo. E depois voltei pra Bauru.
P/1- Quer dizer que o senhor nasceu na Estiva? No distrito, né?
R- Exato. Estiva. É distrito lá de Pirajuí.
P/1- Sim.
P/2- Senhor Gerson, o senhor sabe de que região da Itália a sua família veio?
R- Nós estamos em pesquisa. A minha avó dizia que se tratava da Calábria. Mas nós estamos em pesquisa, porque os antepassados nossos, os bisavós infelizmente tiravam os nomes das mulheres, ficavam só os nomes dos homens e temos dificuldades em cartórios pra isso. Mas já tem alguns dos nossos que já conseguiram a cidadania italiana. E eu estou batalhando também. Mas não temos ainda dados, muito, assim, pra fornecer da Itália ainda, não.
P/2- Bacana.
P/1- Senhor Gerson, o que o senhor lembra do seu período de infância? Assim, lá na Estiva, como era a paisagem? O que o senhor fazia no dia a dia?
R- É muito gratificante falar disso. E dá um assunto pra muitas horas. Porque eu gosto de falar disso. A minha infância foi basicamente aquela, na época que nós podíamos sair de bicicleta, andar à vontade. Andava muito no mato. Ia pescar muito. Nadávamos em cachoeira. Saíamos do serviço às três da tarde, quatro horas da tarde estava nadando em cachoeira. Coisas que hoje não se faz. Existiam clubes, a gente frequentava com os colegas, com nossas turmas aí, se divertia muito. Subíamos muito em árvore. Pescava. Todo domingo andava muito de bicicleta, ia longe, em fazendas, pra procurar rios, pra procurar lugares pra pescar. A nossa vida era essa. Muita movimentação. Muita atividade física. Muita diversão. Muita natureza. Comíamos nos pés, né, subíamos nos pés pra comer, pra chupar manga. Passávamos muito tempo em cima de árvores, (risos) trepado em árvores. Era uma diversão. Eu falo pros meus filhos, hoje eles realmente têm uma falta de uma situação parecida com essa. Eu tenho muito orgulho. E eu acho que enriqueceu muito os nossos sentimentos, as nossas raízes. As amizades eram mais constantes, mais presentes. Nós andávamos com as nossas turmas, os nossos amigos, os nossos tios. Sempre bem próximos, conversando muito. Então, conversar, que hoje é um pouco mais difícil e como eu estou tendo esse prazer de falar com vocês, eu falo bastante. Porque a carência nossa de conversar já é daquela época, que a gente só fazia era conversar, exercitar a nossa necessidade de expor os nossos sentimentos, as nossas ideias. E se fazia muito. Eu acho que era o que nós mais fazíamos era isso. Ninguém ficava preso em casa. Hoje, infelizmente, nós estamos vivendo essa situação. Mas isso na idade de infância, até a juventude era assim. Depois íamos pro trabalho, aí começa a vida já com disciplina de horário e cumprimento de deveres, depois sustentar família, daí pra frente.
P/1- Mas ainda na infância, lá na Estiva, o seu pai já tinha o negócio de móveis? Ou trabalhava ali na região? Como era?
R- Em Estiva foi onde eu nasci. Onde eles tinham _______ (7:17). Eles eram agricultores. Daí quando se mudaram, em Pirajuí, sim. O negócio do meu pai começou assim, por necessidade, no fundo de casa. No fundo, utilizando partes da residência pra se fazer, construir colchões, construir sofás. Ele foi fazendo uma coisa muito lenta. Então, nós trabalhamos muito dentro de uma marcenaria, no começo, ajudando-o, até ele se abrir mesmo a porta dos negócios. Ele era muito comunicativo. Conhecia muita gente. E o negócio em dois, três meses já explodiu. E até hoje, graças a Deus, vai muito bem lá. Em Pirajuí.
P/1- Isso já em Pirajuí?
R- Já em Pirajuí.
P/1- E o que o senhor gostava de fazer quando era criança, assim? E no começo da juventude? Quais eram as brincadeiras? A gente sempre pergunta isso, porque muda muito pra hoje.
R- Muda. A nossa vida numa cidade pequena era de já sair de manhã, já ir atrás... tínhamos muitas obrigações. Os pais faziam a gente trabalhar desde pequeno na horta de casa. Muitos produtos vinham do próprio quintal, né? Muitos produtos, muita coisa que a gente comia vinha do próprio quintal. A gente ajudava nisso. Depois era a escola e amigos. E esse lazer todo que a gente vivia. Cantávamos muito. Tocávamos violão. Fazíamos serestas. Andávamos com o violão nas costas, pra cima e pra baixo. E a praça em Pirajuí era característica, né? Era o ponto de encontro de todo mundo. Nós íamos à praça pra namorar, pra andar. Naquele tempo que tinha aquela fonte bonita no meio, nós circulávamos em volta, à noite. O nosso lazer era andar. As meninas de um lado, os rapazes de outro e faziam aquela paquera, _______ (9:15) muitos casamentos, né? Mas o que eu fazia mais, lá atrás, era pescar, andar de bicicleta, correr e jogar bola. E divertir o tempo todo. A escola a gente fazia a obrigação. E o principal era o lazer mesmo, era aproveitar a infância, a diversão.
P/1- O senhor falou de tocar viola.
R- Tocava violão. Eu tinha... era finalzinho dos anos 1970 já, ______ (9:45) nós fazíamos conjunto, tocávamos guitarra, cantávamos em baile também.
P/2- O que vocês gostavam de tocar, Gerson?
R- Como?
P/2- O que vocês gostavam de tocar no violão? Se tinha um som favorito pro pessoal ouvir, assim?
R- _______ (10:03) da música popular brasileira, com Caetano, com Gil, Gal Costa. Tocávamos muito Creedence, a que mais nós tocávamos, porque o rock... o conjunto era de rock, na verdade. Tocava oitenta por cento Creedence, Rolling Stones. Aí vinha música brasileira também, que era mais complicada. Era mais complicada pra tocar, sempre era mais elaborada. A música do rock sempre era mais fácil. Mas _______ (10:39).
P/1- A gente está falando bastante de música, o Creedence, foram bandas importantes na época, né, é até hoje, mas o senhor sabe que aí, a sua terra lá - Estiva e Pirajuí – é a de um dos maiores violeiros do Brasil. O senhor conheceu o Levi Ramiro?
R- Levi Ramiro. Deve ser antes da gente. A viola era o lado raiz da terra, né? A viola ainda era o lado de quem cultivava a terra. Nós éramos rebeldes, éramos do rock. A viola pegava um pouco menos. Mas eu não tive o prazer de conhecê-lo, não.
P/1- É porque eu sei que ele mora lá até hoje, na Estiva. Ele está morando lá.
R- Nossa!
P/1- E senhor Gerson, e na escola, como era? O senhor começou a estudar, tinha escolinha na Estiva?
R- Eu comecei a estudar, era época do regime militar. Não, eu comecei em Pirajuí. Em Pirajuí, primeira série, segunda série, grupo escolar. Era regime militar. Mas dava gosto. Era, assim, nós íamos pra escola com muito prazer. Sentávamos cada um na sua carteira. Todo mundo uniformizado igualzinho, ninguém com uma calça jeans diferente, não tinha. A disciplina era muito grande. O ensino era puxado, era forte. Mas ainda do tempo, que eu me lembro, que não existia nem caneta esferográfica. Nós usávamos aquela caneta tinteiro, tinha que levar um vidro de tinta pra escola, molhar, encher a borrachinha da caneta Parker, né? Depois escrever com um mata-borrão. Era assim que a gente escrevia os textos, era assim que a gente fazia as tarefas. Tudo em cima de lápis e caneta tinteiro. Mas eu gostei muito. Nossa, eu adorava. Aliás, os pais já passavam a necessidade da escola, os filhos já iam pra escola com muito orgulho. Porque o nosso orgulho era com os pais, era passar pra eles, corresponder ao que eles pediam. E isso era bastante...
