Projeto Museu do Flamengo
Depoimento de Joel Antônio Martins
Entrevistado por José Santos e Manuel Manrique Gianolli
Rio de Janeiro, 3 de julho de 2000
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Ronaldo Ventura Souza
Revisado por Teresa de Carvalho Magalhães
R - Bom dia, tudo bem?
P/1 - Queria iniciar a entrevista pedindo para o senhor falar seu nome completo, local e data de nascimento.
R - Bom, em primeiro lugar é um grande prazer estar aqui junto com vocês nesse belo estúdio, bom, meu nome é Joel Antônio Martins, como o senhor já falou, nasci no dia 23 de novembro de 1931.
P/2 - E aqui no Rio?
R - Aqui no Rio, na rua do Catete.
P/2 - E Joel, você se recorda do nome dos seus avós e que que eles faziam, a atividade deles?
R - Não, não, não muito, mas o do meu pai e da minha mãe sim.
P/2 - Então, qual é o nome deles e a atividade?
R - O nome do meu pai era José Antônio Martins e o nome da minha mãe era Deolinda de Almeida Martins, papai trabalhava em várias coisas, era autônomo mais ou menos e mamãe era professora e depois mais tarde foi diretora de colégio público, aqui no Rio de Janeiro mesmo.
P/1 - Eles eram brasileiros?
R - Minha mãe sim, mas meu pai veio de Portugal para a província Trás os Montes.
P/2 - E você tem irmãos?
R - Tenho dois irmãos, um mais velho, já falecido, que foi José Antônio de Almeida Martins, e meu irmão do meio, João Antônio Martins.
P/2 - Você é o mais novo?
R - Eu sou o mais novo.
P/2 - E Joel, você se lembra, qual é a sua primeira lembrança da sua casa de infância?
R - Eu nasci, como eu lhe falei, na rua do Catete, mas na rua Andrade Pertence, que é uma transversal a rua do Catete, bem em frente ao Colégio Santo Antônio de Maria Zacarias, onde eu estudei. Morava ali na rua Andrade Pertence número 23, era uma casa de dois andares enormes, quatro quartos, três salas, quintal, tinha tudo ali, jogava até pelada ali na areazinha.
P/2 - Que que você brincava com seus...
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Depoimento de Joel Antônio Martins
Entrevistado por José Santos e Manuel Manrique Gianolli
Rio de Janeiro, 3 de julho de 2000
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Ronaldo Ventura Souza
Revisado por Teresa de Carvalho Magalhães
R - Bom dia, tudo bem?
P/1 - Queria iniciar a entrevista pedindo para o senhor falar seu nome completo, local e data de nascimento.
R - Bom, em primeiro lugar é um grande prazer estar aqui junto com vocês nesse belo estúdio, bom, meu nome é Joel Antônio Martins, como o senhor já falou, nasci no dia 23 de novembro de 1931.
P/2 - E aqui no Rio?
R - Aqui no Rio, na rua do Catete.
P/2 - E Joel, você se recorda do nome dos seus avós e que que eles faziam, a atividade deles?
R - Não, não, não muito, mas o do meu pai e da minha mãe sim.
P/2 - Então, qual é o nome deles e a atividade?
R - O nome do meu pai era José Antônio Martins e o nome da minha mãe era Deolinda de Almeida Martins, papai trabalhava em várias coisas, era autônomo mais ou menos e mamãe era professora e depois mais tarde foi diretora de colégio público, aqui no Rio de Janeiro mesmo.
P/1 - Eles eram brasileiros?
R - Minha mãe sim, mas meu pai veio de Portugal para a província Trás os Montes.
P/2 - E você tem irmãos?
R - Tenho dois irmãos, um mais velho, já falecido, que foi José Antônio de Almeida Martins, e meu irmão do meio, João Antônio Martins.
P/2 - Você é o mais novo?
R - Eu sou o mais novo.
P/2 - E Joel, você se lembra, qual é a sua primeira lembrança da sua casa de infância?
R - Eu nasci, como eu lhe falei, na rua do Catete, mas na rua Andrade Pertence, que é uma transversal a rua do Catete, bem em frente ao Colégio Santo Antônio de Maria Zacarias, onde eu estudei. Morava ali na rua Andrade Pertence número 23, era uma casa de dois andares enormes, quatro quartos, três salas, quintal, tinha tudo ali, jogava até pelada ali na areazinha.
P/2 - Que que você brincava com seus irmãos?
R - Em especial bola, futebol, bola de borracha, bola de meia, bola de tênis, quando não era no quintal de casa, jogávamos pelada, que a gente chamava a maneira de naquela época, não se sei agora, pelada, jogávamos pelada na rua, era uma rua de paralelepípedos, e jogávamos pelada ali na rua mesmo, bola de tênis, bola de meia, bola de borracha. E isso veio a ajudar muito, porque a gente jogava na parte da manhã, na parte da tarde e na parte da noite, apesar de que a minha mãe nunca gostava, porque na época quem jogava futebol não era muito bem visto, era mais ou menos assim meio, vamos dizer assim, meio vagabundo, (riso) e acontece que quando ela ia dar as aulas no colégio dela, a gente, ela trancava o portão da nossa casa, mas acontece que a gente pulava o muro para jogar bola na rua, e mais eu e meus irmãos nos esquecíamos do horário dela voltar, e muitas vezes ela quando voltava da escola, ela nos pegava na rua, jogando futebol, então ela reclamava muito: “Já falei que jogo de bola eu não quero.” E reclamava muito, e às vezes ela pegava a régua assim para dar uma, bater na gente, mas ela nunca batia porque a gente dava volta na mesa, a gente era mais rápido do que ela, ela corria atrás de nós mas a gente era mais rápido do que ela, e dentro de cinco voltas ela já estava cansada e ela não batia, não chegava bater, mas reclamava. (riso)
P/1 - Então aí que o senhor treinou seus primeiros dribles?
R - Meus primeiros dribles foram na rua, jogando futebol, e mais tarde passou a ser no colégio.
P/1 - Que colégio era?
R- Santo Antônio Maria Zacarias, colégio de padre, onde o primário, o ginasial e parte do científico, quando eu passei, o meu irmão João Martins, meu irmão do meio, me levou ao Botafogo, porque ele conhecia o treinador do Botafogo na época, que era filho do Gentil Cardoso, um treinador que era do Vasco da Gama, o filho dele era Newton Cardoso, que era treinador do juvenil do Botafogo, como meu irmão conhecia ele me levou ao Botafogo, eu tinha naquela época eu tinha 17 anos mais ou menos.
P/1 - E antes disso o senhor jogava futebol pela escola ou tinha algum time?
R - Jogava, antes eu cheguei a jogar pela escola contra o colégio Santo Inácio que era um colégio na praia de Botafogo, na rua São Clemente, tinha o Colégio Santo Inácio, até hoje tem, e jogávamos muito contra o Colégio Santo Inácio, que era um bom time, era muito difícil a gente ganhar, dificilmente a gente ganhava do Colégio Santo Inácio. E uma vez ou outra me colocavam no time para eu jogar.
P/1 - E o senhor já jogava no ataque?
R - Sempre fui atacante, mas atacante do meio campo, do meio campo, mas no primeiro treinamento que eu dei no time do juvenil do Botafogo foi o treinador me pediu para jogar na ponta-direita, e eu joguei em General Severiano na ponta-direita, num treino só parece que eu agradei, porque eles logo eles fizeram a minha inscrição no Botafogo, o Newton Cardoso fez, e eu passei a jogar no time do juvenil do Botafogo, apesar de já eu era, sempre fui flamenguista.
P/1 - Ah é?
R - Sempre fui flamenguista desde, desde pequeno.
P/2 - E como que o senhor se tornou Flamengo, como foi?
R - Através dos meus irmãos, meu time de botões era, era, era aquele time do Flamengo que foi tricampeão em 1943, 1944, 1945, Jurandir, Domingos e Newton, Biguá, Bria e Jaime, Valido, Zizinho e Pereira, Pércio e Zezé; era o time, jogava botão com esses jogadores. Uma das maiores alegrias da minha vida foi eu ter jogado, logo no início que eu deixei Botafogo, como profissional eu joguei primeiro ano no Flamengo com 19 anos, foi ter jogado com Biguá e Bria, uma das maiores alegrias da minha vida, foi uma das maiores alegrias, tanto que eu chorei quando eu joguei com eles.
P/2 - É mesmo?
R - Eu era fã deles, eu cheguei a jogar com eles um ano, durante um ano, Biguá e Bria, eu era, eu era Flamengo nato, apesar de que eu fui criado no Botafogo, foi criado, fui muito bem tratado no Botafogo, as maiores regalias eu tive no Botafogo, um pessoal formidável, devo muito ao Botafogo, mas infelizmente eu adorava o Flamengo,
P/1 - Infelizmente para os botafoguenses.
P/2 - Mas o senhor lembra então do tri?
R - Perfeitamente.
P/1 - Do tri, quando o senhor era criança, quando o senhor...
R - Eu me lembro perfeitamente.
P/2 - O senhor ia ao estádio?
R - Não ia, mas eu escutava pelo rádio, que eu era garoto, ouvia pela rádio o Veiga, o Duvaldo Korf transmitindo o jogo e vibrava como qualquer torcedor vibra hoje, vibrou com a gente, conosco no segundo tri em 1953, 1954, 1955, eu já fazendo parte.
P/2 - A gente vai falar bastante desse tri. Mas antes ainda, então, como era isso? Vocês tinham rádio em casa?
R - Rádio em casa.
P/2 - Era rádio, ainda não tinha TV.
R - Não tinha TV na época.
P/2 - E como é que era isso? A família toda era Flamengo ou só o senhor e seus irmãos?
R - Meus irmãos todos, meus pais não eram muito ligados a futebol não, não eram muito ligados, tanto a minha mãe como o meu pai não era muito ligado, meu pai como sendo português era um pouco mais chegado ao Vasco da Gama, mas é engraçado que todos nós três, tanto meu irmão mais velho como o do meio, nós éramos os três flamenguistas. (riso) É muito engraçado isso.
P/2 - E como é que foi essa saída do Botafogo para o Flamengo?
