Projeto 50 anos da Ponte Rio-Niterói
Entrevista de Julio Cezar Moreira de Amorim
Entrevistado por Paula Ribeiro
Niterói, 08 de abril de 2024
Código da entfevista: PRN_HV012
Revisado por Nataniel Torres
P - Bom dia, Júlio! Muito obrigada pela sua participação aqui no Projeto comemorativo dos 50 anos da Ponte Rio-Niterói, concedendo um depoimento da sua trajetória, um pouco da história de vida e trajetória profissional. Vamos começar do comecinho. Me diz, por favor, o seu nome completo, local e data de nascimento, por favor?
R - Meu nome é Julio Cezar Moreira de Amorim, nascido em Ubá, Minas Gerais.
P - E o nome dos pais, por favor?
R - Meu pai é Valdemir de Amorim, minha mãe Maria das Dores de Amorim.
P - Os avós, nome deles? Teve a convivência com os avós maternos ou paternos?
R - Sim! Tive com todos. Avós paternos, Valdemar de Amorim e Júlia de Amorim. E os maternos, na verdade, tem uma uma viva ainda, que é Olinda Meireles Moreira e o Arlindo Moreira. Então, eu tenho dois avós aqui do Rio de Janeiro, nascido e criados aqui, dois avós de Minas Gerais. E dos quatro, como tive convivência com os quatro, mais por parte de mãe, em Minas Gerais, mais era a minha avó, que está lá com os seus 90 e tantos anos, ainda viva, está lá ainda.
P - Você conhece um pouquinho a origem da família, sobre os bisavós? Conhece um pouquinho dessa história familiar?
R - Até a minha bisavó eu tive convivência, inclusive, ainda novo, ele faleceu eu era criança, mas eu lembro bem, tive convivência, mas nunca tive curiosidade para pesquisar a origem não.
P - O seu pai, qual era a profissão?
R - Bom, o meu pai, que eu perdi muito cedo, inclusive, eu perdi eu tinha 12 anos. Mas o meu pai foi muito atuante na minha vida até os 12 anos, então eu tenho as memórias muito forte, meu pai era da área naval, então, trabalhou, para quem conhece aí, o Estaleiro Mauá, Estaleiro Caneco, o Ishikawajima, na verdade minha família é da indústria...
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Entrevista de Julio Cezar Moreira de Amorim
Entrevistado por Paula Ribeiro
Niterói, 08 de abril de 2024
Código da entfevista: PRN_HV012
Revisado por Nataniel Torres
P - Bom dia, Júlio! Muito obrigada pela sua participação aqui no Projeto comemorativo dos 50 anos da Ponte Rio-Niterói, concedendo um depoimento da sua trajetória, um pouco da história de vida e trajetória profissional. Vamos começar do comecinho. Me diz, por favor, o seu nome completo, local e data de nascimento, por favor?
R - Meu nome é Julio Cezar Moreira de Amorim, nascido em Ubá, Minas Gerais.
P - E o nome dos pais, por favor?
R - Meu pai é Valdemir de Amorim, minha mãe Maria das Dores de Amorim.
P - Os avós, nome deles? Teve a convivência com os avós maternos ou paternos?
R - Sim! Tive com todos. Avós paternos, Valdemar de Amorim e Júlia de Amorim. E os maternos, na verdade, tem uma uma viva ainda, que é Olinda Meireles Moreira e o Arlindo Moreira. Então, eu tenho dois avós aqui do Rio de Janeiro, nascido e criados aqui, dois avós de Minas Gerais. E dos quatro, como tive convivência com os quatro, mais por parte de mãe, em Minas Gerais, mais era a minha avó, que está lá com os seus 90 e tantos anos, ainda viva, está lá ainda.
P - Você conhece um pouquinho a origem da família, sobre os bisavós? Conhece um pouquinho dessa história familiar?
R - Até a minha bisavó eu tive convivência, inclusive, ainda novo, ele faleceu eu era criança, mas eu lembro bem, tive convivência, mas nunca tive curiosidade para pesquisar a origem não.
P - O seu pai, qual era a profissão?
R - Bom, o meu pai, que eu perdi muito cedo, inclusive, eu perdi eu tinha 12 anos. Mas o meu pai foi muito atuante na minha vida até os 12 anos, então eu tenho as memórias muito forte, meu pai era da área naval, então, trabalhou, para quem conhece aí, o Estaleiro Mauá, Estaleiro Caneco, o Ishikawajima, na verdade minha família é da indústria naval, meu pai também era dessa fase. E meu pai sempre foi muito atuante na minha vida, então eu tenho lembranças dele muito vivas na minha memória, como, por exemplo, ele era um entusiasta, desde muito tempo eu fiz judô, Jiu-Jítsu, e o meu pai era um cara que estava comigo em todos os campeonatos, vibrava comigo e tal. Mas infelizmente eu perdi ele muito cedo, então eu tenho esse corte na memória, que eu tenho só até os meus 10, 12 anos, quando ele infelizmente se foi.
P - Em relação a família e religiosidade, alguma manifestação, cultura, festejos? Você tem lembranças da sua infância?
R - Tudo, falando em religião, a minha família sempre foi muito religiosa, predominantemente católica, até hoje eu tenho tias que são muito atuantes dentro da igreja. A minha avó sempre foi muito atuante dentro da igreja, mas tem parte evangélica. Minha família sobretudo sempre foi muito festiva, de festejos de festa junina, de Natal, de aniversários, sempre, assim, eu tenho tenho lembranças de encontros. Isso se perdeu um pouquinho que muita gente acabou seguindo sua vida, encontros de famílias que era em Minas Gerais, então… Mas isso era muito tocado pelos meus próprios avós que sempre gostavam daquela coisa da mesa farta, da mesa cheia, a família toda junta. Então meu avô até, por parte de mãe, era muito disso. A gente acabou herdando esse hábito. Eu gosto muito de comemorar, eu gosto de casa cheia, eu gosto de ter amigos por perto, eu gosto de ter famílias, então qualquer coisa pra gente é um motivo para comemorar. Eu acho que é muito desta herança que eu tive da minha família, que de fato sempre foi muito de se encontrar, de comemorar, de celebrar.
P - Uma parte da família era de Minas e a outra do Rio, como é que foi isso? Você nasceu em Ubá e depois veio para o Rio de Janeiro?
R - A família do meu pai é toda do Rio de Janeiro e a família por parte de mãe, é toda da Zona da Mata mineira, Ubá, Minas Gerais. Então, meus pais se conheceram numa festa que meu pai foi em Minas Gerais, conheceu minha mãe e acabaram casando. Eu tenho uma irmã mais velha. Aí, nisso eles casaram e minha mãe veio morar aqui com o meu pai, no Rio de Janeiro. Então, eu tenho uma parte da família toda aqui e uma parte toda de Minas. Lógico que agora isso pulverizou um pouco, eu tenho família em São Paulo, mas a estrutura, a base, vem desses dois estados. Minha irmã mais velha, já nasceu aqui no Rio de Janeiro, ela é carioca, mas na ocasião minha mãe enfrentou uma série de dificuldades no parto e naquela época, estamos falando de quase quarenta e cinco anos atrás, a medicina hoje avançou muito. Minha mãe teve um problema muito sério, a ponto de quase falecer, então quando ela engravida pela segunda vez, no meu nascimento, o meu avô resolveu, como eu falei, sempre muito patriarcal, trazer a minha mãe pra lá. Falou, assim: “Você vai passar a gestação aqui, eu vou te acompanhar”. Meu vô trabalhava na área da saúde, ele era funcionário da federal, trabalhava. “Aqui eu tenho conhecimento e tal”. Então, nisso eu nasci em Minas Gerais e com 7 dias de vida, a mãe voltou. Aí já não teve nenhum problema, o parto foi tudo bem. Aí, nisso ela volta para o Rio de Janeiro, então eu moro aqui desde os 7 dias de idade. Mas foi só uma transição de fato que o meu avô pediu que ela ficasse por lá, ao lado dele, que ela teria uma assistência maior.
P - Sua irmã, o nome dela, por favor, e data de nascimento?
R - Minha irmã é Renata Moreira Amorim, eu sou péssimo para datas, mas o dela eu lembro, 22 de agosto de 1972. Então, falo que nós somos irmãos e irmãos de fato, a ponto de eu ser padrinho dos dois filhos dela e ela é madrinha dos meus filhos. Então na verdade nós temos uma reunião daquelas de irmãos que se vê, se fala praticamente todo dia, dificilmente a gente fica um final de semana sem se encontrar, nós moramos próximos, inclusive. Então, a gente tem uma relação muito próxima. Minha irmã, quando eu era muito novo ainda, eu acho que isso de certa forma acabou fortalecendo mais os nossos laços, que a minha irmã, quando ela fez 16 anos, foi morar nos Estados Unidos, minha mãe na época até teve que emancipá-la. Foi para os Estados Unidos, ficou lá mais de 10 anos, mas sempre nos falando, aquela época tinha muita dificuldade, na minha casa não tinha telefone, minha mãe teve que comprar um telefone, você tinha que entrar numa fila, levava anos para o telefone… Hoje é tudo muito fácil. Então, durante 10 anos, eu fiquei sem ver a minha irmã, basicamente por carta, por fotografia. Minha irmã retorna ao Brasil. Então, não sei por que, de certa forma isso fortaleceu, ter ficado tanto tempo distante. Então, na ocasião, quando a minha irmã voltou dos Estados Unidos para o Brasil, que aí já com seus 25, 26 anos, ela falou: “Julio, eu já não conheço mais nada aqui, preciso que você more comigo”. Eu já trabalhava fora e tal. Minha irmã veio, ainda morei com ela algum tempo, para ela se estabilizar, voltar a se ambientalizar aqui com o Brasil, com o Rio de Janeiro, mas nossa relação sempre foi muito próxima.
P - Me conta as suas memórias da infância, você morava aonde? Um pouco da casa, da rua, das brincadeiras, por favor, Julio?
R - Na verdade eu falo que a minha infância foi o que hoje dificilmente você encontra, brincando, inclusive, eu tenho, estava falando com alguns deles hoje aqui por mensagem, eu tenho amigos que eu conheço desde que eu nasci, eu tenho uma relação ainda, nós temos amizade. Então, eu morava numa casa em São Gonçalo, numa rua onde eu lembro que as grandes brigas que eu tive com a minha mãe e com o meu pai, era para voltar para comer, porque só queria ficar brincando o dia inteiro de bola, futebol, pipa. E era muito seguro naquela época, então de fato eu curti muito a minha infância. E eu, na mesma época, como eu falei, a minha família era toda de Minas, geralmente eu ia passar as férias de dezembro, ficava 30 dias lá com o meu avô, também nessa mesma energia de futebol, bicicleta. E lá minha família de parte de pai sempre se meteu com roça, com sitio, com fazenda, então a gente ia para o sítio, ia jogar bola, tomar banho de açude, pegar a planta, a fruta no pé. Então na verdade eu tive uma infância de fato muito saudável. Que hoje infelizmente isso não é possível. Eu morava em São Gonçalo, onde minha mãe mora, ele tem uma casa até hoje, hoje ela fica pouco lá, mas que passou por uma mudança completa, hoje é um centro comercial, então as casas que eu costumava, meus amigos moravam, hoje são tudo prédios, galerias, shoppings e tal. Mas falo que eu tive uma infância muito ativa. Lógico, sempre com olhar muito próximo da minha mãe. Eu lembro que estava jogando bola, minha mãe olhava lá para ver quem estava brincando e tal, quem estava ali por perto, ao mesmo tempo que ela me deixava brincar ali, curtir minha amizade, futebol e tal, ela sempre olhava muito de perto quem eram as amizades, com quem eu estava, onde eu estava. Então, eu tive uma infância muito saudável.
P - E a dinâmica da casa, da sua irmã, dos seus pais, como é que era? Qual escola vocês frequentavam, por favor?
R - Nessa casa, era uma casa de dois quartos, eu lembro que acho que até isso fortaleceu um pouquinho os laços. Eu e minha irmã tínhamos o mesmo quarto, era uma cama para cada. Hoje a casa passou por uma transformação, minha mãe aumentou, mas na ocasião era um quarto para nós dois. Eu sempre tive uma possibilidade e não era fácil também, porque eu nunca fui fácil, então a relação, eu falo que hoje é tudo muito próximo, muito harmonioso, mas na infância não era tanto. Minha irmã já era mais velha que eu, queria ter um espaço dela e eu muito implicante, a gente acabava discutindo bastante, mas coisas de irmãos, que dava meia hora e a gente já estava se falando novamente. Nós estudamos no mesmo colégio, chamava Externato João Caetano, que funciona até hoje, ele está até hoje lá o colégio, ele aumentou, cresceu bastante. Que a minha mãe era amiga de infância da dona, proprietária do colégio, que inclusive, hoje é tocado pela filha. Então, a minha mãe era amiga, desde que nasceu, da dona do colégio, então isso pra mim era uma cobrança a mais, porque era quase igual a WhatsApp, eu fazia alguma coisa no outro dia minha mãe… que ela passava em frente a casa da minha mãe. Então, por algumas vezes eu fui para casa com a diretora do colégio. Ela: “Tô indo embora. Você me espera um pouquinho que eu vou te levar, quero conversar com a sua mãe”. “Pronto, lá vem! ”. Então, o colégio está lá até hoje. Minha irmã estudou lá, até na ocasião chamava Segundo grau. E dali minha irmã foi fazer, ela fez a UFF, fez Odontologia. O colégio está lá até hoje, cada um seguiu meio que o seu caminho. Depois minha irmã fez Turismo. Mas lembro também perfeitamente da escola. Inclusive, o meu filho mais velho, que hoje está seguindo a vida dele, meu filho vai fazer 21 anos, meu filho é Cadete do Ar (EPCAR), já não mora mais comigo. Ele também, nos primeiros anos, estudou naquela mesma escola. E sei lá, quase uns 20 anos atrás, é legal que quando eu entrei no colégio tinha um quadro lá, que eles fizeram uma espécie de Museu da Pessoa lá, então tinham fotos de alunos de todos os anos e quando eu entrei, a minha professora, que chamava de alfabetização, foi ser professora do meu filho. Ela: “Vem cá que eu vou te mostrar uma coisa”. Tinha uma foto minha lá que eles guardaram e a minha professora, passado vários anos, foi ser professora do meu filho. Então, tinha uma memória importante da minha vida também. É isso, meu filho estudou ali algum tempo e tal. Acabou indo para outro colégio, nós nos mudamos.
P - Em relação a vida familiar dos quatro, como era um pouco essa rotina, seu pai trabalhava no estaleiro aqui de Niterói? Como é que era? Vocês viviam muito em São Gonçalo, vinham em Niterói, iam para o Rio? Como era isso?
