Projeto 50 anos da Ponte Rio-Niterói
Entrevista de Eduardo Carlos Krueger
Entrevistado por Nataniel Torres
São Paulo, 22 de fevereiro de 2024
Código da entrevista: Entrevista PRN_HV002
Revisado por Nataniel Torres
P - Então, seu Eduardo, agora para a gente começar, a gente vai fazer aquela ...Continuar leitura
Projeto 50 anos da Ponte Rio-Niterói
Entrevista de Eduardo Carlos Krueger
Entrevistado por Nataniel Torres
São Paulo, 22 de fevereiro de 2024
Código da entrevista: Entrevista PRN_HV002
Revisado por Nataniel Torres
P - Então, seu Eduardo, agora para a gente começar, a gente vai fazer aquela perguntinha de praxe: Qual o seu nome, seu local e sua data de nascimento?
R - Eduardo Carlos Krueger, nasci no Rio de Janeiro, em 31 de janeiro de 1935.
P - E te contaram como foi o seu dia do seu nascimento, seu Krueger?
R - Eu nasci em casa, de parteira, não foi em hospital não. No bairro de Santa Tereza, na Rua Aprazível, é uma rua bem aprazível mesmo.
P - E qual o nome do seus pais, seu Krueger?
R - Meu pai se chamava Eduardo José Paulo Krueger, e minha mãe se chamava Margarida Schneider Krueger.
P - Então, vamos falar primeiro do seu pai, da família do seu pai. Seu pai, seus avós são brasileiros? Se não, como é a história deles?
R - Meu pai era alemão, nascido em Berlim. Ele participou da primeira guerra mundial. Ele veio para o Brasil, eu nem sei bem a data, ele comentava pouco, mas ele casou com a minha mãe em 1933. Minha mãe já foi a segunda mulher dele, a primeira mulher dele casou, parece que logo que chegou no Brasil em 1922, mais ou menos, eu não sei exatamente essa parte da história do meu pai, eu não conheço, eu desconheço, ele comentava muito pouco.
P - Então, vamos falar um pouco da sua mãe. A sua mãe é brasileira, não é? Como é a história dela?
R - Minha mãe é brasileira, filha de um dos primeiros imigrantes da cidade de Joinville em Santa Catarina, Carlos Schneider, ele foi… Ele chegou a ser, ele era o homem mais rico de Joinville, quando ele veio para o Brasil, para Joinville, Joinville tinha 20 anos de idade, Joinville foi inaugurado, foi fundado em 1851, ele veio em 1870, quer dizer, era nova, a cidade era nova. Ele veio para o Brasil com algumas ferramentas, que ele trouxe da casa comercial do pai dele na Alemanha, aí ele vendeu essas ferramentas aqui no Brasil, ganhou dinheiro com isso, mandou vir mais ferramentas, e vendeu mais, aí cresceu, aí ele construiu uma casa comercial em Joinville, chamada “casa do aço”. Essa casa, ela ficou muito conhecida em Joinville, os habitantes antigos de Joinville conhecem a “casa do aço “. Ele chegou a ter uma empresa de navegação, em que ele buscava as mercadorias que vinham da Alemanha em São Francisco do Sul com os barcos dele, e vendia em Joinville, ele tinha um prédio em Joinville, um armazém, o depósito dele, muito grande, existe ainda hoje, ele entrava com o barco, com os barcos, ele dentro do armazém. Tinha um canal, entre o Rio Cachoeira, que é o que passa em Joinville, para dentro do armazém dele, que dizer, ele era um cara muito importante, não é? Cresceu, ficou rico, todas as primeiras coisas que foram trazidas para Joinville, foi ele que trouxe, primeira bicicleta, primeiro automóvel, primeira semente sei lá, semente, eu sei disso porque me contaram isso. E tinha uma biblioteca na casa dele, em que ele alugava livros para os imigrantes que vinham, não é? E uma biblioteca grande, não era pequena não, era grande, é mais ou menos isso. Um filho dele continuou com a casa do aço, ele faleceu em 1930 em um acidente, e a casa do aço continuou com um filho dele até recentemente. Atualmente, esse meu tio, filho dele, tem uma fábrica de parafuso em Joinville muito grande, esses parafusos são vendidos no Brasil todo, é fábrica grande mesmo, é mais ou menos isso.
P - E como é que a sua mãe chega no Rio de Janeiro?
R - A minha mãe, eu não sei exatamente a idade que ela tinha, mas deveria ter aí seus 20 poucos anos, uma irmã dela casou com um funcionário público, veio morar em São Paulo, esse funcionário público, Landulfo Alves, ele foi governador da Bahia, Landulfo Alves, tinha refinaria, ele era meu tio, que era casado com uma irmã da minha mãe, então ela casou com esse Landulfo Alves, aí logo depois minha mãe foi para o Rio, sozinha, e ficou lá como cuidadora de família, de filhos, ensinava Alemão, essas coisas, até que um dia conheceu meu pai, casou e foi assim.
P - O senhor tem irmãos, seu Krueger?
R - Eu tenho um irmão Adolfo, já falecido, Adolfo Paulo Krueger, trabalhou na Petrobrás por muitos anos.
P - Então,
vamos falar sobre a sua infância primeiro, a sua infância foi no Rio de Janeiro, é isso?
R - Foi
P - Então, como era a sua casa na infância ? Vamos começar do começo.
R - Eu nasci na rua aprazível, em Santa Tereza, aí o meu pai, com o tempo, ele era engenheiro, fazia projetos,
trabalhava em uma projetista muito importante no Rio a ---, ele participou de obras muito importantes no Rio, como arsenal da marinha, fortaleza de Santa Cruz... Eu estou meio...
P - Tranquilo
R - Ele participou de muita coisa importante no Rio, e era Alemão, engenheiro, sabia das coisas, né? Aí ele construiu a casa dele em Santa Tereza, uma casa grande, diversos andares, e eu passei a minha infância, a partir dos 4 anos, 6 anos, eu não lembro mais nessa casa, né? E até isso foi em 1940, 42, por aí. Aí em 1948 nós mudamos para Joinville, meu pai tinha construído muito no Rio de Janeiro, ele queria descansar, e queria tirar um ano de férias, e foi com a família, minha mãe, meu irmão, eu, éramos crianças, fomos para Joinville, e lá ele ficou, porque como ele era um cara muito capacitado, com muito conhecimento, ele começou a construir fábricas em Joinville, então tem diversas fábricas, conhecidas até hoje, Cônsul, foi ele que construiu, a metalúrgica Tupi, sei lá, um monte de fábricas, ele ficou lá, inclusive ele faleceu em Joinville depois, ele ficou em Joinville, morou em Joinville, e acabou falecendo em Joinville, né?
P - Essa sua infância, vamos voltar para Santa Tereza primeiro para depois a gente contar sobre Joinville, o que que você fazia na infância? Quais eram as suas brincadeiras? Como que era a sua vida
nesse período do Rio?
R - Nós morávamos em Santa Tereza, era um casarão grande, tinha o lote vizinho que também fazia parte da casa, era um, tudo jardinado, bonito, jardinado... Eu brincava, e eu tinha amigos em Santa Tereza, no bairro de Santa Tereza, que depois foram meus colegas de trabalho, agora eu esqueci o nome dele, um cara famoso, o Mário Vilas Verde, o Mário Vilas verde foi um dos melhores projetistas de estruturas do Rio, ele... Nos encontramos mais tarde, nós éramos amigos quando crianças, brincamos como crianças e aí eu fui encontrar com ele depois de formado tal, e trabalhamos juntos na ponte Rio Niterói, ele já é falecido, Mário Vilas Verde já é falecido, foi um grande engenheiro. Eu estudei no colégio São Bento, para vocês saberem como era o Rio de Janeiro naquele tempo, com 7, 8 anos de idade eu ia sozinho para o colégio, eu descia de bonde da onde nós morávamos até o centro da cidade, no largo da carioca, eu ia a pé pela avenida Rio Branco, até o colégio São Bento, que ficava localizado no cais do porto, lá na praça Mauá, no morro, perto da praça Mauá, eu ia e voltava sozinho, sozinho com 8 anos de idade. Não tinha problema, não tinha problema, minha mãe nunca se preocupou com isso, nunca se preocupou com isso. Depois do colégio São Bento, aí eu fui, meu pai me transferiu para o colégio Cruzeiro, que era um colégio meio alemão, ficava na Avenida Mendes Sá no Rio, eu fiz o meu ginásio, eu fiz no colégio Cruzeiro, um colégio
muito bom, eu aproveitei muito, foi onde eu realmente cresci como criança, com conhecimento, e minha mãe era muito enérgica, ela dava duro, então eu tinha que estudar muito, ela me cobrava muito, né? E o colégio também era um colégio muito bom, então realmente eu me desenvolvi muito nesse colégio. Depois do Colégio Cruzeiro, aí fomos para Joinville, mudamos para Joinville em 1948, aí eu fiz um ano em Joinville, no colégio de Joinville, e depois eu fui para Blumenau interno no colégio dos padres, aí eu fiquei interno no colégio dos padres….
P - Então vamos voltar, antes da gente voltar para Joinville, deixa só eu te perguntar, no Rio de Janeiro nesses colégios que o senhor passou, o São Bento, o Cruzeiro, teve algum professor que tenha te marcado? Alguma história que você lembra desse colégio, que você fala “ é uma lembrança que eu tenho de um dos dois, ou dos dois”?
R - No Colégio São Bento eram padres Beneditinos, lá eu era comportado, mas não teve assim, grande influência, eu estudei, tal, mas não tinha grande influência, não teve grande influência no meu desenvolvimento. No colégio Cruzeiro sim, me desenvolvi muito, eu lembro, naquele tempo havia o curso de admissão, você fazia o primário, do primeiro ano primário até o quarto ano primário, aí você fazia o admissão, para depois entrar no ginásio, como se fosse o quinto ano hoje, naquele tempo se chamava “curso de admissão”, essa professora… Me emociono… Essa professora, teve muita influência comigo, dona Nila, engraçado isso, né? Como mexe, mexe na lembrança… Acalmar um pouco.
P - Claro, tranquilo…
R - Pois é, então essa, era dona Nila, ela teve uma grande influência sobre mim no curso admissão, eu estude muito, fui muito bem, Depois o ginásio, tal, foi lá no Colégio Cruzeiro, mas os professores assim, já não lembro mais, eu lembro dessa dona Nila. E depois em Joinville também, o colégio, a diretora era dona Ana Harger… A diretora do colégio Joinville era uma mulher muito enérgica, era muito enérgica, Ana Harger. Era um colégio particular, e tinha lá seus 500 alunos, tal, mas ela punha quente em todo mundo, ela era brava, a dona Ana era brava. Bom, daí eu fui para Blumenau, em Blumenau, eu me dei muito bem com os padres, eram padres Franciscanos, me dei muito bem com esse colégio, né? Eram Freis Franciscanos, né? Lá eu tive aula de latim, aula dr francês, inglês, eu tive aula de… Foi um colégio muito bom, não é? Fiz o ginásio e o científico em Blumenau. Aí quando terminou o científico, aí meu pai me levou para Curitiba para fazer o vestibular de engenharia, na escola de engenharia de
Curitiba, o primeiro vestibular eu perdi, eu não passei, aí o ano seguinte, aí sim, aí eu estudei, estudei demais, estudei tanto, que eu tirei o primeiro lugar no vestibular, acabei tirando o primeiro lugar no vestibular. Morava em uma pensão em Curitiba, e tinha meu colega de quarto, que estava fazendo vestibular de medicina, então ele estudava igual a eu, então ele estudava a noite toda, eu quase não dormia, estudava dia e noite, eu ia no cursinho, só ia no cursinho quando aparecia alguma coisa que me interessava, porque eu já sabia tudo, eu estudava tudo, eu sabia tudo, né? Então, meu vestibular foi um vestibular muito bom, muito bacana, os professores, tudo que eles me perguntavam eu sabia, e exagerava nas respostas, acabei tirando primeiro lugar, não é?
P - Então deixa eu te perguntar uma coisinha para a gente poder seguir para esse lado da formação, seu Krueger, por que engenharia?
R - É que meu pai era engenheiro, era construtor, não é? E ele era muito técnico, ele era muito técnico, Eu não tive assim grande… Eu não quero dizer, eu não tive grande influência, assim, tecnica do meu pai, apesar dele ter sido um ótimo técnico, ele sabia muito, e ele foi autodidata, ele não fez escola de engenharia, ele era autodidata, ele projetava, calculava as estruturas, e construía, ele fazia tudo, ele fazia tudo, meu pai, né? Mas eu era meio avoado, não acompanhava muito ele não, ele me levava nas obras às vezes, tal, mas eu não participei muito da vida profissional do meu pai. Realmente eu peguei, eu entrei mesmo na engenharia, quer dizer, eu fiz o curso da engenharia tal, e teve uns acontecimentos na minha vida como estudante que me levaram para engenharia, né? Que foram acontecimentos importantes que eu posso contar.