R - Essa saída foi que eu tinha um dos tios meus era um dos diretores do Jornal O Globo, Manuel Gonçalves, era um dos diretores do Jornal O Globo, flamenguista doente também, e ele era muito amigo do Francisco de Abreu. Francisco de Abreu foi um dos diretores da época do Flamengo, e vieram falar comigo. O Flamengo se interessou porque nós fomos campeões brasileiros de juvenis, eu pelo Botafogo na ponta-direita, o Zagalo pelo América na ponta-esquerda, o Zózimo, do Bangu, cabeça-de-área pelo Bangu, juntos e vários outros colegas meus que foram campeões, eu estou citando esses porque esses foram campeões do mundo, mas o restante do time todos eram excelentes jogadores, fomos campeões brasileiros em 1951, na final foi cariocas e paulistas, tanto no Rio como em São Paulo nós ganhamos, fomos campeões. Tinha o Dino da Costa, que era o jogador centroavante, tinha o Haroldo, aquele Haroldo que jogou no Vasco, jogadores muito bons, muito bons, sabe, muito bons. E o Flamengo se interessou por mim, e vieram a minha procura, e acontece que o Flamengo se interessou e caiu para mim caiu a sopa no mel, porque como eu era flamenguista, gostava muito do Flamengo, e o Flamengo na época as vantagens foram as melhores também, e eu me eu preferi ser jogador do Flamengo.
P/1 - E aí o senhor foi para ser juvenil?
R- Não, não, eu saí direto do juvenil para o profissional do Flamengo, tanto que eu estreei no Maracanã com 19 anos de idade, e naquela época era meio, meio estranho isso, um jogador jogar com 19 anos, estreei no Maracanã com 19 anos de idade.
P/1- O senhor lembra dessa estréia?
R- Me lembro, foi contra o Fluminense, não ganhamos, perdemos o jogo de um a zero, Maracanã lotado, tinha mais de 100 mil pessoas, perdemos de um a zero, chorei muito no final quando vieram me entrevistar, chorava porque eu perdi a partida, mas esse ano os jornais todos me colocaram como a revelação do ano no futebol, vários jornais, Última Hora, Diário da Noite, O Dia, o próprio O Globo, Jornal de Esportes.
P/2 - E antes do jogo o senhor estava ansioso, tranquilo, como é que...
R – Foi uma excelente pergunta, essa. Antes do jogo eu fiz um treino na Gávea, o Flávio Costa chegou perto de mim e marcou o dia, uma data para eu ir na Gávea treinar, e aí eu saí, vinha do juvenil, fui treinar na Gávea e treinei, parece que eu treinei bem, porque para mim e falou assim: “Ô Joel, você vai jogar domingo contra o Fluminense.” Falei: “Eu?” Ele falou: “Você mesmo.” Mas eu falei: “Eu?” Porque eu estranhei, porque eu era juvenil, mas tinha treinado entre os profissionais lá na Gávea, “É, você vai jogar contra o Fluminense domingo Maracanã.” Eu falei: “Tá, tudo bem.” Aí chegou no domingo no Maracanã tranquilo, não fiquei nervoso, nem nada, tranquilo lá, tomei, naquela época a gente tomava massagens, tomava massagem na perna, tinha massagista, eu estava ouvindo barulho da torcida, dentro do vestiário, o Maracanã estava tão cheio que a gente já ouvia o barulho da torcida do Flamengo que era bem barulhenta, então a torcida, eu estava tranquilo, não estava nervoso não, tudo bem. Caminhamos pelo corredor do túnel para subir a escada, a escada que dá ao topo, eu subi tranquilamente, mas quando eu pisei no gramado, a torcida do Flamengo, eu fui um dos primeiros, a torcida explodiu, já naquela época era válido os foguetes, foguetórios e tudo, e o próprio clamor da torcida era exuberante, era muito forte, eu pisei e dei marcha-ré e me empurraram, aí eu me freei assim, fechei o olho, entrei de olho fechado no Maracanã, aí abriu os olhos, aí eu já estava lá dentro já, (riso) fiquei um pouco receoso lá, mas depois de 10 minutos correu tudo bem. Infelizmente não ganhamos, perdemos de um a zero, mas o time o time foi bem, foi um a zero para o Fluminense, perdemos.
P/2 - Quando o senhor chegou no Flamengo existia algum tipo de trote para receber o novo jogador, como era o recebimento?
R - Foi excelente, fui muito bem recebido, não reclamaram nada, pelo menos no treinamento, eu treinei normal, engraçado, não recebi reclamação, uma vez ou outra o Bria, que eu tinha costume de vir a jogar muito aberto, uma vez ou outra o Bria, que era o, mais ou menos, cabeça-de-área, que hoje é o cabeça de área que a gente chama, uma vez ou outra o Bria chamava: “Joel, abre, abre Joel, abre um pouco mais Joel.” Só isso, mas com muita gentileza, ele era um jogador paraguaio, Bria, e eu em vez de fechar abria mais, atendia às ordens dele, que eu me fechava um pouco, ele: “Abre mais Joel, um pouco mais, isto, isto Joel, isto.”
P/2 - E já nesse ano, 1951, quem era o ataque do Flamengo?
R - Em 1951? Comecei com eu, Joel, Hermes, um jogador gaúcho, Adãozinho, um centroavante que foi reserva do Ademir, o Ademir, o centroavante da seleção brasileira de 1950, Adãozinho é gaúcho também, Aluísio, um meia-esquerda, que mais tarde foi, se formou em dentista, e Esquerdinha, ponta-esquerda que veio do Olaria, essa era a linha do Flamengo, jogou Biguá, Bria e não era o Jaime não, era Biguá, Bria e um lateral que eu me esqueço agora, Marinho e Pavão, e o Garcia no gol, Marinho é o pai adotivo do Paulo Sérgio Cajú, Marinho, lateral-direito, um excelente jogador.
P/1 - Pai adotivo do Caju, é?
R - Pai adotivo do Paulo Sérgio, Paulo Sérgio Cajú, é Paulo Sérgio, não sei se é Paulo Sérgio Caju que foi campeão do mundo em 1970.
P/1 - E jogou no Flamengo em 1972.
R - E jogou no Flamengo, um excelente jogador. Jogou o Marinho e depois ele foi campeão, o Marinho foi campeão comigo depois em 1953, depois no bi e no tri foi o... o lateral-direito.
P/1 - E o técnico era o Flávio Costa?
R - Não, o Flávio Costa, foi o Freitas Solich o técnico em 1950...
P/1 - Não, em 1951.
R - Ah, em 1951 o Flávio Costa, em 1951. 1952, eu acho que já houve, já houve uma mudança eu acho já para o Freitas Solich, eu acho, não tenho muita certeza não.
P/2 - E Joel...
R - Em 1953, eu tenho que foi o Freitas Solich 1953, 1954, 1955.
P/1 - Antes da gente falar, que a gente vai falar um pouco mais da campanha do tri, eu queria que você contasse então como era a Gávea e como eram os treinamentos há 50 anos atrás.
R - Os treinamentos eram dados pelo treinador e por um preparador físico só. Não tinha essa como hoje em dia houve um percentual de validade nisso, tanto na parte de treinamento hoje em dia como na parte médica foi um melhoramento muito grande.
P/1 - Muito grande.
R - Muito grande. Mas nessa época o treinamento também já era muito puxado também, mas não tanto, eu acho, não tanto como agora.
P/2 - Mas como era, parte física?
R - É, parte física, nós fazíamos individuais, que duravam duas horas, mais ou menos, exercícios físicos, todos de movimentos físicos, corrida, corrida em obstáculos, pulos, de um lado de outro, é pit de velocidades, 50 metros, 100 metros, volta no campo, exercícios abdominais, como é?
P/2 - E tinha essa coisa de dois toques?
R - Dois toques, fazia muito treinamento de dois toques, treinamentos técnicos tinha também, tinha também.
P/2 - E concentração?
R - Concentração era terrível, porque nós concentrávamos quarta-feira, depois do treino, do treinamento na parte da tarde, concentrávamos, depois voltávamos na concentração na sexta-feira depois do treinamento, e ficávamos domingo depois do jogo, voltávamos para, saíamos segunda-feira, era terrível.
P/1 - Depois do jogo?
R - Voltávamos, com o Freitas Solich voltávamos, quer dizer que a gente ficava quarta-feira depois do treinamento, treinávamos quinta-feira de manhã, íamos para casa, sexta-feira de tarde voltávamos para fazer o apronto, voltávamos para a concentração de novo, sábado de manhã fazíamos um leve individual, voltávamos para a concentração, jogávamos no Maracanã, voltávamos para concentração, éramos liberados segunda-feira às cinco horas da manhã, íamos para casa, e era, não era mole não.
P/1 - E a concentração era onde?
R - Na estrada que era da Gávea, onde agora é um hospital, creio que agora é um hospital, estrada era da Gávea.
P/1 - E Joel, a Gávea daquela época é muito diferente da de hoje?
R - Não, não, a mesma coisa, melhorou, melhoraram os vestiários, essas coisas, mas o campo mais ou menos a mesma coisa, a arquibancada é a mesma.
P/2 - E aquela época vocês tinham...
R - Não, é, desculpe, o nosso campo oficial era o Maracanã, ali era só para treinamento só, e dificilmente a gente jogava ali, o nosso campo oficial sempre foi o Maracanã.
P/1 - E Joel, você tinha uma cobrança no Flamengo, o Flamengo não ganhava um título desde de 1944, não era isso?
R - Não estou bem certo não.
P/1 - É, porque foi o tri, aí até lá o Flamengo ficou sem ganhar títulos, tinha essa cobrança no elenco, vocês se sentiam cobrados?
R - Não, não porque tanto o treinador, Flávio Costa, que foi um excelente treinador, para nós, tanto o treinador Freitas Solich, que foi um excepcional treinador também, nos tratavam muito bem, sabiam trabalhar com os jogadores. E nós tivemos um presidente também excepcional, que o foi o Gilberto Cardoso na época, aliás todos os presidentes do Flamengo foram excelentes.
P/1 - Ah, então já que o senhor tocou no assunto, como era o Gilberto Cardoso?
R - Ah, o Gilberto Cardoso foi um presidente, como eu já falei, um excelente presidente, os jogadores adoravam ele.
P/1 - Por que ele era muito chegado?