R - Meu pai sempre trabalhou muito, então a minha criação, acho que quem deu o tom ali no dia a dia, foi minha mãe. Meu pai saía muito cedo, por volta de cinco da manhã, que acho que pegava o ônibus, já trabalhou no Rio, Niterói e em diversos estaleiros, e voltava muito tarde, que naquela época tinha uma coisa que era fazer serão, que era um termo muito conhecido, que hoje é a hora extra. “Seu pai está fazendo serão”. Meu pai, então sempre trabalhou muito, se dedicou para a gente poder estudar, a vida nunca foi fácil. Para poder estudar num colégio melhor e tal. Então, normalmente eu via os meus pais no final de semana. Ele saía muito cedo e chegava bem tarde. A gente tinha um hábito de esperá-lo para jantar, ele jantava, tomava um banho, quando dava nove, dez horas, já estava indo dormir, porque no outro dia acordava muito cedo. E como eu falei, meu pai era nos finais de semana. E eu lembro de uma, talvez vocês conhecem, chamava Pizzaria Capital, meu pai não tinha carro na época. Meu pai: “Vamos fazer um evento lá”. Nosso evento de final de semana com o meu pai sempre foi tudo muito simples, mas muito prazeroso. Eu lembro que nós, o passeio dos sábados que eu lembro perfeitamente, tinha uma loja em Niterói há muito tempo atrás, chamada Sandiz. Olha quanto tempo tem isso. Nós íamos na Sandiz comprar algumas coisas e tal e depois nós tínhamos o roteiro de passar na Pizzaria Capital, que era pizza na época muito famosa e voltar para casa. Também já aconteceu, por exemplo, do meu pai. “Vamos fazer um passeio de barco". Como eu falei, tudo muito simples, mas com muita dignidade, fazendo de um evento simples, pra gente um grande evento, com muito amor e tal. Por exemplo, o passeio de barco era ir na Praça XV, passear na Praça XV dia de sábado, comer, lanchar e voltar. Era o meu passeio de barco com o meu pai. Então, os momentos eram assim, muito prazerosos. Meu pai viajava pouco, então geralmente eu viajava sozinho, passava as férias na casa do meu avô, que meu pai sempre trabalhava muito, seja na indústria Naval, como também trabalhava em serviços particulares. Meu pai sempre trabalhou muito com parte de metalurgia, então surgia trabalhos em outros locais, nas férias dele, ele acabava não tirando férias, ele trabalhava praticamente o ano todo.
P - Em relação à juventude, quais são as suas memórias, como que era roupa, música, festinhas, bailes, como é que era um pouco isso?
R - Como eu falei, eu sempre fui muito ligado aos amigos, então passei de tudo um pouco. Roupa, era uma que também pra gente era evento, eu lembro que quando nós íamos comprar roupa, meu pai, também sempre muito participativo, vinha no centro de Niterói fazer as compras. Nesse momento, até uma faixa etária de quatro anos de diferença, eu e minha irmã, nós tínhamos atos diferentes, eu tinha, sei lá, 8, minha irmã já tinha 12, tinha as amizades dela e tal.
P - Faz muita diferença nesse momento.
R - Nesse momento, sim. Depois de certo momento, isso termina. Mas naquela fase ainda de 7, 8, 10 anos, eu com 10 anos, ela com 14, quando ela já começava a querer se arrumar para sair, eu ainda tava brincando, pensando em bola, bicicleta. Então, nós tínhamos círculos de amizades diferentes. Mas, como eu falei, sempre, por exemplo, tenho amigos que meus pais foram amigos dos pais deles, desde que nasceram, então eu tenho alguns exemplos como esse. Minha mãe foi amiga, nasceu, adolescência, se casaram, os filhos nasceram e hoje nós somos amigos e hoje o meu filho conhece, mas não são amigos, porque a vida acabou… Mas que a gente faz questão de preservar essa identidade. Cultiva, eu acho legal falar, que eu falo assim, “ó, irmão você ganha, amigo você escolhe”. Então, eu falo com ele: “cultive as suas amizades, assim como a relação com teu irmão”. Eu falo: “você tem também uma irmandade com o seu amigo. E quando eu falo irmandade, assim como você briga com o seu irmão, irmão mais velho, chama atenção, você tem que fazer isso com amigo também”, e isso é amizade, a amizade não só são momento bons. Agora festinha, antigamente tinha… Tô dizendo muita coisa, tô ficando velho. Festinha americana, que na minha época cada um levava alguma coisa e tal e vamos fazer a festinha americana. Então, aquela molecada, aí já foi na minha casa, já foi na casa de amigo, então eu sempre fui muito ligado a amizade, sempre fui próximo dos meus amigos.
P - Que música vocês ouviam? Dançavam?
R - Eu nunca fui de dançar, não. Mas assim, música, na verdade eu fui… e eu gosto até hoje, eu fui contaminado na parte boa da palavra, pelo samba. Porque na minha região, o pessoal gostava muito de samba, tinha aquelas rodas de samba e tal. Então, eu lembro, com cinco anos já saindo no bloco da minha rua que tinha. E começou assim a minha… tinha um bloco, aí o pessoal eu posso guardar… E a concentração era meio que quase na frente da minha casa, aí o pessoal. “Pô, posso deixar aqui os instrumentos, que a gente vai sair amanhã e tal”. Aí a minha mãe: “Não, pode deixar aí na varanda, é fechada, ninguém vai mexer não”. Eu me lembro que foi um parque de diversões assim, eu conhecendo aquele negócio, batendo. Eu lembro que eu fiquei tão, que minha mãe falou assim: “Júlio, são meia-noite”. Eu mexendo, olhando e minha mãe foi deixando. Eu lembro que quando foi no outro dia. O cara: “Dá um negócio pra ele aqui, pra ele fazer baile com a gente”. Aí eu, com 5, 6 anos, daí eu fui. Então, eu sempre fui criado no samba, sempre… Roda de samba do Rio, eu acho que eu conheço todas aí, já fui Cacique de Ramos, Candongueiro, Bairro Beltrão aqui, então eu sempre fui muito ligado. Hoje eu tô pouco assim, mas ainda gosto bastante de um bom samba, coisa mais antiga, um bom samba, de um chorinho. Então, eu conheço o Zé da Velha do chorinho, eu curto bastante isso. Mas a minha infância assim foi criada, eu acho que predominantemente pelo samba.
P - Julio, havia uma expectativa diferente dos seus pais, em termos de trajetória profissional, entre você e sua irmã, pelo fato dela ser menina e você menino. Havia uma cobrança maior deles em relação a você por ser menino, de estudo, de trabalho? Se falava sobre os anseios profissionais?
R - Sim! Como eu falei, a minha irmã sempre foi muito inteligente, muito, sempre foi o destaque, passou em cinco universidades federais, escolheu a que ela queria estudar. Então, isso, embora nunca tenha sido falado expressamente, mas era perceptível, a preocupação era sempre muito mais comigo, porque eu sempre fui o arteiro da história aí. Enquanto a minha irmã adorava estudar, minha irmã sempre foi dedicadíssima, os cadernos sempre muito organizados. Eu era o cara que estudava para passar e quando saía de férias comemorava. Estava muito mais preocupado na minha infância em jogar bola e bicicleta. Minha irmã, mesmo de férias, tinha aquela rotina, minha irmã sempre foi muito estudiosa. Então, acho que naturalmente meus pais tinham expectativas assim: “Essa aqui já está encaminhada, temos que acertar agora o Julio”. Não que eu tenha sido um mau aluno, mas assim, que eu estava preocupado com os meus estudos, com os meus 10, 12 anos, longe disso. Estava preocupado em brincar. Então, naturalmente o meu pai, na verdade incentivava minha irmã e apoiava. Eu lembro que minha irmã foi fazer universidade, ela fez UFF, fez UFJF, meu pai sempre indo para acompanhar, para estar próximo e tal. E comigo era mais cobrança, com a minha irmã era mais incentivo. Então, a minha irmã foi, começou a universidade, aqui na UFF, escolheu a UFF, por ser mais próximo de casa, por ser uma instituição também. Quando ela acabou não concluindo a Odontologia, aí que entra os Estados Unidos na vida dela. Nesse momento eu perco meu pai, assim que ela entra, primeiro, segundo período da Odontologia, a gente perde meu pai, perde a referência paterna ali, o cara que dava as direções, cobrava, incentivava. E minha irmã falou assim: “Não, eu vou morar nos Estados Unidos”. Minha irmã fazia inglês, nessa época acho que já era até formada em inglês aqui, num curso. A minha irmã foi estudar idiomas nos Estados Unidos. Então, ela fez lá uma série de cursos e tal e seguiu nessa vida. Inclusive, ela hoje, segue profissionalmente nessa carreira de idiomas. Mas a minha irmã sempre foi muito mais sendo motivada e eu muito mais sendo cobrado, porque eu era o cara que eu tinha anotação no caderno, era o que já briguei em colégio. Então, meu pai comigo era mais rígido com estudo, ele tinha que me cobrar. Tem uma história que eu lembro perfeitamente que veio uma anotação uma vez, tabuada de sete, tem que estudar tabuada do sete. Meu pai falou: “Ó, eu quero que você engula a tabuada do sete, coloca na cabeça, que quando eu chegar, eu não quero você titubeando para me responder, quero você afiado na tabuada do sete”. Cara, eu lembro que eu fiquei estudando o dia inteiro, eu fiquei onde eu estava, pensando nesse troço. Ele chegou do trabalho, eu já pronto, aqui, falei, agora ele vai…”. Não falou nada! Aí, eu falei: “Cara! Vai tomar banho, vamos jantar! ”. Eu falei: “Não vai me perguntar a tabuada? Estudei o dia inteiro à toa”. Eu lembro que quando ele ia sentar. “Sete vezes cinco? ”, na mesa de jantar, “Sete vezes cinco? Sete vezes sete? Sete vezes nove? ”. Aí ele parava assim: “Vamos ver a televisão um pouquinho agora. Sete vezes oito? ”. Ele fazia perguntas assim, ele não teve aquele momento e tal. Então, do nada, do nada, ele conversando: “Como foi o seu dia hoje? Você estudou e tal? Sete vezes nove? ”. Aí, no meio da conversa, a mesma pergunta, que era pra de fato ver se eu tinha estudado. Meu pai sempre foi muito rigoroso. E eu tenho um episódio com ele, que todo mundo na minha casa sabe dessa história, meus filhos, quando eu falo: “Ah, pai, já sei essa história...! ”, que eu tenho muita essa coisa comigo, que é não deixar comida, não largar comida, pelo amor de Deus! Meu pai sempre… Eu lembro de um filme antigo que as crianças botavam os ossos, os pais ficavam bebendo aquela água. Meu pai: “Olha aí, tem que dar comida”. Meu pai sempre, aquela questão muito… Eu garotão, era moleque ainda e tal. E você sabe quanto seu filho come. E eu tinha aquela loucura que era comer arroz, feijão, batata frita e bife à milanesa. Aí eu lembro que um domingo, mesa pronta e minha mãe começou, minha mãe sabe quanto que eu comia: “Não, bota mais, bota mais! ”. Minha mãe: “Não, acabou você pega mais”. Meu pai: “Não, deixa ele comer”. E eu fiz um prato, minha mãe viu aquilo, certamente que eu ia não ia comer aquilo. Aí meu pai: “Não, deixa ele comer”. Ai minha mãe…. Quando chegou no meio do prato. “Não vai dar! Não vai dar e agora o que é que eu faço? ”. Aí eu lembro que eu dei aquela empurradinha no meu prato assim. “Não quero mais, não! ”. Meu pai: “Você não quer mais, não?”. “Não, não quero mais, pai. Estou cheio!”. Ele: “Não, tudo bem! Pode ir lá brincar”. Está muito fácil. “Posso?”. “Pode!”. Pegou um outro prato, uma tampa, ele tampou. “Não, pode ir lá brincar”. “Tá bom!”. Sai meio desconfiado. E lá em casa nós tínhamos o hábito de que domingo à noite era o dia da pizza, o único dia que nós não jantamos assim, arroz, feijão. Era todo domingo, ou quase sempre, tradicionalmente, era pizza. Que meu pai, quando ele vinha da rua com a pizza, eu estava brincando e meu pai nunca tolerou a gente comer sujo, então quando ele vinha com a pizza, eu já ia pra casa tomar banho, não sei o que, pra comer a pizza. “Você está com fome?”. “Morrendo de fome”. “Você vai comer a pizza?”. “Vou comer a pizza”. “Está com muita fome?”. “Com muita fome!” Ele foi na geladeira, pegou o prato gelado: “Você está com muita fome, primeiro você pode comer, depois você vai comer a pizza inteira. Agora você vai comer o resto do seu almoço. E não me fala que você está sem fome, que você acabou de me falar, agora você vai comer!”. Naquela hora, comida gelada. Minha mãe… “Não, não, ele vai comer. Agora você vai comer! Se não, você vai apanhar”. Eu lembro que eu comendo aquela comida gelada e tal. “Sabe por que você vai comer gelado? Pra você nunca mais esquecer de não largar comida no prato. Você podia ter comido tudo. Come. Quer mais?”. Ele me deu uma lição de moral. E eu comendo. Eu não sei quem me irritava mais, se era aquela comida gelada, ou ele falando: “Você só levanta da mesa quando comer tudo. Agora você vai comer! Se você não comer, vai ser à força. Tu escolhe como você vai querer comer agora”. E aquilo foi forte pra mim. Foi um momento assim, “ó, não larga comida, cara. Você pode comer o quanto você quiser”. Então, sempre preguei isso com os meus filhos de não largar a comida. Então o meu filho mais novo, você acaba relaxando um pouquinho. Mas o mais velho, eu consegui isso e meu filho mais velho come de tudo que você imaginar e tal. Mas o mais novo já é mais enjoado para comer. Acho que deu uma abobada.
P - Nunca esqueceu.
R - Nunca, nunca! Inclusive eu tenho que voltar a fazer isso, meu filho… Lembro que uma vez o mais velho…
P - Qual é o nome dos filhos?
R - Eu tenho o mais velho que é o Lucas, Lucas Bezerra de Amorim, que eu falei que ele saiu de casa com 17 anos, vai fazer 21 agora. Meu filho passou no curso de cadete do ar, EPCAR. E tem o Davi Bezerra Amorim, que vai fazer 13. Eu lembro que uma das únicas vezes que meu filho, ele devia ter uns 10 anos, mais de 10 anos atrás, a gente sempre compra um pouquinho de presunto, porque presunto de dois dias, eu acho que não fica a mesma coisa, então sempre compra pouco, prefiro comprar sempre, mas ter uma coisa mais fresca. Aí ele falou: “Quero fazer um misto quente”. E não tinha presunto. Ele: “Pô, nunca tem presunto”. Aí, eu: “Ué, tá reclamando que não tem? Cansa de estragar aí que não come". Aí um amigo meu, tem trabalho social, até mora hoje no Rio Grande do Norte: “Cara, você vai ter? Esse final de semana vou para um orfanato”. “Vou com vocês, então". Aí, levei meu filho, era um orfanato em Vieira das Pedras, em Itaboraí, crianças órfãs, abandonadas e tal. Meu filho foi lá, comeu com eles no pratinho. Eu falei: “Você está reclamando, você vai ver o que é dificuldade agora, você vai comigo". Minha esposa foi, meu mais novo nem era nascido. Falei assim: “Você está reclamando de barriga cheia, você vai conhecer a realidade de muita gente que você não conhece". Eu lembro que ele comeu e comeu junto com as crianças, a mesma comida. Eu gosto de mexer muito no psicológico. Eu nunca bati no meu filho, meu pai nunca me bateu, eu nunca bati, nunca dei um beliscão no meu filho, mas sempre gostei dessa questão de… Cara, quando você for reclamar lembra do que você viu lá atrás. Ou seja, isso tudo vem lá de trás, quando meu pai falou assim: “não larga comida”.
P - Julio, na escola você tinha alguma área de interesse? Como é que foi surgindo a vida profissional? Depois que o seu pai faleceu você precisou trabalhar? Como é que foi o primeiro emprego e depois os interesses de estudos?