P/1- E o que o senhor gostava na escola? O senhor se destacou em alguma matéria? O senhor lembra dos seus professores, que o senhor gostou mais?
R- Eu me destaquei um pouco mais no ginásio. Eu tinha o professor Gerson - que é meu xará - Trevisan, que hoje ele é... bom, era diretor aqui do colégio Objetivo, aqui em Bauru. E foi professor de matemática lá em Pirajuí, quando eu comecei a oitava série, naquela época. E todos nós adorávamos a aula dele. O professor Gerson Trevisan era uma pessoa muito carismática. Ele dava aula, ele sorria, ele descontraía. Eu tinha muita admiração. E todo mundo ia muito bem em Matemática. Apesar que o meu destaque era Português. Eu gostava de fazer redação, de escrever. As minhas redações, às vezes, eram lidas lá pela professora, em classe. Eu tinha muito orgulho disso. Gostava muito de escrever. Até hoje eu gosto dessa parte da fala e da escrita. Mas a Matemática não era o principal, não.
P/1- Certo. E como era o seu dia-a-dia? O senhor ia pra escola e ia trabalhar depois? Ou ao contrário? Como era?
R- O trabalho em casa eram as obrigações de casa: ajudar o meu pai na marcenaria dele. Era cuidar de horta. Era ajudar a limpar a casa, porque os meninos também arrumavam cozinha, os meninos também passavam escovão na madeira da sala, enceravam. Participavam. Todas as casas eram assim. Os homens trabalhavam no serviço doméstico também. Tinha onze, doze anos, tinha tarefas distribuídas, certinhas, muito organizadas em casa, desde arrumar a cozinha até encerar a casa. Mas o meu trabalho diário meu, mesmo, era cuidar mesmo da plantação dele, das alfaces, almeirões e tudo que ele plantava lá, que era grande. Então chegava, depois da escola, eu tinha bastante tarefa em casa. Mas de manhã, antes da escola, que eu entrava na escola no meio do dia, saia às dezesseis horas, de manhã a gente saía mais, mesmo, pra praticar esporte, andar, andar de bike, brincar, ensaiar mais pra frente aí a música.
P/1- Certo. E o senhor estudou o tempo todo lá em Pirajuí mesmo, né?
R- Eu estudei lá até o colégio. Depois eu já me mudei pra Campinas. Depois já com dezessete anos, eu já fui pra Campinas. Eu já tinha terminado o colégio, eu fui pra Campinas.
P/1- Certo. Mas antes disso, então, conta como o senhor formou o seu conjunto aí, que o senhor falou.
R- O nosso conjunto foi formado por uma cabeça que era mais gênio de música, que era o Sadir Bromati, de Pirajuí, que era o cabeça, o raciocínio da música. Ele era o vocal, ele era o solo. Eu fazia a base. E ele cantava, desenvolvia e passava pra gente e a gente seguia. Mas a gente tinha um _______ (16:37).
P/2- Tinha nome a banda?
R- E era o Sadir.
P/1- E qual era o nome da banda, o Guilherme perguntou.
R- Tubarões Vermelhos. (risos) Tubarões Vermelhos. _______ (16:51)
P/2- Excelente nome.
R- As meninas mandavam recadinhos. Era muito divertido.
P/1- Certo. E tem um motivo do nome Tubarões Vermelhos?
R- Olha, esse aí foi um nome criado por um dos nossos colegas lá, o Sérgio, do conjunto. Ele era a parte artística, né? Ele fazia a parte de contatos. E ele criou esse nome. Eu não participei muito da criação do nome, por que ele fez isso. Mas foi um nome pra chocar. Eu acho que foi um nome pra dar um impacto. Um impacto na época, que eram os Tubarões, sem referência, uma coisa nossa mesmo, uma coisa do conjunto. Sem copiar nada, ele criou esse nome aí.
P/1- Entendi.
R- Aliás, era um nome bem, vamos dizer, assimilado, bem aceitado.
P/1- Certo. E tinha lugar pra tocar lá em Pirajuí? Vocês se apresentavam onde?
R- Olha, no começo, sabe que naquela época existia uma coisa que chamava brincadeiras. As pessoas, os jovens de doze até os quinze anos, se reuniam. Não havia televisão, não tinha nada de... eles se reuniam aos domingos à tarde, na casa de cada um, às vezes até de pessoas, de meninas ou de jovens que a gente não conhecia. Mas nós sabíamos: “Olha, domingo vai ter uma brincadeira na casa de tal pessoa”. Então ia uma turma. Os pais dos anfitriões saíam, deixavam os jovens lá se divertindo e cantando e dançando. Então, a gente aprendia a dançar, aprendia a cantar, conhecia meninas diferentes, tinha esse contato pessoal com o pessoal de outras vilas, de outros grupinhos. E todo domingo tinha na casa de um. Às vezes era na minha casa, às vezes era na casa de gente desconhecida. A gente ia, não era conhecido, não era convidado, mas não tem problema, a brincadeira era pra vir todo mundo. Então a gente ia, aprendia a dançar e tocávamos. Aí nós começamos a tocar em algumas brincadeiras, alguns casamentos. Foi mais assim, coisa mais doméstica mesmo, não fizemos assim algo profissional. Chegamos até a gravar diversas fitas, que um suposto empresário ia... criamos algumas músicas. Mas aí eu me casei muito cedo e o conjunto parou quando eu casei, na verdade. O líder do conjunto, não, continuou cantando durante a vida toda dele, ele sempre cantou e tocou. Mas o conjunto, depois que eu saí, deu uma esmorecida. Infelizmente foi aí que parou mesmo, o conjunto.
P/1- Então, o senhor se casou antes de ir pra Campinas?
R- Me casei, fui pra Campinas por uma necessidade de emprego, de ganhar mais. A minha mulher estava grávida já naquela época, da minha primeira filha, né? E eu mudei pra Campinas, mas tive muita sorte. Eu já trabalhava em Pirajuí, em escritório de contabilidade, fazia escrita fiscal, essas coisas, já com treze anos, eu já fazia isso. E fui pra Campinas, arrumei emprego já na tesouraria do Banco Itaú. Trabalhei lá doze anos, até mudar de Banco, por um salário maior. E a gente está junto.
P/2- Quantos anos você tinha na época, Gerson, quando você foi pai pela primeira vez?
R- Que eu fui pra Campinas?
P/2- Isso. Que você foi pai pela primeira vez, nessa época?
R- Eu fui pai com dezenove.
P/2- Entendi.
R- Eu saí de Pirajuí com dezessete. Fui em Campinas com _______ (20:44). Como?
P/1- Desculpa. É que, às vezes corta um pouquinho o som e a gente não consegue ouvir. Como foi essa mudança? O senhor trabalhava com o seu pai e fazia escola. Como o senhor chegou a ir pra contabilidade? Mas aí foi por causa da escola? O senhor entrou num curso de contabilidade? Ou arrumou um emprego, apenas, assim, no escritório de contabilidade?
R- O escritório de contabilidade, naquela época, os pais conversavam com o empresário ou o dono do escritório ou contador e falava: “O meu filho, onze anos, doze anos, eu quero que ele comece a trabalhar com esse tipo de serviço”. Apresentava a gente sem a responsabilidade de registro em carteira e sem a responsabilidade de falar assim: “Você vai ter um salário fixo de tanto”. Era assim: a gente era dado pra iniciar um trabalho sem esperança, assim, de ganho ou necessidade. Pra conhecer e aprender.