P - Por favor…
R - Eu já namorava a minha futura esposa, e aí domingo nós íamos ao cinema, e eu assisti um filme, um filme não, um jornal que contava a história de uma construção de uma hidrelétrica em Minas Gerais, e aquele filme me impressionou demais, a construção dessa hidrelétrica, aí isso me atraiu demais, né? Aí isso ali já me direcionou a minha vida, esse filme, esse vídeo, esse jornal. Aí quando eu estava fazendo a escola de engenharia, já no quarto ano de, na escola, eu tive um professor de grandes estruturas chamado Maximo Asinelli… Maximo Asinelli, ele era solteirão inclusive, ele nem era casado, era solteirão, já velhinho, mas ele levava a turma dele, todo ano, como programa de escola, ele levava para mostrar obras no estado de São Paulo, então nós pegávamos o trem em Curitiba, íamos até Ourinhos em São Paulo de trem, de lá a gente pegava o ônibus.. A não, pegava o trem, Sorocabana, e nós íamos visitar as obras no estado de São Paulo, e aí nós visitamos, no meu ano, ele nos levou para visitar duas hidrelétricas, hidrelétrica de Salto Grande, que já estava no final da construção, e a hidrelétrica de Jurumirim que estava no começo de construção, isso me empolgou demais, me empolgou demais. E aí eu falei “aí que eu vou trabalhar, e é aí que eu vou trabalhar mesmo.” Aí aconteceu os seguinte, na minha vida aconteceram uns fatos diferentes, durante a minha vida, aconteceram uns fatos diferentes, que fizeram eu crescer muito, então esse foi um dos fatos, eu queria estagiar em Jurumirim, como estudante, naquele tempo os estudantes não estagiar, não havia esse negócio de estágio, naquele tempo não tinha isso, mas eu era um cara diferente, eu queria estagiar, eu queria ir lá e em Jurumirim, queria acompanhar a obra, eu queria ver.
Eu era estudante ainda, eu estava no quarto ano, aí eu falei com o meu professor de hidráulica como é que eu deveria fazer para conseguir o estágio, aí ele me recomendou que eu mandasse uma carta, até foi Isaac Milder, que era meu professor, que me aconselhou,quer dizer,
o meu professor mesmo foi o Pedro Viriato Parigot de Souza, que foi governador do Paraná, mas o Isaac Milder era assistente dele. O Isaac Milder teve um projetista muito importante aqui em São Paulo depois, depois ele veio para São Paulo, montou uma projetista aqui em São Paulo. Bom, e ele, o Isaac Milder me recomendou que eu mandasse uma carta para Uselpa, que era a empreendedora da barragem de Jurumirim pedindo o estágio, não é? E eles nunca me responderam, mas como eu estava afim de estagiar lá, aí eu peguei minha mala, pus a roupa na minha mala, peguei o trem e fui sozinho para Jurumirim, fui para Ourinhos, Piraju, aí eu cheguei em Piraju, que era a cidade próxima a Jurumirim, aí eu procurei lá
a casa onde morava o engenheiro da obra, não é? Aí me informaram “é tal casa, na praça de cima, tal casa.” Eu fui lá, aí a esposa dela falou para mim “o, você vem a noite que agora ele não está, ele está na obra, mas a noite você vem aí.” Eu fui lá a noite, aí eu falei com ele, tal, que eu queria estagiar na obra, daí ele perguntou para mim: “ Sim, mas você não tem autorização na diretoria, como é que você vai estagiar na obra, né?”. Aí eu falei “ é, mas eu estou querendo, eu estou afim, eu vim aqui para estagiar na obra.” “ A, mas não dá, é difícil, não, você tem que ter autorização da diretoria tal, como é que faz?” Daí eu falei assim para ele: “ Olha, doutor, eu só vim com o dinheiro da ida, eu não tenho dinheiro para voltar, eu vou ter que ficar aqui”. Aí ele, aí ele entendeu, aí ele entendeu, depois nós nos tornamos muito amigos, doutor Nonato, nos tornamos muito amigos. Aí ele falou para mim “Então, você faz o seguinte, pega uma pensão aí na cidade, dorme aí, e aí amanhã de manhã você vem aqui na minha casa, que sai um ônibus aqui da minha casa com os funcionários da Uselpa, você vai junto, e quando chegar na obra você me procura que nós vamos conversar. “ Ah, tá bom.” Aí eu fui para a pensão tal, dormir, de manhã cedo fui lá, pegamos o ônibus, cheguei lá na obra, procurei lá o doutor Nonato, e aí ele disse “Tá ok então, você vai fazer o estágio aqui conosco”. Aí me direcionou lá para o empreiteiro que era Servix Engenharia, e mandou… Ele era o gerente da Uselpa, e a empreiteira era a servix Engenharia, aí ele telefonou lá para o engenheiro da Servix Engenharia para arrumar um trabalho lá para mim, aí eu fui para lá, e estagiei na Servix, aí quando terminei, um mês, um mês de estágio, aí no final do mês desse estágio o engenheiro da Servix falou “você no final do ano..” Isso foi em julho “... No final do ano, você volta aqui, você pode estagiar outra vez”, “tá, tá ok.” Aí no final do ano eu voltei, estagiei outra vez, aí já era o quinto ano, aí já estava o quinto ano. Aí o engenheiro da Servix falou assim: “
Olha, se você quiser trabalhar conosco você pode vir aqui em fevereiro, que tem lugar aqui para você.” Aí foi o final do ano, né? Aí em fevereiro eu fui para lá, teve a formatura, tal, lá em Curitiba, missa solene, entrega de diploma, toda aquela coisa, festaiada toda. Aí eu fui em fevereiro, já me apresentei lá em Jurumirim, e comecei a trabalhar em Jurumirim, e como eu não tinha ainda a carteira de trabalho, a primeira categoria que me puseram na carteira de trabalho foi servente, eu comecei na minha carteira de trabalho de servente, aí quando saiu meu diploma da escola, tal, aí eles me classificaram de engenheiro, aí me puseram como engenheiro na carteira de trabalho, foi bacana isso. Aí eu trabalhei, continua?
P - Pode… Vamos só voltar um pedacinho..
P - Seu Eduardo, então vamos voltar um pouquinho, o senhor falou sobre a esposa, sobre o jornal que o senhor assistiu sobre hidrelétrica, como é que foi a juventude e esse encontro com a esposa, então? Vamos voltar nesse pedacinho da história?
R - A juventude, eu morava em Joinville, e depois eu fui para Curitiba, claro, a gente tem a fase de juventude que a gente bagunceira, né? Todo rapaz tem essa fase, não é? Eu entrei em Joinville, naquele tempo todo sábado tinha baile nos clubes, né? Antigamente tinha esse negócio de baile, hoje não tem mais, isso acabou, não tem mais baile, mas antigamente tinha, todos os clubes no sábado tinha baile, era uma orquestra, entende? E a gente escolhia o clube que a gente ia no sabádo a noite para o baile, né? Eu tinha a minha turma, os meus colegas de bagunça, né? Então a gente escolhia, daí a gente ia no baile tal, escolhia, dançava com as meninas tal, e não tinha namorada ainda, mas eu sempre dançava, mais ou menos com as mesmas, né? Tinha assim, muita amizade tal, e a gente bebia, bebia muita cerveja tal, coisa, coca… Como é que chama? Naquele tempo era coca cola com rum bacardi, como é que chamava? Tinha um nome, rum com coca cola
P - Cuba libre?
R - Cuba Libre! Cuba libre,isso mesmo, Cuba livre, tomava muito Cuba livre, então era assim, até que quando eu já estava em Curitiba, isso foi em Joinville, né? E lá em São Francisco do Sul, era a cidade onde eu ia muito, lá perto de Joinville, São Francisco do Sul, carnaval eu ia para São Francisco, que era uma cidade muito alegre, tinha as meninas lá, tal, né? Então, era muito bom, era muito bom. Tinha assim umas meias namoradas, meia namorada. Aí depois em Curitiba eu fiz o vestibular, primeiro ano, segundo ano, e no segundo ano da escola eu tive um problema no joelho, o joelho ficou, eu tive um problema no joelho, e tive que tomar lá umas injeções tal, até tive que engessar a perna por causa desse problema no joelho, né? Então, nessa época a gente também ia em Curitiba, ia no baile, tinha baile, tal, eram outros clubes, né? Então, tinha uma tarde dançante no clube militar, no círculo militar, no sabádo a tarde tinha uma tarde dançante no círculo, todo sábado eu ia lá, e em um desses sábados eu conheci a minha esposa, né? Aí eu, sei lá, dançamos tal, eu achei ela bonita tal, aí no sábado seguinte ela estava lá, dançamos outra vez tal, segundo, terceiro sábado tal, aí sei lá, acho que conversamos um pouco mais, e a coisa foi evoluindo. E aí nesse tempo eu trabalhava na prefeitura de Curitiba, como estudante, eu trabalhava na prefeitura de Curitiba, até foi meu pai que arrumou isso, eu trabalhar na prefeitura de de Curitiba, trabalhei lá 4 anos, no tempo da escola, trabalhei na prefeitura, então minha função era fiscalizar obras, né? Aí quando eu ia fiscalizar obras, eu ia ver minha namorada, ia na casa dela, ia namorar, ficava lá não todo dia, mas duas vezes por semana eu ia, e era um namoro sério, muito sério, eu nunca fiz nada, nada de mais assim, nosso namoro foi sempre muito sério, o máximo, nunca beijei minha namorada, nunca, só beijei no dia do noivado. Quer dizer, foi um namoro muito sério, né? O pai dela, a mãe dela, ele era, o pai dela, o meu sogro era funcionário público, e a mãe dela era professora em Curitiba, né? E quando eu ia lá, a mãe sempre estava em casa, sempre estava em casa, aí ficava conversando tal, ficava lá meia hora,
1 hora, e ia embora. A gente ia em baile juntos, e sempre um namoro muito sério, muito sério, e eu namorei ela desde o.. Até o quinto ano, quer dizer, namoramos 4 anos.
P - Desculpa, qual o nome dela para a gente deixar registrado?
R - O nome dela era Josefa Terezinha da Silva Krueger, ela gostava do Terezinha, Terezinha, o nome dela era Tereza, eu chamava de Tereza, era Tereza e ponto. O Josefa não gostava, era o nome da avó dela, era o nome que ela tinha da avó dela, ela não usava o Josefa. Ela era Tereza, e ficou Tereza, não é?
P - Desculpa, e o senhor estava contando que estava no quarto para o quinto ano…
R - É, daí eu eu pedi ela em casamento, né? Já estava no quinto ano, né? Eu já tinha estagiado, já estava mais ou menos comprometido para trabalhar em Jurumirim, não é? Aí eu pedi ela em casamento, né? E aí teve lá, mas o noivado não foi nada de… Minha mãe foi lá, meu pai foi lá, tal, minha mãe sempre queria que eu casasse com uma moça de Joinville, né? Quer dizer, ela nunca foi muito favorável a esse casamento, ela queria que eu casasse com uma moça de Joinville, que ela conhecesse a família, que lá tinha aquelas famílias tradicionais, né? Então ela queria que eu casasse com uma moça de uma família tradicional de Joinville. E a Tereza não, a Tereza era de Curitiba, também era quatrocentona, também era de família tradicional do Paraná, né? Mas não era do gosto da minha mãe, né? Então teve um conflito aí. Mas, eu, ficou assim, e foi em frente, e aí nós casamos, aí eu comecei a trabalhar em fevereiro, e casamos em junho, do mesmo ano, casamos em junho, não é? Aí sim teve um almoço tal, bacana, eu casei, eu sou Luterano, eu não sou catolico, sou Luterano, então eu casei na igreja Luterana em Curitiba, até a minha mãe que exigiu isso, ela era católica, né? Era de família católica, né ? Tradicional católica, mas a minha mãe diz “não, se não for na igreja luterana não vai ter casamento.” Minha mãe não era fácil não, não era fácil não, “tem que ser na igreja Luterana.” Aí meu sogro, assim como era gente muito boa, né? “ Tá bom, então vai ser na luterana.” E aí casamos na igreja luterana, tenho um monte de fotografias aí do casamento. Aí casamos, passamos a
lua de mel no Rio, meu pai ainda tinha a casa dele no Rio, ainda tinha a casa dele lá, então nós passamos a lua de mel na casa do meu pai no Rio, quer dizer, a nossa lua de mel foi no Rio na casa do meu pai, que tinha diversos andares, ele alugava os andares para diversas famílias, era um prédio de uns 4,5 andares.
P - Essa de Santa Tereza?
R - Santa Tereza, é… E aí fomos para Piraju, né? Depois da lua de mel, fomos para Piraju, e os primeiros anos de casados. Aí já em 1960, 1 ano depois, já nasceu o meu mais velho, Marco Antonio, né? Aí continua, como é que é agora?
P - Não, pode continuar, vamos seguir essa parte da família, porque aí depois a gente volta para a ponte.
R - Pois é, aí nasceu meu filho mais velho Marco Antonio. Aí Jurumirim estava terminado a obra, já estava no final, eu acompanhei a obra inteirinha, inclusive a montagem do equipamento, a montagem de turbina e gerador, eu acompanhei detalhadamente, então eram suiços e alemães, o equipamento era suiço e alemão, eu falava alemão, então eu me dava muito bem com os montadores, e com isso eu aprendi a montagem de turbina e gerador, sabia tudo, né? Mas a obra estava no fim, e aí a Servix, que era a empreiteira queria me transferir para a Bahia, para uma barragem na Bahia, né? Aí eu fiquei pensando comigo “não, eu estou em São Paulo, eu vou lá para a Bahia, não vou para a Bahia não, eu quero ficar aqui em São Paulo mesmo, não vou para a Bahia não.” Já, isso já me, mas eles queriam me transferir para a Bahia, aí aconteceu
o seguinte, aí teve o outro fato que também marcou muito minha vida. O primeiro fato que marcou muito minha vida foi quando eu peguei o estágio, que eu contei aquela história que eu fui lá a noite, falei lá com o engenheiro, ele mandou eu vir na manhã seguinte, lembra que eu contei? Pois é, aquele foi o primeiro fato importante, né? Até o filme que eu assisti de barragem, né? Aquilo tudo me marcou muito. Aí aconteceu o segundo fato importante, eu estava trabalhando em Jurumirim, e os operários, eu me dava muito bem, eu sempre fui um bom líder de operários, sempre me dei muito bem com operário, encarregado, eu me dava sempre muito bem com eles, trabalhava dia e noite, em Jurumirim eu trocava turno, eu trabalhava uma semana de dia e uma semana de noite, em Jurumirim. Aí os peões me contaram que a Camargo Corrêa tinha assinado o contrato para a construção da usina de Jupiá, aí eu “Jupiá uma obra grande, tal…”. Mas, naquele tempo, também tinha a Usina de Xavantes para ser iniciada, e a Servix ia construir, não, a Servix estava fazendo o projeto de Xavantes, mas a CBPO era a empreiteira de Xavantes, a CBPO que ganhou a concorrência de Xavantes. Então, havia uma lógica do pessoal que trabalhou em Jurumirim ir para Xavantes, porque era perto, Xavantes ficava uns 150 km de Jurumirim, era perto, então havia essa lógica do pessoal de Jurumirim apra Xavantes, eu era candidato a trabalhar em Xavantes com a CBPO, eu era candidato, forte candidato, mas esse negócio de Jupiá começou a me coçar, porque era uma obra muito maior do que Xavantes, muito maior, não é? Aí o que que aconteceu? Eu sei que aí teve um fato que eu e decidi que eu vou para Jupiá mesmo, eu não me lembro mais, é a peãozada, a peãozada que falava muito de… É, exatamente, os operários falavam muito da Camargo Corrêa, empresa grande, tinha muita máquina, era uma empresa enorme, que era empresa boa de trabalhar, não é? E a Servix, onde eu trabalhava, era uma empresa média, tinha pouca máquina, não era uma empresa muito forte, né? E aquele negócio dos peões me falarem que a Camargo era uma empresa muito grande, muito forte, aquilo me empolgou, né? Aí eu fiquei 50 anos na Camargo, trabalhei 50 anos na Camargo. [interrupção]
P - Mas, começa aí a sua história?