R - Muito chegado, muito simples, um excelente, um excepcional presidente, muito ligado a nós, muito bom, muito simples, sabe, um pé no chão, muito simples, muito querido, e tanto que com sua morte, nós fizemos, os jogadores fizeram a questão de fazer o acompanhamento da sua morte do caixão até ao cemitério São João Batista, caminhamos até, junto com o caixão, até o cemitério são João Batista.
P/1 - Ah, caminharam?
R - Caminhamos até o São João Batista, e oramos, fizemos uma oração lá em memória dele.
P/1 - O velório foi na Gávea?
R - Foi lá no São João Batista, o velório foi.
P/1 - E, quer dizer, ele não viu o Flamengo ser tricampeão, que ele morreu depois do jogo de basquete.
R - Foi, foi isso mesmo, de repente, era um flamenguista nato também. E ser flamenguista é uma coisa nata, o senhor vestir a camisa do Flamengo é uma coisa, é uma coisa que, o senhor joga tranquilo, aquilo ajuda, parece uma coisa que é impossível, mas não é, é possível, a camisa ajuda o senhor a jogar, a camisa ajuda, o senhor tem uma outra camisa já não é a mesma coisa, por incrível que pareça, a sua produção diminui, é isso aí.
P/2 - A pergunta que eu ia fazer uns minutos atrás é a seguinte, se aquela época os jogadores de futebol tinham uma amizade com os jogadores no Flamengo de outros esportes, seja basquete ou vôlei, existia essa integração?
R - Bom, muito pouco, muito pouco. É claro que nós torcíamos pelo vôlei, pelo basquete, porque tinham excelentes jogadores também na época, mas a integração era muito pouquinha, que devido aos horários serem diferentes, de treinamento, a concentração era muito grande, a gente vivia, a gente viajava muito, as viagens eram muito longas, era muito difícil a gente ter uma certa...
P/2 - Era muito rígido o esquema de concentração ou alguém dava um jeito de...
R - Não, era rígido, era bastante rígido, não havia escapulida não, e se houvesse o jogador era, não tinha colher-de-chá não, o negócio era...
P/1 - Qual era a rotina da concentração, o que os jogadores faziam durante esse tempo todo?
R - Bom, alguns liam alguns livros, eu costumava ler livros, ouvir rádio, tinham mesas de sinuca, nessa época já tinha televisão, ficavam vendo televisão, jogavam sinuca, cartas, xadrez não... damas, e uns ficavam brincando com os outros, a grande maioria lá, gostava as vezes de mexer comigo, porque uma vez ou outra aparecia um ratinho lá, porque ali, na concentração do Flamengo, ali era num morro, de vez em quando aparecia, aparecia um ou outro, aparecia ratinho pequenininho, e eu tinha um horror a rato, e eles pegavam esse ratinho e corriam atrás de mim com o ratinho, eu ficava apavorado com aquele negócio, era o Pavão e os outros mais lá da turma corriam com o rato atrás de mim, eu saía correndo: “Pára com isso então.” Era só na base da brincadeira, que não tinha nada que fazer, eles não tinham nada que fazer, eles ficavam nessa brincadeira aí. (riso)
P/1 - Quem eram os mais brincalhões lá do grupo?
R - A grande maioria era, grande maioria era, o Rubens, era o (Jordão?), o Pavão, Jadir, quase, Tomires, quase todos eram, Evaristo, Zagalo, essa turma toda era muito brincalhona.
P/1 - E Joel, antes de a gente chegar ainda no tri, parece que você fez uma excursão pelas Américas em 1952 com o Flamengo, não foi isso?
R - Foi.
P/1 - Foi pelo Peru.
R - Nós fomos muitas vezes, jogamos muitos torneios no Peru, jogamos muitos torneios na Colômbia, em vários países da, no Chile, Peru, na Argentina, em Buenos Aires, foi e a maioria das vezes nós nos saímos muito bem, o Flamengo se saía muito bem nesses torneios.
P/1 - E você se lembra dessas excursões aí, das partidas, adversários que vocês enfrentaram?
R - Ah, em Lima, Peru, nós fomos umas quatro ou cinco vezes com Aliança de Lima.
P/1 - Universitário?
R - Universitario de Lima, jogamos muito contra eles lá.
P/1 - E esses times eram páreo, eram fraquinhos?
R - Não, não, era jogo duro, jogo difícil, não era mole não, era tudo, todos os jogos eram difíceis, mas o Flamengo se saía bem, porque o Flamengo tinha um bom time, naquela época o Flamengo tinha um bom time, eu peguei uma época de ouro no Flamengo, porque o time era muito bom, não só os onze, como o banco, o banco era muito bom, era tão bom quanto nós, entrava um, entrava outro, era a mesma coisa.
P/1 - Então Joel, em 1953 o Flamengo ganha o primeiro título.
R - Campeão.
P/1 - Já com o Freitas Solich?
R - Já com o Freitas Solich. Foi um vitória excelente, uma vitória excelente tanto o campeonato, como o bi, o campeão, como o bi, como o tri foram sensacionais, eu acho.
P/1 - E o ataque muda muito do campeonato para o terceiro?
R - Mudou, o que começou como campeão, começou com eu, Rubens, Índio, Benitez e Esquerdinha, fomos campeões; depois, no tri, já foi eu, Rubens, Índio, Evaristo e Zagalo, depois o Dida entrou também, no bi parece que o Babá entrou também na ponta esquerda, e no tri, já no final, porque começou no tri era eu, Paulinho que era ponta-direita jogou na meia-direita, foi até artilheiro do tricampeonato, eu e o Paulinho, um excelente jogador, eu, Paulinho, Evaristo, Dida e Zagalo, O Paulinho não jogou a última, a última foi eu, Duca, Evaristo, Dida e Zagalo.
P/1 - É, por exemplo, o Duca na final, 4x1 no América.
R - É justamente.
P/1 - Ele fez algum gol, o Dida fez os quatro?
R - Não, o Dida fez os quatro, o Dida fez os quatro.
P/1 - Porque tem umas súmulas que atribuem ao Duca um desses gols.
R - Não, não, não foi não, houve um bombardeio dentro área do gol, inclusive eu chutei uma bola na trave, a bola veio, o Duca chutou, bateu num, bateu noutro, acabou o Dida marcando o gol, os gols foram todos feitos por ele, foi a consagração do Dida, nessa, nessa partida, um excelente jogador que ele era.
P/1 - E que jogo, a partida anterior vocês tinham perdido de 5x1 para o América.
R - A segunda partida foi 5x1 para o América, o América fez 1x0, 1x1, foi gol meu de cabeça, 1x1, empatamos, aí o América disparou, na primeira ganhamos de 1x0 gol do Evaristo, se não me engano.
P/1 - E como é que foi esse momento da preparação para o terceiro jogo, o time ficou muito abalado de ter perdido de goleada?
R - É, nós ficamos com nó, ficamos com nó ali na garganta, porque inclusive nós estávamos lá na concentração, na estrada da Gávea, e uma parte do time do América passou pela concentração num ônibus e fizeram, fizeram uma espécie de desafio: “Eh” A terceira já, nós ficamos ali meio é: “Espera aí, vocês vão.” Eles fizeram um desafio para nós ali, passaram ali pela concentração lá na Estrada da Gávea, aí a gente ficou muito ressentido com aquilo, e com nó na garganta, aquele negócio, chegamos lá na terceira, ali não tinha jeito não, ninguém ganhava da gente não, entramos e arrasamos com o América, não tinha jeito não, entramos para ganhar mesmo, uma vitória espetacular do Flamengo contra o...
P/1 - E você foi bem nessa partida?
R - Todos os jogadores foram muito bem, o time todo foi muito bem.
P/1 - Mas os gols no caso saíram da participação tua?
R - O primeiro foi uma confusão dentro da área, eu chutei, a bola bateu na trave, veio, foi um bololô ali dentro da área, que acabou sobrando para o Dida, a maioria, quase tudo foi jogada de ataque sim, quase todos complementaram as jogadas, caindo para o Dida fazer o gol, as vezes uma ou outra jogada foram jogadas individuais do Dida também, mas faz algum tempo que eu não me recordo assim muito, não estou com uma recordação assim tão boa, já faz bastante tempo,
P/1 - 45 anos faz.
R - É, 45 anos já, mas a foi uma vibração enorme, uma alegria enorme e eu me lembro que no final do jogo o irmão do Fidel entrou em campo e me levantou, levantaram o Dida também, saímos, a torcida levantou a gente, aquela alegria natural de um time ganhador, de um time vitorioso,
P/1 - Deram a volta olímpica?
R - Chegamos a dar sim.
P/2 - E onde que a equipe comemorava os campeonatos, tinha algum lugar específico?
R - Sim, nós saímos dali para ir no, o Flamengo tinha, a sede do Flamengo era ali na praia do Flamengo, e a caminhonete saiu ali do Maracanã para diretamente a sede ali da praia do Flamengo, e houve um baile ali, a torcida estava toda ali para comemorar o resultado, tinha muitos torcedores lá, dentro da sede tudo, comemoraram muito, ao sair do Maracanã mesmo já tinha bastante gente comemorando e tudo.