R - Bom, como eu falei, eu perdi o meu pai com 12 anos e minha vida mudou completamente, eu saio de um colégio particular, pra uma escola pública, eu fazia meu judô, meu Jiu-jítsu, que minha mãe falou: “Ó, vai ter que parar". Minha mãe não trabalhava, então minha vida deu uma guinada. Foi naquele momento ali com 12, 13, 14 anos, eu lembro que o meu tio, falou assim: “Vou levar você pra trabalhar comigo", que era irmão do meu pai. Meu tio, inclusive, tem um papel muito importante na minha vida, porque… Eu tinha dois tios que eram irmãos do meu pai, era o Wilson e Valdecir, os dois também são falecidos hoje. Lembro que uma vez até, era o primeiro dia dos pais sem o meu pai e minha mãe me deu uma… Eu acho que foi a única vez que eu vi o meu tio chorar. Minha mãe comprou, sei lá, uma caixinha de bombom de Dia dos Pais, como eu não tinha um pai, ela falou: “Vai lá dá para os seus dois tios, que são seus segundo pais". Eu lembro que eu dei para um deles e acho que o meu tio lembrou do meu pai e tal, que eram muito próximos, muito amigos, era um ano de diferença um do outro. Meu tio chorou assim, copiosamente e tal. Mas aí, meu tio também trabalhava nessa parte de petróleo e gás, metalurgia. Meu tio começou a trabalhar com lanchonetes, com restaurantes, ele começou a comprar e ficou até quando faleceu trabalhando nesse ramo, depois se aposentou. Aí, com 14 anos eu fui trabalhar com o meu tio. Meu tio falou assim: “Você vai trabalhar comigo". Então, eu estudava de manhã, à tarde o meu tio me pegava lá, eu ficava no bar e tal. Depois eu tinha que estudar à tarde. Meu tio falou: “Não, agora você vai ter que mudar". Pra ter minha grana, pra ajudar minha mãe. Eu lembro que eu ia de manhã. “Você vai chegar, vai limpar o bar". Cheguei a trabalhar na Galeria Paz aqui em Niterói, que existe até hoje, é muito famosa aqui em Niterói. Meu tio falava: “Você vai limpar aqui". Eu lembro que tinha que colocar os cigarros no negocinho. “Você vai colocar os refrigerantes para gelar, vai limpar o banheiro. Aí você sai daqui, almoça e vai para o colégio". Então, eu começo a trabalhar com 14 anos e não parei. Oficialmente, eu comecei com os meus 18, que aí minha carreira nasce. Com 14 eu trabalhava com o meu tio, pra ter minha grana, pra ajudar… Naquela época eu falei assim… O falecimento do meu pai me fez ter um amadurecimento precoce, então de fato era quase para me sustentasse assim, eu com 14 anos, eu comprava os meus cadernos, as minhas coisas eu comprava e eu ajudava minha mãe, inclusive. Que minha mãe nunca quis, mas não tinha jeito, eu tinha que ajudar. Minha irmã ajudava, morava no exterior, ajudava minha mãe. E minha mãe falava: “Se você já conseguir ter o seu dinheiro para o teu lanche, para tua passagem", que nessa época eu estudava aqui em Niterói, “você já está me ajudando". Então, eu trabalhava meio que para me sustentar nos meus estudos. E foi assim dos 14 até os 18 anos, que com 18 anos, aí eu lembro que tinha um amigo meu, o pai dele falou assim: “Você tem que trabalhar com carteira assinada, você tem que trabalhar em empresa e tal, para você ter sua aposentadoria". Antigamente isso tinha muito… Ainda tem, mas no passado acho que era até mais forte isso. Aí nisso a minha mãe já casou novamente, perdi meu pai com doze, com meus 18 minha mãe… eu tive um padrasto. E ele falou assim: “Pô Julio, eu trabalhei numa empresa muito tradicional, que chamava Montreal Engenharia". Aí começa a minha relação com a Ponte Rio-Niterói, “eu vou te levar lá que eu conheço bastante gente lá ainda e tal". E com 18 anos eu comecei a trabalhar como office boy na Montreal Engenharia. E por que começa a minha história com a Ponte? Porque a Montreal Engenharia, foi uma das empresas que participaram do consórcio construtor. Então, ela tinha a sala Ponte Rio-Niterói, inclusive. Era ali em Laranjeiras, rua Pinheiro Machado, 22.
P - Na CCR?
R - Não tinha relação com a CCR, ali eu tinha a Montreal Engenharia e a Internacional Engenharia S/A, que eram duas empresas que trabalhavam no consórcio construtor. Fui trabalhar ali na Rua das Laranjeiras com Pinheiro Machado, Pinheiro Machado, 22, trabalhei durante muitos anos. Só que aí, eu com 18, 19, a empresa saiu dali e foi para o centro do Rio, Praça Pio X, 17. Aí eu com os meus 23 anos, 22, 23 anos, preciso fazer a minha faculdade. E não estava conseguindo conciliar estudar em Laranjeiras, depois no centro do Rio e estudar em Niterói. Aí eu falei: “olha, eu preciso trabalhar em Niterói”. E até então, eu não tinha nenhuma correlação, a minha vinda para a Ponte, a então Ponte S.A, na verdade eu trabalhava numa empresa, então passava na Ponte todos os dias.
P - Você ia pela Ponte?
R - Sempre fui pela Ponte, sempre. Porque para mim…
P - De transporte público, de carro?
R - Público, público, sempre fui de transporte público, eu pegava um ônibus até o centro do Rio, Central do Brasil, na Central do Brasil tinha um ônibus que chamava 184. Aí eu pegava o 184 que era Central do Brasil-Laranjeiras. Então, sempre fui de ônibus. Depois passou a ter ônibus direto, São Gonçalo, que na verdade era o Botafogo, que pegava Santa Bárbara, passava pela Rua das Laranjeiras, descia ali em frente ao Fluminense e voltava andando. Então, ali sempre foi aquela minha relação passando na Ponte diariamente, raras exceções eu ia de barco, quando tinha um acidente muito…
P - Por que a opção da Ponte?
R - Porque pra mim era mais prático, pra mim pegava o ônibus na porta de casa e descia na porta do trabalho, porque se não eu teria que pegar um ônibus do Centro de Niterói, pegar a barca, descer na Praça XV, andar. Então, pra mim acabava sendo… como ia muito cedo, sempre gostei de chegar cedo, eu pegava a Ponte vazia, então para mim era muito mais prático.
P - Quanto tempo demorava pra chegar, você lembra?
R - Olha, umas duas horas pelo menos, pelo menos duas horas, de São Gonçalo. Pelo menos aí uma hora até eu chegar, uma hora, talvez um pouco mais, até chegar na Central do Brasil, depois tinha que andar, atravessar, pegar ônibus, uma meia hora. Em condições normais, acho que umas duas horas. Então, ali naquela ocasião eu falei: “eu preciso trabalhar em Niterói”. Aí minha irmã tinha um amigo dela que trabalhou aqui, aliás, foi esse meu primeiro coordenador, ele falou: “Manda ele me procurar lá". Aí na época eu vim trabalhar aqui para ficar mais próximo da minha universidade. E aí começa a minha relação com a Ponte Rio-Niterói.
P - A opção da universidade, que curso você foi fazer, qual foi a universidade que você cursou? E o nome dessa pessoa?
R - O nome dele era José Alberto (Berenguer) Galo, mas conhecido aqui como Galo, brabíssimo. Ele era coordenador de pedágio. Então, eu vim para cá. E uma empresa basicamente de Engenheiros, eu falei: “cara, eu não quero ser engenheiro”. Eu sempre tive o sonho de ser advogado, o meu sonho na ocasião. “Quero ser advogado da Ponte". Meu sonho era esse!
P - Por que?
R - Porque eu tinha um sonho de ser advogado, sempre tive. E eu adorava o que eu fazia, que era trabalhar na Ponte Rio-Niterói. Inclusive, esse final de semana eu tive uma grata surpresa nas redes sociais, uma pessoa fez aniversário, um colaborador nosso, tudo da Ponte, cor, logo, botou nome, maneiríssimo. Inclusive, eu quero conhecê-lo. Aí eu falei: “é um jeito de realizar um sonho que eu tinha, é uma empresa que eu gosto”. Falei: “cara, eu vou juntar esses dois aqui”. Aí eu lembro que na primeira conversa ele: “Pô, tu vai fazer Direito? Você tá aqui, todo mundo é…”, ele meio que surpreso. Eu falei: “Cara, eu não quero ser um profissional frustrado”. “Pô, mas você vai abrir mão disso daqui?”. “Quem falou que eu preciso abrir mão disso daqui? Eu posso continuar aqui sendo advogado, trabalhando no jurídico". Ele: “Não, cara. Faz Engenharia, tranca esse troço". “Não, eu vou fazer Direito. Eu tenho que seguir meu sonho". Aí ele: “Pô, você tem certeza?”. Aí ele me entendeu. Aí fui estudar Direito na ocasião aqui na Plínio Leite, Universidade Plínio Leite, que hoje é a Anhanguera. Aí eu estudei, fui fazer Plinio Leite, fiz Direito, depois fiz algumas especializações, em outras instituições. Minha carreira saiu da advocacia, na verdade ela entrou e entrou na parte executiva. Então, aqui eu comecei a me dedicar muito, sempre quis ser o melhor… Eu tinha uma cobrança, porque aí eu fiquei naquele momento assim, eu falei assim: “cara”, aí, voltando um pouquinho, minha mãe teve que trabalhar na rua, minha mãe foi trabalhar em comércio, minha mãe eu lembro que trabalhava numa loja, na hora do almoço ela corria em casa para fazer comida me colocar no colégio e voltava. Aquele negócio, eu falei: “cara, não, eu não tenho…” Aí, dali eu falo: “perdi meu pai, eu não tenho direito de magoar minha mãe, eu não eu não tenho esse direito, por tudo que ela está fazendo”. Então, dali de fato, eu falei assim: “não, cara, eu vou seguir meu sonho. Minha mãe está trabalhando, corre, vem pra casa pra fazer comida, volta, às vezes fica sem almoçar”. Se eu falar que eu passei dificuldade, eu vou estar mentindo. Minha mãe sempre conseguiu, do jeito dela, mas minha vida nunca foi fácil. Minha vida desmoronou, quando meu pai faleceu. Então, falei: “não, eu vou seguir meu sonho, eu vou ser”, sempre falei assim “vou ser o orgulho da minha mãe”. Minha irmã seguindo a carreira dela e tal. Bom, que ele acabou unindo mais a família. Então, falei: “não, eu vou fazer Direito, vou ser advogado e tal”.
P - Alguma disciplina que você gostava mais? Algum professor que tenha te marcado?
R - Muitos, cara. Assim, eu comecei a falar muito aquela questão do Direito criminal, do Direito penal e depois eu acabei tendo uma identificação com Direito do trabalho. E o mundo do Direito foi sempre uma coisa que eu gostei muito, eu sempre estudei com promotores, juízes, policiais federais, aquela coisa da área criminal. No início da minha carreira, no meu curso, aquilo me encantou, mas depois eu falei: “não, não é isso que eu quero! ” Minha mãe ficava preocupada. “Você vai trabalhar com Direito criminal? ”. “Não, mãe, mas é super tranquilo". Mas aí a minha carreira aqui começou a tomar forma, eu comecei a me dedicar e voltando, eu falei, assim: “pô, eu quero ser…” Aí eu falei, “só tem um jeito de eu crescer aqui, eu vou ter que ser melhor em tudo”. Então, a minha vida sempre foi muito, um desafio constante. Então, eu quero ser o Arrecadador, que eu comecei aqui como Auxiliar de pista.
P - Conta o que é ser um Auxiliar de Pista?
R - Auxiliar de pista, quando você passa no pedágio, fica uma equipe aqui na retaguarda, quando o veículo quebra ele vai lá tira da fila, precisa de alguma orientação. É dando apoio ali próximo ao pedágio. Entra um veículo naquela via expressa, chama de Via Fácil, se o aparelho varia, ele atende, tem algum com problema mecânico, você vai lá dar o primeiro atendimento para chamar um guincho. Alguém pediu informação… Você fica ali, é meio que um faz tudo no pedágio. Aí eu fui então promovido. Aí tinha o funcionário do mês, no meu turno eu fui oito meses seguidos, eu ganhava o prêmio que eles davam, eu ganhei oito meses seguidos. Fui ser arrecadador, eu falei, “eu quero ser o melhor Arrecadador. Qual é o melhor Arrecadador aí?”, sentava, “não, eu quero saber, quanto ele arrecada, quanto que dá de diferença, essa vai ser a minha meta”. Então sempre quis ser o melhor. Sempre me cobrei muito. E dali eu fui promovido, a minha carreira começou a seguir, eu comecei a me desenvolver de fato aqui, e entender o que era. Eu lembro desse meu coordenador… Eu era um Arrecadador e tinha uma vaga, que nós tínhamos uma outra sede, que era ali na Padre Leandro, ali no Fonseca. Aliás, a sede da empresa era lá, aqui era só uma parte operacional, que a sede que nós estamos aqui agora, não existia, ela foi construída após, aqui era só a parte operacional. A sede administrativa ficava na Padre Leandro, ali no Ponto Cem Réis.
P - A sua carteira de trabalho quando foi assinada aqui pela primeira vez era como?
R - Auxiliar de Pista. O primeiro registro aqui.
P - E qual foi a data?
R - Na carteira julho de 2000. Depois eu fiquei um tempinho como terceirizado, mas na minha carteira, julho de 2000. Na época o Galo, que era meu coordenador, na época, ele: “Surgiu uma oportunidade lá na Onda Livre, trabalhar no Call Center". Eu sempre fui muito dinâmico ali e tal. “Vai lá que tem vaga pra você, você vai ganhar um pouquinho mais, não sei o quê". Meio que, ‘vai lá’!
P - Como Arrecadador, por quanto tempo você trabalhou nessa função?
R - Como Arrecadador, cobrando ali, trabalhei na cabine. Entre a Praça de Pedágio ali eu fiquei uns 2 anos, entre auxiliar de pista.
P - Não tinha tanta tecnologia?
R - Cobrança. Lógico que você tem algumas dicas de deixar o troco pré-pronto. “Deixa o troco de 10". Porque é aquela coisa de cobrar rápido. Já fazia os troquinhos assim para 10, como se fosse hoje, para 20, 50. O cara vinha com o troco ali, eu já pegava aquilo ali, dava na mão dele, era um segundo. E quando ele saia com o carro, eu já colocava outro no lugar. Eu não fazia o troco na hora, eu deixava o troco, por exemplo, 5, 10, 20, 50, na bancada ali, se vinha com 5, eu já pegava com uma mão, dava com a outra pra ele, meio que… Enquanto ele estava saindo, eu ia lá, repunha aquele troco e ficava esperando, que eu queria ser o mais rápido. Isso aí foi coisa que eu acabei desenvolvendo.
P - Em termos de tecnologia, o papelzinho do pedágio não é o que é hoje, né?