R - É, começa aí, pois é, então peãozada lá falava muito da Camargo, que era uma empresa muito forte, tinha muita máquina, muito trator, muita escavadeira, tatata, aí eu me resolvi, eu vou é para lá mesmo, eu resolvi ir para lá. Aí tinha um desenhista que trabalhava lá na obra, que morava em São Paulo, e ofereceu… Eu não conhecia São Paulo, nunca tinha vindo em São Paulo, nem sabia como era São Paulo. Aí ele ofereceu a casa dele para eu pernoitar na casa dele. Então, pelo menos eu tinha um pouso, a casa dele era no Jardim São Paulo. E eu marquei naquele tempo, nós tínhamos um caminhão que buscava sucata na obra lá do Jurumirim para vender em São Paulo, um caminhão FNM. Aí eu combinei com o motorista uma carona para ele me levar para São Paulo, para eu procurar a Camargo Corrêa, eu combinei com o motorista essa carona, aí ele marcou o dia, e no dia eu fui lá, eu avisei a Servix “olha, eu vou em São Paulo, eu tô querendo procurar a Camargo Corrêa”. Eles não se importaram muito, deixaram eu ir, não é? Aí no dia, minha mulher resolveu ir junto, aí foi complicado, viu?. “Po, mas você vai de caminhão FNM comigo para São Paulo? Nunca fui em São Paulo, como é que vai ser?”. Aí ela: “Não, eu vou junto, eu vou, você não vai sozinho não, eu vou junto…”, e foi, e fomos os dois, e o menino que nós já tínhamos, o filho que nós já tínhamos a empregada ficou cuidando, aí fomos para São Paulo. Chegamos em São Paulo mais ou menos meia noite, chegamos lá no centro da cidade, no Anhangabaú, e eu não sabia nada, não sabia de São Paulo, não conhecia São Paulo, aí eu perguntei para o motorista como é que eu ia lá no jardim São Paulo, api ele falou para mim “Não, você vai naquele ponto ali, do outro lado da avenida, aquele lugar ali tem um ônibus que vai para o Jardim São Paulo, você vai lá e espera”, não é? Aí eu fui lá, fui com a mulher, mala, fomos para lá, e realmente veio o ônibus, aí fomos, chegamos lá ao destino, achamos a casa, o desenhista, batemos a campainha, a mulher atendeu, dormimos lá, tal. Aí na outra manhã, aí que foi o fato, aí na outra manhã, ela se ofereceu a ir junto conosco, porque eu não conhecia São Paulo, não é? E eu sabia, eu tinha o endereço da Camargo Corrêa, que era hoje o prédio do Edifício do estado de São Paulo, era no mesmo prédio, rua João Brícola, aí, mas eu não sabia, não conhecia, eu sabia assim João Brícola número tal, aí fomos lá, aí quando eu olhei o prédio do banco do estado de São paulo, bom de fotografia eu conhecia, né? Se você me falassem que era o prédio do banco do estado de São Paulo eu já sabia chegar, né? Apesar de eu não conhecer,não é? Mas, aí eu entrei lá no prédio, olhei lá não tinha Camargo Corrêa nenhuma lá, aí eu perguntei para o porteiro lá “po, Camargo Corrêa como é que é? Me falaram que é aqui.” “A, eles mudaram, não estão mais aqui, eles agora estão na Líbero Badaró, você tem que ir lá na Líbero Badaró.” Aí eu falei “Mas onde é que é a
Líbero Badaró?” Eu perguntei, não sabia nada. Aí ele me levou lá fora, na calçada, e me mostrou o prédio, que era o prédio, o antigo prédio do banco de Boston, na Líbero Badaró, era alí, “você vai aquele prédio, vai lá que você vai encontrar a Camargo Corrêa lá. “ Eu fui lá com a mulher, né? Sexto andar, subimos, aí é que foi, aí foi o fato, descemos de elevador, tal, tudo envidraçado, bonito, tudo.. Lambri na parede, chique, super chique, né? Escrito lá “construções Camargo Corrêa, comércio Camargo Corrêa.” Super chique, eu fiquei com medo, fiquei com medo, né? Digo “ Isso não é lugar para mim não.” É verdade, isso não é lugar para mim não, aí eu falei com um rapazinho, que estava ali, tinha um rapazinho lá em uma mesa, né? Aí a minha mulher diz assim “ Então, agora você vai.” Eu queria desistir, eu queria ir embora, não é? E aí minha mulher me deu um empurrão “Não, você vai, agora você vai.” Eu fui, aí eu falei com o rapaz: “Eu queria falar com o engenheiro aí, queria trabalhar aí tal, como é que faz, tal?” Aí o rapaz, ele abriu a porta, uma porta lateral, para me anunciar, aí o engenheiro lá de dentro me viu, e me reconheceu, entende? Me reconheceu, ele veio de lá, veio falar comigo. “Po, o senhor está por aqui?” Ele já nem lembrava o meu nome, eu não sabia dele, não sabia nada, mas ele lembrava da minha fisionomia. Aconteceu o seguinte, naqueles anos que eu estava em Jurumirim, o meu professor, que me levou a visitar as obras do estado de São Paulo, trouxe a turma dele para visitar Jurumirim, e eu mostrei a obra para eles, e esse rapaz fixou a minha fisionomia,entende? Aí quando a porta estava aberta ele me viu, ele me reconheceu, né? Aí “Po, o senhor por aqui? O que que o senhor deseja, tal?” Aí eu falei “
Eu quero falar com o engenheiro, eu queria trabalhar aqui.” Mais ou menos assim mesmo, aí ele me anunciou lá para o engenheiro que estava na mesinha do lado ali, né? Esse engenheiro era um diretor da Camargo Corrêa, que depois ele me admitiu, nos tornamos muito amigos, era um sujeito ótimo, formidável. Bom, mas aí ele me mandou entrar, o engenheiro Mário Pinto me mandou entrar, aí ele fez algumas perguntas para mim, eu digo de onde eu era, quem que eu era, o que que eu fazia, o que eu não fazia e tal, conversamos ali uns 15 minutos, e ele foi com minha cara, né? Aí ele disse “Olha, você pode trabalhar conosco sim, mas não é comigo que você vai acertar, você vai acertar com outro engenheiro que está viajando, que só vai estar daqui um mês, você vai ter que voltar daqui um mês, para falar com ele.” “A, ta ok, um mês, está ok. “ Sai feliz da vida, porque o cara tinha me aceito, né? Sai de lá feliz da vida. E aí voltamos para Piraju, fiquei 1 mês na obra, mas eu já não pedi demissão não. Já pedi demissão? Não, não pedi demissão não, não, não. Daí um mês eu voltei para São paulo, e fui lá na Camargo, e procurei o Mário Pinto, e o Mário Pinto falou “olha, o engenheiro com quem você tinha que falar não está aí, mas eu vou te admitir, eu vou acertar com você.” A tá bom.” Ele me ofereceu um salário duas vezes maior do que eu ganhava lá em Jurumirim, e 3 meses depois ia aumentar mais 20% (risos), foi demais, aí foi demais. Aí eu falei para ele, aí ele falou “olha, você pode começar amanhã, pode ficar aqui em São Paulo, pode começar amanhã conosco. Aí eu falei “não, doutor, mas não posso fazer isso, estou trabalhando lá em Jurumirim, eu vou deixar eles na mão assim? Não, sso eu não posso fazer, aí vão querer um aviso prévio, eu vou ter que ficar 30 dias lá, depois daqui 30 dias que eu vou poder aparecer aqui para começar a trabalhar.” Daí ele falou “
Tá, tá bom, está combinado, então daqui 30 dias você aparece aqui, tá bom.” Realmente eu voltei para a obra, falei que ia para a Camargo, e eles me pediram aviso prévio, eu fiquei 30
dias lá, trabalhei normalmente, sem problema nenhum, trabalhei normalmente. Venceu os 30 dias, aí eu entreguei a casa que eu tinha alugado, deixei os movéis não sei aonde, sei que
eu dei um jeito, e fui para São paulo, comecei a trabalhar, não é? Quer dizer então, esse foi o segundo fato, que eu consegui o meu trabalho através desse fato, dessa forma, não é? Depois começou São Sebastião, eu tive, eu não sei agora, eu vou começar agora a falar da vida profissional, não sei se…Interessa agora [pausa] Eu já estava trabalhando na Camargo, alias, quando eu fui para Camargo, quando sai de Jurumirim, e fui trabalhar na Camargo, minha esposa já estava grávida do segundo filho, não é? Então ela teve o segundo filho quando eu já estava em Jupiá, não é? Inclusive, foi no primeiro ano que eu fui para Jupiá, ele nasceu. Aí a Camargo pos um avião à disposição, ela queria ter o filho em Curitiba, não é? Aí a Camargo pos, fomos para Curitiba, eu larguei ela em Curitiba, trouxe ela em Curitiba, voltei com o mesmo avião para a obra, para trabalhar, daí ele nasceu, segundo filho tal, eu estava em Jupiá, trabalhando em Jupiá, construção do canteiro, canteiro Jupiá. A obra foi, eu trabalhei lá entre 1961 e 1968, foram 7 anos, então eu fui o engenheiro do concreto. Eu comecei em Jupiá como engenheiro de medição, fazia medição, medição de serviços, não é? E tinha um gerente, depois esse gerente saiu, aí veio outro gerente, José Fantinato, com quem também eu me dei muito bem, que se tornou diretor mais tarde, aí eu fui para o concreto, aí eu saí da área de medição, e fui para o campo, para cuidar do concreto. Eu me tornei o chefe do serviço de concreto, não é, e a obra foi se desenvolvendo, e cresceu muito, eu cheguei a ter 3000, 4000 homens, não é? Tinha, não tinha muito engenheiro não, tinha uns 2 ou 3 engenheiros trabalhando comigo, nunca tive mais do que isso, 2 ou 3 engenheiros, não é? E para contar sobre a obra é um romance, não vou falar sobre a obra, porque não acaba nunca mais.
P - Então, vamos falar um ponto específico, o senhor falou que eram 4000 homens, e o senhor foi para essa área de concreto, e você tinha esse pessoal
sobre sua jurisdição, como era lidar com esse pessoal, como que era o dia a dia do trabalho
com eles?