P/1 - Bem, eu queria falar assim agora de alguns gols inesquecíveis de sua carreira que o senhor pudesse contar, tem então um gol aí contra o Botafogo,
R - É, foi no, foi na volta da Copa do Mundo de 1958, Flamengo e Botafogo no Maracanã, Maracanã cheio, e o Botafogo estava ganhando de 2x1, inclusive o Garrincha tinha marcado gol pelo Botafogo, mas acontece que num choque que eu dei num zagueiro do Botafogo, abri a testa e o médico do Flamengo na época era o Dr. Paulo Santiago, me suturou a margem do campo, me deu, se eu não me engano, meia dúzia de pontos, saiu muito sangue, e ele achou por bem me levar para o vestiário, mas acontece que eu não poderia mais jogar, porque não tinha condições de jogo, mas naquela época não havia mudança de jogadores, e eu falei com o Dr. Paulo: “Não, eu não vou sair porque, porque o Flamengo está perdendo, falei mesmo isso, o Flamengo está perdendo, eu não vou sair não, está 2x1 Botafogo, eu não vou sair, eu vou continuar.” “Não, não, não, você vai para o vestiário.” “Não, doutor, não vou não, eu vou continuar.” Então resolveram que eu continuasse, eu retornei ao campo e por felicidade, uma bola que o Henrique vinha pela ponta-direita fez um cruzamento para a ponta-esquerda, que era o Germano, ponta-esquerda do Flamengo era o Germano, ele levou a bola até a linha de fundo e fez um cruzamento, outro cruzamento para dentro da área do Botafogo, um pouco para fora da área, o Dida vinha na posição mais ou menos de centroavante e com a cabeça jogou por trás do Nílton Santos, que fazia a cobertura da jogada, eu vinha em grande velocidade, pela ponta-direita, no bico da grande área, eu peguei a bola de primeira de voleio ela foi lá na gaveta, foi o empate de 2x2, o Maracanã veio abaixo, e foi um gol muito bonito, deram nota 10 lá para mim, deram nota 10 para o Garrincha também, que ele fez um excelente partida, e o Maracanã veio abaixo, os jornais noticiaram aquela partida aparecia nos jornais, todo ensanguentado e tudo, um belíssimo gol, eu acho, valeu a pena.
P/1 - Gol de raça?
R - Gol de raça mesmo, valeu. E outro gol também quando nós fomos campeões do Torneio Rio-São Paulo, com Carlinhos, atual treinador, de cabeça-de-área, o Gérson, comentarista, de meia-esquerda, ganhamos do Palmeiras, no Maracanã também, que foi um cruzamento agora do, o Henrique abriu pela ponta direita, eu vim pelo meio, na altura de, mais ou menos de meia-direita, em alta velocidade também, o Henrique fez um cruzamento forte, a meia altura, eu passei pela bola, me virei, e dei uma bicicleta, e a bola entrou, foi um gol que nós fizemos, ganhamos de 3x1, um gol meu, um do Gérson e um do Dida, fomos campeões do Torneio Rio-São Paulo.
P/1 - Como é que é o momento que o senhor sabe quando dá bicicleta, como que é isso?
R - Ah, isso daí é só na hora mesmo, é fração de segundos, é fração de segundos, é fração de segundos, o senhor não pode imaginar, o senhor não imagina, é coisinha mínima, bateu e valeu, o senhor não pode calcular, é tão rápido, que o senhor não pode calcular, tem que fazer a coisa rapidamente. E, por acaso, deu certo.
P/1 - Mas foi a primeira, primeiro gol de bicicleta?
R - Não, não, eu tinha feito gol de bicicleta contra o Santos, num torneio lá, que eu fiz lá na Espanha, e fiz um gol na Suécia numa turnê que o Flamengo fez, eu fiz um gol de bicicleta, tanto que eles, eles encomendaram, como eu marquei um gol de bicicleta, e eu fui eleito o melhor jogador da partida, eles encomendaram, através do diretor do Flamengo que era sueco, e através da indústria de bicicleta aqui em São Paulo, me enviaram uma bicicleta como prêmio pelo gol de bicicleta que eu tinha feito lá na Suécia, marquei um gol de bicicleta também lá, contra uma equipe lá que agora eu não me lembro o nome. E agora eu marquei um bonito gol também foi contra a Seleção Paulista, no Maracanã, ganhamos de 4x1, marquei um gol de peixinho.
P/1 - Como é que é o gol de peixinho?
R - Foi um cruzamento que eu de cabeça me lancei, me joguei de cabeça e testei a bola e marquei o gol, ganhamos de 4x1 da Seleção Paulista no Maracanã.
P/1 - E teve um jogo também no São Januário que o senhor fez dois gols.
R - Ah, sim, mas isso é no dia 1º de maio, dia do trabalhador, que na época era o nosso presidente era o presidente Getúlio Vargas, falecido, e o estádio do São Januário estava cheio, porque inclusive a entrada era grátis, era dia do trabalhador, e o treinador Gentil Cardoso, era o treinador que fez uma Seleção Carioca, me escalou na extrema direita e o meia-direita era o Zizinho, famoso Zizinho, craque da bola, e o Zizinho, marquei dois gols nessa partida, mas nos dois gols o Zizinho, na primeira ele passou por uns dois ou três adversários, me deixou eu e o goleiro, eu só tive o trabalho de empurrar a bola, e o Zizinho se virou para mim e falou assim: “Boa garoto.” E eu nem pulei de vergonha (riso) e na outra a mesma coisa, o Zizinho me driblou dois e deixou eu e o goleiro outra vez, eu só tive o trabalho de empurrar a bola outra vez, ele falou: “Boa menino.” Não pulei de vergonha outra vez (riso) marquei dois gols a custa do trabalho do Zizinho, extraordinário jogador que ele era.
P/2 - E foi Seleção Carioca contra quem?
R - Eu não me lembro, eu não me lembro bem contra quem nós jogamos, nós jogamos contra uma outra seleção, isso foi na época que o Getúlio Vargas foi presidente.
P/1 - E tem algum gol aí marcante contra o Vasco?
R - Foi, teve um ano aí que eu marquei dois gols contra o Vasco, não me lembro o ano que foi, eu marquei dois gols contra o Vasco, um de fora da área, e agora foi interessante, não sei se foi no bicampeonato ou no tricampeonato ou no campeonato, que teve no turno, eu acho que nós ganhamos de 3x0, o Vasco ganhou de 3x0, no returno recebemos o troco, entendeu, se nós ganhamos de 3x0 no turno, no returno o Vasco ganhou de 3x0.
P/1 - E o gol foi de fora da área?
R - Não, não foi nesse de 3x0 não, foi num outro jogo aí que eu marquei dois gols contra o Vasco, não me lembro bem que jogo foi, mas cheguei a marcar dois gols contra o Vasco, foi uma das poucas partidas, raras minhas, que eu marquei dois gols numa mesma, numa mesma partida.
P/2 - E os dois forma de chute forte?
R - Foram de chute forte.
P/2 - Qual era a característica do senhor como jogador, como é?
R - Dizem que eu era muito rápido, tinha habilidade e era muito inteligente. Um bom jogador para ser um bom jogador em primeiro lugar tem que ser inteligente, habilidoso e ter coragem, um jogador para ser um bom jogador, tem que ter essa formação, senão não vai. Eu jogava em alta velocidade, aliás quase todo o time do Flamengo na minha época, ali era muito, jogava em alta velocidade, em três toques a gente já estava na área chutando em gol, foi a época no nosso tricampeonato, no segundo tricampeonato, foi a época do famoso rolo compressor, famoso rolo compressor, jogadores excelentes lá, o time todo era muito bom.
P/2 - E, mas falando ainda da característica do ponta-direita, que hoje o ponta está mais sumido, então qual era a sua função tática na partida?
R - Eu sempre jogava, eu nunca ficava parado no jogo, eu fazia cruzamentos, normalmente precisos, na medida, que em geral hoje é muito difícil, a grande maioria não está fazendo isso, são poucos aqueles que fazem isso, mas ainda fazem, porque os lançamentos e os cruzamentos tem que ser à base da precisão para o seu companheiro aproveitar a jogada, senão não adianta nada, e os deslocamentos rápidos, e eu dava, eu dava muito combate, eu nunca ficava parado, eu sempre combatia, nunca ficava parado, só porque eu era um jogador magrinho, aí eu perdia, quando a partida era uma partida difícil, eu perdia quase três quilos por jogo no Maracanã, principalmente na época do verão, que eu não parava de ficar quieto, eu sempre dava combate, ajudava muito, mas sempre jogava da linha média para frente.
P/1 - Joel, você falou que era magrinho, você pesava na época?
R - 60 quilos, 60 quilos, minha altura um metro e 67, mais ou menos.
P/1 - E a questão da violência em cima do ponta, você apanhava muito?
R - Uma vez ou outra, assim, às vezes uma cotovelada, uma pancada na costela, no tornozelo, no joelho, mas não era tanto como agora é, eu acho que a violência agora está bem maior.
P/1 - Você tinha um marcador assim mais complicado, alguém que quando pegava era difícil jogar?
R - Não, não, quase todos eram, quase todo o marcador sempre difícil, tinham marcadores muito bons, na época, o Nílton Santos, na categoria número um no mundo na sua posição, um jogador excepcional, fora de série, mas um jogador limpo jogava na bola, sempre jogou na bola, tinham jogadores muito bons, Altair do Fluminense, o Jorge do Vasco, Coronel do Vasco, vários, vários jogadores aí, excelentes aí, muitos jogadores muito bons aí, ainda peguei o Bigode, lateral-esquerdo do Fluminense, mas enfim uns jogadores muito bons.
P/2 - E o senhor chegou a ter contusões sérias?
R - Tive uma vez numa partida contra o Vasco, a única contusão séria que eu tive foi esta, eu fui tentar marcar um gol numa velocidade, eu e o goleiro do Vasco, tentei jogar a bola para um canto, mas o goleiro veio de carrinho e na minha perna e fraturei a tíbia, tive que ficar enfaixado dois meses.
P/2 - Naquela época não existia proteção de...
R - Não, tinha, mas eu não gostava de usar caneleira, nem gostava de usar proteção nenhuma, agora é obrigado, agora é obrigado a usar caneleira, mas naquela época não era obrigado a usar e eu nem gostava, eu só usava chuteira e meia.
P/2 - Como era a indumentária naquela época?
R - A indumentária naquela época era mais pesada do que agora, a indumentária agora está bem melhor do que na nossa época, é mais leve, tanto a camisa como as meias são mais leves.
P/1 - E as chuteiras mudaram muito?
R - Mudaram para melhor também, mas eu já peguei chuteiras boas também, mas agora eu acho que ainda são melhores.
P/1 - Que marca que era a chuteira o senhor se lembra?
R - Não, não me lembro muito bem não, eram umas argentinas.
P/1 - Eram chuteiras argentinas?
R - É, eram argentinas, eu não sei bem a marca, não me lembro bem não, eram chuteiras boas.
P/1 - Uma curiosidade, você guardou alguma chuteira da sua carreira?
R - Não, não guardei não, não cheguei a guardar não. (riso)
P/1 - Pô, senão já ia para o museu.
P/2 - Um meião ou short.
R - Eu vou ver lá em casa se tem, vou ver.