R - Não, não tinha nada! Hoje para você ter uma ideia, a menor parte se paga em dinheiro. Se você pegar as tags, que é o Via Fácil, aquele pagamento automático, mas quem paga com cartão, aproximação, dá mais de 70%. Na minha época 90% era dinheiro, hoje não é 30%. Então, hoje na verdade, os meios eletrônicos estão muito mais presentes, seja com aparelho, seja com… Você paga com relógio, você paga o pedágio, você paga com celular, você paga com o seu cartão com aproximação. Então, na ocasião não tinha isso, era 90% era… Aliás, esse pedágio automático começou aqui em 2000, em 1995, num projeto que chamava “Onda Livre” isso que é hoje. Porque a Ponte foi a primeira concessão, então lá atrás foi desenvolvido uma forma de pagamento automático, que era… Aí, volta a minha história com Onda Livre, do tag, de ter a cobrança, de você registrar e pagar por mês, aquela coisa toda e tal. E dali, hoje é um produto que é consolidado no mercado, no Brasil inteiro tem. E na época eu fui trabalhar no Onda Livre, eu lembro que eu era consultor de cobrança, a pessoa ficou 30 dias, não pagou, você tem que ficar ligando. Eu fiquei lá uma semana, fui super bem recebido. Aí eu lembro que eu liguei para ele. “Oi, chefe. Tudo bem? ”. “Fala ai, cara, o que que houve? ”. “Eu vou sair daqui a duas horas, posso passar aí para a gente bater um papo? ”. Ele: “Pode, vem aí! O que houve? ”. Eu falei: “Nada não, nada não! Deixa que a gente conversa". Era por ramal. Aí eu vim aqui, tal. Ele: “O que que houve, cara?”. Eu falei: “Eu não sei se eu estou fazendo a coisa certa não". Ele: “O que foi? ”. “Eu quero voltar para o pedágio". Ele: “O que? ”. Eu tinha, sei lá, 10, 15 dias. “Cara, eu gosto disso daqui eu gosto desse negócio, esse coração batendo aqui…”. Eu lembro que eu acordava, era tudo no papel ainda, eu recebi umas 30 folhas, cada folha com uns 30 nomes, eu tinha que colocar na ficha ali, consegui contato, não consegui, o que que ele falou, aquilo ali ia para uma outra pessoa digitar, colocar no sistema, aí quando chegava aquele bolo de papel de manhã. Eu falava: “meu Deus do Céu, o que eu estou fazendo aqui?” Aquele silêncio, não podia falar alto.
P - Queria a pista.
R - Queria a bagunça. A bagunça no sentido bom. Eu falei: “eu quero voltar para o pedágio, eu gosto disso daqui”. E na época eu treinava para ser Controlador, aquela que fica ali no rádio, olhando as câmeras. Eu estava quase sendo. “Não, mas você estava ali cobrindo férias, não tinha nada certo". “Não, mas eu prefiro esperar a minha oportunidade, eu quero voltar". “Pô, você…”. Ele falou um monte no meu ouvido. “Se você falar que não tem jeito, não tem jeito, eu não vou sair não, mas eu quero voltar para cá". “Tá, deixa eu ver". Aí ele me trouxe de volta. Uns meses depois eu fui promovido para Controlador, que eu gostava daquilo ali. Ficar atendendo rádio, olhando câmera.
P - Mas lá em cima aquele solzão, aquele céu.
R - “Pô, lá você vai trabalhar de segunda a sexta, que lá é administrativo, trabalha de segunda a sexta, você não vai trabalhar sábado, domingo e feriado". “Não tem problema! Isso pra mim não é problema não. Prefiro trabalhar aqui, que eu gosto disso aqui". E a sala dele era aqui. Falei: “cara, eu gosto disso aqui”.
P - Controlador trabalhava lá na Ponte mesmo?
R - Era aqui, era um prédio aqui ao lado. Toda parte operacional sempre foi aqui. E essa era uma parte operacional, parte administrativa, nós tínhamos a sede administrativa.
P - Como eram essas ascensões, dessas passagens de um emprego para o outro? Havia dentro da empresa essa política, havia essas possibilidades?
R - Isso desde sempre. A empresa sempre foi muito preocupada em dar oportunidade para o colaborador. Sempre teve muito isso, então quando abria uma oportunidade, e é assim até hoje, é uma coisa que eu cultivo. “Cara, tem alguém no time capacitado, por mérito, que possa usar?”. Então a gente só vai para o mercado se eu esgotar aqui a pesquisa e não tiver ninguém. Normalmente a gente consegue. Então, sempre teve isso. Então, isso sempre me motivou. Porque eu olhava para o meu líder, ele já tinha sido Arrecadador, olhava para o meu gerente, já tinha sido Supervisor. Então, conseguia olhar naquilo ali, “cara, eu posso chegar lá!”. E meu sonho, na época, era ser Gerente Operacional da Ponte. Depois, com um tempo, esse amigo passou a ser Gerente de Operações. Eu estou falando isso, deve ter sido em 2004, 2005, talvez. Eu lembro que ele falou assim: “Cara, o que você pensa para tua vida aí? Está fazendo Direito, vai se formar daqui a pouquinho, você vai sair…”. Eu falei: “Eu quero sentar na tua cadeira aí!”. “Mas o que você quer?”. “Eu quero sentar na tua cadeira! Calma! Mas eu quero que você vire diretor". Porque como tinha muito isso. Eu falei: “Calma, você vai virar o diretor, fulano vai virar gerente, eu quero um dia sentar na sua cadeira. E eu quero que você também siga, que tenha outras concessões, que você vire o diretor, vice-presidente, mas eu quero…”
P - Esse é o Galo?
R - É o Galo. Ele saiu daqui eu era supervisor. Então, foi a pessoa que no início da minha carreira… Eu, passados alguns anos…
P - De Arrecadador, qual a função que você foi...?
R - Eu fui Auxiliar de Pista, fui Arrecadador, depois eu fui ser Controlador de Pedágio, o cara que fica ali na logística operacional da praça, depois eu fui ser Controlador de…
P - O que é a Praça?
R - Praça de pedágio. Praça de Pedágio é a pessoa que fica no comando da praça, o que é? Abre cabine, fecha, bota o cara para lanchar, tira do lanche, bota para a fila, que são aqueles arrecadadores volantes, bota pra fila, tira, aciona a manutenção. Ele trabalha no Centro de Controle de Pedágio, que chama, que é um prédio específico, que tem uma série de telefones, rádios, então ali ele fica dando. Deu problema em alguma cabine, ele vai ligar para uma equipe técnica que vai lá consertar. Tem um pessoal querendo fazer manutenção no pavimento, ele vai olhar se consegue fechar. Então, é o cérebro da Praça de Pedágio, é quem dá o tom da Praça de Pedágio. Dali eu fui ser o Controlador de tráfego, aí na verdade ampliou um pouquinho, fui olhar a rodovia como um todo, não só a Praça. Tem um monte de câmeras ali, é quase um Big Brother, que você fica olhando as câmeras, tem um acidente você aciona o guincho, tem uma pessoa passando mal, você manda uma ambulância, tu vai acompanhar uma obra. Você faz a gestão de toda a Ponte. Dali eu fui ser Supervisor de Arrecadação, fui ser Supervisor de Tráfego, que é no caso trabalhar de fato, tinha um acidente eu ia para o acidente lá, porque às vezes você precisa dar o tom. “Galera, vamos embora, vamos tombar, vamos limpar, vamos embora…”. Alguém tem que fazer a parte in loco. Aí, fui ser Supervisor de Operações, que aí englobou as duas, virei Coordenador. Aí nesse momento que eu era Coordenador, eu comecei a acumular uma outra concessão. Nisso um grupo anterior, quando eu trabalhei até 2015, tem uma outra concessão que é no Rio de Janeiro, aí eu comecei a olhar a arrecadação da Ponte e dessa concessão chamada Via Lagos, então eu comecei a olhar as duas concessões.
P - Qual foi a primeira concessão?
R - A Ponte Rio-Niterói foi a primeira concessão do Brasil, era um formato que não existia, então ela foi a primeira concessão. A Ponte Rio-Niterói começa pelo próprio estado, que era o DNER, então a cabine, o guincho, era toda administrada pelo DNER, na ocasião o governo federal lançou o programa de concessões de rodovias, que a ponte então, foi a primeira concessão.
P - Que dizer, abriu-se uma concessão só para a Ponte?
R - Na verdade, não existia nenhuma outra concessão de rodovia no Brasil.
P - Que a Ponte é uma rodovia, né?
R - Isso! Ela faz parte da BR 101 Norte, lembrar que ela começa lá no Sul e vai até Touros, já lá no Rio Grande do Norte, ela cruza o Brasil de Sul a Norte. E um pedaço dela, pelas necessidades que eram apresentadas de manutenção. Se eu pegar aí, Ponte em 1995, passava por um momento que precisava que algo fosse feito. E foi! Então, foi a primeira concessão de rodovias no Brasil. E aquilo foi em 1995 e ficou até 2015. Então, eu trabalhei até 2015 na empresa que ganhou essa primeira concessão.
P - Quem era a concessionária?
R - Na ocasião, era um pool de construtoras, que era Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Serveng Engenharia (SOARES PENIDO PARTICIPAÇÕES E EMPREENDIMENTOS S/A), que dali, aí tinha uma empresa, chamada Ponte S.A., que ainda não tinha um grupo. E depois, isso foi aperfeiçoando, esse setor foi ganhando corpo, outras concessões, então ali mais ou menos em 1999, 2000, 2000 provavelmente, essas empresas formaram um grupo na verdade. Falou assim: “vamos juntar então!”, que chamava de CCR, Companhia de Concessões Rodoviárias, que tinha essas construtoras como as principais acionistas. Aí, começa a CCR, aí depois teve a Via Lagos, depois teve a Nova Dutra, também já acabou, já relicitou. Então, isso durou até 2015. E eu fiquei até o último dia da CCR, até exatamente o último dia. Eu lembro, eu tenho uma história que eu trabalhei, que eu virei a noite, entrei num dia de manhã e sai no outro dia de manhã, fiquei aqui 24 horas. Eu comecei meu dia como CCR e terminei meu dia como Eco.
P - Nesse momento qual era o seu cargo na empresa?
R - Eu era Gerente de Operações. Aí quando teve lá em 2015, antes ainda de acabar, faltava uns três meses, eu tinha uma proposta da própria CCR: “Você pode ir para lá, estamos vendo e tal". Mas aí, eu tive um Gerente de Operações, que hoje é meu Presidente, trabalhou comigo 20 anos atrás, que também fez a carreira, ele acabou saindo da CCR e foi trabalhar no Grupo EcoRodovias. E na ocasião eu lembro que… Eu gosto muito de conversar com Deus quando eu estou sozinho e tal, eu tinha vindo de uma entrevista, eu estava entre duas possibilidades, aqui no grupo, uma delas era a Ponte, porque a Ponte… Acabou que teve a licitação, a CCR não ganhou, então eu falei assim: “Deus me dar um direcionamento, me mostra o caminho que eu devo seguir, tô colocando minha vida nas suas mãos, me direciona, me dá um…”. Eu lembro que eu vim para cá, aí esse meu antigo gerente, que já tinha saído, aí já entra a EcoRodovias, ganhando a licitação e teve um período entre a licitação e o início de operações, de uns 3 meses, aí um dia ele me procurou, na sala que era inclusive no mesmo ambiente da dele, aí ele me falou assim: “Como que está a sua vida aí?”. Eu falei: “Eu estou aqui com dois projetos, que eu estou decidindo ainda, mas mexe um pouquinho com a minha família, porque eu vou ter que sair". “Pô, cara, então vamos jantar hoje, nós ganhamos isso daqui e eu estou precisando montar um time, eu queria contar contigo, eu queria te fazer uma proposta, depois você decide aí. Você está com duas, mas eu gostaria de contar contigo". Foi muito correto. Eu falei assim: “Legal, mas a minha condição é só que eu vou sair daqui agora e vou lá falar isso". “Não tem nenhum problema”. “Eu preciso ir lá falar, da satisfação”. Eu não procurei nada e tal. E na época o meu presidente daqui eu falei: “Chefe, olha, aconteceu uma coisa, o Lodi me procurou, sabe o carinho que eu tenho por ele, foi meu gerente aqui, não sei se vai acontecer nada". Mas eu falei com ele, “mesmo que eu não fique, eu te apoio, eu te ajudo, nas minhas folgas você pode contar comigo aqui. Cara, fica tranquilo, um dia qualquer um entra no meu lugar, mas você não vai ficar desamparado não". Meu gerente: “você sabe que a gente tem planos para você e tal, não toma uma decisão sem falar comigo não”. Ficou naquela coisa. E na ocasião eu acabei decidindo vir para a Eco.
P - Por que?
R - Ah, cara, primeiro assim, acho que foi uma conjunção de fatores, primeiro pela empresa que é, que eu conhecia. Na verdade, o mercado se conhece, empresas sérias, outras que têm dificuldades em cumprir os seus contratos, empresas consolidadas hoje, outras não tanto. E assim como a CCR, o Grupo EcoRodovias sempre foi repetido como uma empresa de ponta, de qualidade, preocupada, esse foi o primeiro fator. Segundo que era para trabalhar com a pessoa que eu conheço, que eu me identifico, que eu tenho para mim uma referência de profissional.
P - Qual o nome dele?
R - Alberto Luiz Lodi, uma referência de ser humano, de profissional, de caráter, de integridade. Ele falou assim: “Cara, vai trabalhar direto comigo". Isso para mim pesou muito. Terceiro, eu conciliar, a minha esposa tinha o emprego dela, ela tinha uma vida executiva e se eu fosse para outro estado, iria ter que abrir e eu estando aqui não precisava mexer na minha vida pessoal. E o quarto, que era recomeçar uma história. Falei assim, “cara, a gente vai montar isso aqui”. Tinham diversas obras que precisavam ser feitas na ponte, precisa mudar a ponte de patamar, a gente vai reconstruir, a gente vai fechar essa história na CCR que foi bonita, mas vamos iniciar a nossa história agora. E ele falou assim: “Você comigo aqui, você vai ter carta branca, a gente vai ter aqui parâmetros de valores, de valores, de escopo, mas cara…”, me deu condição. Então, eu falei: “Vamos reconstruir isso aí! Topo! ”. Eu lembro que antes de falar com ele, eu fui falar com o meu Presidente que eu ia aceitar. “Chefe, nem falei ainda…” Eu lembro quando ele me fez a proposta, eu vim aqui no mesmo dia, falei com ele. “Isso foi agora, eu vou jantar com ele hoje, estou falando pra você, estou sendo transparente aqui, eu não procurei, acabou acontecendo, então primeira coisa, sua decisão eu preciso saber". Aí eu me comprometi com ele, vim aqui, falei: “Olha, eu vou aceitar, vou dar resposta hoje". “Pô, tem certeza?”. “Se fosse com coração eu ia falar que eu ia ficar aqui, mas eu preciso também tomar decisão baseado em dados, na minha razão, então pra mim profissionalmente, pessoalmente, é melhor eu ficar". “A sua decisão está tomada?” “Está tomada! Te agradeço muito, você sabe a importância que tem pra mim na minha vida". Trabalhei com ele por muitos anos. “Mas eu vou aceitar o convite". Falei com ele antes de sair daqui, liguei, falei: “aceito!”. Eu tentei fazer e fiz da forma mais transparente, mais ética possível. Isso foi em março, eu lembro que ele falou: “Mas cara, você não pode me abandonar agora não. Você tem que fazer todo o trabalho de desligar a concessão da tomada". Precisa fazer todo esse trabalho de desmobilização, que era um processo. Você tinha que fechar uma empresa, abrir outra. Falei assim: “Fique tranquilo, que a minha condição foi. “Olha, eu não posso…” E isso foi negociado. “Eu aceito, mas eu só posso ir dia primeiro de junho, porque eu tenho compromisso, não dá para abandonar agora". Tinha muita coisa que eu fazia, tocava e faltava dois meses para a concessão acabar, não tinha condição de vir alguém treinar. E eles foram mais uma vez. “Não, Júlio, fique tranquilo". Então, o que eu negociei na época, após as 18:00 horas, você pode me chamar em qualquer hora para reunião, ou nos sábados e domingos, de segunda a sexta eu tenho contrato com a CCR e eu vou cumprir. Então, qualquer reunião depois das 18:00 horas, qualquer hora, você pode marcar. Então eu tinha reunião, sete, oito, nove da noite. Mas foi a forma assim, cara eu preciso virar, fechar essa história, concluir esse capítulo, então eu quero concluir da melhor forma, e eu vou abrir uma outra história, então a gente vai ter dois meses aí de um contratempo de horário e tal, mas é essa condição de eu aceitar. Eu lembro que ele falou assim: “Eu não esperava nada diferente de você". Não esperava nada disso.