R - Ah sim, eu sempre tive muita facilidade de comunicação com os operários, não é? Então, vieram engenheiros novos, trabalhar comigo, primeiro o João Carlos, depois eu nem lembro mais, e vieram encarregados antigos e da Camargo mesmo, já gente de cabelo branco, não é? Mas que eu fiz o bom relacionamento com eles, não é? E eu sou, e eu soube me relacionar, porque é muito difícil, engenheiro novo com encarregado velho, é uma coisa muito complicada, não é? Mas dá certo, mesma coisa engenheiro novo com máquina velha, é uma merda, tem que ser engenheiro velho com máquina nova, aí dá certo (risos), engenheiro velho com máquina nova, aí dá certo. Mas, aí a gente foi formando os encarregados, vieram muitos encarregados, tinha uns 30 encarregados, mas assim, altamente capacitados, todos eles, uns 20 a 30 encarregados, conhecedores do trabalho, então nós fazíamos todo o sábado uma reunião com todos os encarregados, cada um dizia suas necessidades, nós tínhamos, eram 5 guindastes grandes, é tipo, não tem nem como eu poderia definir para você um guindaste desse, um guindaste muito grande, a lança dele, a lança tinha 60 metros de comprimento, pegava 10 toneladas na ponta, quer dizer, era um guindaste enorme, que andava sobre trilho. Eu tinha 5 guindastes desses, então a briga entre os encarregados era o guindaste, porque todo mundo queria gancho, gancho, gancho, todo mundo queria gancho, então a reunião de sábado era sempre, alias, sábado não, todo dia, era toda a tarde, 6, 7 horas da noite tinha reunião dos encarregados, e a gente tinha que distribuir o guindaste entre os encarregados nas 24 horas seguintes, então tinha um encarregado só de guindaste, e ele então entregava o guindaste para o encarregado quando, na hora dele, era feito um programa, era feito um programa de guindaste, entende? “De 9 horas a 9h15 é o Zezinho, 9h15 a 9h30 é o Pernambuco, 9h30…” E assim vai, tem o dia inteiro, das 24 horas, porque era dia e noite, era 24 horas, não é? Era 24 horas, dia e noite, e então seguia, eles trocavam turno, claro, eu não, eu não trocava turno, mas eles trocavam turno, não é? Tinha então pessoal do dia e pessoal da noite, não é? E assim formamos uma equipe de encarregados muito boa, aí aconteceu um fato muito importante que eu acho que eu não posso deixar de mencionar, é o seguinte, naquele tempo faltava conhecimento para todo mundo, assim, para engenharia, para os encarregados, conhecimento de construção de obra grande, que Jupiá era uma obra muito grande, no Brasil não tinha ainda obras assim, não é? A primeira grande obra… Quer dizer, já teve furnas ante disso, furnas, mas foram os ingleses que construíram, teve Paulo Afonso, que foram brasileiros que construíram, quer dizer, já teve precedentes, mas a forma de trabalhar, de construir, era uma forma muito antiga, entende? Muito tradicional, não é? Forma de madeira, tudo muito, tudo, ferro era tudo dobrado a mão, montagem de armação era tudo a mão, então era muito atrasado, nosso conhecimento era muito atrasado. Aí a Celusa que era dona de Jupiá, chamava Celusa, do governo do estado, e a Camargo Corrêa se juntaram e pagaram viagens nossas, engenheiros e encarregados para os Estados Unidos e para a Europa para visitar obras de grande porte. A Caterpillar ajudou nesse programa, então a Caterpillar organizou essas viagens dos Estados Unidos, para a gente ir de obra em obra onde a Caterpillar tinha máquinas, de obra em obra para a gente visitar obra para conhecer, para aprender a trabalhar, e fazer obra grande não é? Abrir a cabeça, não é? Abrir a cabeça, fomos em alguns… Foram encarregados, e foram engenheiros, foi tudo misturado, encarregados e engenheiros, não é? Aí fomos de obra em obra, aprendi muita coisa, vi muita coisa, e aproveitamos essas viagens para trazer conhecimento para o Brasil, então uma das coisas que não se conhecia aqui no Brasil era concretar com concreto gelado, com gelo, isso não havia no Brasil, e nos Estados Unidos toda obra grande era feita com concreto com gelo, no lugar da água no concreto era gelo, entende? Para diminuir a temperatura do concreto, porque na cura do concreto, o concreto esquenta, e aí na hora em que ele esquenta e encolhe, na hora que encolhe racha, entende? Então o que que a gente tem que fazer? Concreto gelado para ele não esquentar muito, para que quando ele voltar, ele não trica, entende? É uma técnica, uma tecnologia, então nós vimos isso lá, e trouxemos…
P - O que vocês visitaram lá, que empreendimento vocês visitaram nos Estados Unidos, seu Eduardo?
R - Começar… Teve uma barragem na fronteira dos Estados Unidos com México, Amistad Dam, muitas, muitas… Little Goose, no norte dos Estados Unidos —, — , —. No Canadá, no Canadá foi Great Mountains, sei lá como que era o nome, Mountains sei lá, esqueci. Depois, também no Aeroporto de Kansas, nós fomos no aeroporto de Kansas, fomos em rodovia, fomos em construção de rodovias. Quer dizer, foi um mês, foi um mês, cada dois dias uma obra diferente, cada 3 dias uma obra diferente, não é? E eu sabia um pousio de inglês lá da dona Nila ainda, do meu ginásio, sabia o inglês de lá, sabia um pouco de inglês, e os outros sabiam menos, até eu que falava mais inglês, mas foi ótimo, foi formidável, foi uma fase, foi uma fase em que aumentou o conhecimento nosso da construção de obras de grande porte, não só os engenheiros, como os encarregados, não é? E isso formou dentro da obra de Jupiá uma atmosfera em que todo mundo queria fazer coisa diferente, coisa nova, queriam inovar, não é? Até os feitores, os operários ajudavam, cada um tinha suas ideias, entende?
Cada um, a gente tinha até que filtrar as ideias. A fiscalização também ajudou muito, a fiscalização também tinha as ideias deles, então nós fomos selecionando o que que a gente fazia, né? Então, por exemplo, a armação, nós preparavamos gaiolas de armação enormes de 50 toneladas, 30 toneladas, o guindaste pegava e punha lá dentro, entende? Formas também, formas metálicas, aprendemos conhecimentos de formas metálicas, era nos Estados Unidos, não é? Fabricamos aqui no Brasil essas formas, não é? E outro também, a bomba de alta pressão também foi uma bomba que eu trouxe para o Brasil, que você tem que tratar o concreto depois de que você lança o concreto, você tem que preparar a superfície para a camada seguinte, então você tem que preparar a superfície com uma bomba de alta pressão, de super alta pressão, então nós importamos as primeiras bombas desse tipo, e por aí a fora. Quer dizer, muita tecnologia, muita técnica e muita tecnologia, graças a essas, a essas, essas visitas, não é? [interrupção] Em 68 começou a construção do metrô de São Paulo, primeira linha, linha 1, não é? Aí a Camargo me transferiu para São Paulo para trabalhar na linha um do metrô, não é? Mas esse contrato acabou sendo rompido, porque a parte de projeto do metrô não estava ainda bem evoluído, o nível de projeto, faltava conhecimento para o metrô, era Themag, a Themag que era projetista e não tinha o conhecimento suficiente para fazer esse primeiro projeto da linha do metrô, depois saiu, aí nós fizemos, foi a Camargo mesmo que fez, mas quando eu cheguei eu não pude, eu participei um pouco, mas eu fiquei aí uns 2, 3 meses só.
P -
Então, deixa eu te perguntar, antes da gente chegar da Jupiá para o metrô, conta um pouquinho como que era o plano de fundo político, e como é que ele reverbera no trabalho de vocês?
Porque estava acontecendo uma efervescência política no Brasil, e isso depois vai acabar pingando lá na ponte, né? Que é o que a gente vai falar um pouquinho lá na frente. Como que era isso, as questões políticas com o trabalho , tava tudo bem, não tava? Como é que era? Conta para mim, por favor?
R - Eu vou falar um pouco sobre isso, política, você está dizendo a política o João Goulart, aqueles bandidos lá? Aquele tempo tinha esses comícios, mas nós não tomávamos conhecimento disso, tinha, a gente ouvia falar que no Rio tinha essa confusões lá políticas, lá queriam implantar o comunismo no Brasil, mas para nós aquilo nem existiu, nós não tomávamos, não é? Nós sabiamos que estava havendo esse problema, né? Aí depois veio a revolução, veio o regime militar, não é? E aí sim, aí aí a coisa melhorou muito, melhorou muito. mesmo Mas, isso foi no começo da obra de Jupiá, aconteceu no começo da obra, quer dizer, eu já estava em Jupiá quando tinha aqueles comícios lá do João Goulart no Rio, mas aí veio logo em 64
teve a revolução, entre… Eu entrei na Camargo em 62, entre 62 e 64 eu trabalhei lá, fizemos serviços tal, mas não foi uma coisa assim, tão grande, não foi tão importante assim, depois de 64 sim que a obra também começou a tomar vulto e começou o concreto, e a obra começou a crescer, e virou obra grande, não é? Aí sim também o governo militar ajudou muito, aí o seu Sebastião Camargo, que era o dono da Camargo Corrêa se deu bem com os militares, né? Isso foi uma coisa espetacular, essa ligação do seu Sebastião com os militares, porque os militares eram sérios, e o seu Sebastião era sério, entende? Então essa ligação, tanto que todas as obras grandes que tiveram no governo militar deram para o seu Sebastião, seu Sebastião fez todas essas obras grandes que teve, que teve por aí, a Castelo Branco, a Imigrantes, sei lá, tudo que era obra grande que teve antigamente seu Sebastião estava lá no meio, entende? Então, durante, então Jupiá, então nós tivemos apoio muito grande do governo federal, e o estadual também, o Laudo Natel, o Laudo Natel era um governador, e transcorreu muito bem, foi sem problema nenhum, né? Agora dentro da obra, agora vou falar a política de dentro da obra, né? Dentro da obra já foi um pouco diferente, o chefe da fiscalização, o Dr Darcy Andrade de Almeida, ele era de Lins, o Darcy era um cara muito disciplinador, ele era “a fera”, como a gente falava, era “a fera”, ele era muito disciplinador, o pessoal dele tinha muitos engenheiros, né? A Celusa, tinha muitos engenheiros, a gente tinha lá horário para entrar na obra às 7 horas da manhã, o cara que não entrava às 7 horas da manhã ele telefonava e comia o toco, ele brigava mesmo, entende? Então o pessoal chegava 7 horas da manhã todo mundo dentro da obra, tanto que o porteiro avisava ele se tinha algum engenheiro que estava atrasado, avisava ele, e ele telefonava, Darcy era assim, e conosco também, ele era muito rigoroso, tudo muito certinho, o projeto tinha que ser do jeito que tinha que ser mesmo, e como nós também éramos sérios, seu Sebastião, nós também éramos, o Mário Pinto, nós também éramos muito sérios, e nós tínhamos… o seu Sebastião tinha, ele tinha uma, um jeito de administrar através de encarregados gerais, que não eram engenheiros, eram encarregados, mas de confiança dele, entende? Então eram encarregados que trabalhavam com ele já há muitos anos, 10 anos, 20 anos, 30 anos, sei lá, e que ele tinha grande confiança, então ele dizia o seguinte “um encarregado desse, leva 20 anos para ser formado, um engenheiro você pega aí quantos você quiser no mercado que tem de monte, né? Então o encarregado tem que ser muito bem tratado.” Ele falava isso para nós, seu Sebastião falava isso para nós, eu realmente me dei muito bem com eles, né? Então em Jupiá tinha seu Dioclécio, era o encarregado geral, Deoclécio Bispo dos Santos, ele era o segundo homem da obra, o chefe da obra era o engenheiro, que tinha que ser engenheiro, então o chefe da obra era o engenheiro, primeiro era o, esqueci o nome, depois foi o Fortunato, e o seu Deoclecio mandava na peãozada, quer dizer, ele tinha o controle da peãozada, né? E ele era um cara, era um líder, seu Deoclecio era um sujeito espetacular, né? Ele olhava a cozinha, ele ia
lá ver a cozinha como é que estava, comia com os peões, o clube, tinha um clube dos peões, ele ia lá, programava , ele… Para se ter uma ideia, como ele era rigoroso, o seu Deoclecio, para você morar na vila, sendo casado, tinha que mostrar a certidão de casamento, se não tivesse certidão de casamento não morava na vila, era desse jeito, você vê? Se Mailasqui, foi um dos encarregados mais importantes nossos, era Russo, ele não era casado legalmente, ele não tinha certidão de casamento, ele não deixou, ele era, não deixou morar na vila, para você ver, e trabalhou conosco uns sei lá, ele era o encarregado da rocha, da escavação de rocha, não é? Não deixou, a regra era essa e ponto final, né? Era assim. Bom, então, havia uma rivalidade muito grande, não digo grande, mas entre a fiscalização e o empreiteiro, havia rivalidade, porque a fiscalização queria tudo certinho não é? E nós também, mas… Eu era o chefe da parto do empreiteiro era eu, eu era o inimigo deles, né? Então, quase toda noite tinha encrenca, né? Para a liberação de bloco para concreto, porque a forma não estava bem alinhada, tinha que passar óleo na forma, o concreto não podia ter mancha amarela, o ferro não estava bem colocado, então a fiscalização ia lá para liberar o bloco para concretar, né? E qualquer irregularidade, e era muito rigoroso o negócio, né? Eles não liberavam, entende? Aí o engenheiro deles lá “É, não pode liberar mesmo não, chama o Krueger.” Aí lá ia eu 2 horas da manhã, 3 horas da manhã e aí bati, nós brigávamos feito gato e cachorro: “não, que tá bom assim mesmo.” Ou então quando eu via que estava errado, eu dizia “Não, vamos arrumar isso aqui que está errado mesmo, isso aqui não pode.” Mas, quando eu achava que estava certo eu brigava, que dizer “não, tá certo, tem que ficar assim mesmo”, né? Então havia muita rivalidade , não digo rivalidade, mas a fiscalização era muito rigorosa, não é? E havia muita discussão, a obra toda foi assim, a obra toda, os 6 anos, 8 anos que eu passei lá foi desse jeito, não é? Mas, depois não, começou Ilha Solteira, a coisa já, a Camargo também os encarregados ficaram mais treinados, com maior conhecimento, então a qualidade melhorou muito, né? Problema de qualidade, né? Problema de qualidade, então a coisa foi melhorando com o tempo, então essa discussão com o tempo foi diminuindo, não é?
P - E aí como é que foi então depois de Jupiá? O senhor estava começando a contar do metrô…
R - Não, não, não, metrô, mas o metrô foi coisa de 6 meses, eu fiquei aqui em São Paulo, não deu nada… O Fábio, o Fábio aqui é muito meu amigo, Fábio, ele tem história também o Fábio, o Fábio tem história, ele é quatrocentão, Fábio tem história, é Almeida Prado. Então, Almeida Prado não, é Prado… Sei lá
P - E o metrô, 6 meses, mas e aí o que aconteceu?
R - Não, daí então eu fui, me transferiram para fazer umas barragens aqui no Vale do Paraíba, aí eu me transferi para São José dos Campos, quer dizer, eu cheguei a morar em São Paulo durante 1 ano, mais ou menos, que deu essa encrenca aí do metrô, não é? Fiquei um ano mais ou menos aqui em São Paulo, aí eu fui transferido para São José dos Campos, aluguei uma casa lá, e tínhamos duas barragens lá, o Jaguari e, não 3 barragens, Jaguari, Paraibuna e Paraitinga, não é? Jaguari era mais perto de São José dos Campos, Paraibuna é do lado da cidade de Paraibuna, e Paraitinga é um pouquinho mais para frente , né?