P/1- Aprender.
R- Aí, quando começava a mostrar serviço, depois de meses, é que aí começava a vir um salário, começava vir a ganhar. Então, doze anos ganhando; treze anos ganhando um pouco; catorze anos, aumentando; quinze anos, já... mas não seguia assim. Era menor, né? Aliás, menor naquela época, tinha carteira de trabalho de menor. Hoje, menor é proibido, mas na nossa época tinha, existia carteira de menor, de trabalho. E aprendi assim dessa forma. Fui colocado, aprendi, não foi feito o curso. Eu estudava só o colégio. E quando eu fui pra Campinas, eu fui com a bagagem de conhecer contabilidade.
P/1- Certo.
R- O Itaú, através de um amigo, me colocou lá na tesouraria. Eu trabalhei lá bastante tempo.
P/1- Legal.
R- Eu saí do Itaú, fui pra Habitacional. E depois pro Banco Econômico, onde eu passei pra gerência do Banco.
P/1- Certo. Ainda em Pirajuí, o senhor conheceu a sua esposa lá?
R- Sim.
P/1- O senhor lembra como foi o encontro, assim, como o senhor a conheceu, começou a conviver e namorar com ela?
R- Naquela época a gente acreditava no amor, né? (risos) Hoje, vocês jovens não querem saber de amor, _______ (23:24). A gente se atirava ao amor, à paixão. Eu me apaixonei, ela também, com dezessete anos. Tinham as quermesses onde a gente se conhecia, os correios elegantes. Então, a troca de correio elegante aproximava a gente. Hoje é pela internet isso. Antes não, a gente via, olhava, gostava e já encaminhava uma correspondência através do correio elegante. Essa troca de correios elegantes dava muitos namoros. Era muito. Eram muitos correios correndo dentro de uma quermesse, à noite. Eram muitos correios elegantes trocados, bilhetinhos trocados. Era maravilhoso. Eu a conheci assim, na quermesse. Trocamos correio elegante. Quando eu a vi, já fixou na minha cabeça, de início. A gente vivia pra se divertir, pra namorar, pra curtir música. E sabia que mais cedo ou mais tarde, a gente ia constituir família e ter filhos. Isso aí fazia parte do nosso caminho. Então, quando a gente começava a namorar, a gente já tinha isso na cabeça: “Você vai casar e vai ter filhos”. Hoje também é diferente, os jovens não querem nem casar, nem ter filhos. (riso) Mas já estava nas nossas raízes de que era família, né, que a gente ia fazer família. Então, quando eu a conheci, eu já identifiquei que ali seria o início da minha família.
P/1- E as famílias aprovaram?
R- Aprovaram, aprovaram. Ainda era um namoro muito iniciante, né, muito do começo assim, eles ignoravam, porque tinha muito namorico, muita menina batendo palma na porta, no portão de casa, a minha mãe ficava brava. (risos) Mas aprovaram. Quando souberam que eu estava namorando com ela, aprovaram.
P/1- Certo. E como é que foi, então, essa mudança? O senhor ia ter o filho, o primeiro filho, né? E teve que procurar alguma coisa melhor, numa cidade maior. Conta como foi essa ida, um pouquinho mais detalhadamente, pra Campinas. Qual foi a sua expectativa? Ficou com medo de não achar um emprego? Como foi?
R- É o medo de não encontrar emprego. A sensação de ter que voltar pra trás, a gente nunca queria. Então, a gente tinha que ter uma persistência, porque não era aceitável você voltar pra trás. Quando você está numa cidade pequena, que a cidade tem poucos recursos e você não consegue se encaixar, sai pra uma cidade maior, você faz essa transição, você tem pouca chance pra voltar. Então, você vai ter que se virar. Então, pega-se, batalha emprego, persiste, não sai, não sai, até sair. Eu fiquei dois, três meses, mas fui gratificado com um bom emprego. Eu estava procurando no ramo contábil, acabei pegando no Banco, na agência maior que tinha em Campinas. E progredi lá dentro, graças a Deus. Essa transição foi assim. Logo que eu pude trazer a minha família, já veio caminhão de mudança, já veio ela. A minha primeira filha já nasceu lá em Campinas.
P/1- Já nasceu lá?
R- Já nasceu lá. Os três filhos primeiros, meus, já nasceram em Campinas.
P/1- E qual o nome dos três filhos do senhor?
R- Eu tenho cinco. Dois de outro casamento. Mas os três primeiros, dessa época, é o Rodrigo de Ângelo, hoje ele é capitão, aqui em Bauru. A minha filha Gisele de Ângelo. E a minha filha Érica de Ângelo.
P/1- Certo. Aí o senhor continuou morando lá em Campinas e progrediu, né? Era um emprego bom. Melhorou?
R- Foi uma época fantástica, na verdade. A gente tinha salários muito bons. Nós tínhamos clube. Tinha muita assistência médica. Vivíamos numa época intensa, também, de muito trabalho. Muito trabalho. O Banco exigia bastante, muitas horas no Banco. Mas era ‘compensante’. Era ‘compensante’ financeiramente.
P/2- Gerson, nessa época que você se estabeleceu em Campinas, é uma diferença grande, eu imagino, de uma cidade pra outra. O que você lembra, assim, que chamou a sua atenção? Ou que marcou, assim, você dessa diferença, dessas coisas novas que você encontrou lá em Campinas, assim?
R- O orgulho que o povo campineiro tinha da cidade de Campinas. E também de que cada dez pessoas que eu conversava, uma era nascida em Campinas, as outras oito, nove pessoas, todas eram semelhantes a mim, vindo de interior. A maioria era de fora. E gostavam. E eram bem recebidos em Campinas e gostavam. O que mais me marcou foi isso mesmo: a recepção que a cidade dava e a oportunidade, né, de trabalho. E o valor que davam também ao pessoal do interior, que chegava. Havia até uma ideia de que no interior criava-se o filho com mais... do que na capital ou no grande centro. Então, quando falava que era de cidade pequena, sabia que vinha já com uma raiz familiar bem... é isso aí o que mais me tocou em Campinas, a recepção da cidade. Eu sempre morei lá. E até hoje eu tenho muito orgulho de ter morado lá.
P/2- Bacana.
P/1- E o senhor ficou doze anos lá?
R- Doze anos.
P/1- E por que resolveu sair? Por que foi essa mudança?
R- Essa mudança... nós também tivemos muita transição, né, de... era uma época de inflação muito alta. A gente era compensado, a inflação compensava a gente. Inflação de quarenta por cento no mês. Chegava no mês, você recebia o salário com quarenta por cento corrigido. Já pensou um salário com quarenta por cento corrigido num mês? Cinquenta por cento corrigido num mês, pra poder pagar a inflação de um mês.
P/1- Sim.
R- E Campinas foi essa época aí. Aí surgiu a Habitacional que é que trabalhava com financiamento de BNH, financiamento de imóveis. Era uma financeira do mercado de imóveis. Eu passei pra lá. E eles estavam expandindo. Eles eram uma empresa muito boa, estava expandindo, agência em Rio Claro. Aí, quando eu fiquei sabendo que tinha, expandiam uma agência em Bauru, era uma oportunidade, que eu queria muito passar pra gerência. Eu tinha tempo, eu tinha experiência. Eu queria um _______ (30:14). E fazer uma transferência, às vezes é aceitado quando você tem uma situação melhor de salário e de cargo que você já almeja, né? Então, eu vim pra cá com a ideia já de fazer parte da gerência do Banco. Porque lá tinha muito mais concorrência. Então, abriu a agência aqui em Bauru.