P/1 - Joel, a gente queria, tem alguns jogadores aqui que jogaram com você no ataque do Flamengo, eu queria que você contasse um pouquinho sobre eles para a gente entender melhor como eles eram como jogadores, as características deles como jogadores, tudo bem?
R - Pois não.
P/1 - Então vamos falar aqui primeiro do Henrique, o Henrique Frade, como ele era como jogador, quais eram as características dele?
R - Ah, o Henrique foi um bom centroavante, ele era batalhador, lutador, brigava do primeiro ao último minuto da partida, se movimentava muito, dava combate, dividia as bolas, e ganhava quase todas as bolas divididas, tinha muita coragem, um bom centroavante.
P/1 - E o Evaristo?
R - O Evaristo foi um excelente, um excelente meia-esquerda, jogou de centroavante também, jogador inteligente, habilidoso, um craque o Evaristo.
P/1 - E o Benitez?
R - O Benitez, eu fui campeão com ele pelo Flamengo em 1953, o Benitez tinha origem paraguaia, um goleador nato, um artilheiro nato, muito bom jogador, um tiro muito potente, muito forte, chutava muito bem de fora da área, com violência, e com violência e com certeza, o tiro, o chute dele era certeiro, marcou muito, foi artilheiro do Flamengo, um excelente jogador.
P/1 - E falando em artilheiro, e o Paulinho que foi artilheiro também?
R - O Paulinho foi um ponta-direita excelente e eu joguei com ele, nós fomos tri-campeões, ele na meia-direita, onde ele foi artilheiro, um excelente jogador o Paulinho, muito bom jogador, muito rápido, um chute forte, chutava muito bem, com violência, era muito rápido também.
P/1 - E o Dida?
R - Ah, o Dida é um jogador, o Dida é um jogador de dentro da área, um tremendo jogador de futebol, um excepcional jogador, fora de série, um jogador, um goleador nato, um jogador inteligente, hábil, muito inteligente, muito, muito, muito rápido, driblador nato, um goleador nato.
P/1 - E, quer dizer, quando ele chegou ao Flamengo, você já estava?
R - Já estava.
P/1 - Ele chegou novo, de Alagoas.
R - Veio de Alagoas, era muito novo, eu já estava.
P/1 - Já prometia quando ele chegou.
R - Já prometia é, foi um excelente jogador, um craque.
P/1 - E o Freitas Solich, como ele era?
R - Ah, o Freitas Solich, todos os títulos que eu e os meus colegas da época tivemos foi com debaixo das ordens do treinador Freitas Solich, foi o campeão, o tricampeonato, campeão de tri, o Torneio Rio-São Paulo, e vários torneios, no Peru, na Argentina, aqui dentro do Brasil mesmo, dentro do Brasil, vários torneios, na Europa, formou um time muito bom, ele tinha autoridade, tinha conhecimento, e ele tinha camisa do Flamengo vestida nele. (riso)
P/1 - Ele se encaixou bem?
R - Se encaixou bem, a camisa aí para ele aí ajudou muito também ele, que ele exercia a função de técnico com a camisa, colocando a camisa ajuda mais, facilita mais, como nós jogadores colocando a camisa do Flamengo, ajuda mais a gente a fazer as coisas, uma facilidade que nos ajuda.
P/2 - Ele indicava quem era o batedor de pênalti oficial do time?
R - Indicava.
P/2 - Quem era o batedor?
R - Era o Rubens, meia-direita, meia-direita, porque a mola-mestre, a mola-mestre de um time anterior a minha época, na minha época e atualmente, a mola-mestre de um time é o meio do campo, o meio do campo trabalhando bem, tendo bons jogadores, é eles é que fazem a movimentação de do andamento de um time, na minha época nós tínhamos o Rubens e o Dequinha, excelentes jogadores, é eles que eram os doutores, excelentes jogadores, e em volta tínhamos nós todos, o time todo correspondia, ao meio de campo, mas ali é onde nascem todas as jogadas, eu acho, anterior, na minha época e atualmente, mesmo agora na última Copa do Mundo da Seleção Brasileira, que nós fizemos dois atacantes maravilhosos, que foi o Bebeto e o Romário, mas o meio de campo do Brasil ajudou bastante ali a ele, o meio de campo é o astro, o meio de campo é o fiel da balança de um time é 80% ali, um bom meio do campo é meio caminho andado, é meio caminho para uma vitória certa, na minha opinião.
P/1 - É verdade, é verdade. Você estava falando de Seleção Brasileira, então vamos falar um pouquinho disso, qual foi a primeira vez que você jogou pela seleção?
R - Joguei, é, um ano antes que eu fui chamado pelo Osvaldo Brandão, que era treinador se eu não me engano era do Corinthians, fui chamado para jogar, jogar um Sul-americano, parece que foi em Lima, Peru, e joguei na ponta-direita, fui eu, o Didi, Zizinho, Pepe, Evaristo, excelente jogador, Nilton Santos. E depois as eliminatórias, depois desse torneio.
P/2 - Nesse torneio?
R - Não fomos campeões não, parece que a Argentina foi a campeã, a Argentina foi a campeã, depois desse torneio houve o jogo da eliminatória contra o Peru lá foi 1x1.
P/1 – Foram dois adversários, Venezuela e Peru, é isso?
R - Não, só contra o Peru.
P/1 - Só contra o Peru?
R - Foi, jogamos um jogo em Lima e outro aqui no Maracanã. Aqui no Maracanã o gol foi do Didi, eu joguei na ponta-esquerda, o Oswaldo Brandão me botou na ponta-esquerda, o ponta-direita foi o Garrincha, um ano antes, na Copa do Mundo, foi o ponta-direita aqui, lá também joguei na ponta-esquerda, lá eu acho que foi 1x1, não lembro não.
P/2 - Foi empate, é isso?
R - Foi 1x1, a Seleção Peruana jogou muito bem tanto lá como aqui, foi um adversário muito difícil, tanto que aqui nós suamos aí, foi um gol do Didi assim e olhe lá, foi um resultado muito, muito duro. Depois eu joguei, um ano depois, mudaram o treinador da Seleção Brasileira foi o Vicente Feola lá, todos esses dois treinadores vieram de São Paulo, não é, eu fiquei muito satisfeito com isso porque foram dois treinadores paulistas, me convocaram e tudo, fiquei muito contente com isso, e o Vicente Feola então, já nas partidas amistosas, joguei contra a Bulgária, aqui nós ganhamos de 4x1, marquei um gol contra a Bulgária.
P/1 - Ah, sim, marcou um gol.
R - Aqui no Maracanã, ganhamos de 4x1.
P/1 - Você lembra como que foi esse gol?
R - O gol foi um gol simples, foi dentro da área, eu não me lembro muito bem, mas eu marquei um gol contra a Bulgária, marquei um gol.
P/1 - Quem mais fez?
R - Foi ótimo, nós ganhamos de 4x1 da Bulgária aí no Maracanã. Foi eu, o Didi, o Mazzola, o meia-esquerda não foi o Pelé não, acho que foi o Dida. Dida e Pepe e Zagalo, também não me lembro, já faz tempo. Depois joguei contra a Seleção Paraguaia aqui, também ganhamos de 5x1, não marquei gol não, mas dei passes aí para alguém marcar gol, dei dois ou três passes. Depois o Garrincha jogou contra os paraguaios lá em São Paulo e contra um time lá, também lá em São Paulo, Pelé, jogaram lá em São Paulo. Depois nós viajamos para a Europa, eu joguei contra o, contra o...
P/2 - Fiorentina?
R - Não, Fiorentina foi o Garrincha, ganhamos de 4x1, ele fez uma partida excepcional. Mas eu fiz uma partida muito boa contra o Milan, contra outro time de lá, Inter de Milan eu acho, ganhamos de 4x0 também, eu joguei lá contra o Milan, sabe que ali, os dois gols que o Mazzola fez lá, foi dois cruzamentos meus que o Mazzola fez um de cabeça, e outro cruzamento que eu fiz para o Mazzola, ele marcou um gol de, de bicicleta o Mazzola, o clube italiano fechou o contrato com o Mazzola ali, antes da Copa do Mundo fechou o contrato com o Mazzola, o Mazzola, quando chegou na Copa do Mundo, já estava contratado por um time italiano.
P/2 - Então foi o Milan.
R - O Milan, isso mesmo.
P/2 - Que o Mazzola jogou muitos anos.
R - É isso mesmo, então foi o Milan, isso aí. Dois cruzamentos meu, um de cabeça, o outro de bicicleta, ganhamos de 4x1, 4x0, 4x1.
P/1 - E Joel, como é que foi essa emoção de vestir a camisa da seleção, você sonhava com isso, ou veio de repente?
R - Não, veio tudo de repente, toda a minha carreira veio assim de repente, você nunca espera, nunca esperava, é como a primeira vez que eu fui jogar no Maracanã, estava tranquilo dentro do vestiário, como eu já falei anteriormente, tranquilo, quando você chega no campo você leva aquele, aquele choque, (riso) não você põe a camisa, você leva o choquinho, (riso) eu pelo menos levei, você sempre leva o choquinho, tanto que antes do jogo contra a Áustria, eu dentro do vestiário eu pulava até que a minha cabeça batia no teto, porque o teto não era muito alto lá do vestiário e eu estava, estava agitado, meu temperamento era mais agitado, o Didi era mais calmo, o Garrincha calmíssimo, o Garrincha era calmo, o Pelé também calmo, aparentemente calmo, não sei se interiormente, mas eu não, aparentemente também parecia calmo, mas interiormente eu não era não, eu sempre fui um pouco mais agitado.
P/1 - E Joel, como é que foram os preparativos lá para a ida para a Suécia, vocês fizeram essa excursão pela Europa e de lá já rumaram para...
R - É, de lá da Itália, da Itália fomos diretos lá para a Suécia.
P/1 - Como é que era o espírito da equipe, vocês achavam que podiam ganhar?
R - Bom, nós partimos com a idéia de ganhar, quando a gente entra e vai para algum clube, algum, a gente vai com a idéia de ganhar, nunca de perder, agora se a gente vai ganhar ou não a gente não sabe, nunca sabe, contra qualquer adversário, sendo ele mais forte ou mais fraco, a gente nunca tem uma idéia se a gente vai ganhar ou não vai ganhar, porque o resultado é feito na hora, no dia, no minuto final, quando o juiz apita o final, aí o senhor tem uma idéia se ganhou ou não ganhou, antes ninguém tem essa idéia, o futebol é jogo, é o jogo, só termina quando o juiz apita no último minuto.
