Entrevista de Natália Tormena
Entrevistado por Luiza Gallo
Paraíso do Norte, dia 18/07/2024
Projeto: “Colhendo Histórias”
Entrevista número: COHIS_HV004
Realizado por Museu da Pessoa
Revisado por Luiza Gallo
P/1 - Bom, para começar eu gostaria de te agradecer muito por nos receber aqui, e queria que você começasse se apresentando, dizendo seu nome completo, a data e o local de nascimento.
R - Natália Tormena, 21/07/1987, Paraíso do Norte, Paraná.
P/1 - Te contaram como foi o dia do seu nascimento?
R - Foi… Eu nasci antes da hora, a minha mãe falou que eu nasci de cesárea, não estava previsto, porque ela tinha tido o parto normal das minhas irmãs, aí foi correndo para o hospital, aqui em Paraíso, e foi de cesárea. O médico que ia fazer estava viajando, outro que fez, mas deu tudo certo. Estou aqui.
P/1 - Você sabe de quanto tempo você nasceu?
R - Eu acho que foi de… Não, não sei, mas foi o tempo normal, não sei se aquela época lá 39 ou quarenta semanas.
P/1 - E por que seu nome é Natália? Tem alguma história?
R - Não, meu pai queria Gabriela, aí eu não sei porque escolheram Natália, mas não tem nada, uma história, ou nome de alguém que era, acho que gostaram do nome.
P/1 - E como você descreveria seus pais? O jeito deles…
R - Olha, meu pai é um homem muito trabalhador, ele é bem dedicado, uma pessoa muito correta, é alguém que eu me espelho bastante. Minha mãe é extremamente caseira, dedicada, gosta de fazer bolo, bolacha, dedicada a família, uma pessoa assim, muito amorosa, não mede esforços, sempre está ajudando a nossa família, ela está fazendo tudo por nós.
P/1 - E onde eles nasceram? Você sabe a história deles?
R - A mamãe foi aqui em Paraíso do Norte, e meu pai foi em Adamantina, no estado de São Paulo…
P/1 - No interior…
R - Os pais dele vieram de lá, na época que plantava café, vieram aqui para Paraíso, para fazer plantio de café para uma outra pessoa. Não tinha...
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Entrevistado por Luiza Gallo
Paraíso do Norte, dia 18/07/2024
Projeto: “Colhendo Histórias”
Entrevista número: COHIS_HV004
Realizado por Museu da Pessoa
Revisado por Luiza Gallo
P/1 - Bom, para começar eu gostaria de te agradecer muito por nos receber aqui, e queria que você começasse se apresentando, dizendo seu nome completo, a data e o local de nascimento.
R - Natália Tormena, 21/07/1987, Paraíso do Norte, Paraná.
P/1 - Te contaram como foi o dia do seu nascimento?
R - Foi… Eu nasci antes da hora, a minha mãe falou que eu nasci de cesárea, não estava previsto, porque ela tinha tido o parto normal das minhas irmãs, aí foi correndo para o hospital, aqui em Paraíso, e foi de cesárea. O médico que ia fazer estava viajando, outro que fez, mas deu tudo certo. Estou aqui.
P/1 - Você sabe de quanto tempo você nasceu?
R - Eu acho que foi de… Não, não sei, mas foi o tempo normal, não sei se aquela época lá 39 ou quarenta semanas.
P/1 - E por que seu nome é Natália? Tem alguma história?
R - Não, meu pai queria Gabriela, aí eu não sei porque escolheram Natália, mas não tem nada, uma história, ou nome de alguém que era, acho que gostaram do nome.
P/1 - E como você descreveria seus pais? O jeito deles…
R - Olha, meu pai é um homem muito trabalhador, ele é bem dedicado, uma pessoa muito correta, é alguém que eu me espelho bastante. Minha mãe é extremamente caseira, dedicada, gosta de fazer bolo, bolacha, dedicada a família, uma pessoa assim, muito amorosa, não mede esforços, sempre está ajudando a nossa família, ela está fazendo tudo por nós.
P/1 - E onde eles nasceram? Você sabe a história deles?
R - A mamãe foi aqui em Paraíso do Norte, e meu pai foi em Adamantina, no estado de São Paulo…
P/1 - No interior…
R - Os pais dele vieram de lá, na época que plantava café, vieram aqui para Paraíso, para fazer plantio de café para uma outra pessoa. Não tinha propriedade, não tinha nada.
P/1 - Isso seus avós?
R - Isso, meus avós,aham, e meu pai, eles são em oito filhos, dois já faleceram.
P/1 - E seus pais se conheceram aqui?
R - Isso, aqui em Paraíso, aham.
P/1 - Você sabe como foi essa história?
R - Não, que eles se conheceram não sei, só sei que foi aqui em Paraíso. Minha mãe é professora, né? E meu pai sempre foi agricultor, mas aqui é uma cidadezinha pequena, eles se conheceram, mas não sei através de quem, não sei.
P/1 - E a origem da sua família assim, você sabe da onde que veio? A história dos antepassados.
R - Não parece, mas eu sou descendente de japonesa, da minha mãe é japonesa, e do meu pai é italiano. Meu avô veio da Itália, na realidade, pequenininho, em um navio, fugindo da guerra, aí ele veio da Itália.
P/1 - E a família da sua mãe?
R - Daí misturou, que minha avó era japonesa, e casou com meu avô italiano, a minha mãe já é mestiça.
P/1 - Mas, sua avó era japonesa? Nasceu lá?
R - Não, nasceu no Brasil, mas é, o nome dela é Setuko _____, era, né? Faleceu. Mas minha mãe não teve muito contato com a família da mãe dela, da parte japonesa. Que daí minha avó casou muito nova, e na época eles não aceitavam japonês casar com sem ser japonês, né? Então aí, a minha mãe foi conhecer também os avós dela, ela já era bem maior. Então por isso a gente nem carrega toda essa cultura japonesa com a gente.
P/1 - Tem alguma tradição que vocês carregam ou não?
R - Não, não.
P/1 - E da família italiana?
R - Conversar bastante, falar com a mão, né? Mas aí minha avó… Aqui, no quarteirão, é de italiano, é tio do lado, tia na frente, era o quarteirão inteiro, se minha avó, ela faleceu, minha avó e meu avô, mas era uma casa ali, as tias, tudo ali, no quarteirão, então mora todo mundo perto.
P/1 - E vocês faziam alguma comemoração assim de final de semana?
R - Fazíamos, sempre reunia, depois da missa a gente ia jantar lá na minha avó todo final de semana, sempre, desde a infância, encontrava, ia para o sitío para… Almoçava lá, embaixo de pé de árvore, mas sempre, sempre a gente cresceu com muito primo. Por parte do meu pai, que eu lembro aqui, tinha 25 primos, só por parte do meu pai…É, e reunia, a molecada, tudo, sempre foi aquela confusão de gente, de molecada.
P/1 - Teve algum dia marcante com seus primos? Alguma, algum dia marcante? Alguma história engraçada? Algo que vocês aprontaram?
R - Teve, vários. Teve dia, que nem eu estava falando para você, a gente ia para esse sítio, e fazia almoço lá, chegava, as vacas já tinham feito coco em todo, embaixo, que era embaixo de uns pés de manga, colocava uma tábua lá, chegava, a vaca já tinha feito coco, aí tinha que limpar, e a gente aprontava. Pegava aquelas boias, aquelas bóias de ar de pneu, jogava para ser boia, pulava toda a molecada naquelas represas sujas, ia para outra represa, a gente andava sozinho lá no meio da propriedade, e era, a gente se divertia bastante, bastante mesmo, e fazia coisas de molecada mesmo, bastante.
P/1 - Que delicia, e recordações dos seus avós, você tem?
R - Tenho, aham, mais pelo avô paterno. Da minha mãe a minha avó faleceu bem nova, tinha, eu acho que sessenta e poucos, então a gente não teve muito contato, ela ficou doente bastante tempo, dez anos ela ficou acamada, então a gente não teve aquele contato, e o marido dela, meu avô, a gente teve, mas não tinha assim, de maior para eu poder lembrar. Os meus avós por parte de pai que a gente teve mais contato, porém o vô também adoeceu mais novo assim, ficou com Alzheimer uns dez anos, com Alzheimer. Então, assim, a gente lembra dele tudo, mas não lúcido, aí a minha avó sim a gente teve contato.
P/1 - O que vocês gostavam de fazer?
R - Ir lá na casa dela também, juntava os primos, e os pais, lá às vezes tinha baile do havai, deixavam todas as crianças lá para dormir, então juntava, era aquele monte de criança também fazendo festa. E ela cozinhava, lembro muito da comida dela, que era gostosa.