P/1- Certo. E isso foi em que ano, mais ou menos? Já é anos 80, isso, né?
R- Isso já era 1980... olha, eu entrei aqui no hotel em 1987. E eu creio que era anos 80, eu já estava aqui. Anos 80, eu já estava aqui. Acho que é isso mesmo, 1980.
P/1- Como era o nome do Banco, mesmo?
R- Eu trabalhei no Banco Itaú. Depois fui pra Habitacional APE. E da APE, o Banco Econômico comprou a Habitacional, já mais pra frente.
P/2- Você já conhecia Bauru, Gerson, quando você veio pra cá, veio pra Bauru?
R- Quando eu morava em Campinas, eu vinha aqui buscar material pro meu pai, fazer compra de molas, coisas que ele usava na confecção dos colchões. Ele fazia muito colchão de trina, muito colchão de mola, manualmente, né? Eu vinha comprar, ajudá-lo a comprar os materiais pra levar pra lá. Então, a gente transitava aqui. Eu gostava daqui.
P/1- E como foi essa chegada em Bauru? O senhor já arrumou uma casa logo? Se adaptou? Conta um pouco desse início de vida.
R- O Banco mandou eu escolher uma casa. Eu morava ali na Eduardo Vergueiro de Lorena, na Vila Universitária. Um bairro bom, uma casa boa. E eu trouxe a minha família. O Banco pagava todo mês, pagava o aluguel. Eu nem participava desses pagamentos, o contrato era com o Banco, o Banco que bancava tudo. Eu vim pra abrir, inaugurar a agência, que ficava aqui na Rua Batista de Carvalho, a rua principal, que na época ainda transitava carro, hoje é calçadão. E vizinho da loja Yara, que era uma loja muito tradicional. Nós abrimos ali, a agência. Tive a honra de trabalhar, eu era o gerente administrativo e o gerente era o César Savi, que é colunista aqui do Jornal da Cidade. E eu tive o prazer de trabalhar com ele, porque ele não tinha experiência bancária e eu não tinha contato com o povo da cidade, com a sociedade. E ele, como colunista, conhecia todo mundo. Então, ele trouxe muita gente, muito cliente. A agência se destacou, progrediu, até o Econômico, depois, comprar. E depois entrar a época do Sarney, né, que foi 1985, 1986 ali, onde ele fez os Bancos falirem. Foi aí que houve a minha outra mudança de ramo. Eu fiquei desempregado, como trinta gerentes da minha região aqui também ficaram desempregados, no mesmo dia, porque os Bancos fecharam. O Sarney acabou, zerou os índices que davam rendimento. Então, os Bancos tiveram que fechar muitas agências, foram embora em massa, mesmo. E quando você é bancário durante muito tempo, você não tem um diploma especializado em alguma coisa. Então você tem que, ou muda de ramo ou parte pra vendas. Eu tentei vender calçados, viajar, representante. Mas, por conhecimento que eu tive no Banco com a família Obeid, eu conheci lá o senhor José, que era um dos investidores do hotel, dono, né, sócio-proprietário. Ele e os irmãos dele que construíram o hotel. E eu mudei, vim. Mudei completamente de ramo. Um coisa nova, um ramo novo. E gostei muito, porque trabalhava muito com atendimento e eu, já do Banco, a gente já tinha uma experiência maior. Então, eu vi que aqui eu tinha um campo muito grande pra eu aplicar o que eu tinha de gerência de Banco, pra hotel. Eu não vim pra ser gerente aqui no hotel. Eu vim pra começar de baixo. Eu participei da recepção, atendimento, restaurante. Então, pra mim foi onde eu pude aplicar os meus conhecimentos aqui no hotel e adaptei. Entendi o hotel, o que era um hotel. E passei a trabalhar com atendimento a nível pra melhorar, que eu tinha uma visão superior disso. E fui gratificado com a gerência, não muito tempo, pouco tempo depois. Eu acho que seis meses eu já estava na gerência do hotel. É um hotel muito bem construído, um hotel feito como não se faz um hotel hoje: com muito espaço, com restaurante, com tudo, com móveis de primeira, colchões de primeira. O Arnaldo, que foi o gerente que montou esse hotel, quando os Obeid, a família Obeid resolveu investir no ramo de hotelaria, criaram o Fenícia. Criaram com o material, com toda infraestrutura de um hotel bem, vamos dizer, com o padrão bem mais alto do que a cidade. E foi reconhecido, né? Durante muito tempo nós trabalhamos aqui praticamente isolados. Só tinha o Fenícia, de um hotel de alto padrão, pra receber todos os que vinham pra cá.
P/1- Certo. O senhor sabe quando inaugurou o Hotel Fenícia?
R- Acho que corta um pouco aí o som.
P/1- Acho que cortou a minha fala aí.
P/2- Isso.
R- Desculpa se eu estou me adiantando, mas...
P/1- O senhor se recorda de quando inaugurou o Hotel Fenícia?
R- O Hotel Fenícia foi inaugurado em 1980. Mas eu comecei aqui em 1987.
P/1- Ah, 1987 que o senhor entrou. Então, o senhor já está aí há muito tempo, né?
R- Trinta e três anos.
P/2- Deu problema com a conexão do Luís. Luís, está ouvindo a gente?
R- Já normalizou.
P/1- Oi. Estou. Desculpa. Pra mim aqui travou vocês falando. Pode falar, senhor Gerson. Desculpa, que deu um corte na comunicação aí. Então, conta aí: o senhor chegou em 1987.
R- Sim. O hotel já tinha sete anos, né, de atividade. E, como eu estava dizendo, eu entrei por conhecimento com o ‘seu’ José Obeid, que é da família Obeid, que é o proprietário. E me adaptei aqui à forma de trabalhar em hotel, que pra mim era novidade, mas foi muito atraente, eu consegui aplicar o meu conhecimento pra ajudar o hotel a desenvolver, de acordo com o que os proprietários queriam.
P/2- E como foi, assim, nessa época que você mesmo falou que só tinha esse hotel? Eram vocês isolados, assim, em Bauru, fazendo esse serviço. Era muito difícil pra você? Foi difícil aprender, assim? Como foi? Como era o nível, assim, que vocês tratavam os convidados, que eram as coisas, os novos clientes, no caso?
R- Era bem manual. Nós não tínhamos internet. Nós não tínhamos computador. Era tudo à mão, manual, no sistema antigo. Só que pra mim isso tudo era muito fácil, porque eu já vinha de uma área administrativa e conhecia muito de papéis, conhecia demais. E essa adaptação foi mais na questão de fazer o que o hotel, na essência da palavra, significa. Isso aí eu tive que aprender. Eu fui encaminhado pra fazer os cursos lá em Águas de São Pedro, na escola do Senac, de Hotelaria, que é a melhor escola de hotéis, de formação do ramo de hotelaria do Brasil. E eu fiquei lá um tempo, participando de todos os setores: de eventos, da recepção, de alimentação, cozinha. Trabalhei com os chefes de cozinha internacionais lá, aprendendo muito sobre cardápio, com todos os setores do hotel, né? Com todos os ramos, com as atividades de limpeza, camareira, governança, recepção, gerência, negócios. Eu tinha que fazer de tudo. O gerente em hotel tem que ter conhecimento de todas as áreas. Fiz o curso, voltei. E eu fiquei muito gratificado, porque o gerente que me antecedeu aqui, preparou tão bem o Fenícia, que o que eu encontrei na escola, o Fenícia não tinha muito o que acrescentar. Ele era _______ (40:21). As regras da escola – e a escola era muito rígida, a disciplina de funcionários e comportamento e regras – aqui já era praticado assim. Então, não foi difícil tocar isso pra frente. Até nós ficamos aqui por um bom tempo, onde a própria escola do Senac de Águas de São Pedro, mandava pra cá cozinheiros recém-formados, pra fazer estágio na nossa cozinha. Então, a gente tinha um trâmite até de conceder os estágios pra quem era recém-formado na área de cozinha.