Eram barragens para contenção de água do Rio Paraíba, por causa das enchentes do Rio Paraíba, né? São barragens enormes, elas tem mais de 100 de altura, 120, Paraitinga tinha 120 m de altura, Paraibuna tinha uns 100 m, assim, Jaguari não, Jaguari era menor, mas era menor, né? E todas elas tinham casa de força, mas a casa de força era pequena, era mais para barragem, para… Bom, eu fiquei lá, aí aparecerem umas outras obras, eu ficando, morando em São José dos Campos teve um problema no Rio, a adutora do Guandu, o Carlos Lacerda que construiu a adutora do Guandu, né? É um túnel de 40 km, né? E desmorono, e teve um desmoronamento lá, então a Camargo foi chamada para consertar o Guandu, aí eu fui para lá, eu morava em São José, mas eu ficava em hotel no Rio, levei o pessoal todo, a mão de obra levei tudo para lá, construímos um alojamento lá no Rio, em Bangu, e consertamos o pedaço de túnel lá, e fizemos a obra tal, e aí depois, pera aí, depois, depois teve o Guandu Grande, aí eu voltei para São José dos Campos, aí a Camargo ganhou a terraplanagem da siderúrgica Açominas, né? Que é a puta de uma siderúrgica, não é? Eram 200 milhões de metros cúbicos de terra para movimentar, mas eram 4 lotes, nós pegamos um lote de 20 milhões de metros cúbicos, não é? Então eu fiquei cuidando do Jaguari, da obra do Jaguari e Paraibuna, também da Açominas. Aí eu tinha encarregado, um encarregado muito bom, Zé Filado, Zé Filado encarregado geral, Zé Filado ficou lá em na Açominas, e lá eu cheguei a bater o recorde brasileiro de terraplanagem, eu cheguei a fazer 2 milhões e meio de metros cúbicos de terra em um mês, ninguém tinha feito isso ainda. E, eu tinha 70 Moto Scraper, era pauleira, negócio de doido viu, também dia e noite, dia e noite. Quer dizer, eu ia lá, eu ia lá a cada dois dias, não, eu ia todo dia, eu ia todo dia de manhã e voltava de noite, todo dia. E deixei um engenheiro no Jaguari, deixei um engenheiro no Jaguari e eu fui para a Açominas lá, em Congonhas do campo, né? Congonhas do Campo. Daí apareceu, aí eu tive que ir para o Rio consertar a segunda metade do Guandu, que te aí, lá sim foi um desmoronamento grande, uma coisa grande mesmo, e aí eu tive que ficar aí no Guandu, eu tive que me desligar da Açominas, do Jaguari tudo, continuei morando em São José, mas eu trabalhei só no Gandu, né? Ficava no hotel no Rio, não é? Fiquei lá uns 6 meses, lá teve que fazer um túnel de acesso para o túnel do Guandu que ele é enterrado, né? Tivemos que fazer um túnel de acesso, injetamos um morro lá, enchemos o desmoronamento, enchemos de argamassa toda aquela pedra lá do desmoronamento, nós enchemos aquilo tudo de argamassa, depois nós furamos aquilo lá como escava o túnel mesmo, escavamos o túnel, mais ou menos uns 100 metros de extensão, não é? Aí arrumou isso tudo lá tal, arrumamos, acabou a obra. Aí no final, quando eu estava terminando o Guandu, no final, me deu a ideia, a ponte já tinha começado, já tinha sido iniciada a ponte, aí eu fui lá ver a ponte, fui lá na praça Mauá olhar a ponte tal, olhei lá tal. E é engraçado, justamente naquele dia o governo tinha rescindido o contrato como empreiteiro que estava fazendo a ponte, foi por acaso naquele dia, você vê que coisa? É Deus, né? É Deus. Eu estava lá por acaso, não é? Eu não fui na ponte, eu fui lá só para ver, tinha curiosidade, queria ver o trabalho da ponte como é que era, fui lá na praça Mauá de longe, olhar assim, o jeitão da coisa, né? E foi quando eles rescindiram o contrato, aí eu voltei para casa em São José tal, daí uma semana depois me convocaram para trabalhar na ponte, não é? Aí tinha mobilização, aí veio a mobilização para a ponte. Era um consórcio, era a Camargo Corrêa, a Mendes Júnior, a Rabello, e a Sobrenco, eram 4 empresas, não é? E a Camargo era a líder, não é? Então, aí fomos para o Rio, fomos para o Rio, procuramos apartamento lá, ficamos lá em Copacabana, chique lá, não no Copacabana Palace, mas em um hotel chique, e até achar um apartamento em Ipanema, tudo chique. Eu morei em Ipanema, aí nós mudamos de São José para o Rio, né? E aí começou a obra da ponte. Então a minha parte era fazer as fundações, as fundações da ponte, e os pilares até em cima, entende? A superestrutura era de um outro engenheiro da Rabello, a Rabello que fez a superestrutura, quer dizer, onde você anda hoje, quem fez foi a Rabello. Eu fiz de baixo até chegar lá em cima, era minha responsabilidade. Pois é, aí começamos a obra lá, e a fiscalização era do exército, quer dizer, era DNER, mas era um coronel que era o chefe, e um coronel muito bravo, bravo mesmo, coronel mesmo, daqueles linha dura, linha super dura (risos.) E eu era um cara bravo também, eu também era malcriado, ele era malcriado e eu também era, aí um dia isso é só um fato que, foi no começo da obra isso, foi no começo da obra, ele… Estava as lanchas, tinha umas 30, 40 lanchas lá tal, lancha tinha… Eu tinha uma marinha lá, tinha uma marinha lá, era minha, eu que mandava na marinha lá, né? Então um dia ele resolveu pegar uma lancha minha, que eu estava usando. Ah, eu fiquei muito bravo. Eu fui lá, queria quebrar a cara dele, eu ia brigar com ele “quem é você para pegar a minha lancha? Você não pode pegar a minha lancha, essa lancha é minha.” Mas, eu não cheguei a falar com ele, foi minha sorte que no caminho, quando eu estava indo lá para falar com ele, o Mauro Dias, que era nosso gerente administrativo, parece que ele adivinhou o que ia acontecer, porque ele ia me pôr na rua, né? Na mesma hora, o coronel, ia me pôr na rua na mesma hora. Aí o Mauro Dias me pegou no caminho e disse “você não vai para lá, volta para o mar.” Aí eu parei, né? “Quer que eles te ponham na rua? Ele vai te pôr na rua”. Aí eu maneirei. Eu fui trabalhar.
P - Deixa eu te perguntar, seu Eduardo…
R - Mas, isso foi um fato isolado.
P - Não, tranquilo. Quando o senhor entrou na obra, em que pé, como que ela estava?
R - O consórcio anterior, o CCRN, era o consórcio anterior, era a Ferraz Cavalcanti, era um consórcio também, Ferraz Cavalcanti, Service engenharia, a CCBE, eram 4 ou 5 empreiteiras, era o consórcio, era o consórcio CCRN, Consórcio Construtor Rio Niterói, e eles tiveram um acidente muito triste, eles fizeram lá uma prova de carga de um tubulão, foi uma burrice que eles fizeram, viu? Eles cravaram um tubulão, puseram a plataforma em cima do tubulão, e carregaram a plataforma com peso de bloco de concreto para dar o peso suficiente para a prova de carga do tubulão, e aquela merda virou, entende? Virou, matou um monte de gente, matou engenheiro, matou um monte de gente, afundou barco, virou, aquela merda virou. Então depois disso, quer dizer, não foi só esse fato, esse foi o caldo, foi o pingo, como é que chama? A gota, foi a gota deles rescindirem o contrato, o consórcio anterior tinha já comprado muito material que não precisava, eles encheram o espaço de material, ganhavam pelo material comprado, faturaram muito sem fazer obra. Fizeram muito pouca obra, fizeram alguns pilares só. Quer dizer, quando nós chegamos lá tinham alguns pilares feitos, tinha até um pedaço de ponte também, de superestrutura feito, mas 2, 3 pilares, não mais do que isso, muito pouca coisa. E aí nós assumimos, e aí aconteceu o seguinte: o nosso processo executivo para execução dos tubulões de apoio da ponte, são tubulões que vão até a rocha, entende? São tubos, concreto que vão até a rocha, cada pilar daquele tem 16, 18, 20 tem até de 60 tubulões, um do lado do outro, aí concreta um bloco em cima dos tubulões, em cima do bloco concreta o pilar até lá em cima, aí então vem com a superestrutura, então nós tínhamos um processo construtivo que era do nosso consórcio, quando nós assumimos a obra, que já era da concorrência, que era Alemão, era um processo Alemão, era um equipamento Alemão, que nós íamos importar para fazer esses tubulões. Nós não tínhamos no Brasil, era só ar comprimido que tinha, só se fazia tubulão com ar comprimido, e o consórcio anterior também perfurou, mas a máquina que eles tinham era muito fraca, não chegava na rocha, era muito fraca, nós a abandonamos, foi para o ferro velho. Aí quando nós assumimos, aconteceu um outro fato importante da história da ponte, eu toco?
P - Pode, pode falar…
R - Aconteceu um fato importante na história da ponte. Chegou aqui um alemão, o Enrique, Enrique Altstadt, ele tinha a missão da fábrica dele, porque nós tínhamos um contrato já assinado com um fornecedor alemão das perfuratrizes para fazer aqueles tubulões, entende? Nós já tínhamos esse contrato assinado, já da época da concorrência, aí quando nós estávamos lá, começando a trabalhar tal, aparece um alemão lá, que não tinha nada que ver com o alemão que nós tínhamos contrato, um terceiro, um outro alemão, de uma outra fábrica, aí ele teve a missão da fábrica dele (Wirth) de vender as máquinas para nós. Ele veio sozinho, uma pastinha debaixo do braço Henrique, foi assim meio que começou, aí ele chegou lá na obra tal, e aí ele falava espanhol, porque ele veio da Espanha, falava alemão, aí ele queria saber com quem falar lá, o primeiro dia que ele chegou lá, foi assim, foi Deus, foi obra de Deus, falaram para ele que tinha um engenheiro que falava alemão lá, que era eu. Aí me chamaram lá para falar com ele, para atender ele. Aí eu fui lá e atendi ele, aí o Henrique me explicou que ele veio lá para vender as máquinas. Daí eu falei para ele “esquece, nós já contratamos isso”. Não sei lá, a outra empresa… “ Esquece, você não vai vender nada aqui”. “Não, eu vim aqui para vender, é para vender, com quem que eu falo?”, ele falou, né ? “Com quem que eu falo?” “ Se você quiser falar, fala com o coronel aí, o problema é teu, fala com o coronel, enfrenta o coronel que ele é bravo, ele vai correr com você da sala dele”, falei para ele, ele vai correr com você.Aí ele “tá, ok”. Foi mais ou menos assim mesmo a conversa. Aí ele foi lá, eu fui trabalhar, eu nem vi mais ele, ele foi lá, conversou, eu vi ele depois quando a coisa já começou a andar. Ele conseguiu convencer o coronel do equipamento dele, aí o coronel mandou ele falar com a nossa diretoria, e com o diretor técnico dele, o diretor de técnica, para falar sobre esse equipamento, que ele dizia que o equipamento dele era muito melhor do que aquele que nós tínhamos contratado, e era mesmo, muito melhor. Então, ele teve que convencer a nossa diretoria, ele pagou uma viagem para os nossos diretores para Europa, para mostrar a fábrica, e mostrar obras onde estavam usando o equipamento dele, não é? Diversas obras. Aí eles foram lá e acabaram se convencendo, e romperam o contrato com aquele cara e contrataram ele. Aí esse cara, o Enrique, ficou sendo coordenador da construção de todas as máquinas, tinha uma plataforma, igual a uma plataforma de petróleo, que você tinha que botar as máquinas em cima de uma plataforma, não é? Essa plataforma foi fabricada na Holanda, ele ficou coordenando a plataforma, as perfuratrizes, e depois o guindaste que era colocado em cima. Então esse projeto, foi esse cara quem coordenou. Ele ia na Europa, voltava para o Brasil, ia para Europa tal, porque o nosso consórcio, a área técnica, estava acompanhando, né? Ele não podia fazer da cabeça dele, tinha que ser tudo de acordo conosco e com a ECEX
que era a dona da obra, tinha que estar tudo coordenado. Então, esse cara fez essa coordenação toda, fabricou o equipamento e começou a fornecer, isso levou 1 ano, até fazer projeto, fabricar, chegar, 1 ano. Então, nós começamos a fazer tubulão, mas com ar comprimido não sei se você sabe como é tubulão de ar comprimido, você crava uma camisa metálica, né? Aí você põe uma campana lá em cima, uma campana é um reservatoriozinho pequeno assim, o homem entra lá dentro, você mete ar comprimido lá dentro, aí o cara tem que trabalhar com ar comprimido, com.. Comprimido, né? Até 3 kg, você vai escavando, escavando, escavando, até 30 metros, é o limite, 30 metros, você só pode escavar até 30 metros, mas o homem não aguenta, entende? Então, nós fizemos 400 tubulões até chegar as máquinas que nós tínhamos encomendado na Alemanha. Então, nós ficamos, fizemos um monte de pilar com ar comprimido, desse jeito… Chegamos a ter, sei lá quantos homens, 500 homens, 600 homens só de ar comprimido, um engenheiro especialista, encarregados especialistas em ar comprimido, que é um serviço muito complicado, e a saúde, problema de saúde. Então, você tem que controlar a saúde do operário que trabalha em ar comprimido. Aí entra o Mário Dantas, que eu te falei, era o chefe desse negócio. O serviço de ar comprimido era com o Mário Dantas. Ele tinha lá uma, a gente chama de campanola, é um, como é que a gente poderia chamar? É um cilindro metálico fechado em que você põe ar comprimido lá dentro, quando o operário está se sentindo mal, porque acontece que quando o operário sente pro coração e mata, não é? Então esse operário, você tem que por dentro de uma campânula dessa e soltar o ar devagarinho, até voltar a pressão atmosférica, para esse ar sair, e o ar sai. É um trabalho de médico, médico acompanha, e o Mário Dantas era o chefe desse negócio
P - Seu Eduardo, rapidinho só, para não atrapalhar o que você estava falando… Porque tem uma pressão dentro desse reservatório?