P/1 - Isso é a magia no futebol?
R - É a magia do jogo.
P/1 - Você nunca sabe o que vai ser.
R - Nunca sabe, e o próprio rendimento de uma equipe depende do próprio andamento do jogo, às vezes há um descontrole, às vezes o senhor faz um treinamento muito bom durante a semana e chega no dia do jogo e aquele treinamento não se faz durante o jogo, entendeu, há qualquer coisa que, é uma coisa que é difícil de explicar, sabe, são momentos que são criados no momento, agora como eu não sei, eu acho que parte de dentro de cada jogador.
P/2 - Por exemplo, no jogo da estréia do Brasil em 1958, a indicação do Feola para o jogo de estréia era qual indicação?
R - Não, ele indicou para nós que nós tínhamos uma responsabilidade pela frente, mas foi tudo tranquilo, não houve nada, estava todo mundo tranquilo, entramos em campo tranquilos e tudo, não houve...
P/1 - Que vocês estavam, vocês estavam em Gotemburgo, não é isso, estrearam contra a Áustria, 3x0?
R - É, 3x0. Depois foi contra a Inglaterra.
P/1 - Espera aí, vamos voltar, e como é que foi contra a Áustria, você lembra de alguma coisa assim?
R - Foi bem, o time jogou bem, jogamos bem contra a Inglaterra, ganhamos de 3x0 da Inglaterra.
P/1 - Da Áustria.
R - Da Áustria, me desculpe, da Áustria. A Inglaterra...
P/1 - 0x0.
R - 0x0, nós jogamos bem o primeiro tempo, mas o segundo tempo a Inglaterra fez um sufoco contra nós. O primeiro tempo mais ou menos foi isso, foi meio a meio o resultado, a Inglaterra jogou muito fechada também, jogou muito fechada, mas o nosso time não jogou com tanta firmeza como jogou contra a Áustria. Mas aí houve, mas aí a gente saiu já contra a Rússia, o Feola me tirou, me tirou, não o Dida já tirou no segundo jogo,
P/1 - O Pelé já tinha jogado no segundo jogo?
R - Não, não, o Pelé entrou na terceira partida.
P/1 - Que era a União Soviética.
R - Entrou no lugar do Dida o Vavá, na segunda partida, foi eu, o Didi, Mazzola, Vavá e Zagalo. E sempre a gente reunia lá e ele dava a escalação do time, mas eu sempre acatei, ninguém reclamou, o Dida também quando saiu não reclamou nem nada porque nós temos que acatar ordens superiores, e a ordem do treinador é ordem da chefia, ninguém gosta, mas é bem verdade que o Garrincha teve uma atuação excepcional contra a Rússia, e o próprio Pelé também, o meio de campo melhorou também com a entrada do Zito no lugar do cabeça-de-área que era do Corinthians, um excelente jogador também, mas o Zito ia mais também, ajudava mais. Agora depois tudo bem, ganhamos de 2x0 da Rússia.
P/1 - 2x0.
R - 2x0, tudo bem. Mas contra a Escócia foi um auê danado, porque a Escócia jogou muito recuada, só jogou com um atacante lá na frente, e foi muito difícil, foi uma partida dificílima, foi tão difícil, foi a Escócia.
P/1 - País de Gales.
R - País de Gales.
P/1 - Ali do lado ali.
R - É, País de Gales, contra o País foi muito difícil a partida porque eles jogaram numa retranca danada, um jogador lá na frente, mais nada, o resto tudo lá atrás, aí complicou, nós tivemos a felicidade do Pelé ter marcado aquele gol, ele deu um voleio num jogador, foi um gol excelente, mas a partida não foi fácil não. E depois correu tudo bem.
P/1 - Quando vocês embarcaram para a Suécia, vocês já sabiam que o Pelé era aquele craque todo?
R - Não.
P/1 - Que ele tinha 17 anos.
R - Tinha 17 anos, não sabia, ele era, ele era até um atleta até, com o perdão da palavra, desconhecido, ele apareceu assim de repente, ainda bem, ainda bem, mas ele não tinha, o nome dele ainda não tinha aparecido, mas foi uma figura importantíssima nessa Copa do Mundo.
P/1 - E que aí depois...
R - Jogador excepcional, número um do mundo, jogador excepcional, não tenha dúvida, tanto ele quanto o Garrincha colocaram a coroa do rei de futebol mundial, não preciso falar mais nada, como o Romário colocou agora a última vez.
P/1 - Mas lá na copa, aí teve o 5x2 na França.
R - E cinco a...
P/1 - E 5x2 na final.
R - Na final, mas ali foi, o Brasil jogou muito bem também.
P/1 - Conta um pouquinho da final aí, a emoção da conquista do título.
R - Ih, foi uma coisa maravilhosa, maravilhosa, o Brasil muito mais time, jogou muito melhor, a Suécia, a princípio, estava mais ou menos de igual para igual, mas logo, logo o Brasil mostrou que o nosso futebol era bem melhor que o da Suécia, e foi uma alegria, uma choradeira no final, eu estava ali, logo ali perto do campo, pulei a cerca, abracei, fui lá abracei com o Garrincha, chorava para burro, todos os jogadores choravam, uma invasão, nós invadimos o campo no final, uma choradeira, uma bandeira brasileira, todo o mundo chorando, foi uma alegria sem fim, foi espetacular o negócio, o Pelé chorava muito, foi um jogador muito importante, uma beleza, valeu, foi uma alegria muito grande. E nossa, nossa volta então... A chegada aí, nós, o governo português pediu que o avião que transportava, nos transportava parasse em Lisboa, nós paramos em Lisboa.
P/1 - Ah, é?
R - Parou, e fomos saudados lá pelo povo de Lisboa no aeroporto, e depois em Natal, em Recife, capital de Pernambuco, o governador pediu também e o avião teve que, fez uma pausa lá também, fomos lá, o povo estava todo, todos estavam no aeroporto, viemos depois para São Paulo, depois Rio, e fomos recebidos aqui no Rio de Janeiro pelo presidente da República que na época era o Juscelino Kubitschek, ele armou um palanque ali em frente ao palácio do Catete, e foi chamando um jogador, cada jogador pelo seu nome, e deu para cada um uma medalha de ouro enorme, medalha de ouro grande, e eu como morava aqui no Catete, quando ele me chamou meu nome, daí eu recebi muitas palmas, que todo mundo me conhecia aí já, porque eu moro, que dizer, foi uma beleza, eu fui muito bem recebido, com flores e penduraram aí, parabéns na rua aí.
P/1 - Ah, é, na rua?
R - É faixas, flores, foi recebido aí pelo pessoal, e foi uma alegria enorme, foi fantástico essa, lembra, foi a mesma coisa que aconteceu agora em, igualzinho ao que aconteceu na última Copa do Mundo agora.
P/1 - 1994.
R - É, o corpo de bombeiro nos trouxe do aeroporto até aqui, ficamos hospedados no hotel aí, e depois nós, nos transportaram aí em frente ao Palácio do Catete, a mesma coisa, e o povo todo no meio da rua, na avenida Brasil, pessoal de todas as idades estavam na rua, mundaréu, um mundaréu de gente.
[troca de fita]
P/1 - Joel, então conta para a gente aqui, recomeçando, como foi a sua chegada aqui com a Seleção Brasileira em 1958?
R - Começou com a nossa chegada, o governo português pediu que o avião parasse no aeroporto de Lisboa, nós acatamos a ordem do governo português, ele queriam fazer um agrado a Seleção Brasileira, paramos no aeroporto de, lá de...
P/1 - De Lisboa.
R - De Lisboa, e o povo estava lá, bateu palmas, aplaudiu a todos os jogadores, foi um recebimento muito carinhoso, e meu pai é de origem portuguesa, inclusive tinha familiares do meu pai lá, eu não conhecia, deram um adeusinho e tudo, bateram palma e tudo para mim, e de lá partimos depois para Recife, em Natal, o governador fez uma homenagem para nós também, deu de presente para nós um relógio, mas já ali o avião pousou no aeroporto ali de Pernambuco, mas dentro do avião mesmo, nem descemos ali, e viemos direto depois aqui para o Rio de Janeiro, ficamos hospedados na praia do Flamengo, no Hotel Novo Mundo, e dali o Presidente da República na época era o já falecido Presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek, que fez num palanque armado em frente ao Palácio do Catete, foi chamando jogador por jogador, foi chamando por nome, nome por nome cada jogador e nos entregou uma medalha de ouro bonita, muito grande, e todos aplaudiram, eu inclusive eu fui muito aplaudido porque inclusive também que eu morava aqui no Catete, todo o mundo me conhecia, e aí rua hastearam bandeira e flores, essas coisas todas, e foi uma beleza. Nesse primeiro dia foi só o dia da chegada, o povo na avenida Brasil, foi a mesma coisa que aconteceu em 1994 da chegada da Seleção Brasileira que foi campeã, o povo de todas as idades foram na rua aplaudir e gritar pelo Brasil e pelos jogadores.
P/1 - E aí como é que foi esse retorno ao Brasil, você retorna ao Flamengo?
R - Retornei ao Flamengo, mas dois meses depois eu recebi uma excelente proposta do Valencia da Espanha, e eu parti, no mês de outubro eu parti para, para jogar na Europa, além do Valencia da Espanha, eu tive uma proposta até melhor do River Plate da Argentina, mas já estava o encaminhamento da proposta da Espanha já estava já num quase fechado, eu preferi ir para a Europa.
P/1 - E aí você já estava casado nessa época?
R - Já, porque eu casei em fevereiro de 1958, mês de fevereiro, antes da Copa do Mundo eu já tinha casado.
P/1 - E aí como é que você conheceu sua esposa?
R - Eu conheci minha esposa na rua onde eu morava, na rua Andrade Pertence, uma rua que dá na rua do Catete, e ela morava num prédio ali perto da casa onde eu morava, desde pequeno nós nos conhecíamos, ela ia lá em casa pedir livros emprestados, eu emprestava a ela, e dali eu conheci e passei a gostar dela e ela de mim, mas desde pequenos, não era nem jogador do Flamengo, mas quando eu jogava na área de cá, quando na frente da minha casa tinha uma área grande, eu ficava jogando futebol ali, ela parava para me ver jogar.