P/2- Você sabe dizer, nessa época, assim, quantas pessoas mais ou menos, tinha na equipe completa? Era muita gente? Como era isso?
R- Aqui, o hotel não é um hotel de grande porte, é um hotel médio. Nós temos aqui oitenta apartamentos. Nós temos sete salas de reuniões. Nós temos dois restaurantes. Nós temos um terraço grande com piscina. Temos muito espaço. Temos um mezanino grande. Uma recepção grande. Então, nós trabalhávamos pra atender uma empresa, em sentido mais completo que o hotel pode ter, em tudo. Da hospedagem, da alimentação, de encontros, de eventos, de coffee break, coquetéis. Então, a atividade aqui era completa. Era um hotel grande e completo. Era o único hotel na cidade que podia fornecer esse trabalho. Na verdade, existiam outros hotéis menores, mas já naquele nível tradicional, sem tanto profissionalismo, né?
P/2- Certo.
P/1- O senhor tem lembrança dos hóspedes? O Hotel Fenícia sempre foi uma referência aí no Centro da cidade, de hóspedes ilustres que o senhor conheceu aí?
R- Olha, dessa época aí, de 1987 até 1997, até bem depois ainda, tudo o que você pensar que tinha nome nesse país, que veio pra Bauru, veio pra cá. (risos) Nós tivemos aqui Mário Covas, como eu até já citei, sentado aqui na minha mesa, pedindo pra usar o fax. Porque naquela época não tinha internet, não tinha essas coisas, mas existia o fax. O fax era o meio mais rápido e mais importante, porque ele transmitia o documento ali. Então, era o Mário Covas aqui, o Paulo Maluf muitas vezes sentado aqui, conversando com os meus patrões. E o Fernando Henrique Cardoso também, visitando aqui, no encontro com políticos. No ramo artístico, então, todos que você pensar, do Roberto Carlos até a Regina Duarte andando por aqui, dando entrevista. Isso, aqui, era muito constante, diariamente. E no ramo esportivo então, tudo o que você pensar de bom que se passou em termos de futebol, de campeonatos que teve em Bauru, de tênis, era aqui que ficavam. Os artistas todos, eu me lembro de todos eles aqui. Os Trapalhões andando em frente à recepção, um chutando o outro, como eles fazem na televisão, fazendo graça pra quem estava vendo. Os quatro, né, que estavam unidos naquela época. E a gente ria muito com eles também. Então, teve muita gente importante, muita gente que utilizou o hotel. E a gente sempre foi gratificado com os elogios, com muito reconhecimento, né? O trabalho que a gente fazia era voltado pra isso mesmo. A hotelaria é uma essência, é um conjunto de atividades que é voltado pra satisfazer a necessidade mais completa de quem vem pro hotel. Porque ele quer conforto, segurança, distração, atendimento. Ele quer se sentir mais do que em casa. Ele está em casa, ele precisa sair pra um restaurante. No hotel ele já tiinha restaurante, já tinha alimentação, já tinha... oferecíamos tudo.
P/2- Gerson, agora eu fiquei com uma dúvida, porque você falou, você estava explicando pra gente como é que foi lá no começo, lá em 1987, tal e, mesmo com o mundo sendo diferente hoje, tudo mais, tecnologia e tal, passou um tempo, você falou agora o que um hóspede busca ou quer, quando ele vai pra um hotel, por exemplo. E você acha que isso mudou, através dos anos? Ou você acha que assim, óbvio, a maneira de fazer certas coisas deve ter mudado com tecnologia, computador, mas o sentimento, assim, a ideia de que a pessoa busca mudou ou não? Pra você é a mesma coisa?
R- Eu penso que o ser humano tem dentro de si, que não tem tecnologia que vai mudar, uma alma. Ele tem necessidade de carinho, de atenção. Ele tem necessidade... não é porque ele fica o tempo todo atrás de um computador que ele desassociou esses sentimentos, não. Então, ele quer vir pra um hotel, sim. Ele quer ser bem tratado, se sentir seguro. Ele quer ter uma boa alimentação. Ele quer levar a esposa, mostrar pra ela. Tudo isso aí existe, apesar de toda essa tecnologia. Isso aí não é diferente do que há trinta, quarenta anos. Há trinta, quarenta anos era mais comum as pessoas frequentarem os hotéis. Hoje frequentam cinemas, em virtude da facilidade aí de comunicação. Mas antigamente todo tipo de pessoa frequentava o hotel. Pra negócios, pra lazer, pra casamento. Agora, hoje, isso diminuiu muito. Esses dois anos a gente nem conta, nem considera. Mas a necessidade das pessoas, o que ela espera de um hotel, é a mesma. É a mesma. O homem de negócios quer ser tratado com atenção e com eficiência, ele quer equipamento. Hoje, tem que disponibilizar pra ele situações pra ele poder fazer os seus negócios. O hotel tem que estar bem equipado pra isso. Antigamente, também existia muito disso. Era muito comum. Nós temos aqui ______ (46:23), nós temos aqui na cidade a Sociedade Hípica, que trata com os criadores. Nós tínhamos aqui sempre a Expo do agronegócio, que envolvia os criadores também, que vinham, ficavam, todos vinham pro hotel, naquela época. Porque os leilões virtuais eram bem escassos, não existiam com tanta frequência. Então, os proprietários de fazendas, os criadores de animais tinham que vir pessoalmente no hotel. Então, era uma época que lotava, o hotel ficava um mês, dois meses lotado, com quarto de milha, com outras raças, fazendo disputa. O trânsito no hotel era muito grande. Hoje já não se viaja, o fazendeiro não viaja mais, ele acompanha tudo na tela. Mas o sentimento humano, como você falou, com certeza, quando vem pra hotel, todos esperam isso. Até da pessoa mais humilde, até da pessoa mais complexa, ela espera do hotel todo o carinho, toda a segurança que o hotel pode oferecer. E serviço, serviço de conforto, serviço de alimentação.
P/1- Certo. Quando o senhor chegou no Hotel Fenícia, ainda o Centro da cidade era o principal centro de comércio e um lugar valorizado ainda. Ainda existia até a ferrovia, com passageiros, quando o senhor chegou aí.
R- E a ferrovia, nós víamos aqui as composições, os trens que vinham do Rio e de São Paulo eram leitos, tinham restaurante a bordo com garçom, certinho, com bom cardápio, pra fazer viagens longas que iam até Corumbá, divisa com... de lá eles iam até a Bolívia, iam conhecer o pantanal. Infelizmente a ferrovia perdeu no quesito modernização e logicamente ela ficou lenta. Ficou lenta. Não se dava mais pra fazer uma viagem de dois dias pra se chegar a um final, mesmo que fosse prazerosa. Ninguém mais tinha mais esse tempo pra dispender. Então, a ferrovia parou, não se modernizou, não ficou veloz, ficou lenta e foi abandonada. O aéreo ganhou. O rodoviário ganhou. Mas foi muito tempo, trabalhando aqui com muitas excursões que faziam as reservas lá do Rio, já tinham contato com a ferrovia pra tantos vagões, tantas cabines. Vinham, ficavam no hotel. Daqui eles pegavam aqui na estação, na Noroeste e iam fazer o pantanal. Um roteiro já de muitos e muitos anos que se fazia isso.
P/1-E como era o centro da cidade de Bauru, nessa época? Muito diferente de hoje, né?