P - Julio, então a gente tem como marco aqui, na administração da Ponte Rio-Niterói, o grupo EcoRodovias desde junho de 2015. Então, quando você entra, qual é o maior desafio aqui no cargo que você vem ocupar?
R - Olha, foi um desafio novo, assim como a Ponte foi a primeira concessão de rodovias do Brasil, ela foi o primeiro processo de relicitação, nós não tínhamos histórico em desligar uma concessão, encerrar uma concessão e iniciar outra. Lembrando que a Ponte não para. Olha, meia-noite eu tenho que parar as operações da CCR, aí eu tenho dificuldade, o guincho que era todo adesivado, que lembra que era amarelo e vermelho. E meia-noite e um, eu tenho que ter um guincho verde na rodovia. O colaborador que tá lá com a camisa amarela, à meia-noite e um vai estar com a camisa verde por baixo. Então, eu não tinha histórico, depois disso tiveram outras relicitações. Então, nós tivemos que fazer um trabalho aqui, de uma imersão. Eu lembro que o meu Presidente atual, o Lodi, ele falou assim: “Júlio, tem que pensar em tudo cara, esse é o primeiro, está o Brasil inteiro olhando". Teve Ministro aqui, uma série de deputados. “A gente precisa que tudo dê certo". Eu falei: “E vai dar! Fique tranquilo, não tenho nenhuma dúvida". Eu lembro que ele veio e falou assim: “Cara, eu tenho que pensar em tudo, do sistema do guincho ao copinho de café na praça de pedágio, o copo d'água, a gente tem que pensar em tudo". Então, pra isso nós ficamos 90 dias trabalhando todos os dias, sábado, domingo, a equipe trabalhando incessantemente, olhando, nós tínhamos uma planilha que a primeira coisa eu falei assim: “vamos do mais simples ao mais complexo, ao sistema, tudo precisa olhar, uniforme, café, nós fizemos. Aí nós tínhamos uma reunião de acompanhamento diária. “Como é que está isso daqui? Chegou os uniformes?”. “Chegaram!”. Dá um tique, tal. “Chegaram os guinchos?”. Então, nós tínhamos assim um cenário… Você imagina um acidente que ocorra às 11:59, vai sair às 11:58 um guincho da concessionária, só que ela não pode, meia-noite e um, agora eu vou embora e vai entrar outra, não pode! Então, nós pensamos assim, vamos fazer, quando for 11:30, aí tinha uns guinchos brancos aqui, só com o imantado, você tira um e bota o outro. Então, tinha que pensar em ações como essa. Os colaboradores, os que foram reaproveitados, eles estavam com a blusa da concessionária por cima da outra, se nesse guincho branco, que ele saiu lá 11:30, se ele não conseguir voltar, ele só vai tirar, vai estar com a outra por baixo. Então, foi tudo muito intenso. E o Lodi sempre muito próximo ali em cada decisão, e tudo muito rápido, nós tínhamos trinta dias para tudo isso. Para você ter uma ideia, o Arrecadador o cara está pagando ali meia-noite, vai ter que falar como CCR, Ponte, tal, meia-noite e um, ele vai ter que pegar o guincho lá no sistema e você não vira o sistema, não é algo tão simples assim, o dinheiro vai para uma conta, hora vai para outra, o cara que está passando pelo Via Fácil, ali pelas vias automáticas, se desliga uma conta, liga a outra. Você tem uma série de providências que precisam ser tomadas. Então, foram dias muito intensos, que eu lembro, teve um caso de um colaborador que estava comigo muito próximo, aí quando deu 11:00 horas da noite do dia, ele falou: “Cara, eu tenho que tomar um banho". Aí eu lembro que ele travou no banheiro, ele me ligou. “Júlio, cara, não estou aguentando, estou com medo". Eu falei: “Cara, meu irmão, pelo amor de Deus, cara, agora é hora de dar certo, vamos virar esse troço, no peito, cara! Vamos arrancar esse negócio de lá, pelo amor de Deus, vem pra cá!”. Acho que a hora chegou. E eu naquele nervosismo dentro de mim. “Cara, vai dar certo! Tem que dar! Pelo amor de Deus, vem pra cá, cara! Vamos brindar tudo que nós fizemos nesses 90 dias aí, trabalhando sem folgar". E nós conseguimos virar, aquela coisa toda. Então, era tudo, era muita coisa. Eu acabei sendo a peça atuante, porque eu estava aqui, eu conheci e tal. E como eu falei, era algo muito esperado, graças a Deus tudo certo. E eu lembro que isso foi num domingo para segunda, na quinta-feira tinha um feriado prolongado, que era um feriado de Corpus Christi.
P - Era ver se tinha dado certo.
R - Então, virou o negócio e tal. Eu lembro que nós saímos daqui, sei lá, 6:00 da manhã. “Pessoal 9:00 precisamos estar todo mundo de volta aqui, tem feriado daqui dois dias". Na verdade lembro que o feriado era quinta, mas o fluxo estoura terça, quarta, já era segunda.
P – Região dos Lagos, interior Fluminense.
R - Você imagina esse feriado se parar tudo. Aí tudo que nós fizemos. “Então, vamos para casa tomar um banho, tirar um cochilinho, descansar, beber um café e vamos voltar”. Então, eu lembro que às 9:00 da manhã a gente estava aqui, horas atrás passada em virar isso tudo, esse grande processo, já falando do feriado que tinha dois dias depois. Então, foi muito intenso, sempre foi.
P - Qual era o maior desafio da EcoRodovias em relação à Ponte? Era melhorias, era modernização, era mais relacionado ao usuário? Qual era o maior desafio e se esse desafio era de longo prazo?
R - Não, na verdade, como eu falei, o desafio era a curtíssimo prazo. E por que eu falo que era curtíssimo prazo? Porque lá em maio de 2015, tinha uma tarifa de pedágio, que ela foi reduzida, o processo, a consequência do processo foi uma tarifa mais barata, a licitação, ele saiu de patamar de R$5,20, em junho de 2015, para R$3,70, em maio de 2015, para junho. Então, a primeira coisa, “OK, reduziu a tarifa do pedágio, mas o que que vai reduzir?”. Que era a coisa que os usuários, “não…”. Não pode reduzir, não pode ter desserviço, na verdade nós ampliamos. Como você falou, recursos operacionais foram dobrados, esse é o número, por exemplo, eu tinha guincho, o número de guincho dobrou, obras que eram esperadas há décadas, nós tínhamos prazos para iniciar. Então, primeira coisa foi essa, vou falar desconfiança do mercado, falar assim, cara… E assim, uma coisa muito regional, porque a EcoRodovias não tinha nenhum ativo no Rio, então quem era o segmento como era, nós tínhamos como referência, mas o usuário, que é morador de São Gonçalo, Niterói: “Quem é essa EcoRodovias? Quem são esses caras? Eles vão reduzir a quantidade de obras, que está reduzindo tarifa". Automaticamente. Então, a primeira coisa foi a gente falar pro mercado, falar assim: “olha, eu estou reduzindo a tarifa e vou ampliar serviços”. Então, isso foi… Aí teve um plano de comunicação por trás disso. Como eu falei, dois, três dias depois do primeiro dia, nós tínhamos o primeiro grande feriado prolongado, então a imprensa, eu lembro que ficou aqui um batalhão de repórter, vamos ver como vai ser esse primeiro teste de fogo, né? E graças a Deus correu tudo muito bem, nós trabalhamos muito. Então, tinha essa desconfiança de como seria esse processo, por ser o primeiro. E também nós tínhamos desafios de melhorias, de ampliações, a própria Praça de Pedágio já foi ampliada. Nós tivemos obras importantes aqui no Mergulhão de Niterói, que na altura da Praça Renascença, que ali tinha um cruzamento que hoje é feito pelo Mergulhão aqui, antigamente era um semáforo que tinha, que parava tudo, nós fizemos aquela obra. Teve uma alça da ponte com a linha vermelha, que antigamente você tinha que pegar a Brasil e hoje tem uma conexão direta. Mais câmeras, lamelas, mais baias, obras de reforço estrutural da Ponte. E tudo num período muito curto. Então, passaram essas desconfianças do primeiro momento. “Vamos ver agora se os caras vão entregar as obras que precisam entregar". Nós entregamos todas as obras no prazo, 100%. Recebemos os atestados… Então, a confiança, essa desconfiança, ela foi se perdendo com o tempo, que virou uma confiança. “Pô, os caras reduziram a tarifa, trouxeram mais serviços, melhoraram na ampliação em obras estruturantes, de reforço, obra de ampliação”. E quando a sociedade viu a gente fazendo acontecer, eu lembro que, por exemplo, tem um capítulo da minha história, eu fui promovido em 2018 e, nessa época, essa obra, que eram dois viadutos, que liga a Ponte a Linha Vermelha, que nós chamamos como Alça de Conexão da Ponte para a Linha Vermelha e tem uma obra que liga a Avenida Brasil ao Cais do Porto, que é para tirar um viaduto de carga. Eu lembro que em 2018, eu não sendo engenheiro, eu tive um convite de ser, meu Presidente na época foi transferido, abriu-se a cadeira e eu tive o convite de fazer parte.
P - Para qual cargo?
R - Diretor Superintendente. Mas é que o meu desafio era naquele momento tocar as obras que estavam iniciando. Falei assim, “esses caras são loucos”, uma obra do grupo eu fiquei pensando. Aí eu falei assim. Aí eu lembro que ele falou assim: “Fique tranquilo, que a gente não precisa de uma pessoa que sabe de obras, isso no grupo tem um monte, tem excelentes engenheiros aqui, nós temos um cúpula de engenharia está aí, nós temos os melhores funcionários do mercado. Eu preciso de um gestor, isso você sabe fazer. Não se preocupe com o traço do concreto, se vai ser camisa perdida, estaca raiz, estacão, isso quem vai falar é a engenharia. Preciso de um cara que olhe o custo, olhe o colaborador, veja as questões ambientais, que supere… Pra isso eu preciso de um cara aqui e isso você sabe fazer". Aí eu entendi! E pra mim foi muito intenso, porque eu entro, como eu falei, com obras grandes, que eu tive que fazer uma imersão. Eu falei, “eu fiz quase um curso de Engenharia em meses”, que tinha discussões. “Vamos fazer estaca raiz e uma estacão, uma camisa perdida". E às vezes você precisa entender. “Olha, eu preciso entender isso". E eu tive excelentes funcionários que falava assim: “Júlio, vantagens e desvantagens". “Cara, eu tenho licença poética, não tenho ideia qual é melhor, me falar prós e contras de cada um, vamos tomar decisão junto, qual a tua opinião? ” “Júlio, essa aqui é bom nisso, mas tem esse ponto de preocupação. Essa aqui já não tem, mas tem…”. Então, aí essa ideia dessa gestão participativa, ouvindo, entendendo, pegando pessoas experientes, eu tenho aqui, pô, nós temos aqui o professor Carlos Henrique Siqueira, que foi entrevistado, que trabalha aqui desde a construção da Ponte. Por várias vezes: “Professor, que sorte ter o senhor aqui, sua opinião técnica aqui". “Pô, Julio, olha isso, olha aquilo…”. Então, eu fui aprendendo, então pra mim foi um processo também muito intenso, porque eu tinha que entender o que era, pra tomar uma decisão. Naturalmente, na minha atividade que eu fui criado, na operação, o negócio já vinha “já sei, cara. Esse é o melhor, vamos pensar aqui”. Mas eu tinha que dar sempre um passo atrás, mas conseguimos entregar as obras no prazo, isso foi… Inclusive, como a ponte sempre teve uma visibilidade grande, para você ter ideia, foi a primeira obra… Ela é marco em vários, ela foi a primeira licitação, com uma série de autoridades aqui, inclusive com ministros e essa obra, essa primeira grande obra, inclusive quem veio inaugurar a obra foi o presidente da República, na época. Então, o presidente da República vir aí, virou um outro evento. “Julio, presidente da República vem inaugurar essa obra ai". Um evento que envolva o presidente da República, é sempre um evento à parte.
P - Quem era o presidente?
R - Jair Bolsonaro. Isso em março de 2019. Só que, assim, tem um protocolo, independente de quem esteja lá, que é do GSI, porque é o Presidente da República, né? Como eu já tive, na ocasião, na época, em outro momento, a presidente Dilma Rousseff, que era uma obra que não era da Ponte, mas era do Cais do Porto, era ali embaixo, então o evento todo, de sniper, de proteção. Então, eu sei quando envolve um evento com presidente da República, o evento sobe, escala muito. Então, nós precisamos programar, nós aqui somos coadjuvantes, as forças de segurança, mas nós temos que participar daquilo ali. E também deu tudo certo, que foi a primeira obra inaugurada em concessão de rodovia, por um presidente da república. Então, assim, tudo da minha vida foi… E nós passamos aqui momentos, falando da carreira, diversos, em 2013, naquela época de manifestações, foi muito conhecido, os Black Bloc. Passei aqui…
P - Mas de que forma isso impactou?
R - Porque por 5, ou 6 vezes, fecharam a Ponte. Então, nós tínhamos um plano de evacuação, a Ponte foi fechada, não por manifestantes, mas o Rio de Janeiro, assim como o Brasil, ele passava por um momento de uma série de manifestações e tal. E naturalmente, quando teve comitê de crise. Gente… A primeira reunião tive uma pessoa, uma autoridade que é muito conhecido no mercado, não tenha dúvidas que isso vai chegar na Ponte, porque pelo dinamismo, pela importância que ela tem”. Porque começou no centro do Rio, que eu lembro lá, aquelas manifestações, na Presidente Vargas, aquilo foi ganhando corpo, ganhando corpo, veio para Niterói. Aí tiveram ocasiões que eles tentaram subir a Ponte pelo Rio, teve enfrentamento com o batalhão de choque, aqui na… Então… E era um momento que naquela ocasião via por alguns atos de vandalismo, temos usuários. Então nós não deixamos, falando nós, nesse comitê, com as forças de segurança, porque existia um risco envolvido nisso. Então, foram dias bem intensos. E lembrar que nessa mesma época, nós tínhamos a Copa das Confederações, aí foi 2013, que era no Rio. Inclusive a final foi no Maracanã. Então, eu falei assim: “olha, nós temos uma série de manifestações acontecendo e nós temos a Copa das Confederações”. Tudo isso ele agrega na dinâmica da Ponte, que é muito intensa. Então, nós tivemos aqui eventos, Copa das Confederações, Olimpíadas e Copa do Mundo. Fala assim: “Júlio, que que tem a ver, por exemplo, a Ponte nisso tudo?”. Primeiro pela importância da mobilidade dela, segundo, por exemplo, assim como foi na Copa, nas Olimpíadas, uma série de delegações ficaram aqui em Niterói, principalmente a parte de remo, iatismo, ficou muito aqui, que Niterói tem uma uma ascendência nessa modalidade. Então, as delegações precisam ir, voltar. Você imagina um problema quando a delegação... E a própria Seleção Brasileira de Futebol, quando ela saía, que ela ficava Granja Comary em Teresópolis, ela tinha duas rotas que eram definidas, que nem nós sabíamos, que eles poderiam vi pela serra, por Teresópolis, pela Washington Luiz, assim como eles poderiam vir pela Ponte para ir para o Maracanã, que são dois caminhos. E por que nós não sabíamos? Eu sabia, mas eu era o único. Porque é o protocolo, não pode vazar, porque o comboio saía e ele falava assim: “Júlio, não vai passar aí". Mas o protocolo aqui, eu fingia que eu não sabia, porque se o negócio vaza. “Galera, não vai passar por aqui não!”, que era uma forma de manter a segurança da delegação. Então, vai pela serra, vai por aqui. E ela vinha, aí tinha o jogo no Maracanã, aquela coisa toda e tal. A delegação vai voltar então a gente tem que ficar aqui até a seleção dar o ‘pronto’ lá em Teresópolis. “Chegamos aqui!”, a gente desmonta a operação toda. Então tudo isso da Jornada Mundial da Juventude, quando o Papa veio aqui. A cidade ficou… Então, tinha uma série, então, vira e mexe, o próprio G20. Então, tudo isso tem uma relação, porque eu lembro que no Comitê de Crise, na época, onde participavam várias agências, a Ponte era a única rodovia, porque tinha alguns instrumentos, tinham, por exemplo, o (Andu). Se for lá botar uma bomba e acabar com (Andu), abastece a usina de Angra. Chamado de ‘pontos sensíveis’, no Rio eram sete: a Ponte era a única rodovia. Aí você tinha metrô, parar o metrô, como que o público chega? Tinha água, energia e a única rodovia era nós. Se acontecer alguma coisa com a Ponte, como que a delegação sai. Então, eram reuniões, planejamentos super detalhados.