P/1 - Uma paixão antiga.
R - É, uma paixão antiga.
P/1 - E aí você então campeão do mundo se casa.
R - É.
P/1 - Não, casa antes.
R - É casa antes.
P/1 - E aí se muda já casado.
R - Já casado com ela lá para. Eu como não sou muito amigo de avião, nunca fui, apesar de ter viajado quase o mundo inteiro de avião porque tinha que viajar de avião, fizemos grandes viagens na Europa, na Ásia e na América do Sul pelo Flamengo, mas nessa viagem para a Espanha eu fui de navio.
P/1 - Ah, foi de navio?
R - Fui de navio.
P/1 - Demorou quanto tempo?
R - Demorou quase uma semana na época.
P/1 - E aí conta para a gente como é que foi a sua chegada ao time do Valência, como era a cidade.
R - Ah, a recepção foi maravilhosa lá, eu desfilei lá em carro aberto, o povo todo no meio da rua, o povo lá foi muito gentil comigo, tudo, foi excelente, eu acho que valeu a pena, apesar de nós, lá nós tiramos em terceiro lugar lá no campeonato.
P/1 - No campeonato espanhol deste ano de 1958/1959?
R - É, terceiro lugar, foi na frente o Real Madrid e o Barcelona.
P/1 - Quem eram seus companheiros de Valência, você sabe?
R - Só tinha, tinha um uruguaio, o Nunes, que recentemente foi treinador da Seleção Uruguaia, recentemente há dois anos, três anos atrás, e tive o Valter, meia-direita que jogou, meia-direita ou meia-esquerda que jogou no Santos, jogou no Vasco da Gama, estava lá Valter, Vavá, foi, formou ala direita comigo no Valência, era eu, Valter, formou ala direita, infelizmente faleceu lá em Valência num desastre de carro que houve lá.
P/1 - Enquanto era jogador?
R - Enquanto era jogador.
P/1 - E o que você destaca em sua passagem pelo Valencia?
R - Lá além de ter, lá nós fomos campeões junto com o Santos de um torneio que foi feito lá, e na inauguração dos refletores lá, jogamos contra uma equipe francesa quer jogava o centroavante que foi o goleador lá da França.
P/1 - Fontaine.
R - Fontaine, o ponta-direita também o...
P/1 - Kopá?
R - Kopá, enfiamos 2x1, o segundo gol do Valencia foi feito por mim, foi na estréia dos refletores lá do Valência, ganhamos...
P/1 - Foi feito por você o gol?
R - O segundo gol foi.
P/1 - Você lembra o lance?
R - Mais ou menos, me lançaram, eu ganhei em velocidade do zagueiro e toquei a bola, foi na inauguração dos refletores, mas já houve mudança lá no estádio lá, o estádio é muito bom lá, muito bom. De vez em quando houve partidas que o Atlético de Madri me chamou para compor o time que jogou contra a seleção inglesa em Madri, me chamou a mim, no Valência, chamou o Evaristo que jogava no Barcelona, jogou o Vavá que estava no Atlético de Madri, jogamos contra a Seleção Inglesa, e derrotamos a Seleção Inglesa por 5x0, o estádio cheio lá em Madri, e quando terminou o jogo, o estádio todo de pé, fomos aplaudidos de pé nessa vitória sobre a Seleção Inglesa lá, uma vitória brilhante, jogou o meia, eu joguei com o Kubala, um jogador húngaro, o Kubala, o ponta-esquerda era Sibor, um jogador húngaro também jogava, e um cabeça de área que eu me esqueço o nome, que era um jogador assim meio reto, mas que jogava futebol a beça, não esqueço dele. Ganhamos de 5x0 da Seleção Inglesa, a torcida de pé aplaudiu a nós.
P/1 - Que beleza! Também ganhar de 5x0 da Inglaterra.
R - Ganhamos lá de 5x0 da Seleção Inglesa lá em Madri, fomos muito aplaudidos.
P/1 - E o senhor conheceu o Puskas também?
R - Conheci Puskas uma vez que eu fiz uma, íamos jogar contra o Atlético de Bilbao lá no Norte da Espanha, e nós íamos de trem, e o trem parou, de Valência parou em Madri, para depois seguir para o norte, e deu uma parada na estação lá em Madri, eu estava numa banca de jornais enorme, lá os jornaleiros são enormes, estava vendo uma revista lá e veio um jogador por trás e me tapou a minha vista, foi a primeira vez que eu, e perguntou quem era que estava tapando a vista, eu falei que não sabia, e era o Puskas. Ah, eu fiquei feliz da vida, abracei ele, porque foi a primeira vez que eu falei com ele, mas joguei duas ou três vezes contra ele, era ele, eu fiquei muito satisfeito que era um jogador fora de série também, o Puskas era um jogador extraordinário. Houve um interesse do Real Madri em me levar para o Real Madri, porque em primeiro lugar o Real Madri se interessou pelo Garrincha, o Botafogo não quis vender o Garrincha, não quis que o Garrincha fosse para a Europa, aí parece que o Real Madri quis o Julinho, o Julinho, extrema-direita que estava na Itália, mas ele tinha chegado da Europa, parece que não queria voltar mais para a Europa, não quis voltar, aí o Real Madri esteve lá em Valência e quis me levar para o Real Madri, e eu fui a favor, fui a favor, eu estava um pouco assim, não podia ter feito isso?
P/1 - O melhor time da Europa?
R - É, aí eu estava querendo ir, (riso) para o Real Madri, mas o Valência não deixou, aí acabou o Real Madri contratando o Canário que era um ponta-direita que jogava no América, o Canário foi para lá e ficou, está lá até hoje o Canário, foi, ficou bem lá, jogou bem, o Didi, depois contrataram o Didi, o Didi ficou lá um ano lá.
P/1 - E, seu Joel, o senhor enfrentou então algumas vezes o Real Madri, ele era realmente essa máquina de jogar futebol?
R - Era, era essa máquina de jogar futebol, era um senhor time de futebol, jogadores excepcionais, muito bons, muito bons, era o melhor time.
P/1 - Quem jogava lá nesse ataque?
R - Ah, era o, o Kopá depois jogou, o esse que foi campeão da, campeão da Seleção Francesa jogou na ponta-direita lá depois, no Real Madri, Kopá, Di Stefano, Puskas e Hento, Hento, ponta-esquerda, jogava um zagueiro uruguaio, esqueço o nome, um excelente zagueiro uruguaio, da Seleção Uruguaia, que eu esqueço o nome, um goleiro também muito bom argentino, o time era muito bom, time muito bom, excelente time, uma pena que eu não pude jogar lá no Real Madri.
P/1 - Então o Valencia fez uma grande campanha, ficou em terceiro lugar no...
R - Terceiro lugar. Aí houve, houve um interesse de eles quererem que eu jogasse a Copa da Espanha, mas aí eles falaram comigo, eles queriam me naturalizar espanhol, mas aí, aí eu fiquei na dúvida, sabe, esse negócio de naturalizar é uma coisa meio, um pouco estranha, na época eu não fiz, agora eu não sei, mas na época era meio estranho.
P/1- Ainda é.
R - Mas eu falei aqui para o Brasil, de lá falei com o Brasil, meu pai fez uma viagem para lá, mas não acho, meu pai acho não concordou também, não sei.
P/1 - Um português com um filho naturalizado espanhol não ia dar. (riso)
R - Certo. Pois é, não sei o que houve mais eu acho que não ficou em nada não.
P/1 - E aí por que você volta?
R - Eu volto porque realmente as minhas atuações na época da primavera, eram boas, mas na época do inverno, não eram tão boas assim, principalmente porque no norte da Espanha quando eu ia jogar, dentro do vestiário eu esquentava o meu pé lá porque o meu pé ficava duro demais, e quando entrava no campo, mesmo não nevando, mas a umidade do campo, eu ficava com meu pé muito duro, e não sentia o… Eu corria e tudo, mas na hora de bater na bola, não era, não era a mesma coisa, entendeu, o meu rendimento caiu um pouco, e a turma me falava assim: “Você tem que tomar conhaque.” Mas eu já falei: “Se eu tomar conhaque, eu vou ver duas bolas em vez de uma.” (riso) Essas são as...
P/2 - O futebol da Espanha era tão competitivo, assim, os campeonatos, qual era o mais difícil, o brasileiro ou o espanhol, o senhor sentia mais dificuldade, mais marcação, a comparação entre os campeonatos aqui e o da Espanha?
R - Não, na época eu achava o futebol mais fácil de jogar no Brasil, tinha que jogar melhor, porque na Espanha havia muita correria, mas pouca habilidade, existia pouca habilidade, por exemplo, você jogava uma bola no espaço vazio, que eu fazia muito isso aqui, e não ia ninguém, entendeu, está entendendo o que eu, não ia ninguém, e que eu tenho um livrinho, que me deram lá, fizeram uma homenagem para mim, me botaram assim, o jogador, elogiando, mas um elogio assim pouco, assim, um jogador assim técnico demais, (riso) mas foi um elogio. Mas acontecia muito disso, entendeu, às vezes eu corria assim em velocidade para receber a jogada e não davam a bola, entendeu?
P/1 - Joel, então você...
R - Mas o futebol espanhol houve uma melhoria muito grande, já está melhor já, estão jogando com mais. Agora eu me entendia bem com o Walter, com outro, com o uruguaio e tal, agora a gente procurava… Mas eu tenho boas recordações de lá, não tenho queixa nenhuma não, isso é...
P/1 - Você retorna então para o próprio Flamengo?
R - Retornei para o próprio Flamengo.
P/1- Ele comprou de novo seu passe?
R - Eu tive sempre passe livre, eu fui para o Flamengo porque o passe livre, eu sempre tive meu passe livre.
P/1 - Por que você tinha o seu?
R - Porque na saída minha do Botafogo para o Flamengo eu estava com o passe livre, eu fiquei com o passe livre até terminar de jogar.
P/1 - Um caso raro.
R - Um caso raríssimo, um caso raríssimo.