R- Muito diferente. Aqui embaixo, aqui onde é a estação ferroviária, ficavam pequenos hotéis, restaurantes. Hoje não tem, ali é só uma praça. A rodoviária não é mais... a rodoviária também era aqui. A rodoviária também era anexo a ferroviária. Tinha a estação ferroviária e, em volta, em frente à estação ferroviária, era o trânsito de... porque as pessoas andavam muito de trem. Então, era chegar vagões lotados, já embarcava nos ônibus. Ali em frente, né? Depois criou-se a rodoviária, fora do Centro da cidade, já esvaziou uma boa parte aqui da frente. E aí, com a queda da ferrovia, então o local ficou esvaziado. Mas foram muitos anos com essa atividade intensa nesse bloco aqui, onde o hotel foi criado. Na época que o hotel foi criado, essa atividade toda existia.
P/1- Quando foi criado o calçadão, melhorou o movimento? Ou piorou? Como, qual foi essa mudança aí pro senhor?
R- O calçadão foi bem depois. O hotel foi construído com uma parte dele pro calçadão, que na época não era um calçadão, era a Rua Batista Carvalho e transitava carro. Então, se nós tivermos aqui as primeiras referências do hotel, era com uma frente, uma porta menor, ao lado das lojas. Os hóspedes estacionavam por ali e entravam. Aí o hotel foi ampliado com frente aqui pra Rua Gerson França, com visão pra outra, pro bairro também. E foi feita a entrada principal aqui pela Rua Gerson França. Uma entrada grande, com estacionamento grande, dada a exigência. O hotel já tinha na base de hospedagem, apartamentos, tudo construído, tudo de primeira linha, mas faltava essa parte de espaço. Então, ele conseguiu espaço ampliando pra cá.
P/1- Certo. Como é que o senhor... continua. Pode continuar. Desculpa.
R- A frente do hotel ali era dividida com as lojas. Passava carro, na época. Não tinha muitas opções, não. Mas aí, depois, de 1980 até 1987, quando eu entrei, houve um boom na hotelaria aqui, pra utilização do Fenícia. Era um hotel muito procurado. E tinha uma ocupação alta. Tinha convênio com muitas empresas. Com a Cpfl, que mandava funcionários, até hoje ainda faz. Correios, Caixa Federal, os Bancos, todos tinham uma... e logo passamos a enfrentar a concorrência. Depois de um certo tempo começaram, já viram que... eu acho que os pioneiros em hotel de qualidade foram os Obeid, na verdade. Eram os pioneiros aqui em Bauru, na construção do ramo de hotéis, um hotel com o padrão da capital, praticamente. E depois, então, aí vieram outros investidores e fazendo outros hotéis semelhantes e aumentou a concorrência ao longo dos anos. Mas o serviço a gente ainda presta de como era no início: voltado pro ser humano, pro atendimento, pra dar conforto e segurança.
P/1- E como o senhor viu a expansão imobiliária em Bauru indo tudo lá pra zona sul? Isso impactou, né, o hotel? A frequência do hotel, pelo menos, deve ter impactado, porque começou muita gente a ir lá pra zona sul, o mercado imobiliário se deslocou pra lá. Como o senhor viu essa mudança?
R- Na verdade, o hotel, na finalidade que ele sempre se destinou, que era negócio, hospedagem de todo tipo, mas basicamente negócio, não influenciava muito assim na distância, no distanciamento das empresas. Então, a empresa podia estar localizada mais pra cima, mais pra baixo, mas ele utilizava o hotel pra aquilo que ele precisava. Mas impactou o próprio comércio, o próprio comércio central. Porque a nossa empresa, inclusive, é um grupo e detém aqui diversas lojas comerciais, aqui no Centro da cidade. A família Obeid sempre teve a característica de serem antigos comerciantes no ramo de calçados, roupas, aqui no calçadão. Até hoje tem as suas unidades aí. Mas naquela época impactou, porque quando abriu o shopping, é lógico que começou a se transferir pra lá. Mais as lojas de modelo, de marca, lojas que vendiam produto de marca. As lojas que atendiam mais o povo, a grande maioria, como dizia o ‘seu’ José, ele falava “a grande maioria”, que era um povo mais simples, eles tinham que vir ao Centro pra comprar. O shopping foi ficando pra aqueles que queriam mais as roupas mais finas, mais caras. Aqui, quem explorava o comércio com um produto mais de preço melhor, um produto mais acessível, não teve mudança, ele continua vendendo. As mudanças aconteceram, quebra do comércio, a partir de 2014 mesmo, que começamos essa dificuldade, que foi uma doença lenta que o Brasil adquiriu de 2014 até 2020, acabou agora com essa covid aí. Mas antes já vinha, de cinco anos pra cá, tudo reduzindo, né? Principalmente porque o ramo de hotelaria de negócio sofreu de 2015 pra cá, porque as prefeituras começaram a ficar reduzidas na sua disponibilidade financeira de formalizar, de montar esses eventos. Muitos eventos dependem do setor público, é o Estado fazendo pra educação, é a Saúde fazendo pra saúde, é a prefeitura fazendo concursos, fazendo encontros de cardiologia e promovendo essas coisas. Quando o setor público para de fazer essas coisas, a hotelaria de negócios sofre muito. De 2015 pra cá, aqui em Bauru, houve uma queda nessa atividade por parte do setor público.
P/1- Está certo. E hoje em dia, na vida do senhor, o senhor falou que tem mais dois filhos de outro casamento. Como é a sua vida familiar hoje?
R- A minha vida familiar é... pais que se separam, (risos) a coisa que ele mais quer ver é os filhos do novo casamento unidos aos filhos do antigo casamento. Eu tenho esse prazer. Os meus filhos, todos eles, todos os cinco se dão muito bem. É pra isso que a gente vive depois: pra ver a nossa herança, os nossos filhos se comunicando, se encontrando, dividindo a sua intelectualidade uns com os outros, se ajudando. Eu tenho isso na minha família. Graças a Deus, meus cinco filhos saíram assim muito amorosos uns com os outros. E esse era o meu objetivo, estou satisfeito. Eu estou satisfeito hoje com essa vivência. Eu sou muito disputado, graças a Deus, pelos cinco, (riso) onde passar as minhas horas. Estão sempre me convidando. Todos eles têm uma admiração muito grande de estar comigo, isso me enche muito de orgulho, porque eu não pretendo ficar mais velho, assim, sem todo esse carinho que os filhos têm que ter com os pais. É a nossa recompensa.
P/1- Muito bom. E o senhor não falou o nome dos dois últimos filhos. Qual é?
R- Tais. Tais Muniz de Ângelo. E Luís Felipe Muniz de Ângelo. Eles estão entrando na faculdade, fazendo faculdade ainda. Os outros já estão mais... já são... teve uma distância, né, de uns dez anos entre os outros e esses.
P/1- Sim, são mais velhos. Senhor Gerson, e quanto à família Obeid, o que o senhor tem a dizer, assim? Eles são grandes empresários em Bauru. Eles têm essa especialidade no ramo de hotéis. Mas o que o senhor conviveu com eles, que o senhor gostaria de falar, assim? A visão do senhor, deles como empresários e como pessoas também.