P - Você falou da Ponte e de como a sociedade olha, observa e cobra. São os dois lados da moeda. Eu queria saber de que forma a Ecoponte, vocês fazem trabalhos para as cidades, Niterói, Rio de Janeiro, fazem campanhas, além dos serviços prestados, como é que vocês se aproximam dessas comunidades? Como é esse vínculo?
R - Isso é desdobrado em várias iniciativas. Primeiro, nós temos uma relação, que eu falo umbilical, seja Niterói, seja Rio de Janeiro. Na verdade, a Ponte, por mais que ela seja uma rodovia federal, ela tem a característica de uma grande avenida, de um tráfego urbano, é o cara que está em Niterói, vai trabalhar no Rio, volta. O cara que mora no Rio, está indo visitar Niterói, um familiar. Ele é como se fosse uma grande avenida. Então, eu falo que o nosso papel aqui, falo pra equipe, eu gosto muito de falar isso aqui, que passam por dia, 400 mil pessoas, em média. Essa é a média de pessoas por dia. Se falar em veículos, são 150 mil veículos por dia. Se você vai contar de ocupação dois pontos, alguma coisa que nós temos mais ou menos a cada dois, três carros, são três pessoas, é mais ou menos. Aí tem os ônibus, mas tem uma matemática por trás, então em torno de 400 mil pessoas,12 milhões de pessoas por mês. Nós temos que saber que a gente interfere de alguma forma na vida de 12 milhões de pessoas. Primeiro, saber da nossa importância. E por que eu falo isso? Uma obra mal planejada, uma obra simples, se colocar uma obra no horário equivocado, isso mexe na vida de milhares de pessoas, se tiver um atendimento que demore a mandar o recurso, demore a desfazer, se destombar um caminhão, isso vai ter consequências na vida de milhares de pessoas. Que fique claro isso, pra eles saberem a nossa importância. A Ponte tem características que são ímpares, por exemplo, eu estou nesse ramo de rodovias, um exemplo simples, às vezes, todo mundo já viu. “Ah, tombou um caminhão na rodovia". O que é um padrão? Você vai pegar o caminhão, joga para o acostamento, às vezes o caminhão nem foi destombado ainda, deixa o tráfego passar, de madrugada a gente vai ali e tira. Na ponte eu não consigo fazer isso. Se tombou um caminhão de areia, eu não consigo jogar para o acostamento, porque não tem, eu vou ter que te destombar o caminhão, vou ter que limpar antes que o tráfego chegue. E às vezes, a gente trabalha, a pessoa passa aqui às 7:00 da manhã, não sabe que nós ficamos aqui desde 23:00 da noite, todo mundo sem dormir. E eu por várias vezes, por várias, já larguei comida em prato, festa de casamento, porque pra gente um caminhão tombado, vira uma crise. Porque imagina: “Pô, o caminhão tombou 3:00 da manhã, já são 7:00". Aí a cobrança vira uma bola de neve. Então, por isso que eu tenho que ter um batalhão de gente, ter um batalhão, centenas de pessoas, ter retroescavadeiras, eu tenho caminhões. Porque se tombou um caminhão aqui, tiver areia, pedra, tijolo. Eu vou ter que ter uma retro…, eu vou ter que limpar a rodovia. Acho que todo mundo já passou pela questão, já viu quando você passa na rodovia. “Atenção, pista frisada à frente!”. Primeiro caminhão, isso é muito comum em vias públicas, eles chamam de fresar, fica aquele arranhado assim. Aí, dias depois você vai lá, joga o pavimento, aquela coisa preta, dias depois, alguém vai ali e pinta. A gente faz tudo numa noite só. Lembrando que eu tenho a janela de mais ou menos, falando em linhas gerais, de 11:00 às 5:00 da manhã, eu tenho que fazer isso tudo em 6 horas. Eu tenho que ir ali, botar uma máquina que já vai tirando o pavimento antigo, chama de fresadora, ela vai arrancando, aí fica aquelas ranhuras assim, já tem outra máquina que vem atrás, já tem uma equipe que vai varrendo, é uma linha de produção. E nisso, tem que ficar olhando. Aí já tem uma outra equipe que está varrendo, atrás da equipe que está varrendo, já tem uma equipe aplicando massa, atrás da equipe que está aplicando massa, uma outra equipe para com o maçarico você acelerar o processo de cura, de secagem e atrás outra equipe já está pintando, igual escola de samba, é o exemplo que eu dou. Uma escola de samba na avenida, passa a fresadora, passa o processo de limpeza, passa o pessoal aplicando massa, passa o pessoal secando a massa, passa o pessoal aplicando a tinta e depois vem outro pessoal jogando as microesferas, microesfera, é como se fosse bolinhas de vidro. Você bota tinta e depois vem um pessoal jogando aquilo ali, que aquele efeito da tinta com a microesfera, quando o farol bate aquela faixa fica acesa. Isso tudo tem que fazer antes que o usuário venha às 6:00 horas da manhã, porque se o usuário vier e tiver fazendo isso. “Planejaram errado! Obra de pavimento”. Aí nossa vida vira de cabeça para baixo. Então, tudo nosso é focado no pilar de importância para a sociedade. Uma fresadora, que são máquinas enormes, uma fresadora travou no pavimento, desligou e não quer ligar. Cara, tira do jeito que der, tem que tirar daí. Só que é uma máquina que é maior do que essa sala aqui. Você não consegue rebocar aquele troço. “Cara, manda um guindaste”. Então, vira uma crise. Então, primeiro, eu falo assim: isso é importante a gente ter na nossa mente, a nossa importância, porque o usuário da Ponte, estou falando para aquele usuário… Nós temos uma ________. Primeiro, via de regra, Niterói, essa região, São Gonçalo, tem um público que é diferente do Norte, diferente. Por que? A galera que é muito mais atuante em rede social, é a galera que se você fizer uma obra, eles vão no Ministério Público, eles vão na imprensa, eles vão na Câmara. Então, eles falam assim: “Olha, nós entendemos, como o processo aqui já está consolidado, que o pedágio agrega valor". Eu estou falando isso com base em pesquisas de satisfação que nós fazemos, pesquisas qualitativas. “Você acha que o pedágio é bom, é ruim, na tua opinião?”. “Olha, mas eu quero serviços bem prestados". Então, ele paga o pedágio, mas ele não quer ter fila, ele não quer ficar preso em obras e tal. Então, pra isso, vem um momento assim, nós temos como volta a relação umbilical… Como eu estou falando de mais eu preciso contextualizar. Eu tenho que ter uma uma relação, pare e passo com a prefeitura do Rio e de Niterói, se tiver uma obra aqui eu vou ligar para prefeitura. “Prefeitura, vai ter uma obra aqui". Como eles fazem conosco também. “Pô, eu vou fechar a alameda que vai ter uma obra". Então, nós temos uma relação muito saudável e muito próxima, tanto com a prefeitura do Rio, quanto com a prefeitura de Niterói. Então, nós temos, por exemplo, nessa… Vou te dar um exemplo, aconteceu uma crise aqui nessa região de cá, de uma questão de abastecimento de água, Laranjal, então essa região de Niterói, São Gonçalo, ficou sem água. Já voltou, mas ficou alguns dias. O prefeito liga no meu celular. “Julio, nós precisamos fazer uma ação de crise aqui, conto com vocês, que eu tenho que trazer água do Rio para Niterói, tem que abastecer os hospitais e tal". “Prefeito, vamos lá! Me bota na linha aí!”. Tudo é uma crise. Eu estou dando um exemplo, tem outros. Então, primeiro nós temos que saber que as nossas ações tem que estar em linhas e coordenadas com as ações do município do Rio. O que eu gosto de dar exemplo: “Prefeito, não tenho munícipe usuários da ponte". Isso é legal porque é muito consolidado entre nós. Como fala a PF. “Não tem usuário, meu usuário e seu usuário, não tenho usuário morador de Niterói e não tem usuário da ponte, é o mesmo”. Então, eu tenho que pensar quando eu falo, na cadeia, ele saindo de casa, até quando ele chega... Então ele tem que ter uma continuidade. Não é, tá saindo da UFF, não é estudante da UFF, ali ele é um cidadão, que vai passar pela Ponte, morador de Niterói. Temos que pensar como um todo. Então, primeiro essa importância das ações serem coordenadas. Aí, o segundo, é um papel, como eu falei, para a sociedade. Aí eu vou entrar agora em outro aspecto. Aí eu conto, que a comunicação faz isso com muita propriedade, é primeiro… Para dar a notícia, primeira coisa assim, a gente não pode esconder nada. Hoje, se você não se comunicar, vão comunicar por você, com as redes sociais, com a imprensa. Hoje qualquer pessoa com um celular na mão vira um repórter, porque tem um perfil na rede social, tem milhões de pessoas. Então, aqui primeiro a gente vai trabalhar com transparência. Tem algum problema? A comunicação liga para a imprensa. “Olha, eu tô com um acidente aqui, vai demorar, eu tô com muita ocorrência". Não tem essa coisa. “Não fala isso não, que isso é ruim, isso pode tirar tráfego. Não fala porque o cara vai de barca". Isso hoje não existe. Então a primeira coisa é transparência. E outra coisa que eu falo, eu já tive em várias redações, algumas vezes… Isso é legal também, esse feedback, eu jamais, eu não tenho direito de chegar aqui e falar para você não falar isso. Não tenho esse direito! “Eu só quis vim pra cá… Você quer me ouvir antes de dar a notícia?”. É só isso que eu peço. “Olha, está tendo uma obra ali, o pessoal está reclamando tal, tal. Vamos ouvir a Ecoponte para ver o que eles vão falar". Isso funciona bem! Eu não quero que você: “Não, não fala isso não…”. “Olha, aconteceu isso”. Ouvir procurar escutar da Ecoponte, a gente atende qualquer emissora, qualquer hora do dia, se você vim para cá, 5:00 da manhã, 6:00, de madrugada. “Pô, Julio, tem uma equipe que vai aí, vai entrar na Hora Um". “Vem pra cá!” Porque é minha obrigação enquanto prestador de serviço público. Eu não sou funcionário público, mas eu sou prestador de serviço público, isso aqui é uma concessão. Então, eu falo assim: “Olha, se você está preocupado em trabalhar de segunda a… Está em lugar errado, porque aqui a rotina é não ter rotina”. Então, você não sabe, às vezes funciona, às vezes tem uma crise aqui de sábado e domingo. E eu sei, eu sei, que se der uma crise aqui, eu não preciso ligar pra ninguém, deu uma crise aqui, o pessoal vai chegar para cá, porque sabe o seu papel. Eu falo assim, eu gosto de falar isso e todo mundo aqui… gosto de falar isso para todo mundo, não tem quem é o mais importante… eu sei quem é o menos importante disso tudo, isso eu tenho certeza, quem é o menos importante. E sabe quem é o menos importante? Sou eu! Eu sou o menos importante aqui, porque se eu sair daqui uma semana, as coisas não vão acontecer, não vão parar. Vocês são mais importantes, se vocês pararem, o negócio… Então, a primeira coisa é dar os créditos. Eu estou aqui para dar o suporte, dar o apoio, colaborador ter uma boa condição de trabalho, preocupar com a sua segurança. Preocupado com a família do colaborador, é uma coisa que eu gosto de falar. Cara, se tem alguém com problema em casa, nós temos dois caminhos, pensar assim: cara. “Julio! Lamento, mas isso aí é um problema pessoal, dali pra fora". Isso é uma forma, eu respeito quem pensa assim. Eu penso assim: como a gente pode apoiar essa pessoa? Porque eu prefiro que alguém venha para cá motivado, feliz, sabendo que, se eu precisar eu posso contar com eles, eu tenho dezenas. Do que a pessoa fala assim: não, cara, do portão pra fora, como eu já ouvi, do portão pra fora e com o colaborador. Pra mim eu já não gosto de pensar assim. Então, a gente tem isso muito consolidado, a importância do nosso papel. Quando eu falo assim: a pessoa com a dignidade que tem, que faz a limpeza do banheiro, eu falo que é muito mais importante do que eu. Porque se o colaborador chega do trabalho, às vezes horas na pista, suado, quer tomar um bom banho, ter o ambiente limpo, agradável, cheiroso, é graças a equipe que está limpando. Então, falo: cada um tem o seu papel. Agora, enquanto sociedade, é o nosso grande desafio, é prestar primeiro, que a concessão, ele é muito mais do que uma cabine de pedágio. Aí, entra a nossa, que eu falo, a nossa questão social, quando eu falo dos projetos sociais, que eu olho todos, nenhum projeto que passa aqui… Camila sabe. Quero ver, vamos discutir. Falamos de um hoje.
P - Pode falar de projeto social?