P/1 - O que ela fazia?
R - Eu lembro que ela fazia bastante bolinho de carne, pão, fazia aquele pão caseiro, doce de abóbora, suco, bastante suco de acerola, eu lembro que tinha um pé de acerola na casa dela, e a gente, e crianças, a gente aproveitava.
P/1 - E com as suas irmãs, de infância, com as suas irmãs, que recordações você tem? Como era a relação de vocês?
R - Nós temos pouca diferença, é tudo dois anos de cada, eu sou a mais nova, e a vida inteira nós crescemos as três juntas, somos três, eu e mais duas irmãs, então assim, foi sempre uma relação muito boa, e elas meio que cuidavam de mim, assim também. Minha mãe trabalhava meio período, tinha a moça que ajudava a cuidar, mas assim, minha infância eu lembro, em um colchãozinho, as irmãs sempre ali, a gente sempre brincando, ia para clube aqui da cidade mesmo, íamos às três sozinha, a mais velha levava, cuidava, e seja o que Deus quiser. Tinha que voltar, a hora que escurecesse tinha que estar em casa se não apanhava.
P/1 - Esse era o combinado?
R - Era o combinado, a gente brincava bastante na rua, ia aqui na rua da frente, aí tinha mais um monte de criança, brincava todo mundo, a gente, assim, eu fui muito ligada, sempre, as minhas irmã. Aí a mais velha foi estudar depois em Maringá, meu pai falou: “Onde que uma for, as outras vão também. Não adianta uma querer ir para Maringá, a outra… Não, vão morar as três juntas.” A minha irmã foi para Maringá, aí a outra foi também, e eu também.
P/1 - E vocês foram morar juntas?
R - Sim, moramos nós três juntas.
P/1 - Como foi isso?
R - Foi tranquilo, e antes disso a gente ainda fez intercâmbio, nós três fizemos intercâmbio.
P/1 - Ao mesmo tempo?
R - Não, não, não. Daí foi por causa de idade, eu da minha irmã mais velha, da quatro anos de diferença, ela foi para a Holanda primeiro, voltou, já morou em Maringá, fez faculdade. Aí, dali no outro ano, minha outra irmã foi, foi para a Holanda também, por coincidência, voltou e já foi morar em Maringá, aí eu fui para o México, voltei e já parei lá em Maringá também.
P/1 - Uau, chegaremos, chegaremos então. Me conta uma coisa, que lembranças você tinha da sua casa de infância? Como que ela era?
R - Era bem legal, era nesse lugar, era outra casa, mas era aqui na ______, e era gostoso, a gente tinha um quartinho de brinquedo, tinha as bonecas, as coisas, tinha um pé de goiaba, a gente subia nesse pé, era bem… era legal, assim. Dá uma nostalgia, da entrada, do lugar, da gente sempre, brinquedo espalhado, esperando meu pai chegar. Meu pai foi, a gente tinha propriedade no Mato Grosso do Sul, em _____, então ele ia muito para lá, aí a minha mãe fazia, que ele chegava mais a noitinha, escurecendo,aí a gente tinha que ficar acordada, esperar escutar o barulho da caminhonete, ia lá, dava oi para ele, e ia para cama dormir. A gente tem muito essa lembrança.
P/1 - Vocês dormiam no mesmo quarto?
R - As três, a vida inteira. Aí depois um pouquinho mais velha que foi, cada uma, acho que foi um quarto a gente já era bem mais velha, tipo uns quinze anos, que foi mudar de quarto, e aí depois, lá em Maringá ainda cada uma tinha o seu quarto lá, mas daí dormia junto, já estávamos acostumadas.
P/1 - E o bairro, como era esse ponto aqui?
R - A, aqui era, todo mundo, cidade pequena, né? Tem nem bairro, todo mundo se conhece, a gente podia sair, ia na vendinha comprar doce, fazia tudo a pé, tudo sozinha aqui, sempre com bastante primos, vizinhos. Também os primos moravam aqui na frente, né? Então, sempre tivemos contato, era muita gente, aí ia tomar café da tarde na casa de um, vinha outro aqui, sempre foi casa cheia.
P/1 - E era diferente a cidade, muita coisa mudou? Ou não?
R - Não, sempre foi a cidade menor, né? Agora tem mais, tem pizzaria, as coisas, mas no geral não, não mudou.
P/1 - E vocês assistiam TV, tinha algum programa muito marcante? Alguma música que você lembra um pouco?
R - A de desenho, do Tom e Jerry, o Pica Pau, a gente chegava da escola, a escola também ali na esquina, a igreja, então a gente ia a pé para escola, voltava, almoçava, e minha mãe deixava assistir um pouquinho de televisão, para descansar, e depois ia fazer tarefa, hora que acabasse a tarefa estava liberado para ir brincar. A gente ia para a rua brincar.
P/1 - E da escola, que recordações você tem? Professor ou professora marcante? Matéria favorita?
R - Olha, da escola eu me lembro que eu não queria mais estudar, como as minhas irmãs iam no período da manhã, eu era a mais novinha, eu tinha que ir a tarde, não tinha no período da manhã, então eu não queria ir para a escola, eu não fiz o pré dois, só fiz metade do pré um, porque eu chorava, na hora que elas chegavam eu não queria ir, aí eu não fiz o pré dois, pulei, o pré três eu consegui estudar de manhã, aí eu lembro que aí depois foi. Eu era meio atrasadinha na primeira série, porque fiquei pulando o pré, aí depois comecei a estudar de manhã. Mas é, marcante, olha, eu lembro que eu sempre saia, que minha mãe saía cedinho para trabalhar e deixava a gente para ir para a escola, aí muitas vezes eu ia atrasada, porque como era perto eu falava: “Já já eu estou ali na esquina, né?” Mas é, era bem gostoso, e tinha merenda na escola, eu lembro, era bem marcante também, a gente comia, era sopa, dez horas da manhã, comia sopa… Era bem legal.
P/1 - E professor, teve algum significativo?
R - Teve, que era colégio de irmã, eu lembro de uma, a irmã Maria, ela era bem boazinha, eu lembro que ela jogava com a gente, a gente fazia educação física, ela jogava vôlei com a gente, era bem assim, ela me marcou. A gente tinha uma curiosidade de puxar o véu dela para ver que jeito que era o cabelo.
P/1 - E já rolou? Deu para puxar alguma vez?
R - Não, não, tinha respeito, né?
P/1 - Quando você era pequena você pensava no que você queria ser quando crescer?
R - Não tinha, você sempre fala: “Ah, quero ser médica, quero ser isso.” Não, eu não tinha, de pequenininha assim eu falava: “aí, eu vou trabalhar com o meu pai, eu vou…” Não, não tinha nada fixo na cabeça, cada hora eu falava que eu queria ser alguma coisa, né? Mas não foi uma coisa de pequena que eu imaginava que eu ia ser.
P/1 - Você passou a vida toda nesse mesmo colégio?
R - Até a oitava série, aí depois da oitava série, aí a gente tinha que ir para outra cidade estudar, que era Paranavaí, fica a trinta quilômetros daqui, daí passava o ônibus, pegava na esquina, que passava na avenida, aí todo mundo tinha que acordar, o ônibus passava, eu acho que era seis horas, seis e meia, para daí poder ir para Paranavaí estudar, depois voltava também no almoço.
P/1 - Como foi esse período?
R - Tranquilo, tipo assim, é tranquilo nessa cidade, todo mundo sabia que ia fazer a oitava série aqui, e ia para Paranavaí estudar, mas foi tranquilo, porque daí as amigas, todo mundo que estava aqui já sabia, juntava todo mundo era festa, ia para uma cidade maior conhecer mais gente, aí a gente, eu fiz o primeiro ano até o terceiro em Paranavaí.
P/1 - E como foi esse momento de vida assim, as suas descobertas? A juventude?
R - Foi legal, eu sempre gostei, assim, de experimentar o novo, vamos lá, e vai ser legal, então foi gostoso, e assim, eu não estava desamparada, porque eu estava com mais gente, né? Então eu estava em uma situação, teoricamente confortável, vinha o ônibus aqui, ia todo mundo de Paraíso, no intervalo já estava, as amigas que eram daqui junto, aí já fizemos amizade já lá, do pessoal de lá, mas foi bacana, porque daí mudava o esquema, lá tinha que estudar mesmo, assim, não que aqui não estudasse, mas lá daí era uma sala maior, então você não podia ficar sem muito prestar atenção, porque ninguém ia ficar repetindo não, né? Daí a gente foi, e foi bacana.
P/1 - E paquera, como que era?