R- Olha, a primeira palavra que eu tenho pra falar dos Obeid é gratidão. Eu divido isso com todos os nossos funcionários. Os nossos funcionários têm, tinham um amor muito grande pelo ‘seu’ José que, infelizmente, não está mais conosco aqui, mas que era uma pessoa muito humana. O ‘seu’ Antônio, todos são pessoas muito humanas. Tratam os funcionários com muita dignidade, com muito respeito e com muita responsabilidade nessa época de dificuldade, também. Então, quanto à família Obeid, pessoalmente, o que a gente tem é muita gratidão, muita admiração. E é isso. Agora, profissionalmente, eles são bastante exigentes, eles exigem um trabalho de qualidade, exigem disciplina. E numa empresa que faz alto nível é isso, né, é isso: é a empresa já começar pelos patrões, uma organização grande, passando pra gente a mentalidade do tamanho da organização que eles são e da exigência daquilo que eles querem pro negócio que eles montaram. Eles investiram dinheiro e nos deram trabalho, emprego, salário. E toda a nossa vida, praticamente, se resumiu a essa parceria com eles. Temos essa gratidão. E o que a gente viu: sempre eles lutando muito, são muito trabalhadores. Sempre participando pessoalmente, da vivência do dia-a-dia, presentes no dia-a-dia. Não são, não foram assim diretores ou proprietários afastados. Não. Sempre presentes, sempre apoiando, sempre verificando qualidade, participando do dia-a-dia. Presentes em todos os dias do ano. O ano todo sempre aqui com a gente. E isso dá pra gente mais força. Mais força. Porque quando você tem o investidor do seu lado, você sabe o que você faz, você sabe que você não corre risco. Você trabalha em parceria com ele. E os negócios sempre foram, eles sempre tiveram a política de expansão, de conseguir um faturamento maior possível de cada unidade. E nós fizemos parte desse crescimento deles também, prestando o nosso trabalho, os funcionários todos trabalhando pra isso. Hoje, a gente sabe...
P/1- Quantos funcionários o hotel... desculpa.
R- Nós tivemos na época mais intensa, entre trinta e cinco e quarenta funcionários. Hoje nós estamos trabalhando aqui com quinze, com essa redução. Com essa redução. Mas é o suficiente pra manter o hotel. Porque quando o hotel perde muito o movimento, ele não pode perder o seu padrão, a sua qualidade no serviço, na limpeza, na arrumação. Então, nós temos mais tempo pra melhorar, inclusive, essa qualidade na parte de conforto. A parte de conforto.
P/1- É o senhor que dá o treinamento pros funcionários, quando eles chegam aí pra trabalhar? O senhor que explica tudo? Tem que ter um certo treinamento. Tem que ter muito treinamento, né?
R- Tem que ter. O funcionário entrava, era colocado com outro funcionário mais antigo. Diariamente era chamado na minha sala, eu lia pra eles as teorias do hotel. Eu acho que o funcionário pode ser o mais simples, você consegue que ele se apaixone pelo hotel, passando... a gente que representa pra ele uma pessoa importante dentro do hotel, recebendo-o e passando pra ele diariamente uma parte teórica, pra ele poder desempenhar o serviço dele tendo uma base teórica, do que é o hotel, qual é o grau de limpeza, dos pontos que ele tem que atacar. Então, treinamento eu sempre fiz questão de dar. Eu sempre me considerei bom professor. Acho que todos os funcionários que estiveram aqui, cansaram de me ouvir falar; eu gastei muita saliva pra passar instruções e preparar. A gente não coloca um funcionário pra fazer um trabalho sem antes ele estar - assumir uma área, um setor - com todos os detalhes já resolvidos. O treinamento sempre foi aqui mesmo. Temos orgulho da forma que a gente treinou. Os meus funcionários, tem gente com trinta e cinco, com trinta, com vinte e cinco anos, a maioria aqui tem acima de dez anos de trabalho. A maioria aqui. Eu acho que o mais novo aqui deve ter dez anos de trabalho. A maioria está entre vinte e trinta anos de trabalho.
P/1- Está certo. E como é que foi o desafio de sobreviver à pandemia? Porque o ano passado, em março, mudou tudo. O que vocês fizeram, o que vocês bolaram pra conseguir desviar disso aí e continuar?
R- A pandemia, a gente sabe que é uma situação periódica. A gente crê nisso. Só que está se mostrando uma outra coisa. Mas quando começou, a ideia é que ela ia durar três, quatro meses. Então, não houve assim, nós não tivemos redução no quadro de trabalho. Na verdade, o quadro menor que a gente está tendo já é em função de uma economia já ruim, anteriormente à covid. Na covid nós não demitimos um funcionário. Nenhum funcionário foi demitido. Houve afastamento, funcionários com cinquenta por cento da jornada, funcionário com trinta por cento da jornada. Mas é necessário, porque não há empresa que consiga tocar um negócio, cinco, seis meses, com faturamento abaixo de dez por cento. Um hotel não sobrevive nessas condições. Só por muito amor mesmo que os patrões e os funcionários se dedicaram pra manter. Os funcionários abriram mão de algumas coisas, os patrões negociaram, mas não houve demissões. O principal mesmo foi a questão da redução. Eu fiquei aqui no hotel dois meses, com o hotel vazio, até as onze da noite, com as luzes acesas, o hotel brilhando, limpo. Eu falei: “Na hora que isso aqui passar o Fenícia vai ser o primeiro a ter referência de que é um hotel que se manteve”. Então, nós fizemos um sacrifício. Todos aqui trabalharam um pouquinho a mais pra manter o hotel limpo e pronto pra receber uma retomada. Que a gente espera, agora, sempre essa retomada. E começou agora em dezembro (risos) e em janeiro. E agora já se apresenta novamente na redução. Mas o auxílio do governo foi fundamental pra manter o trabalhador sem passar tanta dificuldade, né?
P/1- Legal. O que você considera mais importante no seu trabalho? Até filosoficamente, vamos dizer assim, o que o senhor acha que um gerente de hotel tem que ter, pra comandar o negócio e fazer ser um negócio de sucesso, como é o do senhor?
R- Como diz até na escola, o lugar do gerente do hotel é nos corredores. Essa é uma ideia bem antiga e atual. Depende do tamanho do hotel, é lógico que ele tem que ter o seu escritório. Mas ele não pode dispender os momentos do corredor, andar pelos corredores, andar pelo hotel, porque a visão do gerente do hotel... o gerente de hotel faz uma união entre os setores. O setor de governança não sabe o que se passa no setor de alimentação. O setor de alimentação não sabe o que se passa no setor de hospedagem, com a recepção, com o atendimento, qual é a política de um, a política de outro, quais são as obrigações, não participa. O gerente, como o que tem a visão de todos os setores, faz um elo de união entre os setores. O que eu mais gosto, o que me mantém, que é a minha essência, é preparar o hotel com perfeição pro hóspede que vai chegar, seja ele mais humilde, ou seja uma pessoa mais exigente. A gente está preparado pro mais exigente, porque mesmo o mais humilde, quando ele é tratado com algo que ele se surpreende, a nossa gratificação é essa, que as pessoas se surpreendam. As pessoas esperam do hotel um hotel, chegam aqui, saem falando: “Olha, realmente, vocês estão de parabéns”. É isso que a gente quer ouvir. Esse é o nosso prazer, pra isso que a gente vive, pra ouvir isso, pra prestar isso e pra se adiantar às necessidades. A gente tem que se adiantar às necessidades, pra poder surpreender. Se você não surpreender, o seu negócio não aparece. Você tem sempre que dar um jeito de surpreender. Vai pessoalmente, cumprimenta pessoalmente. Se vê que alguém não está satisfeito, conversa enquanto está aqui, não deixa embora sem antes ouvir a palavra dele, se ele tem alguma coisa a dizer, diga pra nós, do que dizer por aí. E vamos resolver na hora, no momento que surge, qualquer problema que surge. Então, a gente trabalha com essa política. A vida nossa é essa. A papelada, a burocracia, é treinar os funcionários com essa mentalidade, que eu acho que a essência do hotel é essa.