P/1 - E aí você retorna, como é que estava esse Flamengo aí depois de três anos, que que tinha mudado.
R - Não, o Flamengo continuava com a mesma, com a mesma força, tanto que na volta eu fui campeão do Torneio Rio-São Paulo, os jogadores mais novos, mas uma boa safra de jogadores.
P/1 - Quem eram os jogadores dessa época?
R - O Gérson, o Carlinhos, muitos jogadores muito bons.
P/1 - E você contou até…
R - O Henrique, o Henrique, eu já peguei o Henrique já também, Germano, o ponta-esquerda, Joubert lateral-direito, todos jogadores novos, para mim lá era o mais, quando foi campeão do Torneio Rio-São Paulo, eu estava com 31 anos já, o Carlinhos e o Gérson não têm 22 por aí, por aí.
P/1 - O Gerson tinha até topete.
R - É por aí. (riso) Mas era um excelente time.
P/1 - E vocês ganharam nesse Rio-São Paulo vocês golearam o Santos de Pelé.
R - Primeiro nós levamos uma goleada, levamos uma goleada de 7x1 no Maracanã, quem marcou o gol do Flamengo fui eu, se não me engano, nesse 7x1 o gol acho que foi meu, como aquele 5x1 do tricampeonato, o 5x1, o um do Flamengo foi meu, de cabeça.
P/1 - Mas aí vocês...
R - Aí nós jogamos lá ganhamos de 5x1, acho que futebol cada jogo é um jogo, por isso que eu digo a vocês cada jogo é um jogo.
P/1 - E aí depois último jogo foi com o Corinthians.
R - Corinthians ganhamos de 3x1, não foi, eu marquei um gol de cabeça contra o Corinthians neste 3x1, acho que foi 3x1 que nós ganhamos, marquei um gol de cabeça, marquei gol contra o Palmeiras também de bicicleta.
P/1 - Já chegou de novo aí ganhando um título aí que o Flamengo só tem esse...
R - É ganhamos no time do Flamengo.
P/1 - É o único Rio-São Paulo.
R - Depois nós fomos vice, eu fui vice campeão, só não joguei a última, o Botafogo ganhou, foi campeão, eu não joguei a última, mas esse daí, mas não foi na minha volta não, foi antes, antes de, isso daí foi em, quando o Flávio Costa era o treinador... Não isso foi antes, teve um ano aí que eu fui vice-campeão, que foi em... Não, não, é isso mesmo, foi na volta mesmo, que o Flávio Costa, foi em 1962, eu acho, que o Botafogo e o Vasco foi campeão, que já jogava, eu jogava na ponta-esquerda, aí nós éramos, era Flamengo e Botafogo e o Flávio Costa me tirou o último jogo, não me botou, também eu sempre respeitei, eu sempre respeitei a atitude dos treinadores, não joguei a última partida, bastava um empate para o Flamengo ser campeão, mas acontece nesse dia foi o dia do Garrincha, ele fez uma partida excepcional e o Botafogo ganhou e foi campeão.
P/1 - Quanto foi? 3x0?
R - 3x0. Aí ele botou o Gérson na ponta-esquerda, eu estava na ponta-esquerda, botou o Gérson na ponta-esquerda e...
P/1 - E você ainda joga em 1963?
R - Não, eu acho que eu estava no Vitória da Bahia.
P/1 - Já tinha ido para o...
R - Vitória da Bahia.
P/1 - E foi campeão baiano lá?
R - Fui, mas só joguei o primeiro turno, só o primeiro turno.
P/1 - E Joel, como é que foi, aí você encerra a carreira de jogador?
R - É.
P/1 - Por que? Como é que é que o jogador sente que não vai mais jogar?
R - Ah, porque eu sentia que não estava com a mesma velocidade, já não pulava como eu pulava antes, a gente sente, a gente recebe uma falta violenta já não tem capacidade de revidar a altura, entendeu, aí a gente vê que o ponto de parar já chegou.
P/2 - E você comentava isso com a sua esposa, com alguém mais próximo: “Olha, estou parando, eu estou cansando.” Como é que foram esses momentos?
R - Foi pelos acontecimentos mesmo normais, a gente vai, vai, não vale a pena você continuar, você nota que já não é a mesma coisa, tem que saber a hora exata de parar.
P/1 - Joel, depois você começou a trabalhar como descobridor aí de jovens valores.
R - É, mas foi bem depois, logo depois abri uma loteria esportiva, fui abrir uma agência para recuperar carros e tudo, abri loteria esportiva através do Presidente Garrastazu Médici, que facilitou um pouco para quem era campeão do mundo, facilitou um pouco, então. Mas aí não era o meu, não era muito do meu gosto não, viu, aí eu fiz um curso na escola de oficiais lá da Urca, um curso de técnico, e o Flamengo soube e me chamou, aí eu entrei nessa de... comecei a ser funcionário do Flamengo em 1983, fui chamado para experiência do Flamengo, para ver garotos de categorias mirim e infantil e juvenil, de 12 até 17 anos, estou nesse trabalho até hoje.
P/1 - 17 anos?
R - 17 anos.
P/1 - E já viu muitos...
R - Só que agora eu passei a chefe, agora do pessoal, agora já estou trabalhando lá já com alguns jogadores de agora, está comigo o Paulo Henrique, que é o coordenador, tem o Silva, o meia-esquerda.
P/1 - O Batuta.
R - O Batuta, o Murilo, Dionísio, tem o Paulo, o que descobriu o Zinho para o Flamengo,o Marquinhos para o Flamengo, Paulo César, um olheiro do Flamengo que, primeiro estava eu e o mineiro, agora está esse pessoal todo, e tem um outro olheiro do Flamengo que é o... também que está trabalhando comigo lá, todos estão trabalhando.
P/1 - E como é que é esse trabalho de olheiro?
R - São candidatos da idade de 11 até 18 anos, agora tem a categoria júnior também que é Ilha do Fundão, lá na Ilha do Governador, que se apresentam para praticarem futebol, são quatro treinamentos de 50 minutos mais ou menos, é mirim, infantil é quarta e sexta; juvenil e júnior é terça e quinta, 50 minutos cada treinamento, são quatro treinamentos. Nesse período a gente vai vai vendo quem é o melhor deles e separamos, e depois nós deixamos esses melhores para escolher quem vai lá para a Gávea, quem se apresentar melhor a gente manda lá para Gávea, para as categorias ou mirim, ou juvenil, ou infantil, ou júnior. Lá dentro vai passar por outra peneira dos professores das categorias lá. Não é nada fácil não.
P/1 - É, é peneira mesmo.
R - É peneira mesmo, e não é muito fácil não.
P/1 - E Joel, quem já foi descoberto aí por você e por sua equipe aí de jogadores do Flamengo?
R - É, por enquanto essa turma agora é jovem, nova agora, começamos esse ano, mas anterior que eu peguei só três chegaram ao profissional, foi o Fabinho, que está no Fluminense agora, mandamos como mirim, o Valmir Almeida, um lateral que jogou na no Bragantino, na Portuguesa, no Grêmio, parece que está no Atlético Mineiro agora, e o Luís Alberto, Luís Alberto, Luís Alberto, mas...
P/1 - Luís Alberto, zagueiro?
R - É. Mas é de, esses três é de, essa, mandamos o Fabinho no mirim, o Valmir Almeida como juvenil e o Luís Alberto como juvenil chegou até profissional, o Fabinho chegou até profissional, o Valmir Almeida lá foi juvenil e júnior, depois ele saiu, foi profissional num outro clube, mas de muitos candidatos, de quase 20 mil candidatos, quer dizer, são pepitas encontradas aí no meio de 20 mil, não é mole não.
P/1 - Não, mas o Luís Alberto já foi até convocado para a Seleção?
R - É.
P/1 - Um grande achado.
R - É, é isso aí. Mas até que melhoramos cada vez mais.
P/1 - Joel, infelizmente estamos chegando ao fim da nossa entrevista, e eu queria perguntar para você hoje, é que recado você deixaria aí para o garoto que quiser jogar aí na ponta?
R - É hoje em dia já não há nem mais ponta, (riso) infelizmente, estão dando um trabalho danado aos laterais aí, porque eles têm que ir e vir, não é fácil não, para qualquer posição o jogador tem que ir com aquela vontade de… Primeiro eu acho que é importante o jogador gostar do time que vai, eu acho isso importantíssimo, porque chegando lá ele tem que, primeiro lugar, tem que botar o coração na boca, e brigar e lutar para quem está vendo, o treinador que está vendo gostar, ele tem que ter determinadas habilidades, tem que ter inteligência, habilidade, tem que ter coragem, tem que ter é velocidade, tem que ter uma série de coisas, que agrade, com isso ele vai chegar lá. Eu acho que a camisa ajuda muito, facilita até o jogador.
P/1 - No caso com a camisa do Flamengo?
R - No caso principalmente com a camisa do Flamengo, para mim foi o, caiu como, que eu joguei quase 10 anos no Flamengo, nove anos e meio, por aí, com muita honra, com muito orgulho e com muita saudade.
P/1 - E, o Joel, eu queria te perguntar nessa última pergunta, como você se sente deixando aqui o seu depoimento para o Museu do Flamengo e para as futuras gerações aí consultarem?
R - Meu conselho é que façam tudo pelas cores do Flamengo, o possível e o impossível, porque Flamengo é até morrer.
P/2 - Eu queria, a minha última pergunta, qual o momento mais marcante, mais especial na sua carreira como jogador?
R - O momento mais especial na minha carreira como jogador, primeiro foi quando eu assinei um contrato com o presidente do Flamengo, o Gilberto Cardoso, contrato com o Flamengo, e quando eu fui tri-campeão e campeão do mundo e campeão do Rio-São Paulo pelo Flamengo, e campeão do mundo pelo Brasil, mais de um. (riso)
P/1 – Várias?
R - Várias.
P/1 - Joel, eu queria te agradecer pela entrevista, por essa paciência aí que você teve com a gente.
R - Não, eu que agradeço a bondade de vocês, e as perguntas de vocês foram até, não foram difíceis não. (riso)
P/1 - Obrigado, Joel.
R - Obrigado vocês, uma vez Flamengo, sempre Flamengo.
[Fim da entrevista]
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