R - Ah tinha, eu lembro que eu tive um namoradinho, foi no primeiro ou no segundo ano…
P/1 - Como vocês se conheceram, assim? Antigamente a gente ouviu muito falando que eram bailes, mas como vocês se conheceram?
R - É tinha, tinha aqueles, é, baile, festinha que fazia, então daí que era daqui ia para lá, ou o pessoal de lá vinha aqui também,e assim que ia conhecendo, ficava de tarde lá que tinha redação, tinham coisas da escola mesmo para fazer, aí a gente ficava, o ônibus vinha embora, então algum pai ou alguma mãe tinha que ir buscar, ou a gente tinha que ver e pegar algum outro ônibus para vir embora, ou às vezes ficava lá pedindo carona. Sabia que alguém de Paraíso ia passar, tinha um ponto lá que daí ficava e via: “O conhecido, o fulano, está indo para Paraíso? Me dá uma carona? Me leva?” Era assim.
P/1 - Tá, e aí como é que a escolha de faculdade?
R - Aí eu fiz um intercâmbio…
P/1 - Tá…
R - Daí eu acabei o terceiro ano, e fui fazer intercâmbio, como as minhas irmãs tinham feito, e a gente recebia bastante intercambistas aqui, porque, quando, é pelo _____, quando você vai para fora, você tem que receber alguém na sua casa. Aqui na minha casa, a gente falou, como eu fui a última a ir, a mais nova, as minhas irmãs foram, e é cidade pequena, então você acaba revezando nas mesmas famílias, não têm assim: “Ah, vai lá…” Não tem opção, acaba vindo, aí passava nessa família, outra, outra, e muita gente foi na mesma época, minha irmã, as amigas dela, então tinha bastante intercambista. Eu acho que pararam, a gente estava contando esses dias, foram treze intercambistas, que eles moravam três meses em cada casa, de tudo quanto é lugar. Então, daí, com isso daí, eu falei: “Olha, também quero fazer intercâmbio.” Aí eu achei legal, fui, passei na prova para ir para o México, falei: “A, então vamos para o México.” Aí fiz o intercâmbio, foi algo incrível assim, sai de Paraíso e eu morei lá em Guadalajara, que é gigante a cidade, que eu cheguei e falei: “Meu Deus do céu, o que eu vou fazer aqui?” Não sabia nem pegar um ônibus, não sabia nada, nada, nada. Não falava a língua, e na época não tinha assim, a comunicação era pelo orelhão, que dava para ligar, não tinha ainda facilidade de internet, não tinha nada, tinha o computador, na época era MSN, mas não mais que isso, email, e orelhão, chamada exterior, que era bem caro, tipo assim, só tinha que ligar em uma emergência, alguma coisa que realmente necessitasse, né? Mas assim, foi muito válido o meu intercâmbio, eu aprendi bastante. Eu saí de uma cidade pequena, com uma cabeça, a adolescente, né? Aí vai lá e tem que aprender, eu cheguei, na minha primeira semana eu liguei aqui para os meus pais, porque ia ter uma, pelo intercâmbio eles fazem uma viagem anual, e eu cheguei na metade do ano, então quando eu estava lá, as intercambistas já estavam fazia seis meses, e eles já iam fazer essa viagem, e se eu esperasse a próxima eu já ia ter vindo embora, aí eu falei: “Não acredito que já vai ser semana que vem a viagem, e todo intercambista espera é ir viajar, eu estou aqui faz uma semana e vai ter a viagem.” O pessoal lá não deixou eu ir, porque falaram: “Ah, você acabou de chegar.” Eu liguei para minha mãe e falei: “Eu não acredito, eu quero tanto ir nessa viagem, porque, como que eu vou conhecer o pessoal?” Enfim, não deu certo, aí eu fiquei arrasada, porque eu fui, eu queria ir, conhecer, mas me virei lá, conheci um outro pessoal, outra turma, é separado por distritos, como se fosse localização assim, fiz amizade com um pessoal lá, consegui ir na viagem com eles, de outro local, então foi super válido, deu para aprender bastante, aprendi a língua, me virei, passei bastante susto, né? Porque cidade pequena, na primeira semana me perdi, eu fui pegar um ônibus lá, e eu não conseguia me achar, não sabia, não conseguia me comunicar onde eu morava, aí consegui o telefone, eu liguei para a família de lá, aí até a família de lá falou: “você está nesse lugar, você não se mexe daí, você fica onde você está que eu estou pegando o carro e indo te buscar.” Estava em um lugar super perigoso, mas nem sabia, não tinha noção, Deus protege, né? Deu tudo certo, mas foi válido para esse crescimento pessoal, assim, que, a gente faz e não tem nem como descrever, é só estando lá mesmo, para passar dificuldade, chegar, querer vir embora, porque nada é mil maravilhas, né? Eu fiquei em uma casa lá que eu tinha que fazer tudo, tinha que lavar a roupa, tinha que passar, tinha que limpar quarto, e aqui assim, tinha a moça que ajudava a gente, então não estava, e aprendendo a fazer tudo isso aí.
P/1 - Quanto tempo você ficou?
R - Fiquei um ano…
P/1 - Um ano…
R - Um ano …
P/1 - Você foi estudar?
R - É, intercâmbio, pero _____, sabe?
P/1 - Não…
P/1 - O _____, tem no Brasil inteiro, é um programa, que daí você faz, você vai estudar, tem lugar que começou a validar, mas como eu já tinha acabado o terceirão, eu sabia que não ia validar, porque eu chegava e já ia entrar em uma faculdade, mas eu tenho a obrigação lá de, lá eu tinha que ir para a escola, tinha a obrigação de ir para a escola, ter presença. E é, como se fosse, o _____, é tipo um clube, que daí tem aqui, tem lá, tem no mundo inteiro, e tem o pessoal que fiscaliza tudo, e eles mandam, eles te recebem lá e mandam alguém para cá, é uma troca mesmo. Então é por isso que eu ia, vinha alguém aqui no meu lugar, então veio um mexicano aqui, não da mesma família, de quaquer outro lugar do México, veio e ficou na minha casa…
P/1 - Enquanto você estava lá?
R - Enquanto eu estava lá, eu não conheci a pessoa, nada, aí teve essa troca, mas é bem válida, bem legal. Você aprende a cultura, aprende tudo, porque um ano, né? Morando fora…
P/1 - Você consegue ver assim, qual foi o maior aprendizado que você teve?
R - Nossa, foram tantos, mas eu aprendi bastante lá que as coisas não são no nosso tempo, isso eu aprendi, bastante, porque chega, adolescente, chega: “eu quero isso.” Lá eu vi que não, né? Lá de tacada, eu cheguei já: “Eu quero isso.” “Não, você não vai…” “Ah, mas…” Eu liguei: “Mãe, pai…” Minha mãe falou: “Não, você está aí sobre responsabilidade deles, e é isso, agora você tem que obedecer as regras deles.” Então assim, nada no nosso momento, a gente tem que esperar, e tem que ir atrás das coisas, não pode ter vergonha, né? Porque daí lá eu estava sozinha, eu tive que perguntar e não tinha quem, às vezes “ah, vai lá em tal, tal lugar.” “Ah, entendi.” Não, você tem que falar: “Peraí, deixa eu anotar aqui. Ah, é tal lugar, eu tenho que fazer isso, eu tenho que falar aquilo?” Então assim, é uma responsabilidade que a gente aprende a ter, e até cuidar do dinheiro, recebi uma mesadinha lá, com aquele dinheiro que eu tinha, eu tinha que passar o mês com aquilo, né? Assim, tudo bem que o pessoal lá dava comida, a casa, as coisas, mas eu queria andar de ônibus, ir para cima e para baixo na cidade, eu tinha que controlar o meu dinheiro, acabou, acabou.
P/1 - E por que México?
R - Porque eu fiz a prova, na verdade eu não queria ir pro México, eu queria ir para algum lugar que falasse inglês, aí eu fiz a prova e caiu lá o país México, eu falei: “Bom, é o que tem, né? Vamos nesse mesmo.”
P/1 - Você se surpreendeu?
R - Muito, muito, porque eu fui meio a contragosto, minhas irmãs tinham ido para a Holanda, lá, tinham visto a Europa, né? Falar inglês, aprender, mas me surpreendi e não me arrependo. Iria com certeza para lá novamente.
P/1 - Que legal, e dos intercambistas que vocês receberam aqui, teve algum muito marcante?
R - Teve, teve um Tailandes, Taiwanês, desculpa, Taiwanês, ele acordava de madrugada, o fuso dele ainda, depois de um tempão que ele estava aqui, acordava de madrugada e fritava alface. É, e a gente, aí ele assistia uns filmes bem alto assim, um dia até a moça que trabalhava aqui perguntou se estava tendo tiroteio aqui na frente, ele, eu acho que ele demorou muito para se adaptar, ele usava uns tênis, o pé dele era desse tamanho, ele usava uns cinco números maior que o pé dele, não sei se a cultura de lá, ou se era a pessoa, acho que ele não estava muito adaptado aqui. Mas, foi bem marcante esse.