R - Orquestra da Grota, por exemplo. A Orquestra da Grota é aqui de Niterói, pra falar um deles. Nós temos aqui o Projeto Grael, que assim como a Grota, o Grael, tem o EcoArte, são projetos que… Porque, assim, nada contra. “Pô, Julio, quero fazer aqui…”. Como já teve aqui, uma empresa. “Corridas de carro, vai passar no mundo inteiro, vai ter tua marca ali". Não é isso que eu quero! Eu acho que o projeto social, tem que fazer de alguma forma, nem que seja um pouquinho, a diferença na vida de uma pessoa. Eu não vejo projeto social como uma possibilidade de eu patrocinar alguém pra expor a minha marca. E legal quem pensa assim, eu não penso. Eu penso na oportunidade que eu tenho para ser uma ferramenta de mudança, ainda que em pequena escala, na vida de alguém. Então, eu gosto de olhar o projeto. “Não, vamos botar aqui um telão na praia de Copacabana…” Sei lá, não aconteceu, no show da Madonna, patrocínio, vai ter sua marca lá. Excelente! Mas a concessão é mais que isso, cara. A gente não pode estar pensando só em exposição de marca. O que mudou na vida de alguém? Para alguém mudou, mas… Então, a gente gosta muito daquela questão social, ambiental. A Grota, por exemplo, nós temos aqui a EcoViver, De Bem com a Via, temos alguns projetos. Mas talvez se não fosse pelo projeto, que aí eu falo assim: eu sou uma parte, tem uma equipe por trás. É você promover a inclusão no segmento da música, que talvez se fosse… seria muito difícil conseguir, aquela pessoa que está ali na comunidade e fazer a introdução na música erudita, com aulas, com instrumentos, com educação. Como nós temos aqui o Projeto Grael. O Projeto Grael é a inserção da vela, na verdade a vela é um grande, é um chamariz para crianças carentes, tem que ser estudante de colégio público, da rede pública, que ele vai ali, que a gente insere o esporte na vida dele, porque na condição normal, como uma criança de comunidade ia conseguir arcar os custos de um projeto de vela? Só que o legal, é que por trás disso, ele sai dali um cidadão, que ali ele vai ser desenvolvido, ele vai ter aula de marcenaria, ele vai… Ali ó, por trás, ele vai na vela… “Opa, já que você veio aqui, eu vou te ensinar vela, mas vou te ensinar também a você fazer a elétrica náutica, reparação náutica”. Então, às vezes, a pessoa está ali pronta, ou em condições de ir para o mercado de trabalho. Então, isso que eu falo, a gente tem que lembrar desse nosso papel, desenvolver a sociedade da maneira que a gente pode no entorno. Então, a gente sempre olha, aí é um processo longo, que eu olho, eu vejo isso aqui e tal. E o pessoal fala, se vier um projeto. “Júlio, isso aqui vai dar baita marca". Ah, não é isso! Como que a gente em vida muda… E é isso que eu falo pro time aqui atrás, que está atrás de mim. Tem que olhar para o colaborador e chamar ele pelo nome, lembrar que eu falei… Por exemplo, uma postagem que eu vi esse final de semana, que um cara fez a festa com o nome dele, Eco, cara, tem uma mensagem forte por trás, sabe? Então, nós temos uma missão aqui dentro, lembrar que quando a gente, às vezes, vai pra casa, está dormindo, no final de semana. Eu tenho aqui mais de 100 pessoas trabalhando. Então, eu olho condições de trabalho, por exemplo, eu vou… Além da Ponte, eu também respondo por outra rodovia, que é a EcoRioMinas, eu vou pegar o carro, quarta-feira, eu faço isso todo mês, eu subo em todo posto de trabalho, eu saio daqui e vou até Governador Valadares, eu entro, às vezes, eu fico lá dez minutos, mas eu vou na copa, entro no banheiro. “Está precisando de alguma coisa e tal?”. E eu saio mandando no grupo: “Gente, ó, tem que ver isso…”. Porque, primeiro eu falo muito isso, eu lembro de mim, eu falo assim: quando você chega para trabalhar, depois de 12 horas, “pô, o banheiro tá sujo!”. Então, é coisa que eu não admito! Essa é uma delas. Outra é o colaborador ser tratado como… com ética, com respeito. Eu falo assim: você tem que ter respeito até no momento de uma demissão, principalmente quando toma essa decisão, que em alguns casos você está cortando o sonho, ainda que momentaneamente, daquela pessoa. Então, tem que ter respeito pelas pessoas. Que às vezes. “Não, o cara sacaneou a gente, vamos sacanear". “Não, demite, deixa ele seguir a vida dele. Não vamos entrar em jogo de retalhar, supera”. Então, eu gosto muito disso. Então, para mim, enquanto gestor, eu tenho que fazer com que a equipe aqui tenha condições de trabalho, em um ambiente diverso, inclusivo, que eu aprendo com isso a cada dia. Eu falo que eu estou num processo de eterno aprendizado. Eu resignifiquei muitas coisas na minha vida, brincadeira que você fazia, que hoje não cabe mais fazer, uma expressão que você sabe que tem vários exemplos aí. Então, tive uma pessoa que me procurou mais de uma vez. “Pô, Júlio, cara, ó, não concordo com isso, minha religião é tal, também não vou falar com ela, com quem foi. Cara, eu acho que a empresa está perdendo a mão, está incentivando". “Não, não está incentivando nada! Ninguém está incentivando nada, ninguém está falando que você tem que ser um defensor de causa nenhuma, mas o que eu estou te falando que você vai ter, é respeito por quem está aqui, independente, cara, de credo, de orientação, de onde veio, de biotipo, não quero saber, cara". “Ah, mas lá fora…”. Aí eu vou ter que mexer, daqui pra dentro as pessoas tem que se sentir abraçadas. Seja porque for. Isso aí eu não estou falando por religião, por raça, por credo, por orientação. Aí, é um processo que é de fato de aprendizado, e é um aprendizado constante. Eu falei: “cara, a gente está aqui para evoluir”. Assim, durante muito tempo, essa brincadeira, talvez pra você não, mas para o cara incomodava. “Ah, você é gordo!”. Se põe no lugar dele, é só ter um pouquinho de empatia, se alguém pega um estereótipo seu e fica falando de você? Então, pra gente encerrar a conversa, eu não vou exigir que você seja defensor de causa nenhuma, mas vou exigir que você respeite quem pensa diferente de você. Só isso! Como se fosse ao contrário, eu seria o primeiro a te defender também. Não, cara, ele tem a religião dele. Não importa, cara, que ali são as crenças dele, a gente vive num mundo que a gente tem que se respeitar. Isso é muito difícil!
P - Quatro de março comemora-se o aniversário da Ponte Rio-Niterói. Esse ano marca os 50 anos da Ponte Rio-Niterói, sobre a sua gestão, o seu grupo realizou vários projetos e comemorações. Você poderia falar um pouquinho como é que foi esse start seu, que a Ponte ia fazer 50 anos e como é que vocês se envolveram nessas comemorações?
R - Na verdade os 50 anos da Ponte… Eu gosto muito de trabalhar com planejamento, com planejamento, previsibilidade, prazo. Acho que tudo corrido tem chance de dar errado. Por que eu tô falando isso? Porque o aniversário da Ponte começou, quando ela tinha 45 anos, começou em 2019. Eu lembro de uma pessoa falando assim pra mim. “Pô, cara, é bom a gente começar a pensar nisso mesmo, porque cinco anos passa voando". Brainstorm. Começou assim: o que nós vamos fazer nos 50 anos da Ponte? Vamos pensar!
P - Você já era Superintendente?
R - Era! Vamos pensar, eu acho que pela importância que ela tem para a sociedade, seja Fluminense, até… A gente precisa marcar esse momento, comemorar, tudo que ela já passou, tudo que ela já viveu, tantas histórias que ela conectou, fora que a ponte é muito mais que conectar Rio-Niterói, é conectar pessoas. Então, isso aí foi o nome do projeto, Conexões, acho que essa ideia foi muito feliz. Então, nós começamos lá a pensar e tal e eu pessoalmente, sempre tive a ideia do livro dos 50 anos da Ponte, fazer a história da construção, concepção, pessoas que marcaram épocas, fases distintas. E a coisa foi tomando corpo, com livro, com exposição de fotos, tivemos uma série de iniciativas nas redes sociais, nas rádios, nos jornais, na internet, na própria exposição no Projeto Conexões, que começou realmente formalmente ali em 2020, 2021. Então, na verdade eu falei assim: ao invés da gente pegar no dia 4 de março, fazer um evento, vamos fazer um calendário, que as pessoas comecem a falar dos 50 anos da Ponte antes que a gente comemore. E passado os 50 anos, a gente continue, a festa, fechando esse processo. Então, foram uma série de iniciativas que foram pensadas. Aí, voltando àquela questão participativa: “Cara, você que é de comunicação, o que você vê? Vamos discutir”. Camila sabe aí, um dos eventos de comemoração foi uma festa, no dia do aniversário da Ponte, que a gente pensou em cada detalhe para que ficasse uma noite agradável, ficasse uma noite que marcasse. Eu lembro que minha esposa, chegou um momento, ela falou assim: “Não, você não…”. Um capítulo aqui, uma das atrações, eu falei: “ não, eu quero escolher o roteiro das músicas. Porque assim, vai ter pessoas de mais idade, pessoas de menos, pessoas mais jovens, outros nem tanto, pessoas que gostam de…”. Eu lembro que nós fechamos umas atrações e eu fiquei em casa ouvindo a playlist da pessoa. “Essa música vai ser a primeira…” Ela: “Júlio, você está mexendo?”. “Não! Eu tenho que fazer, pensar alguma coisa". “Cara, você está pensando em roteiro de música? ” A gente pensou assim: bota a mesa, tira mesa, coloca… Então, de fato a gente pensou em cada detalhe, para que fosse uma noite especial como foi. Também eu falo que eu tirei um peso das costas, porque eu não sei fazer festa, não tenho experiência nenhuma. Então, você agradar tanta gente diferente e tal. Tive um super apoio da Camila, aliás, elas conduziram tudo aqui. Eu queria ir acompanhando cada passo, porque a Ponte, eu acho que ela tem uma importância muito forte na vida das pessoas, por isso que eu falei assim: “vamos fazer uma coisa bacana, vamos fazer uma coisa…”. Como eu falei, aqui passam… Essa foi uma pegada, vamos trazer histórias reais que tem relações com a Ponte e tal. A campanha pegou, pessoas trabalharam na Ponte, pessoas que se conheceram na Ponte, que acabou virando um casamento, crianças que nasceram na Ponte, funcionário que trabalharam na Ponte, o primeiro usuário da Ponte assim. Vamos humanizar esse momento. A Ponte tem vida. A Ponte não é um bloco de concreto, eu falo que ela tem vida, em cima, dentro, em volta dela. Então, eu acho que pela importância que a Ponte tem, pela mobilidade humana por uma região. A pergunta que eu faço: “e se não tivesse a Ponte hoje? O que seria de Niterói, São Gonçalo, Maricá?”. É uma grande pergunta, inevitavelmente nós temos certeza que ela trouxe um grande desenvolvimento, facilitou, trouxe qualidade de vida. Então, a gente precisava fazer um grande marco. Afinal, não é sempre que você comemora 50 anos de uma estrutura tão importante pra vida das pessoas. E lembrar, a Ponte é a grande estrela desse projeto, mas o desafio foi: “Cara, como que a gente humaniza isso?”. Aí, eu acho, acho não, tenho certeza que a equipe foi muito feliz na pegada que deu. Então, o Projeto Conexões, por exemplo, levando a Ponte para fora da Ponte. Por exemplo, na sexta-feira, eu trouxe o meu presidente para cá, acabou que nós ficamos sem almoçar, que ele veio aqui para o Rio, eu falei: “Cara, vamos almoçar ali no shopping". Eu não tinha falado para ele, que tá lá, o projeto tá lá e tal, eu ia passar em frente, eu falei assim: “Ó, eu quero que você veja o local". Porque ele vibra com isso. Acabou que nós não conseguimos almoçar, ficamos lá, reunião até 9:00 da noite, ficamos comendo bolachinha e pão de queijo. Mas é isso, é humanizar a relação que ela tem na vida das pessoas.
P - Como é que você prospecta a Ponte Rio-Niterói daqui há 50 anos?
R - Olha, na verdade assim, a Ponte, ela vem passando por um processo… A Ponte, eu falo a Ponte, mas as rodovias em geral, a gente tem muita coisa que a gente pensa, a primeira coisa que eu tenho certeza, é que ela vai estar saudável do ponto de vista estrutural. Para você ter ideia, nós temos 50 anos e a gente acompanha, ano após ano, como é que está a saúde estrutural dela. E nós temos esse gráfico, ela começa, aí ela passa por aquele momento de não ter tantas manutenções, essa estrutura dela acaba e nós fizemos uma série de obras de reforço, nos pilares, no mar, por dentro dela. A gente já trouxe ela na mesma condição estrutural de 50 anos atrás. O que isso quer dizer? Ela está com a mesma rigidez, com a mesma saúde, de março de 1974. Um outro marco: nós estamos fazendo hoje uma obra no interior da ponte, que custou mais de 50 milhões de reais, uma obra que o usuário não vê, é por dentro da Ponte, que chama de momento negativo e tal. Qual é o diagnóstico disso? Passada essa obra, com novas tecnologias, novas metodologias de reforço. Acabou essa obra, que fica pronta no ano que vem, ela vai ter a saúde estrutural maior do que no dia da sua inauguração. Então, a primeira coisa do ponto de vista estrutural, que a gente trabalha muito para que ela tenha… Professor Carlos Henrique: “Julio!”. “Professor, quantos anos a Ponte tem de vida?”. Ele falou assim: “Essa resposta ninguém vai ter! Eu sei é que com o trabalho de manutenção que é feito hoje, ela vai ficar ad aeternum, ela não vai cair nunca!”. Fazendo o que precisa ser feito. Aí volto aquela história lá atrás. Agora nós estamos trabalhando com vamos conectar com a tecnologia, com o futuro, por exemplo, estamos estudando hoje, uma tecnologia, por exemplo, chamada freeflow, que é a cobrança da tarifa de pedágio sem aquela barreira física do pedágio. Na Ponte já existe, por exemplo, em outras rodovias até que do Rio, que é feita de forma eletrônica. Cobrou, passou ali naquele poste, ela vai te cobrar no seu aparelho, você vai ter que chegar ali e pagar. É para dar dinamismo. Aí, lembro que a gente tem que voltar a falar, isso tem que estar concatenado com _______. Não adianta eu jogar essa barreira toda dentro de Niterói, então a gente conversa muito. Nós estamos falando, por exemplo, hoje se fala em geração de energia por atrito do veículo com o solo, é algo que a gente pensa estudar. Nós temos hoje velocidade e fiscalização que é uma modalidade, aquela do radar que tem aquele efeito sanfona, que o cara passa ali, passou o radar ele acelera novamente. A gente está colocando fiscalização com média ponderada, ou seja, vai ter um radar aqui no início, vai ter um radar lá no final, essa média vai ter que ser no máximo X minutos, se der menor, é que ele ultrapassou, você dá garantia que as pessoas não excedam a velocidade. Nós temos os trabalhos de monitoração da Ponte, que hoje, se você olhar o que era atrás, a prancheta, o papel, hoje está com muito mais tecnologia. E nós temos, por exemplo, monitorações realtime, ou seja, se a Ponte mexeu, eu sei o momento em tempo real, aonde que foi. Então, na verdade, primeiro tem a gestão da Ponte e a tecnologia que está envolvida. E na outra, essa mudança de comportamento, que a própria sociedade passa, que veio muito com a pandemia, o Home Office que foi inserido nas nossas rotinas, que mudou o comportamento da Ponte, um capítulo à parte aqui, um dos grandes desafios que eu tive de carreira também, lembrar que todo mundo sai de casa, máscara, álcool em gel. Só um capítulo, nós tivemos que trazer máscara e álcool em gel da China, porque eu falei assim: “a equipe está aqui, tem que dá condição de trabalho. Faceshield, álcool, aí o álcool sumiu, tem que ter! Fizemos importação da China de máscaras, que naquele momento era quase ouro. Então, para que a equipe pudesse trabalhar com condições de segurança. Então, o futuro é muito dinâmico, assim, sabe, então tem bastante coisa, muita coisa já está sendo feita, no ponto de vista de manutenção. Mas tem tecnologia que faça um pagamento de ação de energia e etc.
P - Qual o período da Ecoponte? Ele tem um período para ficar aqui, para ter uma nova licitação?
R - Toda licitação já tem o início e o fim. São 30 anos, então ela começou em 2015, então vai até 2045. Então, tem bastante tempo. Aí, a concessão, por exemplo, o contrato interior era um contrato de 20 anos, tem contrato de 25, tem de 30. Aí é muita modelagem econômica, financeira, que esse prazo não sou eu que determina, é o próprio Governo Federal. Que isso tem relação com a quantidade de investimentos que se é exigida, porque se for muito exigente, muito investimento, com um prazo curto, a tarifa fica muito alta. Então, é a forma de você aumentar o prazo e você reduzir tarifa, por isso, inclusive, foi um dos fatores que fez com que a nossa tarifa reduzisse 37%, lá em 2015.