R - É
P - Interessante…
R - O cara trabalha na pressão dentro do tubulão, até 3kg, 30 m.
P - 30 metros?
R - Até 3 kg, é o máximo, mas não pode, entende?
P - Mas teve, como o senhor estava falando, teve alguma questão,
assim, algum problema com algum operário?
R - De vez em quando teve sim, mas aí tinha aquela campânula, punha o peão dentro dessa campânula pequena, a lancha levava rápido para o litoral, para o escritório do Mário Dantas, lá tinha a campânula grande, com médico e tudo, punha ele dentro da campânula grande, aí salvava ele, nunca teve… Ninguém morreu, nunca teve problema com isso, mas acidentes tiveram diversos, mas ninguém morreu.
P - E aí depois…
R - Aí então chegou equipamento da Alemanha, aí o Enrique com o grupo dele montou o equipamento, ele mesmo, com ele, sem camisa, só calção tal, mais meia dúzia de alemão, montaram o equipamento, a plataforma, perfuratrizes, tudo, ele mesmo montou, aí depois quando eles montaram foram entregando, foram entregando, e aí quem que tinha que ensinar os nossos operários. Aí nós fizemos a seleção de operários operadores para essas plataformas, que era desconhecido, ninguém conhecia aquilo, né? Então, nós fizemos uma seleção, como é que chama? Não é um currículo não, como é que chama? Você faz, exame, exame… Psicotécnico. Então você tinha que ter características, o peão tinha que ter características psicotécnica, tinha que ser um psicotécnico bom, adequado para trabalhar aí. E nós escolhemos, foi difícil, demorou, demorou, demorou, aí conseguiu 40, 50 homens, aí o Enrique ficou lá ensinando eles, ficou lá 1 ano, mas ficou ele mais dois alemães, ficou ele mais os dois alemães, ficar lá ensinando, acompanhando, no começo demorou um pouco até eles aprenderam e tal, aí daqui a pouco a coisa foi andando, aí eles ião lá
de vez em quando para ver se tava tudo em ordem. E a manutenção, e ainda tem a manutenção do equipamento, e a manutenção era nossa, era o Pietro que fazia, né? Os alemães acompanhavam a manutenção, eles acompanhavam todo a manutenção até o nosso pessoal aprender. Demorou, levou aí, sei lá 3, 4, 5 meses, nem lembro mais. Em um ano, um ano e pouco, nós fizemos todos as tubulões, acabou com tudo, compramos 3 plataformas, eram 6 perfuratrizes, 3 plataformas, então essas plataformas se movimentavam, todo dia, né? Para lá e para cá, tudo com rebocador, minha marinha tinha 200 embarcações mais ou menos, 200… Eu tinha mais ou menos 1000 homens de marinha, uns mil homens, é muita gente.
P - Aí você tinha essa marinha, mas como é que ela funcionava? Por que tinha essa marinha, como é que ela funcionava?
R - Não, é que todo equipamento era montado em flutuantes, flutuantes de concreto e flutuantes metálicos, então tinha central de concreto, de flutuante, tinha guindaste em cima de flutuante, tinha sei lá, tudo quanto é máquina em cima de flutuantes. Esses flutuantes eram grandes, eram flutuantes de 20, 25 metros por 15, os primeiros eram de concreto, que eram do consórcio anterior, que fabricaram de concreto, depois quando nós assumimos, nós fizemos tudo metálico, tudo flutuante metálico, não é? E então o equipamento ficava em cima de flutuante. Então para manobrar esses flutuantes precisava de rebocador, rebocador que empurrava, nós tínhamos assim, uns 10, 15 rebocadores, que nós mandamos fabricar, era com motor Scania, todos nós fabricamos em uma carreira, em uma carreira lá em Niterói, e todo encarregado tinha sua embarcação, como é que os operários iam trabalhar? Está certo? Eles tinham que ter uma embarcação, né? Então cada encarregado tinha sua embarcação, tinha mais de 100, 150 dessas embarcações de pescador, que a gente alugava, era embarcação de pescador, não é? Então, no horário de almoço, jantar, troca de turno era aquele “auê”, né? Tinha inclusive também maiores para 200 pessoas, porque na ilha da Conceição - na ilha da Conceição, era o britador - tinha uns 50 homens, 60 homens trabalhando, então era um barco maior que ia buscar eles para almoçar, para sei lá. Quer dizer, então a marinha era grande, eu tinha um engenheiro naval que era o chefe, o Nicolet, era o chefe naval, e tinha o encarregado geral que era Lamartine. Eles que manobravam tudo isso aí. Eu fazia toda tarde, assim como antigamente eu fazia programa de guindaste em Jupiá, lembra que eu contei que eu fazia aquele programa, então aqui eu fazia programa de rebocador. Porque todo mundo queria rebocador, para manobrar a sua máquina, né? Então eu fazia o programa, o planejamento de rebocador nas 24 horas. E tinha os encarregados de navegação que faziam as manobras, que se responsabilizavam por isso. Era uma pessoa muito boa.
P - Seu Eduardo, e como é que a sociedade lidava com essa, com a construção da ponte? Como é que era fora? Que aí você estava contando como é que era dentro, a operação, e fora? O que que o senhor via que acontecia? O que que falavam? Como é que eram?
R - Nós não tínhamos muito relacionamento, sei lá o que que eu vou dizer com relação a fora, porque era, naquele tempo tinha as barcas, as barcas de Niterói, Paquetá, o transporte de caminhões por barcas, mas eu não, eu não posso, não tenho assim fatos e pessoas, todo mundo falava bem, todo mundo queria a ponte, claro. Todas as pessoas com quem eu conversava, amigos que eu ia fazendo, claro, queriam ver a ponte, perguntavam como é que tava a ponte.
P - A imprensa falava sobre isso?
R - Eu nem tomava conhecimento, não tomava conhecimento, nem imprensa, nem televisão. Eu até assistia jornal, mas eu não lembro assim de nada marcante.
P - E as comunidades ali ao redor? Esse povo que morava ali ao redor, entre o Rio e Niterói, como é que eles lidavam com essa dinâmica?
R - As famílias dos operários da ponte, nós construímos um bairro, uma vila residencial do lado do canteiro da ponte, fizemos uma vila residencial, eu não sei se isso ainda existe, mas nós construímos, casas simples, mas nós construímos uma vila, tinha lá, sei lá, umas 500 casas, 400 casas, tinha mesmo. A maioria era gente que morava na cidade, vinha de ônibus, mas tinha lá umas 300 casas, depois na Ilha do Bom Jesus, que é uma ilha do lado da ponte, foram construídas umas casas para os engenheiros. Tinha umas 10, ou 15 casas, não sei se aquelas casas já existiam, se já era uma coisa existente, ou foi construído, isso eu não sei, mas tinha, nós tínhamos 10 a 15 … Mário Vila Verde morou lá, o Bernardino, opções deles, moraram lá, né? Tinha um clube do lado da vila em que o Mário Andreazza ia quase todo dia jogar vôlei conosco, eu não participava dessas partidas, mas o meu diretor ia lá toda, Marcolino ia lá toda manhã jogar vôlei com Andreazza. O Andreazza andava muito na ponte, ele não ia só no vôlei lá, jogar vôlei não, ele entrava na lancha e percorria a ponte, ele queria saber como é que estava a ponte, parava nos pilares e conversava com os peões.O Andreazza era um grande cara, era um grande cara. O cara era comunicativo, alegre, incentivador, um cara muito bacana, eu gostei muito do Andreazza, eu tive contato, eu posso dizer, porque ele era um cara bacana. É, foi isso.
P - O senhor comentou das 4 empreiteiras que tinha cada uma responsabilidade, né? Na ponte, como era a relação com as outras empreiteiras? Ou vocês não tinham?
R - Eu vou falar, foi bom você falar isso. A Camargo era líder do consórcio, então, e a Rabello, a Camargo e a Rabello, as duas dividiram a construção entre si. Então a parte do mar até o pilar, em cima do pilar, era a Camargo, era comigo. E a superestrutura era com, eu esqueci o nome, era com a Rabello, né? Murilo, Murilo, esqueci o nome, era um cara muito bacana também, muito competente, e a Mendes Júnior era a parte administrativa, almoxarifado, fichar pessoal, parte administrativa, era dom a Mendes Júnior, o gerente deles era um cara meio mais ou menos, não era um cara assim destacado assim, não,
eu nunca… Na Camargo era o Marcolino Batista de Barros, meu chefe, na Rabello era o, pô, um cara conhecidíssimo, o.. Puta, o calculista famoso, não é possível.
P - Não tem problema, depois a gente lembra.
R - Não, pera aí, pera aí. Eu estou sem o telefone aqui
P - Não, depois a gente lembra do nome, não tem problema.
R - Era a Rabello, né? (Bruno Contarini)
P - A gente estava falando sobre a relação entre as empreiteiras, como é que se dava isso?
R - É, esse engenheiro, ele projetou, fazia as coisas do Niemeyer, teve aquele Museu de Niterói, o projeto é dele. Lúcio Costa não, Lúcio Costa era arquiteto, não, não, é projetista. O, é, esqueci agora o nome dele. Era um nome Italiano. A Mendes Júnior era aquele Rubinstein (Roland Rubinstein), mas era um cara que não apita muito. E na Sobrenco… Também esqueci o nome dele (Sérgio Marques de Souza). A Sobrenco teve aquele acidente do polo de frontin, que caiu o viaduto lá, que ruiu o viaduto, a obra era dele teve erro lá, eles não injetaram as bainhas direito, tinha muita bainha sem injetar. E você sabe que o primeiro cara que chegou lá de helicóptero, quer dizer o primeiro não, o primeiro cara foi do corpo bombeiro. Ah, outro fato que aconteceu comigo, quando ruiu o Polo Frontin, lá o viaduto, o corpo de bombeiro sobrevoou com o helicóptero, aí eles foram lá na obra, e queriam recurso, porque caiu, o viaduto caiu, tinha que demolir aquela bosta toda, aí eles foram lá para arrumar gente para demolir o viaduto, aí também por acaso quem que estava andando por ali era eu, aí o comandante do corpo de bombeiro veio falar comigo, por acaso também, depois do almoço. Aí eu falei “não, vai falar com o coronel, eu não tenho nada a ver com isso não, o coronel que manda aqui, fala com o coronel.” Aí ele foi falar e o coronel disse: “Não, fala com ele mesmo, é ele que tem que fazer isso”. Aí o comandante veio falar comigo, disse “ O coronel mandou você fazer isso aí”.“Ah, tá bom.” Aí eu embarquei com ele no helicóptero, dei uma sobrevoada em todo aquele acidente, aí eu vi a bosta que estava aquilo tudo,“Por que agora? O que eu faço?”. Aí eu convoquei uma meia dúzia de encarregados meus que trabalhavam
no campo, na ponte, meia dúzia de encarregados, e expliquei para eles o que estava acontecendo. Aí eles mobilizaram compressores, rompedores, foram caminhões, carregadeiras, foi… Nossa, uma máquina, máquina, mas eles organizaram tudo, foi só eu dar a ordem e a coisa fluiu. Eu fiquei lá a noite toda, e ficaram lá 2 ou 3 dias demolindo, e eu acompanhei, fiquei lá direto, durante o dia dormia um pouquinho, dali a pouco voltava, continuava, não é? Quer dizer, era direto, mas limpamos tudo. Morreu muita gente ali, né?
P - E na ponte, quais foram as dificuldades que o senhor viu naquele período que você estava a frente dessas construções? Dessa…
R - É, todo mundo fala em morte, quem matou, quem não morreu, quem morreu, quantos morreram, todo mundo fala nisso, vamos falar em partes, é o dia a dia, eu tinha que fazer aquele relatório de… Aquele programa de rebocadores, que a obra toda, ela girava em torno disso, quer dizer, a obra do mar, porque tem a parte lá de cima, que era outra superintendência, eles tinham o trabalho deles, né? Eu nem me metia, nem sabia, nem tomei conhecimento, meu problema era o mar, eu ficava no mar. Nós tínhamos uma barca de Niterói, era uma barca de Niterói que era o nosso escritório, que ficava ancorada lá no meio da baía. Eu tinha 2 escritórios, tinha um escritório em terra, e tinha escritório na barca, e os meus engenheiros ficavam na barca, os encarregados ficavam tudo na barca. Tinha inclusive refeitório, comiam lá, pessoal mais classificado, tinham os marinheiros que eram cozinheiros, faziam comida. Sabe que o marinheiro quando está embarcado, ele mesmo faz sua comida, sabia disso? Ele quem faz ali o angu dele, faz na embarcação, eles são assim, não sabia. Bom, pois é, e assim a coisa foi. Eu tinha o grupo das plataformas, especialistas em plataformas, os operadores. As plataformas, tinha o grupo que fazia os blocos, era um grupo separado. Aliás, até nos blocos também eu quero comentar uma particularidade de projeto que é muito importante, que muita gente comenta, e até sai em jornal, é o seguinte: o enferrujamento, a ferrugem que pega nos pilares, ou então nos blocos é porque a maré sobe e desce. Então, aquela armação era enferruja toda. O que nós fizemos para evitar isso, né? Nós fizemos o seguinte, depois dos tubulões cravados, todos de um pilar, nós concretavamos uma lajinha, uma laje pequena de 20 centímetros, uma lajinha que a gente chamava, cobrindo todos os tubulões com um concreto especial. Ficava aquela lajinha, aquela lá era independente do bloco, tinha nada que ver com o bloco, era uma lajinha de proteção do bloco. Depois, apoiado nessas lajinhas nós colocamos placas de concreto em todo perímetro assim, em volta, placas de 2,5 metros, mais ou menos, não lembro mais, 2 metros de altura, 3 metros de altura, elas eram inclusive, entravam dentro da água, ficavam dentro da água, a ponta delas ficava dentro da água, e também do concreto especial, então dentro desse quadrado que se formou com a lajinha e as placas em volta, nós fizemos o bloco, aí sim armava o bloco e concretar o bloco e a própria armação do bloco era afastada também das placas, não encostava na placa, tinha 20 centímetros, o recobrimento era de 20 centímetros, então o bloco mesmo está protegido, não tem perigo daquela armação, porque tem as placas e tem a lajinha de baixo, não tem perigo. Isso é uma coisa muito importante, inclusive para falar no livro, porque se fala muito “que vai enferrujar, não sei o que.” Até a concessionária estava preocupada aquele dia que eu fui lá falaram tal, tive que explicar tudo isso, né?