P/1 - E aí você volta do México, vai escolher faculdade…
R - Faculdade, aham, aí eu tive que fazer cursinho, voltei, eu falei: “e agora? O que eu vou fazer?” Então, assim, sempre tive aquela coisinha que eu gostava de ir para o sítio com o meu pai, sempre gostei de estar no meio, mas não era nada assim: “Ah não, eu vou fazer agronomia, eu vou fazer tal coisa.” Estava meio ali perdida, fiz intercâmbio, voltei. “E agora? O que eu vou fazer?” Mas, eu tinha meu pezinho ali que eu queria ajudar o meu pai, mas não sabia nem como, aí eu voltei e falei: “vou fazer gestão do agronegócio.” Aí comecei a fazer, nesse meio tempo fazendo cursinho junto, comecei a gostar do agronegócio, parei o cursinho, fiz um ano. Aí eu falei: “Nossa, um ano passou, e na gestão do agronegócio nossa, se eu precisar trabalhar sem ser com meu pai, trabalhar fora, eu preciso ter outra coisa também, porque só isso aí é mais difícil conseguir um emprego, alguma coisa, então vou começar a fazer administração.” Aí eu fazia agronegócio a noite, e administração de manhã, e a minha vontade sempre na faculdade, eu quero fazer estágio, é ir experimentando coisas diferentes, porque depois vai trabalhar e não consegue entrar em um lugar, sair em outro. Aí formei em agronegócio, passei no curso de administração e comecei a fazer estágio. “O que surgir eu quero fazer.” Aí o meu primeiro estágio foi na parte de ter uma empresa de RH, aí tive que registrar ponto, essas coisas, fiquei lá um tempo, eu vi que não era para mim, fiquei um ano trabalhando na empresa, mas eu falei: “não, não quero mexer com RH, não quero mexer com cartão-ponto, não é para mim, vamos fazer outro.” Aí surgiu no banco, vi que eu gostei da parte de banco, me familiarizei, mas não queria ser bancária, mas aprendi bastante coisa no banco. O último que eu fui, foi em uma empresa que se chama Unicampo, ali em Maringá, que ela também é afilhada da parte, é feita a parceria com a Cocamar, é de agrônomos, né? Eles prestam o serviço, aí eu comecei a trabalhar lá, eu comecei a gostar bastante, da área, estava focada em mexer com agrônomo, com as coisas, eu falei: “Olha, foi uma coisa que me interessou.” Começou a me despertar uma luzinha, e nesse meio tempo, a gente vinha de final de semana para cá, para a casa dos meus pais, mas assim, daí como ele tinha a sociedade, não tinha muito como se inserir no negócio, ele sempre naquela correria trabalhando, já tinha a pessoa que cuidava das coisas, que era uma contadora que fazia, era aqui do lado no escritório, então não tinha, na realidade assim, um certo espaço para falar onde que eu poderia entrar, então eu falei: “vou seguir a minha vida, ou trabalhar nessa área que eu estou gostando”, e o pessoal até tinha, como eu era estagiária, falou: “Olha, a gente quer que depois você fique, que daí você se torne funcionária…” “Tudo bem…” Aí, estava chegando o final do ano, aí foi quando um sócio do meu pai, o irmão faleceu, estava indo para Brasilia, indo para Maringá pegar um vôo, bateu o carro, faleceu, então o negócio aí caiu o mundo, né? Foi assim, ninguém esperava, ninguém imaginava que… Até aí todo mundo era imortal, nunca tinha acontecido nada na família, ninguém tinha se organizado e se preparado para tal, assim, né? Não era alguma coisa que se esperava, por isso que daí virou uma chave, mas meu pai… porque daí o meu tio era mais da parte de negócios, e meu pai mais aqui no braçal mesmo, na gestão. E ele ficou, ele não conseguia nem administrar as coisas, fazer banco, cuidar de conta, cuidar da lavoura, das coisas. Aí ele me convidou, ele ficou com medo, “porque se acontecer alguma coisa comigo, quem é que vai saber das coisas? Meu irmão faleceu, eu estou aqui, eu sei. ” E nesse meio tempo, que daí teve que levantar inventário para fazer as coisas, aí descobriu que a pessoa que estava cuidando, não estava cuidando muito bem, então foi meio que um rombo tudo junto, uma surpresa, uma novidade, que tudo assim, caiu de morro abaixo, porque ninguém estava esperando nada disso. Ele falou: “Olha, eu preciso…” Aí meu pai me convidou para vir, da uma ajuda, e falou: “olha, nem sei por onde começar, mas se você puder se inteirar…” Ele falou: “Eu quero que você comece a participar mais, e me ajuda nessa parte de escritório.” Ele falou: “Não estou conseguindo dar conta, e eu preciso de alguém de confiança.” Então aí eu vim, me mudei para cá, daí acabei a faculdade, foi tudo, coincidiu, eu acabei, vim morar aqui, e comecei do zero, só que o problema é que eu não tinha para quem perguntar, essa foi a dificuldade, porque a pessoa responsável, ela não estava mais, colocaram um monte de caixa dentro do escritório, eu falei: “Ó, eu não sei o que tem para pagar, não sei nem o que que é, não sei nem onde começar.” Então, aí foi um trabalho de formiguinha, de pouco, em pouco, foi começando, organizando, aí daí sorte que a gente pegou um pessoal de Maringá que tem um escritório de contabilidade, aí foi que eles deram esse apoio para gente, esse respaldo, então qualquer dúvida eu ia perguntando para eles, porque eu não sabia também, sei lá, chegava uma nota produtor, eu ligava para eles: “O que é essa nota “produtor”? O que é isso? Da onde que tira isso aí? Estão me pedindo, o que precisa?” Eu não sabia nem o que era, e meu pai sempre na correria, ele nunca gostou dessa parte burocrática, ele e o outro sócio dele, o outro irmão, o que estava vivo, sempre foi de trabalhar, não gostavam de papel, nada. Então, foi de pouquinho em pouquinho, organizando a casa, até que, assim, depois de alguns anos, conseguimos estar tudo organizadinho, aí eu comecei a sair com meu pai mais para as propriedades, a campo, porque ele falou: “Olha, eu quero que você aprenda aqui, porque… “ Ele falou: “Pode acontecer qualquer coisa comigo.” Então, aí foi onde eu me inseri, eu vim para cá em 2011, 2011, aí foi que a gente começou, ele com toda paciência sempre me explicando. “Ah pai, olha, não entendo aqui” Não, ele parava e desenhava para mim na areia, assim, no chão: “Aqui é assim, assim, para plantar é desse jeito.” Aí saia com ele era cinco horas da manhã, a gente acordava, saia, para ir encontrar os funcionários. “Ó, hoje vamos fazer tal coisa.” E eu sempre queria estar andando com ele, para aprender, e meio período eu vinha, fazia escritório, porque daí as coisas já estavam mais organizadas, saia com ele, vinha para o escritório, nesse meio tempo eu falei: “Eu preciso também estar atualizada, aí eu fiz pós, em Maringá, ia e voltava, depois fui para Londrina fazer MBA também de final de semana, e voltava, eu falei: “Não posso parar, né? Tem que estar também assim, estudando, e indo atrás de formação.” Aí foi, passou, e as coisas foram se encaixando, e cada vez mais eu fui indo com ele, e foi daí até que eu resolvi que eu ia casar, aí eu falei: “E agora?” Esse era o problema, levar o meu marido de Maringá, até então estava tudo fácil, ele não ia vir para cá, porque ele tinha o negócio dele lá, e eu falei: “E agora, como é que vai fazer?” Aí foi aquele choque de novo, eu falei: “Como que eu vou deixar aqui as coisas? Deixar meu pai, a minha mãe e vou morar em Maringá?” Eu casei em 2017, e vinha para cá de novo, aí eu ficava vindo durante a semana, encontrava meu marido durante o final de semana, vinha, ficava a semana aqui, trabalhava, e voltava. Ficava fazendo essa vida, de ir e voltar, aí até que eu ganhei o meu menino em, nasceu em 2022, é, em 2022, aí 2022 eu tive que de novo essa mudança, porque daí eu não conseguia mais fazer o que eu fazia, ir e vir, e junto com a pandemia. Eu tive que me readequar, mudar, e foi que eu diminui as minhas vindas para cá, porque não era mais possível, mas foi, é uma dificuldade muito grande para a gente, uma auto cobrança de falar:- “Que jeito? Eu estou aqui, mas as coisas estão acontecendo lá.” Mas aí foi, readequou, a pandemia, consegui fazer tudo mais online, e aí acabei que assim, agora, por esse período, mas eu entendo um pouco da parte de campo, assim, não consigo mais acompanhar uma colheita, venho aqui de final de semana, mas não estou diariamente na lida, né? No dia a dia, eu sei que vai ser um período, depois a gente vê o que faz, como é que vai fazer.