P - Então, Júlio, para finalizar eu gostaria que você falasse do ponto de vista pessoal, família, o nome da esposa? Dia do casamento, por favor?
R - Minha esposa, inclusive, hoje está fazendo aniversário. Eu tenho dois filhos, um filho vai fazer 21 anos agora, o outro tem 13, é o Davi. O Lucas é o mais velho, o Davi é o mais novo. Eu dei esse exemplo em outro vídeo, que meu filho, que hoje está seguindo a carreira dele, fazendo escola de aviação. Eu lembro que quando ele era pequeno, quando a gente passava pro Rio, a minha esposa vinha atrás, a cadeirinha dele ficava atrás do lado do carona, aí eu lembro que ele falava assim: “Estamos passando a Ponte do meu pai". Na cabeça dele a Ponte era minha, que eu trabalhava aqui e tal. Então, meus filhos, desde que nasceram, eu tenho mais tempo de empresa, que o meu filho mais velho de vida. Então, eu faço questão de vir aqui de final, eu vinha pra cá com ele, ele ficava aqui comigo, ele tem foto pequenininho aqui. Então, a Ponte tem uma relação muito próxima com a vida dos meus dois filhos. E a minha esposa também está nessa.
P - Como é o nome dela?
R - O nome dela é Cintia. Cintia Rezende Amorim. Ela primeiro foi uma parceira de todas as datas, todos os momentos, porque por várias vezes tive que sair de casa de madrugada, perder comemorações, porque… Às vezes, tinha uma festa para ir. “Tive um problema, vou ter que ir para a Ponte". “Pô, Julio!”. “Tenho que ir!”. Aí, lá atrás, aí voltando um pouquinho naquele momento de transição lá de 2015, aí eu lembro que eu tive um dia… Lembro perfeitamente, que eu fiquei aqui sábado o dia inteiro, cheguei aqui 7:00 da manhã, quando foi 9:00 da noite, eu fui pra casa, assim, esgotado. Eu ía chegando em casa, aí o presidente da minha holding. “Você está aqui?”. Eu falei: “Acabei de sair!”. E ela estava em casa, ficou me olhando, mas eu não tinha mais energia, sem folgar a meses, domingo a domingo, e aquele dia 7:00 da manhã, 9:00 da noite, fisicamente, mentalmente. “Não, beleza, então a gente marca para almoçar amanhã. Ela: “O que que foi?". “O fulano tá chegando na Ponte". Ela: “Bora, levanta, não vai receber lá não?”. “Cara, eu não estou aguentando, estou morto de cansaço". Ela falou assim: “Bora, pega o restinho de bateria e vai lá, pô, como é que você não vai receber? Bora, bora, bora!”. Ela sempre foi de me motivar, de me compreender, sabe? Então, ela participou de todo o processo da ponte. Eu vou fazer com ela 27 anos juntos, entre casamento eu tenho 21 anos.
P - Como é que vocês se conheceram?
R - Olha, lá atrás, lembro que foi um grande acaso assim. Eu lembro que nessa época eu morava em São Gonçalo, eu tinha meus 18 anos, 18 anos, 19, eu sou péssimo para datas. Mas aí, nós tínhamos amigos em comum e tal. Aí ela falou assim: “Pô, você conhece a fulana?”. Falei: “Conheço!”. “Eu preciso ir embora…” Era amiga dela. “Eu preciso ir embora, a chave dela está comigo e tal". Aí deu uns 3 minutos, eu lembro que eu peguei a chave aqui assim. Ela: Você viu a fulana aí? ” Eu: “Porque?”. Ela: “Não, ela está com uma coisa minha". Eu falei: “E isso aqui? ” Aí ela me deu, eu falei: “Não, é a chave do seu coração". Aí, começou ali. Essa aqui é a chave do seu coração, essa chave tem um valor… Aí, acabou, na época eu falei, deixa eu te levar em casa e tal. Nós já tínhamos amigos em comum e tal. “Deixa eu te levar em casa". Deixou eu levar e tal. E foi numa boate, discoteca, coisa de garoto. Eu tinha 22, ela tinha 17, alguma coisa. A gente começou a namorar e nunca desgarramos.
P - E a profissão dela?
R - Então, aí minha esposa, durante muito, nós tínhamos a vida de executivos, ela trabalhou muito tempo na área de telefonia, ela trabalhou em grandes empresas, na OI, ela trabalhou 20 anos. Aí, na pandemia, ali mais ou menos, antes da pandemia, ela falou assim: “Pô, não participei da vida dos meus garotos, meus filhos”. Porque ela trabalhava até mais do que eu, no Rio, viajava muito, ficava meses vindo no final de semana para casa, de 15 em 15 dias, ela era Gerente de operações da Oi, milhares de pessoas. E a OI teve um processo de tirar todas as operações do Rio e levar para o Nordeste. Hoje, se você ligar, é um processo que envolve e ela participou desse processo todo. Então, toda operação do Rio de Janeiro, toda ela, foi transferida para o Nordeste. Então, ela ficava indo, desde captar prédio, então ela viajava muito e tal. Então, eu lembro que ela sempre se culpou muito por isso. “Eu não fui nas festas escolares do colégio". Dia dos pais, Dia das mães, eu ia, porque eu estava aqui mais próximo, eu conseguia ir. Então, ela fez um processo. “Cara, eu vou dá um tempo". E ela começou a se estruturar e isso acabou dando uma sobrevida, que durante dois anos e alguma coisa ela trabalhou em home office. E aí, ela, pó, levava os meus filhos no colégio, buscava e tal. “Pô, quando veio a questão de voltar para o trabalho, aí a OI entrou num processo judicial, teve um PDV lá, demissão voluntária, ela: “Júlio, eu vou embarcar nessa". Aí ela seguiu a carreira, está batendo aí com a carreira de empresária, está com uma loja de franquia, está aprendendo com esse negócio, como é que funciona. Mas focada na qualidade de vida. Pô, saia 7:00 da manhã, voltava 9 da noite. Então, ela sempre esteve do meu lado, sempre me apoiou muito, sempre tolerou. Ela fala assim: ela sabe o momento que eu estou muito estressado, ela tem a habilidade pra me reconduzir. Ela sabe quando eu estou muito assim, ela me acalma. Ela me incentiva quando eu preciso, porque não adianta, tem momentos que você fala. “Pô, cara, não é possível!”. Tem coisas que você pensa na cabeça, que tudo tem um propósito. “Cara, tanta coisa não está acontecendo que eu estou querendo”. Aquela ansiedade. Ela: “Calma, vai dar certo!”. E na festa de 50 anos ela teve muito isso do meu lado, me apoiando, me encorajando quando eu preciso, me segurando quando eu tô muito… E ela fala pra todo mundo. “O Julio tem a hora do ‘caixa do nada’ dele". ‘Caixa do nada’ assim, quando às vezes, eu chego em casa 9 da noite, eu não quero conversar, eu não quero nada. Aí, falo com eles e tal e eu preciso daquela meia horinha assim, tomo um banho com calma, como calma. Aí ela: “Já saiu da ‘caixa do nada’?”. É a hora que eu desligo, sabe, eu reduzo a velocidade, aí ali eu passo. Minha mãe liga. “Não, o Julio está na ‘caixa do nada’ dele. Minha mãe: “O que é isso?”. Ela sabe a hora. Como, por exemplo, ela sabe a hora que eu estou muito acelerado. “Calma, cara. Você vai surtar, para um pouquinho, desacelera". Durante várias vezes, passar final de semana trabalhando. E ela compreender isso. Ela já sabe quando eu preciso do meu tempo. “Vamos no shopping aqui". Agora os meus filhos já são grandes, mas eram pequenos, “vamos no shopping aqui, está trabalhando aí, né? Fica aí!”. Então, ela sempre me apoiou muito. E por muitas vezes ela abdicou da carreira dela, pela minha. Então, isso eu reconheço cada dia. Eu falo abdicar porque ela teve oportunidade de assumir diretorias em outros estados e tal. Ele falou assim: “Pô, cara, não posso ir! Porque filho pequeno aqui, eu sei que vai atrapalhar”, você não vai conseguir, vai ser um desafio a mais na sua carreira. Você olha tanta coisa, se eu ficar no final de semana, então. Abriu mão de oportunidades financeiras até bacanas. E eu sei que ela fez isso por mim, pela família e tal.
P - Julio, para encerrar, um conselho para o jovem Diretor Superintendente de rodovias, que está trilhando uma carreira?
R - Eu acho que primeiro é lembrar que as empresas são feitas de pessoas. E eu gosto muito de uma coisa, se você esquece de onde você veio, você não sabe para onde você vai. Eu tenho na minha vida muito isso, olhar pra trás, pra eu poder olhar pra frente. E o que eu converso muito é, eu gosto dessa geração Y e tal, que você aprende é resiliência, segurar ansiedade, foco. O que eu falo é, nunca é, às vezes, no tempo, que você quer. Às vezes, acontece no tempo que precisa ser. Eu tenho um exemplo, já falei isso aqui, às vezes você acha que você está preparado para aquela posição… E eu gosto quando a pessoa. “Pô, Júlio, porque que não fui eu, cara? Por que você escolheu fulano?”. E é legal quando é assim. “Por que foi ela?”. Isso é uma abordagem. “Por que foi ela e não fui eu? Por que que não fui eu nesse momento e foi ela? Não, por ela, mas o que que eu preciso?”. Aí, eu falo da história que eu aprendi um dia lá atrás, daquele garoto de 17 anos, que estava na categoria de base de um grande clube, está arrebentando na categoria de base, só que ele não está pronto para encarar um Maracanã aqui no Rio numa final. Você precisa ganhar musculatura, porque se você não souber a hora de lançar aquele talento, você pode queimá-lo. Então, é um processo de desenvolvimento. Então, o que eu falo é, para aqueles que estão assim: “O que você fez, tal?”. Primeira coisa é não perder a sua essência. Vejo muito isso, uma pessoa que começa galgar o desafio, ganhar uma projeção profissional, às vezes deixa um pouquinho a humildade de lado. Então, isso é importante. Eu sei que eu tenho consciência disso, que às vezes a pessoa faz porque precisa fazer. É a mesma coisa você fala “pô, eu quero fazer porque eu sei que o Júlio é um cara que está com a gente aí e tal”. Eu já ouvi isso lá. Pô, cara, eu tive alguns, num processo de 2015, três pessoas vieram falar. “Pô, Julio, tu vai ficar?”. E eu não podia falar que eu tinha um acordo de… “Cara, fala só que sim ou que não, porque se você ficar eu vou ficar aqui". Porque tinham pessoas que tinham proposta para ir para outros desafios e outras pra ficar. Aí, eu falei: “Cara, não terceiriza a sua decisão. A decisão é tua”. “Não, eu sei, você vai falar e tal, mas se você falar que você vai ficar no time aí, eu vou ficar também. Se você falar que vai vir outro eu vou embora". Falei: “Cara, a decisão é tua!”. E eu não falava, aí o pessoal… E isso para mim é muito legal, entendeu? Então, eu gosto sempre desse paralelo, que por trás dessa sala, dentro daquele guincho, tem pessoas, então eles precisam… E primeiro é, atitude, se empenhe, queira sempre fazer o seu melhor, às vezes, faça porque tem que ser feito, não porque faça porque eu quero… Eu sempre dou esse exemplo também, “cara, faça porque precisa ser feito, mesmo que não tenha ninguém olhando, é o caso da ética”. Exemplo que eu dou sobre ética, você não vai ser ético porque tem alguém olhando pra você, você tem que fazer porque precisa ser feito, você precisa ser ético. Então, a ética tem que estar em você, mesmo naquele momento que não tem ninguém te olhando, porque se você for correto, se for ético, por mais que não tenha ninguém olhando, você tem certeza… “Pô Julio, o cara é muito correto". Então, faça disso uma característica sua. Humildade, foco, respeito as pessoas e a ética. E que saiba uma coisa também, tenha resiliência, a vida que eu falo, aprenda com a sua derrota, que a ela te ensina mais que a vitória, pra mim! Porque vitória é tudo legal, deu certo, vitória você comemora, derrota, te faz refletir. Quando eu falei derrota é no sentindo, o que que eu tinha que ter feito, o que eu eu melhorei. Lógico que a vitória, eu falo isso assim, que eu falo, pô, o que que eu fiz de legal? Eu falo, “o que é sol, o que é nuvem?”. “O que que é sol, o que que brilha? Cara, guarda isso com você, o que que é nuvem, o que que ofusca? Tira!”. E eu falo assim: “seja um líder na sua existência, não tente copiar ninguém". Uma outra coisa que eu falo. Todo líder te ensina alguma coisa, alguns, como eu tive, me ensinou muito, cara, eu vou fazer igual ele fez, eu quero ser uma cara igual a ele. Faça o teu modelo de gestão, cria a sua identidade. Então, traga aquilo, isso aqui é muito legal para mim, eu vou replicar isso na minha vida. Mas eu aprendi também muito com os líderes que não foram tão legais, eu aprendi porque eu nunca vou fazer isso, eu nunca vou adotar essa postura dessa forma, cobrar com essa forma. Então, dali faça o seu modelo de gestão, cria a tua identidade. Tenta copiar A ou B, espelha alguém. E pra finalizar, eu sempre gosto de fazer a historinha de uma trilha quando você está buscando um caminho e você ver uma trilha, aquilo te dá segurança, mas no máximo que você vai chegar, aonde alguém já chegou. É uma trilha ali. Às vezes, o caminho mais rápido, ou melhor, mais adequado, não está na trilha. “Cara, se eu passar por aqui, se eu der a volta”. Então, inove, não fique preso a modelos. Tem isso daqui, todo mundo faz assim, fulano faz assim. Mas se você tiver a crença que você consegue agregar de alguma forma fazendo diferente. Cara, tente! O máximo que você vai ter é um não. Pô, tentei! Lógico, quando eu falo isso, é uma brincadeira que você vai calculando riscos. Pô, se eu fizer isso errado? Vou por aqui que é mais seguro para garantir, ou eu tenho uma margenzinha que me permite eu dar uma corrigida aqui no roteiro e tal. Então, tudo isso, coloca isso tudo num balaio e dedique-se. Acho que é isso!
P - Olha, super obrigada pelo seu compartilhar de histórias, pelo seu depoimento de trajetória de vida pessoal e profissional. Você gostaria de colocar mais alguma coisa? Como é que foi conceder esse depoimento?
R - Olha, primeiro eu queria agradecer a paciência de falar tanto aqui. Minha esposa fala assim: “cara, você falou!”. Mas acho que a ideia era extrair tudo que tinha. Então, eu queria primeiro agradecer a todos aí que participaram desse projeto. Tem sido um projeto de sucesso. Eu falo que falar de você, de si próprio, pra mim é longe de ser algo confortável assim, sabe? Eu não gosto! Mas o papo aqui foi muito tranquilo, você conduziu com muita… Então, fica aí o meu feedback, a condução que você teve. Porque eu falei assim, pô, também não quer fazer aquele endomarketing, não é isso. Eu falei assim, cara, então conversa foi muito tranquila nesse sentido. Tenho certeza que o projeto vai ser um sucesso e falar de pessoas, de cada um com a sua história, cada um com a sua com a sua essência, vai ser muito legal! Então, eu acho que para fechar com chave de ouro, nesse cronograma que nós temos aí, está se encerrando, não tenha dúvida que vai agregar muito para o processo.
P - Muito obrigada, Julio! Obrigada equipe pela parceria de sempre. Valeu! Muito obrigada!
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