P - A gente tinha falado se teve acidente se não teve, se teve…
R - Problema de acidente, acidente teve alguns. Eu não quero dizer que não teve, teve alguns acidentes, eu não sei… É, do meu lado, aliás, nem teve acidente não, viu? Eu lembro apenas de um acidente, uma morte do meu lado, que eu estava lá. Foi em cima de uma plataforma de perfuração, né? As pernas, tem as pernas que sustentam a plataforma, as pernas são cravadas no fundo do mar e a plataforma é levantada, então ela fica estável, não é? Estável, então essa movimentação de pernas para cima e para baixo, toda a vez que você tem que movimentar a plataforma, tem umas cunhas ali nas pernas, uma cunha daquela escapou e pegou um cara, entende? Foi a única morte que eu tive, né? Foi a única morte que eu tive foi essa aí, mais nada. Agora, eu tive uma outra morte, que não foi comigo, que não foi comigo, quer dizer, não foi comigo não, não foi com o meu pessoal, foi com o pessoal de cima, né? Mas, eu quase que assisti essa morte. Nós estavamos concretando um pedaço de superestrutura, já lá no meio do mar estava montando a forma, armação, não sei o que, cabo de protensão, e tinha um elevador que subia para chegar lá em cima, um elevador de obra, subia tal. Então, eu não ia lá porque não era a minha área, era a área do meu colega, eu não me metia muito não, mas naquele dia resolvi dar uma olhada lá como é que tava, eu subi tal, conversei lá com o encarregado, daí quando eu desci com o elevador, ele chegou primeiro embaixo, caiu, entende? Quase que na minha frente, caiu, era um cara muito bom, e morreu. Foi, eu acho que, as únicas duas mortes, uma foi com o meu pessoal, a outra foi com um rapaz de cima, foi assim… As mortes que eu posso… Ah, teve umas mortes que eu também tenho que falar, que foi de mais gente, eu vou explicar. A superestrutura da ponte é composta de pedaços que você fabrica e enterra, pedaços que você fabrica em concreto, enterra, traz com flutuante para o lugar, aí uma treliça lá em cima, puxa aquele pedaço de concreto, pesa 110 toneladas, aquele pedaço de concreto, sobe, põe lá em cima no lugar e aí metem cabo de protensão, e protendem aquele pedaço, naquilo que já está feito, não é? E na frente daquele pedaço que você subiu, ali tem um andaime, eles tinham um andaime ali, ele não era ligado com a peça de concreto, era solto, e aquele andaime era pendurado em talhas elétricas, tinha umas meia dúzias de talha, que o andaime era comprido, tinha meia dúzia de talhas, e os operários ficaram no andaime para botar os cabos de protensão para segurar a peça atrás. Então, eram uns 10 homens mais ou menos que trabalhavam ali, esse andaime caiu duas vezes, morreu todo mundo, caíram em cima do flutuante que estava embaixo, o flutuante estava embaixo com peças esperando para subir, caiu em cima, morreu todo mundo. Mas era o pessoal de cima. Quer dizer, naquele tempo, a parte de segurança do trabalho era uma coisa mais ou menos, não havia, não havia rigor nenhum. A gente mandava tomar cuidado, os encarregados cuidavam disso, quer dizer, o operário era mais cuidadoso do que hoje, o operário tomava muito cuidado com o que ele fazia, né? Tomava muito cuidado mesmo, Jupiá, Ilha Solteiro, era tudo a mesma coisa, o operário em si, tomava muito cuidado com a vida dele, que ele sabia que ele poderia cair e morrer. E ali a mesma coisa. Eu não sei também como é que foi acontecer aquilo, descuidaram, né?
P - E como é que transcorreu, logo depois, vocês fizeram as tubulações, a outra empreiteira foi montando a superestrutura, depois, como é que isso transcorreu até a inauguração?
R -
Aí terminou. Fizemos a superestrutura, depois de feito a superestrutura, aí você tinha que fazer uma, aquela mureta, o meio, separar as pistas, o guarda corpo, a gente montava o guarda corpo, até fui eu mesmo que fiz isso, fiz o guarda corpo, a mureta, a Rabello comprou uma máquina lá para fazer a mureta, depois veio uma empresa, esqueci o nome dela agora, no momento, que fez o asfalto. Em cima da… Teve os ingleses, dos ingleses eu não falei nada sobre o trecho metálico, foi feito com um asfalto especial, na base epóxi. E aí quando ficou pronto. Pintou, sinalização e inaugurou.
P - Então, para a gente falar sobre inauguração, vamos falar sobre os ingleses então, que o senhor não chegou a comentar, vamos falar só um pouquinho sobre eles … Qual essa relação dos ingleses com a ponte?
R - Os ingleses, eu não tive muito contato. Os ingleses eram os ingleses, era o consórcio deles, eu era eu, eu aqui eles lá, era mais ou menos assim. Os ingleses inclusive não se davam muito a procurar, a ligar, programar, eles eram independentes, eles eram um grupo separado. Eles montaram o canteiro deles na Ilha do Caju, era uma carteira, uma rampa assim, uma carreira, e lá em cima eles recebiam as chapas da Inglaterra, já cortadas, não soldadas, só pacotes de chapas vinham da Inglaterra, lá no Caju eles montavam os pedaços de estrutura, pedaços grandes de estrutura. E aí então eles desciam aquele pedaço e iam navegando pelo lugar. E lá na ponte eles montaram lá umas peças penduradas mesmo, com macacos, aí eles puxavam aquele pedaço lá para cima, entende? Serviço de engenharia bom, eu só, minha participação foi só de vez… Quando eu dava uma plataforma lá para eles, que eles queriam, precisavam de algum guindaste, de alguma coisa lá eu emprestava, quebrava o galho deles.
P - E vamos falar o que o senhor lembrar da inauguração, como é que foi?
R - Quer dizer, os ingleses foi mais ou menos isso. Vou falar um pouco mais. Eles, porque eram 3 vãos metálicos, dois laterais e o central. O central é o vão de navegação onde os navios passam, o central, e tem os dois laterais. Então, eles trouxeram primeiro os vãos laterais, que era um negócio assim, apoiava em um pilar, depois tinha um lado, e o outro lado pequeno, um pedaço aqui pequeno do lado de cá e comprido do lado de lá, que apoiava no outro pilar. Ele apoiava nesse pilar aqui, esse lado apoiava no pilar de lá, e aqui só tinha um balançozinho, aí eles faziam aquilo navegando, era um caixão, pesava 2000 toneladas, sei lá quanto, aquilo vinha navegando. Aí eles entravam com a maré, tinha que esperar a Maré, aí ele assentava em cima do bloco. Depois de assentar em cima do bloco, eles já tinham lá aquelas coisas lá com macacos e vai subindo assim devagar, até chegar lá em cima. Quando chega lá em cima eles empurram ele do lado e vai para o lugar, né? Assim foi um lado, veio o outro lado, que o pirata entra no meio, então tem um lado, tem o outro lado, tem duas vigas. Do outro lado a mesma coisa, de um lado, o outro lado, não é? Aí depois, ficou só o do meio, aí então eles puseram aquele coisa outra vez lá pendurado com macacos, aí sim, o pedaço do meio foi levantado, pendurado só nesses 4 tirantes assim, só aqueles 4 pinguelos lá, bacana aquilo, viu? Muito bacana, eu tenho fotografia disso.
P - Vamos falar da inauguração, o que o senhor lembrar, como é que foi essa inauguração depois que estava tudo pronto?
R - A inauguração, é festa, né? Nós não, o que nós participamos? Nós, claro, estávamos na ponte, estava o Andreazza, foi o Médici. O Médici atravessou a ponte com o André, veio mais uns dois, 3 carros atrás, atravessaram, e nós depois ficamos em cima da ponte, em algum lugar ali, e ficamos participando ali, mas não teve assim, nenhuma… Não teve nenhuma solenidade assim não, eu fui lá com a minha mulher, com as crianças, até por acaso a minha tia alemã estava aí também, ela foi junto, e foi bacana (risos)
P - E aí depois que inaugurou a ponte começou…
R - É, começou a rodar…
P - E aí qual foi a sua relação com a ponte?
R - Não, e aí acabou, acabou, eu de lá, sabe que foi de lá que eu fui para o Guandu, consertar o desmoronamento do Guandu foi depois da ponte, que eu falei naquela hora que foi antes da ponte, não foi, foi depois da ponte, de lá eu fui consertar o Guandu, eu continuei morando no Rio, e fui consertar o Guandu, aquele desmoronamento que teve lá, lembra que eu te contei? O túnel lá, aquele desmoronamento grande, né? O Rio ficou sem água, né? Ficou sem água os cariocas tinham que juntar água na banheira, naquele tempo, juntava água na banheira, aí quando nós arrumamos lá tal, aí normalizou.
P - E sobre a ponte, mesmo à distância, porque depois que você entregou, é isso…
R - Nunca mais… Fui, atravessei algumas vezes, eu não, não participei mais de nada, só agora, me chamaram lá. O Araújo sim, trabalhou no primeiro consórcio todo, ele participou da operação da ponte, o Carlos Roberto Araújo, até eu estou admirado que vocês não vão entrevistar ele, tem que entrevistar ele. Ele começou com a operação da ponte, o Carlos Roberto Araujo, nós trabalhamos juntos na ponte, ele trabalhou na ponte, mas ele ficou depois no consórcio concessionário, na CCR, né?
P - A ponte está lá, tem a mão do trabalho do senhor, como é que o senhor sabe que está sendo cuidado isso? Feito manutenção? O que que você fica sabendo sobre isso, ou não fica, como é que é?
R - Eu não tenho muita notícia assim não, foi feito, não, teve um trabalho lá, mas eu não participei, o problema é o seguinte, o vão central, os vãos metálicos, eles foram calculados pela lei inglesa, pela lei inglesa não, pela norma inglesa e ela ficou mole, você deve saber disso, a ponte balançava, 1 metro, 80 cm, sei lá, balançava assim, então, a Universidade do Rio estudou o assunto, e encontrou uma solução, que quando ela balança, tem um sistema de pistão, dentro do caixotão lá da ponte que contrabalança o balanço da ponte, mas não foi feito só isso não, a ponte inteira, quer dizer, a parte metálica inteira foi reforçada, quer dizer, teve uma obra muito grande de reforço da estrutura metálica, foi o Mário Vila Verde que calculou isso aí. E depois instalaram aquele conjunto de pistão lá, para controlar o balanço da ponte. Foi um trabalho, eu até sei o engenheiro que trabalhou lá, foi um trabalho de uns 2 anos, né?
P - E aí, sua vida logo depois? O senhor contou que ficou 50 anos, né? Na Camargo Corrêa… Como é que foi a finalização da sua vida profissional?
R - Ah sim, aí eu fiz 1000 obras aí, eu terminei a ponte, aí eu fui lá no Guandu, consertamos o Guandu, né? Depois do Guandu, como é que foi? Aí eu fui para Belo Horizonte, começou a Engefer. Engefer era uma ferrovia entre Belo Horizonte e Volta Redonda, era no governo Geisel, né? Até o Geisel queria que a Camargo, a Camargo era para fazer tudo, mas era uma coisa muito grande, 500 km, aí a Camargo propôs dividir em lotes, e foi dividido em lotes, não é? Aí a Camargo fez um lote, de 30 km, entre Itabirito e Congonhas. A Andrade Gutierrez foi Rio acima até Itabirito, e depois de Congonhas, eu não lembro mais quem era, mas nós fizemos entre Itabirito e Congonhas. Ali, eu fiz 50% da obra, não é? Aí faltou dinheiro para o governo, e o governo suspendeu a obra, o Geisel suspendeu a obra. Ela foi só reiniciada anos depois, mas eu não tive mais, eu não mexi mais com isso não. Depois quando eu saí de Belo Horizonte, daí o que que eu fiz? Sei lá, depois de Belo Horizonte… Ah, teve a Açominas, não pera aí. É exatamente, teve a terraplanagem da Açominas, que eu fiz junto com a Engefer, com a ferrovia. A terraplanagem da Açominas lá eu bati o recorde, até eu contei, bati o recorde, 2 milhões e meio de metros cúbicos de concreto ao mês, só de solo mole, barro mole que eu tive que… 1 milhão de metros cúbicos por mês, eu tirava, 1 milhão, é muito barro, essa terra preta pantanosa, 1 milhão de metros cúbicos no mês, eu tive ali, tinha uns 300 caminhões, tinha umas 20 e tantas de escavadeirinhas pequenas escavando ali, quando terminou aquilo lá, como é que foi? Teve edifício em Brasília que eu também participei, mas aí eu estava, aí eu estava no Rio ainda, exatamente, quando eu, junto com… Quando eu estava fazendo o Guandu, e o final da ponte, a Camargo Corrêa resolveu construir um prédio em Brasília, projeto do Oscar Niemeyer, e a estrutura era de um cara conhecidíssimo, Zézinho não sei do que, um cara conhecidíssimo lá de Brasília, eu acompanhei todo o pré moldado, e a Rabello que forneceu os supra moldados, como a Rabello estava no consórcio da ponte, a Rabello forneceu os pré moldados do prédio em Brasília, um prédio moderno, com duas torres. Depois eu já nem lembro mais, é tanta coisa.
P - Mas aí veio a aposentadoria, como é que foi esse período aí até chegar?