(38:47)
P/1 - E se você puder contar para a gente desses aprendizados com seu pai, dele te ensinando sobre a colheita, como funciona o processo de vocês? Se puder falar um pouquinho.
R - Ah sim, graças a Deus que eu tenho assim, meu pai ele é super, tem muita paciência de explicar, é muito carinhoso assim, para falar, ele vai, ele não tem preguiça, se falar: “Ah pai, não entendi”. Ele explica de novo, e é muito assim, nesse processo de aprendizagem também, andando com ele, daí ele assim: “Ah, para em um lugar, para na Cocamar.” Eu desço junto na Cocamar, fico ali escutando, eu acho que aí a gente vai se familiarizando, e aprendendo, vendo ele fazer, né? Então, foi muito isso aí, também na parte visual e escutando: “vai fazendo isso, tem lá os funcionários, agora a gente vai fazer tal coisa, agora a gente vai plantar, a semente está rasa, está funda.” Então eu sempre estava junto com ele, e eu falava assim, o pessoal falava que eu era até o chaveirinho dele, ele ia e eu ia andando atrás, ele descia do carro, eu descia, ele ia para um lugar eu ia, eu era a sombra, mas foi aí que eu consegui ir aprendendo, e tendo a liberdade, porque para ele era uma novidade também, não é chegar e falar: “olha filha, não.” Eu morei fora, fiquei um tempão fora, então era uma adaptação para os dois, claro que não é mil maravilhas, né? No começo eu ficava: “Aí, meu Deus do céu, aí não vai dar certo isso, porque o pai é assim e assado.” Ele: “A Natalia é isso, e a Natália é aquilo.” Normal, era a adaptação dos dois lados, que foi, mas foi de uma forma bem natural acontecendo, né? Um respeitando o outro, e é o dia a dia, acordar cedo, vai, percebe uma coisa ou outra, e depois eu conseguia, no começo eu ficava quieta, só escutando, não sabia nada. Aí depois você vai escutando, vai dando a opinião, meu pai sempre foi muito aberto, não era aquele pai fechado, eu falava: “Pai, eu lembro que eu estudei isso aí, e talvez dê para a gente fazer isso.” E ele sempre falou: “Não, legal, vamos ver.” Nunca falou assim: “Ah não, isso daí não dá certo.” Ele sempre foi aberto, para tudo assim, tanto de negócio para a gente… Falar: “Ah pai, eu queria experimentar fazer tal coisa.” “Não, vá.” Ele deixa fazer, assim, “quebra a cara sozinha”, mesmo ele sabendo que não vai dá certo, ele fala para fazer, ele deixa fazer, então isso foi bom, porque aí tendo essa liberdade, eu tinha assim, uma conversa aberta, não ficava intimidade de pegar ele e falar: “Olha, eu acho isso, eu acho aquilo.” Ele respeitava, e sabia que assim, eu não sabia nada, mas ele me dava essa autonomia, e eu acho que isso aí a gente vai aprendendo, e vai crescendo, né? E vai vendo, que às vezes realmente: “olha, isso não dá certo.” Lembro que até meu TCC no final foi de plantio indireto tudo, ele ajudou: “Não, vem aqui, vamos fazer assim, você já sabe… Dirige a colhedeira, vem aqui, sobe, vamos fazer assim, assim.” Chegava uma máquina nova: “vamos aprender”. Então assim, eu conseguia participar e fazer. E ele foi deixando essa parte de papelada, a parte administrativa, ele foi bem, deixando, deixando, e hoje ele fala que não sabe a senha do banco dele, não sabe as contas, sabe na cabeça dele, que foi a preocupação, eu falei: “Pai, não adianta saber na cabeça, pode acontecer alguma coisa com você, mas pode acontecer comigo, eu posso morrer amanhã também, então assim, daí eu transformei em um jeito, daí eu fiz tudo no computador certinho, e ele daí passou totalmente a parte, passou o bastão para mim, para eu cuidar disso daí. E aí ele fica com a cabeça dele para produzir, a gente troca ideia todos os dias do que a gente vai fazer, do que a gente não vai, como que é o planejamento, o orçamento, as coisas. Mas, é legal, porque assim, bastante gente olha e fala: “Nossa, mas é uma mulher, uma menina, né?” Porque eu era uma menina na época “indo junto, a coitada, né? Não tem opção” Entrei… “É o que sobrou, né?”
P/1 - E como foi isso para você? Você sentiu uma diferença?
R - Não, porque todo mundo fala, né? “Nossa…” Claro que assim, eu falo, começa um pré julgamento da gente mesmo, como meu pai nunca fez diferença, eu nunca senti isso, falar lá em tal lugar, “mas você é menina.” Não, meu pai nunca, ele não deu bola, nunca falou: “Vai lá…” Só tinha homem, “pai, você nem me avisou que só tem homem”, ele: “É, não tem nada a ver.” Então, ele levou sempre de uma forma natural, e a gente também, então eu nunca criei esse pré conceito, levei sempre numa boa, e é claro, daí eu falo assim, por ser mulher a gente tem que saber se portar, também não ia, né? Vai de vestido? Vai de camisa, não vai chegar com uma roupa decotada, assim, coisa assim, nunca tive problema nenhum, meu pai ia fechar um negócio, eu sempre junto com ele, era o braço direito dele, até hoje, vai, vai junto, e chega a ser engraçado, porque daí chega lá: “Minha filha, né?” Todo mundo vai com filho, ou vai com homem junto, alguma coisa, aí chega “não, aqui, essa aqui é minha filha, ela que me ajuda.” Eu já estou… ele me carrega para cima e para baixo, e é bem tranquilo mesmo, não sinto. E agora estando mais velha, eu falo, a gente vai amadurecendo, é tudo mais fácil, né? Para ele já virou mais natural, para mim também, a gente trata de negócio, a gente conversa, sempre que tem feira, tem qualquer coisa, negócio da Cocamar vamos juntos, sempre está junto, assim, eu vou, sou o chaveirinho ali, independente do lugar, e simbora, vamos.
P/1 - E qual é a história da propriedade de vocês?
R - De onde começou, assim?
P/1 - É.
R - Eles tinham um sitinho, que daí era aqui na ______ ali, na fazenda São Pedro, e aí vendeu um pedacinho, e comprou em Amambai, lá no Mato Grosso do Sul, meu pai foi muito, foi, ia todo mês para lá, e de lá vendeu e começou a comprar umas propriedades por aqui, perto da cidade, né? Aqui na região para o plantio de cana, então essa propriedade agora, que daí a gente ficou, com a divisão da sociedade, é tudo próximo, né? Aí foi comprando, de pouquinho em pouquinho, com a cana, com o trabalho, a sociedade. Aí meu avô ainda era vivo, eles, os três sócios, os irmãos, foi comprando, foi surgindo, foi comprando, aí foi aumentando a propriedade, mas não é nada de assim, dessa propriedade, que a gente vai ali na cidade ______, não é nada de coisa que já antiga, já tem anos e anos, eu lembro quando eles compraram. Então, é tudo coisa assim de, vamos colocar, de vinte anos para cá, as propriedades maiores, né?
P/1 - Então, já tinha o maquinário? Nem teve, é anterior ao plantio direto? Vocês já compraram no plantio direto?
R - Não, não, não, tinha, eles já começaram a mexer com solo, antigamente, nessa propriedade que tinha, que era do sitinho do meu avô, aham, mas assim, foi aumentando a parte de agricultura, foi, vamos colocar aí de quinze, vinte anos para cá, porque daí o foco sempre foi a cana, daí tinha tudo voltado para cana e gado, daí era lá no Mato Grosso, daí depois foi fazendo a parte de agricultura, meu pai que era o focado na agricultura, meu tio, ele ficou mais com o gado, e outro era mais na parte de cana, da gestão, ele era presidente lá da ______.
P/1 - Tá, mas no começo do seu pai, quando o seu pai começou com cana, já tinha maquinário? Ou era na mão?
R - Ah não, digo de corte?
P/1 - É.
R - É, era, a maioria era corte manual, que daí tinha, que daí era a cooperativa que fazia, tinha bastante, que daí falava boia-fria, né? Queimava a cana, mas de uns tempos para cá, agora que está mudando, que não pode mais queimar, e que é outra colheita, mas era tudo manual, tudo manual.