P/1- Certo. E quanto ao futuro do hotel, o senhor já acabou de dizer, né? Que é preparar pra ser o hotel de referência no pós pandemia. Continuou com o mesmo padrão. O senhor ficou até as onze horas da noite com as luzes acesas, com o hotel limpíssimo. Essa é a preparação pro futuro do hotel. E pessoalmente, na sua vida, o que o senhor espera do futuro? O senhor tem algum sonho, de realizar algum sonho?
R- Eu sei que, olha, eu estou com sessenta e sete anos. Eu não vou estar aos setenta e sete anos aqui. Eu acho que hotel exige fisicamente da gente. Você tem que subir escada, você tem que pegar elevador, você tem que se movimentar. Não se fica atrás de uma mesa o dia inteiro. Você tem que andar, ouvir os funcionários, ouvir os clientes, ouvir a parte de manutenção, ver o que está sendo... então, você tem que marcar uma presença constante e isso, fisicamente, exige. Eu não sei se daqui a dez anos eu vou estar. Mas com certeza eu pretendo voltar à origem, que a minha paixão é a fabricação de móveis e essas coisas. Eu pretendo montar uma empresa. Eu estou me preparando pra isso, já, pra ver se o ano que vem, mesmo trabalhando aqui, eu consiga manter uma coisa que eu tenho paixão, que é a criação de móveis planejados, essas coisas. Montar uma empresa que tenha lá uns funcionários trabalhando, fazendo as minhas vendas. Isso aí eu posso conquistar, física ou não, tocar. Pra deixar também pros filhos alguma coisa nossa, a gente não pode ser só empregado a vida inteira.
P/1- Sim. E além de trabalho, o que o senhor gosta de fazer nas horas vagas? Qual é a sua diversão? O senhor faz algum esporte?
R- Eu levanto todo dia dez pras cinco da manhã. Faço exercício físico, peso. Faço peso em casa. Faço aquecimento. Faço agachamento. Faço uma série de exercícios que são exclusivos meus, ______ (1:09:40). E eu faço corrida. Eu corro oito quilômetros, dez quilômetros, eu participo de competição. Então, aos domingos de manhã é levantar também às cinco horas da manhã; seis horas da manhã eu já estou com o meu tênis, pegando a avenida aí, fazendo a minha corrida. E quando é sete e meia eu já estou de volta aqui, já tomo banho, já estou no trabalho. Mas eu sou um esportista, no fundo. Os meus filhos todos são. Todos são, todos praticam algum esporte. É herdado também, eu acho que é influência minha, mesmo, desde pequeno eu os empurro pra fazer essas coisas. Mas a minha vida particular, no meu dia-a-dia, basicamente é isso. Eu levanto dez pra cinco, até vinte pras seis eu faço exercício físico, de peso, essas coisas, em casa. Depois eu tomo banho, saio, vou na padaria às seis horas, a hora que abre, pra pegar... ligo no hotel pra saber quantos hóspedes tem, pra pegar o pão quentinho, passar aqui, chegar aqui e seis e cinco, com o pão quentinho na mesa. Pão francês, né? Porque ninguém abre mão do pão francês. Aqui a gente tem outros pães que nós fazemos aqui: pão caseiro, pão integral, opções que a cozinha oferece. Mas o pão quentinho francês tem que vir. Eu trago de uma boa padaria, que tem um ótimo pão. E eu faço questão de todos os dias, sábado, domingo, feriado ou não, seis horas da manhã eu estou aqui, com os pães quentes. Depois já de ter feito a minha rotina de exercícios. Aí o dia-a-dia flui. Você levanta, respira. A gente faz exercício não é pra ficar bonito, é pra respirar, pra forçar o pulmão a expandir, a receber mais oxigênio e ter saúde.
P/1- Está certo. E o senhor tem folga uma vez por semana? Como é a sua vida? Final de semana faz o quê?
R- Na verdade, o meu horário é conduzido por mim, de acordo com as necessidades do hotel. Eu estou aqui todos os dias. Dia de Natal, Ano Novo, Carnaval, eu passo por aqui de manhã. Mesmo nos dias que não tem quase nenhum hóspede, eu venho aqui dar alô pros funcionários e ver como que estão, não deixo de vir. A folga vem depois disso. Às vezes, no domingo, eu passo o resto do dia, venho só no final da tarde novamente. Às vezes, na segunda eu vou resolver as minhas coisas, me ausento um pouquinho mais. Mas de terça até sexta, com certeza eu faço isso de manhã e o dia todo à disposição. Eu vou em casa, almoço e volto e faço a minha jornada normal. Mas eu tenho liberdade de horário. Às vezes, principalmente nessa época que o hotel tinha muita intensidade, era meia noite estava tendo jantar, eu tinha que estar aqui, tinha que fazer contas. Alimentação é um negócio muito sério, que exige uma dedicação diária exaustiva. Eu trabalhei muito, madrugadas aqui fazendo os eventos serem cumpridos de acordo. Mas hoje eu tenho uma rotina que eu me sinto muito bem, fisicamente e mentalmente. E muita lembrança do passado, né? E muita alegria por tudo o que a gente já fez.
P/2- Tem alguma história, Gerson, que o senhor lembra assim, do hotel que vem na sua cabeça, pra gente conhecer? Não sei. Alguma história ______ (1:13:00) do hotel, mesmo?
P/1- Alguma história mais interessante?
R- Uma história. Olha, eu tenho diversas. Nem vem na memória assim, porque eu não me preparei assim. Eu não sou de improviso, né? Mas tem situações hilárias, às vezes nem sempre agradável de falar, como crise de hóspede. Situações hilárias mesmo, onde a gente, às vezes, teve que chamar Samu, teve que socorrer. Situações que marcam, muitas vezes. Mas não tem assim. Eu queria falar um negócio prazeroso e não de nada “desprazeroso”. Não tem assim na lembrança agora, não. Teve muitas coisas, muitas surpresas aqui. Muitas surpresas. Mas nunca faltou pro Fenícia um grande cliente, um cliente que sustentasse o hotel nas horas, uma empresa de porte que utilizava em quantidade.
P/1- Muito bom. Senhor Gerson, a gente está chegando ao final da entrevista.
R- Certo.
P/1- O senhor acha que a gente esqueceu de perguntar alguma coisa? Tem algo que o senhor gostaria de falar sobre o hotel, sobre a vida do senhor? Porque é uma entrevista sobre a sua vida também, né?
R- Eu acho que as suas perguntas foram bem abrangentes. Eu acho que até eu estou satisfeito. Olha que eu gosto de falar, hein! Eu gosto de ______ (1:14:32), mas as suas perguntas foram bem abrangentes. A gente falou de tudo, mesmo. Que ótimo! Eu fico contente e satisfeito.
P/1- Eu fico também. Eu fico muito feliz e agradecido ao senhor e ao Hotel Fenícia, por darem essa entrevista pra gente. O projeto Memórias do Comércio é um projeto que conta a história de gente como o senhor, né? Então, eu agradeço muito e peço ao senhor que espere o contato do nosso fotógrafo e da nossa produtora , que eles vão combinar de ir aí com o senhor, tá bom?
R- Vai ser um prazer atendê-los, viu? Eu fico agradecido também pela oportunidade.
P/1- Tá legal. Gui, quer falar alguma coisa?
P/2- Gostei da entrevista. Também queria agradecer o Gerson pelo tempo aqui com a gente. Eu acho que foi bem legal, deu pra conhecer bem o Hotel Fenícia também. E agradeço aí de novo o Gerson, pelo papo.
R- Muito obrigado, viu?
P/1- Muito obrigado. Até logo.
R- Até logo. Bom dia pra vocês.
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