R - Não, pera aí, teve Tucuruí aí no meio, teve Guri, teve coisa grande no meio aí. Eu estava no metrô, eu estava, deixa, eu tenho que alinhavar isso aí. Eu fui transferido para São Paulo, eu acho que de Belo Horizonte para São Paulo, é isso mesmo, depois da Engefer e tal, a ferrovia, aí eu fui transferido para São Paulo para trabalhar no metrô, na linha 1. Era Praça da Sé, o começo da linha vermelha, e a linha azul era da avenida, como é que chama aquela avenida?
Tiradentes até do outro lado ali, como é que chama aquele outro lado da avenida Tiradentes ali? [interrupção] Do outro lado da Avenida Tiradentes… Liberdade, até a Avenida Liberdade. Então tinha 3 estações, tinha a Tiradentes, tinha a Sé, e tinha a Liberdade. E do outro lado a linha vermelha, que ia do Parque Dom Pedro até o Largo do Arouche. Então esse pedaço fui eu que fiz. Isso aí eu trabalhei, trabalhei nisso aí, inaugurei inclusive a Sé, eu inaugurei, mas não teve nada assim de importante, ganhei uma medalhinha, tal, não teve nada de importante. Era o prefeito, era o do Itaú lá, como é que chama ele? Do Banco Itaú, o presidente do Itaú? Era o prefeito, um grande cara, um grande cara, viu? Um cara muito bom, muito competente. (Olavo Setúbal). Depois do metrô da linha 3, eu fui para a Venezuela, acho que foi aí que eu fui para a Venezuela, viu? Foi do metrô, é o Marcolino tinha ido para a Venezuela, voltou, aí eu fui atrás, aí depois eu que fui… A Camargo estava construindo a Usina de Guri, é uma usina um pouco menor do que a de Itaipu, é um monstro, pouco menor do que Itaipu. Eu fui para lá, mas lá foi muito difícil, o Guri foi muito difícil, pelo seguinte, a obra não era para ser da Camargo, a Camargo furou a concorrência, era para ter sido da Morrison Knudsen, americana, mas a Camargo por um golpe de sorte, sei lá Deus, ganhou a concorrência, deu um preço mais baixo, né? Naquele tempo a Camargo se achava máximo porque tudo que tinha de bom era a Camargo, entende? Então, nós achávamos que aquilo nós íamos tirar de letra. Ledo engano. Foi uma equipe para lá muito boa, mas acontece o seguinte, que a Morrison financiou os sindicatos contra nós, eles queriam que o governo da Venezuela rescindisse conosco e passasse a obra para a Morrison. Quer dizer, os americanos fizeram um golpe sujo, golpe baixo, né? Queriam que o governo tirasse a Camargo de lá. E o seu Sebastião não é um cara assim de ceder fácil, seu Sebastião é seu Sebastião, não é qualquer um, né? E ele aguentou firme. Até que teve também um fato importante, outro fato importante, nós estávamos muito mal no Guri, nós já tínhamos multa, a Camargo já estava sendo multada, e as multas lá eram pesadas… Era 300 milhões de dólares, 500 milhões de dólares, coisa assim, coisa pesada mesmo. A Camargo ia quebrar, ia fechar. Aí o destino, Deus, organizou uma manobra militar perto de Porto Aldais. Porto Aldais? Era Porto Aldais? Não, não, era de, não era Porto Aldais, não… Era perto da obra, uma cidadezinha lá perto da obra, uma manobra militar dos países amazônicos, então estava Venezuela, estava Colômbia, estava o Brasil, todos os países, era manobra militar conjunta, e o general venezuelano convidou o general brasileiro a visitar Guri, porque era uma obra dos brasileiros, tinha brasileiro, era o Leônidas Pires Gonçalves, lembra desse cara? Leônidas Pires Gonçalves, ele era o cara, então o venezuelano levou o Leônidas para conhecer Guri, aí o Mário Pinto, soube do negócio, teve um almoço bacana, foi todo mundo lá no almoço, inclusive eu fui. Aí o Mário Pintou sentou do lado do Leônidas e contou a história, o que estava acontecendo com a Camargo lá no Guri. Aí o general falou para o Mário: “Deixa comigo que eu vou resolver isso, vou falar com o presidente”. Aí ele falou com o Figueiredo, aí o Figueiredo mandou uma carta, tinha um, não sei se era ministro, um cara muito conhecido do ministério de relações exteriores, era um cara muito conhecido, foi com essa carta lá para o presidente da Venezuela. Aí o cara da Venezuela rompeu o contrato conosco, com todo mundo, e convidou, como é que ele fez? Aí ele convidou a Camargo para montar o seguro, um consórcio sucessor. Aí nós montamos um novo consórcio. Então, aqueles caras saíram todos fora, que estavam lá, e nós montamos um segundo consórcio, aí a obra foi… Mas, aí eu não estava mais lá, eu não fui, fui uma vez lá visitar tal, fui lá ver, gostei muito, inclusive os americanos estavam lá, segundo consórcio nós fizemos junto com uma empresa americana, a… Esqueci o nome, muito boa a empresa, e fui lá ver como é que eles trabalhavam tal, eu gostei muito, né? Mas, isso foi o Guri. Do Guri eu fui para Tucuruí, quando explodiu esse negócio do Guri, que rescindiram contrato, aí a Camargo me transferiu para Tucuruí. Em Tucuruí eu chefiei o concreto também, outra vez. Lá bati todos os recordes que você possa imaginar… Tinha os encarregados antigos meus estavam lá, entende? Quer dizer, toda aquela patota antiga de Jupiá, Ilha Solteira, estava tudo lá. Então era tudo amigo, né? E a obra não estava indo bem, a obra estava no começo. Seu Sebastião resolveu mexer. Aí eu fui para lá. Eu tinha aquele pessoal todo que eu conhecia, aí na obra engrenou, aí foi, aí não teve mais problema, aí foi Jupiá, foi Tucuruí. Daí depois quando terminou Tucuruí, terminou, eu não saí no final não, eu saí ela já estava, já estava montando os equipamentos, já estava quase no fim, aí eu vim para São Paulo, aí seu Sebastião inventou de me chamar para trabalhar com ele, entende? Como secretário não digo, mas uma assessoria para ele. Era eu e mais dois. Ele queria, mas seu Sebastião era um sujeito, ele era um gênio, um cara diferente, um cara fora de série, por isso que ele conseguiu fazer o que ele fez. Ele não teve escola. Ele é um filho de sitiante lá em Jaú, o pai dele, a mãe dele eram sitiantes. E morreu o pai parece, aí ele teve que trabalhar para sustentar a mãe, os irmãos, ele começou a trabalhar e daí ele descobriu que lá em Jaú… Foi trabalhar em Jaú, na prefeitura, aí ele descobriu que os empreiteiros lá ganhavam muito dinheiro, aí ele “também vou fazer isso”. Aí ele alugou umas carroças de burro, e fez uma estratinha aqui perto de Apiaí, com carroça de burro, aí foi crescendo, aí ele fez a terraplanagem do Campo de Marte, aí ele já estava crescendo, e aí ele foi, ele não parou mais, mas por que que eu estava falando disso?
P -
Assessoria, que o senhor foi chamado…
R - Ah, pois é, eu fiquei nessa assessoria, e ele, seu Sebastião, para botar um cara para fora não contava até 3, se ele via que um cara estava fazendo besteira, ele mandava passar lá na boqueta, receber o dinheiro dele, e ir embora, ele nem falava, nem avisava, ele só avisa lá o administrativo
“ô, dispensa o fulano”. Acabou, ele era assim. Quer dizer, ele administrava meio no terrorismo, todo mundo trinha um certo medo dele, todo mundo, por isso também que a Camargo conseguiu crescer tanto, porque ele também sabia agradar, ao mesmo tempo que ele mandava embora, ele também sabia agradar. Então ele conversava com o peão, com o encarregado, dava presente, dava relógio para outro, ele era assim, era um cara, ele sabia administrar, e escolheu os engenheiros abaixo dele de muito boa qualidade, os engenheiros que ele tinha, Mário Pinto era um deles, muito boa qualidade, e com isso a empresa… Bom, aí eu, ele mandou, eu trabalhando com ele, ele queria que eu corresse as obras e fizesse relatórios de como é que estava a obra, e eu não podia falar mal, né? Porque, pô, se eu falasse mal de alguém lá ia dar encrenca. Então, eu tinha que escrever com muito cuidado esses relatórios, trabalhei com ele ali uns, sei lá quantos anos, alguns anos. Eu fiz outras coisas também, não foi só isso não, eu fiz outras coisas também, controle de custo das obras, eu fiz muita coisa assim, administrativa, trabalhei com ele até ele morrer. Aí depois que ele morreu, eu fui um dos primeiros que foram mandados embora, eu fazia parte desse grupo dele. E aí o Rafael foi escolhido para ser o substituto, aí me mandaram embora.
P - E depois disso, o que que o senhor fez, seu Eduardo?
R - Depois da Camargo?
P - É, depois que você saiu de lá, o senhor ainda estava trabalhando?
R - Continuei trabalhando. Aí eu tinha uns amigos aí, também ex Camargo que tinham um escritório aí de proposta de concorrência, fui trabalhar com eles. Foi isso, né? Isso sim, agora já não lembro mais direito, foi isso sim, eu trabalhei alguns anos com eles, aí apareceu a Cetenco me chamou para trabalhar na linha 5 do metrô, ali no Parque Dom Pedro não, como é que chama ali? O Parque das Bicicletas, ali é o Hospital do Servidor, e o Hospital São Paulo, essas 3 estações, né? A Odebrecht fez o túnel, e nós fizemos essas 3 estações, então eu trabalhei nessas 3
junto com a carioca, era um consórcio da carioca com a Cetenco. Aí nesse tempo eu fiz uma amizade muito boa com seu, esqueci o nome dele agora, dono da
Cetenco, como é que é? Esqueci o nome dele agora, Domingos Malzoni, fiz uma amizade muito boa com Domingos Malzoni, mas nunca cheguei a trabalhar direto com ele, trabalhei ali na Cetenco, ali na linha 5, depois fiz mais… Aí eu trabalhei com metrô um pouco também, direto com o metrô aqui na linha 4, na supervisão da linha 4, e depois disso, aí uma firma pequena me convidou aí para, tinha aquela estações antigas não tem a porta de segurança da, aquela segunda porta, né? As estações não têm, então essa empresa contratou isso, né? Eu trabalhei um ano com eles, mas eu não me acertei com eles e eu caí fora, um pessoal muito fraco. Aí dali para frente eu não trabalhei mais, aí eu fiz essas coisas aí que eu, do… Como é que chama? Do… Esses artigos aí que eu estou escrevendo.
P - Ah sim, e veio o youtube também…
R - Youtube, linkedin. No linkedin eu fiz 63 artigos, mas eu parei com o linkedin, estou fazendo agora a maioria no youtube por causa Gabriel. O Gabriel faz isso que vocês estão fazendo comigo aí, eu gravo, né?
P - Para gente fechar só a questão da ponte, o que que o senhor sente…
R - Agora apareceu um trabalho aí bom, vai ter um trabalho de muita responsabilidade, que eu vou fazer, mas isso é futuro, né?
P - O que o senhor sente de ter feito parte desses 50 anos da Ponte? Eu sei que o senhor faz várias coisas, mas vamos falar da ponte especificamente, porque ela está lá e é usada até hoje por milhares de pessoas.
R - Claro, eu tenho orgulho de ter participado da ponte tal, como eu fiz muita coisa grande, entende, eu acho que a ponte foi apenas um capítulo, entende? Quer dizer, se eu tivesse trabalhado só na ponte, e nas outras nada, ou coisinha pequena, claro, eu ia achar que a ponte, mas comigo não é bem assim, entende? Eu fiz Jupiá, Ilha Solteira, fiz o Tucuruí, fiz Engefer, sei lá,fiz um monte de coisa aí, então a ponte, claro que eu gosto da ponte, eu atravesso a ponte eu sinto orgulho de ter atravessado aquilo ali, né? Mas não é só a ponte, tem outras coisas que eu tenho muito orgulho de ter participado, eu bati muito recorde, eu tenho muito recorde, recorde mesmo, né? Tucuruí eu fiz 250 mil metros cúbicos de concreto em um mês, isso ninguém fez, 250 mil metros cúbicos de concreto, derramar
250 mil metros cúbicos de concreto em 1 mês, isso ninguém fez, entende? Tem coisa assim, do arco da velha.
P - E aí então só para fechar, como é que o senhor vê, o senhor né, que é muito experiente na área e tal, essa ponte para mais 50 anos? O que que você acha que acontece com ela?
R - Eu acho que a ponte está super utilizada. Está na hora deles, na minha opinião, eu acho que tem que construir agora um túnel ali no centro da cidade, no final da Avenida Rio Branco, atravessar, porque ali é curtinho, é 2 km, 3 km, você sai no centro de Niterói, eu acho que tinha que concretar esse túnel, construir esse túnel, porque a ponte é do sistema rodoviário nacional, ela liga o norte com o sul do Brasil. Ela passa no Rio de Janeiro, mas é do sistema rodoviário nacional, segue a BR 101 e vai embora, mas eu acho que teria que ter um túnel ali, atravessar com metrô do Rio de Janeiro para Niterói. Tem que fazer alguma coisa assim, está faltando isso, né? A ponte está muito congestionada, essa ligação está muito centrada na ponte, tem que ter mais vias de travessias, fazer uma linha de metrô, uma rodoviária, sei lá, qualquer coisa.
P - É isso então, seu Eduardo, muito obrigada pela entrevista, foi de muita valia tudo que o senhor contou, aí a gente, o Museu da Pessoa, o pessoal da Pas de Dieux agradecem o senhor ter participado, seu Eduardo, muito obrigado.
R - Está bom assim do jeito que eu fiz?
P - Está, está ótimo.Recolher