P/1 - E como você estava explicando, é a cooperativa que cuida hoje em dia, né?
R - Hoje é, acho que é de três, quatro anos para cá, ela que vai, faz o plantio, os traços, né? Cuida, e faz a colheita, antes a gente fazia o plantio, cuidava, a usina só vinha e fazia a colheita, e era muito, colheita manual, muita, coisa de cinco, sete anos para cá que está assim, mais mecanizado. Antes era, queimava, colhia na mão mesmo.
P/1 - Vocês acompanham?
R - Sim, sim, sim, o plantio também, e hoje, tem áreas que são mais assim, que não é tão regular, que é mais quebrada, que precisa ser manual e não tem mais esse tipo de funcionário, ninguém mais quer ser cortador de cana, coisa assim, então hoje está escasso, e essas áreas, o que a usina está fazendo, ela faz, ela está eliminando, para poder fazer com máquina mesmo, porque não tem esse funcionário, e a ideia também é eliminar, como não pode queimar, aí para um corte, para entrar é mais difícil, e a colheita, o plantio, como que é? É que assim, um boia-fria, eu acho que ele plantava um alqueire por dia, alguma coisa assim, um ou dois alqueires, aí você pensa em uma máquina, né? Então assim, é um processo normal, que vai substituindo.
P/1 - Você foi trazendo, e estudando, conhecendo, trazendo muitas dessas inovações também?
R - Da parte de cana não, não, que daí era da cooperativa, isso aí a gente não, não se envolvia, mas a parte de agricultura mesmo. Porque de cana já era o processo da usina, então a gente não agregava muita coisa, mas da parte de agricultura, porque daí cada um faz o seu, né? Aí você tem que ir tentando, e aqui em Paraíso, aí tem, a gente começou depois da colheita da cana, plantando soja, porque geralmente quando colhia cana, e antes plantava cana em cima de cana, aí tem que ter essa rotação de cultura, e eu tentava plantar em cima daquela palha da cana que colheu, a gente já tentou fazer, tentava gradear, então foi fazendo experimentos, e hoje assim, é normal colher uma cana, depois ela vai renovar, de seis cortes, plantar soja. Começou de uns tempos para cá, e deu certo, então faz essa rotação de cultura, planta soja, depois vem e vira cana de novo.
P/1 - Que época do ano? No verão?
R - Não, a cana é fevereiro, né? Ela dá seis cortes.
P/1 - O que que significa?
R - Tipo assim, você plantou uma vez, você vai lá e colhe depois de um ano, você não precisa plantar de novo, ela cresce sozinha, é, cana. Aí você vai lá e colhe de novo. Você pode fazer isso, cinco, seis cortes, que é o que dá rentabilidade, depois a cana ela começa a ficar fraca. Também colheu esses cinco cortes, vamos falar, aí colheu esses cinco cortes, então mata a cana, acaba com ela, e aí você planta soja, depois vai e planta cana de novo, ela vai por mais cinco anos, o ciclo da cana é longo.
P/1 - Uau, e quando vocês começaram a se envolver com a cooperativa?
R - Com a Cocamar?
P/1 - É.
R - Ah, meu pai faz muito tempo, nossa, eu não sei que ano que é, mas assim, oitenta e alguma coisa, a meu pai não sei, mas desde, desde muito tempo. Eu demorei, eu fui ser cooperada agora, _____ que eu sou cooperada, mas não faz muito tempo não, mas a minha família que vem envolvida com a cooperativa, já tem um longa história. E aí é bom, que aqui em Paraíso, só tem de cooperativa de grãos, só a Cocamar, porque você vai ver em outras cidades que você vai, tem bastante, vamos falar assim, concorrência, tem outras, aqui em Paraíso não, é a Cocamar, porque como tem área de cana, então não tem tanta parte de grãos, agora que está aumentando, e fazendo essa rotação de cultura aumenta mais ainda, porque sempre tem cana e se renovando, né? Mas aí, a Cocamar aqui, é muito forte, e ela é grande, não sei se vocês entraram ali, passaram, não sei se vocês vieram pelo caminho que passa, a Cocamar é bem grande aqui, tem _______ tudo, recebe bastante.
P/1 - E quais foram… são os ensinamentos, assim, que você tem com essa parceria?
R - A confiança, que a gente sabe que a Cocamar é uma empresa de extrema confiança e credibilidade, que o que nós vamos comprar vai estar ali, o que vai entregar é extremamente justo, né? E é uma cooperativa, a gente participa do resultado, então entregando lá, nós vamos participar das sobras, do lucro, e a gente acaba nem fazendo orçamento, nem cotando fora, porque dá para cotar, tem outras empresas que dá para vir entregar, mas a gente sabe, porque o que faz a negociação ali, é correto, nunca atrasou, nunca fez nenhum cambalacho assim, falar: “Entregou lá, descontou uma coisa que não era para ser.” Não, sempre essa confiança que eles passam, essa transparência, e daí a gente está participando também do resultado, e estamos dentro de casa, se tem qualquer problema, qualquer coisa, o acesso é muito fácil. Da cooperativa, então a gente está ali e fica bem tranquilo, de olho fechado, que sabe que o nosso produto está lá, está depositado, não vão ter: “Ah, precisou vender”, no mesmo dia recebe, é muito bom poder ter uma empresa que você confia, que são coisas assim, de valor alto, você vai deixar lá, entregar toda a sua produção, um negócio que você suou para ter, para a hora que você precisar, às vezes, tem empresa aí que a hora que você vai vender que você não recebe, né? Ali não, a gente sabe que é, algo assim, de extrema confiança. E eu tive mais ligação com a Cocamar, porque chamaram para participar do conselho, fiz parte do conselho, daí tem o conselho consultivo, então daí eu aceitei, foi a parte que daí começa a ter mais ligação, saber como é que funciona mais, dentro da própria cooperativa, a gente tem reunião, acaba sendo a cada dois meses, por aí, é em Maringá, e tem com a diretoria, a gente conhece mais o pessoa. E o meu pai, ele participou do conselho de administração, do conselho fiscal, ele ficou, eu acho que por doze, dezesseis anos, então a gente sempre teve esse contato e essa ligação com a cooperativa, e até com as pessoas que estão lá dentro, né? Aí você acaba que você tem a informação, tudo mais rápido ali, e ah, o pessoal muito sério, não tem nem o que duvidar, não tem nada, e sempre eu falo: “A Cocamar sempre está à frente.” Está sempre escutando o cooperado, está toda hora, você até vem com uma ideia e eles já estão fazendo, né? Então é um negócio, é legal a cooperativa porque está muito ligado nas coisas que estão acontecendo, estão preocupados com os cooperados, eles querem escutar, a gente tem lá o NPS, que são perguntas para os cooperados, para saber como está sendo a safra, como está sendo na cooperativa, então você tem a liberdade de estar opinando, eles pegam essas informações, eles fazem relatórios, geram resultados, trabalham em cima disso. Então, está sempre muito ativa a cooperativa, com o cooperado, fala: “Ah, mas eu não sei...” Não, se o cooperado não sabe é porque ele realmente assim, não está interessado, porque ele tem, ele consegue ter o acesso, ele consegue ver resultado, ele consegue participar, eles vieram, foi esse mês agora, começo do mês, vem, mostram relatório de como está a saúde da empresa, passa certinho, olha, como é que está a projeção também, o que eles esperam. Então, você consegue ficar a par do que está acontecendo, e nem todas as cooperativas são assim, né? Você vai vendo, vai tendo uma assembleia, você vai lá escutar os resultados, e male male saber o que está acontecendo, aqui eles fazem questão de estar passando, e querendo escutar opinião, e saber o que o cooperado tem a dizer também, e querer saber o que está dando em cada região, assim, pegar essas informações para estar todo mundo sabendo: “Ó, o que está acontecendo em um global.”
P/1 - E o que significa uma boa colheita para você? O que você valoriza?
R - Ah, uma boa colheita, depende da produção, produção e preço, sem preço a gente não... Não depende da gente, né? Preço é o mercado, mas a produção depende de nós, depende muito a fase de Deus, de chover, de dar sol, porém a gente tem que fazer o trabalho de casa também, que é assim, escolher uma semente que se adequa a terra, plantar na época certa, deixar a terra bem alinhada, jogar calcário, deixar… A galera fala, igual uma horta, você precisa ter adubo, você precisa ter as coisas, para na hora de você jogar a semente crescer. Então, assim, a gente fazia todo esse preparo para a hora que receber o grão, ele poder estar sadio, né? Então, uma boa colheita, assim, precisava fazer todo esse preparo, torcer para o clima ajudar, e para o preço estar bom, para o preço estar bom. Aí o que você faz? Você se planeja, você consegue fazer contrato, para você saber assim, você já faz o contrato antes de você plantar, por quê? Porque você fazendo o contrato, você já tem uma média, você já sabe o que vai ser seu custo, a gente sempre procura, aqui, eu e meu pai, fazer o contrato para você saber o seu custo, pelo menos, mas não pode fazer muito contrato, porque pode, Deus o livre, dá uma quebra, alguma coisa assim, e você não conseguir entregar, cumprir o contrato, mas a gente sempre faz, para ter essa média de custo, e o que sobrar é pagar conta, e ter o lucro, né?
P/1 - Tem alguma história trágica, de estar indo assim, tudo bem e do nada…?
R - Já, já, já, aqui assim, na região, não é muito assim, de falar: “Perdi tudo”, perde, mas já teve de não colher e falar: “Vixe, eu vou tentar pagar o custo”, tá? Agricultura, normal, a gente sempre esperando a outra safra, falou: “Vamos dar um jeito na conta aqui.” É normal isso daí de agricultor, todo mundo, pode ter certeza, que tem uma história ruim para contar, suada, que não deu, aí você tem parcela para pagar, tem que ir negociando e sempre esperando que a safra que vem vai dar melhor. Mas, graças a Deus, olha, a gente aqui é abençoado na nossa região, onde a gente está plantando, ali em terra, que geralmente assim, se não sobrar dinheiro, pelo menos dá para pagar ali o custo, mas assim, vou falar, as outras contas para pagar tem, não é só pagar o custo.Mas, é normal da agricultura, a gente já sabe que faz parte, se esse ano não está muito bom, se Deus quiser o outro vai estar.
P/1 - Sempre acreditando, fé…
R - Acreditando, essa é a agricultura, se não for isso daí, a pessoa desiste. E aqui a nossa sorte também, é que daí, como a gente tem a cana, dá uma diversificada. “Ah, não deu aqui na soja e no milho”, tem o dinheirinho da cana que entra, e isso daí é um, eu falo assim, é uma, graças a Deus é o que… hoje que a gente consegue fazer girar mais, às vezes arriscar, fazer alguma coisinha diferente, porque daí tem o giro da cana também que entra e ajuda, a cobrir qualquer coisa que necessite, né? Que venha desencaixar de conta, então a gente consegue fazer isso daí, dá para arriscar. Pouquíssimas pessoas, né? Tem esse, de diversificar e ter alguma coisa, por isso que a gente fala de diversificar, ter agricultura, você pode ter um gado, fazer alguma coisa assim, porque daí se uma coisa não está muito boa ali, às vezes tem uma outra que vai dá para cobrir o que não está boa. Tem que ir atrás e tentar, mas não é uma realidade, né?
P/1 - E quais são os aprendizados de se trabalhar com e na terra?
R - Nossa, é maravilhoso, eu falo assim, a terra é muito legal, a gente produz, e é um negócio satisfatório, né? Que eu falo, tá, a gente tem funcionários, depende de outros, mas não é aquele estresse de você trabalhar com gente o tempo inteiro, aquela coisa pesada. A terra, você trabalha, vai dar dor de cabeça, vai ficar sem dormir, normal, porque daí se não choveu, ou você precisa que dê sol, ou você não sabe se o preço está bom, se você fecha ou não fecha, tudo tem a suas preocupações, mas é uma coisa gratificante e prazerosa, porque você vê crescendo, né? Você vai lá, hoje está de um jeito, aí você vai amanhã: “Olha, já está melhor a produção, ó, a soja já está crescendo.” Desde pequenininho crescendo e participando de todo esse processo, e é um negócio muito rápido, quatro meses você já está vendo resultado, se deu ou não, o que você fez de errado? E isso é gratificante, porque você acompanha o processo, e é um negócio rápido, não deu certo? Dali a pouco, setenta dias, está de novo plantando outra coisa, então é muito gratificante, e trabalhar no campo é uma paz, é um negócio… Eu não posso trabalhar em uma empresa não…
P/1 - Se encontrou?
R - Me encontrei, porque aqui você tem essa, aí como que eu falo, no campo, você tem essa paz interior, e você vê crescendo, é um negócio que você quer estar ali junto, você quer participar, tipo assim, quer estar todo dia vendo, acompanhando, é igual um nenezinho que você vê crescendo. “Ah tá, deu certo agora.” E a colheita que é a parte legal, ainda mais quando está bom, você colhe numa alegria que só, né?
P/1 - Tem alguma história, alguma passagem, algum dia marcante relacionado ao seu trabalho que você queria contar?
R - Deve ter tantos, né? Não tem… Não pensei assim, nada, específico… Deixa eu ver o que que dá para… Tem tanta coisa que dá, né? Um dia marcante…Nossa, não veio nada na minha cabeça…
P/1 - Sem problemas…
R - Mas, com certeza tem.
P/1 - E tem alguma pessoa assim, com quem você já trabalhou, que já trabalhou para você, que te ensinou algo que você leva para a vida? Seu pai…
R - Isso que eu ia falar, eu trabalho diretamente é com meu pai, a parte, eu falo, de não, não ter preguiça, porque meu pai é de fazer as coisas. Para ele nada é problema, está tudo certo: “Não deu desse jeito? Vamo…” Ele leva com uma naturalidade as coisas, nunca vi meu pai: “Não acredito que…” Ele leva tudo de maneira tranquila, e está tudo certo. “Ah, não vai colher, não vai fazer…” Ele: “Não, está bom, uma hora vai dar certo.” Então ele sempre tem essa leveza do negócio, isso ele me transmitiu, então nunca foi assim, um fardo. Porque tem gente que fala: “Não, agricultura só dá ruim.” Porque tem um monte de agricultores que fala: “Não, ixi, agricultura não dá.” Falando mal do negócio, meu pai ao contrário, sempre levou na parte positiva: “Não, não deu agora, mas depois vai dá.” Então isso eu levo muito como exemplo, não peguei assim, nenhum trauma de falar: “Não, agricultura não vai dar certo.” Eu quero, eu falo que: “Não, se não está dando hoje, eu sei que vai dar certo, então vamos esperar que vai dá, as coisas não estão perdidas.” Eu levo isso de ensinamento, essa parte de ser mais leve para os negócios, né?
P/1 - E vocês têm algum cuidado, alguma preocupação com o meio ambiente?
R - Com certeza, a gente na propriedade tem todo o cuidado até com as embalagens, da gente lavar e entregar, a gente leva na Cocamar, tem toda essa preocupação de estar cuidando, não é nem porque é obrigado a fazer, é obrigação nossa mesmo, né? Como ser humano, tem que estar preocupado, cuidando, plantando árvores, preservando a que tem, os riozinhos que a gente tem na propriedade, a gente preserva. Que é coisa, que assim, hoje é obrigado por lei, mas a gente sabe que é coisa que o ser humano tem que fazer isso daí, todo mundo sair e falar: “Vou desmatar aqui, vou fazer ______ não vou cuidar desse rio, dessa nascente…” Vai acabar, então isso daí a gente leva, é obrigação mesmo.
P/1 - E você percebe as mudanças climáticas, assim?
R - Bastante, muito, muito, muito. Tanto que estamos em julho e olha o calor que está agora, né? Tem mudado muito na agricultura, antes a gente tinha os ciclos mais certos,né? Tipo assim, em julho era frio, no verão chovia, então agora a gente está cada vez mais enfrentando essa dificuldade, então não está previsto, a gente vai fazer agricultura, vai plantar, e não sabe o que vai dar, se vai realmente assim, se vai ser um ano muito quente, ou um ano muito frio. A gente acompanha as notícias, tudo, mas tem mudado extremamente. Semana retrasada o frio que estava, agora o calor, então assim, para agricultura também muda muito, às vezes pode vir um vento e derrubar o milho, a gente sabe que os próximos quinze dias não tem previsão de chuva, não tem vento. Então estamos esperando lá, hoje eu acho que a gente volta a colher, mas é uma mudança muito grande, e ao mesmo tempo que a gente está aqui hoje e está sol, amanhã pode, né? Assim, mudar… Então, a gente sempre está atento, mas tem sentido muita diferença na agricultura, reflete totalmente, porque a gente depende do clima para a produção, né ?
P/1 - E aí você tem que ficar pensando em estratégias para driblar isso, é isso?
R - Sim, o tempo inteiro, o tempo inteiro acompanhando notícias, o que vai acontecer, para tentar assim, diminuir os riscos, né?
P/1 - E como você gostaria de ver sua produção daqui uns anos?
R - Bem, né? O sonho de todo agricultor, colhendo bem, com o preço bom, mas assim, eu sei que cada vez mais, essas mudanças climáticas, elas vão afetar, a gente fazendo o dever de casa, no futuro, produzir, conseguir continuar fazendo o que a gente faz, produzir, colher. E se Deus quiser assim, não dar seca, não dar o excesso de chuva, é isso que a gente pensa para o futuro, só continuar do jeito que está, na normalidade.
P/1 - E Natália, como você conheceu seu marido?
R - Eu conheci ele em Maringá no noivado de uma amiga, ela ia casar, daí eu conheci ele, e a gente namorou por um bom tempo, quatro anos, eu conheci já mais velha, tinha 26? É, casei com trinta, nós namoramos por quatro anos, e depois eu casei em 2017.
P/1 - E como foi o casamento?
R - Foi legal, foi como a gente esperou.
P/1 - Como que vocês esperaram?
R - Olha, eu falo assim, teve bastante parente, família grande, então assim, eu esperava que no casamento ia ter bastante gente, por conta da família. E a família dele também é grande, não tanto igual a minha, mas foi como a gente esperava, bastante gente, com os amigos, as pessoas que a gente queria que estivesse lá, mas foi legal.
P/1 - Teve festa?
R - Teve festa, teve, teve festa grande.
P/1 - E aí em seguida vocês engravidaram?
R - Não, não, não, a gente demorou, foi. Eu casei em 2017, meu menino nasceu em 2022. Aí esperamos dois, três anos para começar a tentar engravidar, aí não engravidava, eu tive que fazer tratamento, a gente fez fertilização, aí engravidei do meu menino, e aí depois para fazer da Estela, da Estela que a gente está esperando, fiz tratamento de novo. A gente não descobria porque não engravidava, não descobrimos até hoje, falamos: “Então vai, a gente já faz o tratamento, já faz o pacote.” E aí deu certo, graças a Deus existe recurso, né?
P/1 - E como foi ser mãe?
R - Uma mudança, uma virada de chave bem… Porque eu era muito ativa, de trabalhar, e de “vou para onde eu quero, eu pego o carro, eu venho, trabalho aqui, eu volto.” Então, pra mim foi uma mudança drástica, é lindo, maravilhoso, mas no começo foi um negócio, meu puerpério foi bem forte assim, por conta de eu ser muito ativa, estar trabalhando e do dia para a noite precisei ficar em casa cuidando de uma criança. Eu não estava, acho que eu nem sabia o que me esperava, não estava preparada, mas claro, nossa, o amor da nossa vida, ver crescendo. E aí eu fui me adaptando, tive que adaptar o trabalho, tudo, até relação eu, meu pai, porque era sempre assim: “Preciso de você aqui”, eu estava aqui, então ele também foi se adaptando comigo, porque aí ele ligava, e tinha hora que eu: “Ai meu Deus, eu estou dormindo.” Meu pai ligava, seis horas da manhã, cinco horas da manhã: “Viu, preciso…” “Ah pai, agora eu estou…” Foi uma adaptação, mas passou, ixi, agora, graças a Deus estamos caminhando bem, cuido do meu menino, fico meio período com ele, meio período vai para a escola, eu quis me dedicar, falei: “Demorei tanto para ter, quis me dedicar a esse começo da infância, para poder estar ali, passar os ensinamentos”, e hoje eu falo, ele vem aqui e é o xodozinho do meu pai também, que ele é menininho, né? Vai, ele adora ir, ver trator, andar a cavalo ele gosta, então assim, a gente vem com certa frequência para cá, de final de semana, e aí dia de semana eu não consigo mais estar aqui trabalhando, sempre que dá eu estou me organizando para vir. E agora que eu estava voltando assim, a normalidade, aí já fui planejando para engravidar de novo, dar uma paradinha agora de novo, e depois vamos ver do jeito que dá para fazer.
P/1 - E vocês já foram se adaptando na pandemia também, né?
R - Na pandemia, que ele nasceu foi no Covid-19, então na pandemia todo mundo teve que se adaptar, essa parte eu falo de pagamento de contas coisas, a gente teve que tudo que ser online, banco, todo mundo adaptou, então para mim foi bom que eu já peguei esse gancho, e já fiz essa adaptação. Antes o pessoal vinha, deixava notinha na caixa de correio, então eu já mudei todo o esquema da coisa, então adaptei tudo para ser online mesmo.
P/1 - E a pandemia, no sentido mais pessoal assim, te afetou?
R - Não, não, assim, claro, teve uma mudança, e eu falo, parece que já faz uns dez anos que a gente viveu, né? A pandemia, faz pouco tempo, eu vinha muito para cá, porque daí como eu moro em apartamento em Maringá, daí lá não podia sair, não podia fazer nada, aí eu vim bastante, fiquei bastante aqui, na casa dos meus pais, a gente ia para o sítio, para sair, para respirar, mas assim, não foi assim marcante, para eu falar: “Olha, perdi alguém.” Eu peguei COVID quando eu estava grávida dele, aí foi meio que um sustinho, porque ninguém sabia na época, né? E o meu marido estava viajando, eu estava sozinha, eu não podia vir aqui, que daí meu pai já é mais de idade, mas assim, tudo certo, não teve nada traumático na pandemia que aconteceu com a gente, graças a Deus.
P/1 - E quais são os seus sonhos futuros, pensando no âmbito pessoal e profissional?
R - Criar meus filhos, dar uma boa educação, e conseguir, eu falo assim, estar trabalhando, passar esse legado para eles, não sei se eles vão assim, gostar de terra, ou não, de trabalhar, porque cada um tem um gosto, né? Mas se eu puder passar isso para eles, que… De produzir, de estar na terra, que é uma coisa legal, eu queria poder passar, assim. É um sonho, de eu conseguir transmitir e deixar esse legado para eles, não sei se vai acontecer ou não, mas é um sonho.
P/1 - Você gostaria de acrescentar algo que não tenha perguntado, contar de alguma passagem, alguma pessoa importante? Algum momento de vida?
R - Eu acabo falando do meu pai, porque eu sempre trabalho com meu pai, mas que a minha mãe, eu falo também, eu só sou o que eu sou por causa da minha mãe, né? Que sempre ajuda, sempre está ativa, sempre está cuidando, ajudando, mas eu falo em toda coisa acaba surgindo sempre meu pai, mas a minha mãe, não citei, porque eu não trabalho, não trabalho direto com ela, mas ela também é uma pessoa especial, que eu me espelho bastante, eu falo para ela, eu falo: “Mãe, se eu tiver a dedicação que você tem, 5%, está bom demais.” O tanto que ela se dedica a família, a molecada, ela é um exemplo, eu precisava ser só um pouquinho igual, não precisava ser muito não, mas só um pouquinho está bom.
P/1 - E você queria deixar alguma mensagem?
R - A minha mensagem, olha, até para, me veio agora na cabeça, de questão de mulher, que a gente fala de ser aceita, né? Na sociedade, de coisa assim, ainda mais na agricultura, eu acho que a gente mesmo, a gente tirar esse conceito estabelecido, não pode falar nem preconceito, né? É um conceito estabelecido, que se a gente for, eu falo assim, a gente buscar informação, a gente está atualizada, saber o que está fazendo, falando, a gente tem o nosso espaço, né? Não precisa muita coisa, eu falo, o espaço está livre, hoje eu falo assim, já tenho um respeito, você pode ter funcionário, você vai em empresa, já tem um olhar diferente, né? Eu acho que a gente se, conseguir demonstrar esse respeito que a gente tem, as pessoas, elas vão se familiarizar mais, incluir mais, então eu acho que a mulher ela não tem que ficar muito, ela tem que estar mais ativa, ela não precisa ter vergonha, porque a gente fala: “Ah, mas eu vou…” É uma crença, uma coisa já até na nossa cabeça, não precisa ter isso, é só você ir ali, vai de porquinho, vai chegando, vai mostrando seu espaço, porque os homens, está todo mundo apto a receber, então basta a gente começar e partir de nós mesmos, né?
P/1 - Como foi para você contar sua história para a gente?
R - Foi legal, me fez pensar em coisas que eu nem lembrava. Foi legal, porque é coisa que assim, está lá na nossa memória, mas está apagado, né? É coisa que a gente tem que pensar, não tinha pensando em coisas para trás, de infância,daí você perguntando, daí vai puxando aqui na cabeça, e vem coisa, né? Mas foi tranquilo.
P/1 - Oba, brigada, brigada, brigada.
R - Eu que agradeço, por estar escutando a história e aprendendo, eu aprendo com vocês também.
P/1 - Total, total, que delícia.
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